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ESTARÁ A CHINA REALMENTE IMUNE Á CRISE?

No seu discurso no Fórum Económico Mundial, em Davos (Suíça), (Fevereiro 2009) o primeiro-ministro
chinês, Wen Jiabao, explicou os planos do seu governo para fazer face à crise económica global através
de despesas e empréstimos públicos.
No seu discurso no Fórum Económico Mundial, em Davos (Suíça), o primeiro-ministro chinês, Wen
Jiabao, explicou os planos do seu governo para fazer face à crise económica global através de despesas
e empréstimos públicos. E disse acreditar que o crescimento económico anual da China se manterá
acima dos 8% em 2009. As palavras de Wen foram como um bálsamo para os dirigentes económicos e
políticos paralisados pela recessão.
Mas será que o governo chinês dispõe realmente das ferramentas necessárias para manter a sua
economia tão sólida? Talvez, mas não é óbvio.
A cada vez mais grave recessão dos Estados Unidos está a penalizar o sector exportador da China, tal
como acontece no resto da Ásia. O problema imediato está na escassez do crédito, não tanto na China
como nos EUA e na Europa, onde muitos importadores de pequena e média dimensão não conseguem
aceder ao crédito comercial necessário para comprarem os seus "stocks" no estrangeiro.
Consequentemente, algumas zonas costeiras da China, outrora fervilhantes de actividade, assemelham-
se actualmente a cidades-fantasma, uma vez que dezenas de milhares de trabalhadores despedidos
fizeram as suas malas e regressaram às zonas rurais. Da mesma forma, calcula-se que cerca de metade
dos 200.000 a 300.000 habitantes do bairro coreano de Pequim - na sua maioria trabalhadores (e
respectivas famílias) remunerados por empresas coreanas que produzem bens na China para exportação
- tenham regressado a casa.
Com cerca de dois biliões de reservas em moeda estrangeira, os chineses dispõem de recursos para
financiar um grande aumento da despesa pública e para serem credores de último recurso da banca.
Muitos dos principais investigadores chineses estão convencidos que o governo fará o que for necessário
para manter o crescimento económico acima dos 8%. Mas há um senão. Mesmo que seja bem sucedido
no curto prazo, é quase certo que a significativa transição para o aumento da despesa pública acabará
por se traduzir, daqui a alguns anos, em taxas de crescimento substancialmente mais lentas.
Resumindo, não é evidente que valha a pena criar projectos marginais de infra-estruturas, atendendo a
que a China já investe mais de 45% das suas receitas, grande parte das quais se destinam às infra-
estruturas. É certo que parte do estímulo orçamental da China consiste, efectivamente, em empréstimos
ao sector privado por meio do fortemente controlado sector bancário. Mas haverá alguma razão para crer
que os novos empréstimos se destinarão a projectos úteis em vez de tomadores de empréstimos com
boas relações políticas?
Com efeito, até agora, o êxito da China tem-se baseado na manutenção de um equilíbrio entre o governo
e um sector privado em expansão. Reforçar fortemente a presença já excessiva do governo na economia
irá perturbar este delicado equilíbrio e levará a uma desaceleração do crescimento no futuro.
Seria preferível que a China encontrasse uma forma de substituir o consumo privado norte-americano por
um consumo interno, mas o seu sistema económico não parece ser capaz de uma transição rápida nesse
sentido. Se as despesas públicas tiverem de ser o principal veículo, então seria melhor que o governo
investisse na construção das escolas e hospitais tão necessários em vez de "pontes para lado nenhum",
como o Japão fez quando seguiu um caminho semelhante na década de 90. Lamentavelmente, os
responsáveis locais chineses têm de se destacar no "campeonato do crescimento" do país para serem
promovidos. As escolas e os hospitais simplesmente não geram o tipo de receitas fiscais rápidas e de
crescimento do PIB necessários para suplantarem os seus rivais políticos.
Ainda antes do início da recessão global, havia já fortes razões para se duvidar da sustentatibilidade do
paradigma de crescimento da China. A degradação do meio ambiente é evidente, até mesmo para os
observadores circunstanciais. E os economistas calcularam que se a China mantivesse a sua prodigiosa
taxa de crescimento, em breve ocuparia uma tal da economia mundial que não conseguiria o seu nível
actual de exportações. Assim sendo, era inevitável ter que recorrer a um maior consumo interno. A
recessão global apenas evidenciou este problema alguns anos antes.
Curiosamente, os Estados Unidos enfrentam alguns desafios semelhantes. Durante anos, os EUA
registaram um forte crescimento ao adiarem a análise de uma variedade de assuntos, desde o ambiente
às infra-estruturas, passando pelos cuidados de saúde. Mesmo que não estivesse a haver uma crise
financeira, a tentativa de resolução destes problemas teria, muito provavelmente, abrandado o
crescimento económico norte-americano.
Não quero com isto dizer que os Estados Unido e a China estão na mesma situação. Uma das grandes
dificuldades futuras será a de encontrar uma forma de alinhar as poupanças destes dois países, tendo em
conta os sérios desequilíbrios comerciais que, na opinião de muitos, está na origem da actual crise
financeira.
Esta questão veio-me recentemente à memória quando um investigador chinês me explicou que os
homens na China de hoje se sentem obrigados a poupar para encontrar uma noiva. Nessa mesma
semana, um ex-aluno meu que perdeu o seu lucrativo emprego no sector financeiro explicou-me que não
tinha quaisquer poupanças porque era muito caro sair com uma rapariga em Nova Iorque! Estas
diferenças sociais não têm muito a ver com a taxa de câmbio entre o yuan e o dólar, mas também
acabam por ter a sua importância.
Kenneth Rogoff

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