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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA

ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA

JOSÉ BELIZARIO NETO

MANAUS – AM
MARÇO/2010
2

FACULDADE SALESIANA DOM BOSCO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA

ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA

JOSÉ BELIZARIO NETO

MANAUS – AM
MARÇO/2010
3

A todos os seres humanos que são excluídos por


qualquer tipo de discriminação
DEDICO.
4

SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................05

1. A INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE ÉTICA PROFISSIONAL,


BIOÉTICA E SAÚDE PÚBLICA.............................................................07.
1.1 Algumas considerações sobre Bioética..................................................07
1.2 Algumas perspectivas de interdisciplinaridade entre Bioética, Ética
Profissional e Saúde Pública..................................................................18

2. REFLEXÕES SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS DE SAÚDE


À LUZ DA BIOÉTICA....................................................................................23
2.1 A relação público-privado no Brasil........................................................23
2.2 Bioética e Política de Saúde Pública no Brasil .....................................27

3. BIOÉTICA NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE.................................................30


3.1 A Saúde como um Direito Humano........................................................30
3.2 Por uma Bioética a partir de aspectos filosófico-educacionais .............33

4. DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE: CÉLULAS-TRONCO,


EMBRIÕES, FACILITAÇÃO DA PÍLULA DO DIA SEGUINTE...............45
4.1 Algumas perspectivas da Bioética na contemporaneidade ...................45
4.2 A importância dos comitês de Bioética...................................................49
4.3 Texto Complementar...............................................................................50

INDICAÇÃO DE ALGUNS FILMES PARA REFLETIR SOBRE OS


CONTEÚDOS DA DISCIPLINA “ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA”.........56.

REFERÊNCIAS.................................................................................................60
5

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A discussão em torno do tema Ética Profissional e Bioética tem se


tornado freqüente nos dias atuais. Defende-se veementemente que tal
discussão não se limita aos profissionais da área de saúde, pois o caráter
interdisciplinar é uma característica fundamental para tal debate. Até porque as
primeiras sistematizações do referido tema ocorreram com a participação de
profissionais da área de humanas, como por exemplo, da filosofia, da teologia,
entre outras.
E se diz que defender o tema em discussão requer dedicação, firmeza, a
defesa do meio ambiente, dos animais, da humanidade; mas se diz também
que tudo isso gera angústia, inquietação, impotência diante de um mundo
globalizado, movido pelo neoliberalismo; o capitalismo selvagem tem tomado
conta de todas as esferas sociais; vivemos em um mundo em que o ser
humano é substituído pelas máquinas, a fauna e a flora são violentadas
descomedidamente; este é um momento não só de crise econômica, mas de
uma crise de valores; além disso, a pessoa humana está quase sempre num
dos últimos planos.
Diante de uma reflexão tão pessimista, mas realista, pode-se perguntar:
Qual é o sentido da vida humana? De que modo o ser humano atual
pode chegar à conclusão de que está se destruindo? Como podemos mudar o
quadro atual? De que modo podemos refletir temas tão relevantes como Ética
Profissional e Bioética num mercado de trabalho competitivo, no qual as
pessoas, muitas vezes, não se preocupam com o seu semelhante? De que
modo a aquisição do conhecimento da Bioética e da Ética Profissional pode
interferir neste quadro tão catastrófico? O fato de conhecer pode gerar
mudanças revolucionárias? Ou seria melhor ser alienado?
São inquietações como estas, dentre muitas outras que tentaremos
refletir neste simples texto de Ética Profissional e Bioética.
Este trabalho é dividido em quatro partes que se interligam e se inter-
relacionam entre si.
6

Na primeira, faremos uma análise sobre a interdisciplinaridade entre


Ética Profissional, Bioética e Saúde Pública, desenvolvendo os seguintes
pontos: algumas considerações sobre Bioética; algumas perspectivas de
interdisciplinaridade entre Bioética, Ética Profissional e Saúde Pública.
Na segunda parte, reflexões sobre políticas públicas brasileiras de saúde
à luz da Bioética, discorreremos os seguintes pontos: a relação público-privado
no Brasil; Bioética e Política de Saúde Pública no Brasil.
Na terceira, Bioética na assistência à saúde, explanaremos os seguintes
tópicos: a Saúde como um Direito Humano; aspectos filosófico-educacionais da
Bioética.
Na última parte, desafios na contemporaneidade: células-tronco,
embriões, facilitação da pílula do dia seguinte, apresentaremos os seguintes
temas: a Bioética na contemporaneidade; a importância dos comitês de
Bioética.
7

1 A INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE ÉTICA PROFISSIONAL,


BIOÉTICA E SAÚDE PÚBLICA

1.1 Algumas considerações sobre Bioética

A Bioética é a disciplina que estuda a moralidade da conduta humana na


perspectiva de estabelecer um diálogo da ciência com a vida. Neste sentido, a
Bioética inclui a ética Profissional Médica, sendo esta segunda um capítulo da
primeira. Sendo assim, para um aprofundamento do conhecimento acerca da
Ética Profissional, devemos necessariamente fazer referência à Bioética.
Conforme Fernando Lolas, em seu livro Bioética: o que é, como se faz,

O Dicionário de la Real Academia Española, em sua vigésima


primeira edição, define bioética como a ‘disciplina científica que
estuda os aspectos éticos da medicina e da biologia em geral, assim
1
como as relações do homem com os outros seres vivos’

Conforme Lolas, a introdução do termo bioética na literatura científica, foi


atribuída ao oncologista norte americano Van Rensselear Potter, em virtude da
publicação de um livro em 1971, com o título Bioethic: Bridge to the Future.
Porém, este não foi o único acontecimento importante em torno da Bioética em
1971. Esta publicação de Potter foi considerada um marco histórico importante
para a genealogia da disciplina Bioética.
De acordo com Débora Diniz, no livro O que é Bioética, “Potter era uma
cancerologista estadunidense preocupado com a sobrevivência ecológica do
planeta e com a democratização do conhecimento científico, tornando-se
conhecido na bioética como autor de uma única obra”.2
Algumas das idéias de Potter estão citadas por Diniz:

O que nós temos de enfrentar é o fato de que a ética humana não


pode eswtar separada de uma compreensão realista da ecologia em
um sentido amplo. Valores éticos não podem estar separados de

1
LOLAS, 2001, p. 13
2
DINIZ, 2008, p. 11
8

fatos bilógicos ... como indivíduos nós não podemos deixar nosso
destino nas mãos de cientistas, engenheiros, tecnólogos e políticos
que esqueceram ou nunca souberam essas verdades elementares.
Em nosso mundo moderno, nós temos botânicos que estudam
plantas ou zoologistas que estudam animais, no entanto, a maioria
deles é especialista que não lida com as ramificações de seu
3
conhecimento limitado.

Nesta perspectiva, Potter estava preocupado com o respeito aos valores


humanos, deixando de lado uma exigência exacerbada de um conhecimento
meramente tecnicista.
Sendo assim,

Para Potter, a proposição do termo bioética enfatizava os dois


ingredientes considerados os mais importantes para alcançar uma
prudência que ele julgava necessária: o conhecimento biológico
associado a valores humanos. Essa proposta de Potter de associar
biologia (entendida, em sentido amplo, como o bem-estar dos seres
humanos, dos animais não-humanos e do meio ambiente) e a ética é
4
o que, hoje, se mantém como o espírito da bioética.

Entre outros fatos temos a fundação de um instituto chamado The


Joseph and Rose Kennedy Institute for the Study of Human Reproduction and
Bioethics na Universidade de Georgetown, Washington, Estados Unidos.
Posteriormente, este instituto se transformou no Kennedy Institute of Ethics.
Convém ressaltar que as preocupações em torno da Bioética surgiram
bem antes do ano de 1971 (sem necessariamente fazer-se menção ao termo
bioética). A preocupação com o impacto das ciências e da tecnologia é
bastante antiga e ao longo do tempo se fez diversos registros históricos
aludindo às preocupações éticas com o exercício da medicina.
De acordo com Lolas,

Não somente os escritos hipocráticos e outros documentos foram


decisivos em tal sentido. A própria fundação do Royal College of
Phisicians em 1518 foi acompanhada pelo desejo de proteger a vida
e o bem-estar dos enfermos sob o controle ético dos membros da
profissão médica. No entanto, sob o termo ‘ética médica’ se entendia
basicamente um conjunto de normas de conduta para os membros da
profissão em suas relações com os que procuravam seus serviços e
nas que mantinham entre si. Como teremos ocasião de examinar, o
movimento bioético ampliou consideravelmente o número de
interlocutores válidos nos assuntos éticos e, sobretudo, a posição dos
profissionais e especialistas no trato com os leigos. Por isso, convém

3
POTTER, apud Diniz, 2008, p. 13-14
4
DINIZ, 2008, p. 14-15
9

considerar a aparição da bioética como um fenômeno típico das


5
últimas décadas.

E no século XXI têm surgido alguns fenômenos, cujas soluções


ou tentativas de solucioná-los, requerem ainda mais uma reflexão
bioética, como é o caso do aquecimento global e da biopirataria, entre
outros.
Nesta perspectiva, a Bioética tem orientado e reorientado as mais
diversas atividades humanas, tornando-se uma disciplina necessária
para a formação humana. Deste modo,

Em muitos centros médicos, as antigas cátedras ou institutos de


história da medicina e das ciências reorientaram sua atividade com
base na bioética, que assim se converteu na disciplina fundamental
das chamadas ‘humanidades médicas’. Na América Latina, o trabalho
pioneiro de José Alberto Mainetti em La Plata, Argentina, Alfonso
Llano, em Bogotá, Colômbia, Armando Roa, em Santiago do Chile,
além de muitos outros, conduziu a diversas formas de
institucionalização dentro e fora das universidades tradicionais. Os
colégios e associações profissionais, embora confundindo a bioética
com uma extensão da éica convencional (em medicina, por exemplo),
ajudaram a aumentar o interesse público nos termos bioéticos. A
extensão a todos os países do continente americano foi rápida,
encontrando várias formas de expressão e inserção nas instituições
de pesquisa e ensino. Hoje se pode considerar a bioética tanto um
movimento ou processo social como uma disciplina em busca de
reconhecimento acadêmico. É preciso reiterar que alguns dos
atributos mais comumente associados a essa disciplina são produtos
de uma gênese numa cultura determinada num momento específico
de sua evolução. Convém manter essa precisão, pois uma
extrapolação acrítica para o contexto latino-americano poderia ser
6
inadequada, se não nociva.

É importante destacar que a Bioética não está mantida nos limites das
Ciências da Saúde. Seu olhar se estende por todas as áreas do conhecimento
humano e deve preocupar-se com todos os seres vivos; deve refletir sobre as
conseqüências causadas pelas atitudes dos seres humanos na
contemporaneidade, através dos mais diversos especialistas, tais como:
médicos, enfermeiros, assistentes sociais, juristas, filósofos, sociólogos,
psicólogos, teólogos, economistas, entre outros.

5
LOLAS, 2001, p. 14
6
Id. p. 14-15
10

O surgimento da bioética pode ser considerado como a principal


resposta no campo ético às grandes mudanças, como por exemplo, a
conquista dos direitos civis nos anos 1960 e 1970, que contribuiu
significativamente com o ressurgimento de diversos movimentos sociais, tais
como, o feminismo, o movimento rippie, o movimento negro, entre outros, o
que favoreceu inúmeros debates acerca da ética.
Neste contexto,

Ainda nesse período inicial de surgimento, dois outros


acontecimentos contribuíram para que a bioética fosse definida como
um novo campo disciplinar: as denúncias, cada vez mais freqüentes,
relacionadas às pesquisas científicas com seres humanos, um tema
fortemente impulsionado pelas histórias de atrocidades cometidas por
pesquisadores nos campos de concentração da Segunda Guerra
Mundial; e a abertura gradual da medicina, que, de uma profissão
fechada e autoritária, passou a dialogar com os que David Rotman
adequadamente denominou de estrangeiros em seu livro
Estrangeiros à Beira do Leito: uma História de como a Bioética e o
Direito transformaram a Medicina: primeiro os filósofos, os teólogos e
os advogados e, depois, os sociólogos e os psicólogos, que
passaram a opinar sobre a profissão médica, porém sob outras
7
perspectivas profissionais.

Sendo assim, na concepção de Rotman, “essa invasão da medicina


pelos estrangeiros ocorreu devido à crescente especialização e
despersonalização do exercício médico, um processo que ocorreu
paralelamente à perda da confiança em seus médicos”.8
Tudo isso fez com que a ética médica hipocrática se tornasse
enfraquecida.
É importante a partir de agora discorrer um pouco sobre a genealogia e
o desenvolvimento da bioética, pontuando alguns fatos ao longo de sua
trajetória.
Um destes fatos ocorreu em 1962: a divulgação de um artigo publicado
na revista Life intitulado “Eles decidem quem vive, quem morre”, de autorida da
jornalista Shana Alexander; em tal artigo Alexander narrava os procedimentos
utilizados por um comitê de ética hospitalar em Washington, nos Estados
Unidos (Comitê de Admissão e Políticas do Centro Renal de Seattle). Este

7
DINIZ, 2008, p. 17
8
Id. p. 17-18
11

comitê (que ficou conhecido como o Comitê de Seattle) era constituído por
médicos mas também por muitas pessoas leigas em medicina, as quais faziam
uma seleção entre os pacientes renais levando em conta não só a história
clínica mas também a história de vida dos doentes) para o uso das máquinas
de hemodiálise (cujo programa de hemodiálise fora recém-inaugurado na
cidade), uma vez que a demanda de pacientes era superior à das máquinas.
Sendo assim,

De uma forma inusitada, então, o processo de decisão médica passor


para o domínio público. Para Jonsen, esse, mais que qualquer outro
evento, assinalou a ruptura entre a bioética e a tradicional ética
médica, supostamente um conhecimento de domínio exclusivo do
9
profissional de saúde e, mais especificamente, do médico

Em 1966 ocorre outro evento, a partir da divulgação de um artigo


intitulado de “Ética e Investigação Clínica” do médico cirurgião anestesista de
Harvard Henry Beecher, cujas fontes de pesquisa foram jornais reconhecidos
internacionalmente, tais como: New England Journal of Medicine, Journal of
Clinical Investigation, Journal of American Medical Association, Circulation.No
artigo mencionado, Beecher publicou 22 relatos de pesquisas envolvendo
seres humanos, cujos recursos eram fornecidos por instituições
governamentais e companhias de medicamentos.
Convém ressaltar que o público-alvo das pesquisas denunciadas por
Beecher em seu artigo, era os denominados “cidadãos de segunda classe”:
internos em hospitais de caridade, adultos com deficiências mentais, crianças
com retardos mentais, idosos, pacientes psiquiátricos, recém-nascidos e
presidiários.
Neste contexto,

Alguns exemplos perversos de pesquisas, conhecidos na literatura


médica pelo ordenamento numérico original de Beecher, ficaram
famosos, como o exemplo 2, que consistia na retirada intencional do
tratamento à base de penicilina em operários com infecção por
estreptococos para permitir o estudo de meios alternativos de
prevenir as complicações. O fato é que os homens não sabiam que
estavam sendo submetidos a uma experiência, e o risco de contrair a
febre reumática era altíssimo, a tal ponto que 25 deles
desenvolveram a doença. No exemplo 16, a pesquisa exigia a
inoculação intencional do vírus da hepatite em indivíduos

9
DINIZ, 2008, p. 19
12

institucionalizados por retardo mental, para possibilitar o


acompanhamento da etiologia da doença. No exemplo 17, médicos
pesquisadores injetaram células vivas de câncer em 22 pacientes
idosos e senis hospitalizados, sem comunicá-los que as células eram
cancerígenas, com o objetivo de acompanhar as respostas
10
imunológicas do organismo.

Tais exemplos revelam que as satisfações dos resultados científicos são


mais importantes do que manter a integridade dos seres humanos. Mas
certamente tudo isso aconteceu por falta do acompanhamento das instituições
que patrocinavam tais pesquisas e a desumanidade dos médicos que tinham a
função de lutar para salvar vidas, pois estes últimos estavam muito mais
preocupados com as possibilidades dos benefícios gerados pelas pesquisas
do que com os prejuízos humanos.
É importante destacar também que

Além dos maus-tratos com os sujeitos de pesquisa, a análise de


Beecher permitiu o desvendamento de outro dado impressionante:
dos 50 artigos compilados originalmente para o estudo, somente dois
apresentavam, como parte do protocolo de pesquisa, o termo de
consentimento dos sujeitos participantes do experimento. Diante
desse dado, Beecher propôs que toda e qualquer experimentação
com seres humanos deveria respeitar, primeiramente, a necessidade
de obtenção do termo de consentimento informado e, em seguida, o
compromisso do pesquisador de agir de forma responsável. Foi assim
que os números e os dados de Beecher, além do óbvio mérito
denunciatório, tiveram um efeito secundário inesperado:
demonstraram que a imoralidade não era exclusiva dos médicos
11
nazistas, tal como os novos cientistas acreditavam

Outro exemplo de abuso realizado em nome da ciência e do progresso


que merece ser destacado é o que ficou conhecido como O Caso Tuskegee.
Trata-se de um caso de pesquisa com seres humanos em Tuskegee, no estado
do Alabama, nos Estados Unidos. Este é também um caso que serve para
mostrar o quanto os Estados unidos, no campo da pesquisa Biomédica,
desrespeitava os tratados humanitários que defendiam os interesses das
populações menos favorecidas nos anos 70. Na pesquisa em Tuskegee, a qual
foi conduzida pelo serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos (U. S. Public
Health Service – PHS), pessoas negras portadoras de sífilis, foram usadas

10
DINIZ, 2008, p. 21
11
DINIZ, 2008, p. 23
13

como cobaias, não fazendo qualquer tipo de tratamento que combatesse a


doença, para que o PHS pudesse acompanhar o circulo natural da sífilis. De
1932 até 1972, 400 pessoas negras, usavam apenas placebo, para que a
história natural da doença fosse identificada.
Convém ressaltar que a ciência já havia descoberto a penicilina como
um tratamento adequado para combater a sífilis; porém, tal descoberta não foi
revelada aos participantes da pesquisa ao mesmo tempo em que os mesmos
não sabiam que estavam sendo submetidos a um experimento, bem como os
riscos que corriam. Como recompensa, receberam transporte, alimentação e
funeral gratuitos. Este fato foi denunciado em 1972 e levou a opinião pública a
perceber que nem tudo estava ocorrendo de forma adequada no campo da
ciência, da tecnologia e da medicina
Neste contexto,

O caso mostra que a ‘ética da pesquisa médica’ não é apenas


assunto de ‘consentimento informado’ por parte dos sujeitos que
participam (embora seja este um requisito indispensável para
qualquer estudo), mas também, e de um modo a que não se possa
renunciar, questão de compaixão pelos semelhantes. Afinal, a
‘autoridade social’ que a comunidade delega a seus profissionais não
pode ser frustrada por um planejamento defeituoso, com engano
deliberado sobre os riscos e com impropriedade na condução dos
estudos, ainda que realizados com o intuito de incrementar o
12
conhecimento útil para a humanidade.

Um evento que também repercutiu bastante na comunidade científica é


o “caso Barnard”. Trata-se do primeiro transplante cárdico, o qual foi realizado
pelo cirurgião cardíaco da África do Sul, Christian Barnanrd. Este transplante
foi bastante polêmico, pois seu autor transplantou o coração de uma pessoa
quase morta em um paciente cardíaco em estado terminal. Este epísódio teve
grande repercussão na mídia internacional, pois havia questionamento sobre a
origem do coração transplantado e a comunidade médica indagava como
Barnard garantiria que o doador estaria realmente morto no momento do
transplante.
Tal acontecimento levou a Escola Médica de Harvard, em 1968 a avaliar
os critérios capazes de definir uma morte cerebral, na perspectiva de evitar que
outros casos semelhantes ao de Barnard acontecessem.

12
LOLAS, 2001, p. 24
14

Neste contexto, “os preceitos foram divulgados somente em 1975, mas


ainda hoje são uma referência para o debate internacional sobre morte
encefálica”.13
A discussão em torno do transplante cardíaco foi bastante calorosa, pois
um coração para ser transplantado, deve ser retirado de um corpo que se
encontra num estado paradoxal de morto-vivo, diferentemente, por exemplo, do
transplante de um rim ou de uma medula.
Sendo assim,

É evidente que essa técnica, terapêutica e salvadora de vidas,


lançava perguntas de difícil resposta: quando alguém é considerado
morto? A morte é um processo, do qual se podem descrever etapas?
Há um momento em que esse processo pode ser considerado
irreversível? Esse momento é determinado pela ciência, pela prática
ou pela lei? A vida consciente é a única forma de vida? Se morre o
14
cérebro, morre também a pessoa?

Questões como estas, entre tantas outras, tem gerado entraves na


prática de transplante de órgãos na comunidade mundial, e nunca se
encerraram as discussões em torno das mesmas por especialista na área da
saúde, bem como por juristas, filósofos, religiosos entre outros.
Todas as transformações sociais que se deram a partir dos eventos
mencionados anteriormente foram fundamentais para a consolidação
acadêmica da bioética. Dois anos após denúncia do caso de Tuskegee, em
1974, o Congresso dos Estados Unidos criou uma “Comissão Nacional para a
Proteção dos Sujeitos Humanos na pesquisa Biomédica e Comportamental”,
responsável pela ética das pesquisas relacionadas às ciências do
comportamento e à biomedicina.
Conforme Diniz,

Após quatro anos, o resultado do trabalho da comissão ficou


conhecido como Relatório Belmont, um documento que ainda hoje é
um marco histórico e normativo para a bioética. Por meio desse
relatório foi possível identificar a proposta da comissão: articular três
princípios éticos, supostamente universais, que promoveriam as
bases conceituais para a formulação, crítica e a interpretação de
15
dilemas morais envolvendo a pesquisa científica.

13
DINIZ, 2008, p. 27
14
LOLAS, 2001, p. 22
15
DINIZ, 2008, p. 27
15

Os três princípios do Relatório Belmont estão assim divididos:

1) Respeito pelas pessoas: este princípio defende a autonomia do


indivíduo e deve garantir a proteção de qualquer tipo de abuso com
os indivíduos socialmente vulneráveis;
2) Beneficência: este princípio defende o compromisso do pesquisador,
na perspectiva de assegurar o conforto das pessoas envolvidas
direta ou indiretamente com o experimento, propondo uma avaliação
sistemática e contínua da relação risco/benefício para as pessoas
envolvidas;
3) Justiça: Este princípio propõe rigorosidade quanto aos critérios de
seleção dos participantes.

Sendo assim,

No contexto de incertezas éticas que dominavam a pesquisa


científica (...), a divulgação do Relatório Belmont representou um
verdadeiro divisor de águas para os estudos da ética aplicada. A
estruturação mínima proposta pelo relatório, representada pela
eleição dos três princípios éticos, foi o pontapé inicial que a bioética
necessitava para sua definitiva organização nos centros
universitários e acadêmicos. Foi então, a partir da publicação do
relatório que teve início a formalização definitiva da bioética como um
16
novo campo disciplinar.

Na perspectiva de sistematização da bioética, diversas obras foram


publicadas, entre elas podemos mencionar o livro Problemas Morais da
Medicina, organizado pelo filósofo Gorovitz e publicado pela primeira vez em
1976 e o livro Princípios da Ética Biomédica, do filósofo Tom Beauchamp e do
teólogo James Childress, em 1979.
O livro de Gorovitz foi a precursora de uma série de estudos que
correlacionavam os estudos éticos às situações médicas conflituosas, tais
como aborto e eutanásia.
Segundo Diniz,

16
DINIZ, 2008, p. 34-35
16

A iniciativa desse livro marcou, pela própria composição de autores, a


proposta interdisciplinar da bioética: médicos e filósofos foram
convidados a expor suas opiniões e argumentações sobre temas
clássicos de conflito moral da saúde. Dentre os autores da coletânea,
alguns se tornaram referência para os estudos da bioética nos anos
1990, como foi o caso de Ruth Macklin e Susan Sherwin (ambas
17
filósofas).

E a característica interdisciplinar do livro também se revelava no fato de


quebrar o tradicionalismo da ética médica e não eleger um agente social para o
papel de especialista em decisões éticas, enumerando uma série de
possibilidades: “médicos, enfermeiras, estudantes de medicina ou de
enfermagem, ou mesmo outros indivíduos que estivessem juntos com os
pacientes estariam aptos a cumprir esse papel”.18
E continua Diniz:

Mas, além dessa postura crítica de vanguarda, a opção temática do


livro já apontava para os assuntos que viriam, alguns anos depois, a
ser considerados campo analítico preferencial da bioética: a relação
médico-paciente, consentimento livre e esclarecimento, paternalismo,
eutanásia, suicídio assistido, aborto, além de questões relacionadas à
justiça social foram exaustivamente discutidos. Como é possível
perceber por essa publicação, desde muito cedo questões
relacionadas aos limites da vida mobilizaram a atenção dos
pesquisadores da bioética. Infelizmente, as situações que
impulsionaram seu surgimento, como a vulnerabilidade dos indivíduos
decorrentes das estruturas sociais de dominação, fossem elas de
19
raça, gênero ou classe, foram grosseiramente abandonadas.

Quanto ao livro Princípios da Ética Biomédica, este foi responsável pela


consolidação teórica da bioética, especialmente nas universidades
estadunidenses. É importante ressaltar que esta obra seguia a linha que foi
traçada pelo Relatório Belmont, “defendendo a idéia de que os conflitos morais
poderiam ser mediados pela referência a algumeas ferraentas morais, os
chamados princípios éticos”.20
De acordo com a obra Princípios da Ética Biomédica, temos quatro
princípios éticos como base de uma teoria bioética consistente: autonomia (o
chamado respeito às pessoas), beneficência, não-maleficência e justiça.

17
DINIZ, 2008, p. 35-36
18
DINIZ, 2008, p. 37
19
DINIZ, 2008, p. 37-38
20
DINIZ, 2008, p. 38-39
17

Neste contexto,

Alguns pontos conceituais do Relatório Belmont mereceram críticas


por ocasião da publicação de princípios da Ética Biomédica – a
definição do principio de respeito ás pessoas foi o de maior
importância. Segundo os autores, o relatório teria colocado sob uma
mesma referência dois princípios independentes: o principio do
respeito à autonomia e o principio de proteção e segurança às
pessoas incompetentes. Em nome disso, e no intuito de demarcar a
fronteira entre os dois preceitos éticos, o princípio de respeito às
21
pessoas transformou-se especificamente no princípio da autonomia.

21
DINIZ, 2008, p. 40
18

1.2 Algumas perspectivas de interdisciplinaridade entre Bioética, Ética


Profissional e Saúde Pública

Como falamos no início deste texto, a Bioética não se restringe a área


de saúde. Sua característica fundamental é o aspecto interdisciplinar, na
discussão que se trava entre médicos, dentistas e enfermeiros, juristas,
filósofos, teólogos, economistas, entre outros.
Também falamos que a Ética profissional é um capítulo da Bioética, uma
vez que ao refletirmos sobre a primeira, é imprescindível refletirmos sobre a
segunda.
É importante destacar que são cometidos equívocos em torno da
compreensão da Ética Profissional, uma vez que muitas pessoas defende mais
o profissionalismo na perspectiva de seus próprios interesses profissionais, do
que o valor da pessoa humana.
A reflexão sobre as ações realizadas no exercício de uma profissão deve
iniciar anteriormente a prática profissional; daí a importãncia de não escolher
uma profissão devido ao status social. Para isso, é importante que cada
profissional faça as seguintes perguntas para si mesmo: Estou sendo bom
profissional? Estou agindo adequadamente? Realizo corretamente minha
atividade? Estou colocando a ética do gênero humano acima de meus
interesses pessoais ou estou apenas visando ser promovido profissionalmente,
independentemente de qualquer conseqüência negativa ao meu semelhante?
Tais questionamentos, entre outros que poderíamos ter mencionado
aqui, nos ajudam a refletir não apenas sobre a Ética Profissional, mas também
sobre a Bioética e a Saúde Publica, pois para almejar o cuidado devido com
este tripé requer atitudes de generosidade e cooperação no trabalho que
realizamos, seja em equipe, seja solitariamente em uma sala.
No contexto da Ética Profissional,

Se a profissão eleva o nível moral do indivíduo, por sua vez, também


exige dele, uma prática valorosa, como escolha, pelas vias da virtude.
O êxito tende a ser uma natural decorrência de quem trabalha, de
modo eficaz, em plenitude ética. Não basta as competências
científica, tecnológica e artística; é necessária também aquela relativa
às virtudes do ser, aplicada ao relacionamento com pessoas, com a
classe, com o Estado, com a sociedade, com a pátria. (...) O trabalho,
por conseguinte, não é feito só com a exclusiva participação do
19

profissional, mas envolve o interesse de pessoas diretamente a ele


ligadas e, muitas outras, indiretamente influenciadas, ou ainda
22
envolve quem o faz e que dele se beneficia.

Conforme Dalton Luiz de Paula Ramos, em uma conferência proferida


na UNIFESP,

A Bioética tem uma proposta interdisciplinar de integração entre as


disciplinas. Falam alguns em um outro termo, em “transdisciplinar”:
que requer uma unificação conceitual entre as disciplinas. É difícil
entender este transdisciplinar dentro da nossa formação cartesiana
de disciplinas distintas, de disciplinas totalmente independentes e
23
isoladas, que mascaram a unidade da ciência.

De acordo com o escritor francês Edgar Morin, há uma dificuldade


quanto ao processo trandisciplinar, pois tal processo requer uma reforma total
do pensamento. Segundo ele, reformar o pensamento implica reformar os
educadores; reformar os educadores implica reformar as instituições de ensino;
reformar as instituições de ensino significa que já existe um pensamento
reformado. Sendo assim, estamos diante de uma contradição lógica, que nos
causa dificuldade de ultrapassá-la.
Mas a transdisciplinaridade pode contribuir na perspectiva do
estabelecimento do diálogo entre as áreas e para que a partir deste diálogo,
haja o despertar para construção dos grandes temas da atualidade, como por
exemplo, o tema da ecologia que envolve pensadores das mais diversas áreas.
Neste contexto, podemos afirmar que há uma ausência de diálogo entre
as diferentes áreas do conhecimento; há uma tensão constante; De acordo
com Morin, na sua obra Os Sete Saberes necessários para a educação do
futuro, é preciso que se mantenha o diálogo, mesmo com a existência da
tensão. É preciso saber dialogar com o diferente.
Esta falta de diálogo entre as diferentes áreas do conhecimento leva os
profissionais ao isolamento, ao individualismo, ao egoísmo e muitas vezes
desperta o sentimento de auto-suficiência em algumas pessoas.

22
LOPES DE SÁ, 2009, p. 173
23
DALTON, 2001, p. 3
20

Existe (...) forte influência cultural; some-se a isso a solidão que se


vive nas nossas cidades. E se ensina essa solidão na Universidade; o
trágico é isso. O professor ensina a solidão: - Você tem que ser
independente, você tem que tomar decisões, você tem que decidir,
em outras palavras, “seja solitário”! Porque depois, quando você sair
da Universidade estará sozinho. Por enquanto, enquanto você está
aqui como aluno, a instituição te dá cobertura mas depois, quando
você for para o seu consultório, depois que você tiver a sua
carteirinha de registro profissional (que é aquele documento que
parece representar que o profissional pode tudo e tem que responder
por tudo), você estará sozinho; te vira cara, já te ensinei o que tinha
que te ensinar, agora é contigo. Isto pode não ser dito, com estas
palavras, nas salas de aulas da Universidade, mas é isto que é
passado aos alunos, é esta a experiência de Universidade que eles
estão fazendo. Insisto nestes dois aspectos: a influência do ambiente,
da cultura, é difícil de vencer sozinha e o aprender a compartilhar, é
caminho para se superar a solidão. A fórmula para enfrentar esta
situação é poder contar com uma companhia que nos ajude a viver a
24
nossa vocação e nos ajude a apontar nosso destino.

Daí a importância do diálogo interdisciplinar. O que não significa dizer


que cada área do conhecimento não tenha sua própria identidade ou que perca
sua autonomia. O diálogo interdisciplinar pode ampliar o leque de
conhecimento de cada área, amadurecer os pontos de vista específicos de
cada área, possibilitando cada vez mais o processo de construção e
reconstrução do conhecimento humano. Além disso, pode abrir espaço para a
solidariedade humana, tão escassa nos dias atuais, movidos pelo capitalismo e
pelo uso exacerbado da tecnologia. E esta solidariedade deve estar presente
principalmente quando se trata do cuidado com o ser humano na relação
médico-paciente. Urge uma ética do gênero humano capaz de nos sensibilizar
para uma ética do dia-a-dia.

(...) uma das questões que fica para nós em todos os aspectos que
envolvem uma Bioética Clínica, uma Bioética de Decisão, uma
Bioética do dia-a-dia, passa por se dar um passo, desculpem a
redundância, passa por se dar um passo de buscar uma
solidariedade. A palavra solidariedade, eu a empreguei recentemente
em um fórum promovido pelo Centro de Referência e Treinamento –
CRT/AIDS aqui de São Paulo. O Simpósio intitulava-se Bioética e
AIDS. Empreguei essa palavra – solidariedade - e fui corrigido. E me
dei conta de que o significado desta palavra precisa ser aprofundado,
porque a palavra solidariedade muitas vezes é confundida com
filantropia. Filantropia pode ter uma conotação de “eu, ser superior,
ajudando um ser inferior”. Pode ainda ter uma conotação que não é
de reconhecimento da pessoa na sua globalidade. Mas não é dessa
solidariedade que estou falando. Estou falando de uma outra
solidariedade, que se confunde com a palavra caridade, palavra que
muitas vezes também as pessoas confundem. A verdadeira caridade

24
DALTON, 2001, p. 11
21

só é possível quando dois sujeitos, (vamos pensar na relação


profissional, profissional de saúde-paciente, quando não se fala de
uma equipe), se reconhecem mutuamente com uma dignidade. Só à
partir daí, da solidariedade, da caridade, é possível construir uma
Bioética Clínica que no meu ponto de vista (é um ponto de vista meu),
é capaz de encaminhar de forma satisfatória as decisões que são
decorrentes de tantos dilemas éticos que aparecem no nosso dia-a-
25
dia profissional.

Neste contexto, devemos defender também a urgência de uma ética do


gênero humano na Saúde Pública (tão marcada pela falta de compromisso
social); para perceber o descaso com a saúde pública, basta acompanhar os
noticiários ou buscar o atendimento do serviço público de saúde, entre outras
situações cotidianas.
No que diz respeito à Saúde Pública, de acordo com Maria Cecília S.
Minayo, em seu artigo Violência Social sob a perspectiva de Saúde Pública,

(...) a violência, enquanto tema, só encontra espaço na agenda da


Saúde Pública no final dos anos 80. Sua inclusão como problema de
saúde fundamenta-se no fato de as mortes e traumas ocorridos por
causas violentas virem aumentando a passos alarmantes na região
das Américas, contribuindo para anos potenciais de vida perdidos e
demandando respostas do sistema. Na década de 90, a preocupação
com o tema ganha prioridade nas agendas das organizações
internacionais do setor. Em l993, o Dia Mundial da Saúde teve como
mote para sua comemoração a "Prevenção de Acidentes e
26
Traumatismos"

Neste contexto, o Fórum Mundial de Saúde, em 1995 publicou um


relatório sobre a situação sanitária mundial, revelando o caos na distribuição da
saúde mundial, e na tentativa de encontrar as razões para tal situação,
levantou a seguinte pergunta: "quais seriam as prioridades sanitárias
mundiais?". Na busca pela resposta a esta questão, se voltou aos mesmos
números para sua formulação, ou seja, percorreu-se um caminho circular, com
a mesma proporção que se buscou explicar os diferentes gastos em saúde por
habitante/ano em diferentes países; ou seja, o desejo de encontrar uma
resposta cabível a pergunta formulada foi frustrante, pois a lacuna continuou,
como tantas outras que perduram na distribuição da renda mundial, pois muitas

25
DALTON, 2001, p. 13
26
MINAYO, 1994, p. 4
22

vezes não se leva em consideração que cada país tem sua própria
especificidade.

Outra revelação feita pelo relatório mencionado é que em alguns países


pobres, o gasto em saúde por habitante/ano não chega a quatro dólares (é o
caso de alguns países africanos).
No contexto especificamente brasileiro, sabemos que há uma
discrepância gigantesca na distribuição da renda per capta da população;
vivemos em um país onde a maioria da população não tem acesso a uma
saúde digna. É ainda um país predominantemente constituído pela população
menos favorecida.
Conforme o conceito adotado pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) em 1948, “Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e
não apenas a ausência de doença.”
Nesta perspectiva, o Canadá na década de 80 originou o conceito de “Cidadão
Saudável”, o qual serviu como modelo para o desenvolvimento de diversos projetos de
saúde que são executados mundialmente, a partir de sua incorporação pela OMS.
Conforme o conceito canadense, o “Cidadão Saudável” deve ter:

• uma comunidade forte, solidária e constituída sobre bases de justiça


social, na qual ocorre alto grau de participação da população nas
decisões do poder público;
• ambiente favorável à qualidade de vida e saúde, limpo e seguro;
satisfação das necessidades básicas dos cidadãos, incluídos a
alimentação, a moradia, o trabalho, o acesso a serviços de qualidade
em saúde, à educação e à assistência social;
• vida cultural ativa, sendo promovido o contato com a herança
cultural e a participação numa grande variedade de experiências;
• economia forte, diversificada e inovadora.27

27
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro092.pdf
23

2 REFLEXÕES SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS DE


SAÚDE À LUZ DA BIOÉTICA

2.1 A relação público-privado no Brasil

O sistema de saúde brasileiro não oferece a dignidade humana


necessária para as pessoas menos favorecida. Neste contexto, apenas uma
minoria da população pode usufruir de uma saúde razoável. Vivemos em um
país, cuja saúde é influenciada pelo neoliberalismo, quando os direitos
garantidos à esfera pública, são transferidos para a esfera privada, embora
após anos de luta, os direitos sociais tenham sido reconhecidos pela Carta
Magna de 1988.
De acordo com este documento, o Estado tem a responsabilidade de
atender os direitos fundamentais, tais como os direitos à saúde, educação,
cultura, lazer, desporto, turismo e trabalho.
Sendo assim,

No contexto atual, de políticas internacionais de ajuste econômico,


uma das áreas que mais padecem desta influência é, sem dúvida, a
área social, devido à limitação enfrentada pelo Estado no que diz
respeito à capacidade de intervenção e respostas diante das
28
inúmeras demandas sociais.

Nesta perspectiva, o retrocesso provocado pelo neoliberalismo ao bem-


estar social provocado pela transferência das garantias do âmbito público para
o privado, como foi mencionado anteriormente, é inevitável.
A população menos favorecida depende de um sistema de saúde que
não oferece as condições mínimas para a dignidade humana.
Neste contexto,

28
In: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/viewPDFInterstitial/3896/2691
24

As políticas públicas (...) são substituídas por programas focais e


compensatórios. Enquanto as políticas públicas eram pensadas para
dar respostas a todos os indivíduos, entendendo-os como cidadãos
de direito, os programas compensatórios limitam-se a minimizar o
impacto da flexibilização do papel do Estado requerida pelas
iniciativas neoliberais, voltando a ação apenas para os mais frágeis.
Os direitos sociais passariam a assumir características de bens de
consumo que devem ser adquiridos mediante pagamento. Logo, aos
milhares de indivíduos que não podem pagar por tais serviços resta
contar com a benevolência e as ações filantrópicas das Organizações
não governamentais (ONGs). A privatização dos serviços sociais
obedece à proposta de mercantilização dos bens sociais, admitindo,
com naturalidade, o lucro. O Estado continuaria destinando recursos,
mas não para ampliação da sua rede de serviços com o intuito de
reduzir as iniqüidades, e sim, no pagamento pela contratação de
29
entidades comunitárias ou ONGs que executariam tais serviços.

Infelizmente, não há uma evolução do sistema público de saúde no


sentido de garantir os direitos sociais a todos os cidadãos com a intervenção
dos estados nas questões sociais de forma profícua.
Além disso, temos um fator agravante que é o desemprego da maioria
da população. Este fator contribui ainda mais para uma sobrecarga de
excluídos e para tentar solucioná-la o governo cria programas sociais
emergenciais, na perspectiva de incluir a maioria e fazer a economia crescer.
Mas não podemos nos esquecer que o grande agravante para o
processo de exclusão social no que diz respeito à saúde brasileira, é a
ausência de um bom gerenciamento no que diz respeito aos serviços públicos.
Urge uma maior participação do Estado na defesa dos menos favorecidos.
Deste modo,

O papel de regulação atribuído ao Estado é imprescindível para os


serviços de saúde, pois não existem condições ideais que
fundamentem a perfeita competição na lei de mercado. O alcance da
eqüidade, nesses casos, é pouco provável, uma vez que os serviços
serão disponíveis conforme a capacidade de pagamento dos sujeitos,
o que prejudicaria, em especial, os mais necessitados Marcado pela
estratégia de desestatização (...). Esse procedimento encaminhou-o
para a configuração de um Estado pobre, que desenvolve ações
30
sociais pobres (focalizadas), direcionadas aos pobres.

A partir da crise do regime militar e das reivindicações há uma


reformulação do Sistema único de saúde (SUS), na perspectiva de oferecer
melhores condições para a população.

29
In: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/viewPDFInterstitial/3896/2691
30
In: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/viewPDFInterstitial/3896/2691
25

Apesar de a política pública brasileira para a saúde ter sido motivada


pela sociedade, que previa o acesso universal, a descentralização
dos serviços, a participação e controle social, entre outros princípios,
a implementação do SUS encontrou grandes dificuldades, em
especial pela tendência neoliberal que previa a modificação da
relação do Estado. (...) As políticas propostas em 1988 não foram só
semânticas e fantasiosas, uma vez que foi proposto
constitucionalmente um orçamento para a Seguridade Social do qual
30% iriam para as ações de saúde. Isso representaria, hoje, mais que
o dobro do orçamento do Ministério da Saúde. Essa proposta foi
sendo desmanchada ao longo dos anos, não apenas para a saúde,
mas para todas as políticas sociais. A omissão do papel regulador do
Estado, motivada pelos pressupostos neoliberais, divergia das
reformas progressistas propostas constitucionalmente para o Sistema
31
Único de Saúde (SUS).

Estamos mais uma vez diante do descumprimento das leis em nosso


país; isto quando o que está no papel recomenda benefícios à população.
Muitas vezes, quando ocorre o contrário, cumpre-se ao pé da letra o que a lei
recomenda. Estamos também diante da ausência do diálogo com a sociedade,
que paga uma quantidade excessiva de imposto.
Nesta perspectiva,

Implementar o SUS parcialmente, focando as ações somente no


campo da saúde, sem articulá-las com os diferentes setores que
contribuem para a garantia da saúde, representa a redução de uma
política de bem-estar social a uma política compensatória. Isso torna
explícita a intencionalidade de responder apenas à exigência de
racionalização e à diminuição da responsabilidade do Estado ante as
necessidades e direitos sociais dos cidadãos, expondo a falta de
32
comprometimento com a transformação da realidade social.

Estamos diante de uma grandeza inversamente proporcional, a qual foi


gerada pelas propostas neoliberais: o pouco investimento nas áreas sociais
que tem como conseqüência a acentuação das dificuldades encontradas no
cotidiano do setor saúde e o aumento da massa de vulneráveis e necessitados
de uma atenção efetiva.
Sendo assim,

Com pouco investimento, “os diversos sistemas públicos de saúde,


inclusive o brasileiro, não apresentam condições para dar conta da
integralidade das necessidades de todas as pessoas” (...) Entretanto,

31
In: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/viewPDFInterstitial/3896/2691
32
In: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/viewPDFInterstitial/3896/2691
26

devemos ter claro que propor a atuação apenas no campo estrutural,


sem atuar focalmente nos problemas emergenciais, seria concordar,
em curto prazo, com as iniqüidades existentes, fato que sugere que
as intervenções na saúde devem ocorrer em dimensão emergencial e
estrutural (política pública), entendidas como co-necessárias para a
33
garantia do direito

Uma saída para a melhoria da saúde brasileira seria a efetivação de


ações políticas fundamentadas na equidade e na responsabilidade social. Para
isso, é preciso que se estabeleça um diálogo entre o estado e a sociedade, na
perspectiva de superação do neoliberalismo e nortear a responsabilidade social
pelo outro, pelo mais necessitado, como forma de minimizar e combater as
desigualdades sociais predominantes; deste modo, diminui-se a diferença entre
as pessoas.
É dever do Estado implantar e implementar políticas públicas que
assegurem aos menos favorecidos uma qualidade de vida razoável para que
levem adiante seus projetos de vida.
Urge então uma reflexão ética profunda sobre a organização do SUS;
isto requer uma análise das condições sanitárias, políticas de formação de
pessoal e sobre a relação entre o Estado e a sociedade; a partir disso, deve-se
exigir do Estado que assuma rigorosamente uma responsabilidade que é sua,
ou seja, cobrar do Estado que defenda os mais necessitados e se
responsabilize com a sociedade, no sentido de garantir saúde a população.
Para isso, é preciso que a população esteja organizada, para reivindicar
e defender os direitos de todos. É preciso assegurar verdadeiras políticas
públicas sociais para incluir os menos favorecidos, os que não tem condições
de trabalho nem a possibilidade de inserir-se no mercado de trabalho, para que
estes tenham a possibilidade de atingir as condições de vida e saúde que são
de seu direito.
Neste contexto,

Outras tendências para a efetivação do SUS se consolidam a partir


de situações eticamente questionáveis. Dentre elas podemos citar a
formação de recursos humanos que atuem sobre a globalidade da
saúde dos indivíduos, e não com foco apenas na doença. Sob o
ponto de vista da orientação do sistema, deveríamos de fato
incorporar ações integralizadoras em substituição às ações

33
In:http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/viewPDFInterstitial/3896/2691
27

segmentadoras. Desse modo, entendemos que, para consolidarmos


efetivamente o Sistema Único de Saúde, devemos, antes de tudo,
reconhecer sua história e o contexto que permeou sua promulgação e
regulamentação. Resistências fazem parte do processo de
construção social, “crises” teóricas e práticas são inerentes a
processos de construção; entretanto, devemos refletir e resgatar o
34
real papel do Estado promulgado na Constituição Federal de 1988.

2.2 Bioética e Política de Saúde Pública no Brasil

No Brasil, a Saúde Pública é um tema que tem sido bastante debatido e


foram elaboradas algumas leis na perspectiva de que os gestores públicos
assumam com a população um compromisso de forma mais eficaz.
Neste contexto, conforme a Lei de Bases da Saúde (Lei nº 48/90, de 24
de Agosto), CAPÍTULO I (...)

Base II
Política de saúde
1. A política de saúde tem âmbito nacional e obedece às
directrizes seguintes:
a. A promoção da saúde e a prevenção da doença fazem parte
das prioridades no planejamento das actividades do Estado;
b. É objectivo fundamental obter a igualdade dos cidadãos no
acesso aos cuidados de saúde, seja qual for a sua condição
econômica e onde quer vivam, bem como garantir a equidade na
distribuição de recursos e na utilização de serviços;
c. São tomadas medidas especiais relativamente a grupos
sujeitos a maiores riscos, tais como as crianças, os adolescentes, as
grávidas, os idosos, os deficientes, os toxicodependentes e os
trabalhadores cuja profissão o justifique;
d. Os serviços de saúde estruturam-se e funcionam de acordo
com o interesse dos utentes e articulam-se entre si e ainda com os
serviços de segurança e bem-estar social;
e. A gestão dos recursos disponíveis deve ser conduzida por
forma a obter deles o maior proveito socialmente útil e a evitar o
desperdício e a utilização indevida dos serviços;
f. É apoiado o desenvolvimento do sector privado da saúde e, em
particular, as iniciativas das instituições particulares de solidariedade
social, em concorrência com o sector público;
g. É promovida a participação dos indivíduos e da comunidade
organizada na definição da política de saúde e planeamento e no
controlo do funcionamento dos serviços;
h. É incentivada a educação das populações para a saúde,
estimulando nos indivíduos e nos grupos sociais a modificação dos
comportamentos nocivos à saúde pública ou individual;
i. É estimulada a formação e a investigação para a saúde,
devendo procurar-se envolver os serviços, os profissionais e a
comunidade.

34
In:http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/viewPDFInterstitial/3896/2691
28

2. A política de saúde tem carácter evolutivo, adaptando-se


permanentemente às condições da realidade nacional, às suas
necessidades e aos seus recursos. 35

Sendo assim, adota-se a concepção de que a saúde é um direito de


todos e dever do Estado.
Convém ressaltar que alguns passos fundamentais foram dados no
Brasil, como por exemplo, a promulgação da Constituição de 1988, que prevê a
implantação do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com a lei de 1988,
este sistema público de saúde deve ser gerenciado pelo governo, mas sob o
controle dos usuários, por meio da participação popular nas Conferências e
Conselhos de Saúde
Conforme o caráter de legitimidade dos direitos de todos pela
constituição,

(...)Trata-se de uma formulação política e organizacional para o


reordenamento dos serviços e ações de saúde, baseada em
princípios doutrinários que dão valor legal ao exercício de uma prática
de saúde ética, que responda não a relações de mercado mas a
direitos humanos:
• Universalidade: garantia de atenção à saúde a todo e qualquer
cidadão.
• Eqüidade: direito ao atendimento adequado às necessidades de
cada indivíduo e coletividade.
• Integralidade: a pessoa é um todo indivisível inserido numa
comunidade.
O SUS, na forma como é definido em lei, segue a mesma doutrina e
os mesmos princípios organizativos em todo o País, prevendo
36
atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde.

Porém, o nosso sistema de saúde brasileiro tem se demonstrado


fracassado pelo mau gerenciamento dos seus recursos; trata-se de uma
deficiência administrativa, pois além de não atender a demanda social de
maneira adequada, em alguns estados brasileiros, a situação de calamidade
pública quanto ao uso do SUS é pior do que em outras. Além da escassez de
matéria física, há também uma decadência de matéria humana, pois muitos
profissionais que estão inseridos neste sistema atende mal a seus usuários.
Mas certamente, há uma ausência do Estado, no sentido de não fornecer uma
formação adequada a estes profissionais

35
In: http://www.dhnet.org.br/direitos/cplp/portugal/saude.htm
36
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro092.pdf
29

Nesta perspectiva, para que haja uma evolução humanitária, é preciso


que se invista na educação das pessoas em todos os segmentos da sociedade
para que elas reivindiquem o atendimento de suas necessidades básicas.

O relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef),


“Situação Mundial da Infância — 1993 (...) Demonstra que o
atendimento de necessidades humanas elementares — dentre as
quais destacam-se alimentação, habitação adequada, acesso à água
limpa, aos cuidados primários de saúde e à educação básica — é
viável em uma década, a um custo extra de US$ 25 bilhões anuais,
em nível mundial. Cita, para fins de comparação, que essa cifra é
inferior ao gasto anual da população dos EUA com o consumo de
cerveja. O relatório reporta-se ao sucesso obtido no cumprimento de
metas, como a vacinação de 80% das crianças do mundo até 1990.
Bangladesh, por exemplo, ampliou a cobertura vacinal de suas
crianças de 2 para 62% em apenas cinco anos, entre 1985 e 1990. É
interessante lembrar que, neste século, uma doença milenar como a
varíola foi eliminada e a paralisia infantil está prestes a ser
37
erradicada.

37
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro092.pdf
30

3 BIOÉTICA NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE


3.1 A Saúde como um Direito Humano

Conforme Oliveira,

Vivemos em um país estranho, pois nele, no Brasil oficial, apenas


uma parcela minoritária de sua população é incluída. Coexistem, no
mesmo território, uma sociedade moderna, que cada vez mais se
aproxima, econômica e culturalmente, dos países mais ricos do
mundo, e uma sociedade primitiva, com milhões de habitantes
vivendo nas cidades e nos campos em condições de vida que
humilham a pessoa humana. Essa cisão interna é aprofundada pela
forma de inserção na nova configuração da economia como sistema
mundial. Nesse contexto, os mercados financeiros cada vez mais
impõem suas leis ao processo global de configuração da vida
humana. Tal processo não só não atenuou as desigualdades, mas
certamente as aprofundou. Suas conseqüências estruturais são
pobreza, instabilidade, desemprego: o desemprego e o emprego
instável de milhões de pessoas são o sinal mais visível de um
processo de desenvolvimento que está criando pessoas literalmente
inúteis à nova ordem mundial. São 4,5 bilhões de pessoas no
mundo que vivem na pobreza e 2 bilhões que sobrevivem com
38
menos de um dólar por dia .

Nesta perspectiva, a reflexão de Oliveira nos leva a concluir que no


Brasil a grande maioria da população não tem acesso a uma saúde e uma
educação de qualidade; a impossibilidade do acesso a uma boa educação,
certamente desencadeia a exclusão no que diz respeito a uma saúde digna;
eliminam as possibilidades do acesso a cultura e o lazer, imprescindíveis a
vitalidade humana. Por sua vez, muitas atividades simples que trazem muita
vitalidade ficam fora do cotidiano das pessoas, como por exemplo, a prática da
leitura que abre portas para novas perspectivas.

Atualmente, a maioria das pessoas brasileiras não tem a leitura como


uma necessidade vital, como algo prazeroso, capaz de nos levar além da
imaginação, transportando-nos aos mais belos lugares, possibilitando-nos a
realização dos mais diversos sonhos.
A leitura não pode ser considerada como algo obrigatório, como algo
que necessariamente leve a escrita.

38
OLIVEIRA, 2002, p. 5-6
31

A leitura de qualquer que seja o texto, deve ser antes de tudo prazerosa
e para isto é necessário que inicialmente se leia sem um compromisso de um
fazer posterior.
O fazer posterior surge quando a leitura faz parte de nossa vida como
qualquer necessidade biológica.
De acordo com Marta Morais da Costa, doutora em literatura brasileira,
pesquisadora e crítica literária, na revista Aprende Brasil (fevereiro/março de
2006), “muito do prazer da leitura de textos (...) reside na leitura mesma, sem
um compromisso de um fazer posterior”.39
Este prazer que se transforma em necessidade biológica nos conduz ao
exercício da cidadania. E o fio condutor a este exercício é a escola, numa
perspectiva de formar leitores, formando cidadãos para o trabalho livre e
criativo.
Neste contexto, falemos então de dados estatísticos.
A revista supracitada, página 29, mostra alguns dados da pesquisa
realizada pela Câmera Brasileira do Livro, que é o seguinte retrato da leitura no
Brasil:

APRECIADORES DA LEITURA POR FAIXA ETÁRIA

14 a 19 anos--------------------------------------------------------------------------------------- 18%
20 a 29 anos--------------------------------------------------------------------------------------- 22%
30 a 39 anos--------------------------------------------------------------------------------------- 20%
Mais de 40 anos---------------------------------------------------------------------------------- 40%

PRINCIPAIS BARREIRAS À LEITURA

Falta de tempo------------------------------------------------------------------------------------ 39%


Falta de interesse -------------------------------------------------------------------------------- 18%
Preguiça -------------------------------------------------------------------------------------------- 17%
Preferência por outro tipo de entretenimento--------------------------------------------- 17%
Falta de dinheiro --------------------------------------------------------------------------------- 11%

39
MORAES DA COSTA, 2006, p. 8.
32

Dificuldade para entender palavras e frases --------------------------------------------- 10%

LEITURA DE LIVRO É MAIS PERCEBIDA COMO UMA NECESSIDADE


ATUAL DO QUE COMO FONTE DE PRAZER

O livro é uma forma de transmissão de pensamentos--------------------------------- 89%


O livro é uma importante forma de atualização ------------------------------------------ 82%
Ler é algo que me dar prazer ----------------------------------------------------------------- 61%

Ainda de acordo com dados da Câmara Brasileiras do Livro, no Brasil há


apenas um grupo seleto que gosta de ler que é apenas 14% da população.
Por fim, conforme Marta Morais da Costa, o mérito da leitura está em
permitir a entrada do aluno no exercício cada vez mais pleno da cidadania ,
instruindo, educando, nutrindo o imaginário, ensinando a olhar o mundo e as
pessoas de maneira diferenciada, instrumentalizando a visão critica e
permitindo a pessoa construir melhor sua história e entender a dos outros.
Sendo assim, podemos dizer que grande parte da população brasileira
não tem consciência de que devemos lutar pela saúde como um direito
humano, uma vez que o cidadão desprovido do conhecimento terá bastante
dificuldade de defender seus direitos. Até porque, antes de tudo, deve
combater a guerra silenciosa da fome, que elimina diversos seres humanos no
mundo todo, principalmente em países com má distribuição de renda, como é o
caso do Brasil.
De acordo com o contexto brasileiro, não há uma estatística segura sobre
os valores totais investidos em saúde pública.
De qualquer forma, podemos dizer que no nosso país a escassez de
recursos para uma saúde pública de qualidade é uma realidade; além disso,
tais recursos são mal gerenciados pela irresponsabilidade de alguns
gestores públicos, que se preocupam mais com seus interesses políticos
partidários particulares do que com a representação da sociedade que seu
cargo exige.
33

3.2 Por uma Bioética a partir de aspectos filosófico-educacionais

É importante destacar alguns aspectos filosófico-educacionais na


perspectiva da Bioética. Tais aspectos facilitarão no despertar da consciência
crítica dos seres humanos, favorecendo assim para o reconhecimento da
consciência de si e do outro; seja no processo da aquisição do conhecimento
numa relação educador-educando, seja em outros aspectos.
De acordo com Paulo Freire, em seu livro Pedagogia da Autonomia,

O educador democrático não pode negar-se o dever de, na sua


prática docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua
curiosidade, sua insubmissão. Uma de suas tarefas primordiais é
trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com que
devem se ‘aproximar’ dos objetos cognoscíveis. E esta rigorosidade
metódica não tem nada a ver com o discurso ‘bancário’ meramente
transferidor do perfil do objeto ou do conteúdo. É exatamente neste
sentido que ensinar não se esgota no ‘tratamento’ do objeto ou do
conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção das
condições em que aprender criticamente é possível. E essas
condições implicam ou exigem a presença de educadores e de
educandos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente
curiosos, humildes e persistentes. Faz parte das condições em que
aprender criticamente é possível e pressupõe por parte dos
educandos de que o educador já teve ou continua tendo experiência
da produção de certos saberes e que estes não podem a eles, os
educandos, ser simplesmente transferidos. Pelo contrário, nas
condições de verdadeira aprendizagem os educadores vão se
transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do
saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do
processo. Só assim podemos falar realmente de saber ensinado, em
que o objeto ensinado é apreendido na sua razão de ser e, portanto,
40
aprendido pelos educandos .

Mas tudo isso não será possível estando afastado da pesquisa.


Educador e educando devem ter a pesquisa como uma atividade vital na
perspectiva da construção do conhecimento, na constante busca para o
despertar da consciência crítica; desenvolvendo assim uma pesquisa séria,
capaz de formar e transformar o indivíduo e o seu contexto social, despertando
a curiosidade, a argúcia intelectual, despertando para novas perspectivas.
A pesquisa ajuda a desenvolver o processo de ensino-aprendizagem de
maneira profícua. Sendo assim,

40
FREIRE, 1996, p. 28-29.
34

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-


fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino
continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque
indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar o
41
que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade .

Neste contexto, o incentivo da busca pelo conhecimento, o qual deve ser


vinculado ao contexto que estamos inseridos, deve partir do próprio professor;
isto não significa dizer que o docente seja o único detentor do conhecimento.
Segundo Freire,

O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que


uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o
mundo, como seres históricos, é a capacidade de, intervindo no
mundo, conhecer o mundo. Mas, históricos como nós, o nosso
conhecimento do mundo tem historicidade. Ao ser produzido, o
conhecimento do novo supera outro que um dia foi novo e se fez
velho e se ‘dispõe’ a ser ultrapassado por outro amanhã. Daí que
seja tão fundamental conhecer que o conhecimento existe quanto
saber que estamos abertos e aptos á produção do conhecimento
ainda não existente. Ensinar, aprender e pesquisar lidam com esse
dois momentos: o em que se ensina e se aprende o conhecimento já
existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda
não existente. A ‘do-docência’ – docência-discência – e a pesquisa,
indicotomizáveis, são assim práticas requeridas por estes momentos
42
do ciclo gnosiológico.

Neste sentido, José Auri Cunha em se livro Filosofia na Educação


Infantil nos leva a refletir sobre o processo de construção e reconstrução do
pensar especificamente filosófico. De acordo com este autor,

A filosofia, enquanto conhecimento e habilidade humana, nasceu


com o propósito de educar o pensamento, apropriar-se de suas leis
e princípios e dar-lhe uma função: a de buscar bases para a
universalização das descobertas do todo do pensamento humano.
(...) Tornar os indivíduos cidadãos do mundo, da humanidade, eis o
43
sonho da filosofia!”

Daí a importância de não particularizarmos o indivíduo, para que este,


com uma visão universal, possa revolucionar o pensamento de forma ousada,
usar e propor modos diferentes de pensar, visando pensar filosoficamente.
Segundo Cunha,

41
Id., p. 32
42
Ibid., p. 31
43
CUNHA, 2002, p. 28-29.
35

O filósofo Heidegger entendeu que pensar filosoficamente


corresponde a repensar o já pensado, para pensar o ainda não
pensado. Nesta definição, tão sucinta e direta, estão propostos dois
modos de pensamento, cultivados pela filosofia: o pensamento
crítico, sobre o que já foi pensado e o criativo, sobre o que ainda
44
não foi pensado”

Segundo Cunha, estes dois modos de pensamento tornam a família, a


escola e o Estado diretamente relacionados com a conquista da felicidade das
pessoas, visto que a felicidade é o fim a que se destinaria toda a espécie
humana. A felicidade seria atributo de seres livres, capazes de escolherem
aquilo que querem ser julgados, pois “os seres humanos, enquanto dotados de
liberdade são, portanto naturalmente candidatos à felicidade”45.
Com isto, podemos afirmar que o ser humano está em busca da
autonomia frente ao grupo social a que pertence. Esta busca é à base da
educação para a liberdade, que significa “o bem comum que é a felicidade de
todos, pelo menos do maior número de pessoas em cada contexto”46.
A educação para a liberdade é o fio Condutor para a democracia.
Segundo Cunha, “democracia é sinônimo de diálogo entre o todo e as
partes”.47 Este tipo de diálogo é útil na produção de razões e critérios
consensuais, visando uma discussão de regras da convivência democrática.
Para que haja a convivência democrática, é necessário que as boas razões e
os bons critérios sejam respeitados. E isto só ocorre quando dialogamos para
saber quando são boas as razões ou bons os critérios. Neste contexto, o
diálogo é o fio condutor de uma educação para a democracia, “e o diálogo
filosófico é o meio mais crítico, criativo e cuidadoso de construir boas razões e
bons critérios, democraticamente consensuais”48.
Há diversas atitudes filosóficas que nos conduzem a uma educação para
a democracia. Dentre elas, Cunha menciona três que são consideradas
propedêuticas a todo filosofar: aprender a aprender, aprender a automotivar-se
para as regras e aprender a dialogar. De acordo com Cunha,

44
id, p. 30.
45
id., p. 30-31.
46
id., p. 31.
47
CUNHA, Id., p. 133.
48
Id., p. 134.
36

uma característica do pensamento filosófico é estar continuamente


aprendendo, continuamente operando condutas frente ao meio.
Outra característica é a atitude diante das regras, ou das normas
que as sancionam: uma atitude de autonomia – buscar estar
motivado para seguir a regra considerada justa, independente do
prêmio ou castigo que advenha, mas por simples motivação interna.
Uma terceira característica própria do pensamento filosófico é a
predisposição para o diálogo, na perspectiva da cuidado recíproco, e
49
da sinceridade e busca de consenso em bases razoáveis.

Aprender a dialogar é um passo fundamental de uma educação par a


democracia (podemos dizer que é a regra de ouro). Neste contexto, o diálogo
deve ser recíproco, ou seja, considerando tanto a opinião do outro quanto à de
si mesmo e a de si mesmo tanto quanto a do outro, levando em consideração
tanto a particularidade quanto a universalidade. Numa educação para a
democracia, estamos preocupados com o nosso bem, o bem dos outros que
convivem conosco e o bem comum geral.
O princípio básico de uma educação para a democracia é o

conflito em negociação sem ruptura, entre, de um lado, um


movimento centrífugo, em direção aos interesses particulares de
cada envolvido, e de outro, um movimento de natureza centrípeta,
cuja direção é o estabelecimento de um centro regulador, formulado
50
em leis gerais.

No contexto de uma educação para a democracia, estamos


verdadeiramente preocupados em não fugir deste conflito, mesmo motivados
pelas melhores intenções. Caso fujamos, adotamos um comportamento não-
democrático que, em longo prazo, poderá produzir resultados opostos aos
próprios interesses que queremos beneficiar.
Uma educação para a democracia também se preocupa com a
autonomia. Devemos falar de autonomia como objetivo educacional e com
condições de filosofar com crianças, jovens, e adultos sobre o que pensam,
como pensam e para que pensam. Caso não tenhamos esta preocupação
como educadores, estamos ignorantes dos valores e competências que
queremos que nossas crianças, nossos jovens e nossos adultos aprendam ou
estamos com medo da liberdade. O medo da liberdade pode fazer com nossos
alunos não nos aceite como seus educadores.

49
Id, p. 50.
50
Id., p. 158.
37

Se isto ocorrer, nosso papel em sala de aula será de mero instrutor, que
transmite apenas conteúdos, condicionando os alunos a uma obediência
passiva a partir de regras sancionadas severamente.
E como devemos educar nossos alunos sem medo da liberdade? Como
educá-los filosoficamente?
Devemos educá-los a partir de uma visão cosmopolita: com uma visão
ampla de filosofia, vendo-a como a ciência da máxima suprema de uso da
nossa razão, isto é, como a ciência da relação de todo conhecimento e de todo
uso da razão com o fim último da razão humana, reunindo todos os fins numa
unidade.
De acordo com Kant,

o domínio da Filosofia neste sentido cosmopolita, deixa-se reduzir


as seguintes questões:
1. O que posso saber?
2. O que devo fazer?
3. O que me é lícito esperar?
51
4. O que é o homem?

Estas questões respondem consecutivamente, a Metafísica, a Moral, a


Religião e a Antropologia. Como as três primeiras questões remetem a última,
poderemos dizer que todas são atribuídas à Antropologia.
Com a perspectiva de um cosmopolitismo, o ato de estudar, que não se
desvincula da pesquisa, se dá então a partir de um processo contínuo de
pensar, repensar, construir, reconstruir, interferindo no mundo em que se vive
para transformá-lo com um pensamento ético humano.
Neste sentido, Freire afirma:

(...) não posso ser professor sem me achar capacitado para ensinar
certo e bem os conteúdos de minha disciplina; não posso, por outro
lado reduzir minha prática docente ao puro ensino daqueles
conteúdos. Esse é um momento apenas de minha atividade
pedagógica. Tão importante quanto ele, o ensino dos conteúdos é o
meu testemunho ético ao ensiná-los. É a decência com que o faço.
É a preparação científica revelada sem arrogância, pelo contrário,
com humildade. É o respeito jamais negado ao educando, a seu
saber de ‘experiência feito’ que busco superar com ele. Tão
importante quanto o ensino dos conteúdos é a minha coerência na
classe. A coerência entre o que digo, o que escrevo e o que faço. É
importante que os alunos percebam o esforço que faz o professor ou
a professora procurando sua coerência. É preciso também que este

51
KANT, 2006, p. 42.
38

esforço seja de quando em vez discutido na classe. Há situações


em que a conduta da professora pode parecer aos alunos
contraditória. Isto se dá quase sempre quando o professor
simplesmente exerce sua autoridade na coordenação das atividades
na classe e parece aos alunos que ele, o professor, exorbitou de seu
poder. Ás vezes, é o próprio professor que não está certo de ter
52
realmente ultrapassado o limite de sua autoridade ou não.

O cosmopolitismo também se preocupa com o Esclarecimento. Segundo


Kant, “Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade, da
qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu
entendimento sem a direção de outro indivíduo”.53 Na opinião de Kant, o
homem é o próprio culpado de sua menoridade porque tem o conhecimento,
mas não usa, ou seja, o homem é culpado por essa menoridade, porque nele
há uma ausência de decisão e coragem para usar a razão sem a tutela de
outrem, e não por nele existir uma deficiência intelectual.
Neste contexto, o homem precisa de outrem para tomar suas próprias
decisões, como por exemplo, um livro para fazer a vez do entendimento, um
guia espiritual para ter consciência, um médico para decidir a respeito da dieta.
Desta forma, a preguiça e a covardia se instalam no homem, tornando-o menor
por toda a vida.
Segundo Kant, a única saída para o ser humano da menoridade é seguir
o lema do Esclarecimento, que diz para o homem ter “coragem de fazer uso de
teu próprio entendimento”54, com a finalidade de ousar saber, para assegurar,
enfim, o advento da autonomia integral e para todos.
Mas para a imensa maioria da humanidade, é difícil e perigoso sair da
menoridade, porque se encontram sob a supervisão de seus tutores. As
pessoas menores encontram “o perigo se tentarem andar sozinhos”55, mas
talvez consigam depois de algumas quedas. Algo deste tipo, leva a pessoa
menor a continuar cada vez mais tímida e não fazer outras tentativas no futuro.

52
FREIRE, 1996, p. 116-117
53
KANT, 1974, p. 100.
54
KANT, Ibid, p. 100
55
KANT, Ibidem, p. 102
39

“É difícil portanto para um homem em particular desvencilhar-se da menoridade


que para ele se tornou quase uma natureza”56.
O homem passa a ter amor por esta menoridade, pelo fato de não o
terem permitido fazer tentativas de conhecer a maioridade sozinho.
Neste contexto, como é possível o Esclarecimento?
O Esclarecimento é possível a um uso público, principalmente se lhe for
dado à liberdade. O homem é capaz de pensar por si mesmo, quando sacode
de sua própria pessoa o jugo da menoridade e transmite a outros homens “uma
avaliação racional do próprio valor e da vocação de cada homem em pensar
por si mesmo”57. Até entre os tutores de grande massa pode ser encontrados
homens capazes de pensar por si mesmo apesar dos preconceitos da parte do
público que lhe foi transmitida pelo próprio homem que saiu da menoridade
como autor de outros preconceitos.
Neste contexto, para que haja Esclarecimento é exigida a liberdade, “e a
mais inofensiva entre tudo aquilo que se possa chamar liberdade, a saber: a de
fazer um uso público de sua razão em todas as questões”58. Segundo Kant, a
liberdade é sempre limitada. A única limitação que não impede o
Esclarecimento e até o favorece é o uso público da razão.
De acordo com Kant, a realização do Esclarecimento entre os homens
só é possível quando a razão é utilizada livremente para um uso público, uma
vez que o uso privado pode ser estreitamente limitado, apesar de não impedir
naturalmente o progresso do Esclarecimento. Neste contexto, o nosso filósofo
alemão afirma:

Entendo contudo sob o nome de uso público de sua própria razão


aquele que qualquer homem, enquanto sábio, faz dela diante do
grande público do mundo letrado. Denomino uso privado aquele que
o sábio pode fazer de sua razão em um certo cargo público ou função
59
a ele confiado .

Com esta afirmação, ele nos diz que o uso público da razão é permitido
ao homem versado no conhecimento de determinado assunto. Isto pode

56
KANT, Ibidem, p. 102.
57
KANT, Ibidem, p. 102.
58
KANT, Ibidem, p. 104.

59
KANT, Ibidem, p. 104.
40

acontecer ao membro de uma comunidade total, representante constitucional,


que tem a qualidade de sábio e transmite conhecimentos a um público por
meio de obras escritas. Neste contexto, o homem dotado de tais qualidades
certamente está inserido no mundo intelectual que faz uso do entendimento
sem a intervenção de outrem, e desta forma, falando em seu próprio nome.
Este sábio que fala em seu próprio nome, é um homem que está inserido
numa época de Esclarecimento.
No que diz respeito ao Esclarecimento, o homem pode adiá-lo, mas
jamais renunciar a ele. Quando o homem renuncia o Esclarecimento, fere não
apenas seus direitos, como também os sagrados direitos da humanidade.
A preocupação kantiana com o Esclarecimento é análogo a inquietação
que ele mesmo apresenta no livro Sobre a Pedagogia no que diz respeito a
disciplina, a qual é responsável pela transformação do homem de animalidade
em humanidade, levando-o a libertar-se de seus intintos animais. Por outro
lado, os tutores do homem o embrutecem, transformando sua humanidade em
animalidade, e deste modo o homem se encontra numa situação paradoxal
diante de um progresso e de um regresso.
Neste contexto, o Esclarecimento kantiano pode ser relacionado com o
mito da caverna de Platão, representando o deseja da liberdade coletiva, a qual
é interrompida pelos tutores ainda não esclarecidos.
O próprio Kant reconhece a impossibilidade da liberdade coletiva, pois a
medida que se avança dando-se novos passos para tal liberdade, surgem
novos obstáculos gerados pelo preconceito, censura e agressão, levando a
humanidade a se tornar cada vez mais destituída do pensamento crítico e
reflexivo; para ele, ainda está distante de uma concretização no sentido de toda
a humanidade fazer o uso próprio da razão.

E quem é capaz de tornar-se educado e de filosofar no


contexto do Esclarecimento?
O sábio que goza de ilimitada liberdade de fazer uso da sua
própria razão e de falar em seu próprio nome é capaz de filosofar, pois
filosofamos quando pomos em prática o exercício e o uso próprio da
razão e para sermos filósofos, temos que exercitar em fazer de nossa
razão um uso livre e não um uso meramente imitativo.
41

Desta forma, quando o homem filosofa, exercitando o uso


próprio da razão, tem coragem e decisão para usar a razão sem a
orientação de tutores. A partir deste momento, o homem tem coragem
de fazer uso do próprio entendimento, ousando saber, buscando
assegurar o advento da autonomia integral e para todos.
Portanto, o ser humano que filosofa desprovido da menoridade
é livre, pois não necessita de interferência de um outro ser, não usando
a razão mecanicamente, da mesma forma que o sábio que faz o uso
público da razão capaz de pensamento próprio, tem a liberdade de
raciocinar sem a tutela de outrem. Este homem é um autêntico filósofo.
Neste sentido, a liberdade está presente tanto no filosofar quanto no
Esclarecimento, abrindo espaço para uma convergência, no sentido de
que o homem que filosofa deve ser considerado um ser humano que
vive numa época de Esclarecimento.
Viver numa época de Esclarecimento é dirigir bem o próprio
entendimento, buscando a construção deste último para toda a
humanidade. É uma busca universal da liberdade para a construção da
dignidade humana. É dar plena liberdade a toda humanidade para a
construção de um mundo melhor, onde todas as pessoas possam ter
direitos iguais: direito de liberdade, direito de raciocinar sem
interferências, direito a educação, e sejam capazes de desenvolver no
gênero humano o progresso universal para o melhor, visto que o ser
humano é dotado de liberdade. De acordo com Kant, no texto Questão
Renovada: estará o gênero o humano em constante progresso para o
melhor?, o progresso universal para o melhor pode acontecer no que diz
respeito à ilustração de um povo. Conforme o nosso filósofo iluminista,

A ilustração do povo é a sua instrução pública acerca dos seus


deveres e direitos no tocante ao Estado a que pertence. Porque aqui
se trata somente de direitos naturais e derivados do bom senso
comum, os respectivos arautos e intérpretes no meio do povo, não
são os oficiais professores de direito, estabelecidos pelo Estado, mas
são professores livres, i.e., os filósofos que justamente por causa
desta liberdade que a si mesmo facultam, são objeto de escândalo
para o Estado, o qual apenas pretende reinar, e difamados, sob o
60
nome de iluministas, como gente perigosa para o Estado .

60
KANT, 1993, pp. 106-107
42

O progresso universal para o melhor pode ser esperado por


meio da formação educativa dos jovens. Segundo Kant, encontramos
dificuldades para tal formação porque não há uma aplicação de recursos
de forma adequada por parte do Estado, não nos proporcionando o êxito
desejado. Estes recursos são aplicados na guerra, o que leva à falta de
dinheiro para pagar a mestres capazes de transmitir uma educação de
boa qualidade aos jovens. Para que houvesse o êxito desejado no
sentido da formação da juventude, “seria, decerto, necessário que o
Estado, de tempos a tempos, se reformasse a si mesmo e, tentando a
evolução em vez de revolução, avançasse de modo permanente para o
melhor”.61
No que diz respeito o progresso universal para o melhor,
Norberto Bobbio, no livro A Era dos Direitos, afirma que

somente a história profética (ou filosófica), não a história empírica


(mesmo que enriquecida pela história conjetural), pode desafiar – ou
mesmo resolver – a ambigüidade do movimento histórico, dando uma
resposta à questão de se a humanidade está ou não em constante
62
progresso para o melhor.

O progresso universal ou da humanidade nos abre para a


discussão de uma idéia da Cosmópolis, “segundo a qual cada homem é
potencialmente cidadão não só de um Estado Particular, mas sim do
mundo”.63
Neste contexto, o direito cosmopolita estabelece uma relação
de reciprocidade, isto é, deve ser estabelecido nas condições de uma
hospitalidade universal.
De acordo com as condições de uma hospitalidade universal, o
cidadão de um estado tem o direito de não ser tratado com hostilidade
em um outro estado e todos os homens têm o direito de ser cidadãos de
uma sociedade universal; da mesma forma, os cidadãos do mundo, têm
como dever permitir ao cidadão estrangeiro ingressar-se no seu
território, e o hóspede, após ser recebido em outro território não pode

61
KANT, Ibidem, p. 111.
62
BOBBIO, 1992, p. 134.
63
BOBOIO, Ibid, p. 137.
43

aproveitar da hospitalidade, para que possa transformar a visita em


conquista.
Conforme Bobio,

Nessa relação de reciprocidade entre o direito de visita do cidadão


estrangeiro e o dever de hospitalidade do Estado visitado, Kant tinha
originariamente prefigurado o direito de todo homem a ser cidadão
não só de seu próprio Estado, mas do mundo inteiro; além disso,
havia representado toda a terra como uma potencial cidade do
64
mundo, precisamente como uma Cosmópolis.

Segundo Bobbio, a relação existente na Cosmópolis deve se


expandir, ou seja, não deve se limitar apenas na relação entre
indivíduos, entre Estado e Estado, entre Estado e indivíduo no interior e
sim, de forma externa, ou seja, entre Estados e indivíduos dos outros
Estados.
Neste sentido, o direito cosmopolita é uma constante relação
recíproca entre os povos da terra, para a construção de uma solução
para o maior problema da raça humana que é a construção de uma
sociedade única, capaz de administrar a justiça universal.
Neste contexto, Bobbio afirma que

é fato hoje inquestionável que a Declaração Universal dos direitos do


Homem, de 10 de dezembro de 1948, colocou as premissas para
transformar também os indivíduos singulares, e não mais apenas os
Estados, em sujeitos jurídicos do direito internacional, tendo assim,
por conseguinte, iniciado a passagem para uma nova fase do direito
internacional, a que torna esse direito não apenas o direito de todos
65
as gentes, mas o direito de todos os indivíduos.

Na opinião de Bobbio, o único presságio seguro que temos acerca de


um confiável movimento histórico para o melhor talvez “seja o crescente
interesse dos eruditos e das próprias instâncias internacionais por um
reconhecimento cada vez maior e por uma garantia cada vez mais segura, dos
direitos do homem”.66
Neste contexto, Bobbio afirma que Immanuel Kant defendia a Revolução
francesa, a qual representou o fim do regime feudal e a aprovação da

64
BOBBIO, Ibidem, p. 138.
65
BOBBIO, Ibidem, p. 139.
66
BOBBIO, Ibidem, p. 140.
44

Declaração dos Direitos do Homem, como um ato de exercício do direito, no


qual o povo pela primeira vez decidiu seu próprio destino, dando a si mesmo
uma constiuição civil que acreditava ser boa, sem ser impedido de tal direito.
Ainda conforme o pensamento de Bobbio, a história da humanidade foi
sempre ambígua. Sendo assim, ele nos apresenta as seguintes indagações:

O mundo dos homens dirige-se para a paz universal, como Kant


havia previsto, ou para a guerra exterminadora, para a qual foi
cunhada, em oposição a pacifismo, um dos ideais do século que
acreditava no progresso, a palavra “exterminismo”? Dirige-se para o
reino da liberdade, através de um movimento constante e cada vez
mais amplo de emancipação (dos indivíduos, das classes, dos
67
povos), ou para o reino do Grande Irmão, descrito por Orwell?

Sendo assim, o autor nos expõe a ambigüidade da história da


humanidade, a qual, nos dias de hoje, está mais presente do que em
outros momentos.
Diante de tudo isto, podemos perceber mais uma vez que os
seres humanos se encontram diante de uma situação paradoxal.

67
BOBBIO, Ibidem, p. 140.
45

4 DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE: CÉLULAS-TRONCO,


EMBRIÕES, FACILITAÇÃO DA PÍLULA DO DIA SEGUINTE

4.1 Algumas perspectivas da Bioética na contemporaneidade

Na contemporaneidade, a Bioética tem se preocupado com questões


que vão desde o suporte de vida a pacientes terminais até pesquisas com
células-tronco. Nos últimos anos, devido ao avanço da tecnologia e ao desejo
do ser humano se autosuperação, temos testemunhado fatos que em outros
momentos seriam impossíveis.
Muitos dos fatos da atualidade que envolve a relação “homem-máquina”
têm gerado bastante polêmica nas religiões, na academia e nas instituições de
pesquisa que não são necessariamente academias, mas que estão aptas para
tais funções.
O avanço científico e tecnológico na contemporaneidade tem
influenciado para mudanças desde a engenharia mecânica até na biomedicina.
Neste contexto,

A virada do século XXI vai ficar marcada na história da ciências como


um período de constituição de um novo paradigma nas ciências
médicas. Tecidos antes tidos como incapazes de se regenerar
começam a ser reparados com o uso de células-tronco proveniente
de fontes variadas, a exemplo da medula óssea. A primeira
descoberta da capacidade de células tronco de medula óssea em se
diferenciar em célula mais especializada foi feita, em 1998, por um
68
grupo de cientistas italianos liderado por Giuliana Ferrari.

Nesta descoberta, Ferrari juntamente com sua equipe demonstrou que


os precursores miogênicos da medula óssea de animais adultos podiam
contribuir com a recuperação de regiões musculares, após migrar para as
mesmas. Posteriormente, outros pesquisadores publicaram evidências de
diferenciação de células-tronco de medula óssea de animais adultos em
cardiomiócitos, células neurais, hematócitos dentre outras. Tais descobertas
causaram uma revolução nas pesquisas da área de saúde, pois tecidos
considerados sem capacidade regenerativa poderiam se reparados por células
precursoras provenientes possivelmente da medula óssea.

68
SANTOS, 2006, p. 25
46

O uso de células-tronco na terapia regenerativa provoca ainda um


desdobramento da terapia de transplante de órgãos e células
originando uma outra revolução na área das ciências médicas. Até
então, os conceitos existentes diziam respeito a substituição de
órgãos inteiros, no caso do transplante de órgãos, ou de células
utilizadas na recomposição da medula óssea, no caso do transplante
de medula óssea. Em 2001, na Alemanha, Dr. Bodo Strauer aplicou a
primeira injeção de células tronco da medula óssea por via
coronariana em uma paciente após infarto agudo do miocárdio
(LEITE & DOHMANN, 2004). Desde então, vários outros grupos de
cientistas no Japão, na Alemanha, Itália, França, nos Estados Unidos
e no Brasil têm desenvolvido estudos utilizando células-tronco no
tratamento de doenças cardiovasculares em seres humanos. Ainda
são feitos testes em animais utilizando estas células precursoras, a
exemplo dos trabalhos de Borlogan e colaboradores com modelo
experimental de acidente vascular cerebral em ratos. As células-
tronco nestes estudos têm sido obtidas de diversas fontes, a exemplo
69
da medula óssea, cordão umbilical e do sangue periférico.

Todas estas descobertas representam cada vez mais uma revolução


científica das ciência médicas, pois se avançou tanto neste campo de
pesquisa, que alguns países considerados subdesenvolvidos tem investido
significativamente para redescobrir novas formas de utilidade das células-
tronco.

No Brasil, três grupos de pesquisa, que trabalham em paralelo com


equipes européias e norte-americanas, são considerados os pioneiros
nas pesquisas com células-tronco como uma opção para curar ou
melhorar a qualidade de vida de pessoas com graves problemas no
coração. Com diferentes técnicas, pesquisadores do Rio de Janeiro,
da Bahia e de São Paulo concluíram que o transplante de células-
tronco é uma alternativa promissora contra a insuficiência cardíaca
crônica provocada por hipertensão, obstrução das artérias coronárias
e mal de Chagas (ZORZETTO, 2003). A doença, que consiste na
perda progressiva da capacidade do coração bombear o sangue,
atinge de 3% a 6% da população mundial e entre 5 a 10 milhões de
brasileiros. A equipe da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) publicou, em 13 de maio de 2003, na ‘Circulation’, um artigo
científico no qual descrevem os primeiros transplantes de células-
tronco em portadores de insuficiência cardíaca crônica, no Brasil. No
Instituto do Coração da Universidade de São Paulo (USP), células-
tronco da medula óssea são injetadas durante a cirurgia de
revascularização cardíaca, conhecida como ponte, em regiões onde é
impossível colocar as pontes por razões técnicas. As célula injetadas
contribuem para refazer os vasos sangüíneos dessas áreas. Em
Salvador, Ricardo Ribeiro dos Santos, coordenador do Instituto do
Milênio de Bioengenharia Tecidual e pesquisador da Fundação
Oswaldo Cruz, e Fabio Vilas-Boas Pinto, do Hospital Santa Izabel,

69
SANTOS, 2006, p. 26
47

utilizaram células-tronco para reverter os danos que a doença de


Chagas provoca no coração. A doença é provocada pelo protozoário
Trypanosoma cruzi, parasita que se aloja nas células do coração,
infecta 24 milhões de pessoas na América Latina, dos quais seis
70
milhões no Brasil.

Convém ressaltar que as células-tronco, especialmente as embrionárias


(que são conhecidas como TE), são diferentes de outras células do organismo,
por apresentarem três características: são células indiferenciadas e não-
especializadas, são capazes de se multiplicar por um período extenso,
mantendo-se indiferenciadas, de forma que um pequeno número pode originar
uma grande população de células semelhantes e são capazes de se
diferenciarem células especializadas e um tecido particular. Por outro lado, as
células-tronco do adulto (que são chamadas de multipotentes) têm um
potencial menos.

Outra questão que deve ser tratada pela bioética é a utilização da pílula
do dia seguinte que é um método “contraceptivo”, a ser utilizado como uma
urgência, para evitar uma gravidez, após uma relação sexual não protegida,
com possibilidade de fertilidade, após 72 horas do ato sexual consumado.

Neste contexto,

A maioria dos métodos anticonceptivos atua de forma a prevenir a


gravidez antes ou durante a relação sexual. A Anticoncepção de
Emergência (AE) é um método anticonceptivo que pode evitar a
gravidez após a relação sexual. O método, também conhecido por
“pílula do dia seguinte”, utiliza compostos hormonais concentrados e
por curto período de tempo, nos dias seguintes da relação sexual.
Diferente de outros métodos anticonceptivos, a AE tem indicação
reservada a situações especiais ou de exceção, com o objetivo de
71
prevenir gravidez inoportuna ou indesejada

Apesar da eficácia da pílula do dia seguinte, deve-se levar em


consideração a forma como a mesma foi administrada. Além disso, seus efeitos

70
SANTOS, 2006, p. 32
71
Anticoncepção de Emergência: perguntas e respostas para profissionais de saúde; MINISTÉRIO DA
SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Série F.
Comunicação e Educação em Saúde. Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos - Caderno nº 3.
Brasília – DF, 2005
48

podem ser diferentes, dependendo do organismo de cada pessoa que a utiliza,


pois cada organismo tem sua especificidade.
Sendo assim,

Pode-se mensurar a efetividade da AE por duas formas diferentes. A


primeira, denominada Índice de Pearl (ou Índice de Falha), calcula
número de gestações por 100 mulheres que utilizam o método no
período de um ano. Estima-se que este índice seja de cerca de 2%,
em média, para a AE. A segunda forma mede a eficiência da AE pelo
Índice de Efetividade, que calcula o número de gestações
prevenidas por cada relação sexual48, 49. A AE apresenta, em
média, Índice de Efetividade de 75%. Significa dizer que ela pode
evitar três de cada quatro gestações que ocorreriam após uma
relação sexual desprotegida45, 34. No entanto, a eficácia da AE pode
variar de forma importante em função do tempo entre a relação
sexual e sua administração. Segundo a Organização Mundial de
Saúde, o método de Yuzpe apresenta taxas de falha de 2% entre 0 e
24 horas, de 4,1% entre 25 e 48 horas e de 4,7% entre 49 e 72 horas.
Para os mesmos períodos de tempo, as taxas de falha do
levonorgestrel são expressivamente menores, 0,4%, 1,2% e 2,7%,
respectivamente. Na média dos três primeiros dias, a taxa é de 3,2%
para o método de Yuzpe e de 1,1% para o levonorgestrel57. Entre o
4° e o 5° dia, seguramente a taxa de falha da AE é mais elevada. No
entanto, cabe considerar que a taxa de falha do levonorgestrel,
mesmo utilizado entre o 4° e o 5° dia (2,7%), é men or que a taxa
média de falha do método de Yuzpe entre 0 e 3 dias (3,2%)51, 57.
Essas observações fundamentam a recente recomendação de utilizar
a AE até o 5° dia da relação sexual desprotegida. O utro dado
importante é a constatação de que a administração do levonorgestrel,
em dose única ou a cada 12 horas, apresenta eficácia semelhante
para prevenir a gestação51. No entanto, é necessário lembrar que o
uso repetitivo ou freqüente da AE compromete sua eficácia, que será
sempre menor do que aquela obtida com o uso regular do método
anticonceptivo de rotina. Em suma, os resultados sobre eficácia são
absolutamente claros para que se afirme que a AE deva ser
administrada tão rápido quanto possível e, preferentemente em
dose única dentro dos cinco dias que sucedem a relação
72
sexual.

72
Anticoncepção de Emergência: perguntas e respostas para profissionais de saúde; MINISTÉRIO DA
SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Série F.
Comunicação e Educação em Saúde. Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos - Caderno nº 3.
Brasília – DF, 2005
49

4.2 A importância dos comitês de Bioética

Como falamos no capítulo 1 deste texto, um comitê de bioética é


constituído por uma equipe interdisciplinar, que tem por objetivo ensinar,
pesquisar, sugerir normas institucionais em assuntos éticas. Além disso, tem
por função auxiliar as equipes a tomar decisões difíceis.
Hospital de
Ao analisar um caso, o Comitê de Bioética deve seguir os seguintes
passos: a) estruturar uma clara apresentação dos fatos médicos
envolvidos na situação; b) formular um ou mais dilemas morais e
afastar conflitos pessoais ou legais; c) apreciar as implicações
médico-morais de cada um dos caminhos que podem ser seguidos;
d) dar oportunidade a que todos os membros do grupo se manifestem
e tentar buscar uma recomendação que espelhe o parecer
consensual do grupo; e) oferecer uma ou mais alternativas de
conduta que sejam eticamente aceitáveis e que contemplem o melhor
interesse do paciente; f) otimizar o encontro das partes que
participam do cuidado do paciente objeto da consultoria, agindo como
agente facilitador de soluções médica e eticamente aceitáveis para o
73
caso. Porto Alegre (RS)
147 157
Convém ressaltar que os comitês não se restringem ao âmbito da saúde.
Todas as pesquisas, das mais diversas áreas, quando envolve seres humanos,
deve necessariamente ter o aval de um comitê; como já foi mencionado ao
longo deste trabalho, os comitês são formados interdisciplinarmente.
Esta interdisciplinaridade é de bastante relevância, pois é uma
oportunidade dos diferentes especialistas debaterem na perspectiva de verificar
os impactos ou os benefícios das pesquisas.
Neste sentido,

Nas sociedades pluralistas, os Comitês de Bioética buscam as


soluções para os dilemas éticos fundamentando-se em normas
morais defensáveis. Para isso, necessitam de pessoas que possuam,
além de conhecimento, características como sensibilidade moral e
74
equilíbrio, e que não sejam controversas ou dogmáticas.

73
http://www.portalmedico.org.br/revista/bio10v2/Simposio6.pdf
74
http://www.portalmedico.org.br/revista/bio10v2/Simposio6.pdf
50

4.3 Texto Complementar


CORDEL DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
(Autor: Manoel Messias Belizario Neto)75

Vou contar para vocês


O que deixou tão contente
Todo o nosso país,
Porém especialmente
A quem é a todo instante
Um público tão importante:
Criança e adolescente.

Quando no ano 90,


Julho convém ressaltar,
O Governo Federal
Resolveu sancionar
O Estatuto por lei
Que muito serviu, direi
Para nos auxiliar.

Antes dos anos noventa,


Lembram bem as entidades,
E toda a população
As reais dificuldades
Pra criança e adolescente
Em especial carente
De família de verdade.

E após ser sancionada


Pouca gente acreditou
Que fosse posta em prática,
Mas tanto se lutou!
Agora temos a lei
E então amigos sei
Que a espera terminou

Só sabe o valor do ECA


Quem vivia a perecer
À busca de um auxílio
Pra poder se defender
Sem ele o público em questão
Vivia sem solução
Sem saber o que fazer.

75
www.cordelparaiba.blogspot.com
51

Mas para firmar o ECA


Não fora tão fácil não.
Movimentos sociais,
Lutando deram-se as mãos
E juntos com a sociedade
Defendendo tal idade
Conseguiram essa ação.

Por isso esse público alvo


Tem muito a comemorar
Também todo segmento
Que esteve a lutar
Não só no treze de julho
Podemos mostrar orgulho
Pois o ECA aqui está.

Mas é inútil amigos


Se ficarmos todos sós
Tentando fazer cumpri-lo.
Temos que juntar a voz.
Sempre que alguém precisar
Deve o ECA apresentar
Pra se desatar os nós.

A seguir selecionamos
Uns artigos pra você
Ver a grande importância
Que o ECA veio trazer
À criança e adolescente
E a toda a nossa gente
Bora amigo,vamos ver?

ARTIGOS 2 E 4

“Considera-se criança,
(Essa lei observou),
A pessoa que tiver
A idade inferior
A 12 anos de idade, ”
- Digo-lhe sem vaidade,
Assim sem tirar nem pôr.

Este artigo se completa


Dando a seguinte verdade:
“É adolescente àquele.
Que estiver na idade
De doze a dezoito anos,
Como todo ser humano,
Tem direito à liberdade...”
52

“...Cultura e dignidade.
Também esporte e lazer,
Além disso tem direito
De em família conviver
E toda a comunidade
(com toda dignidade)
Deverá lhes acolher.”

“E é dever da família
Governo e população
Assegurar o direito
À saúde e educação,
Alimento, moradia,
Promoção (e com) harmonia (:)
profissionalização.”

ARTIGO 16
“Compreende (meu amigo)
O direito à liberdade:
Ter direito à ida e volta,
Seja no campo ou cidade,
Brincar, ter religião,
Expressar opinião
Na política e sociedade.”

ARTIGO 53-54
“Crianças de zero a seis
Têm direito à educação,
À creches, à pré-escola,
Sendo uma obrigação
Do estado, assegurar-lhes
(O cuidado e sempre) dar-lhes
Toda esta proteção.”

“Criança e adolescente,
Como instituto legal,
Tem direito ao ensino
Médio e fundamental,
Gratuito, e o respeito
(Isso é mais que direito)
Do professor”, afinal.

ARTIGO 60
“Quanto à execução
De trabalho, (o que a lei diz?)
Só será executado
Na condição de aprendiz
Por menores de 14
(Que podem até fazer pose)
53

Pra esta idade é o que condiz”.

ARTIGO 62
(Tem-se como) aprendizagem
A seguinte formação:
A técnico profissional,
Segundo a legislação,
(Que está exposta nas frases)
Das diretrizes e bases
Da, em vigor, educação”

ARTIGO 70
“É dever de todo mundo
Prevenir a ocorrência
De violarem os direitos
Da infância e adolescência.”
(Já que em nossa sociedade
Com tamanha falsidade
Encontramos tal tendência.)

ARTIGO 74
“Fica a cargo do poder,
Público, esta empreitada
De regular espetáculos
E então manter informada,
(Sem qualquer um retrocesso)
A faixa etária de acesso -
Ou seja, a idade adequada”.

ARTIGO 75
“Só poderão ingressar
E permanecer nos locais,
De exibição de espetáculos,
* Acompanhados dos pais
Ou por responsável sano
As crianças de 10 anos” -
E a seguir temos mais.

ARTIGO 76
“As emissoras de rádio
E de teledifusão
Nos horários reservados
Para o publico em questão
Só exibirão programas
Que venham contribuir
Para sua formação.”
54

ARTIGOS 81E 82
“Armas munições e fogos,
Explosivos e bebidas?
À criança e adolescentes
É a venda proibida!
Assim como a hospedagem
Só se os pais acompanharem
Em toda e qualquer guarida.”

ARTIGO 98
“Se os direitos nessa lei,
Reconhecidos citados,
Sofrerem alguma ameaça
Ou se forem violados
Os meios de proteção
Com certeza deverão
Logo ser acionados.”

“Por ação ou omissão


Da sociedade ou Estado.
Ou daqueles a quem fora (pais ou responsáveis)
Este público confiado,
Ou em razão da conduta,
Do público-alvo citado.

ARTIGO 131
“Há um órgão permanente
Encarregado de zelar
Que se cumpram os direitos
Que estamos a falar
Que age com autonomia,
Implacável todo dia,
É o Conselho Tutelar.”

ARTIGO 132
Assim “em cada município
Pelo menos haverá,
Composto por cinco membros,
Um Conselho Tutelar
Os quais serão escolhidos,
Sem o uso dos partidos,
Pelo voto popular!
55

ARTIGO 146
“A autoridade a que
Esta lei faz referência
É o juiz da infância
Juventude (adolescência)
É a lei judiciária,
A qual não é arbitrária,
Quem dá tal proveniência.”

Esta lei aqui exposta


Deve assim ser entendida
Como algo que chegou
Para melhorar a vida
De criança e adolescente
Daqueles, principalmente
Que viviam sem saída.

Cabe a cada um de nós


Exigir seu cumprimento
Indo às autoridades
Ou até ao parlamento
Pra que o ECA não seja
Reclames de quem verseja
Palavra lançada ao vento.

Este cordel importante,


Amigos termino aqui.
Quem tiver alguma dúvida
Favor é só conferir
No ECA a informação
Que um simples co-irmão
Fizera pra lhe servir.

Crianças e adolescentes,
Porém devem entender
Que além dos tantos direitos,
Que enumerei pra você,
Há deveres a cumprir
Pra no amanhã que vir
Ser cidadão pra valer.
56

INDICAÇÃO DE ALGUNS FILMES PARA REFLETIR SOBRE OS


CONTEÚDOS DA DISCIPLINA “ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA”

ESCRITORES DA LIBERDADE
ESCRITORES DA LIBERDADE (Freedom Writers)
Ficha Técnica
Título Escritores da Liberdade

Título Original Freedom Writers

Gênero: Suspense

Pais/Ano Alemanha, EUA / 2006

Diretor Richard LaGravenese

Produção Danny DeVito, Michael Shamberg, Stacey Sher

Roteiro Richard LaGravenese

[Poster Cinema]
Fotografia Jim Denault

Trilha Sonora Mark Isham, RZA

Estúdio Paramount Pictures

Distribuição Paramount Home Entertainment

Duração/Censura 123 min / 0

Data Cinema 05/01/2007

Elenco Hilary Swank, Pat Carroll, Patrick Dempsey, Jason Finn,


Scott Glenn, David Goldsmith, Kristin Herrera, Blake
Hightower, John Benjamin Hickey, Will

Sinopse:
O filme se passa em um período em que estourava nas ruas a guerra inter-racional americana, onde para os jovens da
classe de Gruwell, conseguir sobreviver o dia a dia da guerra entre as raças no meio da rua, já era um feito muito
grande. E é a partir do respeito e a forma de tratar os alunos como nenhum outro professor havia tratado, ou seja,
escutando-os como adultos que estavam se formando, que ela conquista um a um. Começando pelo estudo do livro "O
Diário de Anne Frank" e o Holocausto, os "Freedom Writers" saem em busca de heróis pelo mundo. Enquanto
escrevem seus projetos, os alunos saem em busca de se tornarem eles mesmo esses heróis. E pela primeira vez eles
poderão experimentar a esperança de que talvez eles possuam a chance de mostrar ao mundo que suas vidas
também fazem o diferencial e que eles possuem algo a dizer ao mundo.
Cenas:
57

FONTE: http://www.choveu.net/cinema/cinema.aspx?keyfilme=MTMyNzk=

ANJOS DO SOL

Inspirado em diversos artigos publicados na imprensa, o filme fala sobre o


mundo da prostituição infantil no Brasil por meio da história de Maria (Fernanda
Carvalho), uma menina de 12 anos vendida pelos pais. Ela cruza o Brasil numa
longa jornada, forçada a se prostituir para sobreviver, enquanto busca um
futuro melhor.

Gênero: Drama
Tempo: 92 min.
18 de
Lançamento: Ago,
2006
Nov de
Lançamento DVD:
2006
Classificação: 14 anos
Downtow
Distribuidora:
n Filmes
58

Elenco e créditos

Estrelando: Antonio Calloni, Chico Diaz, Darlene


Glória, Otávio Augusto, Vera Holtz,
Fernanda Carvalho, Bianca
Comparato.
Dirigido por: Rudi Lagemann
Produzido por: Luiz Leitão, Juarez Precioso, Rudi
Lagemann

Fotos

Fonte: http://br.cinema.yahoo.com/filme/13919/sinopse

COBAIAS

No sul dos Estados Unidos, em 1932, a sífilis havia se tornado uma epidemia
entre as comunidades afro-americanas. Preocupados com a rapidez em que a
doença se espalhava pela região, o Governo decidiu criar um programa de
tratamento no único hospital negro da localidade. Infelizmente, o tratamento
acaba perdendo seu apoio financeiro e é fechado. A partir daí, tem início uma
das mais horríveis traições da história da humanidade. Um grupo de doutores
cria um novo programa médico, que apenas finge estar realizando um estudo
sobre o efeito da sífilis em homens negros, para comprovar se eles são
biologicamente iguais ou diferentes dos brancos. Durante anos, 600 homens
foram submetidos a essa humilhação, iludidos com uma cura que nunca
chegaria... até o dia em que, finalmente, alguém resolveu revelar toda a
verdade!

Fonte: http://sp.quebarato.com.br/classificados/cobaias-em-dvd-miss-evers-boys-caso-
tuskegee-raridade-__1569952.html
59

DOCUMENTÁRIO: A FOME NO BRASIL (uma série de reportagem da


Rede Globo que foi ao ar em junho de 2001)

FILME: SOJA: EM NOME DO PROGRESSO

Filme sobre soja no Pará ganha prêmio


Votação do público elege documentário o melhor na Mostra
Internacional no Rio Grande do Norte
12/07/2006 - 18:32
Erro! A referência de hiperlink não é válida.

O vídeo “Soja, Em Nome do Progre$$o”, conquistou o prêmio de votação popular na II


Mostra Internacional de Cinema Ambiental (Midcam), realizada entre os dias 5 e 9 de
junho, em Natal, no Rio Grande do Norte. Produzido pela Organização Não-
Governamental (ONG) Greenpeace e dirigido por Todd Southgate, o documentário
retrata as conseqüências da expansão da soja na região de Santarém.

A produção, narrada pelo ator Marcos Palmeira, apresenta inúmeros dados sobre o
desmatamento na região, entrevistas com pesquisadores e depoimentos de membros
e líderes comunitários. O aumento da violência e a expulsão das comunidades locais
também são abordados no vídeo. O documentário foi exibido na noite de abertura e
aplaudido de pé pelo público presente no auditório da Assembléia Legislativa.

A Midcam é uma iniciativa da ONG Baobá e foi realizada em comemoração ao Dia


Mundial do Meio Ambiente. Segundo o organizador da mostra e presidente da Baobá,
Haroldo Mota, 55 produções, de vários países, foram enviadas para concorrer ao
festival deste ano, que teve uma audiência de mais de 400 pessoas. O cultivo do
algodão em Burkina Faso, a violência social no Pontal do Paranapanema, foram
alguns dos outros temas da Mostra.

Fonte: http://eptv.globo.com/busca/busca_interna.aspx?144149
60

REFERÊNCIAS

Anticoncepção de Emergência: perguntas e respostas para profissionais de


saúde; MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Série F. Comunicação e
Educação em Saúde. Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos - Caderno
nº 3. Brasília – DF, 2005.

BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos: tradução de Carlos Neison Coutinho –


Rio de Janeiro: Campus, 1992.

BERLINGUER, G. Bioética cotidiana. Brasília: UNB, 200 BRASIL. Conselh


Federal de Enfermagem (COFEN). Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem. Resolução COFEn, 311/07.

________ Conselho Nacional de Saúde (CNS). Resolução nº 196, de 10 de


outubro de 1996

________ Conselho Nacional de Saúde (CNS). Resolução nº 292, de 08 de


julho de 1999

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Alínea, 2002.

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Medicina. Brasília, 1998. P. 317.

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Legais. Tomada de Decisões, Autonomia e Direitos do Paciente. Estudo de
Casos. São Paulo: EPU, 1998.

FRANCISCONI, Carlos Fernando; GOLDIM, José Roberto; LOPES, Maria


Helena Itaqui. In: http://www.anis.org.br/Cd01/comum/TextoPosGraduacao/pos-
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática


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FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler : em três artigos que se


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GALVÃO, A.M. Bioética – A Ética a serviço da vida. Uma abordagem


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GÓMEZ, EMILIANO. Liderança Ética - Um Desafio do Nosso Tempo. São


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HOSSNE,W.S., VIEIRA, S. A Ética e a Metodologia. São Paulo: Pioneira, 1998

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_____________. Resposta à Pergunta: Que é o Esclarecimento? In: Kant, I.


Textos Seletos. Tradução de Raimundo Vier. Rio de Janeiro: Vozes, 1974.

______________. Questão Renovada: estará o gênero humano em constante


progresso para o melhor? In: Kant, I. O Conflito das Faculdades. Tradução de
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LOLAS, Fernando. Bioética: o que é, como se faz. Tradução: Milton Camargo


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Paulo/Brasil -UNIFESP, evento promovido pelo Núcleo de Fé e Cultura da
UNIFESP e pelo Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da
UNIFESP, em parceria com o Núcleo de Fé e Cultura da. Pontifícia
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REGO, S. A Formação Ética dos Médicos. Rio de Janeiro:FIOCRUZ, 2003


SANTOS, A. R. Ética – caminhos da realização humana. São Paulo: Ave-
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SOARES, A.M.M., PIÑEIRO, W.E. Bioética e Biodireito. São Paulo: Loyola,


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tronco para tratar pacientes com doença de chagas nos laboratórios e na
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SÓFOCLES, apr. 496-406 A.C. Antígona de Sófocles. Tradução de Millôr


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SÓFOCLES, apr. 496-406 A.C. A Trilogia Tebana; tradução do grego,


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VAZ, Henrique Cláudio de Lima. Ética e Direito. Organização e introdução:


Cláudio Toledo e Luiz Moreira. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS:
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http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/viewPDFInterstitia
l/3896/2691

http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro092.pdf

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