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INTRODUÇÃO: importância, atualidade e fecundidade de Lc.

24,13-35
“Se tivesse que dar todo o Evangelho por uma única cena na qual estivesse
todo ele resumido, eu dificilmente duvidaria, escolheria a cena dos “discípulos
de Emaús”.
(Jean Guitton)

O relato da aparição de Jesus aos discípulos de Emaús é um dos mais belos e


ricos de todos os relatos evangélicos sobre as “aparições” do Ressuscitado.
Perdida irremediavelmente a esperança da libertação de Israel, esperança que
os tinha entusiasmado durante o tempo que conviveram com Jesus, os dois
discípulos afastam-se de Jerusalém, abandonam o grupo dos Onze e dos outros
discípulos e vão embora em busca de um refúgio para sua tristeza e decepção.
Mas seu “êxodo” às avessas torna-se uma verdadeira “páscoa”.
A experiência do encontro com Jesus Ressuscitado opera em Cléopas e em seu companheiro a passagem
da cegueira para a iluminação, do fechamento para a abertura, do afastamento para a
aproximação, da ruptura para a comunhão, do coração frio e vazio para o coração
ardente e transbordante.

Essa mesma “páscoa-passagem” se realizará em nós se nos deixarmos


acompanhar por Jesus e se deixarmos que suas palavras e seus gestos
iluminem nossos olhos e façam arder nossos corações.
O itinerário da fé pascal percorrido pelos dois discípulos deve ser percorrido também, em todos os
tempos e lugares, por todos os que quiserem ser discípulos de Jesus. O fato de o companheiro de Cléopas
ser um “discípulo anônimo” facilita a identificação do leitor com ele.
Somos chamados a descobrir e percorrer as etapas do “itinerário da fé
pascal” e que, no fim do caminho, possamos fazer a experiência do encontro
pessoal com o Ressuscitado – experiência essa que nos faz ver o mundo com olhos
novos, com olhos iluminados, com mente aberta e com coração mais sensível e acolhedor.

Na construção do texto percebemos a importância e a riqueza teológica do


recurso literário das oposições e contrastes entre o início e o fim.
Elas mostram a conversão radical operada nos discípulos pelo encontro pessoal
com o Senhor.
O “reconhecimento” de Jesus provoca uma verdadeira reviravolta na
inteligência, no coração e no rumo de vida dos dois discípulos.
No início do caminho, os passos dos discípulos são lentos, o peso da decepção e da falta de esperança
oprime seus corações, seus rostos estão tristes e sombrios, a falta de fé faz com que seus olhos estejam
“impedidos de reconhecê-Lo”.
Depois que “seus olhos foram abertos e o reconheceram”, os discípulos recordam como seus
corações ardiam no caminho, quando lhes explicava as Escrituras e como, “na mesma hora”, no meio
da noite, voltam correndo para Jerusalém, com o coração em brasas e a inteligência iluminada, para
restaurar a comunhão e partilhar com os companheiros o que viram, ouviram e sentiram no encontro com
o Senhor.

No encontro com o Ressuscitado, os dois discípulos foram “re-criados”,


escutando a Palavra de Deus explicada pelo peregrino ao longo do caminho.
A “re-criação” foi tão profunda, que a súbita desaparição do Ressuscitado,
depois de reconhecido, não causou nos discípulos uma nova decepção nem um
novo fechamento, mas atitudes e comportamentos contrários: passaram da
mais profunda tristeza e da mais radical decepção para uma alegria e um
entusiasmo nunca antes experimentados.
O caminho dos dois discípulos foi uma verdadeira “páscoa”, isto é, uma
passagem do fechamento pa-
ra a abertura, do não-reconhecimento para o reconhecimento.
No itinerário dos dois discípulos houve ainda outras
“páscoas/passagens”: a “passagem” do abandono da comunidade para o
retorno à comunidade, do afastamen-
to para a aproximação, do isolamento para a comunhão;
a “passagem” do lamento para o agradecimento, da tristeza para a alegria, do
fecha-
mento para a partilha;
a “passagem” do desânimo para o entusiasmo, da lentidão para a prontidão;
em resumo, a “passagem” do coração vazio e duro para o coração
trans-
bordante e abrasado.

O relato dos discípulos de Emaús revela-nos ainda que o conhecimento de


Jesus Cristo, a amizade com Ele, a inserção na comunidade dos discípulos e o
testemunho de sua ressurreição são progressivos.
Para “reconhecer” o Senhor, é necessário caminhar com Ele, escutar longa e atentamente sua palavra,
deixar-se cativar por Ele, sentar-se à mesa com Ele e deixar que Ele parta e reparta para nós o pão da
vida.
E, depois de “reconhecê-lo”, é necessário empreender imediatamente o caminho de volta para a
comunidade dos discípulos, para partilhar com eles a experiência de nosso encontro com o Senhor e
professar juntos a fé comum: “verdadeiramente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!”.

Para ser verdadeiramente discípulo de Jesus é necessário percorrer o longo,


difícil e fascinante itinerário da incredulidade para a fé.
Sejam quais forem as características particulares desse itinerário, marcadas
pela história da relação pessoal com Jesus e pela duração e profundidade da
convivência com Ele, quem desejar ser discípulo de Jesus deverá fazer uma
“passagem” do afastamento para a inserção na comunidade, da tristeza expressa-
da no rosto sombrio para a alegria do rosto iluminado, da
ruptura ex-
terior e da dilaceração interior para a comunhão e para a paz.

O “reconhecimento” do Senhor e a restauração da comunhão plena com Ele


acontecerão no momento de partir e repartir o pão.
E à experiência do reconhecimento seguir-se-á o retôrno para a comunidade,
para testemunhar e partilhar, junto com os outros discípulos, a experiência do
encontro com o Senhor.
Os dois discípulos são vistos como o “símbolo de tantos homens e mulheres do nosso
tempo que apa-
recem extraviados, confusos, incertos, ameaçados na
esperança; o símbolo de não poucos cristãos que, além de
partilhar estes estados de ânimo, parecem ter perdido a fé e
limitam-se a manter algumas práticas ou a viver
superficialmente alguma forma de religiosidade” (Sínodo dos
Bispos – 1999).

A evangelização não é feita só com palavras. É feita, sobretudo, com o


testemunho de vida dos cristãos;
com os gestos concretos do amor que se aproxima, que se faz
próximo das pessoas para servi-las em suas necessidades.
Assim como o Ressuscitado se “aproximou” dos dois discípulos no
caminho de Emaús, escutou-os e conversou longamente com eles,
também os discípulos de Jesus devem aproximar-se dos que estão
tristes e desolados, sem fé e sem esperança, caminhar com eles,
escutá-los atenta, amorosamente, e com eles conversar sobre os
motivos de sua tristeza e desolação.
O comportamento da Igreja com relação aos que perdem a fé e a esperança e
se afastam das comunidades cristãs deve inspirar-se na pedagogia e no
comportamento de Jesus com Cléopas e seu companheiro.
Hoje, como no 1º dia da Páscoa, a comunidade dos discípulos de Jesus, que é a Igreja, precisa cada vez
mais de discípulos que saibam tornar-se “companheiros-guia” dos desanimados e fugitivos; que saibam
ouvir, perguntar, interessar-se pelos problemas dos que foram discípulos de Jesus, mas deixaram de
esperar em tudo aquilo que esperavam.

A Igreja precisa de discípulos que saibam compreender a tristeza dos rostos


que se afastam, a lentidão de
seus passos para andar e a lentidão de sua inteligência para
compreender.
A Igreja precisa de discípulos que saibam escutar e compreender as palavras,
os gestos e os sinais de to-
dos os desesperançados.
A Igreja precisa de discípulos que percebam, no fim do dia e no fim do
caminho, a importância de en-
trar nas casas dos que foram companheiro de caminhada, a fim de
poder ser para eles “sacra-
mentos” do reconhecimento do Ressuscitado.

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