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1.

INTRODUÇÃO

A propriedade é o direito sobre o qual se encontra toda a regulação do Direito das


Coisas, compondo com o Direito de Família e do Contrato, o sistema liberal-
burguês do Direito Privado do Código de 1.916.

Porém, com a Constituição da República de 1988, o Código Civil de 1916 ficou


superado em diversos dispositivos, uma vez que aquela traz em seu bojo o
instituto da Função Social da Propriedade, nos dizeres do seu art.5º, XXIII: “A
propriedade atenderá a sua função social.”, como forma de assegurar que as
coisas tenham por destino o uso pelo bem comum, retirando seu caráter absoluto.

Na elaboração do novo Código Civil, Lei 10.406 de 2001, que se mostra coerente
com a norma constitucional, especialmente o da Socialidade, vem superar de vez
o seu caráter absoluto dos Diplomas revogados.

Mas a atual Constituição não se limitou a isto, inserindo como princípios da ordem
econômica, a propriedade privada e a sua função social (art.170, II e III),
estendendo este princípio à propriedade urbana e rural, impondo sansões para o
caso de não ser observado.

2. BREVE RELATO HISTÓRICO DO DIREITO DE PROPRIEDADE

O instituto da propriedade, não é novo nos ordenamentos jurídicos. No início do


Direito Romano, não era sistematizado, a propriedade apresentava-se como um
direito absoluto, não comportando limites ou restrições, o qual conferia ao seu
titular um poder de usar, gozar e dispor da coisa. Para os juristas romanos
daquela época, a propriedade era constituída de três faces: usus (o poder de
utilizar-se da coisa); o fructus (o poder de perceber frutos ou produtos do bem); e
o abusus (o poder de consumir ou alienar a coisa).

Posteriormente, sobreveio a Lei das Doze Tábuas, prevendo a proteção contra


atos atentatórios à propriedade como o furto, os danos causados por animais em
propriedade alheia, dentre outros. A partir daí, desenvolveu-se bastante esta
concepção, tanto que, no período clássico, foram reconhecidas a propriedade
quiritária – aquela decorrente da constituição da cidade de Roma, típica dos
patrícios – bem como a propriedade sobre terras conquistadas.

Desta forma, ao regular a propriedade em Roma, esta não era mais como um
direito absoluto. Na lição de Caio, a propriedade seria o jus utendi et abutendi,
quatemus juris ratio patitur; o direito devia ser usufruído conforme razões de
Direito. Tais limitações surgiam no que concerne ao direito de vizinhança,
servidões e, principalmente, nos poderes dos senhores sobre os escravos.
Afigura-se aí uma incipiente noção de função social da propriedade.

Na Idade Média, a normatização do direito de propriedade foi desmembrada em


dois prismas: o directum e o utile. Neste sistema social, o proprietário das terras -
o suserano, titular do directum - cedia a posse de parte de seu domínio ao
vassalo, que exerceria o utile, e tornar-se-ia algo que hoje, sob a lente lapidada
por Ihering, chama-se possuidor direto. Por sua vez, este poderia também
transferir parte da sua a outro, conformando-se, destarte, uma "complicada trama
de interdependências jurídicas".

O desenvolvimento social culminou na formação de uma classe burguesa,


estabelecida com o desenvolvimento da atividade comercial e nascimento das
cidades, deixando frágil a nobreza feudal, incentivando a transformação deste
regime. Em decorrência, a propriedade de todas as terras foi transferida ao
monarca, que, com o intuito de incrementar o erário, passou a explorá-las na
forma de imposição de pesados tributos.

Outro grande acontecimento foi a Revolução Francesa, com Declaração dos


Direitos do Homem e do Cidadão, que, como em Locke, previa que a propriedade
seria "uma barreira intransponível para o Estado: um direito natural". Esta
concepção sofreu sérias reações, dentre as quais se destacam: Proudhon, que,
considera a propriedade individual "um roubo"; Marx, ao pregar a destruição da
propriedade privada; e Comte, que vem aplainar a base da funcionalidade da
propriedade, ainda que privada.

Apesar de tais reações, o direito de propriedade continua hoje com seu cunho
individualista, embora limitações busquem melhor adequá-lo ao bem-estar social.

3.FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE: PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES


DOUTRINÁRIAS

O conceito de função social da propriedade, ainda de certa forma, recente em


nosso ordenamento, recebeu relevantes contribuições da Igreja medieval e sua
doutrina. Conforme bem explicitado por Telga de Araújo, no seu excelente
trabalho "Função Social Da Propriedade", (in Enciclopédia Saraiva de Direito,
v.39, p. 7, 1977):

"desde Santo Ambrósio, propugnando por uma sociedade mais justa com
a propriedade comum, ou Santo Agostinho, condenando o abuso do
homem em relação aos bens dados por Deus, e Santo Tomás de Aquino,
que vê na propriedade um direito natural que deve ser exercido com vistas
ao bonum commune, até aos sumos pontífices que afinal estabeleceram
as diretrizes do pensamento católico sobre a propriedade, sempre em
todas as oportunidades, a Igreja apreciou a questão objetivando
humanizar o tratamento legislativo e político do problema".

O início da teorização da Igreja sobre este assunto foi com a Encíclica Rerum
Novarum, do Papa Leão XIII, que passou a discutir que o uso da propriedade
deveria contribuir para o bem comum. Também São Tomás, ensinava que, no
concernente ao uso, o homem não deveria possuir os bens exteriores como
próprios, mas como comum a todos, para que possa satisfazer as necessidades
dos outros.

Com base na pregação da Igreja, Léon Duguit concebe a propriedade como


função social, pregando ainda a sua modificação, postura que se coaduna com
sua doutrina de negação dos direitos subjetivos. Para o insigne francês, alguém
na situação jurídica de proprietário teria a incumbência de empregá-la no
incremento da riqueza e do bem comum.
A concepção de propriedade de Duguit revelou-se interessante ao regime fascista
italiano, posto que a negação de direitos subjetivos, individuais, e a conseqüente
concepção de só haver deveres em relação à sociedade, se colocou altamente
conveniente a este regime totalitarista, na medida em que o Estado, neste
sistema, era a encarnação da sociedade.

4. A INCLUSÃO DA FUNÇÃO SOCIAL NO DIREITO DE PROPRIEDADE

A evolução histórica da propriedade e de sua função social sofreram uma


constitucionalização, juntamente com o Direito Civil.
Observa-se este fenômeno na Constituição do México de 1917, art. 27 que "A
Nação terá, a todo tempo, o direito de impor à propriedade privada as
determinações ditadas pelo interesse público [...]".
Também a Constituição da Alemanha de 1919 - Constituição de Weimar, em seu
art. 153: "A propriedade obriga e seu uso e exercício devem ao mesmo tempo
representar uma função no interesse social".

No Brasil, a idéia de função social da propriedade, surgiu com a Constituição de


1946, dada a interrupção do Estado Novo, pois, embora houvesse disposição
constitucional acerca da regulação legal da propriedade, a vontade do regime
ditatorial prevalecia em todas as ocasiões. Somente em 1967, apareceu
textualmente a função social, como princípio de ordem econômica.

Nossa atual Constituição, além de inserir a função social da propriedade no


capítulo concernente a direitos e garantias individuais, elegeu-o como princípio de
ordem econômica, dividindo seus efeitos conforme seja a propriedade urbana ou
rural, o que configura uma inovação da Constituição vigente.

Neste contexto, foi desenhado o novo Código Civil, em especial seu art. 1.228, ao
prever, em parágrafos inovadores, a função social da propriedade. O § 1.º
estabelece que "O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como
evitada a poluição do ar e das águas." Também digno de transcrição o § 2.º: "São
defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou
utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem."

Estes dispositivos conformam-se com os princípios fundamentais do Novo Código


Civil, em especial o Princípio da Socialidade. Nas palavras do ilustre coordenador-
geral da Comissão Revisora e Elaboradora do Código Civil, Professor Miguel
Reale, em seu artigo "Visão geral do novo Código Civil":

"é constante o objetivo do novo Código no sentido de superar o manifesto


caráter individualista da Lei vigente, feita para um país ainda
eminentemente agrícola, com cerca de 80% da população no campo. Hoje
em dia, vive o povo brasileiro nas cidades, na mesma proporção de 80%, o
que representa uma alteração de 180 graus na mentalidade reinante,
inclusive em razão dos meios de comunicação, como o rádio e a televisão.
Daí, o predomínio do social sobre o individual".

Vemos aí claramente a inserção da propriedade nas limitações exigidas pelo bem


da sociedade, o que não deixa de afigurar-se como uma manifestação mais
palpável da própria publicização do Direito Civil.

Em suma, pauta-se claro que a propriedade deverá direcionar-se para o bem


comum, qualquer que seja a propriedade. Sempre haverá função social da
propriedade, mais ou menos relevante, porém a variável instala-se no tipo de
destinação que deverá ser dado ao uso da coisa.

Outro ponto importante é considerar-se a função social I) como um objetivo ao


direito de propriedade, ou seja, algo que lhe é exterior, ou II) um elemento desse
mesmo direito, um requisito intrínseco necessário à sua própria existência. A
doutrina mais atual, inclina-se a aceitar que a função social da propriedade é
parte integrante da propriedade: em não havendo, a propriedade deixa de ser
protegida juridicamente, por fim, desaparecendo o direito.

5.CONCLUSÃO

1. Considerando a evolução do conceito de propriedade no decorrer do tempo,


percebe-se que, a propriedade vai deixando de ser um direito pleno e ilimitado.

2. Desde tempos muito antigos, tal direito, antes tido por absoluto, vai sendo
gradativamente cerceado, principalmente no que diz respeito à função social da
propriedade, chegando à Idade Moderna com um caráter ainda individualista,
porém, muito menos aviltante ao bem estar coletivo.

3. Um grande avanço nessa teorização ocorreu na Idade Média, com a


conformação inicial do conceito de função social da propriedade, pela igreja, seus
filósofos e pontífices, que consideram que deve a propriedade ser exercida com
vistas ao bonum commune.

4. Apoiando-se nesta contribuição, Duguit imprime sua própria teoria, de ser a


propriedade uma função social, ao revés de ter uma. Imputa-lhe, ademais, um
caráter socializante.

5. Essa concepção foi aproveitada pelo regime fascista italiano, uma vez que
atendia a seus interesses. A atividade jurídica peninsular foi a intuição da
limitação interna do direito de propriedade, sua grande contribuição à atualidade.

6. Proporcionalmente caminharam a restrição da propriedade e a ampliação da


sua função social, até que se encontraram no âmbito constitucional, figurando
hoje, no Brasil, entre os direitos e garantias individuais e da ordem econômica,
embora, função social não se confunde com os sistemas de limitação da
propriedade.

7. Tal tendência inclui-se na configuração do novo Código Civil, ao acolher


expressamente a função social da propriedade, o que consagra, na verdade, a
concretização do princípio da Socialidade, reflexo mesmo da publicização do
Direito Civil.
8. Em nosso direito moderno, a melhor doutrina entende que a função social da
propriedade é elemento essencial seu. Tal entendimento atesta o grau de
importância e de correlação máxima entre ambos os conceitos: não há
propriedade sem atendimento à função social, tendo nela imprimido um interesse
que pode ser estranho ao proprietário.

9. De qualquer forma, a função social da propriedade não autoriza a suprimir, por


via legislativa a instituição da propriedade privada.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Constituição Federal de 1988. Salvador: JusPodivum, 2001. Disponível em:
Acesso em: 30 maio 2001. in Dantas Barreto, Lucas Hayne. Função Social da
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BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos reais na constituição de 1988. In: BITTAR,


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GONDINHO, André Osório. Função Social da Propriedade. In: TEPEDINO,


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SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24. ed. São
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