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A PERDA DA PRÓPRIA IDENTIDADE

“... e ali dissipou a sua herança numa vida devassa. E gastou tudo.
Sobreveio àquela região uma grande fome, e ele começou a passar privações.
Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região que o mandou
para os
seus campos cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com as bolotas que os
porcos comiam, mas ninguém lhas dava” (Lc. 15,13-16).

O que aconteceu com o filho no país distante? Vemos diante de nós um homem
que se afundou numa terra estranha e perdeu tudo o que levou consigo. Vemos
um vazio, humilhação e derrota.
Ele, que era tão semelhante ao pai, deixou a casa paterna vestido de roupas
finas, cheio de saúde, de dinheiro e de auto-suficiência. Volta totalmente
espoliado: sem dinheiro, honra, amor próprio, esfarrapado, faminto, sem
dignidade... tudo havia sido dissipado.
Para os ouvintes da parábola o contraste não podia ser mais chocante: um jovem judeu, de boa família,
vê-se obrigado a vender o único bem que lhe resta – sua força de trabalho.
E o serviço que o patrão pagão lhe deu foi o mais vergonhoso e humilhante: cuidar de porcos.
“Maldito seja o homem que cuida de porcos”, afirma o Talmud.
Alimentar e fazer crescer o que há de mais imundo no mundo é a abominação máxima para um judeu.
Além de ser abominável, esse serviço torna impuro e marginaliza aquele que o faz.
Como consequência da opção do filho caçula temos a apostasia da própria religião, pois um judeu que
serve a um pagão rompe o vínculo com Deus.

A perdição do jovem é a encarnação de uma existência alienada e escravizada.


Depois de romper a relação de comunhão e de intimidade com o pai, afastando-
se dele, chegou ao fundo do abismo da degradação.
Rembrandt, no seu quadro, deixa pouca dúvida sobre sua condição. Sua cabeça
está raspada, como a dos prisioneiros e dos escravos. Quando a cabeça de um
homem é raspada ele é despojado de um dos seus traços de sua personalidade;
perde sua identidade.
As roupas com que Rembrandt o veste são roupas íntimas, esfarrapadas, que mal
cobrem seu corpo extenuado. O pai e o homem alto que observa a cena usam
amplos mantos carmim, que lhes confere status e dignidade. O filho ajoelhado
não tem agasalho; é um homem pobre, muito pobre.
As solas dos pés narram a história de uma jornada longa e penosa.
O pé esquerdo, por fora da sandália muito usada, está machucado.
O pé direito, calçado numa sandália arrebentada, também aponta para sofrimento e miséria.
Eis um homem despojado de tudo... a não ser de sua espada. O único sinal de dignidade que resta é a
pequena espada presa ao seu quadril – emblema de sua nobreza, símbolo de sua filiação.

O filho mais jovem só caiu na conta que estava perdido quando ninguém mais se
interessava por ele. Só tomaram conhecimento de sua pessoa enquanto podia
lhes ser útil.
Quando ninguém queria lhe dar o alimento que ele estava dando aos porcos, o
filho mais jovem entendeu que não era ao menos considerado como um ser
humano: valia menos que os porcos.
Sentiu, então a profundeza de seu isolamento e a mais completa solidão que
alguém pode sentir.
Estava realmente perdido e foi essa noção de perda total que o chamou à
realidade. Ficou em estado de choque, dando-se conta da absoluta loucura do
seu comportamento, verificando, de repente, que estava a caminho da morte.
Havia se desligado tanto daquilo que dá a vida – família, amigos, comunidade,
relacio-namentos e mesmo alimentação – que a morte seria naturalmente o
próximo passo. Viu instantaneamente e com nitidez o caminho que escolheu;
compreendeu a sua opção pela morte; percebeu que um passo a mais naquela
direção o levaria à autodestruição.
Na oração: na contemplação, poderíamos penetrar no mundo
interior dos sentimentos do filho pródigo, na sua
experiência de fracasso, de vazio e de solidão.
Pedir a graça: - pedir a graça de experimentar a alienação e
a destruição em que caímos quando nos a-
fastamos de Deus, quando rompemos a comunhão com Ele;
- pedir a graça de sentir no mais profundo de nós mesmos a
saudade do Pai, do nosso único e verdadeiro Abba, do amor
infinito e apaixonado com que Ele nos ama.

Textos bíblicos: Mc. 5,1-20 Mc. 2,1-12 Mc. 2,13-17 Lc. 7,36-50 Lc. 7,11-17

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