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O guizo indicava a toda a gente que aquela que o trazia estava grávida. Ao lado do
guizo era amarrado ainda o pendão da erva zika-zika. Deveria trazer tudo isto até dar à
luz. Impediria, desta forma, um parto prematuro.
Quando se previa que estava para dar à luz, chama-se o nganga Malázi. Este enchia uma
pequena quinda - pequeno cesto - de pó de tukula. Depois de rapado o cabelo da cabeça
da parturiente, todo o corpo lhe era pintado com tukula.
Apenas a mulher acaba de dar à luz, e liberta dos principais trabalhos do parto, Malázi e
Mamázi vestem-na com um pano tinto em tukula.
Ficavam todos a saber que a mulher havia dado à luz e que ninguém poderia entrar sem,
previamente, pedir autorização para isso.
Aos homens e mulheres que tivessem usado o direito de casados, bem como às
mulheres que andassem nos seus dias, não se lhes poderia conceder essa licença. Eles
próprios já não a pediam.
O filho recém-nascido não sairá dali senão passados uns três meses, o tempo suficiente
para se prepararem as coisas para a festa da apresentação
A mãe poderá sair mas entrará logo que finde o motivo da saída.
A CERIMÓNIA DA APRESENTAÇÃO
Muebuanga com outros, os Nkuangi, ajudantes dos demais, espetam num largo,
previamente limpo, paus altos e em círculo. Entre esses paus eram colocados ramos de
palmeira fechando tudo ao redor o deixando uma única entrada.
Uma peça, ou mais, de pano era cortada aos bocados sendo estes amarrados às
extremidades dos tais paus altos, servindo de bandeiras em sinal de festa.
Muitas mulheres cozinham várias qualidades de comida em panelas novas que, dias
antes, haviam sido compradas para esse fim.
Tudo preparado para a cerimónia, Mbenza, Malazi e todos os outros curandeiros-
feiticeiros entram na casa onde se encontra a mulher com o filho. Este é pintado com
tukula e são-lhe amarrados vários fios e missangas à cinta, peito, pescoço, etc. Na testa,
uma fita prende uma pena vermelha da cauda de um papagaio e uma outra de galinha do
mato.
A mãe aparece à porta com o filho nos braços. O primeiro nganga toma a criança pelas
pernas lançando-o para trás das costas, segurando-o bem. A mãe bate três vezes as
palmas das mãos, como quem agradece, e toma o filho passando-o ao nganga seguinte.
Cada um deles repete o que fez o primeiro.
Tem o filho no regaço. Em frente dela há um outro assento coberto com um pano. Cada
um dos assistentes, então, começando pelos mais velhos, bate três vezes as palmas das
mãos, toma a criança, senta-se no banco coberto com o pano e coloca a criança sobre os
seus joelhos, acariciando-a por momentos.
Sabeis quem é?
A mãe ajoelhava depois, batia as palmas por três vezes, tomava a criança e voltava a
sentar-se no seu lugar.
E repetia-se isto com cada um dos assistentes. Pode-se, assim, imaginar bem o tempo
que levaria.
Nestes últimos tempos, pois, quem bebeu o Nsuingi - a água «benzida» na seita do
Nzambi Nkungulo - concebendo e dando à luz, a criança terá que ser guardada dentro de
casa pelo menos durante uns três meses. É, conforme me disseram, para dar tempo a
que o pai consiga juntar as coisas para uma grande festa que se deve fazer quando o
filho for apresentado ao povo da aldeia.
A mãe da criança, contudo, depois dos trabalhos do parto e das exigências do primeiro
mês, poderá fazer a sua vida normal, mas a criança não sairá de casa.
Entre os assistentes escolhe-se uma mulher que tome a criança e que, diante de todos,
salte e dance com ela ao colo, acabando por a levantar nos braços e apresentando-a à
assistência.
Mas, afora este renascimento entre adeptos do Lassismo, pouco mais resta dos costumes
antigos. Quase tudo perdeu de uso.
Há mesmo mulheres, como ainda voltaremos a ver, sentindo-se com forças bastantes
para darem à luz, dispensam toda a ajuda no parto e vão para o campo ou floresta
esperar a sua hora. E sozinhas darão à luz e voltarão para casa com o seu precioso fardo.
Anunciará o bom sucesso. O pessoal feminino da família ou as vizinhas darão
imediatamente um banho à criança, mesmo em água fria não havendo água quente à
mão.
Além da alegria íntima que se lê nos olhos de todos os membros da família, sobretudo
nos da mãe e do pai - os filhos são sempre presentes desejados e esperados - alegria
acompanhada de um prato melhor e mais abundantemente regado (sempre se previa o
dia), nem que seja só com vinho de palma, pouco mais se nota.
E, pelos oito ou dez anos, as crianças fazem uma festa na aldeia. É a festa delas.
Constroem todas juntas um cercado com folhas de palmeira, semelhante ao descrito na
festa da «apresentação». Dentro desse recinto, saltam, dançam e brincam e comem as
refeições que elas próprias - algumas já sabem - ou suas mães prepararam.
Se a mãe da parturiente não está com a filha na altura do parto, caso seja viva ainda, o
genro vai chamá-la.
Nestas circunstâncias, como regra, serão as pessoas de família quem ajuda; doutra sorte,
as amigas ou vizinhas.
Aliás, desde que a mulher fica grávida, o marido vai juntando peixe seco, pesca ou
compra peixe fresco para defumar, bem como carne de caça, que também defumará, O
marido entrega sempre, em qualquer circunstância, os quartos traseiros dos animais que
abate na caça. A mulher, prevendo os seus dias futuros, seca a carne ou - o que é muito
mais comum - a defuma para estas ocasiões.
A mãe ficará com a filha as duas ou três primeiras semanas depois do parto, pelo
menos.
Para os banhos, em tempos, não havia bacia. Era cavado um buraco na terra, à guiza de
bacia, dentro desse cercado, buraco que o uso vai tornando, de dia para dia, mais
impermeável à água.
Ali a parturiente toma os seus banhos semicúpios. A água terá que ser o mais quente
que possa suportar e, muitas vezes, chegam a sofrer graves escaldadelas,
A água do banho nunca será tirada do buraco-bacia a não ser para um outro,
previamente preparado ao lado daquele. A água terá que se infiltrar pelo solo. Desta
sorte impede-se que «profanem» essa água ou a usem para fins de malefício e feitiçaria
contra a parturiente ou o recém-nascido.
As parturientes não deviam beber água que não fosse bem quente ou, pelo menos, bem
morna. Não deviam comer saka-folha nem muamba.
Eram medidas de higiene muito rudimentares mas que lhes traziam - afirmam as mais
velhas - benefícios para a saúde.
Depois do banho irá a mulher para junto do lume - deve haver sempre fogo ao lado do
banho - onde se deitará, ora de costas ora de ventre para o lume, tendo, ordinariamente,
só urna pequena tanga.
Se não tomarem estes calores ao lume dizem que a pele do ventre ficará enrugada! A
maior parte das mulheres pintava-se, outrora, com tukula depois do banho, bem como
ao filho, também depois do banho respectivo.
Apertam a cinta com uma espécie de faixa a que chamam Nkama-Mponde. 0 Nkama-
Mponde é feito de ráfia ou da fibra exterior do luango, fibra entretecida entre si. Tem
uns quatro a cinco centímetros de largo por cinco ou seis braçadas de comprimento.
Começa a ser atado à volta do ventre a partir da primeira semana e meia depois do
parto. É para que o ventre «abata», dizem.
É também o símbolo - dos trabalhos que as mães sofrem em dar à luz os seus filhos. Por
isso, no casamento das filhas, depois de passar uma semana a ensiná-las a trabalhar em
casa do marido, a mãe, como paga do Nkama-Mponde - paga das dores do parto - nunca
receberá do genro menos de dois panos, uma blusa e certa quantia em dinheiro.
Agora, como recompensa pelos trabalhos prestados à filha e ainda como pagamento do
próprio Nkama-Mponde que teve de usar quando deu esta filha à luz, o genro lhe
oferecerá um corte, peça de fazenda, um lenço, uma saia, e um litro de bagaceira.
Conforme o parto desta filha que agora é mãe foi mais ou menos difícil, a sogra se torna
mais ou menos exigente. E o genro, praticamente, lhe dará o que pedir.
Em tempos não muito afastados, caso o ventre da parturiente tivesse ficado muito
proeminente, a mulher era encostada, antes das refeições principais, de pé, contra o
likunzi - suporte do pau de fileira que fica, quase sempre, no meio da casa - e ligada à
volta com o Nkama-Mponde, operação feita por outras que a ligavam muito bem ao
poste e sem muita piedade! Chegava a ter feridas. Mas isto, repetimos, só se podia
começar a fazer semana e meia depois do parto.
Se não se julga necessário o uso do likunzi é a própria mulher quem enrola, ela mesma,
o Nkama-Mponde.
No caso de ser ligada ao likunzi é só quando está para comer. E come de pé. Quando
acaba de comer e reconhece que a comida já assentou no estômago, pode desamarrar-se.
Hoje, posto que ainda haja quem use o Nkama-Mponde feito da fibra do luango, já se
empregam alguns de pano, de tecido de algodão ou lã. Até já há quem compre
verdadeiras cintas de senhora!
O corte do cordão umbilical: puxa-se até ao joelho da criança e corta-se a essa distância.
O tratamento mais comum é feito com massagens, aquecendo a mão, o mais que se
possa, ao fogo e comprimindo, a pouco e pouco, todos os dias e várias vezes ao dia, o
local até que caia o cordão = Vuba ikumba kimuana.
Uma vez caído, é costume colocar-se no local cinza de nkunza, uma qualidade de
capim.
O cordão umbilical deve ser cortado com uma lâmina nova, ou com a folha do capim
lukenguzó, que parece uma fraca serra, ou então com a mbele leze, navalha de barba,
bem limpa e afiada, ou até com uma banza, nervura da folha de palmeira, bem afiada.
A parturiente se tem coragem, e muitas vezes a tem, de dar à luz sem ninguém presente,
no mato mesmo, se sabe tratar de si e da criança, trata de cortar o cordão umbilical, se
puder. Doutra forma trás tudo como em manado para casa e, depois, com a ajuda das
outras mulheres se desembaraça das secundinas, do corte do cordão, etc., etc.
Tudo isto se tem feito e tem sido possível entre estas mulheres, bem fortes e bem
corajosas.
Ainda quanto às secundinas, havia quem as enterrasse em cova mais funda ao centro da
cova-bacia que servia para os banhos da parturiente.
Conheci uma mulher a quem o marido, nestas circunstâncias, não deixou cortar o
cabelo. Tendo ela adoecido dias mais tarde não tardou em culpar o marido!
Durante estes dias, pelo menos o mês de banhos e convalescença da parturiente, quer de
dia quer de noite, não faltará fogo na casa onde está a mulher.
É esta a explicação das grandes pilhas de lenha atrás das cozinhas das mulheres que
estão grávidas. É a lenha para aquecer a água para os banhos da mãe e do filho e para
conservar fogo permanente durante todo esse tempo.
A mulher, logo que sente que está grávida, começa a juntar lenha, É tão certo isto que
quando se vêem pilhas de lenha atrás das casas se pode afirmar, sem grande perigo de
errar muito, que breve ali haverá mais um filho. A maior ou menor quantidade de lenha
existente nos indicará se o nascimento está perto ou se ainda leva tempo.
Acaba sempre por sobrar alguma lenha. A que sobra não deve ser usada antes que o
pequeno ou pequena comece a dar os primeiros passos. Por isso, essa lenha é depois
chamada bisuali malu mamuana - a lenha das pernas do filho. E é que, se a gastar antes,
mais tempo levará o filho a andar... Assim o acreditam.
Terão de ser guardadas, pelo menos, três achas da pilha da lenha usada no tempo dos
banhos da parturiente, até que o filho ande e bem e ela, a mãe, haja aceitado coabitar
com o marido.
Admitindo que o filho não anda, sendo já tempo, tinham de fazer a cerimónia do
Madoko-Doko - o «chamar os pés».
Esta cerimónia consistia em passear com a criança ao colo, de uma ponta à outra da
aldeia. A criança, nestas circunstâncias, devia ser levada, por uma mulher que haja tido
gémeos, muito de manhãzinha.
Quem melhor que essa mãe abençoada com filhos gémeos podia alcançar do Nkisi-Nsi
a «benção» para o pequenino que não caminha?
Não chegando a criança a andar acaba por ficar: Kata, nome dado à criança paralítica.
Durante os três primeiros dias, quase sempre, não dão de mamar aos filhos. Espremem
os seios para que saía o primeiro leite.
Mas são capazes de dar logo à criança mamão, papaia ou alguma outra fruta leve...
Se a mãe não tem leite, passa-se a criança para o seio de urna pessoa de família que
ande a amamentar. Por princípio algum a passarão a estranhos pois estes, mais tarde,
tratariam e tomariam a criança como se fosse escrava deles.
Quando as mães não têm leite costumam tomar a seiva, ou cozer os frutos, da árvore
Mbenene - (Mabene-Seios) - que tomam com vinho de palma muito doce.
Num parto difícil chegam a chamar homens, depois das mulheres já estarem cansadas e
não conseguirem que a parturiente dê à luz.
Uns seguram a mulher por trás; outros abrem-lhe, quanto podem, as pernas e um outro
tenta, com as mãos, ver se dilata a vagina e até se consegue apanhar e puxar a criança.
Miolo-Miolo, masáli-masáli;
Muana buta, muana lela,
lebuti nkiento i bákala.
Isto faz-se por três vezes estando os dois de pé, sendo possível. No fim da terceira vez o
pai, tomando as mãos da filha, levanta-as ao ar juntamente com as suas e depois, cada
um, já com as mãos separadas, abre os braços para o alto.
Se a mulher teve relações com outro homem durante a gravidez, deve procurar a
Nganga-Funza para confessar essa falta ou o número de faltas cometidas.
Mas se uma mulher nasceu de um parto de gémeos e, por sua vez, também veio a ter
gémeos, automaticamente torna-se Nganga-Funza.
Se a mulher não fizesse a confissão dessa falta à Nganga-Funza, cria-se que ela não
daria à luz ou o filho morreria ao nascer.
Por princípio, quando a gravidez está bastante adiantada, as mulheres não aceitam mais
o marido. Mas esta rejeição não era por medo que se prejudicasse o parto, traumatizasse
a criança ou causasse outros transtornos -a cópula, entre eles e durante todo o tempo,
era, outrora, praticada de lado - mas porque, dizem, aceitando a cópula o esperma iria
sujar a criança, que nasceria com manchas, além de tornar o parto difícil!
Quando o parto era difícil a parturiente deveria chamar a Nganga-Funza, mesmo que
não tivesse tido relações com outro homem durante a gravidez. Bastaria que tivesse dito
alguma coisa em desabono de seu homem. E terá que o confessar, então, ao próprio
marido.
Também nada tendo dito contra o marido, se o parto é difícil, ou atribuem o facto a
fraqueza da parte da parturiente - e pedem a ajuda de outras mulheres ou mesmo, como
se viu, de homens - ou ao Nkisi, Ndoki, que lhes quer vir tirar o filho para ter «carne».
Quando o pequeno ou pequena já anda, e anda bem, a dar boas passadas e seguras, as
outras mulheres acabam por chegar à conclusão de que é tempo de isso lembrar à avó
materna.
Vai, então, oferecer à filha uma esteira nova. Ao receber a oferta, a filha também
entende perfeitamente que é tempo de começar a pernoitar com seu marido. Não
esquecer que jamais o voltou a fazer desde o parto, pelo menos. E já lá vão uns três
anitos ou perto disso...
Mas só podia ficar com o marido desde que tivessem voltado os dias de seu mês.
Tendo relações com o marido e tendo escondido esses seus dias do mês - nesse caso
teria de ter vivido uns quatro ou cinco dias na própria casa - a Nzo-Mpilo - e
concebendo, essa gravidez tomava o nome de Nselo.
A falta de chuvas, de caça e de pesca, etc. etc. era por culpa deles, e todos o saberiam
pois ela não passara pela Nzo-Mpilo.
Era a Nganga-Funza quem deveria preparar a cama da mãe que acaba de ter gémeos.
Também penduraria à cinta de cada um dos gémeos o Biékelé - espécie de pequena lata
com guizos, um pausito com que tocavam os olhos, nariz e boca dos gémeos, para que
se abrissem quanto antes e em perfeito estado - antes que pudessem sair da casa.
Esse Biékelé indicaria a todos que se tratava de um gémeo, portanto, de alguém que era
abençoado e como que filho de Nkisi-Nsi, a quem nada de mal se poderia fazer e a
quem nada se recusaria, se viesse a pedir.
Quando falarmos de gémeos diremos que a mãe não deve chorar nem vestir luto quando
morre algum deles. É que com esse luto e choro levaria a tristeza ao outro filho que
morreu fazendo com que ele venha buscar o que ficou!
Os pais, sobretudo as mães, devem saber se os filhos e filhas são ou não capazes de
contrariarem matrimónio. São culpadas aquelas que deixam casar o filho ou a filha
incapaz de concorrer para a geração, incapaz, pelo menos, para o acto conjugal.
Culpada é ainda se, nos clãs que a isso obrigam, deixou o seu filho incircunciso. Nestes
clãs é uma vergonha para uma mulher casar com um incircunciso. A falta de circuncisão
pode permitir à mulher o abandonar o marido.
As mães são dedicadíssimas aos filhos. Dificilmente se encontrará noutras raças maior
ternura para com eles. Um filho nunca vem em má hora, Dentro do casamento o filho é
sempre desejado, sempre querido, sempre esperado. A falta de filhos pode dissolver um
casamento. A abundância de filhos é a maior benção.
NOMES E APELIDOS
«Le nom - diz Foucart - (chez les anciens Eqyptiens comme chez nombre d'autres
peuples), n'était (oú n'est) pas une simple désignation ... »
(Citado por P. Leo Bittremieux em «La Société Secrète des Bakhimba ou Mayombe»).
Podemos colocar muito bem entre o número de outros povos para os quais o nome não é
uma simples designação os nossos Bakongo, Bauoio, Basundi, etc., etc.
E, não raro, esquecem o que tinham antes, aquele com que foram baptizados ou
inscritos no registo civil.
c) o nfumu-nkutu - chefe da orelha - espécie de alma sensual que reside na orelha, faz
funcionar o ouvido e a vista e pode divagar (durante o sono e a síncope);
( J. Van Wing, Etudes Bakongo, 2.a ed., Desclée de Brouwer, Bruxelles, 1959, pp. 289
e 376).
Creio bem que se notará esta mudança em alguns dos casos que irão aparecer.
Temos, para o caso, um exemplo frisante. E até, para mais facilidade de comprovação,
aparecem três filhos, sendo os dois primeiros do sexo masculino e o terceiro, do sexo
feminino.
Baptizei, na aldeia do Fubu, junto ao Tando-Nzinze, no mesmo dia, essas três crianças
irmãs.
(Pode ser conferido o que aqui afirmamos pelos registos da Missão Católica do Lukula-
Zenze, de 1944).
Há, porém, circunstâncias que acompanham o nascimento da criança ou afectam,
posteriormente, a vida deles como que mudando-lhes a individualidade...
O nome, então, será o que essas circunstâncias exigem ou a vida que se vem a tomar -
fazer parte de certa sociedade, ser nomeado Nfumu-Nsi, Ntoma-Nsi, etc., etc., ligação
com outras famílias, v. g., Jack, Wilson, Espanhol, Franque.
ALGUNS CASOS
Isabel LUFUA
E porque deram o nome de LUFUÁ a esta pequena que, mais tarde, veio a ser baptizada
com o nome de Isabel?
Por que nasceu tão em perigo de vida que todos diziam: «vai morrer».
Faustino BUMUENIKO
BU - Agora.
Razão de tal nome? Foi tão difícil o parto, tão demorado que chegaram a perder as
esperanças de verem a criança fora do ventre materno. E o pai dizia-me: «Foi mesmo
mistério, mesmo milagre. Toda a gente julgar não ver mais o filho.»
KINZIMBUKILA
Nome que se dá a uma criança depois de a mãe ter vivido bastantes anos e sem ter filhos
até ali.
Vem, o termo, do verbo Zimbukila - Aparecer - de repente, sem ser esperado. Ser
surpreendido por...
LELO
Nome que recebe a criança que nasce depois da morte de vários de seus irmãos.
Vem da expressão: Lelo - Lelo, lukeba - Cautela, ter cuidado.
Era, também, como que um aviso à família para que tivesse cuidado e «não fizesse
feitiço» para que, «apesar de tudo», este não morresse.
MANTANDU
PELESO
LISUKULULO
Nome que acaba por receber-e pode ser até o primogénito - o filho que ficou depois de
todos os seus irmãos terem falecido.
Espécie de aviso e de anúncio para que todos saibam que, apesar de hoje não ter mais
filhos (ou de não ter agora outros irmãos), outras teve que morreram.
PINTASELIGO
Está por Pintassilgo. Foi dado este nome a uma criança que nasceu precisamente no
momento em que o P. Pintassilgo passava na aldeia.
O autor do presente trabalho também chegou a ter a mesma «honra». Por ter atendido,
na aldeia do Kakata, uma parturiente momentos antes do parto, foi dado ao recém-
nascido o seu apelido.
NTUTI
Nome dado ao filho de uma rapariga que não haja passado pela «Casa da Tinta».
A rapariga, enquanto não passa pela «Casa da Tinta» e procede a todo o cerimonial que
lhe permite tomar estado, não pode ter relações sexuais, seja com quem for e tenha a
idade que tiver O filho que lhe nascer é filho da prevaricação, é NTUTI.
SONSA
Quando alguém passa muito tempo sem ler filhos, o primeiro que nasce toma o nome de
SONSA.
Sonsa, Kusonsa - Falar, narrar.
No caso de SONSA não se haviam perdido as esperanças, ainda que a criança venha a
nascer muito depois do casamento.
NSAFU ou NSELO
Não o fazendo, o filho que nasça destas relações (ilegais para eles) toma o nome de
NSAFU ou NSELO (NSELO = bastardo, degenerado).
O NISAFU é, pois, filho da maldição. Haverá castigos. Um dos castigos será a falta de
chuva. Os esposos terão que ir ao Ntoma-Nsi.
Para levantar a maldição, um dos castigos impostos ao homem era o de subir ao cimo de
uma palmeira levando à cabeça uma cabaça cheia de água e deixá-la, depois, cair.
1. - desmazelado, sujo;
2. - indecente, pouco conveniente, imodesto, obsceno,
Nomes dados aos Gémeos - Bana Bibaza ou Bana Basimba - e a superstição que os
acompanha:
Os gémeos são tidos por filhos do Nkisi-Nsi. São Bana Babakisi - filhos do Nkisi.
Os gémeos são excepção em toda a parte. Para os Bakongo, Bauoio, etc., etc., são tidos
por filhos do Nkisi-Nsi. Ora este, o Nkisi-Nsi, é essencialmente bom. Os Basimba
também são bons e, até certo ponto, são uma benção.
Os gémeos vivem muito unidos um ao outro. As vezes adoecem ao mesmo tempo e até
podem morrer quase a seguir um ao outro.
As mães, quando um dos gémeos morre, não deve chorar. Deve, pelo contrário, rir-se e
cantar. É que, se chora, trazendo desgosto para o que fica, o que partiu já pode vir
buscar o que ficou...
Nada se deve recusar aos gémeos, aos Basimba. Quem recusa o que eles pedem será
castigado, regra geral, com a surdez... Mas recuperarão a surdez logo que paguem
alguma coisa!...
Os gémeos espíritos habitam nas lagoas e nos rios, regra geral nos pontos em que a água
faz redemoinhos.
Ora estes gémeos espíritos, que vivem nos rios e lagoas, têm, debaixo da água, uma
verdadeira aldeia onde nada lhes falta.
Cada gémeo vive dentro de uma caixa tendo a tampa a servir de porta.
Acontece que estes gémeos, como qualquer ser humano, podem simpatizar com
qualquer ser mortal.
O homem que de canoa passar por esses rios ou lagoas, se com ele os gémeos espíritos
simpatizaram, sentirá que a vara com que conduz a canoa lhe ficará presa! São esses
gémeos quem lha segura!
Ao voltar a casa, tendo relações com a esposa, esta conceberá... gémeos. Se a simpatia
dos gémeos espíritos for muito grande por tal ou tal pessoa, esta poderá vir a ter três ou
mais gémeos!
Logo que se dê o parto de gémeos o pai terá que levar, ou mandar, alguma coisa ao rio
ou lagoa onde lhe parece ter tido a «graça» de ser seguro pelos gémeos espíritos.
Assim farão os próprios gémeos, quando já crescidos, todas as vezes que passem pelas
lagoas ou redemoinhos dos rios.
FUTI e NLANDO
Será o nome que recebe a criança que venha a nascer depois de um parto de gémeos.
Dá-se um ou outro nome indiferentemente.
SUNDA ou ISUNDA
Nome que recebem - e são também tidos por Bana babakisi - os que nascem saindo
primeiro as pernas.
É que «saltam» por cima de regra geral, que é de nascerem começando pela cabeça.
ALCUNHAS E APELIDOS
O indígena raríssimas vezes alcunhará alguém baseado nos defeitos físicos dessa
pessoa. Procura, sim, uma alcunha que lhe retrate o carácter, a pessoa moral. E nisto são
verdadeiros psicólogos.
Quem viver entre os Cabindas - País de Cabinda - que procure saber a alcunha que lhe
deram. Pode ser que leve tempo a sabê-la. Mas tem-na.
Muitas das alcunhas, senão a maioria, são tiradas dos belos provérbios que possuem.
Alguns exemplos
Vem do provérbio
Limanha limbu:
Naveka Nzambi ala bundula liau.
Pedra do mar:
Só Deus a derrubará.
Aplica-se a quem está bem seguro no poder, Assim como os penedos do mar não saiem,
apesar do contínuo bater das ondas, assim também a pessoa bem segura no poder não é
derrubada com facilidade.
ILOLO KINTANDU
IIolo kintandu:
Podi mana via mbazu ko.
A anona da planície:
Não pode acabar pelo fogo.
Passam as queimadas, queimam-se as folhas da anona da planície, a casca, fina mas
semelhante à cortiça, fica quase torrada, mas de novo, oito a quinze dias depois, tudo
rebenta com mais vigor.
Contrariedades, quase perseguições não «queimaram» tal pessoa (que conhecemos, bem
como a Limanha Limbu), Saiu delas com mais vigor e coragem.
FINGA NGO
Finga Ngo é o nome que se dá ao que critica o superior na ausência, pelas costas. Que
de frente nada diz. Que é cobarde.
BIPALA SISI
LUVALI
DUKULA
Pessoa que fala muito, que passa o tempo a «verter» palavras pela boca fora, mas de
poucas obras.
KUNDUMBILI
Carraça.
Pessoa agarrada a suas ideias e que não volta atrás nos trabalhos encetados e ordens
dadas.
KUANGA NSOLO
De:
Kuanga - Cortar
Nsolo - Caminho, atalho.
O que corta o caminho. Dado aos que têm uni caminhar marcial, batido, como quem
marca ou corta o caminho por onde passa.
NKOKO NDIBU
Nkoko - Tantã
Ndibu - Surdo
O tantã dos surdos... Indivíduo que fala tão alto que até os surdos ouvem!
Tudo o que aí fica é do nosso conhecimento directo e, no que diz respeito a costumes e
tradição, colhido da boca dos «velhos».
CABINDAS
Leiam