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CONTAGEM
2009
Daisy Daniela de Barros da Silva
Contagem
2009
Daisy Daniela de Barros da Silva
O vínculo empregatício do ministro de culto religioso, Pastor da Igreja
Universal do Reino de Deus, sob análise objetiva, à luz do artigo 3º da CLT,
considerando os aspectos subjetivos: o princípio da alteridade e o ânimo de
emprego.
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Vanda Aguinaga (Orientador) PUC Minas
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PUC Minas
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Examinador PUC Minas
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Contagem, 2009
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À minha mãe, que por amor a mim, transpôs todos os obstáculos na estrada
da vida, e por sua força e coragem compartilhamos momentos como este.
Ao meu marido, pelo seu incentivo constante.
Às minhas filhas, pela compreensão da minha ausência.
Aos meus “pais” Marcelo e Moraes, com amor.
Aos meus amigos da turma B, que estarão sempre em meu coração.
À minha orientadora, Profª. Vanda Aguinaga, pela sua dedicação e amor ao
que faz.
Aos mestres, pelo privilégio de conhecê-los e de ter sido sua aluna: Prof.
Dhênis, Prof.ª Kátia, Prof. Pimenta, Prof .Kalil, Prof. João Marcos, Prof.ª Virgínia,
Profª Ellen.
Acórdão nº 20010606798
RESUMO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................................10
2 DA CRIAÇÃO E DOS FUNDAMENTOS DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS................13
3 ORGANIZAÇÃO INTERNA............................................................................................................................14
4 DOS CRITÉRIOS PARA INGRESSO NAS ATIVIDADES DA IURD.......................................................16
5 DA ATIVIDADE DO PASTOR........................................................................................................................18
5. 1 DA CARGA HORÁRIA DE ATIVIDADE RELIGIOSA DO PASTOR......................................................................................18
5.2 DAS FÉRIAS DO PASTOR......................................................................................................................................19
5.3 DA MANUTENÇÃO DA ATIVIDADE PASTORAL...........................................................................................................19
5.4 DA MOVIBILIDADE DO PASTOR.............................................................................................................................19
5.5 DA "PROMOÇÃO" E DO CRITÉRIO DE PROMOÇÃO DO PASTOR.....................................................................................20
5.6 DO DESLIGAMENTO DO PASTOR............................................................................................................................21
6 DA FORMAÇÃO DO LITÍGIO E DA “POSSIBILIDADE DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO”...........22
7 UMA SÍNTESE DOS ELEMENTOS CARACTERIZADORES DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO EM
ANÁLISE CONCEITUAL DOS ELEMENTOS OBJETIVOS DO ART 3º DA CLT, EM
CORRESPONDÊNCIA COM A ATIVIDADE DO PASTOR.........................................................................23
7.1 PESSOA FÍSICA..................................................................................................................................................23
7.2 PESSOALIDADE..................................................................................................................................................24
7.3 CONTINUIDADE.................................................................................................................................................25
7.4 SUBORDINAÇÃO................................................................................................................................................25
7.5 REMUNERAÇÃO/ONEROSIDADE.............................................................................................................................27
8 A ANÁLISE CONCEITUAL DOS ELEMENTOS SUBJETIVOS CONSIDERADOS PELA
DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA EM CORRESPONDÊNCIA COM A ATIVIDADE DO PASTOR...30
8.1 PRINCÍPIO DA ALTERIDADE..................................................................................................................................30
8.2 ÂNIMO DE EMPREGO..........................................................................................................................................30
8.3 O PASTOR EVANGÉLICO E A PREVIDÊNCIA SOCIAL..................................................................................................31
9 CONCLUSÃO....................................................................................................................................................32
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................................36
APÊNDICE A........................................................................................................................................................38
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1 INTRODUÇÃO
pastor evangélico? Caso a resposta seja positiva, como se poderá classificá-lo como
profissional? Pregação da fé pode ser considerada como profissão, ou seria
vocação? Diante desta situação, qual seria o direito daqueles que exercem tall
atividade?
A CLT consiste em conquistas das classes de trabalhadores que lutaram em
prol de uma legislação justa e, sobretudo, equilibrada. A legislação trabalhista
garante direitos específicos e diferenciados àqueles que se enquadram em seus
pressupostos, mas para tanto, é necessário para a caracterização de vínculo
empregatício entre empregado e empregador, que não falte nenhum dos elementos
caracterizadores da relação de emprego. Devido a estes fatos, muitos tentam se
abrigar à sombra da CLT, sem a menor possibilidade legal de enquadramento e,
neste ponto, tem-se o Ministro de Culto Religioso, em especial o pastor evangélico.
São diversas as ações no judiciário pela busca do amparo jurídico na CLT, e
não são poucas as divergências de decisões em relação ao assunto, muitos tentam
facetar a real situação, para que possam usufruir de sua assistência. O resultado
disto tem sido várias decisões judiciais divergentes.
Por conseqüência, o principal objetivo da presente monografia, é discutir a
problemática da caracterização do vínculo empregatício do pastor evangélico em
face da consagrada legislação trabalhista. Ademais, é de suma importância suscitar
tais questionamentos técnicos, tanto objetivos, quanto subjetivos, para se obter
efetivamente uma decisão acertada e unânime sobre o tema em questão.
A presente pesquisa possui fundamento na controvérsia existente no meio
jurídico em definir quanto à existência ou não do vínculo empregatício do pastor
evangélico em relação às igrejas, em especial à Igreja Universal do Reino de Deus.
O trabalho em tese possui relevância para a autora como forma de
aprimoramento de seus conhecimentos nesse ramo do Direito, tendo em vista o fato
da mesma já ter vivenciado os dois lados do tema em questão: como empregada da
Instituição e como esposa de Pastor, tendo portanto, legitimidade para questionar o
campo fático do tema proposto.
Partindo do pressuposto de que todo e qualquer conflito na sociedade deve
ser diluído através do Direito, o trabalho de pesquisa proposto tem o escopo de ser
um instrumento útil para despertamento, reflexão e, quem sabe, possíveis mudanças
no ramo do Direito do Trabalho e, em especial, neste conflito entre pastores, igrejas
e o Judiciário.
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Por certo, não há de se confundir Direito com religião, a religião não dita mais
o Direito e a mesma tem limites de autonomia, assim sendo, quando do surgimento
de conflitos que afetem a sociedade, deve estar o Direito apto a corresponder às
expectativas da sociedade, na busca da justiça.
Do ponto de vista social, esta pesquisa trará valores significativos ao cidadão
em geral, pois a religião, além de ser tida hoje como instrumento de controle social,
tem exercido um papel de extrema importância para muitos cidadãos brasileiros, que
diante de tantas diferenças sociais, discrepância de valores e da ineficácia do
amparo Estatal, encontra no mesmo consolo e esperança. Portanto, não deve o
Direito permitir que tal essência se perca por causa da má fé de alguns que tentam
transformar a religião em instrumento de promoção própria, em detrimento da
credulidade de muitos.
Portanto, este trabalho não abrange apenas os profissionais do Direito, mas
toda a sociedade. Pois de que valem as leis e as doutrinas, se a sociedade perder o
senso do questionamento e da moral?
Insta ressaltar, que o presente trabalho além de fundamentado em
jurisprudência, doutrina e leis em geral, ainda se robusta de pesquisa de campo
elaborada e direcionada aos pastores evangélicos da Igreja Universal, como consta
em apêndice.
Sem questionamento o Direito se torna estático e a justiça perde seu espírito.
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3 ORGANIZAÇÃO INTERNA
palestra é o pastor que convidou á reunião, mas todos têm o mesmo direito de falar.
Assuntos de ordem administrativa são tratados em local próprio e com
funcionários contratados e capacitados para tal.
É importante ressaltar que esta organização não deve ser confundida com
uma “pirâmide hierárquica”, com divisão de “poderes”, mas sim, de atribuições, que
consoante às necessidades da efetivação de sua atividade fim, a pregação do
evangelho, podem sofrer alterações. O Bispo pode exercer a função do Pastor
auxiliar e participar de reuniões presididas por pastores titulares, e assim
sucessivamente, o título não é fator gerador de submissão.
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O critério utilizado para ingresso nas respectivas funções da IURD são muito
claros. Vejamos:
• Para ser membro, basta confessar a vontade de seguir a doutrina
bíblica e ser batizado nas águas. 1;
• para ser obreiro são necessárias a observação dos critérios anteriores,
mais a confissão de que deseja ajudar aqueles que estão sofrendo, a
encontrar o “verdadeiro caminho”, neste caso a conversão ao
evangelho, sendo avaliado seu testemunho perante os de seu convívio,
no sentido de que suas atitudes compactuem com sua crença.
Em relação aos pastores, questão de grande relevância, visto que o mesmo é
motivo do presente trabalho, os critérios são mais específicos:
• O candidato a pastor precisa ter passado pelas fases anteriores, ou
seja, ter sido membro, evangelista e obreiro;
• precisa materializar este desejo e, assim, inscrever-se para que possa
participar de reuniões onde será avaliado pelos seus conhecimentos
bíblicos, seu comportamento compatível com a doutrina pregada.
Enfatiza o Bispo Gilberto Abramo2 que tais conhecimentos não se traduzem
em decorar versículos bíblicos, mas em conseguir exprimir o verdadeiro sentido da
fé Cristã:
O candidato não precisa ser graduado ou ter doutorado, basta ser
alfabetizado e, sobretudo, amar ao próximo ao ponto de dedicar uma boa parte de
seu tempo e, no geral de sua vida, a ajudar àqueles que estão sofrendo sem consolo
e sem esperança.
• Outro quesito indispensável é o fato de estar empregado.
1
O batismo nas águas é uma prática bíblica, onde aqueles que entregam sua vida a Jesus passam
por um procedimento de imersão nas águas, para que se tornem uma nova criatura. Pois, acredita-se
haver ali um voto de assumir uma nova postura em acordo com a doutrina bíblica. Quando do ato de
submersão todos os pecados são deixados no passado e a pessoa tem uma nova chance de provar
sua mudança de caráter.
2
Bispo Gilberto Abramo é integrante da IURD há aproximadamente 25 anos, já esteve em vários
Países, preparou vários missionários para que fossem enviados a outros países, e hoje é Deputadp
Estadual.
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5 DA ATIVIDADE DO PASTOR
3
Pastor da IURD há mais de 25 anos, Hoje, além de Pastor, é também Vereador.
19
O pastor presta sua atividade como pessoa física, fato este indubitável.
Vale apenas salientar que, para alguns doutrinadores, tal elemento se
desdobra no ânimo de emprego, ou seja, além do empregado ser pessoa física,
deve ter ele ânimo de emprego, o que não ocorre quando da “admissão”de um
pastor, pois este é informado que estará exercendo sua vocação.
Não havendo nenhum fator que possa gerar, por exemplo, uma ascensão
profissional.
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7.2 Pessoalidade
Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o SENHOR: o meu
espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não
se desviarão da tua boca nem da boca da tua descendência, nem da boca
da descendência da tua descendência, diz o SENHOR, desde agora e para
todo o sempre. (Is. 59. 21).
7.3 Continuidade
7.4 Subordinação
A Igreja não possui uma direção “empresarial”, mas uma finalidade recíproca
entre os auxiliares, pastores e Bispos.
O Pastor da Igreja Universal não segue uma “cartilha” de execução para as
reuniões feitas para os fiéis. Assim, o modo de realização de sua “prestação de
serviços” é de sua inteira responsabilidade.
Segundo Alencar, Pastor Regional da Igreja Universal, o que propulsiona sua
atividade pastoral, é sua dedicação á leitura da Bíblia e sua retidão e obediência aos
ensinamentos constantes na mesma.
A finalidade da Igreja é a pregação do evangelho, a forma como isto será
feito, é critério exclusivo do Pastor,
A igreja possui uma hierarquia organizacional, apenas para que a mesma
possa facilitar a propagação do evangelho.
Desta feita, sentenciou o juiz da 2ª Vara do Trabalho de Campo Grande,
dispondo:
7.5 Remuneração/onerosidade
O art. 12, inciso v, alínea c da Lei 8.212/91, define o pastor evangélico como
contribuinte individual, sob a nomenclatura de “ministro de confissão religiosa”
9 CONCLUSÃO
A Igreja, por muito tempo, interferiu no Estado, hoje se tem Igreja em busca
do Estado para solucionar litígios.
Os tempos mudam, a sociedade provoca a criação de leis para que haja de
fato, organização civilizada.
Este trabalho não tem o cunho de excluir direitos, marginalizar alguns, mas de
contrapor a má-fé e a boa fé em favor da coletividade.
Em verdade, vive-se tempos difíceis, onde a discrepância social é fato, tem-se
um sistema capitalista com alta produtividade de vítimas.
Quantos dispõem do privilégio de escolher que profissão vão exercer, e
quantos podem “pagar” por uma formação acadêmica, por exemplo?
Assim, muitos se aventuram dentre as oportunidades que lhe aparecem.
Não obstante, não são poucos os que, apesar de não ter “nascido em berço
de ouro”, retiram das suas mazelas forças para superar e vencer o sistema
econômico capitalista.
A questão é: Sempre há uma escolha.
Pode-se escolher roubar, ou trabalhar, mesmo que seja limpando vidro no
sinal.
Pode-se escolher entre trabalhar o dia inteiro para ganhar pouco,
honestamente, ou ganhar muito, traficando, por exemplo.
Qual fenômeno explica o fato de um morador de rua, passar na Universidade
Federal, enquanto tantos que frequentam os melhores cursos não o conseguem?
Enfim, nem sempre tem-se o que se deseja, mas sempre existe o poder de
escolha.
Assim, num contexto jurídico, o contrato faz lei entre as partes.
O contrato, ou o pacto, feito pelo pastor com a Igreja, é uma escolha.
Quando o indivíduo opta por ser pastor, ele faz seus votos, ele sabe que não
haverá contraprestação pecuniária por uma oração, por um aconselhamento, pela
sua pregação da palavra de Deus, não pelo fato do mesmo não merecer, pois doar-
se ao próximo, não tem preço, o problema é quando descobre na religião uma ponte
para se obter um “mastercard”.
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própria para regular tais situações, como a lei das domésticas, que embora não
tenham amparo da CLT, possuem alguns direitos inerentes à mesma.
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REFERÊNCIAS
BARROS. Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTR,
2006.
SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed.
atual., rev. e ampl. por / José Eduardo São Paulo: LTr, 2007.
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 5. ed. São Paulo: Editora Método, 2006.
APÊNDICE A
QUESTIONÁRIO
1- Nome
2 - Possui formação superior em teologia?
3 - O que o motivou a exercer a atividade de pastor?
4 - O pastor da IURD cumpre carga horária?
5 - O pastor da IURD tem período de férias definido?
6- Há algum critério de promoção quanto ao desenvolvimento da sua atividade
pastoral?
7- Em sua opinião a atividade do pastor evangélico é vocação (voluntário) ou deve
ser reconhecida como profissão?