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ANAIS DO I SEMINÁRIO DE
EPISTEMOLOGIA DA RELIGIÃO
CARATINGA - MG
2019
José Aristides da Silva Gamito (Org.)
ANAIS DO I SEMINÁRIO DE
EPISTEMOLOGIA DA RELIGIÃO
A racionalidade das crenças religiosas
2019
EQUIPE RESPONSÁVEL:
Organização
Prof. Msc. José Aristides da Silva Gamito
Participantes
Graduando em filosofia Bruno Kened Ferreira
Graduando em filosofia Elyvelton Rodrigues Francisco
Prof. Msc. José Aristides da Silva Gamito
Prof. Mndo. Wanderson Fernandes de Oliveira
Dados de Catalogação
Edições
3
I Seminário de Epistemologia da Religião
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
Apresentação......................................................................................................................04
2. Uma abordagem epistemológica da obra "Deus e o Homem" de Pe. Júlio Maria De Lombaerde,
SDN ....................................................................................................................................16
4. As fraturas da vida têm papel importante para a construção do paradoxo da identidade na alteridade
e alteridade na identidade....................................................................................................32
Resumo
O presente trabalho baseia-se em fragmentos de algumas obras de Santo Agostinho
almejando trilhar um itinerário que identifique elementos racionais na crença religiosa, neste caso, a fé
cristã, numa relação de busca do humano para o divino. A discussão trata sobre a relação da busca de
Agostinho pela sabedoriae, por ela, à verdade, com base na relação entre fé e razão e da Teoria da
Iluminação agostiniana.
1.Introdução
Em sua busca pela sabedoria, e desta à verdade, Santo Agostinho trilha um itinerário
interior a Deus, capaz de iluminar o intelecto do ser humano e o fazê-lo conhecer, verdadeiramente.
Por exemplo, em Confissões, percebe-se que sobressai no ser humano uma busca, ou
melhor, uma inquietação, um desejo natural para Deus. Essa busca humana só terminará sua
trajetória, lembra o autor, quando repousar seu coração n'Aquele que o Criou.
Não obstante, esse desejo por Deus, segundo Agostinho, muitas vezes, manifesta-se de
forma implícita, como a busca de fazer o bem e de ser feliz, de alcançar a sabedoria, o conhecimento ou
a verdade e, até mesmo, nos desejos passionais.
Uma vez que Deus colocou no coração do ser humano esse desejo para voltar para Si,
Agostinho utiliza-se do elemento“fé” como conhecimento básico para se chegar à Verdade, a Deus. A
fé é um estimulante, que provoca e impulsiona a razão a buscar as verdades e, assim, a Verdade.
A razão, ou a inteligência, por sua vez, fortifica e concede clareza e entendimento
consciente da fé. Ou seja, pela Doutrina da Iluminação, a filosofia/epistemologia agostiniana
desenvolve os conceitos de ideias eternas, existentes no intelecto de Deus, que podem ser alcançadas
e contempladas pelo exercício racional do pensamento.
Por conseguinte, com a elevação da alma humana, por meio de suas faculdades, o intelecto
é iluminado pela Verdade, ou seja, por Deus, e o ser humano passa a conhecer, de fato. Portanto, por
essa via iluminativa, o ser humano é capaz de conciliar fé e razão e encontra um Intelecto superior ao
dele, em seu itinerário na busca pela verdade, proporcionando uma racionalidade das crenças
religiosas, no caso, a do cristianismo.
*Estudante do Curso de Filosofia no Seminário Diocesano Nossa Senhora do Rosário. Artigo, apresentado à disciplina
Teoria do Conhecimento, orientado pelo Prof.º José Aristides da Silva Gamito. Caratinga – MG, 2019.E-mail:
brunokened@hotmail.com.
2.Pressupostos de Busca
Agostinho, no início das Confissões, deixa claro que algo nítido no ser humano é um desejo
natural de Deus, seja consciente ou inconscientemente. “Fizeste-nos para ti, Senhor, e o nosso
coração está inquieto enquanto não repousar em Ti” (Confissões, p.15). O único que pode dar a
quietude ao homem é Aquele que o criou.
Como explica o professor Joel Gracioso,quem colocou isso no ser humano é o próprio
Deus, pois, pela frase “fizeste-nos para Ti”, afirma-se que a causa eficiente que chamou o ser humanoà
existência, fazendo a passagem do não-ser para o ser, é Deus (GRACIOSO, 2013).
Em outras palavras, o homem não foi criado apenas por Deus, mas para Deus.Nessa
percepção, o para Deus corresponde, na natureza, na essência e na alma do homem,a uma
necessidade inerente em que, segundo Joel, “o ser do humano só se realiza completamente quando
ele volta ao seu princípio originário, portanto, Deus não é só à causa eficiente e primeira; Ele é final”, ou
seja, o Alfa e o Ômega.
Em Confissões, Agostinho usa do “elemento biográfico como uma estratégia literária, não
sobre si mesmo, mas sobre a realidade humana em si” (GRACIOSO, 2013), ou seja, “pensar o
universal a partir do particular”. Exemplo disso, nos primeiros parágrafos do Livro I, ele relata a
realidade de Deus e do homem, do abismo que existe entre essa relação e a inquietude do coração do
ser humano até que ele repouse quando encontrar Deus. O dilema agostiniano consiste:na
necessidade irrenunciável de se buscar a Deus, pois só Ele satisfaz o homem, mas como se dá essa
busca? Ele adentra na discussão entre invocação, conhecimento e louvor, chegandoà conclusão de
que se deve ter conhecimento prévio, partindo do elemento“fé”, para, assim, invocar e louvar a Deus.
Segundo Agostinho, a fé é vista como conhecimento básico. Pormeio dela, faz-se a
invocação. À medida que se invoca, se procura, se encontra, se conhece e, ao passo que se conhece,
se louva. Isso se configura, pois, num dinamismo dialético.
Ademais, o bispo filósofo transforma o termo invocação, visto que invocar, no latim, vem de
invocare – chamar para dentro –, entendendo-se que Deus está fora e o homem O chama para dentro
de si. Se invocar é chamar de fora para dentro, e se Deus é Onipresença e está presente no ser
humano, não tem sentido invocar a Deus.
Assim, diante desse paradoxo, o ato de invocar estaria em invocar a partir de dentro, não de
fora, ou seja, invocar a Deus a partir de sua presença no interior do homem.Como escreve Agostinho:
“Tu estavas mais dentro de mim do que a minha parte mais íntima. E eras superior a tudo o que eu tinha
de mais elevado” (Confissões, p.71), Deus está no mais íntimo do que a intimidade do homem, pois Ele
é anterior e o fundamento último do ser humano. Assim, conclui, deve-se invocara partir dessa
presença interior – Deus.
Mas sua adesão, ou melhor, a conversão à fé cristã, dá-se pela influência de Plotino, do
Bispo Ambrósio e da Sagrada Escritura, e pelas orações de sua mãe, Mônica. Isso vem ao caso, pois
abriu novos horizontes para o próprio modo de pensar de Agostinho. Com descreve Reale: “A fé tornou-
se substância de vida e pensamento e, assim, tornou-se não só o horizonte de sua vida, mas também
de seu pensamento.[...] (que)adquiriu uma nova estrutura e uma nova essência” (REALE, 1990, p.
434). Nesse sentido, pode-se considerar que tenha ele inaugurado uma filosofia-na-fé, filosofia cristã,
antes preparada pelos Padres gregos.
Percebe-se, portanto, que a relação entre fé e razão, na filosofia agostiniana, está
relacionada a convertio(conversão), pois esta é que torna certa a fé, que lhe é concedida em dom de
Deus. A conversão é um acontecimento único, que, por sua essência, é diferente no seu sentido e na
sua eficácia: “consciente de ter sido atingido imediatamente pelo próprio Deus, o homem se transforma
até na corporeidade do seu ser e nos objetos que se coloca”. (REALE,1990,p. 435).
Partindo dessa análise, o elemento fé não elimina e nem supre a inteligência ou a
racionalidade, visto que,sem o pensamento, nãoexistiria a fé. Do mesmo modo, a inteligência não
elimina a fé, mas a fortifica e lhe concedeclareza e entendimento consciente.
Como explica Gracioso,a fé, para Agostinho, não substitui o trabalho da razão, mas a anima,
não a deixando desistir de buscar. A fé é um estimulante que provoca e impulsiona a razão a seguir em
frente, diante as dificuldades como, por exemplo, a discussão da Trindade e a Encarnação do Verbo
(GRACIOSO, 2013).
Por outro lado, a fé ilumina e orienta a razão no modo e na maneira como essa deve buscar a
verdade. Na percepção agostiniana, a razão possui finitude em função do Pecado Original e precisa se
permitir ser orientada e iluminada e, assim, estimulada pela fé, para que continue prosseguindo.
Segundo o filósofo, há questões em que é necessário crer primeiro para depois
compreender, ter o entendimento. Ele não nega o conhecimento, mas vê alguns limites nesse sentido e
que só serão compreendidos depois da morte, no caso, com a Pátria Celeste. Assim, tem-se uma de
suas máximas: “Eu creio para compreender e compreendo para crer melhor” (apud 1CIgC2001,158, p.
52), ou seja, no fundo, há uma busca por compreensão, porém, é necessário o auxílio da fé.
Em resumo, Agostinho, na Trindade, diz que “a fé busca, a inteligência encontra”, ou seja, a
fé e a razão são complementares entre si. Isso o ajudou em seu percurso dialético na busca pela
verdade, assim, por Deus. Partindo da fé, faz-se a invocação. À medida que se invoca e se procura, se
conhece e à medida que se conhece, louva-se o Criador.
Agostinho menciona esse caminho em O Livre Árbitrodizendo: “[...] aquele que contemplou
toda a criação e a apreciou cuidadosamente, se ele seguir o caminho que leva à sabedoria, realmente
verá que está se lhe revela afavelmente por todo o caminho [...]” (apud Soares, 2003, p.43),.
Assim,sobre essa inquietação, explica Soares (2003, p. 44)com as palavras deÉtienne
Gilson: “no pensamento de Agostinho, há “[...] uma espécie de evidência sensível da existência de
Deus. O mundo proclama seu autor e nos reconduz sem cessar a ele, porque a sabedoria divina deixou
sua marca sobre todas as coisas [...]”. E assim, “[...] o caminho que vai dos campos à verdade passa
pelo pensamento; e ainda que ele (o pensamento) parta do mundo exterior, o itinerário normal de uma
prova agostiniana vai então do mundo à alma e da alma a Deus”, como pressuposto à iluminação, sem
a qual não se tem a viabilidade de conhecimento inteligível”.
Essa iluminação é admissível não aos objetos do conhecimento do mundo sensível, mas ao
conhecimento inteligível, seja pelo pensamento (nas ideias de bem, de justiça, de verdade e outras) ou
pela emissão de juízos, que salientam o inteligível, ao indagar sobre o sensível como: “esse homem é
bondoso”. Portanto, é unicamente pelos objetos inteligíveis que se terá a iluminação, sendo esta a
possibilidade de explicação sobre o conhecimento da verdade, ou seja, será pela iluminação que se
...Assim, é preferível acreditar que a natureza da alma intelectiva foicriada de tal modo que,
aplicada ao inteligível segundo sua natureza,e tendo assim disposto o Criador, possa ver esses
conhecimentos emcerta luz incorpórea de sua própria natureza.
...Instigado por esses escritos a retornar a mim mesmo, entrei no íntimode meu coração sob tua
guia e o consegui, porque tu te fizeste em meuauxílio. Entrei, e com os olhos da alma, acima
destes meus olhos eacima da minha própria inteligência, vi uma luz imutável. Não era essaluz
vulgar e evidente a todos com os olhos da carne, ou uma luz maisforte do mesmo gênero. Era
como se brilhasse muito mais clara e tudoabrangesse com sua grandeza. [...] Também não estava
acima de minhamente como o óleo sobre a água nem como o céu sobre a terra, masacima de mim
porque ela me fez, e eu abaixo porque fui feito por ela.Quem conhece a verdade conhece esta luz
e quem a conhececonhece aeternidade.
...Outra coisa no entanto é a luz ela mesma, pela qual a alma éiluminada, porque ela vê tudo aquilo
que ela apreende com verdadepelo intelecto, seja nele mesmo, seja nessa luz. Porque essa luz
de quetratamos agora, é Deus ele mesmo, ao passo que a alma é uma criaturaque, ainda que
feitaracional e intelectual à sua imagem, quando ela seesforça por ver a luzela mesma, se agita
fracamente e malogra; é noentanto de lá que lhe vem tudo o que ela apreende pelo intelecto
comoela o pode fazer. Quando então ela é transportada até lá e, subtraídaaos sentidos carnais,
ela se encontra colocada mais distintamente facea esta vista (não mudando de lugar, mas à sua
maneira), é acima delaque vê essa luz, por meio da qualela vê tudo o que vê nela mesmapelo
intelecto.
A partir desses fragmentos, Soares (2003, p.47) identifica dois pontos essenciais para
entender a doutrina da iluminação, sendo eles: a. “a diferença entre a "luz inteligível", "luz incorpórea",
"luz imutável" e a luz criada do homem, os "olhos da alma", que não é outra que o intelecto mesmo”; b.
“o fato danecessidade de que disponhamos desse intelecto para que possamos conhecera verdade.
5. Considerações finais
Na filosofia agostiniana e, fundamentalmente, na epistemologia que a compõe, é
perceptível que Agostinho começa suas investigações por meio da busca pela sabedoria. À medida que
avança em seu conhecimento, reconhece, como em Confissões, que essa busca tem início, de forma
inconsciente, desde o seio materno; porém, considera que já era, é e sempre será, um desejo em Deus
e de Deus de o ser humano continuar buscando-O e conhecendo-O, até que seu coração repouse
n'Aquele que o Criou.
Para refletir a respeito, O filósofo se baseia nos gregos, de modo particular Platão e Plotino,
tratando de, cuidadosamente, adequar seus pensamentos aos princípios da filosofia cristã,
nomeadamente, com o exnihiloe com a Doutrina da Iluminação. Com esta, o processo de
conhecimento agostiniano culmina na busca pela verdade, logo, por Deus. Para isso, fé e a razão
andam juntas na busca pelas verdades, assim, pela Verdade suprema.
O elemento “fé”, como dom de Deus, é o suplemento da razão, uma vez que, por esta, o ser
humano chega, de forma racional, ao conhecimento prévio de Deus, com clareza e intelecção
consciente. Assim, essas duas bases para o conhecimento inteligível e das Ideias eternas são
complementares entre si.
Agostinho inicia seu itinerário pelas coisas sensíveis, que induz sensação pelas
faculdades da alma. Esta possui em si critérios legítimos e modelos de coisas existentes no intelecto de
REFERÊNCIAS
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 11ª ed., julho de 2001. São Paulo: Edição típica Vaticana,
Loyola, 1999.
SOARES, Lucia Maria Mac Dowell Soares. Verdade, Iluminação e Trindade: o processo da
interioridade em Santo Agostinho.Cap. 3. A doutrina da iluminação. Arquivo PUC-Rio,
Catalogação: 26/09/2003 Idioma(s): PORTUGUÊS – BRASIL. Disponível em:
<https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/3945/3945_4.PDF>. Acesso em: 21 de jun. 2019, às 16:03:14.
Arquivo em PDF.
REALE, Geovanni. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. Vol. I, 5ª ed. São Paulo:
Paulus, 1990.
Resumo
Em sua obra “Deus e o Homem – Noções de alta teologia popularizada, sobre
Deus, o homem e as relações entre ambos”, Pe. Júlio Maria dedica os dois primeiros
capítulos a argumentações teológicas e filosóficas acerca da existência de Deus.
Neste artigo, apresentá-lo-emos com uma introdução, na qual se aborda o conceito de epistemologia; em
seguida, um sucinto esboço relativo ao senso religioso, e, por último, uma leitura epistemológica do “Deus e
o Homem.”
Introdução
Por meio do seu intelecto e de sua racionalidade, o homem aprende, conhece, contempla e
ensina inúmeros aspectos existentes neste vasto e quase infinito universo. As perguntas levantadas
pelo ser humano durante, praticamente toda a história da humanidade, como, por exemplo, pela
origem das coisas em si, pela existência ou não de um Ser supremo que tudo fez e organizou, pela
existência da eternidade, o porquê do mal etc; todas essas indagações apontam para um abismo que
existe entre o ser humano e os demais animais, ou seja, a capacidade de questionar denota uma
habilidade que não se encontra na natureza, a não ser no homem.
A partir dessas e de outras questões, o homem passa a adquirir e a produzir conhecimento.
Mas, o que realmente vem a ser o conhecimento? Para termos algumas respostas técnicas, auxiliar-
nos-emos de pelo menos duas formulações oriundas de alguns dicionários de filosofia.
“Epistemologia do grego epistêmê: conhecimento. Algumas de suas questões centrais
são: a origem do conhecimento; o lugar da experiência e da razão na gênese do conhecimento; a
relação entre o conhecimento e a certeza, e entre o conhecimento e a impossibilidade do erro.”1
“Epistemologia (do gr. episteme: ciência, e logos: teoria) Disciplina que toma as ciências
como objeto de investigação.”2
Ora, analisar e investigar como surge o conhecimento e de como se dá a inclinação humana
para aprender e ensinar, são os pressupostos para que o ser humano possa saber que conhece algo. A
própria tendência de desejar saber como conhecer as coisas, já demonstra que o homem tem uma
predisposição para conhecer. A tendência gera o ato de investigar, a averiguação; por conseguinte,
origina-se conhecimento.
Sendo assim, essa inquirição humana pode ser objeto de aplicabilidade no senso religioso? O
*Formado em geografia pela faculdade FAFILE-UEMG, em Carangola-MG, 2012. Atualmente, é graduando do 3º ano
em filosofia no Instituto Teológico e Filosófico de Caratinga – ITEOFIC, que corresponde ao Seminário Diocesano
Nossa Senhora do Rosário, Caratinga-MG.
1 BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Editor: Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1997, p.118-119.
2 JAPIASSÚ, Hilton. MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Editor: Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 2001, P. 63.
3 NIETZSCHE, Friedrich. A Guaia Ciência. Trad: Antonio Carlos Braga. Ed: Escala, São Paulo. Aforismo 125, p. 129.
4 CARRÓN, Julián. O Senso Religioso, Verificação da Fé, p. 1.
5 Idem, p. 8.
6 Idem, p. 8.
7 Idem, p. 8.
8 Idem, p. 10.
15 Idem, p. 25-26.
*Papa Pio IX (1792-1878), foi justamente o papa que conduziu o Concílio Vaticano I (1869-1870), o qual promulgou a Constituição
Dogmática Dei Filius. Nesta condena-se o racionalismo, o materialismo, o panteísmo, o ateísmo e o fideísmo.
16 LOMBAERDE, Pe. Júlio Maria. Deus e o Homem, p, 26.
17Idem, p. 27.
18 Idem, p. 28-29.
19 Idem, p. 33.
20 Idem, p. 37.
21 Idem, p. 42.
22 Idem, p. 46.
Considerações finais
É a existência ou não de Deus que faz com que brote, no interior, na razão, no coração do
homem, as mais profundas, as mais insondáveis perguntas e reflexões da realidade e vitalidade do
ser humano.
Para muitos homens, Deus não passa de uma invenção humana, de um mito, de uma
projeção;28 Deus seria aqui um interesse, uma ideologia a mais. Deus é fábulas para alguns e é
negado por outros, seja por motivos morais, políticos, existenciais ou, até mesmo, religiosos. Ao
contrário, Pe. Júlio, em sua obra, traçou, sistematicamente, argumentos racionais e religiosos, para
demonstrar aos céticos e ateus de sua época, o quão irracional é o universo e o microcosmo
(LOMBAERDE, p. 53) sem um intelecto criador.
É vero que a obra “Deus e o Homem” é de teor teológico, mas como vimos, existem elementos
suficientes para apontarmos aspectos de uma epistemologia no pensamento do Pe. Júlio Maria.
Afinal, ele foi fidedigno e eterno aprendiz de seu devotado professor Santo Tomás de Aquino. Este
disse:
“O filósofo deduz os seu argumentos partindo das próprias causas das coisas; o fiel,
porém, da causa primeira, mostrando que assim é porque foi revelado por Deus ou porque
redunda na glória de Deus ou porque a glória de Deus é infinita.”29
Há, portanto, no pensamento de Pe. Júlio, assim como há em Tomás, a indissolubilidade entre
razão e fé, filosofia e teologia. Pe. Júlio lança primeiramente um olhar para Deus, somente depois,
para o homem e para o mundo. Apliquemos as palavras que Giovanni Reale direcionou a Tomás
ao Pe. Júlio. Penhora Reale: “o objeto primário de suas reflexões é Deus, não o homem ou o
mundo. Somente no contexto da revelação é que se torna possível um correto discurso sobre
o homem e o mundo.”30
23 Idem, p. 49.
24 Idem, p. 46.
25 Idem, p. 51-52.
*É um mito acerca da serpente que devora, perpetuamente, a sua própria cauda.
26 Idem, p. 69.
Referências bibliográficas
AQUINO, Tomás. Suma Contra os Gentios. Vol. I, p. 175.
BENTO XVI, papa emérito. A Oração: Oração e Sentido Religioso Paulus. 2018, p. 13-14.
BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Editor: Jorge Zahar, Rio de Janeiro,
1997, p.118-119.
FRANKL, Viktor E. A Busca de Deus e Questionamentos Sobre o Sentido. Vozes. 2014, p. 59.
JAPIASSÚ, Hilton. MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Editor: Jorge Zahar,
Rio de Janeiro, 2001, P. 63.
LIMA VAZ, Henrique C. Problemas de Fronteira. Escritos de Filosofia I. Ed. Loyola, 2002, p. 70.
NIETZSCHE, Friedrich. A Guaia Ciência. Trad: Antonio Carlos Braga. Ed: Escala, São Paulo.
Aforismo 125, p. 129
27 Idem, p. 75.
28 REALE, Giovanni. História da Filosofia – Do Romantismo ao Empiriocriticismo. Vol. 5. Paulus, 2005, p. 157.
29 AQUINO, Tomás. Suma Contra os Gentios. Vol. I, p. 175.
30 REALE, Giovanni. História da Filosofia. Vol. I, 1990, p. 554.
31 MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia. Zahar, 2014, p. 132.
32 BÍBLIA DE JERUSALÉM. Epístola aos Romanos 1, 19-20. Paulus, 2017, p. 1967.
33 LIMA VAZ, Henrique C. Problemas de Fronteira. Escritos de Filosofia I. Ed. Loyola, 2002, p. 70.
Abstract
Discussions about the rationality of faith gained new relevance with the advent of Reformed Epistemology. Alvin
Plantinga, the main epistemologist of this school, argues that there is a special human faculty for producing
religious beliefs. The recent contribution of the Cognitive Sciences of Religion (CSR) highlights other data from
the process, demonstrating the biological basis of belief production. Their currents can provide theoretical data
for a model of understanding of the rationality of faith.
1. Introdução
2. O status da questão
5 OLIVEIRA, Rogel Esteves. A racionalidade da crença religiosa, um mapa do debate filosófico atual. Revista Batista Pioneira, v.
2, n. 2, 2013, p. 265-288.
6 MCALLISTER; DOUGHERTY, 2018, p. 1-38.
7 MCALLISTER; DOUGHERTY, 2018, p. 1-38.
8 JÄGER, Christoph. Religious experience and epistemic justification: Alston on the reliability of mystical perception. In:
MOULINES, Carlos Ulises; NIEBERGALL, Karl-Georg (ed.). Argument und Analyse. mentis. 2003, p. 403-423.
A racionalidade das crenças religiosas 27
I Seminário de Epistemologia da Religião
As Ciências Cognitivas da Religião partem dos pressupostos de que os conceitos religiosos devem ser
investigados a partir das mesmas restrições e dos mesmos procedimentos dos demais conceitos. Esses conceitos
não constituem um domínio específico.11 Os defensores do sensus divinitatis explicam a presença de crenças
religiosas em todas as culturas dizendo que há uma faculdade na mente humana específica para a produção delas.
Neste caso, os cognitivistas buscam nos mecanismos da evolução pistas para compreender a universalidade deste
fenômeno. É um tratamento natural e não excepcional.
De acordo com esta abordagem, o sistema cognitivo humano desenvolveu-se por seleção natural. As
funções cognitivas adaptativas têm sido utilizadas pelas Ciências Cognitivas da Religião para explicar a presença
de crenças religiosas na pluralidade das culturas. Há uma crença primária que pode ser observada em vários
povos que é a crença em agentes sobre-humanos.Esta crença está no fundamento da produção das demais crenças
religiosas. Ela se desenvolveu a partir de um comportamento natural do ser humano.
A contribuição para entender este fenômeno vem da psicologia evolutiva. Algumas funções cognitivas
originais podem ser adaptadas para outras finalidades gerando um subproduto. Apresentaremos três propostas
gerais: a) a do Dispositivo de Agência Hiperativa (DDAH) de Justin Barrett e de Scott Atran e Aran Norenzayan;
b) dos conceitos minimamente contraintuitivos de Pascal Boyer e de Charles Ramble, c) e da tendência animista
e antropomórfica de Stewart Guthrie. Este último pode classificado também como uma forma de DDAH.
Justin Barrett cunhou o termo Dispositivo de Detecção de Agência Hiperativa (DDAH) para designar
uma função cognitiva humana. Para Barrett, a maioria das pessoas acredita em agentes sobrenaturais a partir do
desenvolvimento deste dispositivo.12 O nosso dispositivo cognitivo da detecção de agentes na natureza sofre de
uma hiperatividade, que o faz tender a encontrar agentes ao nosso redor. Eles são desenvolvidos a partir da
percepção de um barulho à noite, de objetos que se movem sozinho, de vestígios nas plantações. A resposta a
estas percepções é a detecção de um super-agente que foi tomada na forma de um gnomo, espírito ou de um
deus.13
Para Scott Atran e Aran Norenzayan, as crenças religiosas se originaram a partir da detecção de agentes
contraintuitivos ou contrafactuais. Eles denominam o DDAH de Sistema de Detecção de Agência (SDA). De
modo similar ao DDAH, SDA funciona a partir da atribuição de super-agentes a percepções de rostos nas nuvens,
de pontos se movendo, das formas geométricas na natureza e plantas sendo movimentadas pelo vento. As
emoções e atribuições das pessoas diante destes fatos geram a crença em agentes sobre-humanos.14
Pascal Boyer e Charles Ramble consideram que o conhecimento religioso é formado por conceitos com
violações de expectativas. São crenças em espíritos que atravessam os corpos sólidos e estão presentes
simultaneamente em dois lugares. Há alterações do ciclo da vida como seres eternos, virgens-mães,
ressurreições. Há violação da noção de tempo com a previsão de fatos futuros. Ou a animação de estátuas que
ganham poderes de ouvir preces.15
A violação das propriedades físicas envolve a rupturas das leis naturais, da gravidade, da propriedade dos
sólidos, do ciclo da vida. Há a formação de crenças em seres invisíveis, que atravessam paredes, aparecem e
desaparecem, conhecem o futuro e alteram as relações de causa e efeito. Os milagres são quebras de expectativa,
nas quais a relação de causa e efeito é alterada. A toxina das cobras danifica os tecidos e provoca a morte de um
homem. Mas quem recorre a um ritual xamânico para salvar alguém de picada de cobras considera que esta
9 SILVEIRA, Rodrigo Rocha. Práticas doxásticas, experiência mística e crenças originárias: um problema na epistemologia de
William Alston. Fundamento - Revista de Pesquisa em Filosofia, n. 13, 2016, p. 95-105.
10 SILVEIRA, 2016, p. 95-105.
11 BOYER, Pascal, RAMBLE, Charles.Cognitive Templates for Religious Concepts. Cognitive Science, v. 25, n. 4, p. 535-564,
2001.
01
–
A Epistemologia da Religião e as Ciências Cognitivas da Religião fornecem princípios teóricos para uma
compreensão geral da produção de crenças religiosas. A sustentação de uma faculdade específica para o
conhecimento de Deus não é viável. Os diferentes tipos de conhecimento que temos não possuem faculdades
específicas, a não ser aquelas fontes comuns a todo o processo cognitivo. A percepção, a intuição e a razão atuam
conjuntamente na produção de crenças religiosas.
A percepção é quem capta as entradas de circunstâncias passíveis de produzir crenças religiosas (Alston).
A experiência é fonte dessas crenças. A detecção de agentes na natureza, a percepção de rostos na nuvem, a
atribuição de intencionalidade, a observação de comportamentos contraintuitivos e contrafactuais (Boyer,
Barrett, Norenzayan), o assombro diante da grandeza arrebatadora e a grandeza destruidora da natureza
(Plantinga), funcionam como entradas (inputs) de experiências que sãoconvertidas em conceitos como a crença
em agentes invisíveis e sobre-natureza.
Os conceitos contraintuitivos e contrafactuais geram, por sua vez, com o auxílio da imaginação e da razão
17 LISDORF, 2007, p. 341-353.
18 MCALLISTER; DOUGHERTY, 2018, p. 1-38.
19 MCALLISTER; DOUGHERTY, 2018, p. 1-38.
5. Considerações finais
Referências
BOYER, Pascal, RAMBLE, Charles. Cognitive Templates for Religious Concepts. Cognitive Science, v. 25, n.
4, p. 535-564, 2001.
DOUGHERTY, Trent; TWEEDT, Chris. Religious Epistemology. Philosophy Compass, 10 (8), p. 547-559,
2015.
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.
Abstract
This paper approaches the concept of alterity from Lévinas, applying it to the recovering of
identity of afro-brazilian people. The colonial domain causes many cultural loss for this people, the religion is
one.
Key-words:Identityfractured. Alterity. Afro-brazilian culture.
O Ser Humano, desde sempre, deparou-se com realidades inconstantes e perenes, fruto desejoso de
construir um conhecimento, uma forma de vivência identitária, diferenciando e estabelecendo suas vontades
diferentemente de outros, seja por uma influência coletiva ou individual.
A edificação da construção da identidade implica em definir quem a pessoa é, quais são seus valores e
quais as direções que deseja seguir pela vida. Para Erik Erikson, a identidade é uma concepção de si mesmo,
composta de valores, crenças e metas com os quais o indivíduo está solidamente comprometido. A sua formação
receberia influência de fatores:
As culturas de matriz africana lutaram muito para se aproximar do mesmo reconhecimento que a matriz
europeia possuía. Os africanos sofreram com inúmeras fraturas culturais. Subtraídos nos seus conhecimentos, na
culinária, arte, religião, identidade, seus hábitos e costumes, não cederam, lutaram por mais de 300 anos contra a
escravidão, e a favor da valorização pessoal e cultural. O sangue e as lágrimas de muitos serviram de força e
audácia para superação e reconstituição da fratura identitária. A cada ano que passa, mais força ganham,
principalmente com os movimentos negros, que já atingem as principais regiões do país.
Não podemos deixar que uma cultura sobreponha a outra, como destaca Mello e Souza:
A “cultura africana” está presente em vários segmentos de nossa sociedade e, pela falta de uma abordagem
mais realista, muitas pessoas desconhecem estes fatores. Esta cultura está inserida na linguagem, comidas,
músicas, religiões, entre outros. Reconhecer a “cultura afro” como elemento importante de nossa cultura e
sociedade é reconhecer a nossa própria história, uma vez que se encontram interligados com a construção
do Brasil.2
O dicionarista de filosofia Abbagnano 3 traz o conceito de alteridade como: “Ser outro, pôr-se ou
constituir-se como outro”. Nesta ótica de ver-se para o outro, sendo capaz de se construir para o outro, donde
Referências
CUNHA JUNIOR, Henrique. A história africana e os elementos básicos para o seu ensino. Núcleo de Estudos
Negros (NEN) Florianópolis - SC, 1997.
5 Entre 2012 e 2016, enquanto a população brasileira cresceu 3,4%, chegando a 205,5 milhões, o número dos que se declaravam
brancos teve uma redução de 1,8%, totalizando 90,9 milhões. Já o número de pardos autodeclarados cresceu 6,6% e o de pretos,
14,9%, chegando a 95,9 milhões e 16,8 milhões, respectivamente. É o que mostram os dados sobre moradores da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios, divulgados pelo IBGE. Acessado 06/02/2019.
6 CUNHA JUNIOR, Henrique. A história africana e os elementos básicos para o seu ensino. Núcleo de Estudos Negros (NEN)
Florianópolis - SC, 1997, p.67.
7 LÉVINAS, Emmanuel. Entre Nós. Ensaios sobre alteridade. Petrópolis-RJ: Vozes, 2005, p.294.
A racionalidade das crenças religiosas 33
I Seminário de Epistemologia da Religião
COMUNICADORES DO I
SEMINÁRIO DE EPISTEMOLOGIA DA RELIGIÃO
Lombaerde, 1934, p. 9.
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