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Maurício Guimarães Goulart

Apenas uma fotografia na parede:


caminhos da preservação do patrimônio
em Uberlândia (MG)
Maurício Guimarães Goulart

Apenas uma fotografia na parede:


caminhos da preservação do patrimônio em Uberlândia (MG)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação


em Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília,
como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em
Arquitetura e Urbanismo.
Área de concentração: Arquitetura e Urbanismo
Linha de pesquisa: Planejamento e desenho urbano
Orientador: Prof. Dr. Benny Schvasberg
Universidade de Brasília

Brasília
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB
2006
Dissertação defendida e aprovada, em 31 de março de 2006, pela banca
examinadora constituída pelos professores:

____________________________________________________
Prof. Dr. Benny Schvasberg
Orientador
FAU/ UnB

____________________________________________________
Prof. Dr. Andrey Rosenthal Schlee
FAU/ UnB

____________________________________________________
Prof. Dr. Leonardo Barci Castriota
Escola de Arquitetura/ UFMG
Para Gigliola,
o melhor presente que Uberlândia me deu.
Agradecimentos

Este trabalho contou com o auxílio de diversas pessoas, com as quais minha dívida
de gratidão fica aqui registrada. Devo agradecê-las pelo desprendimento e pelo empenho
que demonstraram ao colaborar com esta pesquisa. Sem elas a dissertação simplesmente
não existiria tal como o leitor a tem em mãos, e o percurso de fazê-la teria sido muito
mais penoso.

A Benny Schvasberg, meu orientador, que muito contribuiu com experiência,


competência, lucidez e pragmatismo, sempre conhecedor do caminho a percorrer e dos
resultados a alcançar, além de zeloso da qualidade do trabalho. Obrigado pelo estímulo e
pela confiança que depositou em mim desde o início.
Ao professor Andrey Schlee, pelas valiosas sugestões e pela fineza com que as fez, na
etapa intermediária deste estudo, além da disposição de participar também da avaliação
final.
Ao professor Leonardo Castriota, com quem é bom poder contar em mais esta etapa,
expresso meu respeito de ex-aluno.
À professora Albertina Schürmann, pela generosidade de participar como suplente da
banca examinadora. Ao professor Antônio Carlos Cabral Carpintero, pela leitura minuciosa
do projeto de pesquisa e pela participação na avaliação intermediária.
A Fábio Leite e Luciano Pena, que me abriram as portas da Divisão de Memória e
Patrimônio Histórico (DPH) da Secretaria de Cultura de Uberlândia, naquele belo prédio
do Museu Municipal, fornecendo tudo o que havia em informações para a pesquisa,
demonstrando simpatia, atenção, disponibilidade e compromisso com o trabalho.
A Beatriz Melo, pela enorme disposição e interesse em colaborar, franqueando acesso aos
arquivos do COMPHAC. A Ana Maria, pelos demais dados recolhidos naquela Secretaria.
Às pessoas com quem conversei acerca da valiosa contribuição que deram para a causa
do patrimônio cultural em nossa cidade: Paulo de Freitas, Olguinha (Olga Helena da
Costa) e também Fábio Leite.
A Roberto Andrade, que com grandes simpatia e desprendimento, trouxe para mim, além
da agradável conversa, um calhamaço de informações sobre o tombamento da “Igrejinha
da Lina”. Por meio dele, agradeço também aos professores Maria Elisa Guerra, Marília
Vale e Lu de Laurentiz, da Faculdade de Arquitetura da UFU, pelo material abundante
com que me muniram para escrever parte deste texto. A Edmar de Almeida, por ter me
recebido em sua casa, permitindo-me desfrutar de sua boa conversa. Todos entenderam
minha urgência, condição que coloquei de maneira unilateral, embora involuntária.
À professora Marlene Colesanti, do Instituto de Geografia da UFU, pela generosa leitura
do texto apresentado para a seleção no Mestrado.
A Denise Attux, pelo empréstimo de sua dissertação, importante contribuição para um
tema ainda pouco estudado da gestão municipal.
Ao Arquivo do CDHIS/ UFU, na pessoa do sr. Velson, pelo franco acesso às fotografias do
acervo.
A Junior e João Borges, funcionários da Pós-Graduação da FAU/ UnB, sempre solícitos e
solidários, pela pronta resposta a tudo que precisei.
À CAPES e ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de Brasília (UnB), pela oportunidade e pelo estímulo material concedido a esta pesquisa.
No IEPHA, sou grato à minha amiga Rosinha (Rosana Marques), além de Marília Rangel e
Jorge Askar, pelo auxílio que não pode ser medido e pelo interesse que demonstraram na
proposta de investigação. Não deixaria de mencionar os funcionários da Biblioteca do
Instituto, pelo atendimento eficiente.
À Jô (Joseana Costa), que uniu a solidariedade, nunca sonegada aos amigos, à
competência profissional, nas sugestões e emendas ao texto. A Viviane Corrado, para
quem a Jô “terceirizou” um dos favores que eu abusadamente lhe pedi, agradeço pela
generosidade.
A Patrícia Reis, pela competência e precisão dos comentários feitos ao texto, além de ter
dado ouvidos às minhas angústias estudantis e profissionais.
A George e Beatrice, que caminharam comigo nestes anos de universidade nova – para
mim, pois eles já eram “de casa” – pela amizade e companheirismo, bons frutos do
encontro que este trabalho proporcionou.
Aos amigos do Monumenta e da Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Distrito
Federal, que me acolheram tão bem, fazendo com que eu me sentisse em casa nesta
nova cidade em que escolhi viver. Para não cometer injustiças, deixo que se reconheçam
neste agradecimento.
Às professoras Jupira Mendonça e Fernanda Borges de Moraes, sem as quais eu não
poderia ter sonhado tanto, serei sempre grato pelas oportunidades e pela confiança
naquele aluno falante e crítico a tudo. Fico feliz por poder mostrar às amigas Jupira e
Fernanda que aquele menino cresceu – ou pelo menos tentou parecer mais maduro...
A Francine e Dudu, pela força e pelos “galhos quebrados”.
A Bianca e José Flávio, pelas pequenas grandes ajudas nos últimos momentos.
À Ju (Juliana Penna), pelas palavras de estímulo e pelo insubstituível “apoio moral”.
Ao Chico (Francisco Leitão), pela singela e desprendida ajuda, nas sugestões ao resumo
em inglês, feito pela Lela.
Pela boa convivência na “república”, ao companheirão Ílvio.
Pela hospedagem e pelo incentivo incondicional, ao amigo Daniel, extensivo a seus pais,
Ana Maria e Cláudio.
Pela acolhida em Brasília, pela força e presença constantes, agradeço a Luiza.
Ao Cristiano – um grande amigo é um irmão que a gente escolhe, e esse irmão está
sempre com as palavras e atitudes certas, para me tirar das situações e pensamentos
errados... Obrigado por tudo, minha gratidão é muito maior do que eu descreveria!
A Gigliola (Dili), pela doçura, amor e compreensão ilimitados.
Às minhas irmãs, Nanda e Lela, pelo apoio permanente. A Lela agradeço ainda pelo
resumo em inglês.
À minha mãe, Eliane, e ao meu pai, Flávio, pelos sólidos exemplos de correção, seriedade,
competência e solidariedade, para a vida inteira... e por nunca terem deixado de acreditar
em mim.
Ao meu tio João Maurício, pela inspiração desde a infância.

Todos vocês estão em cada pedacinho destas páginas!


“Desde quando é de boa ética matar gente velha que estorva o caminho?
Estou de acordo com o tombamento solicitado.”
Lucio Costa, diretor de Estudos e Tombamento do IPHAN, sobre a Igreja
do Bom Jesus dos Martírios, no Recife (PE), ameaçada de demolição para
abertura de uma avenida, em junho de 1972 (COSTA, 2004: 271).
Sumário

Lista de tabelas ............................................................................... 9

Lista de gráficos .............................................................................. 11

Lista de figuras (fotografias e mapas) ............................................... 12

Lista de abreviaturas e siglas ............................................................ 15

Lista de notações ............................................................................. 17

Resumo .......................................................................................... 18

Abstract .......................................................................................... 19

Introdução ................................................................................. 20

Capítulo 1 Referencial teórico-conceitual ................................................... 25

1.1. Antecedentes ............................................................................ 26

1.2. O conceito de patrimônio cultural na legislação ........................... 29

1.3. O conceito de patrimônio cultural hoje ....................................... 34

1.4. Políticas públicas, Estado e mercado: pontos convergentes entre


as contribuições de Fonseca, Przeworsky e Vainer ...................... 36

1.5. Políticas de proteção do patrimônio: a contribuição de Canclini .... 43

1.6. Quadro sintético dos referenciais utilizados ................................. 47

Capítulo 2 Gestão do patrimônio cultural em Minas Gerais ....................... 48

2.1. A atuação do IEPHA-MG até 1990 .............................................. 50

2.2. A atuação do IEPHA-MG após 1990:


as Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000 (Lei “Robin
Hood”); o Programa de municipalização da gestão do patrimônio
cultural de Minas Gerais ............................................................ 56

2.3. A gestão do patrimônio cultural em Minas Gerais antes e depois


do ICMS Patrimônio Cultural ...................................................... 70

Capítulo 3 Gestão do patrimônio cultural em Uberlândia (1985-2005) ..... 80

3.1. Antecedentes ........................................................................... 83

3.2. A gestão municipal do patrimônio cultural: aparato institucional e


normativo ................................................................................ 105
3.2.1. A Lei municipal de patrimônio histórico (Lei 4.240/ 1985) .. 105

3.2.2. A primeira Lei de uso e ocupação do solo (Lei 5.013/ 1989) 122
3.2.3. Plano Diretor de 1994 e Leis de uso e ocupação do solo
subseqüentes (Leis Complementares 224/1999 e 245/2000) 131
3.3. O Conselho Municipal de Patrimônio Histórico (COMPHAC) ........... 143
3.3.1. Atuação do COMPHAC: 1ª fase (1987-1989) ..................... 143
3.3.2. Atuação do COMPHAC: 2ª fase (2000-2005) ..................... 150
3.3.3. Atuação do COMPHAC: uma síntese ................................. 158

3.4. A preservação do patrimônio cultural a partir da década de 1990 160

3.4.1. O tombamento da Igreja Divino Espírito Santo .................. 161


3.4.2. O impacto do ICMS Patrimônio Cultural ............................ 168

3.4.3. O tombamento do Cine Regente ...................................... 178

3.5. O patrimônio em Uberlândia hoje ............................................... 181


3.6. Avanços e recuos da gestão municipal do patrimônio cultural ....... 186
Capítulo 4 Considerações finais .................................................................. 197

4.1. Indicações em prol da preservação do patrimônio cultural de


Uberlândia ............................................................................... 201
Referências ................................................................................ 209

Referências bibliográficas ................................................................. 210

Referências legislativas .................................................................... 214

Anexos ....................................................................................... 216

Anexo 1 Cronologia ...................................................................................... 217

Anexo 2 Inventários dos bens imóveis tombados ............................................ 221

Casa da Cultura ........................................................................ 222


Conjunto D. Domingas Camin Gazelli ......................................... 226
Escola Estadual Uberlândia (“Museu”) ........................................ 231
Igreja Espírito Santo do Cerrado ................................................ 234
Igreja Nossa Senhora do Rosário ............................................... 238
Igreja Nossa Senhora do Rosário de Miraporanga ....................... 242
Mercado Municipal .................................................................... 245
Oficina Cultural ........................................................................ 248
Praça Clarimundo Carneiro ........................................................ 252
Praça Clarimundo Carneiro – Palácio dos Leões, Museu Municipal 255
Praça Clarimundo Carneiro – Coreto .......................................... 258
Praça Tubal Vilela ..................................................................... 260
Residência Chacur .................................................................... 264
Anexo 3 Lei Estadual 13.803, de 27 de dezembro de 2000 .............................. 267

Anexo 4 Deliberação Normativa do Conselho Curador do IEPHA/MG n.º


01/2004, revista em 20 de dezembro de 2004 ................................... 275
Lista de tabelas

Tabela 1 Principais autores, debatedores e conceitos utilizados ........................... 47


Tabela 2 Bens imóveis tombados em nível estadual, por região e data (ano), de
1975 a 1989 ...................................................................................... 51
Tabela 3 Situação dos municípios com os maiores repasses de ICMS na vigência
da Lei 12.040/ 1995, comparada com repasses sem a mesma lei
(situação hipotética) .......................................................................... 59
Tabela 4 Critérios de distribuição da cota-parte dos municípios no produto da
arrecadação do ICMS, desde 1996, conforme Anexo I da Lei Estadual
12.040/ 1995 e Anexo I da Lei Estadual 13.803/ 2000 (em % do
produto arrecadado) .......................................................................... 62
Tabela 5 Índice de Patrimônio Cultural – PPC, conforme Anexo III da Lei Estadual
12.040/ 1995 e Anexo III da Lei Estadual 13.803/ 2000 ....................... 63
Tabela 6 Normas relativas à documentação exigida para cálculo do Índice de
Patrimônio Cultural – PPC, de 1996 a 2005 .......................................... 63
Tabela 7 Evolução dos critérios de avaliação do Índice de Patrimônio Cultural –
PPC, para o atributo bens tombados e de interesse de preservação pelo
município, entre 1996 e 2005 ............................................................. 66
Tabela 8 Evolução dos critérios de avaliação do Índice de Patrimônio Cultural –
PPC, para o atributo planejamento e política municipal de proteção do
patrimônio cultural, entre 1996 e 2005 ................................................ 67
Tabela 9 Informações sobre recursos repassados aos municípios pelo ICMS
Patrimônio Cultural, de 1996 a 2004 ................................................... 70
Tabela 10 Distribuição da pontuação por região, na avaliação do ICMS Patrimônio
Cultural, de 1996 a 2005 .................................................................... 72
Tabela 11 Pontuação dos 12 municípios com melhor avaliação no ICMS Patrimônio
Cultural, de 1996 a 2005 .................................................................... 73
Tabela 12 Evolução das populações urbana e rural de Uberlândia, MG (1950-2000) 81
Tabela 13 Bens tombados pelo município, Uberlândia, MG (até junho de 2005) ..... 108
Tabela 14 Lei Municipal 5.013/ 1989: usos, taxa de ocupação e coeficiente de
aproveitamento permitidos na região correspondente ao Fundinho ........
125
Tabela 15 Construções com gabaritos acima de dois pavimentos no Fundinho ....... 127
Tabela 16 Lei Complementar 245/ 2000: usos, taxa de ocupação e coeficiente de
aproveitamento permitidos no Fundinho (zona especial de revitalização) 141
Tabela 17 Comparação entre as Zonas 5, 7C (Lei 5.013/ 1989) e ZER (Lei
Complementar 245/ 2000): usos, taxa de ocupação e coeficiente de
aproveitamento permitidos no Fundinho .............................................. 142
Tabela 18 Periodicidade das reuniões do COMPHAC (1987-1989) .......................... 144
Tabela 19 Periodicidade das reuniões do COMPHAC (2000-2005) .......................... 151
Tabela 20 Processos de tombamento aprovados pelo COMPHAC (até março de
2005) ............................................................................................... 152
Tabela 21 Processo de tombamento rejeitado pelo COMPHAC (até março de 2005) 154
Tabela 22 Bens tombados pelo estado, Uberlândia, MG (até junho de 2005) ......... 162
Tabela 23 Atributos pontuados na avaliação do Índice de Patrimônio Cultural
(PPC), Uberlândia, MG, entre 1996 e 2005 ........................................... 170
Tabela 24 Recursos repassados ao município de Uberlândia, por ano, por meio do
programa ICMS Patrimônio Cultural (1997-2005) ................................. 172
Tabela 25 Conjuntos urbanos estruturadores e imóveis indicados para
tombamento integral pelo Inventário de configuração do espaço urbano
do Fundinho (Vale et alii, 2004b) ........................................................ 175
Tabela 26 Bens em processo de tombamento pelo município, Uberlândia, MG (até
junho de 2005) .................................................................................. 181
Lista de gráficos

Gráfico 1 Bens imóveis tombados em nível estadual, por região, de 1975 a 1989 53
Gráfico 2 Estruturas arquitetônicas e urbanísticas inventariadas, por região, desde
1984 ................................................................................................. 54
Gráfico 3 Evolução dos valores médios por município (em reais), no ICMS
Patrimônio Cultural, de 1996 a 2004 ................................................... 70
Gráfico 4 Evolução da pontuação média por município, no ICMS Patrimônio
Cultural, de 1996 a 2004 .................................................................... 71
Gráfico 5 Proporção de pontos por região, na avaliação do ICMS Patrimônio
Cultural, de 1996 a 2005 .................................................................... 73
Gráfico 6 Bens imóveis tombados em nível estadual, por região, de 1995 a 2002 75
Gráfico 7 Bens imóveis tombados em nível estadual, por região (comparação
entre períodos 1975-1994 e 1995-2002) .............................................. 75
Gráfico 8 Situação dos conselhos municipais de patrimônio cultural, segundo
avaliação do IEPHA (2004) ................................................................. 76
Gráfico 9 Situação dos órgãos e setores municipais responsáveis pelo patrimônio
cultural, segundo avaliação do IEPHA (2004) ....................................... 77
Gráfico 10 Pontuação do município de Uberlândia no programa ICMS Patrimônio
Cultural (1996-2005) .......................................................................... 171
Gráfico 11 Recursos repassados ao município de Uberlândia, por ano, por meio do
programa ICMS Patrimônio Cultural (1997-2005) ................................. 171
Lista de figuras

Figura 1 Regiões de planejamento do estado de Minas Gerais ............................ 52


Figura 2 Uberlândia: Fundinho e Praça Clarimundo Carneiro (primeiro plano);
Centro (segundo plano), nos anos 40 .................................................. 84
Figura 3 Avenida Afonso Pena (década de 1940) ............................................... 85
Figura 4 Avenida João Pinheiro (década de 1940) ............................................. 85
Figura 5 Avenida João Pinheiro (sem data) ....................................................... 85
Figura 6 Articulação dos mapas referentes à área central de Uberlândia ............. 86
Figura 7 Sistema viário da cidade de Uberlândia, MG (1915) .............................. 87
Figura 8 Praça da Independência, atual Praça Coronel Carneiro, com torres da
Igreja Matriz ao fundo (1929) ............................................................. 91
Figura 9 Praça Adolfo Fonseca, com Ginásio Mineiro (atual Escola Estadual de
Uberlândia) ao fundo (1940) ............................................................... 91
Figura 10 Antiga Prefeitura e Câmara Municipal (atual Museu Municipal), na Praça
Clarimundo Carneiro (sem data) ......................................................... 92
Figura 11 Antiga Prefeitura e Câmara Municipal (atual Museu Municipal), na Praça
Clarimundo Carneiro (sem data) ......................................................... 92
Figura 12 Museu Municipal (agosto de 2004) ...................................................... 92
Figura 13 Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião (demolida
em 1943), no local onde se construiu a antiga Estação Rodoviária (sem
data) ................................................................................................. 93
Figura 14 Praça Cícero Macedo e Estação Rodoviária (ao fundo, década de 1960) 93
Figura 15 Estação Rodoviária (atual Biblioteca Pública Municipal), vista da rua 15
de Novembro (sem data) .................................................................... 95
Figura 16 Biblioteca Pública Municipal, vista da rua 15 de Novembro (junho de
2005) ................................................................................................ 95
Figura 17 Biblioteca Pública Municipal, vista da rua Coronel Manoel Alves (junho
de 2005) ........................................................................................... 95
Figura 18 Fórum e Hotel Colombo (demolidos), na Praça da República (atual Praça
Tubal Vilela) (década de 1940) ........................................................... 97
Figura 19 Centro de Uberlândia, com Uberlândia Clube (em primeiro plano) e
Praça da República (final da década de 1950) ...................................... 97
Figura 20 Praça Tubal Vilela (tombada em 2004), com edifícios construídos nos
lotes do Fórum (edifício mais alto, no quadrante superior direito) e do
Hotel Colombo (edifício branco, ao lado daquele) (julho de 2004) ......... 98
Figura 21 Estação Ferroviária da Mogiana, demolida em 1970 (sem data) ............. 100
Figura 22 Estação Ferroviária da Mogiana, demolida em 1970 (sem data) ............. 100
Figura 23 Praça Sérgio Pacheco, construída no mesmo local da Estação Ferroviária
da Mogiana (1976) ............................................................................. 101
Figura 24 Praça Sérgio Pacheco (agosto de 2002) ............................................... 101
Figura 25 Localização dos edifícios com mais de 5 andares em Uberlândia (1955-
1969) ................................................................................................ 104
Figura 26 Área central de Uberlândia: imóveis tombados e inventariados .............. 109
Figura 27 Igreja Nossa Senhora do Rosário, em Miraporanga (junho de 2001) ...... 110
Figura 28 Praça Clarimundo Carneiro, Museu Municipal e Coreto (agosto de 2004) 110
Figura 29 Museu Municipal (agosto de 2004) ...................................................... 111
Figura 30 Museu Municipal (agosto de 2004) ...................................................... 111
Figura 31 Árvore (sibipiruna) plantada em 1918 na Praça Adolfo Fonseca,
tombada em 1985 (agosto de 2004) ................................................... 111
Figura 32 Companhia de Força e Luz de Uberabinha (atual Oficina Cultural) (1929) 114
Figura 33 Oficina Cultural (antiga Companhia de Força e Luz de Uberabinha)
(agosto de 2004) ............................................................................... 114
Figura 34 Oficina Cultural (antiga Companhia de Força e Luz de Uberabinha)
(agosto de 2004) ............................................................................... 114
Figura 35 Oficina Cultural (antiga Casa de Clarimundo Carneiro) (agosto de 2004) 114
Figura 36 Casa da Cultura (abril de 2004) ........................................................... 116
Figura 37 Casa da Cultura, vista da Praça Coronel Carneiro (junho de 2005) ......... 116
Figura 38 Casa da Cultura, vista da rua 15 de Novembro (junho de 2005) ............ 116
Figura 39 Casa da Cultura (detalhes) (junho de 2005) ......................................... 117
Figura 40 Casa da Cultura (detalhes) (junho de 2005) ......................................... 117
Figura 41 Restaurante Casarão, na Praça Coronel Carneiro 52 (2005) .................. 117
Figura 42 Restaurante Casarão, na Praça Coronel Carneiro 52 (2005) .................. 117
Figura 43 Restaurante Casarão, na Praça Coronel Carneiro 52 (2005) .................. 117
Figura 44 Restaurante Casarão, na Praça Coronel Carneiro 52 (2005) .................. 117
Figura 45 Inauguração da Igreja Nossa Senhora do Rosário (Fundinho) (década
de 1930) ........................................................................................... 118
Figura 46 Igreja Nossa Senhora do Rosário (Fundinho), durante obra de
recuperação do telhado (agosto de 2004) ............................................ 118
Figura 47 Igreja Nossa Senhora do Rosário (Fundinho), durante obra de
recuperação do telhado (agosto de 2004) ............................................ 118
Figura 48 Praça Rui Barbosa: Congado, festa em louvor a Nossa Senhora do
Rosário e São Benedito (novembro de 2003) ....................................... 119
Figura 49 Praça Rui Barbosa: Congado (novembro de 2003) ................................ 119
Figura 50 Praça Rui Barbosa: Congado (novembro de 2003) ................................ 119
Figura 51 Praça Rui Barbosa: Congado (novembro de 2003) ................................ 119
Figura 52 Praça Rui Barbosa, vista da Igreja Nossa Senhora do Rosário (agosto de
2004) ................................................................................................ 121
Figura 53 Sorveteria Bicota e residência, na Praça Rui Barbosa (agosto de 2004) .. 121
Figura 54 Vista do Fundinho: rua Bernardo Guimarães e adjacências (julho de
2005) ................................................................................................ 121
Figura 55 Lei Municipal 5.013/ 1989: zoneamento proposto para a região
correspondente ao Fundinho .............................................................. 125
Figura 56 Edifícios de apartamentos na Praça Coronel Carneiro, ao lado da Casa
da Cultura; o último à esquerda é o Edifício Rocha e Silva (abril de
2004) ................................................................................................ 128
Figura 57 Vista do Fundinho; o Edifício Rocha e Silva é o último à esquerda (julho
de 2005) ........................................................................................... 128
Figura 58 Edifícios de apartamentos na rua 15 de Novembro, em área excluída da
zona especial de revitalização; à direita, a Casa da Cultura (abril de
2004) ................................................................................................ 129
Figura 59 Anúncio de empreendimentos da Encol em Uberlândia (1995) .............. 130
Figura 60 Eixo de pedestres entre a rua 15 de Novembro e a av. Afonso Pena,
proposto no Plano Diretor (1994) ........................................................ 136
Figura 61 Edifício Naguettini, construído entre 1925 e 1927 (sem data) ................ 145
Figura 62 Edifício Naguettini, av. Afonso Pena 52/56 (março de 2001) ................. 145
Figura 63 Mercado Municipal (julho de 2004) ...................................................... 148
Figura 64 Mercado Municipal (julho de 2004) ...................................................... 148
Figura 65 Mercado Municipal (sem data) ............................................................ 149
Figura 66 Mercado Municipal (julho de 2004) ...................................................... 149
Figura 67 Chaminés da Cerâmica Uberlândia (fevereiro de 2003) ......................... 154
Figura 68 Casa de D. Albertina Chacur (agosto de 2004) ..................................... 156
Figura 69 Casa de D. Albertina Chacur (agosto de 2004) ..................................... 156
Figura 70 Casa de D. Adélia França (março de 2004) .......................................... 156
Figura 71 Escola Estadual de Uberlândia, conhecida como “Museu” (agosto de
2004) ................................................................................................ 157
Figura 72 Praça Adolfo Fonseca, com novo mobiliário; Escola Estadual de
Uberlândia (ao fundo) (agosto de 2004) .............................................. 157
Figura 73 Praça Adolfo Fonseca, com novo mobiliário; Escola Estadual de
Uberlândia (ao fundo) (agosto de 2004) .............................................. 157
Figura 74 Igreja Divino Espírito Santo: projeto .................................................... 163
Figura 75 Igreja Divino Espírito Santo: maquete ................................................. 163
Figura 76 Igreja Divino Espírito Santo (c. 1982) .................................................. 164
Figura 77 Igreja Divino Espírito Santo (c. 1982) .................................................. 164
Figura 78 Igreja Divino Espírito Santo (outubro de 2002) ..................................... 165
Figura 79 Igreja Divino Espírito Santo (outubro de 2002) ..................................... 165
Figura 80 Igreja Divino Espírito Santo (outubro de 2002) ..................................... 165
Figura 81 Casa Araguaia (atual Taco) (março de 2001) ....................................... 176
Figura 82 Cine Regente (março de 2001) ........................................................... 176
Figura 83 Cine Regente destruído (junho de 2003) .............................................. 177
Figura 84 Cine Regente destruído (junho de 2003) .............................................. 177
Figura 85 Casa de D. Domingas Camin, em Miraporanga (sem data) .................... 182
Figura 86 Chaminés da Cerâmica Vitória (abril de 2003) ...................................... 182
Figura 87 Casa na rua 15 de Novembro, demolida em março de 2004 (2003) ....... 182
Figura 88 Casa na rua Bernardo Guimarães 525 (Fundinho), parcialmente
demolida (outubro de 2003) ............................................................... 183
Figura 89 Casa na rua Bernardo Guimarães 525, adaptada para uso comercial e
descaracterizada (abril de 2004) ......................................................... 183
Figura 90 Imóveis adaptados para usos de comércio e serviços no Fundinho (abril
de 2004) ........................................................................................... 183
Figura 91 Imóveis adaptados para usos de comércio e serviços no Fundinho ........ 183
Figura 92 Imóveis adaptados para usos de comércio e serviços no Fundinho ........ 183
Figura 93 Imóveis adaptados para usos de comércio e serviços no Fundinho ........ 183
Figura 94 Imóveis adaptados para usos de comércio e serviços no Fundinho ........ 184
Figura 95 Imóveis adaptados para usos de comércio e serviços no Fundinho ........ 184
Figura 96 Imóveis adaptados para usos de comércio e serviços no Fundinho ........ 184
Figura 97 Escola Estadual Enéas de Oliveira Guimarães, imóvel indicado para
tombamento integral no Inventário do Fundinho (Vale et alii, 2004b)
(abril de 2004) .................................................................................. 208
Lista de abreviaturas e siglas

ACIUB Associação Comercial e Industrial de Uberlândia


ADE Área de Diretrizes Especiais
AGP/ GA Assessoria Geral de Planejamento/ Gabinete do Assessor
(da Prefeitura de Uberlândia)
ALMG Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais
ARENA Aliança Renovadora Nacional
Art. Artigo
AU Arquitetura e Urbanismo (revista)
Av., av. Avenida
BI1, BI2, BI3, Bens imóveis tombados isoladamente no nível federal ou estadual
BI4 (das Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000)
BI21, BI22, Bens imóveis tombados isoladamente no nível municipal
BI23 (das Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000)
BM1, BM2 Bens móveis tombados isoladamente no nível federal ou estadual
(das Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000)
BM21 Bens móveis tombados isoladamente no nível municipal
(das Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000)
C1 Comércio varejista local
(da Lei Municipal 5.013/ 1989 e da Lei Complementar Municipal 245/ 2000)
C2 Comércio varejista diversificado
(da Lei Municipal 5.013/ 1989 e da Lei Complementar Municipal 245/ 2000)
CA Coeficiente de aproveitamento
CDHIS/ UFU Centro de Documentação e Pesquisa em História
(da Universidade Federal de Uberlândia)
CEC Conselho de Entidades Comunitárias
CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais
Cf. Conforme
COAFRO Coordenadoria Afro-racial (da Secretaria Municipal de Cultura)
COMPHAC Conselho Consultivo Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural
Conselho Municipal de Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Cultural
CP1, CP2, CP3, Conjuntos urbanos ou paisagísticos, localizados em zonas urbanas ou rurais,
CP4 tombados no nível federal ou estadual
(das Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000)
CP21, CP22 Conjuntos urbanos ou paisagísticos, localizados em zonas urbanas ou rurais,
tombados no nível municipal
(das Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000)
DPH Divisão de Patrimônio Histórico
Divisão de Memória e Patrimônio Histórico
Diretoria de Memória e Patrimônio Histórico
(da Secretaria Municipal de Cultura)
E1 Equipamento social comunitário local
(da Lei Complementar Municipal 245/ 2000)
E2 Equipamento social comunitário geral
(da Lei Complementar Municipal 245/ 2000)
EA/ UFMG Escola de Arquitetura (da Universidade Federal de Minas Gerais)
E. E. Escola Estadual
EESC/ USP Escola de Engenharia de São Carlos (da Universidade de São Paulo)
FAU/ UnB Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (da Universidade de Brasília)
H1 Habitação unifamiliar (da Lei Complementar Municipal 245/ 2000)
H2 Habitação multifamiliar (da Lei Complementar Municipal 245/ 2000)
Hab. Habitantes
I1 Indústria de pequeno porte (da Lei Municipal 5.013/ 1989)
I2 Indústria de médio porte (da Lei Municipal 5.013/ 1989)
IAB Instituto dos Arquitetos do Brasil
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMS Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços
ICOMOS International Council on Monuments and Sites
(Conselho Internacional de Monumentos e Sítios)
IEPHA, IEPHA- Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais
MG
In1, In2 Uso institucional (da Lei Municipal 5.013/ 1989)
INCEU Inventário de Configuração de Espaços Urbanos
IPAC Inventário de Proteção ao Acervo Cultural de Minas Gerais
IPAC-MG
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
IPTU Imposto predial e territorial urbano
ISS, ISSQN Imposto sobre serviços de qualquer natureza
M Uso misto (da Lei Complementar Municipal 245/ 2000)
MASP Museu de Arte de São Paulo
MDB Movimento Democrático Brasileiro
MG Minas Gerais (estado)
MONUVA Movimento Negro de Uberlândia Visão Aberta
NH1, NH2, Núcleo histórico urbano tombado no nível federal ou estadual
NH3, NH4 (das Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000)
NH21, NH22 Núcleo histórico urbano tombado no nível municipal
(das Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000)
nº. número
NUHCIS/ UFU Núcleo de Pesquisa em História e Ciências Sociais
(da Universidade Federal de Uberlândia)
Of. Ofício
p. Página, páginas
PCL Planejamento e política municipal de proteção do patrimônio cultural
(das Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000)
PDS Partido Democrático Social
PECRJ Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro
PGM Procuradoria Geral do Município (da Prefeitura de Uberlândia)
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PPC Índice de Patrimônio Cultural
(das Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000)
R., r. Rua
R1, R2, R3 Uso residencial (da Lei Municipal 5.013/ 1989)
S1 Serviços locais
(da Lei Municipal 5.013/ 1989 e da Lei Complementar Municipal 245/ 2000)
S2 Serviços diversificados
(da Lei Municipal 5.013/ 1989 e da Lei Complementar Municipal 245/ 2000)
SINDUSCON Sindicato da Indústria da Construção Civil do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba
SINDUSCON-
TAP
SWOT Strengthenesses, Weaknesses, Opportunities, Threats
(Forças, Fraquezas, Oportunidades, Ameaças)
TO Taxa de ocupação
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFU Universidade Federal de Uberlândia
UnB Universidade de Brasilia
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)
USP Universidade de São Paulo
VAF Valor adicionado fiscal
ZC1 Zona comercial 1 (da Lei Complementar Municipal 245/ 2000)
ZER Zona especial de revitalização (da Lei Complementar Municipal 245/ 2000)

Lista de notações

§ Parágrafo
Resumo

Este estudo fala sobre as possibilidades de preservação do patrimônio cultural, no


município de Uberlândia (MG). Investiga se e como esse controverso tema incorporou-se
às preocupações do governo local e dos cidadãos. Destaca a resistência, encontrada na
comunidade, à idéia de se manterem para as gerações futuras algumas estruturas
arquitetônicas e urbanísticas, selecionadas por serem portadoras de diversos valores,
vinculados à trajetória histórica daquela cidade.
Em busca de sinais dos avanços e recuos no trato com o tema, foram pesquisadas
as iniciativas estatais de abordagem da questão, como planos urbanísticos e políticas de
preservação, com destaque para o Plano Diretor do município (1994) e o recente
Programa de municipalização da gestão do patrimônio cultural de Minas Gerais (em
execução desde 1997).
Esse programa começou, desde então, a distribui parte dos recursos arrecadados
pelo imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) para municípios que
priorizam o patrimônio em suas políticas culturais, conhecida como ICMS Patrimônio
Cultural. Seus critérios visavam a, ao mesmo tempo, dar condições para que os
municípios assumissem a gestão de seu patrimônio e premiar aqueles que, até então
alheios ao problema, passassem a dedicar alguma atenção a seus acervos arquitetônicos
e urbanísticos. Além disso, possibilitou a tutela dos bens culturais de valor regional,
recomendada pelo Compromisso de Brasília (1970), uma das finalidades da criação do
IEPHA nos anos 1970.
A hipótese inicial desta pesquisa considerava que, além da mobilização anterior do
Poder Legislativo, em torno da Lei municipal de patrimônio histórico (Lei 4.240/ 1985),
aquele programa estadual teria estimulado e orientado a atuação municipal na atividade
de preservação do patrimônio. Um objetivo era verificar a aplicabilidade do ICMS
Patrimônio Cultural ao caso de Uberlândia. Foram explorados os obstáculos, as limitações
e os avanços conseguidos, no período de 1985 a 2005.
Como referencial teórico-conceitual, procurou-se traçar uma evolução do conceito
de patrimônio, com vistas a retratar dois aspectos importantes: a extensão da validade do
conceito às cidades de história mais recente, bem como a ampliação do conjunto de
objetos dignos de preservação. A partir de autores como Canclini (1994) e Fonseca
(2005), que enumeram as características das políticas públicas para o setor do patrimônio
cultural, fez-se o esforço de situar o problema da política de preservação em Uberlândia,
o que exigiu a pesquisa de seus antecedentes.
Quanto ao ICMS Patrimônio Cultural, procurou-se mostrar como o conjunto de
ações que ele estimulou nos municípios contribuiu para o objetivo de descentralizar a
política de preservação em Minas Gerais.
Discorreu-se sobre a política ou o conjunto de ações de proteção do patrimônio
material em nível municipal, com base em três elementos balizadores: a legislação
urbanística, os tombamentos e a atuação do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico
(COMPHAC) – mecanismo de participação social existente desde 1987.
Por fim, foram feitas indicações direcionadas a gestores públicos, pesquisadores e
atores da sociedade local, de modo a contribuir para o aperfeiçoamento do sistema
municipal de gestão do patrimônio cultural.
Palavras-chave: Patrimônio cultural, políticas públicas, ICMS Patrimônio Cultural,
Uberlândia
Abstract

This work deals with the possibilities of preserving the cultural heritage, in the city
of Uberlândia (MG). It investigates whether and how this controversial subject was
incorporated into the municipality and its citizens’ concerns. It highlights the resistance,
among the community, to the idea that some architectonical and urbanistic structures
should be preserved to the future generations, given their importance to the history of the
city.
Searching for signs of advances and retreats in dealing with the subject, public
initiatives related to the subject such as urban plans and preservation policies, were
analyzed, specially the local Master Plan (1994) – related to urban development – and the
recent Program for the Municipalization of the Cultural Heritage Management (in
execution since 1997, in the state of Minas Gerais).
The fore mentioned Program distributes part of the funds collected through the
sales tax (ICMS) to municipalities that assign priority to cultural heritage in their public
policies (known as the “Cultural Heritage Tax”). It used criteria that aimed, at the same
time, at offering conditions to the municipalities to assume their own heritage
management and reward the ones that, so far unaware of the problem, began to pay
attention to their architectonical and urbanistic heritage. Besides, it allowed the protection
of the cultural heritage with regional importance, recommended by the Brasília
Compromise (1970), which was one of the goals of the creation of the Artistic and
Historical Heritage Institute of the State of Minas Gerais (IEPHA) in the 1970's.
The initial hypothesis of this research suggests that, beyond the former
mobilization of the Legislative branch towards the Municipal Law on Historical Heritage
(Law 4240/1985), the Program for the Municipalization would have stimulated and
oriented the municipality's action on the cultural heritage preservation. One of the initial
purposes of this work was to verify the applicability of the “Cultural Heritage Tax” to the
case of Uberlândia. Therefore the obstacles, limitations and advances achieved between
1985 and 2005 were explored.
As a theoretical and conceptual reference, the study outlined the evolution of the
concept of heritage, in order to show two important aspects: the extension of the validity
of the concept to the younger cities, as well as the amplification of the set of objects likely
to be preserved. Starting from authors as Canclini (1994) and Fonseca (2005), which
listed the characteristics of the public policies related to the cultural heritage, an effort to
situate the problem of the preservation policy in Uberlândia has been done, through the
investigation of its historical backgrounds.
As for the “Cultural Heritage Tax”, there has been an effort to show how the set of
actions stimulated by that Tax contributed to the decentralization of the preservation
policy in Minas Gerais.
There has also been a focus on the policy and the set of actions oriented to the
local protection and management of the material heritage, based on three guiding
elements: the urban law, protection measures such as monuments and sites listing, and
the actions of the local Council on Historical Heritage (COMPHAC) – forum created for
social participation in 1987.
Last but not least, the work presented recommendations directed to the public
managers, researchers and communitary agents, intended to contribute to the
improvement of the cultural heritage management in the city.
Keywords: Cultural heritage, public policies, “Cultural Heritage Tax”, Uberlândia
20

Introdução

A preservação do patrimônio cultural é tema controverso, dificilmente tratado com


indiferença, tanto nas cidades chamadas de históricas, de ocupação mais antiga e
conhecidas por seu patrimônio, quanto nas que não o são. O assunto desperta o interesse
dos cidadãos em intensidade diferente e por motivos variados. De alguma maneira
envolvidos pelas complexas questões que cercam tal discussão, os personagens desse
enredo podem ser vários: um apreciador de belos prédios ou de significativa manifestação
popular; um folião da Folia de Reis ou um negro no Congado, que toca o tambor em
louvor aos santos e ensina o filho a fazê-lo; alguém que anda atento pela cidade,
percebendo sua transformação cotidiana, lamentando a perda de testemunhos concretos
dessa evolução; um arquiteto preocupado, por dever de ofício, com a degradação do
ambiente urbano; um morador engajado na conservação do imóvel antigo onde mora,
para seu próprio conforto, mas deleite e referência histórica de todos; um habitante da
casa ao lado, mais inclinado a se mudar dali, à espera de boa recompensa financeira; um
empresário da construção civil, para quem a terra urbana é negócio, moeda de troca e
substrato para o trabalho.

Portadores de referência à identidade e à memória de diversos grupos sociais ou


capazes de ilustrar uma tradição1, os bens culturais são testemunhos da evolução de cada
sociedade e de cada comunidade. Eles podem ter certo alcance ou valor de referência,
contar histórias ou ser suportes de fatos importantes, relacionados a um minúsculo
lugarejo, sequer encontrado em mapas, perdido entre montanhas ou à beira de um rio,
ou a toda a humanidade. As cidades, como artefatos humanos historicamente
construídos, não são comparáveis entre si. Cada qual tem sua história, longa ou ainda
curta, seus personagens, suas festas religiosas ou pagãs, seus edifícios, praças, ruas, seu
patrimônio.

Este estudo fala sobre as possibilidades de preservação do patrimônio cultural,


numa cidade historicamente pouco atenta a isso. Investiga se e como esse controverso
tema incorporou-se às preocupações do governo local e dos cidadãos do município de
Uberlândia, cidade ainda (e sempre) jovem. Destaca a resistência, encontrada na
comunidade, à idéia de se manterem para as gerações futuras algumas estruturas
arquitetônicas e urbanísticas, selecionadas por serem portadoras de diversos valores,
vinculados à trajetória histórica daquela cidade.

Em busca de sinais dos avanços e recuos do governo e da comunidade no trato


com o tema, foram pesquisadas as iniciativas estatais de abordagem da questão, como

1
Referências à Constituição (1988) e a Choay (2001), respectivamente.
21

planos urbanísticos e políticas de preservação, com destaque para o Plano Diretor do


município (1994) e o recente Programa de municipalização da gestão do patrimônio
cultural de Minas Gerais (em execução desde 1997) – política estadual que distribui parte
dos recursos arrecadados pelo imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS)
para municípios que priorizam o patrimônio em suas políticas culturais, conhecida como
ICMS Patrimônio Cultural.

Esse programa estimulou, em várias cidades do interior de Minas Gerais, a


iniciação ou a retomada da agenda pública do patrimônio cultural, mas teve impacto
diferenciado em cada uma delas. Seguindo o princípio de tratar desigualmente os mais de
quinhentos municípios mineiros que aderiram a essa política de preservação, utilizou
critérios que visavam a, ao mesmo tempo, dar condições para que os municípios
assumissem a gestão de seu patrimônio e premiar aqueles que, até então alheios ao
problema, passassem a dedicar alguma atenção a um rico acervo arquitetônico e
urbanístico que o órgão gestor estadual sequer conhecia em detalhes. Outro aspecto
importante diz respeito à mudança no enfoque das políticas de preservação praticadas
pelo estado de Minas Gerais: a tutela dos bens culturais de valor regional2, uma das
finalidades da criação do IEPHA nos anos 1970, finalmente achava uma chance de tornar-
se realidade, já em meados da década de 1990. A estratégia consistia no aprofundamento
da descentralização, um dos pilares da Constituição (1988), incluindo esse tema entre as
responsabilidades compartilhadas pelos entes federativos, sobretudo estados e
municípios.

Entretanto, em Uberlândia, bem antes do ICMS Patrimônio Cultural, alguns setores


dos meios político e popular já haviam despertado para o problema, em face do
acentuado processo de descaracterização por que passou seu centro histórico, o
Fundinho, na década de 1980. Desde então, muitas foram as tentativas de se formular e
implementar políticas públicas capazes de estancar a renovação urbana acelerada do
bairro. A hipótese inicial desta pesquisa considerava que, além da mobilização anterior do
Poder Legislativo, em torno da Lei municipal de patrimônio histórico (Lei 4.240/ 1985),
aquele programa estadual teria estimulado e orientado a atuação municipal na atividade
de preservação do patrimônio. Um objetivo era verificar a aplicabilidade do ICMS
Patrimônio Cultural ao caso de Uberlândia. As limitações e obstáculos encontrados, além
de alguns avanços pontuais, foram explorados ao longo deste trabalho.

O mote da descentralização de atribuições antes exercidas pela União, de forma


predominante ou mesmo exclusiva, veio da Constituição (1988), como dissemos. Essa lei

2
Recomendação do Compromisso de Brasília (1970, in BRASIL, 2004: 137).
22

magna trazia, em seu espírito e seu conteúdo, mecanismos de participação e controle


social que apontavam para a co-responsabilidade na gestão urbana, outro princípio
apropriado pelo ICMS Patrimônio Cultural. Conforme veremos adiante, entretanto, a
consciência coletiva acerca da preservação não se estabelece a partir de um decreto, mas
precisa acompanhar-se de mobilização popular. Naquela cidade mineira, ao contrário, por
desinformação ou pela superveniência de fatores alheios ao interesse coletivo, o tema
permaneceu cercado de dúvidas e enganos, e as condições para o florescimento dessa
consciência coletiva, quando existiram, não foram perenes.

Este é um estudo de caso alimentado por referências conceituais cuja


aplicabilidade interessa ao autor verificar. Portanto, os conceitos e modelos apresentados
no próximo capítulo são entendidos como ferramentas teórico-conceituais que buscam
contribuir para o entendimento da realidade. Assim, outro objetivo desta pesquisa foi
avaliar os avanços alcançados e as dificuldades enfrentadas, em Uberlândia, na tarefa de
preservar o patrimônio material, com lastro na bibliografia encontrada sobre o assunto,
bem como em dados de fontes primárias e secundárias, por meio de entrevistas, jornais,
documentos oficiais, estudos acadêmicos, legislação estadual e municipal. Construiu-se,
dessa forma, um panorama das iniciativas com relação ao patrimônio cultural material em
Uberlândia e sua análise crítica.

É importante ressaltar que a prática de avaliar políticas públicas, bastante


disseminada nas políticas sociais, ainda é relativamente pouco aplicada em relação à
preservação do patrimônio. Por esse motivo, as análises que consideram parâmetros de
avaliação da eficácia de políticas e programas nessa área não são abundantes.
Referências para esta pesquisa, Canclini (1994) e Fonseca (2005, cuja primeira edição é
de 1997) destacam-se entre os autores que efetuaram estudos análogos3. A partir deles,
que enumeram as características das políticas públicas para o setor, fez-se um esforço de
adequação à realidade da cidade estudada, onde a questão do patrimônio cultural se
coloca de maneira peculiar, além de tímida, por razões que serão explicadas ao longo dos
próximos capítulos.

No Capítulo 1, procurou-se traçar uma evolução do conceito de patrimônio, com


vistas a retratar dois aspectos importantes: a extensão da validade do conceito às cidades
de história mais recente, bem como a ampliação do conjunto de objetos dignos de
preservação. Para tanto, referências como Choay (2001) e as Cartas Patrimoniais (BRASIL,
2004) foram as mais eloqüentes. Ainda no capítulo inicial, como instrumentos de

3
Mais recentemente, Meira (2004) também avalia, a partir das ações dos poderes públicos e da
abertura à participação popular, como a questão do patrimônio cultural ganhou status de política
pública, com planos, leis e fóruns de discussão, em Porto Alegre (RS).
23

avaliação e classificação de iniciativas governamentais de proteção do patrimônio cultural,


utilizamos a distinção entre política estatal e política pública de preservação, cujas
características são explicadas por Fonseca (2005). Além dela, foi bastante útil também a
classificação elaborada por Canclini (1994), em que os quatro “paradigmas” de políticas
públicas propostos, além de resultantes do estudo aprofundado da trajetória do conceito
de patrimônio, encaixam-se em realidades e iniciativas diversas. A fim de conectar tais
modelos à prática de planejamento urbano encontrada em Uberlândia, recorremos à
análise em perspectiva crítica de Vainer (2002) sobre o planejamento estratégico urbano,
dialogando com o estudo de Przeworsky (1995), igualmente crítico, acerca da
contaminação dos interesses do Estado pelos do mercado. Os modelos de Canclini,
cotejados com o enfoque desses autores, ajudam a explicar a evolução das ações de
preservação na cidade, bem como a incorporação havida – apenas em tese, como se
demonstrará – da proteção do patrimônio pelo planejamento do território do município.

No Capítulo 2, apresentamos as regras de funcionamento e uma breve análise do


programa estadual ICMS Patrimônio Cultural, mostrando como o conjunto de ações que
ele estimulou nos municípios contribuiu para o objetivo de descentralizar a política de
preservação em Minas Gerais. A compreensão de suas características e limitações,
mostradas neste capítulo, contribui para a análise a ser feita no seguinte (Capítulo 3) e
para as conclusões e indicações a que esta pesquisa chegou (Capítulo 4). A própria
orientação conceitual do programa, fortemente alicerçada na Carta de Washington
(1986), como mostraremos, justifica a necessidade de realização de um estudo como este
para Uberlândia, a fim de verificar seus impactos, no momento atual em que essa política
completa dez anos de existência.

No Capítulo 3, considerou-se a orientação de Fonseca (2005), sobre a utilidade da


investigação dos ritos de tombamento para a compreensão dos processos de valoração
dos bens culturais. “Atualmente, além de instrumento jurídico com implicações
econômicas e sociais, o tombamento tem sido considerado e utilizado, tanto por agentes
oficiais quanto por grupos sociais, como o rito, por excelência, de consagração do valor
cultural de um bem” (FONSECA, 2005: 180). Em Uberlândia, essa afirmação sintetiza os
esforços de proteção do acervo patrimonial no período estudado. Por essa razão, no
Capítulo 3, discorreremos sobre a política ou o conjunto de ações de proteção do
patrimônio material, ao longo dos últimos vinte anos, com base em três elementos
balizadores: a legislação urbanística, os tombamentos e a atuação do Conselho Municipal
de Patrimônio Histórico (COMPHAC) – mecanismo de participação social incipiente, nessa
questão, a despeito de sua fundação já remota, em 1985. O ICMS Patrimônio Cultural
surge, nos últimos anos, como fator responsável pela retomada da agenda do patrimônio
24

na cidade, mas não o único. A análise inclui ainda observações referentes a dois episódios
selecionados – os tombamentos da Igreja Divino Espírito Santo (1997) e do Cine Regente
(2003) – aquele relevante por suas peculiaridades, este por informar o leitor acerca de
acontecimentos recentes da preservação na cidade, norteada pelo programa estadual
citado.

No Capítulo 4, retomaremos sinteticamente os conceitos discutidos no início do


trabalho, a fim de utilizá-los num esforço de explicação da realidade estudada,
confrontando os modelos teóricos apresentados com os indicadores da preservação do
patrimônio no município.

Por fim, de modo propositivo, a partir das referências da pesquisa e da análise


realizadas, serão feitas indicações de modo a contribuir para

a) gestores públicos locais, no sentido de articular a política de patrimônio com a


política de desenvolvimento urbano e territorial do município e, ainda, aperfeiçoar o ICMS
Patrimônio Cultural;

b) pesquisadores, no sentido de apontar temas e desafios, a partir das limitações e


questões que emergiram deste trabalho, cujo aprofundamento se sugere em outras
iniciativas de pesquisa e produção do conhecimento acerca do tema;

c) atores da sociedade local, como entidades, movimentos, associações, organizações


não-governamentais etc., no sentido de apontar questões acerca da mobilização da
comunidade em ações de capacitação, da revisão em curso do Plano Diretor municipal
etc.
Capítulo 1
Referencial teórico-conceitual
26

1.1. Antecedentes

O patrimônio, originalmente herança material, transmitida entre gerações, há


algum tempo deixou de referir-se apenas ao conjunto de bens a que se atribui valor
econômico, transformando-se num "conceito nômade", amplamente dissecado por Choay
(2001). Com o decorrer dessa peregrinação conceitual, as listas contendo bens e objetos
de grande valor para as comunidades – como as guardadas na Torre do Tombo lisboeta1
– têm sido elaboradas cada vez menos pela informação culta de especialistas e mais pelos
saberes e sentimentos coletivos. Qualificar o patrimônio com os adjetivos histórico,
arquitetônico, artístico, natural, ambiental, cultural etc., definições que, por si,
expandiram-se com o tempo, trouxe-lhe uma expansão significativa de possibilidades.
“Assim, no que se refere ao patrimônio arquitetônico, vemos uma 'explosão' do conceito,
que passa de uma formulação restrita e delimitada para uma concepção contemporânea
tão ampla que tende a abranger a gestão do espaço como um todo” (CASTRIOTA, 1999).
Da idéia de conjunto de objetos significativos – dotados de uma excepcionalidade que se
queria construir em discurso, a partir de presumíveis valores histórico e estético – o
patrimônio cultural foi, progressivamente, incorporando a interpretação de cultura como
processo dinâmico, tornando-se “suporte para um processo contínuo de produção da
própria vida” (CASTRIOTA, 1999, grifado no original). Vale et alii (2004a) igualmente
reconhecem:

Simultaneamente, a compreensão e a valorização da história como


processo contínuo transformou as cidades e os conjuntos urbanos
em verdadeiros documentos da vida e da cultura. As cidades
deixaram de ser consideradas apenas do ponto de vista dos estilos
arquitetônicos, para serem consideradas também no dia-a-dia de
seus habitantes, como local dos espaços vividos, onde o indivíduo
deve sempre se reconhecer. (VALE et alii, 2004a: 3)

Na origem do termo, o monumento – "do latim monumentum, que por sua vez
deriva de monere (advertir, lembrar)" – tem natureza afetiva, remetendo a "tocar, pela
emoção, uma memória viva". Para Choay, o monumento "é uma defesa contra o
traumatismo da existência", "tenta combater a angústia da morte e do aniquilamento".
Sua essência reside na função antropológica que desempenha, "sua relação com o tempo
vivido e com a memória" (CHOAY, 2001: 17-8).

1
“As expressões Livros do Tombo e tombamento provêm do Direito Português, onde a palavra
tombar significa inventariar, arrolar ou inscrever nos arquivos do Reino, guardados na Torre do
Tombo” (Hely Lopes Meirelles, Direito administrativo brasileiro, apud FONSECA, 2005: 179). Por
essa razão, ao longo deste trabalho a expressão inscrição no livro será utilizada como sinônimo de
tombamento.
27

Esse monumento, evocado por seus valores arqueológicos, estéticos e de


prestígio, mas, acima destes, pelo valor memorial, de testemunho concreto do passado,
perde sua importância, segundo diversos intelectuais desde o século XVII, por causa do
aparecimento da escrita. Seguindo a mesma trilha, Rodrigues (1998) enxerga que, na
transição entre as sociedades simples e as mais complexas, perdeu-se a memória oral,
tendo sido substituída por sua vinculação aos objetos.

A circulação da memória se retraiu na mesma medida do


crescimento da complexidade social (...). Desta forma, a memória,
que antes circulava por meio da palavra e de gestos, passou a ser
encontrada apenas nas coisas. Aos objetos foi atribuída a função
de remeter os homens ao passado e de ensiná-los sobre o que
eles já não sabiam pela tradição oral. (RODRIGUES, 1998: 84)

Monumento e monumento histórico guardam relações diferentes com o tempo, a


memória e o saber. Este, cuja singularidade é dada pelo tempo, requer conservação
incondicional, "uma vez que se insere em um lugar imutável e definitivo num conjunto
objetivado e fixado pelo saber". Aquele, por sua vez, é substituível: "o esquecimento, o
desapego, a falta de uso faz [sic] que sejam deixados de lado e abandonados" (CHOAY,
2001: 26-7). Relata Choay que, para Riegl (começo do século XX),

...o monumento é uma criação deliberada (...) cuja destinação foi


pensada a priori, de forma imediata, enquanto o monumento
histórico não é, desde o princípio, desejado (...) e criado como tal;
ele é constituído a posteriori pelos olhares convergentes do
historiador e do amante da arte, que o selecionam na massa dos
edifícios existentes, dentre os quais os monumentos representam
apenas uma pequena parte. (CHOAY, 2001: 25)

Diversos acontecimentos, ao longo dos séculos XIX e XX, prepararam a chamada


"consagração do monumento histórico (1820-1960)"2, cujo marco principal foi a Carta de
Veneza3: contribuições de vários países (como Inglaterra, Itália, Alemanha) para a teoria
e as práticas de conservação; progressos em ciências físicas e químicas, arqueologia,
história da arte, restauro; revoluções da arte e do gosto. Na era industrial, a valorização
dos monumentos históricos por atributos estéticos e de sensibilidade e, também, as
novidades em termos de hierarquia de valores, delimitação espaço-temporal, estatuto
jurídico e tratamento técnico dispensado ao patrimônio, guardam relação com a
destruição ambiental característica do período. Na mesma época, há de se identificar as

2
Título do capítulo IV de A alegoria do patrimônio (CHOAY, 2001).
3
Carta internacional sobre conservação e restauração de monumentos e sítios, do II Congresso
Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, promovido pelo ICOMOS, em
Veneza, em 1964 (BRASIL, 2004: 91-95).
28

"dialéticas da destruição", discursos que pregavam a eliminação de monumentos em


nome de embelezamento, uniformização, atualização e progresso técnico.

Menciona-se também a necessidade de inovar e as dialéticas da


destruição que, ao longo dos séculos, fizeram novos monumentos
se sucederem aos antigos. (...) Nem mesmo os monumentos da
Antigüidade, por mais prestígio que tenham tido na era clássica,
deixaram de ser demolidos, (...) uma vez que atrapalhavam os
projetos de modernização das cidades e dos territórios... (CHOAY,
2001: 15-6)

A ruptura com o fazer manual e a tomada de consciência acerca das


conseqüências inexoráveis da Revolução Industrial levaram a uma outra: "o monumento
histórico inscreve-se sob o signo do insubstituível; os danos que ele sofre são
irreparáveis, sua perda irremediável" (CHOAY, 2001: 136). Obviamente, esse novo
sentimento, diante das agressões por ele sofridas, deu novo impulso à luta por sua
proteção.
29

1.2. O conceito de patrimônio cultural na legislação

A Revolução Industrial coincidiu com a mundialização da legislação acerca da


proteção do patrimônio, que estabeleceu limites para o arbítrio dos proprietários sobre os
bens tombados que possuem.

Os proprietários (...) reivindicam o direito de dispor livremente de


seus bens para deles tirar o prazer ou o proveito que bem
entendam. O argumento se choca, na França, com uma legislação
que privilegia o interesse público. Ele continua, porém, a
prevalecer nos Estados Unidos, onde a limitação do uso do
patrimônio histórico privado é considerada um atentado contra a
liberdade dos cidadãos. (CHOAY, 2001: 16-7)

No Brasil, o Decreto-lei 25/ 1937 disciplina a questão4 e serve de base a toda a


legislação posterior, sobretudo no que tange ao tombamento. A despeito de sua validade
quanto a esse instrumento, os parâmetros que apresenta para delimitar o patrimônio
elegível são restritos.

Art. 1º. Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o


conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja
conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a
fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional
valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico...
(Decreto-lei 25, de 30 de novembro de 1937, in FONSECA, 2005:
245, sem destaques no original)

Fonseca (2005) explica que a noção de interesse público figura entre os “direitos
meta-individuais, que têm como titular não o indivíduo, mas uma coletividade mais ou
menos abrangente”. Para a autora, o direito ao patrimônio cultural é um interesse difuso,
uma vez que seu sujeito é indeterminado (uma comunidade, a humanidade etc.), seu
objeto, fluido e seu conteúdo tem caráter mutável. Assim, na defesa do patrimônio, “a
tutela do Estado recai sobre aqueles aspectos do bem considerados de interesse público –
valores culturais, referências da nacionalidade” (FONSECA, 2005: 39).

A evolução do ideário sobre o patrimônio, no intervalo entre o Decreto-lei 25 e o


processo brasileiro de redemocratização que culminou na promulgação da Constituição,
em 1988, pode ser descrita pelas Cartas Patrimoniais – documentos resultantes das
conferências internacionais sobre o tema. A própria definição constitucional de patrimônio
nacional atualmente vigente reflete a discussão presente nesses documentos, datados da
segunda metade do século XX.

4
Vários estudos acadêmicos descrevem, a partir do Decreto-lei 25, a trajetória do IPHAN, que não
é objeto desta pesquisa. Ela apenas utiliza o balizamento dessas leis, além da evolução conceitual
30

A Carta de Veneza (1964) apóia-se em um conceito bastante generoso de


monumento histórico, a partir dela carregado de “significação cultural” e mais pleno de
possibilidades, como se lê abaixo.

Art. 1º. A noção de monumento histórico compreende a criação


arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou rural que dá
testemunho de uma civilização particular, de uma evolução
significativa ou de um acontecimento histórico. Estende-se não só
às grandes criações mas também às obras modestas, que tenham
adquirido, com o tempo, uma significação cultural. (BRASIL, 2004:
92)

Também se encontra na Carta de Veneza a preocupação com a inserção do monumento


em sua ambiência, a qual passa a dever ser igualmente protegida, sob pena de se
considerar descaracterizado o bem.

Art. 6º. A conservação de um monumento implica a preservação


de uma ambiência em sua escala. Enquanto sua ambiência
subsistir, será conservada, e toda construção nova, toda
destruição e toda modificação que possam alterar as relações de
volumes e de cores serão proibidas. (BRASIL, 2004: 93)

No Brasil, com os Compromissos de Brasília e de Salvador5, no início da década de


1970, os gestores “reconhecem a inadiável necessidade de ação supletiva dos Estados e
dos Municípios à atuação federal”, delegam a eles a “proteção dos bens culturais de valor
regional” e recomendam a criação de “Fundações de Cultura no âmbito estadual”.

A Carta de Washington6 (1986), além de complementar a de Veneza, sugerindo


princípios, objetivos, métodos e instrumentos de ação para a proteção dos bens culturais,
mesmo os modestos, alarga definitivamente a abrangência do conceito de cidade
histórica, como se lê no trecho a seguir. Por esse motivo, é particularmente útil a este
trabalho – que lida com uma cidade cujo corpus patrimonial7 foi destruído ao longo dos
anos.

Resultantes de um desenvolvimento mais ou menos espontâneo


ou de um projeto deliberado, todas as cidades do mundo são as

que expressam, para analisar políticas públicas que abrangem o estado de Minas Gerais e o
município de Uberlândia.
5
O Compromisso de Brasília (1970), de onde foram extraídas as duas primeiras recomendações
transcritas aqui, resultou do 1º Encontro dos governadores de Estado, secretários estaduais da
área cultural, prefeitos de municípios interessados, presidentes e representantes de instituições
culturais (in BRASIL, 2004: 137-141). O Compromisso de Salvador (1971), que traz a terceira
recomendação, resultou do 2º Encontro de governadores para preservação do patrimônio
histórico, artístico, arqueológico e natural do Brasil (in BRASIL, 2004: 143-146).
6
Carta internacional para a salvaguarda das cidades históricas, do ICOMOS, 1986.
7
Choay (2001) chama corpus patrimonial o conjunto de obras e edifícios históricos capazes de
ilustrar uma determinada tradição, seja religiosa, cívica, cultural ou de outros gêneros.
31

expressões materiais da diversidade das sociedades através da


história e são todas, por essa razão, históricas.8 (Carta de
Washington, Preâmbulo e definições, 1986, in BRASIL, 2004: 281)
Além de ampliar o campo de atuação das políticas patrimoniais, articula melhor a
preservação com a política urbana, algo de que os órgãos de proteção, ao menos no
Brasil, ainda hoje se ressentem. Diz a Carta de Washington, em seus Princípios e
objetivos, que a política pública de salvaguarda do patrimônio deve “ser considerada no
planejamento físico-territorial e nos planos urbanos em todos os seus níveis”, ao mesmo
tempo que sugere o conteúdo desses planos. Trata-se, portanto, de reconhecer que a
proteção ao patrimônio deve compor a política de planejamento do território municipal.
Para a Carta de Washington,

Os valores a preservar são o caráter histórico da cidade e o


conjunto de elementos materiais e espirituais que expressam sua
imagem, em particular:
a) a forma urbana definida pelo traçado e pelo parcelamento;
b) as relações entre os diversos espaços urbanos, espaços
construídos, espaços abertos e espaços verdes;
c) a forma e o aspecto das edificações (interior e exterior), tais
como são definidos por sua estrutura, volume, estilo, escala,
materiais, cor e decoração;
d) as relações da cidade com seu entorno natural ou criado
pelo homem;
e) as diversas vocações da cidade, adquiridas ao longo de sua
história. (BRASIL, 2004: 282)

Ela incorpora inclusive o princípio da participação popular nas decisões, na medida em


que destaca a seguinte premissa – “a salvaguarda das cidades e bairros históricos diz
respeito primeiramente aos seus habitantes” (BRASIL, 2004: 283) – classificada como
requisito para o êxito das ações.

Na transição que teve lugar entre Veneza e Washington, a Declaração de


Amsterdã9 (1975) é igualmente generosa quanto à importância do acervo que visa a
proteger:

O que hoje necessita de proteção são as cidades históricas, os


bairros urbanos antigos e aldeias tradicionais, aí incluídos os
parques e jardins históricos. A proteção desses conjuntos

8
Texto original em inglês: "1. All urban communities, whether they have developed gradually over
time or have been created deliberately, are an expression of the diversity of societies throughout
history" (trecho inicial de The Washington Charter: conservation of historic towns, apud
FRANCISCANI, 1999).
9
Declaração de Amsterdã, do Congresso do patrimônio arquitetônico europeu, promovido pelo
Conselho da Europa em 1975.
32

arquitetônicos só pode ser concebida dentro de uma perspectiva


global, tendo em conta todos os edifícios com valor cultural, dos
mais importantes aos mais modestos, sem esquecer os da época
moderna, assim como o ambiente em que se integram.
(Declaração de Amsterdã, 1975, in BRASIL, 2004: 201)

Ademais, essa carta também recomenda estreito relacionamento entre o planejamento


das cidades e a conservação do patrimônio:

O planejamento das áreas urbanas e o planejamento físico-


territorial devem acolher as exigências da conservação do
patrimônio arquitetônico e não considerá-las de uma maneira
parcial ou como um elemento secundário, como foi o caso num
passado recente. (BRASIL, 2004: 202-203)

Condizente com a evolução que procuramos mostrar até aqui, a Constituição de


1988 redefine os componentes desse patrimônio:

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza


material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira10...
(Constituição Federal, trecho inicial do caput do art. 216).

A Constituição também traz ao tema outras novidades, dentre as quais se


destacam os conceitos de função social da propriedade e de co-responsabilidade na
gestão do patrimônio cultural. Segundo este conceito, o poder público, “com a
colaboração da comunidade” (Constituição Federal, art. 216, § 1º), tem a tarefa de
proteger o patrimônio cultural brasileiro. O conceito anterior introduz justamente um
limite para o livre arbítrio sobre a propriedade urbana, de que falávamos – como de resto
é finalidade de toda a legislação urbanística, com seus instrumentos, como o zoneamento
e outros. De acordo com o art. 182, do capítulo de Política urbana da Constituição, “a
política de desenvolvimento urbano (...) tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade...”. O Estatuto da Cidade, ao regulamentar
esse capítulo, traz diretrizes gerais para que a política urbana cumpra esse objetivo, de
que se destaca a “proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e
construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico”
(Estatuto da cidade, Lei Federal 10.257/ 2001, art. 2º, XII, in BRASIL, 2002: 259).

Sabe-se que o instrumento do tombamento é independente do direito de


propriedade – ou seja, não impede que imóveis tombados sejam objetos de transações

10
“...nos quais se incluem: i) as formas de expressão; ii) os modos de criar, fazer e viver; iii) as
criações científicas, artísticas e tecnológicas; iv) as obras, objetos, documentos, edificações e
demais espaços destinados a manifestações artístico-culturais; v) os conjuntos urbanos e sítios de
33

comerciais – mas impõe-lhe restrições, em nome do cumprimento de sua função social,


qual seja: transmitir às futuras gerações seu valor cultural. Quando há necessidade de
preservação do imóvel ou do conjunto urbano, a propriedade cumpre sua função social
“quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano
diretor” (Constituição Federal, trecho do art. 182, §2º). Como conseqüência dessa
exigência – o cumprimento da função que lhe foi delegada naquele instrumento de
política urbana – a desvalorização desses imóveis no mercado imobiliário é freqüente. O
motivo principal é a perda de potencial construtivo que essa proteção acarreta. A
transferência de potencial construtivo (ou transferência do direito de construir11), se for
oferecida pelo Plano Diretor e regulamentada por lei específica, pode ser uma alternativa
a essa perda de valor de troca.

valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.”


(Constituição da República Federativa do Brasil, trecho restante do caput do art. 216)
11
A transferência do direito de construir é objeto do art. 35 do Estatuto da Cidade (Lei Federal
10.257/ 2001, apud BRASIL, 2002: 268).
34

1.3. O conceito de patrimônio cultural hoje

Canclini considera que o conceito de patrimônio cultural necessita ser repensado, à


luz de um novo contexto, dado pelo que é comumente considerado ameaça à sua
permanência: a urbanização acelerada e a mercantilização da cultura12, esta representada
pelo surgimento e pela ascensão, ao centro do debate sobre o tema, das indústrias
cultural e turística. Ao tratar com naturalidade essas ameaças, como parte de um
contexto inexorável, ele identifica, para os cientistas sociais, alguns dos novos traços
distintivos desse conceito.

De acordo com Canclini, “o patrimônio não inclui apenas a herança de cada povo,
as expressões ‘mortas’ de sua cultura (...), mas também os bens culturais, visíveis e
invisíveis” – referindo-se tanto ao patrimônio construído, quanto a manifestações culturais
diversas (CANCLINI, 1994: 95). Se sua definição ampliou-se significativamente, as políticas
patrimoniais, mais abrangentes, passaram a considerar os “usos sociais que relacionam
esses bens com as necessidades contemporâneas das maiorias” (CANCLINI, 1994: 96, sem
destaques no original). Por sua vez, os critérios de seleção do patrimônio sofreram,
recentemente, uma abertura no sentido de abarcar produtos da cultura popular, “em
oposição a uma seletividade que privilegiava os bens culturais produzidos pelas classes
hegemônicas” (CANCLINI, 1994: 96).

Essa ampliação do conceito requer maior flexibilidade dos critérios de seleção do


patrimônio e traz novos desafios para as políticas patrimoniais. Canclini (1994) faz
referência à ampliação do conceito e às suas conseqüências diretas: o crescimento e a
diversificação do acervo formado pelos patrimônios nacionais. Choay (2001) noticia que,
no século XIX, a Comissão de Monumentos Históricos francesa (1837), pioneira no
mundo, classificara três grandes categorias de monumentos históricos: remanescentes da
Antigüidade, edifícios religiosos da Idade Média e alguns castelos. Percebe-se um enorme
contraste com os bens que formam o patrimônio cultural das comunidades atualmente.
Choay reconhece que esse acervo sofreu uma ampliação em quatro aspectos –
cronológico, geográfico, tipológico e de público – algo jamais imaginado àquela época. “A
tripla extensão – tipológica, cronológica e geográfica – dos bens patrimoniais é
acompanhada pelo crescimento exponencial de seu público” (CHOAY, 2001: 15). A
"inflação patrimonial", como Choay identifica a assustadora difusão do culto ao patrimônio
pelo público leigo, tem seus reveses exibidos pelos custos elevados de manutenção dos

12
Para uma crítica sobre a mercantilização da cultura e do patrimônio cultural, que escapa ao foco
deste trabalho, ver Arantes, Otília, “Uma estratégia fatal: a cultura nas novas gestões urbanas”, in
Arantes et alii (2002).
35

bens e pelo risco de destruição, que, em alguns lugares, a visitação em massa já acarreta.
Esse culto exagerado e os riscos por ele trazidos são sinais de uma incompreensão
generalizada sobre o papel do patrimônio – que, como se disse, deve difundir conceitos
relacionados à cidadania, além de ser referência pública e coletiva, mediante sua
presença e seu testemunho.

Quanto aos recentes desafios impostos aos formuladores das políticas, encontra-se
o que Fonseca (2005) define pela aparente oposição, mas desejada conciliação, entre
consenso e diversidade. Palco de conflitos, pelos sentimentos controversos que costuma
despertar, o patrimônio é definido por Canclini (1994: 100) como um “espaço de disputa
econômica, política e simbólica, (...) atravessado pela ação de três tipos de agentes: o
setor privado, o Estado e os movimentos sociais”. Para ele, "o patrimônio cultural
expressa a solidariedade que une os que compartilham um conjunto de bens e práticas
que os identifica, mas também costuma ser um lugar de cumplicidade social”. Porém,
ressalva que “os bens reunidos por cada sociedade na história não pertencem realmente
a todos, ainda que formalmente pareçam ser de todos e estar disponíveis ao uso de
todos." (CANCLINI, 1994: 96, grifado no original).

Trata-se, para Gonçalves (2002), de uma estratégia de escolha e de tratamento


discursivo, que guarda e reflete relações nem sempre harmoniosas entre os agentes
formadores da noção de patrimônio, assim como Canclini alertara.

...'patrimônios culturais' (...) são, na verdade, discursivamente


constituídos. Desse modo, os objetos que identificamos e
preservamos como 'patrimônio cultural' de uma nação ou de um
grupo social qualquer não existem como tais senão a partir do
momento em que assim os classificamos em nossos discursos.
(GONÇALVES, 2002: 111, sem destaques no original)

Canclini (1994) empreende um esforço de tipificação das políticas patrimoniais,


que por sua utilidade será agora explicado. O autor relaciona aqueles atores – empresas,
Estado e sociedade – à tipologia que propõe para as diferentes políticas de preservação
do patrimônio cultural, reconhecendo os papéis conflituosos que exercem. “As
contradições no uso do patrimônio têm a forma que assume a interação entre esses
setores em cada período” (CANCLINI, 1994: 100). Esse conflito tem origem justamente na
questão da classificação do patrimônio. Para Fonseca, sua superação passaria por
responder à diversidade de interesses e demandas que caracteriza a constituição de um
patrimônio, simultaneamente buscando o consenso e incorporando a diversidade
(FONSECA, 2005: 22), a despeito da complexidade de tal tarefa.
36

1.4. Políticas públicas, Estado e mercado: pontos convergentes entre as


contribuições de Fonseca, Przeworsky e Vainer
Como ponto de partida para definir uma política pública de preservação do
patrimônio, Fonseca (2005) utiliza-se da distinção entre política estatal – “atividade
concentrada e conduzida no interior do aparelho do Estado” – e política pública –
“articulada, inclusive por mecanismos formais, com os interesses múltiplos da sociedade”
(FONSECA, 2005: 29). Ela chama atenção ao fato de que, para a análise deste último tipo
de política, é insuficiente imaginar o Estado como um mero “organismo que regula os
movimentos da sociedade”, tampouco simplesmente “gestor da ordem social” e “promotor
do desenvolvimento”. Para Fonseca (2005: 45-6), “a heterogeneidade, a luta de poder e o
conflito de interesses” estão presentes no interior do aparelho de Estado, o que torna
imperativo trazer essas características à análise da política pública.

Considero que falar de uma política pública de preservação supõe


não apenas levar em conta a representatividade do patrimônio
oficial em termos da diversidade cultural brasileira e a abertura à
participação social na produção e na gestão do patrimônio, como
também as condições de apropriação desse universo simbólico por
parte da população. (FONSECA, 2005: 29)

Quando se discute a proteção do patrimônio cultural como política pública –


especificamente política urbana, porque tem repercussão sobre a produção do espaço
urbano – destaca-se também o embate, apontado por Przeworsky (1995), entre políticas
públicas e interesses econômicos. Após apresentarmos a crítica de Przeworsky, veremos
que outro conceito importante surge dessa contradição entre o Estado e o mercado: o
chamado planejamento estratégico, um dos “modelos de planejamento urbano que
concorrem para ocupar o trono deixado vazio pela derrocada do tradicional padrão
tecnocrático-centralizado-autoritário” (VAINER, 2002: 75).

Przeworsky (1995) expõe o risco de que o Estado, contra sua própria finalidade
pública, atue em nome de interesses particulares e como responsável tão-somente pela
reprodução do capitalismo, mediante o atendimento das demandas do mercado. O
interesse público genuíno, bem como as fronteiras ideológicas dentro do espectro político,
estaria, segundo Przeworsky, perdendo terreno para práticas mais privativistas, em franca
disseminação nas variadas escalas e foros em que estas se podem manifestar. Esse autor
ressalta que a raiz do problema não se encontra nos governos e tampouco em partidos,
associações etc., mas na estrutura (grifamos) do Estado capitalista. O papel de mediador
de interesses, que algumas concepções normalmente associam ao Estado, já se encontra
ultrapassado e produz atrito com suas demais funções. Przeworsky destaca que as
funções estatais “incluem a garantia dos direitos de propriedade, a liberalização
37

econômica, a intervenção para o consenso social e o gerenciamento das relações


externas” (PRZEWORSKY, 1995: 87). Pelo menos duas destas – a “garantia dos direitos de
propriedade” e a “intervenção para o consenso social” – têm implicações diretas na
preservação do patrimônio, pelo que mostramos até aqui. Assegurar condições para a
acumulação, a legitimação e a reprodução capitalista são tarefas que se encontram na
“estrutura comum de várias teorias marxistas do Estado” (PRZEWORSKY, 1995: 91).

Pessimista, Przeworsky nega de forma lapidar que a gestão pública possua


alternativas, que não sucumbir ao interesse privado. “A sobrevivência do capitalismo
deve-se às atividades do Estado. Inversamente, todas as políticas públicas constituem um
esforço para criar as condições necessárias para assegurar tal sobrevivência”
(PRZEWORSKY, 1995: 92). Inúmeras experiências de Estados capitalistas mostram que os
interesses das classes dominantes nesse sistema não são capazes de se satisfazerem sem
o constrangimento dos governos. Práticas clientelistas arraigadas há séculos no Estado
brasileiro, de maneira tão profunda quanto conhecida, também retratam essa
contaminação do interesse público pelo privado.

A partir desta introdução de Przeworsky, conforme se anunciou acima, está


colocado o cenário da ascensão do planejamento estratégico13, em cujo receituário a
valorização do patrimônio cultural, num contexto de competição entre as cidades, tem
lugar destacado.

Inspirado em conceitos e técnicas oriundos do planejamento


empresarial, (...) o planejamento estratégico, segundo seus
defensores, deve ser adotado pelos governos locais em razão de
estarem as cidades submetidas às mesmas condições e desafios
que as empresas. (VAINER, 2002: 76)

O roteiro comum dos planos estratégicos – muitos com essa denominação, outros
simplesmente planos diretores, mas plenos de suas características – propalava o declínio
do Estado, a ascensão das empresas e do mercado, inclusive como protagonistas da
gestão do espaço urbano, e a valorização do patrimônio cultural (grifamos), ainda que à
custa de reduzir seu papel a símbolo do cenário artificial que seria criado para representar
a cidade. A crítica de Vainer (2002) ao planejamento estratégico parte do pressuposto de
que “este projeto de cidade implica a direta e imediata apropriação da cidade por
interesses empresariais globalizados e depende, em grande medida, do banimento da

13
A discussão sobre o planejamento estratégico aqui colocada baseia-se principalmente em Vainer
(2002), com contribuição de Arantes (2002). Descreveremos suas características fundamentais, a
fim de utilizá-lo como ferramenta crítica da análise a ser feita do mais recente Plano Diretor de
Uberlândia (1994), primeira lei de caráter urbanístico que incluiu o patrimônio cultural como
preocupação.
38

política e da eliminação do conflito e das condições de exercício da cidadania” (VAINER,


2002: 78).

Para chegarmos às implicações dessa estratégia de planejamento para a gestão do


patrimônio cultural urbano, inicialmente precisaremos situar, em linhas gerais, a
emergência desses chamados planos estratégicos e a perspectiva competitiva em que se
insere essa prática de planejamento urbano.

Na medida em que mostrou ser potencialmente desregulador das normas


urbanísticas, viabilizando exceções à legislação vigente e mesmo abrindo as portas para a
revisão desta, com vistas a atender interesses empresariais, o discurso do planejamento
estratégico urbano foi prontamente apropriado pelos incorporadores imobiliários. Para
seus defensores – entre os quais esses agentes, cuja atuação sobre o espaço urbano
prioriza sua produção para usuários capazes de pagar pelas melhores localizações na
cidade – “a cidade é uma mercadoria a ser vendida, num mercado extremamente
competitivo, em que outras cidades também estão à venda” (VAINER, 2002: 78). Arantes
(2002), em sua crítica ao chamado planejamento estratégico, pergunta:

...quem de fato ‘faz a cidade’? A resposta, ao menos a partir dos


anos 1990, parece inequívoca: naturalmente, as grandes
empresas, com as mediações de praxe, é claro. (ARANTES, 2002:
30)

No contexto dessas analogias de fundo comercial, o que importa é construir uma


imagem de cidade vendável, com todos os atributos desejáveis a uma “mercadoria de
luxo, destinada a um grupo de elite de potenciais compradores: capital internacional,
visitantes e usuários solváveis” (VAINER, 2002: 83, grifado no original). Estas são algumas
características da cidade-mercadoria de Vainer: boas localizações para o grande capital;
segurança, harmonia entre os habitantes; justiça social, mesmo que falsa, custando-lhe o
escamoteamento dos conflitos sociais e das diferenças de opinião.

Grave também, nessa transposição do modelo empresarial para a gestão urbana,


é a contaminação de toda a política urbana pelo voluntarismo do mercado. Sob a ótica de
Vainer, para seus idealizadores, o realismo constituiria “uma das grandes vantagens do
novo modelo em relação ao chamado modelo normativo e compreensivo, culpado de
utopismo ou idealismo” (VAINER, 2002: 86). Este mesmo mercado, uma vez alçado à
liderança do processo de planejamento das cidades, não abre mão da intervenção estatal,
desde que voltada para os seus interesses – do mercado, que fique claro. Vainer não tem
dúvidas: com essa “nova lógica”, pretende-se “legitimar a apropriação direta dos
39

instrumentos de poder público por grupos empresariais privados”, e para tanto pouco
importam os grupos com “escassa relevância estratégica” (VAINER, 2002: 89).

Esses grupos excluídos das decisões são aqueles que não se enquadram no
consenso que o plano estratégico tenta construir nas cidades. Vainer (2002) alerta que a
mistura entre gestão urbana e empresa – ou a cidade-empresa, como ele prefere – nega
um dos papéis mais importantes de uma cidade: constituir um espaço político, que é em
última análise a função do espaço público, ou seja, de confrontação de idéias e
negociação entre diferentes, onde apenas se pode – ou se deveria – chegar a consenso
após atravessar essas etapas. Referindo-se às cidades assoladas pelas demandas do
planejamento estratégico, à procura desses espaços políticos, Vainer critica:

Aqui não se elegem dirigentes, nem se discutem objetivos;


tampouco há tempo e condições de refletir sobre valores, filosofia
ou utopias. Na empresa reina o pragmatismo, o realismo, o
sentido prático... (VAINER, 2002: 91, sem destaques no original)

Os controles políticos são estranhos a um espaço social onde o


que conta é a produtividade e a competitividade, e onde o que
vale são os resultados. (VAINER, 2002: 90)

Nesse tipo de ritmo diferenciado pelo qual a cidade do planejamento estratégico


se orienta, não havendo tempo para a construção cuidadosa de um consenso real, que
retrate as disputas presentes na cidade, o novo modelo apela para uma “sensação
generalizada de crise de crescimento ou de perda de oportunidades que permite superar
os enfrentamentos entre atores relacionados com os conflitos do dia-a-dia” (Borja &
Castells, 1997, apud VAINER, 2002: 93, grifado no original). A partir desse diagnóstico – e
contando com a funcionalidade desse acordo tácito com vistas a superar diferenças – a
metodologia empregada nos planos estratégicos se apóia, grosso modo, na identificação
de pontos fortes e fracos e alternativas para superar estes, valendo-se daqueles ou
realçando-os. Vainer ressalta que a receita deriva de outra:

Esta metodologia, apresentada por vários dos técnicos envolvidos


com o PECRJ como um verdadeiro achado catalão14, não é senão a
aplicação de um dos instrumentos básicos do planejamento
estratégico, tal qual foi concebido e modelado na Harvard
Business School, o chamado SWOT – sigla para Forças
(Strengthenesses), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades
(Opportunities) e Ameaças (Threats). (VAINER, 2002: 110)

14
PECRJ é o Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro. Os principais difusores do ideário do
planejamento estratégico no mundo, principalmente após as Olimpíadas de Barcelona (1992), são
consultores catalães, entre os quais Jordi Borja, Manuel de Forn y Foxa e Manuel Castells, todos
citados por Vainer (2002).
40

Portanto, para a construção do consenso desejado pelo plano estratégico, mais


vale a percepção, que deve ser generalizada, de que há uma crise urbana da qual todos
se ressentem. Na perspectiva crítica apresentada por Vainer, é este sentimento comum
aos cidadãos que levará a outro: o “patriotismo de cidade”, definido como o elemento
capaz de permitir “a seus líderes, atores e conjunto da cidadania assumirem com orgulho
seu passado e seu futuro e, especialmente, a atividade presente em todos os campos”
(Borja & Forn, 1996, apud VAINER, 2002: 94). Na idéia maniqueísta do “patriotismo de
cidade”, a comunidade deve ser coesa e cordata quanto ao diagnóstico aqui apresentado
sobre a situação da cidade. O maniqueísmo que se enxerga nesse agenciamento de
opiniões reside no seguinte: os que não o fizerem serão classificados como grupos com
“escassa relevância estratégica”, ou seja, suas sugestões deixarão de interessar ao plano
ora em elaboração.

Encontra-se nessa envolvente situação de consenso, mesmo que os caminhos que


levam a ela não sejam tão nítidos, terreno fértil para a parceria público-privada. Para seus
idealizadores, cujo interesse por ampliar o campo de trabalho de seus pares torna-se
indisfarçável, o poder público jamais conseguirá fazer frente às inúmeras demandas que
lhe surgem – ou ao menos não prescindirá de um bom auxílio, uma pragmática e objetiva
consultoria; enfim, uma profícua e eficaz parceria.

Com o suposto sentimento patriótico, usando o termo que os planejadores


estratégicos corromperam para emprestar ao contexto local, emerge nesses planos a
valorização do patrimônio cultural. Contudo, não se pode exigir que tal valorização parta
de demandas espontâneas da comunidade urbana. Como de resto todo o consenso
afirmado no plano, induzido e formulado sem tempo para qualquer reflexão mais
profunda (grifamos), o patrimônio cultural surge como componente dessa nova imagem
de cidade. Vindo do planejamento estratégico, não poderia desvincular-se das forças
econômicas, responsáveis diretas por essa revalorização do espaço urbano.

Rentabilidade e patrimônio arquitetônico-cultural se dão as mãos,


nesse processo de revalorização urbana – sempre, evidentemente,
em nome de um alegado civismo (como contestar?...). E para
entrar neste universo dos negócios, a senha mais prestigiosa (...)
é a Cultura. (ARANTES, 2002: 31, grifado no original)

Para funcionar, no sentido de criar referência para a ascensão do chamado


“patriotismo cívico”15, Castells e Borja, principais defensores do ideário, recomendam:

15
Castells & Borja definem o “patriotismo cívico” como o tripé formado por “sentido de
pertencimento”, “vontade coletiva de participação” e “confiança e crença no futuro da urbe”
(Castells & Borja, 1996, apud VAINER, 2002: 94).
41

Esta promoção interna16 deve apoiar-se em obras e serviços


visíveis, tanto os que têm um caráter monumental e simbólico
como os dirigidos a melhorar a qualidade dos espaços públicos...
(Castells & Borja, 1996, apud VAINER, 2002: 94)

Os monumentos e as esculturas (...) proporcionam dignidade à


cidadania, fazem a cidade mais visível e reforçam a identidade,
incluído o patriotismo cívico de sua gente. (Borja, 1997, apud
VAINER, 2002: 95)

Por fim, “reformadas as metodologias de planejamento urbano, revolucionados os


conceitos de cidade, restauradas a unidade e a identidade de todos os citadinos com sua
cidade e com seu projeto empresarial”, Vainer (2002: 95) sente falta da polis, a cidade
política. No planejamento estratégico, o único elemento político restante é a “liderança
personalizada do prefeito” (Borja, 1995, apud VAINER, 2002: 97), que mesmo assim não
deve ter uma atuação propriamente política. Abaixo, perceba-se que a descrição desse
governo não é, no discurso estratégico, aquele que cede seu poder decisório ao mercado,
mas o contrário. Isso não quer dizer que sua prática não seja igual à que acabamos de
descrever.

Um governo forte, personalizado, estável, apolítico, carismático,


expressando a vontade unitária de toda uma cidade de manter a
trégua e a coesão interna, a fim de afrontar, com base num
projeto competitivo e no patriotismo cívico, as outras cidades.
(VAINER, 2002: 97)

A esta altura, a conciliação já deve estar pronta, todos devem unir-se em torno de
uma mesma consciência, acerca da crise urbana e da necessidade de sua superação,
escamoteando os conflitos, como dissemos. Ao sintetizar essa negação da política e das
lutas políticas – não devemos nos esquecer de que a luta pelo direito ao patrimônio é
também uma dessas lutas políticas – Vainer conclui:

Transfigurando-a em mercadoria, em empresa ou em pátria,


definitivamente a estratégia conduz à destruição da cidade como
espaço da política, como lugar de construção da cidadania.
(VAINER, 2002: 98)

A constatação de que o Estado cederá sempre ao interesse do capital é, para


Przeworsky, uma lógica inexorável , inerente às políticas públicas do Estado capitalista.
Para Vainer, a tarefa do Estado, quando dirigido sob as características gerenciais do
planejamento estratégico, também é regida por uma “lógica implacável: (...) o market

16
Para Castells & Borja, essa promoção interna serviria para dotar a cidade e seus habitantes de
“patriotismo cívico” (definido anteriormente), cabendo ao governo local tal feito.
42

lead city planning17 exige que os protagonistas das ações e decisões sejam os mesmos
que protagonizam as peripécias do mercado” (VAINER, 2002: 87). Se verdadeiras18, essas
lógicas exibiriam dois cenários, ambos negativos para a coletividade e para os objetivos
que o Estatuto da Cidade, como marco legal da política nacional de desenvolvimento
urbano, logra alcançar. Tomando a legislação urbanística como produto da ação estatal
ou parte de uma política pública – em oposição à idéia de política estatal apresentada por
Fonseca – o primeiro cenário mostraria que seus efeitos são previsivelmente adversos; o
segundo, que a regulação da ocupação urbana é, em sua origem, ineficaz. Diante de
constatações tão taxativas, o exercício da função social da propriedade, elemento
presente na Constituição e no Estatuto da Cidade, torna-se mais difícil.

17
A expressão em inglês utilizada por Vainer significa, em tradução livre, planejamento urbano
orientado para o mercado.
18
O leitor deve notar que tal “lógica inexorável” ou “implacável” pode ser relativizada, à luz de
fatos e dados de uma experiência concreta. O presente capítulo apenas busca subsídios para
explicar um caso específico: a política municipal de proteção ao patrimônio de Uberlândia. Ao
longo do trabalho, pretende-se analisar como a lógica citada operou no caso dessa política, com
base em dados sobre a atuação das instituições locais dela incumbidas. Tanto é assim que não se
assume, a priori, essa lógica como verdadeira.
43

1.5. Políticas de proteção do patrimônio: a contribuição de Canclini

Em um valioso esforço de classificação e descrição de modelos que expliquem as


políticas públicas de proteção do patrimônio atualmente praticadas, Canclini arrola quatro
“paradigmas político-culturais a partir dos quais se definem os objetivos da preservação
do patrimônio” (CANCLINI, 1994: 103). Três deles – mercantilista, conservacionista-
monumentalista e participacionista, que logo serão explicados – vinculam-se claramente a
cada um dos três atores envolvidos com a questão: o setor privado, o Estado e os
movimentos sociais. Já o tradicionalismo-substancialista parece prescindir dessa
associação direta, encontrando tanto representantes estatais quanto privados entre os
atores que lhe dão suporte.

O imaginário tradicionalista-substancialista “é o dos que julgam os bens históricos


unicamente pelo valor que têm em si mesmos, e por isso concebem sua conservação
independentemente do uso atual”. Como se disse acima, vários são os atores que se
identificam com essa concepção, com destaque para “tendências aristocrático-tradicionais
do campo acadêmico e dos aparatos políticos”, segundo Canclini. Para eles, o patrimônio
constitui-se "por um mundo de formas e objetos excepcionais", cujo "único sentido é
salvaguardar essências, modelos estéticos e simbólicos" (CANCLINI, 1994: 103), ignorando
os conflitos sociais e culturais acerca de sua seleção e classificação como tal.

O imaginário mercantilista enxerga o patrimônio como “uma ocasião para valorizar


economicamente o espaço social ou um simples obstáculo ao progresso”. Para seus
adeptos, os investimentos em proteção e preservação somente se explicariam como “uma
inversão justificável caso resulte em dividendos para o mercado imobiliário” (CANCLINI,
1994: 104). Conseqüentemente, associa-se a essa concepção um papel privilegiado do
setor privado na seleção do patrimônio a ser tombado, e mesmo na delimitação das áreas
passíveis de proteção em conjunto. Outra característica comum é a espetacularidade na
restauração, a fim de aproveitar, dos raros bens que julgam merecer proteção, suposta
valorização econômica, principalmente para outros empreendimentos novos em sua
vizinhança.

Profundamente identificada com os interesses do mercado imobiliário, não é difícil


encontrar os atores da concepção mercantilista entre empresários da construção civil,
incorporadores, corretores de imóveis e proprietários de terras em áreas valorizadas da
cidade. Przeworsky (1995) já trouxe um pressuposto que busca explicar a associação
entre o Estado e esses atores. Segundo ele, o Estado será sempre parcial no atendimento
das demandas sociais e particularmente nas lutas pela apropriação do espaço urbano –
44

em nome da hegemonia do mercado nas decisões estatais sobre a cidade, como se disse
no item 1.4. De acordo com tal premissa, é certo que a gestão do patrimônio cultural
dependerá do entendimento que dela tiverem os adeptos da concepção mercantilista e as
tendências aristocrático-tradicionais dos aparatos políticos. Muito influentes nos processos
decisórios de seleção dos bens protegidos e de intervenção sobre eles, Canclini havia
identificado como esses atores entendem o papel do Estado na questão do patrimônio
cultural. Com postura semelhante sobre um tema correlato, pensam o progresso das
cidades – ou, confusão freqüente, seu desenvolvimento – como uma imagem deturpada,
difundida por uma classe dominante leiga e proprietária de terras urbanas. O
desenvolvimento é representado pela industrialização, pelo crescimento urbano, pela
ocupação verticalizada das cidades, idéia que ganha ainda maior crédito no interior do
país, nos pólos urbanos inseridos em regiões predominantemente agrárias. A fim de
conservar desigualdades, a classe dominante apropriou-se desse discurso, tentando
mostrar que o desenvolvimento local estaria na alteração das características das cidades,
em direção àquele quadro. Souza (2002), unindo os dois temas, mostra que esses pontos
de vista são compatíveis:

...‘desenvolvimento urbano’ é uma expressão que, muitas vezes,


recobre simplesmente, no discurso do dia-a-dia de políticos,
administradores e do público em geral, a expansão e a
complexificação do tecido urbano, seja transformando em
ambientes construídos ambientes outrora intocados ou pouco
modificados pelo homem, seja, também, destruindo ambientes
construídos deteriorados ou simplesmente antigos para que dêem
lugar a construções mais novas. (SOUZA, 2002: 75)

O paradigma conservacionista e monumentalista reserva ao Estado “o papel de


protagonista (...) na definição e promoção do patrimônio” (CANCLINI, 1994: 104). Tem em
comum com a concepção tradicionalista-substancialista o apreço pelas obras grandiosas
do passado, privilegiando-as e exaltando essa característica em suas ações de
preservação. “Em geral, as tarefas do poder público consistem em resgatar, preservar e
custodiar especialmente os bens históricos capazes de exaltar a nacionalidade” (CANCLINI,
1994: 104). Entretanto, difere daquela na preocupação com seu uso, pois
freqüentemente dá a esses edifícios, após restaurados, alguma utilização institucional.
Canclini julga essa diretriz insuficiente para neutralizar os conflitos presentes na política
de preservação, além de supor que o Estado busque, com isso, atender a seus próprios
interesses de legitimação.

...é grande a tentação de associar o Estado às heranças


monumentais para legitimar o sistema político vigente: afirma-se
assim ele mesmo, buscando-se identificar o enraizamento histórico
45

de quem conserva e ‘reinaugura’ os monumentos, depois de


restaurá-los, usando-os, na forma mais plena da apropriação,
como sede física de um organismo oficial. (CANCLINI, 1994: 104,
grifado no original)

Canclini faz referência, que pode ser extensiva ao caso brasileiro, a um processo
que, no México, vem ocorrendo desde a década de 1980. A partir da mobilização, alguns
setores da sociedade têm conseguido incluir o patrimônio cultural numa nova agenda
pública, em que a co-responsabilidade na gestão e as condições para sua apropriação
coletiva e democrática são demandas fundamentais. No paradigma participacionista,
altera-se o foco das políticas: de conservação, restauração e proteção restritas aos
"responsáveis por essas tarefas, os profissionais da conservação e o Estado", a
preocupação atual passa a repousar sobre os usos sociais do patrimônio, indissociáveis da
participação das populações envolvidas (CANCLINI, 1994: 103). As demais funções –
associadas, de acordo com os modelos anteriores, aos valores cultural, simbólico e
mercantil dos bens – subordinam-se às demandas presentes.

Este enfoque se caracteriza (...) por incluir no patrimônio tanto os


edifícios monumentais quanto a arquitetura habitacional, os
grandes espaços cerimoniais ou públicos do passado e os parques
e praças de hoje, os bens visíveis e os costumes e crenças.
(CANCLINI, 1994: 105)

Uma das carências do setor do patrimônio é, conforme já destacamos em Fonseca


(2005), tornar explícitas suas próprias demandas e prioridades, comumente difusas e de
difícil delimitação. Com isso, o setor é desarticulado e politicamente frágil, o que contribui
para enfraquecer a mobilização social em sua defesa, sobretudo em cidades onde essa
questão está confinada ao saber e ao sentimento aparentemente romântico de poucos
especialistas. Fonseca explica que essa fragilidade se deve à estreiteza do campo possível
de atuação das políticas patrimoniais, ainda que em oposição à amplitude de seus
objetivos.

Pois se o objetivo dessa política estatal é amplo, na medida em


que não se dirige a setores, grupos ou atividades particulares, mas
diz respeito a toda a sociedade (...), de fato o campo de sua
produção é bastante restrito: trata-se de uma política conduzida
por intelectuais, que requer um grau de especialização em
determinadas áreas do saber (...) e, por parte dos usuários, algum
domínio desses códigos. (FONSECA, 2005: 22)

A consciência coletiva acerca do patrimônio cultural é escassa e desarticulada em


função da distância que essa política pública toma do cotidiano das pessoas. Falta-lhes
justamente o domínio dos códigos envolvidos nessa complexa discussão. Exceto em casos
excepcionais, em que a iminência da perda de um bem cultural possa unir a comunidade
46

por meio do reconhecimento de símbolos comuns aos concidadãos, um dos objetivos do


patrimônio cultural – fomentar a cidadania – não transparece na maioria das ações de
proteção. Fonseca defende que “a necessidade de resistir a pressões no sentido da
destruição (...), aliada à responsabilidade, (...) do Estado e de eventuais proprietários, em
relação aos bens tombados, faz com que o objetivo dessas políticas acabe se reduzindo à
proteção de bens” (FONSECA, 2005: 36). Canclini, de forma complementar, para justificar
a escassez de mobilização pela causa, evoca a falta de reconhecimento da comunidade
em um patrimônio que deveria ser o símbolo de sua coesão. Essa desarticulação parece
explicar-se também pelas pressões das necessidades cotidianas. “É compreensível que as
classes populares, enredadas na escassez das moradias e na necessidade da
sobrevivência, se sintam pouco envolvidas na conservação de valores simbólicos,
sobretudo se não são os seus” (CANCLINI, 1994: 102-3). Com isso, se a necessidade e
urgência da proteção do acervo ameaçado de desaparecimento – e não a preocupação
em formar cidadãos – acaba por absorver os gestores em seu trabalho diário, a
percepção do valor cultural desses bens restringe-se ao olhar qualificado, permanecendo
inacessível a quem não domina tais códigos.

De acordo com a definição que já foi dada aqui, os monumentos históricos não
foram construídos para esse fim, e sim tornam-se importantes graças a uma escolha.
Quem os seleciona, se deve ou não fazê-lo em nome de certa comunidade ou questioná-
la a respeito, é outro problema. Mas o comentário de Choay é bastante incisivo, a respeito
da destinação e da visibilidade que se tem dado a um patrimônio que atrai público – como
os bens constantes da Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. O risco que tal atitude
oferece é prejudicar a percepção e a distinção de seu próprio patrimônio, de seus saberes
e práticas socioculturais, para comunidades excluídas desse circuito preponderantemente
turístico. Essas comunidades deixariam, com isso, de mobilizar-se pela proteção dos bens
que considera referenciais para a sua própria memória.

Compreende-se, assim, a dificuldade que as concepções tradicionais de patrimônio


têm de estabelecer um corpus patrimonial uno, que toda a população, seja de uma
cidade, estado ou país, sinta-se convidada a defender. Melhor explicando, a própria idéia
de corpus patrimonial – que Choay (2001) conceitua como conjunto de obras e edifícios
históricos capazes de ilustrar uma determinada tradição, seja religiosa, cívica, cultural –
fragmenta a noção de patrimônio, reforçando a concepção de Canclini e outras que
admitem o patrimônio como um discurso socialmente construído e apropriado. Segundo
esse enfoque, a eficácia social do patrimônio, ou seja, sua capacidade de fazer com que
determinado grupo social se aproprie dele e o defenda, é algo conseguido mediante
47

persuasão e elaboração retórica – o que careceria de espontaneidade. A superação do


viés tradicional – ou seja, da abordagem tradicionalista-substancialista de Canclini, sobre
a qual falávamos – ainda é tímida e desigual entre as comunidades, mas, quando
ocorresse, tenderia a favorecer a apropriação do corpus patrimonial por mais pessoas.

1.6. Quadro sintético dos referenciais utilizados

Abaixo encontram-se enumerados os conceitos e autores aqui analisados, de


modo a fixá-los para o leitor, uma vez que as teses aqui discutidas são instrumentos
importantes para a análise da atual política de proteção do patrimônio cultural, no estado
de Minas Gerais, ajudando a explicar a realidade da questão da preservação em
Uberlândia, objetos dos Capítulos 2 e 3 deste estudo, respectivamente.

Tabela 1 – Principais autores, debatedores e conceitos utilizados


Autor Conceitos Autores/
debatedores
complementares
Canclini (1994) ƒ Patrimônio cultural ƒ Gonçalves (2002)
ƒ Política pública de preservação ƒ Fonseca (2005)
(paradigmas, modelos): ƒ Souza (2002)
a) tradicionalista-substancialista ƒ Castriota (1999)
b) mercantilista ƒ Vale (2004)
c) conservacionista-monumentalista
d) participacionista
Choay (2001) ƒ Monumento ƒ Rodrigues (1998)
ƒ Monumento histórico
Fonseca (2005) ƒ Política estatal ƒ Przeworsky (1995)
ƒ Política pública
ƒ Política pública de preservação
Przeworsky (1995) ƒ Política pública ƒ Fonseca (2005)
ƒ Vainer (2002)
Vainer (2002) ƒ Planejamento estratégico ƒ Przeworsky (1995)
Arantes (2002)
Decreto-lei 25/ 1937 ƒ Patrimônio cultural
Cartas Patrimoniais ƒ Função social da propriedade
(2004) ƒ Co-responsabilidade na gestão do
Constituição (1988) patrimônio
Estatuto da Cidade
(2001)
Capítulo 2
Gestão do patrimônio cultural em Minas Gerais
49

O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA-


MG) tem um importante papel na preservação do patrimônio cultural mineiro. Ao voltar
sua atenção para as cidades desprovidas de conjuntos urbanos tombados em nível
federal, atua de forma complementar ao IPHAN. No entanto, a ação da autarquia
estadual era geograficamente concentrada, até meados da década de 1990, na região
Central do estado – onde se encontram Belo Horizonte e as principais cidades históricas,
inseridas nos roteiros turísticos consagrados. As carências conhecidas do setor cultural
brasileiro – como de pessoal, de recursos financeiros etc. – impediam que a maioria dos
municípios tivesse acesso à política estadual para a área de patrimônio.

Este capítulo tentará demonstrar como o IEPHA buscou, com o Programa de


municipalização da gestão do patrimônio cultural22, reverter um quadro de baixa
capilaridade e deficiências no acesso dos municípios às suas políticas para o patrimônio
cultural. Essa política pública mostrou seus primeiros resultados a partir de 1996, quando
o setor de patrimônio cultural passou a contar com recursos do ICMS, repassados aos
municípios conforme critérios determinados pela Lei Estadual 12.040/ 1995. Neste texto,
esclareceremos o funcionamento daquele programa estadual, oferecendo uma breve
análise crítica de suas ferramentas. A compreensão de suas características e limitações,
mostradas neste capítulo, contribui para a análise a ser feita no seguinte (Capítulo 3) para
o município de Uberlândia, que tem participado do programa nos últimos anos,
retomando a atuação em preservação que começara com uma lei municipal sobre o
assunto, em 1985.

22
O próprio IEPHA chama o Programa de municipalização da gestão do patrimônio cultural de
Minas Gerais simplesmente de ICMS Patrimônio Cultural. Será tratado por esse nome ou,
ocasionalmente, por programa. Esse programa recebeu o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade,
concedido pelo IPHAN, na categoria Apoio institucional e financeiro, em 2002.
50

2.1. A atuação do IEPHA-MG até 1990

O IEPHA é uma fundação componente do sistema estadual de cultura de Minas


Gerais, criada em 1971 para garantir a salvaguarda dos bens culturais mineiros. Suas
atribuições são análogas às do IPHAN no que se refere aos tombamentos estaduais,
tendo sido criado como “órgão de colaboração com o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional”, conforme dispõe a Lei Estadual 5775, de 30 de setembro de 1971, que
lhe deu existência. O surgimento desse órgão estadual atende às recomendações
expressas nos Compromissos de Brasília (1970) e de Salvador (1971) (BRASIL, 2004).
Nesses documentos23, os gestores “reconhecem a inadiável necessidade de ação supletiva
dos Estados e dos Municípios à atuação federal”, delegam a eles a “proteção dos bens
culturais de valor regional” e recomendam a criação de “Fundações de Cultura no âmbito
estadual”. Atualmente, a Constituição Federal considera a proteção do patrimônio cultural
competência de todos os entes federativos:

É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal


e dos Municípios: (...) III - proteger os documentos, as obras e
outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos,
as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV –
impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de
arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural...
(Constituição Federal, art. 23)

Competem ao IEPHA as funções de proteção, conservação e promoção do


patrimônio cultural mineiro, além da educação e conscientização social acerca desse
patrimônio. Essas atribuições devem ser cumpridas de maneira solidária com os
municípios mineiros, apoiando-os nas políticas locais concernentes à atividade-fim do
Instituto.

Cabe ao IEPHA/MG preservar o acervo cultural do Estado através


da realização de ações de proteção, fiscalização, obras de
conservação e restauração, (...) auxiliando e estimulando os
municípios na criação de mecanismos de proteção dos bens
culturais (...). (MINAS GERAIS, s.n.t.)

O Programa de municipalização da gestão do patrimônio cultural, exposto a partir do


próximo item, é um desses mecanismos.

Analisando a atuação do IEPHA a partir dos tombamentos efetuados, observa-se


que, nos primeiros anos de funcionamento, sua ação se voltava para alguns dos primeiros

23
As duas primeiras recomendações transcritas encontram-se no Compromisso de Brasília, 1970
(BRASIL, 2004: 137). A terceira, no Compromisso de Salvador, 1971 (BRASIL, 2004: 143).
51

espaços públicos e edifícios da capital – estes predominantemente ocupados por


instituições estaduais – e alguns exemplares de arquitetura rural e religiosa, nos
arredores. O primeiro bem tombado, em 1975, foi o Palácio da Liberdade, sede do
governo estadual, persistindo até 1978 uma total concentração geográfica na região
Central24 do território mineiro. As primeiras exceções – bens de fora dessa região que
mereceram proteção – foram casos isolados no Centro-Oeste e na Zona da Mata, em
1978. A Tabela 2 e o Gráfico 1 mostram como se distribuíram regionalmente as ações de
tombamento efetuadas pelo IEPHA. Nas duas primeiras décadas de funcionamento do
Instituto, percebe-se que essa concentração permaneceu forte.

Tabela 2 – Bens imóveis tombados em nível estadual, por região e data (ano),
de 1975 a 1989
Ano MG Regiões
Alto Central Centro Jequit. Mata Noro- Norte Rio Sul Triân
Parana -Oeste Mucuri este Doce -gulo
íba
1975 6 6
1976 2 2
1977 13 13
1978 9 7 1 1
1979 3 1 2
1980 7 3 4
1981 2 1 1
1982 2 2
1983 2 2
1984 5 2 3
1985 9 5 3 1
1986
1987
1988 9 9
1989 19 1 7 6 1 1 2 1
Total 88 4 62 1 5 7 4 1 3 1
Fontes: www.iepha.mg.gov.br
www.almg.gov.br

24
Adotamos a regionalização do Governo de Minas Gerais, que divide o estado em 10 regiões de
planejamento: Central, Centro-Oeste, Sul, Mata, Rio Doce, Alto Paranaíba, Triângulo, Noroeste,
Norte e Jequitinhonha/ Mucuri (Figura 1).
Figura 1 – Regiões de planejamento do estado de Minas Gerais
Fonte: Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, Instituto de Geociências Aplicadas
www.iga.br

Legenda:

Belo Horizonte

Uberlândia
53

Gráfico 1 – Bens imóveis tombados em nível estadual, por região, de 1975 a


1989

Alto Paranaíba
1 3 1 4
4 Central
7
Centro-oeste
5
1 Jequitinhonha/ Mucuri
Mata
Norte
Rio Doce
62
Sul
Triângulo

Fonte: www.iepha.mg.gov.br

Segundo Moraes (2001), a atuação do Instituto demonstrava “especial atenção


para com aqueles bens localizados em localidades de pequeno porte e de economia frágil,
sobretudo aquelas desarticuladas dos roteiros turísticos consagrados” (MORAES, 2001:
174), o que contribuía para evitar sobreposição com a proteção exercida pelo IPHAN. Essa
complementaridade com o órgão federal, plenamente respaldada pelos Compromissos de
Brasília e Salvador e pela lei que o criou, sempre foi uma característica notável da atuação
do IEPHA. Tanto tem sido assim que Ouro Preto, primeiro sítio tombado pelo IPHAN no
país, possui 47 bens protegidos no âmbito federal e apenas um no estadual. Outros
exemplos, na primeira década de atuação (1970), são alguns tombamentos estaduais
realizados em Couto de Magalhães de Minas (região do Alto Jequitinhonha, próxima a
Diamantina); Sabará, Caeté e Santa Luzia (cidades setecentistas da Região Metropolitana
de Belo Horizonte); Chapada do Norte e Minas Novas (em antiga zona mineradora do Vale
do Jequitinhonha, nordeste do estado). Até 1980, foram objetos de tombamento 40 bens
– entre imóveis isolados e conjuntos paisagísticos – dos quais apenas sete situados fora
da região Central.

O Instituto é guardião de um expressivo acervo de arquitetura dos séculos XVIII e


XIX, legado pela mineração na fase inicial de povoamento do território, ocorrido
justamente na região Central, onde sua atuação se concentrou, ao longo das décadas de
54

1970 e 1980. A participação privilegiada de Belo Horizonte25 na política de tombamentos


estaduais, todavia, enfraquece o argumento de que seu foco recairia sobre as cidades
mais antigas.

O tombamento, porém, não deve ser o único meio de se preservar um bem


cultural. Para o IEPHA, “o inventário é uma das atividades fundamentais para o
estabelecimento e priorização de ações dentro de uma política de preservação efetiva e
gestão do patrimônio cultural” (MINAS GERAIS, s.n.t.). Quanto aos inventários de bens
imóveis, efetuados desde 1984, tomamos para análise a categoria estruturas
arquitetônicas e urbanísticas, que inclui todos os edifícios que foram objeto desse tipo de
estudo. Nesse caso, não se observa concentração na capital, mas não se pode afirmar o
mesmo da região Central do estado. O banco de dados estadual apresenta 573 unidades
inventariadas, das quais 76,8% situam-se naquela região. Esses imóveis estão distribuídos
entre 28 municípios da porção Central, três de Jequitinhonha-Mucuri e um de cada uma
das seguintes regiões: Mata, Centro-Oeste, Norte, Sul e Triângulo. Merece nota o fato de
que o órgão estadual inventariou, no período, apenas um imóvel em cada uma das
regiões Norte, Sul e Triângulo. Pode-se deduzir que o estado não se utilizou dos
inventários para promover a preservação de ambiências e conjuntos urbanos, a não ser
com relação a alguns municípios das regiões Central, Mata e Centro-Oeste, onde houve
muitos. Tampouco conseguiu estender, com eles, sua ação às diversas regiões de Minas
Gerais.

Gráfico 2 – Estruturas arquitetônicas e urbanísticas inventariadas, por região,


desde 1984

11 Central
102
9 Centro-oeste
19 Jequitinhonha/ Mucuri
Mata
Norte
Sul
440
Triângulo

Fonte: www.iepha.mg.gov.br

25
Situam-se em Belo Horizonte 26 dos 87 bens tombados pelo IEPHA até 1989, mais que no
conjunto de municípios externos à região Central do estado até então (25), além de ser a maior
concentração por município.
55

Observando-se esses dados, é flagrante que o Patrimônio mineiro negligenciou a


maioria das cidades do interior por um longo período, não porque nelas não houvesse
acervo interessante, mas por falta de uma política de cobertura efetiva de todo o
território. Afora os dados acima, sobre bens tombados e inventariados na esfera estadual,
há poucos registros sobre a existência de políticas locais de preservação anteriores à Lei
12.040/ 1995. Para os anos iniciais dessa lei, pode-se contar com a pontuação26 dos
municípios, como indício de que possuíam acervo de seu próprio interesse e
empreenderam ações com foco no patrimônio cultural – como tombamentos municipais,
sobre os quais não se sabia sistematicamente até a promulgação da citada lei.
Oportunamente, após esclarecermos como se dá essa pontuação, apresentaremos os
dados sobre a distribuição de pontos por regiões, capazes de estimar o impacto dessa
política nos municípios antes privados da ação do órgão estadual de patrimônio (ver
Tabela 10). O reconhecimento dessas deficiências pelo próprio gestor estadual, além de
outros fatores que descreveremos a seguir, conduziram à política de descentralização
atualmente vigente, cujas limitações e potencialidades este trabalho pretende perscrutar.

26
A pontuação é a forma pela qual o IEPHA, órgão incumbido do critério do patrimônio cultural nas
Leis 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000, avalia o desempenho dos municípios nessa área, a fim de
repassar-lhes os recursos de que dispõe.
56

2.2. A atuação do IEPHA-MG após 1990:


as Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000 (Lei “Robin Hood”);
o Programa de municipalização da gestão do patrimônio cultural de Minas
Gerais

A preservação do patrimônio cultural no estado de Minas Gerais ganhou novo


impulso com a Lei Estadual 12.040/ 199527, popularmente conhecida como Lei “Robin
Hood". O Programa de municipalização da gestão do patrimônio cultural de Minas Gerais,
alicerçado na referida Lei, foi criado com a intenção de tornar mais eficaz a salvaguarda
do patrimônio pelos próprios municípios mineiros. Por terem características muito
diversas, a descentralização poderia fazer, para muitos municípios até então alijados
desse processo, com que o acesso à política estadual de patrimônio fosse mais
democrático. Esse Programa estimula os municípios a implementar políticas de proteção
ao patrimônio cultural, estabelece critérios para sua avaliação e compensa as cidades que
comprovarem ações continuadas em defesa de seus acervos.

Além de prover recursos, através da repartição do ICMS arrecadado com base nos
critérios demonstrados a seguir, o Programa tem a pretensão de despertar cidadãos para
a discussão de um tema particularmente controverso em cidades mais jovens,
industrializadas e de renovação urbana acelerada, mas também em municípios menores.
Naquelas e nestes, a discussão desse assunto mantinha-se tímida. Um enfoque sobre o
funcionamento dos conselhos deliberativos de patrimônio cultural, criados nos municípios
por exigência do Programa, seria capaz de responder se esse quadro tem indicadores de
mudança recente. Esse aspecto, com relação ao município de Uberlândia, será abordado
no próximo capítulo.

Com o intuito de dividir com as administrações locais as responsabilidades na


defesa do patrimônio cultural encontrado no estado, o governo estadual tem-se
mobilizado para fomentar a descentralização da gestão nessa área. Desde 1996, após a
promulgação da Lei Estadual 12.040, centenas de municípios mineiros passaram a
organizar seus próprios sistemas de gestão do patrimônio cultural, criando conselhos
participativos sobre o tema e tombando os imóveis que julgam importantes para suas
comunidades.

27
A Lei Estadual 12.040, de 28/12/1995, “dispõe sobre a distribuição da parcela da receita do
produto da arrecadação do ICMS pertencente aos municípios”. Essa lei foi revogada e substituída
pela Lei 13.803, de 27/12/2000, com a mesma ementa, apresentada no Anexo 1. Daqui em diante,
faremos referência a ambas, citando a lei revogada ou a vigente, conforme a época.
57

Os esforços por descentralização e participação social são coerentes com a


Constituição Federal28, segundo a qual a gestão do patrimônio é uma competência de
todos os entes da federação e deve contemplar o princípio da co-responsabilidade – “o
poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio
cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e
desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação”. Por analogia, leis
como a Constituição Estadual29 estendem aos estados e municípios a definição de
patrimônio cultural presente na Constituição Federal, o que deve fazer diferença quanto
ao acervo a ser protegido, se essa divisão de tarefas efetivamente provocar, como se
deseja, o envolvimento da comunidade local.

Para Teixeira (2000), um conselho de políticas públicas, típico fórum de


participação e controle social, bastante freqüente após a Constituição Federal de 1988,
“facilita a transparência dos atos e decisões e, ao mesmo tempo, constitui-se como
espaço de disputa de posições políticas e ideológicas”. Esse autor identifica alguns
elementos que considera “essenciais à organização dos conselhos: uma base social
concreta; representantes desta base com mandato vinculado e revogável; exercício de
funções legislativas e executivas” (TEIXEIRA, 2000: 101, sem destaques no original).
Enumera ainda alguns formatos assumidos por esses conselhos:

Os formatos dos Conselhos brasileiros variam conforme estejam


vinculados à implementação de ações focalizadas, através de
Conselhos gestores de programas governamentais (...), ou à
elaboração, implantação e controle de políticas públicas, através
de Conselhos de políticas setoriais, definidos por leis federais para
concretizarem direitos de caráter universal (...). Há também os
Conselhos temáticos, envolvidos não apenas com políticas
públicas, ou ações governamentais mas com temas transversais
que permeiam os diretos e comportamentos dos indivíduos e da
sociedade (...). Também (...) organismos mais gerais, de
participação mais ampla, envolvendo vários temas transversais30...
(TEIXEIRA, 2000: 101-2, sem destaques no original)

28
Essas recomendações encontram-se nos artigos 23 e 216, § 1º, da Constituição Federal,
respectivamente.
29
A constituição do patrimônio cultural mineiro é análoga à do nacional, bem como o princípio da
co-responsabilidade em sua proteção (Constituição do Estado de Minas Gerais, art. 208 e 209;
Constituição Federal, art. 216).
30
Nos trechos omitidos desta citação, Teixeira (2000) dá exemplos de cada um dos quatro
formatos: para os Conselhos gestores de programas governamentais, cita merenda, alimentação
escolar, ensino fundamental e crédito; para Conselhos de políticas setoriais, aparecem saúde,
educação e cultura; para Conselhos temáticos, enumera direitos humanos, violência, discriminação
contra a mulher e o negro; por fim, para os Conselhos que envolvem vários temas transversais,
elenca desenvolvimento municipal e desenvolvimento urbano.
58

No final deste capítulo, este modelo será comparado às características dos conselhos
mineiros e, no capítulo seguinte, mais detalhadamente o faremos para o conselho de
patrimônio de Uberlândia, uma vez que seu papel e seu funcionamento serão estudados
de forma mais detida, como se propõe este trabalho.

A idéia da descentralização da proteção, ou seja, de estimular cada município a


escolher o que preservar, apoiando-os técnica e materialmente, só se tornou viável graças
a um reconhecimento mais claro da necessidade de preservação dos bens culturais. Para
isso, a evolução do ideário sobre o patrimônio, conforme se observa nas Cartas
Patrimoniais31, foi fundamental para a política pública que estamos descrevendo.

O Programa de municipalização da gestão do patrimônio cultural – ou ICMS


Patrimônio Cultural – encontra nas Cartas de Veneza e Washington seus alicerces
principais. Ambas são conceitualmente generosas, aquela alçando à categoria de
patrimônio as “obras modestas, que tenham adquirido (...) significação cultural”, esta
justificando a grande e indiscriminada abrangência do programa – pois, uma vez
considerados históricos32, todos os municípios podem pleitear seus recursos. A
participação de cada um se dá na proporção de seu acervo histórico e de seu empenho
na promoção de políticas de preservação, medidos por critérios que explicitam os focos e
objetivos dessa política. Resta a seguinte questão: em face da grande diversidade
existente entre eles, será o conceito universal e aplicável a qualquer um dos mais de
oitocentos municípios mineiros? Antes de tentar responder, vejamos como esta política
pública funciona na prática.

Minas Gerais é a unidade da Federação que possui o maior número de municípios


e é grande a desigualdade de suas condições socioeconômicas. Por isso, era urgente
adotar regras que possibilitassem uma distribuição mais equânime de recursos, de modo
a interromper o movimento vicioso de concentração de riquezas entre municípios mais
industrializados, um considerável fator de expulsão de população das regiões mais pobres
do estado. O objetivo das Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000 foi e é estipular
critérios para a redistribuição da parcela de recursos oriundos do ICMS que cabe às
municipalidades. O princípio comum a ambas, tal como o motivo que levou os mineiros a
dar-lhes o apelido, é simples: utilizar os recursos de ICMS provenientes de localidades
com maior capacidade geradora (cidades mais industrializadas, com maior movimento

31
A evolução conceitual expressa pelas Cartas Patrimoniais foi sintetizada no Capítulo 1. Para ler
os documentos na íntegra, ver BRASIL, 2004.
32
“...todas as cidades do mundo são as expressões materiais da diversidade das sociedades
através da história e são todas, por essa razão, históricas” (Carta de Washington, 1986, in BRASIL,
2004: 281)
59

comercial e financeiro) em atenção às cidades pequenas e pobres, incapazes de financiar


seu desenvolvimento e atender às necessidades de suas populações.

A Constituição Federal determina que o ICMS, um imposto pertencente aos


estados, tenha um quarto do produto arrecadado transferido para os municípios. Dessa
forma, o crédito aos municípios deve seguir os seguintes critérios: “I – três quartos, no
mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações relativas à circulação de
mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em seus territórios; II – até um
quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual...” (Constituição Federal, art. 158,
parágrafo único). Segundo Pereira (2003), antes da promulgação da Lei 12.040/ 1995, a
distribuição dos recursos provenientes daquele importante imposto estadual era
excessivamente concentrada, impedindo que o tributo cumprisse a função, que a
Constituição lhe facultava, de redistribuir a riqueza produzida no estado de Minas Gerais.
“Antes da promulgação da Lei Robin Hood [sic], o mecanismo de redistribuição do ICMS
levava em consideração apenas três variáveis para o cálculo dos índices de repasses do
referido tributo aos municípios mineiros: VAF, cidades mineradoras e distritos.” (PEREIRA,
2003: 34)

Como os critérios de distribuição passaram a não mais se limitar a população e


receita própria, de maneira previsível, em favor de muitos municípios que aumentaram
suas receitas em decorrência dessa lei, alguns dentre os mais ricos e populosos
forçosamente abriram mão de recursos financeiros que não lhes pareciam menos
importantes, vendo-se obrigados a buscar compensações (Tabela 3).

Tabela 3 – Situação dos municípios com os maiores repasses de ICMS na


vigência da Lei 12.040/ 1995, comparada com repasses sem a
mesma lei (situação hipotética33)
Municípios Repasse sem a Repasse com a Diferença Repasse Repasse per
Lei (em R$) Lei (em R$) (em %) per capita capita com a
sem a Lei Lei (em R$)
(em R$)
Belo Horizonte 131.621.056,70 127.039.588,81 -3,48% 62,76 60,57
Betim 121.637.434,43 114.241.342,05 -6,08% 611,56 574,38
Contagem 98.371.801,15 93.263.241,43 -5,19% 195,14 185,01
Uberlândia 89.644.998,04 85.243.962,18 -4,91% 219,88 209,08
Ipatinga 52.163.760,66 49.602.400,96 -4,91% 275,04 261,54
Fonte: Soares (1996)

33
Soares (1996) compara os valores de ICMS recebidos por esses municípios em 1996, na vigência
da Lei Estadual 12.040/ 1995, com “uma situação hipotética em que a distribuição fosse feita como
aquela de 1995”.
60

As próprias Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000 previram como assegurar
transferências mensais a todas as cidades, mas vinculando-as à comprovação de
investimentos setoriais34 pelos governos locais. Os prefeitos perceberam que investir com
responsabilidade em saúde, educação, agricultura, meio ambiente e cultura, entre outros,
poderia aumentar os repasses de impostos estaduais ou mesmo compensar seus
municípios de eventuais perdas. Como foi dito, ambas as leis serviam ao mesmo
propósito. A substituição de uma pela outra creditou-se à necessária previsão de regras
de transição, segundo as quais a retirada de recursos dos critérios preexistentes se daria
gradativamente (Tabela 4). Contudo, a maioria dos critérios, inclusive o patrimônio
cultural, mantém a mesma participação na divisão dos recursos desde 1998.

Vale notar que a lei estabelece uma cota mínima equivalente a 5,5 pontos
percentuais (ou 5,5% de todo o imposto arrecadado), a serem divididos igualmente entre
os 853 municípios, a fim de diminuir as desigualdades regionais, gritantes no estado, bem
como uma fração variável conforme receita própria e população, de modo a minimizar as
perdas dos mais ricos. Starling & Reis (2002) entendem que os principais critérios
anteriores a essa lei – VAF e população, ou seja, capacidade de arrecadação e porte do
município – permanecem com peso considerável, enfraquecendo seu propalado efeito
redistributivo. Para esses autores, o único quesito realmente capaz de promover
transferência de renda para municípios menores e mais pobres é a cota mínima.

O objetivo explícito da lei (...) foi o de repassar recursos segundo


critérios que incentivassem a promoção de políticas públicas em
áreas sociais (saúde, educação, meio ambiente e patrimônio
cultural), e o esforço tributário empreendido pelo município. (...)
Pode-se argumentar (...) que o único critério com a intenção
explícita de criar efeito redistributivo é o da cota mínima...
(STARLING & REIS, 2002: 14)

De resto, o principal mérito dessas leis teria sido estimular políticas públicas sociais
descentralizadas, o que reveste de maior importância a avaliação do desempenho dessas
políticas. Ao critério patrimônio cultural, que nos interessa, reserva-se um ponto
percentual, dos 25% de produto que cabem diretamente aos municípios. Tal critério visa
a dar condições para a municipalização e para a gestão participativa do patrimônio
cultural.

A Lei Estadual 12.040/ 1995 definiu, para o cálculo dos quinhões de ICMS devidos
aos municípios, o conceito de Índice de Patrimônio Cultural (PPC), mantido pela Lei
13.803/ 2000, que consiste na atribuição de pontuação às cidades que pleitearem o
recurso. Por meio dessa pontuação, avalia-se o tamanho e a importância de seu acervo

34
Ver Tabela 4.
61

histórico, além de seu empenho em criar uma política local de preservação. Recebem
pontos os municípios detentores de conjuntos urbanos, bens imóveis ou móveis
tombados, variando conforme o nível do tombamento – se federal, estadual ou municipal
– e a quantidade de exemplares. Além disso, a “existência de planejamento e de política
municipal de proteção do patrimônio cultural” (Lei Estadual 12.040/ 1995, Anexo III)
também é valorizada. Exige-se documentação comprobatória, embora nem sempre seja
possível aferir a veracidade das informações prestadas pelos municípios.

Nas palavras do IEPHA:

Os dados relativos aos tombamentos e políticas municipais são os


atestados pelo Conselho Curador do IEPHA-MG, mediante
comprovação pelo município:

I - de que os tombamentos estão sendo realizados conforme


técnica e metodologia adequadas;

II - de que o município possui política de preservação do


patrimônio cultural devidamente respaldada por lei e

III - de que o município tem efetiva atuação na preservação dos


seus bens culturais. (Resolução 01/ 1997, Notas)

O que cabe a cada um é dado pela seguinte fórmula:

...relação percentual entre o índice de Patrimônio Cultural do


Município e o somatório dos índices para todos os municípios,
fornecida pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico
– IEPHA... (Lei Estadual 12.040/ 1995, art. 1º, VII)

A Tabela 5, base da avaliação periódica que subsidia a política estadual, apresenta


as categorias do Índice de Patrimônio Cultural, que são idênticas nas Leis 12.040/ 1995 e
13.803/ 2000. O que variou foram as exigências e critérios, para que os dados fornecidos
pelos municípios fossem aceitos e avaliados. Como será exposto a seguir, o IEPHA
reformulou ano a ano essas exigências (Tabelas 6, 7 e 8), tornando-as mais complexas
devido à necessidade crescente de fiscalização e aperfeiçoamento do ICMS Patrimônio
Cultural.
62

Tabela 4 – Critérios de distribuição da cota-parte dos municípios no produto da arrecadação do ICMS, desde 1996, conforme Anexo
I da Lei Estadual 12.040/ 1995 e Anexo I da Lei Estadual 13.803/ 2000 (em % do produto arrecadado)
Critérios de distribuição 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 a partir
de 2005
VAF (art. 1º, I) 13,01215 8,4575 4,48608 4,55072 4,61536 4,632 4,644 4,656 4,668 4,680
Compensação provisória por 0,32585 0,2585 0,19392 0,12928 0,06464 0,048 0,036 0,024 0,012 0
emancipação de distritos, a Mateus
Leme e Mesquita (art. 1o, XIII e XIV)
Atividades de mineração (art. 1º, 1,500 0,750 0,110 0,110 0,110 0,110 0,110 0,110 0,110 0,110
XII)
Área geográfica (art. 1º, II) 0,333 0,666 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000
População (art. 1º, III) 0,666 2,042 2,710 2,710 2,710 2,710 2,710 2,710 2,710 2,710
População dos municípios mais 0,666 1,332 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000
populosos (art. 1º, IV)
Educação (art. 1º, V) 0,666 1,332 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000
Produção de alimentos (art. 1º, VI) 0,333 0,666 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000
Patrimônio cultural (art. 1º, VII) 0,333 0,666 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000
Meio ambiente (art. 1º, VIII) 0,333 0,666 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000
Saúde (art. 1º, IX) 0,666 1,332 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000
Receita própria (art. 1º, X) 0,666 1,332 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000
Cota mínima (art. 1º, XI) 5,500 5,500 5,500 5,500 5,500 5,500 5,500 5,500 5,500 5,500
Total 25,000 25,000 25,000 25,000 25,000 25,000 25,000 25,000 25,000 25,000
Fontes: Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000, extraídas de Pereira (2003) e www.almg.gov.br.

Legenda: Critérios que perderam participação no ICMS


Critérios que ganharam participação no ICMS
63

Tabela 5 – Índice de Patrimônio Cultural – PPC, conforme Anexo III da Lei Estadual
12.040/ 1995 e Anexo III da Lei Estadual 13.803/ 2000

Atributo Característica Sigla Nota


Cidade ou distrito com seu núcleo histórico Nº de domicílios > 5000 NH1 16
urbano tombado em nível federal ou estadual 5000 ≥ Nº de dom. ≥ 3001 NH2 12
3000 ≥Nº de dom. ≥ 2001 NH3 08
2000 ≥ Nº de domicílios NH4 05
Somatória dos conjuntos urbanos ou Σ unid ≥ 30 e área ≥ 10 ha CP1 05
paisagísticos, localizados em zonas urbanas Σ unid ≥ 20 e área ≥ 5 ha CP2 04
ou rurais, tombados em nível federal ou Σ unid ≥ 10 e área ≥ 2 ha CP3 03
estadual Σ unid ≥ 5 e área ≥ 0,2 ha CP4 02
Bens imóveis tombados isoladamente em nível Nº unid > 20 BI1 08
federal ou estadual, incluídos seus 20 ≥ Nº unid > 10 BI2 06
respectivos acervos de bens móveis, quando 10 ≥ Nº unid > 5 BI3 04
houver 5 ≥ Nº unid ≥ 1 BI4 02
Bens móveis tombados isoladamente em nível Nº unid > 5 BM1 02
federal ou estadual 5 ≥ Nº unid ≥ 1 BM2 01
Cidade ou distrito com seu núcleo histórico Nº de domicílios ≥ 2001 NH21 04
urbano tombado em nível municipal 2000 ≥ Nº de domicílios ≥ NH22 03
50
Somatória dos conjuntos urbanos ou Σ unid ≥10 e área ≥ 2 ha CP21 02
paisagísticos, localizados em zonas urbanas
ou rurais, tombados em nível municipal Σ unid ≥ 5 e área ≥ 0,2 ha CP22 01
Bens imóveis tombados isoladamente em nível Nº unid > 10 BI21 03
municipal, incluídos seus respectivos acervos 10 ≥ Nº unid > 5 BI22 02
de bens móveis, quando houver 5 ≥ Nº unid ≥ 1 BI23 01
Bens móveis tombados isoladamente em nível Nº unid ≥ 1 BM21 01
municipal
Existência de planejamento e de política PCL 03
municipal de proteção do patrimônio cultural
Fontes: Leis Estaduais 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000, extraídas de www.almg.gov.br.

Tabela 6 – Normas relativas à documentação exigida para cálculo do Índice de


Patrimônio Cultural – PPC, de 1996 a 2005

Norma vigente
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005

Ano de entrega >>

Lei Estadual 12.040/ 1995, de 28/ 12/ 1995


Resolução 01/ 1997, de 18/ 02/ 1997
Resolução 01/ 2000, de 13/ 05/ 2000
Deliberação 01/ 2002, de 11/ 01/ 2002
Deliberação 02/ 2002, de 27/ 08/ 2002
Deliberação 01/ 2004, de 30/ 06/ 2004
Fonte: IEPHA
64

Em 1996, primeiro ano de vigência35 do programa, a avaliação foi feita com base
nos acervos já tombados até aquela data. Com vistas a corrigir tal distorção, que fazia
aumentar a concentração dos recursos nos municípios que já contavam com grandes
acervos de bens protegidos – ao invés de estimular os que ainda não os possuíam, como
era do espírito da norma – o IEPHA editou critérios para uma pontuação a ser atribuída às
políticas locais de proteção do patrimônio.

A Resolução 01/ 1997 – publicada em fevereiro de 1997 para orientar os gestores


municipais – atribuía pontos aos municípios que possuíssem bens tombados,
isoladamente ou em conjunto, em qualquer um dos níveis federal, estadual ou municipal.
Para receber notas que variavam conforme a Tabela 5, bastava apresentar, para imóveis
isolados inscritos no livro municipal (siglas BI e BM, na Tabela 5), um histórico do bem,
seus elementos artísticos integrados, caso existissem, descrição, justificativa de seu valor
histórico e dados sobre o ato de tombamento. Para núcleos históricos, conjuntos urbanos
ou paisagísticos (siglas NH e CP, no mesmo quadro), acrescentava-se ainda a planta da
área protegida, com perímetro de tombamento, indicando o número de imóveis nela
inseridos. No atributo Planejamento e política municipal de proteção ao patrimônio
cultural (identificado pelo sigla PCL), faziam jus à pontuação os municípios que
apresentassem legislação referente à política cultural e, especificamente, à proteção e
conservação de bens tombados ou de interesse (Tabela 8). Deviam também “dispor, em
sua estrutura administrativa, da equipe técnica necessária à execução de sua política de
preservação” (Resolução 01/ 1997). Percebe-se que a demanda do IEPHA era por
informação, pois o Instituto pouco sabia da ação das centenas de municípios mineiros na
área de seu interesse, a preservação do patrimônio cultural.

Em 1998, na data de entrega da documentação referente ao ano-exercício 1999,


ainda vigorava a mesma Resolução 01/ 1997, mas esta trazia normas mais detalhadas a
cada exercício subseqüente, tornando gradativa a implementação da política. A partir de
então, o atributo Bens tombados (siglas NH, CP, BI e BM) passou a exigir dossiês de
tombamento, contendo histórico do município e do bem, descrição e análise deste último,
perímetro de tombamento e de entorno, mapas, fotos, parecer técnico favorável à
inscrição no livro e ficha da equipe técnica. Facultava-se trazer medidas complementares
de proteção e outros anexos. No atributo referente à política municipal de patrimônio
cultural, a inovação foi a criação dos Conselhos Municipais de Patrimônio Cultural, que

35
Referimo-nos ao ano de entrega da documentação, que sempre ocorre em abril. Somente no
ano seguinte, chamado de ano-exercício, os municípios passam a receber os recursos, devido à
avaliação de sua política local. Por exemplo: a documentação entregue em abril de 1997 subsidia
os repasses do ano-exercício de 1998, que ocorrem em parcelas mensais, de janeiro a dezembro.
65

deveriam ter representação equilibrada entre entidades públicas e privadas, além das
atribuições de tombamento, fiscalização, controle e outras formas de proteção. As
equipes técnicas das Prefeituras passaram a ter de comprovar documentalmente sua
atuação. Segundo outra obrigação dos municípios, a legislação urbanística devia provar-se
compatível com a preservação. Recomendado pela Carta de Washington (1986), este é
um esforço em se aliar a proteção do patrimônio ao planejamento do território municipal.

Diversas Resoluções do IEPHA explicitam, em seu arrazoado inicial, “a prioridade


de descentralização administrativa proposta pelo governo estadual e a conseqüente
necessidade de municipalização da política de preservação de bens culturais”36. A
evolução gradativa das exigências do IEPHA, que estamos buscando descrever, aponta
para o propósito de consolidar um leque de responsabilidades novas e definitivamente
transferidas aos municípios. Em 1999, após ter havido grande interesse37 dos municípios
pelo programa estadual, as exigências aumentaram e importantes passos foram dados
nesse sentido.

Em 1999 (ano-exercício de 2000), os dossiês de tombamento deveriam ser


reapresentados, desta vez acompanhados de outros documentos comprobatórios do
processo (ata do Conselho sobre a análise do bem e sua inscrição no livro do tombo
municipal), para que o IEPHA pudesse iniciar seu banco de dados sobre os tombamentos
municipais, uma das intenções anteriormente expostas. Para melhor controlar a execução
da política e estimular sua continuidade, novos documentos foram solicitados (ver Tabelas
7 e 8), dos quais o mais importante foi o laudo sobre a conservação dos imóveis
tombados, valorizando apenas aqueles mantidos em bom estado. A confecção de
inventários dos bens de interesse de preservação também foi novidade. Com eles,
oferece-se aos municípios um instrumento de proteção alternativo ao tombamento. Na
política local de preservação, a atuação dos Conselhos e das equipes técnicas municipais,
além dos investimentos em bens culturais, passaram a ser comprovadas.

36
Esta razão é citada nas Resoluções 01/ 1997 e 01/ 2000 e na Deliberação Normativa 01/ 2002,
que, juntas, perfazem os anos de 1997 a 2003 – ou os exercícios de 1998 a 2004.
37
Em 1998 (ano-exercício 1999), o Programa de municipalização teve a maior procura até então:
233 dos 853 municípios mineiros receberam pontos, ou seja, 39,5% mais municípios interessados
que no ano anterior.
66

Tabela 7 – Evolução dos critérios de avaliação do Índice de Patrimônio Cultural – PPC, para o atributo bens tombados e de
interesse de preservação pelo município, entre 1996 e 2005

1996
1997
1998

1999
2000
2001
2002
2003
2004

2005
Informações sobre bens tombados
Planta do conjunto urbano tombado, com perímetro de tombamento e nº de imóveis
Endereço dos imóveis tombados isoladamente
Histórico e elementos artísticos integrados
Descrição e justificativa do valor histórico do bem
Dossiês de tombamento, cf. modelo [com novas exigências a partir de 2002; apenas no ano de tombamento]

Dossiê de tombamento de sítio arqueológico


Pareceres sobre o tombamento
Dados sobre o ato de tombamento [apenas no ano de tombamento]

Ata do Conselho sobre cada tombamento


Inscrições no Livro do Tombo
Publicação do tombamento no Diário Oficial

Notificação do proprietário
Laudo de bom estado de conservação
Inventário dos bens culturais de interesse de preservação [a partir de 2003, cf. Plano de inventários e modelo]
Inventário dos conjuntos urbanos tombados
Inventário dos bens culturais imateriais

Publicação do inventário [quando concluída quantidade recomendada pelo IEPHA]


Atualização do inventário
Plano de inventários para os anos subseqüentes
Plano de Gestão de sítio arqueológico [a partir de 2002, aprovado pelo IPHAN; no ano de tombamento]
Fonte: IEPHA, Resoluções 01/ 1997 e 01/ 2000, Deliberações Normativas 01/ 2002, 02/ 2002 e 01/ 2004 (dados sistematizados pelo autor)
67

Tabela 8 – Evolução dos critérios de avaliação do Índice de Patrimônio Cultural – PPC, para o atributo planejamento e política
municipal de proteção do patrimônio cultural, entre 1996 e 2005

1996
1997
1998
1999

2000
2001
2002
2003
2004
2005
Legislação [apenas no ano de publicação]
Legislação referente à política cultural
Legislação urbanística compatível com a preservação [incl. de conjuntos urbanos tombados, desde 2002]

Lei municipal de proteção ao patrimônio cultural


Lei de criação do Conselho de Patrimônio Cultural

Lei Orgânica municipal: capítulos específicos


Atuação da equipe técnica e do conselho
Equipe técnica, com responsável técnico
Equipe técnica com atuação comprovada

Criação de Departamento de Patrimônio Cultural, com equipe técnica especializada


Relatório de atividades do Departamento de Patrimônio Cultural
Programas e projetos implementados pelo município
Informações sobre o funcionamento do Conselho
Conselho com atuação comprovada

Controle dos recursos compartilhado entre Conselho e Prefeitura


Abertura e inscrições no Livro do Tombo pelo Conselho
Investimentos em bens culturais
Investimentos em bens culturais tombados ou inventariados
Investimentos em atividades culturais
Pontuação extra para investimentos de 80% dos recursos do ano anterior
Pré-requisitos para pontuação: vistoria em bens e educação patrimonial
Padronização da apresentação, com quadros e modelos do IEPHA

Fonte: IEPHA, Resoluções 01/ 1997 e 01/ 2000, Deliberações Normativas 01/ 2002, 02/ 2002 e 01/ 2004 (dados sistematizados pelo autor)
68

Em 2000 (ano-exercício de 2001) valeram os mesmos critérios do ano anterior.

A partir de 2001 (ano-exercício de 2002), com a Resolução 01/ 2000, mudam-se


as proporções de pontuação de cada item da política, a fim de qualificar a atuação dos
municípios. Para o atributo bens tombados e de interesse de preservação pelo município,
a avaliação divide-se entre dossiês de tombamento (30% da nota referente ao atributo),
inventários (10%) e ações de proteção e investimentos (60%). A partir desse ano, os
inventários executados deveriam tornar-se disponíveis ao público, por qualquer meio ao
alcance dos municípios, informando e educando a população com relação ao assunto. Em
seu sexto ano de vigência, o programa volta-se fortemente para os investimentos dos
municípios nos bens culturais, porque os numerosos sistemas municipais de proteção do
patrimônio supostamente encontravam-se em funcionamento. Tais investimentos
constituíam-se, como nos anos anteriores, de quaisquer despesas com equipe técnica,
bens culturais tombados ou inventariados e atividades culturais (publicações, exposições,
festivais, manifestações culturais, educação patrimonial, formação técnica). Além disso,
nesse ano estimulou-se com pontuação extra quem investiu, nos itens citados, pelo
menos 80% dos recursos de ICMS Patrimônio Cultural recebidos no ano anterior. O
controle dos recursos destinados à política de patrimônio deveria ser compartilhado entre
o Poder Executivo e o Conselho, preferencialmente.

Ainda em 2001, no que se refere ao arcabouço legal e institucional (atributo


planejamento e política municipal), nota-se a preocupação em inserir o tema do
patrimônio na Lei Orgânica municipal, além de promulgar lei municipal de proteção ao
patrimônio cultural, ainda que legislar sobre a proteção ao patrimônio seja atribuição da
União, dos Estados e do Distrito Federal, de acordo com a Constituição38. Afora as
possibilidades de “legislar sobre assuntos de interesse local” e “suplementar a legislação
federal e a estadual no que couber” (Constituição Federal, art. 30, incisos I e II,
respectivamente), esta apenas reserva aos municípios a tarefa de promover a proteção do
acervo, “observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual” (Constituição
Federal, art. 30, IX). Pela primeira vez foi abordada a necessidade de se criar um
Departamento de Patrimônio Cultural no município, cujo relatório de atividades foi
solicitado anualmente, desde então.

38
Segundo a Constituição Federal, em seu art. 24. “compete à União, aos Estados e ao Distrito
Federal legislar concorrentemente sobre: (...) VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural,
artístico, turístico e paisagístico”.
69

A Deliberação Normativa 01/ 2002, válida para 2002 (ano-exercício de 2003), ao


tempo em que define não apenas o conteúdo, mas a forma de apresentação das
informações, visa a exercer fiscalização mais rígida sobre as políticas locais trazidas ao
conhecimento do IEPHA. Esse controle é justificado pelo fato de as políticas locais serem
fomentadas com recursos financeiros estaduais, sob responsabilidade do Instituto. A
partir desse ano, os municípios passam a preencher quadros, que facilitam e qualificam a
avaliação, além de minimizar o risco de fraudes. Em 2002, as principais alterações, ambas
no atributo bens tombados e de interesse de preservação, foram o inventário de bens
culturais imateriais e o Plano de inventários para os anos subseqüentes, a ser elaborado
com base nos modelos fornecidos pelo IEPHA.

Desde 2003, com a Deliberação Normativa 01/ 2002, as ações de educação


patrimonial e vistoria nos bens tornaram-se requisitos para a análise dos itens sobre
investimentos. Essas foram as exigências mais recentes acerca do conteúdo das políticas
locais. As Deliberações 02/ 2002 e 01/ 2004 – esta apresentada no Anexo 2 – dedicam-se
apenas à padronização das informações a serem enviadas pelas Prefeituras, abstendo-se
de modificar substancialmente seu teor. A única alteração digna de nota refere-se ao
deslocamento do item execução de inventários, que passa do atributo bens tombados e
com interesse de preservação para o atributo planejamento e política municipal de
proteção do patrimônio (PCL). Isso limita a possibilidade de valorização dos inventários
como instrumentos da política de preservação, tendo em vista que, no último atributo, em
que os inventários se situam atualmente, a pontuação não ultrapassa três pontos. Mais
considerações acerca das limitações encontradas nesse sistema de pontuação (Índice de
Patrimônio Cultural, PPC) serão feitas no Capítulo 4.

As Tabelas 7 e 8, já exibidas em páginas anteriores, sintetizam essas exigências.


Mais complexas a cada ano, elas mostram a preocupação do IEPHA com o
aperfeiçoamento da política de descentralização em vigor há dez anos, com vistas a
eliminar possíveis fraudes.
70

2.3. A gestão do patrimônio cultural em Minas Gerais antes e depois do ICMS


Patrimônio Cultural
Esclarecido o mecanismo da pontuação anual, por meio do qual os municípios
recebem seus recursos, exploramos os dados sobre a adesão ao ICMS Patrimônio Cultural
e alguns dos efeitos dessa política, a fim de verificar se os princípios de descentralização,
participação social e co-responsabilidade na gestão estiveram presentes.

Tabela 9 – Informações sobre recursos repassados aos municípios pelo ICMS


Patrimônio Cultural, de 1996 a 2004
Ano Número de Número de Média Valores Valores Valores por
municípios pontos pontos/ repassados aos médios por ponto
pontuados distribuídos município municípios município (em reais)
(em reais) (em reais)
1996 97 356 3,67 4.434.200,17 45.713,40 12.455,62
1997 117 537 4,59 9.930.781,46 84.878,47 18.493,08
1998 162 828 5,11 12.221.008,00 75.438,32 14.759,67
1999 225 1105 4,91 14.131.825,60 62.808,11 12.788,98
2000 189 961 5,08 16.859.334,35 89.202,83 17.543,53
2001 217 1124,3 5,18 19.813.800,72 91.307,84 17.623,23
2002 322 857,3 2,66 20.954.460,98 65.075,97 24.442,39
2003 346 1297,1 3,75 24.321.056,15 70.292,07 18.750,33
2004 453 1658,6 3,66 28.749.378,53 63.464,41 17.333,52
2005 391 1623,3 4,15 Indisponível Indisponível Indisponível
Fonte: www.iepha.mg.gov.br
De acordo com o IEPHA, os valores anualmente repassados às prefeituras são os
constantes da Tabela 9. Observa-se que essas quantias serão tanto menores, para cada
municipalidade, quanto mais delas se habilitem ao rateio, como se vê no Gráfico 3.

Gráfico 3 – Evolução dos valores médios por município (em reais), no ICMS
Patrimônio Cultural, de 1996 a 2004
Valores médios por município (em R$)

100.000,00
90.000,00
80.000,00
70.000,00
60.000,00
50.000,00
40.000,00
30.000,00
20.000,00
10.000,00
0,00
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Fonte: www.iepha.mg.gov.br
Esses valores são instáveis e não guardam relação com o crescimento contínuo
dos valores totais repassados. Isso ocorre porque o Índice de Patrimônio Cultural
representa o rateio dos valores totais entre os municípios que recebem pontuação a cada
ano, cuja quantidade também cresce. Portanto, o aumento ininterrupto dos recursos
71

destinados ao ICMS Patrimônio Cultural não garante que cada município, e sim que o
conjunto dos participantes, receba mais. Isso reforça a necessidade de se ampliar a
proporção dos recursos para os programas setoriais – como o ICMS Patrimônio Cultural –
na medida do crescimento da adesão das Prefeituras.

A média de pontos por município, que deveria ser, grosso modo, indicativa do
aprimoramento das políticas municipais de preservação, teve evolução irregular, como
mostra o Gráfico 4. Entretanto, tendo em vista que os critérios de pontuação do órgão
avaliador alteram-se constantemente, a oscilação mostrada a seguir parece associar-se a
eventuais dificuldades dos municípios com a interpretação das regras ou a comprovação
das ações mencionadas. Conforme explicado no item anterior deste capítulo, em 2002,
embora as novidades no conteúdo tenham sido poucas, mudou a forma de apresentação
dos dados, por meio de formulários. Pela primeira vez, a avaliação se tornava idêntica
para todos. Foi essa, possivelmente, a causa da queda considerável da pontuação de
muitos que não se adequaram às novas exigências39. Assim como a pontuação média
estabilizou-se entre 1997 e 2001, quando as normas40 pouco se alteraram, a tendência
mostrada pelo Gráfico 4 é que os municípios se acomodem novamente.

Gráfico 4 – Evolução da pontuação média por município, no ICMS Patrimônio


Cultural, de 1996 a 2004

6,00
Média pontos/ município

5,00

4,00

3,00

2,00

1,00

0,00
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Ano de entrega da docum entação

Fonte: www.iepha.mg.gov.br

A pontuação recebida anualmente por região do estado, obtida pela soma dos
pontos dos municípios, está na Tabela 10. A participação proporcional de cada região em
relação ao total de pontos distribuídos encontra-se no Gráfico 5.

39
Tal constatação levou o órgão estadual a publicar, junto com a última norma vigente
(Deliberação 01/ 2004, de 30 de junho de 2004), uma versão simplificada.
40
A Resolução 01/ 1997, de 18 de fevereiro de 1997, manteve-se vigente entre 1997 e 2000 e foi
revogada pela Resolução 01/ 2000, de 13 de maio de 2000, válida para o ano de entrega de 2001.
72

Tabela 10 – Distribuição da pontuação por região, na avaliação do ICMS Patrimônio Cultural, de 1996 a 2005
Ano MG Regiões
Alto Pa- Central Centro- Jequit./ Mata Noro- Norte Rio Sul Triân-
ranaíba oeste Mucuri* este Doce gulo
1996 Municípios pontuados 97 2 43 1 25 9 1 10 1 4 1
Pontos distribuídos 356 9 234 2 56 20 2 21 2 8 2
1997 Municípios pontuados 117 2 48 2 29 12 1 11 3 5 4
Pontos distribuídos 537 13 315 6 64 55 9 23 8 25 19
1998 Municípios pontuados 162 7 57 8 31 20 1 15 4 13 6
Pontos distribuídos 828 41 409 29 77 97 9 63 17 59 27
1999 Municípios pontuados 225 14 73 14 32 23 3 15 12 29 10
Pontos distribuídos 1105 64 488 50 109 114 11 63 42 123 41
2000 Municípios pontuados 189 10 67 11 34 18 2 14 7 20 6
Pontos distribuídos 961 42 462 35 124 80 5 74 30 81 28
2001 Municípios pontuados 217 12 66 10 43 16 2 33 5 23 7
Pontos distribuídos 1124,3 48 458 37 218 68 9 159 16 83,3 28
2002 Municípios pontuados 322 18 90 17 46 44 3 31 12 47 14
Pontos distribuídos 857,3 43,26 309,67 28,34 142,84 100,13 0,9 64,65 13,17 126,01 28,29
2003 Municípios pontuados 346 15 98 17 51 50 2 40 23 41 9
Pontos distribuídos 1297,1 60,95 475,75 47,7 173,7 182,75 6,75 96,7 67,65 155 30,2
2004 Municípios pontuados 453 19 110 26 50 71 8 46 42 67 14
Pontos distribuídos 1658,6 82,3 510,2 84,55 199,4 253,85 14,75 109,65 114 249,15 40,8
2005* Municípios pontuados 391 20 50 58 5 40 27 66 12
* 13 100
Pontos distribuídos 1623,3 60,85 567,1 77,35 198,65 218,9 9,35 111,05 79,05 262,35 38,6
Legenda: [*] Jequitinhonha/ Mucuri
[**] Dados preliminares de 2005
Fontes: www.iepha.mg.gov.br (dados explorados pelo autor), www.almg.gov.br, Barbosa (1995)
73

Gráfico 5 – Proporção de pontos por região, na avaliação do ICMS Patrimônio


Cultural, de 1996 a 2005

100%
90% Noroeste
80% Triângulo

70% Rio Doce


Centro-oeste
60%
Alto Paranaíba
50%
Norte
40%
Mata
30% Sul
20% Jequitinhonha/ Mucuri
10% Central
0%
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005

Fonte: www.iepha.mg.gov.br (dados explorados pelo autor)

Tabela 11 – Pontuação dos 12 municípios com melhor avaliação no


ICMS Patrimônio Cultural, de 1996 a 2005
Total de
Município* 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 pontos
Ouro Preto 24 27 27 27 24 24 7,8 25,15 10 26,8 222,75
Diamantina 20 20 23 23 20 23 11,11 6,9 19,1 26,8 192,91
Mariana 20 20 23 20 20 20 7,2 9,75 19,8 27 186,75
Congonhas 9 18 18 15 15 12 12,56 14,95 19 24 157,51
Catas Altas – 12 12 17 20 20 13,91 20 17 20 151,91
Santa Bárbara 9 9 12 20 20 19 16,25 14,4 15,95 10,5 146,10
Sabará 13 17 17 16 17 16 10,74 9,05 12,4 17,35 145,54
São João Del Rei 16 16 16 16 16 16 4,8 11,35 13,85 11,95 137,95
Belo Horizonte 12 20 20 15 24 15 4,5 10,2 7,2 6,6 134,50
Cataguases
(Mata) 5 10 10 10 5 5 12,78 15,6 23,8 24,2 121,38
Araxá (Alto
Paranaíba) 7 11 11 12 11 10 12,2 12,4 14 10,35 110,95
Legenda:
* Municípios situados na região Central, exceto onde indicado
Fonte: www.iepha.mg.gov.br (dados explorados pelo autor)

A análise por região oferece algumas informações interessantes. A região Central,


por exemplo, onde estão as cidades mais antigas do estado, quando comparada sua
presença no ICMS Patrimônio Cultural (Gráfico 5) com os tombamentos em nível estadual
74

efetuados até 1989 (Gráfico 1), diminuiu sua participação. Se, antes do ICMS Patrimônio
Cultural (dados de 1975 até 1989), essa região respondia com 70,4% dos bens
tombados, em 1996 seus municípios obtiveram 234 pontos (65,7% do total), distribuídos
entre 43 municípios (apenas 44,3% dos que aderiram ao programa naquele ano). A
proporção dos pontos e conseqüentemente dos recursos conquistados por Prefeituras da
região Central caiu ano a ano, com exceção de 2000, tendendo a estabilizar-se em
seguida (2001 a 2005).

A participação da região Central no rateio dos recursos estabilizou-se em torno de


35%. A menor taxa desde o início do programa, 30,8%, foi registrada em 2004. Lá estão
quase todas as cidades detentoras de conjuntos urbanos tombados pelo IPHAN41, quesito
mais valorizado no ICMS Patrimônio Cultural, e justamente essas cidades estão entre as
mais pontuadas do estado42, somados todos os exercícios de 1996 a 2005 (Tabela 11).
Se, ainda assim, aproximadamente dois terços dos recursos têm sido destinados às outras
regiões do estado (Gráfico 5), é possível afirmar que a Lei “Robin Hood” cumpre seus
papéis redistributivo e descentralizador, também em seu quesito patrimônio cultural.
Naturalmente, a pontuação dessa região continua alta e seus municípios recebem uma
parcela considerável dos recursos do programa. Mas ainda assim percebe-se com clareza
que a região Central passou a repartir os recursos da política estadual de preservação
com outras, em nome da descentralização, isto é, da divisão de atribuições entre o estado
de Minas Gerais e os municípios.

A região Central também perdeu participação no número de tombamentos. O


Gráfico 7 compara dados anteriores e posteriores ao ICMS Patrimônio Cultural. Percebe-se
que os bens tombados situados naquela região, 70,4% antes do programa, passaram a
45,9% dos que foram tombados no período seguinte (ver Gráficos 1, 6 e 7).

A quantidade de bens protegidos pelo estado também caiu, refletindo a


transferência dessa responsabilidade aos municípios e tornando mais seletiva a ação do
IEPHA. Quando de sua implementação, esperava-se que a descentralização fizesse
ampliar o conjunto de bens listados e proporcionasse condições para a fiscalização e a
manutenção de sua integridade. Em conseqüência disso, também o órgão estadual
ganharia, compartilhando com os municípios as responsabilidades de selecionar,
documentar e proteger seus bens culturais, além de ampliar significativamente seu acervo

41
Em Minas Gerais, os seguintes conjuntos urbanos são tombados pelo IPHAN: Congonhas,
Diamantina, Mariana, Ouro Preto, São João Del Rei, Serro, Tiradentes e Cataguases. Destes,
apenas Cataguases, que se situa na Zona da Mata, está fora da região Central.
42
Os 10 municípios melhor avaliados no ICMS Patrimônio Cultural entre 1996 e 2005, mostrados
na Tabela 11, situam-se na região Central.
75

de dados sobre o patrimônio mineiro, podendo dar maior abrangência à política de


preservação. A expectativa confirmou-se com relação aos bens tombados, que
atualmente superam 2.800 em todo o estado, incluindo tombamentos federais, estaduais
e municipais, com expressivo crescimento destes. As condições para fiscalização e
manutenção serão analisadas oportunamente.

Gráfico 6 – Bens imóveis tombados em nível estadual, por região, de 1995 a


2002

Central
2 Centro-oeste
5
1 Jequitinhonha/ Mucuri
17
Mata
Norte
7 Sul
3 2 Triângulo

Fontes:
www.iepha.mg.gov.br (dados explorados pelo autor); www.almg.gov.br
Barbosa (1995)

Gráfico 7 – Bens imóveis tombados em nível estadual, por região


(comparação entre períodos 1975-1994 e 1995-2002)

70 62
60
50
40 1975-1994
30 1995-2002
17
20
53 77
10 4 12 41 1 35 12
0
te

e
l

te

l
a
ur
tra

Su
oc
at
es

or
uc
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M
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tin
ui
q
Je

Fontes:
www.iepha.mg.gov.br (dados explorados pelo autor); www.almg.gov.br
Barbosa (1995)
76

Na avaliação do mecanismo de participação e controle social adotado, qual seja,


os conselhos deliberativos que pontuam para efeito de obter apoio financeiro, é
importante saber em que medida se constituem como esferas públicas de discussão,
negociação e pactuação de interesses e conflitos. Uma análise desses aspectos somente é
possível, no âmbito deste estudo, em relação ao conselho municipal de patrimônio
cultural de Uberlândia, a qual será feita oportunamente. Com efeito, em todo o estado de
Minas Gerais, dados publicados pelo IEPHA mostram que, desde 1996, 555 municípios já
participaram do ICMS Patrimônio Cultural. Destes, 398 (71,7%) implantaram conselhos
deliberativos, mas apenas 237 (59,5% dos 398 existentes ou 42,7% dos 555 municípios
participantes) funcionam adequadamente, tendo apresentado a documentação correta em
2004 (Gráfico 8).

Gráfico 8 – Situação dos conselhos municipais de patrimônio cultural, segundo


avaliação do IEPHA (2004)

Municípios sem conselhos


398
Municípios com Conselhos
237 161
Conselhos funcionando
adequadamente
Conselhos que não estão
157 funcionando adequadamente

Fonte: www.iepha.mg.gov.br
A situação dos setores municipais responsáveis pela gestão do patrimônio cultural,
cuja existência também é exigida pelo programa, é apresentada no Gráfico 9. Atualmente,
351 municípios (63,2% dos que já participaram do ICMS Patrimônio Cultural) possuem
órgãos de proteção do patrimônio, 274 deles funcionando adequadamente. O número de
órgãos que atuam conforme as exigências do IEPHA representa 78% das Prefeituras
providas de setores de preservação, ou 49,4% de todas as 555 participantes.
77

Gráfico 9 – Situação dos órgãos e setores municipais responsáveis pelo


patrimônio cultural, segundo avaliação do IEPHA (2004)

Municípios sem setor


responsável

351 274 Municípios com setor


responsável pela gestão do
patrimônio
Setores funcionando
77
adequadamente

204 Setores que não estão


funcionando adequadamente

Fonte: www.iepha.mg.gov.br

Dos quatro formatos que Teixeira (2000) classifica43, os conselhos municipais de


patrimônio cultural vinculados ao Programa de municipalização da gestão do patrimônio –
ICMS Patrimônio Cultural, aproximam-se dos conselhos temáticos, identificados que são
com uma política pública para um tema transversal como o patrimônio. Não seriam
conselhos gestores, porque não são obrigatórios, mas apenas valorizados para efeito do
cálculo do Índice de Patrimônio Cultural de cada município, e nem sempre manejam os
recursos destinados aos municípios, em parte conseguidos graças à sua própria
existência. Como vimos, a sugestão de que os conselhos participassem da aplicação dos
recursos auferidos pelo programa nos municípios surgiu apenas em 2001, sexto ano de
vigência do programa. Quanto aos seus elementos essenciais – “base social concreta;
representantes desta base com mandato vinculado e revogável; exercício de funções
legislativas e executivas” (TEIXEIRA, 2000: 101) – somente uma análise pormenorizada
pode responder com que freqüência ocorrem, entre os conselhos de patrimônio cultural
mineiros. Contudo, dadas suas limitações, este estudo não tem essa pretensão, mas sim a
de caracterizar o conselho municipal de patrimônio cultural de Uberlândia quanto a tais
atributos, o que será feito no próximo capítulo.

Do ponto de vista conceitual, Starling & Reis44 observam mudanças.

Avaliações realizadas pelo IEPHA indicam que a inserção do


critério patrimônio cultural na redistribuição do ICMS levou a
mudanças significativas em conceitos já consolidados, como o de

43
Ver página 53, neste capítulo.
44
Sobre a avaliação do funcionamento da Lei “Robin Hood” e do Programa de municipalização,
ver, entre outros, Riani (1996), Soares (1996), Starling & Reis (2002) e Pereira (2003).
78

patrimônio cultural, nos instrumentos de política, como o


tombamento e o inventário, e na definição de uma política
municipal de proteção ao patrimônio cultural. (STARLING & REIS,
2002: 16, sem destaques no original)
Parece precipitado afirmar que o conceito de patrimônio cultural ganhou nova
interpretação graças ao programa, porque a idéia é recente para a maioria dos
municípios, que não possuía políticas nessa área. É preferível, porém, falar em aumento
da capilaridade da política estadual de proteção do patrimônio, a respeito da qual os
dados sobre a adesão dos municípios, aqui apresentados, são eloqüentes.

A gestão descentralizada e a implementação de instâncias participativas


constituíram tentativas de ampliar sua efetividade, com controle social. Por essa via, o
princípio constitucional da co-responsabilidade estaria cumprido. Porém, a
descentralização alcançou um relativo sucesso, enquanto a participação parece não ter
tido a mesma sorte. A exigência dos conselhos deliberativos nos municípios aproxima, em
discurso, o ICMS Patrimônio Cultural das novas políticas concebidas com orientação
participacionista, conforme definiu Canclini (1994). No entanto, como indicam os dados
quantitativos anteriormente expostos, a implementação dessas instâncias participativas
apresenta problemas. Como especulação, a ser confirmada ou não pelo estudo de caso, o
funcionamento dos conselhos pode ser mais ou menos susceptível a interferências
políticas, sobretudo se a legitimidade do órgão ou a disposição do prefeito para essa
convivência forem postos em dúvida.

As citadas mudanças em instrumentos como o tombamento e o inventário, por sua


vez, não são evidentes, embora os processos que os subsidiam tenham sido
aperfeiçoados, à medida que o diagnóstico regular do IEPHA encontrava falhas, graças
aos relatórios anuais das Prefeituras. O inventário representa, em tese, uma alternativa
ao tombamento, mas ocupa posição menos importante, de acordo com as regras do
programa.

Tentemos, então, responder a indagação deste capítulo: o abrangente conceito de


cidade histórica expresso na Carta de Washington, segundo o qual todas seriam
históricas, seria universal e aplicável a qualquer um dos mais de oitocentos municípios
mineiros, como ambiciona o ICMS Patrimônio Cultural? Diante de sua grande diversidade,
o atendimento dessas demandas pelo programa enfrenta dificuldades, pois a participação
dos municípios é bastante irregular e as limitações de ordem gerencial são grandes45.

Em tese, pelo que se depreende das normas e dos resultados preliminares


expostos, pode-se afirmar que o ICMS Patrimônio Cultural tem a intenção de fazer com

45
Conferir os dados sobre órgãos municipais de patrimônio, no Gráfico 9.
79

que a gestão do patrimônio em Minas Gerais abandone o paradigma conservacionista-


monumentalista (CANCLINI, 1994), substitua-o pelo participacionista e conviva com o
mercantilista, a despeito de dificuldades cruciais, como veremos no próximo capítulo. De
acordo com o discurso implícito nas orientações do IEPHA aos municípios, nota-se que “o
papel de protagonista do Estado na definição e promoção [sic] do patrimônio” (CANCLINI,
1994: 104) deve ser minimizado, substituído gradualmente pela gestão participativa.

São raros, contudo, os conselhos em funcionamento anteriormente ao programa,


ou seja, a participação é predominantemente fomentada pelo Estado, não constituindo
demanda da sociedade. Se, para Fonseca (2005), uma política pública deve ser
“articulada, inclusive por mecanismos formais, com os interesses múltiplos da sociedade”,
o surgimento não-espontâneo dos conselhos, traço que filia essa iniciativa entre as
políticas estatais, é um forte ingrediente para seu insucesso.
Capítulo 3
Gestão do patrimônio cultural em Uberlândia
(1985-2005)
81

A discussão acerca do patrimônio cultural urbano, tangenciada pela legislação


urbanística tradicional e mais recentemente destacada pelos planos estratégicos, ganha
fôlego e atinge interesses econômicos importantes, em cidades médias como Uberlândia
(MG). Embora seu Plano Diretor46 tenha tratado do incentivo à preservação e à
revitalização do Fundinho, como é conhecido seu centro histórico, e recomendado a
elaboração de legislação específica para ele, foram poucas as ações concretas nesse
sentido. Sua tradição rural e, a partir da década de 1970, sua rápida explosão urbana
contribuíram para empobrecer a percepção da população acerca de seu patrimônio
material, alimentando uma ilusão provinciana segundo a qual o crescimento urbano só
traria benefícios.

Tabela 12 – Evolução das populações urbana e rural de Uberlândia, MG (1950-


2000)
Censos
demográficos >>> 1950 1960 1970 1980 1991 2000
Área urbana (hab.) 35.799 71.717 111.466 231.598 358.165 487.887
(%) 66,11 81,24 89,38 96,11 97,58 97,56
Área rural (hab.) 19.185 16.565 13.240 9.363 8.896 12.208
(%) 34,89 18,76 10,62 3,89 2,42 2,44
Total (hab.) 54.984 88.282 124.706 240.961 367.061 500.095
(%) 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: IBGE
Tabela extraída de Mota (2003)

O ritmo de crescimento populacional e urbano fora intensificado, desde o fim dos


anos 1950, pela construção de Brasília, graças à privilegiada localização da cidade em
relação às novas rotas que levavam à capital e, posteriormente, pela industrialização e
pela vultosa migração rural-urbana. Oliveira (1992) informa que o projeto de
interiorização da capital sempre contou com o apoio das lideranças políticas locais,
conhecedores das vantagens que o desenvolvimento da região traria para seus negócios.
Esses líderes, aliás, chegaram a sonhar com a possibilidade, aventada na década de 1940,
de que Uberlândia fosse escolhida como a própria sede da nova capital federal47.

Como o mercado imobiliário tem, há décadas, lugar privilegiado no cenário político


local, a preocupação efetiva com o patrimônio é tanto recente quanto restrita, o que faz

46
Lei Complementar 78, de 27 de abril de 1994, que“dispõe sobre o Plano Diretor do município de
Uberlândia”.
47
“Isso ficou claro em 1946, quando o Presidente [Eurico] Gaspar Dutra, cumprindo a
Constituição, nomeou uma comissão para escolher o local da futura capital. Nesta época, o Diário
de Belo Horizonte publicou uma nota de apoio aos anseios uberlandenses”, onde destacava
características locacionais, a fertilidade do solo, a possibilidade de ligação rodoviária e ferroviária
82

com que assuma ares de novidade, numa cidade ainda negligente com o assunto. A
dificuldade da população em lidar com sua memória evidencia-se pela baixa
conscientização acerca de seus patrimônios cultural e ambiental, pela escassa mobilização
em torno desses temas e pela alta credibilidade de que gozam os atores da contra-
mobilização48 perante a comunidade local.

A elite local sustentou, ao longo de todo o século XX, um discurso alicerçado em


modernidade, ordem e progresso, muito bem sucedido do ponto de vista de sua
apropriação pela população, embora representasse a implantação, raríssimas vezes
contestada, de um projeto político de produção de uma cidade socialmente excludente –
como explica Soares (1995). A imprensa local, por sua vez, apoiou seus pontos de vista,
quase sempre incondicionalmente, como nesta defesa de um particular conceito de
“progresso da cidade”:

O que evidencia o progresso de uma cidade é a transformação de


sua fisionomia urbana, através da ação modeladora do homem.
Uma cidade que não muda sua fisionomia, através de obras de
urbanização, é uma cidade verdadeiramente estacionária, onde
não se constróe (sic), não se melhora nada, não se empreende
nada. (Correio de Uberlândia, 6/10/1956, apud SOARES, 1995: 94)

O grande crescimento demográfico experimentado pela cidade, a partir da década de


1970 (Tabela 12), reforçou a convicção das elites no acerto dessa estratégia.

A elite local, em sua concepção centralizadora e controladora do


espaço, manteve e preservou uma sociedade disciplinada,
regulada e vigiada, em um espaço urbano que deveria
territorializar o progresso e a modernidade para
fundamentalmente manter a sua dominação político-econômica no
município e região. (SOARES, 1995: 95)

A aceitação e a reprodução desse discurso de ruptura com o passado pela


sociedade local continua a provocar e justificar a renovação do tecido urbano, o que é
evidentemente nefasto para o patrimônio. Numerosas manifestações de repúdio à
preservação do patrimônio persistiam, ainda em 2004, no episódio da demolição do Cine
Regente, assunto que será tratado adiante.

ao restante do país, além do impulso à interiorização do desenvolvimento, justificativa comum para


que os poderes da República abandonassem o litoral (OLIVEIRA, 1992: 44).
48
Denominamos atores da contra-mobilização os agentes políticos e econômicos que interferem
contra os pleitos dos grupos defensores de direitos difusos, como meio ambiente e patrimônio
cultural. Eles são, por exemplo, empreendedores imobiliários, proprietários de terras urbanas,
empresários de diversos ramos, prefeitos e vereadores, que, mais interessados em garantir espaço
na cidade para seus próprios negócios ou de terceiros, conservam-se alheios às recomendações de
justiça social, eqüidade, divisão dos ônus e bônus do desenvolvimento urbano – algumas dentre as
contidas no Estatuto da Cidade.
83

3.1. Antecedentes

Em decorrência das peculiaridades de sua formação urbana, a região central de


Uberlândia é dividida em dois bairros com características bastante distintas atualmente:
Centro e Fundinho, assim delimitados no Plano Diretor, que assumiu o nome popular do
núcleo histórico da cidade. O Fundinho foi, em certa época, abandonado pelo comércio e
por outros usos não-residenciais, que acompanharam a expansão da cidade para
nordeste, em direção à antiga Estação Ferroviária. Attux (2001) ressalta que “a instalação
da estação ferroviária em 1895 foi um marco cravado no espaço urbano, o que norteou,
em parte, o crescimento de Uberlândia durante muitos anos” (ATTUX, 2001: 105). A
ampliação da malha ocorreu a partir do projeto urbanístico do engenheiro Mellor Ferreira
Amado49, entre 1907 e 1908.

Este deslocamento do centro – onde se concentrava o mercado de


trabalho comercial, espremido nas ruas estreitas do Fundinho,
com casarões misturados às casas de comércio – começa a
ocorrer na década de 30, para uma área que se tornaria, mais
tarde, estritamente comercial e financeira, a avenida Afonso Pena.
(SOARES, 1988: 40)

Projetado segundo parâmetros urbanísticos modernos, o Centro atual – formado


por cinco vias largas, retas e paralelas e oito transversais, que separavam o velho
Fundinho da Estrada de Ferro Mogiana – logo passou a abrigar a maior parte dos edifícios
comerciais, residências de alto padrão e, mais tarde, alguns arranha-céus.

A partir da instalação dessa nova estrutura urbana, os empresários


locais passam a investir em imóveis comerciais nas avenidas
Afonso Pena e Floriano Peixoto, e na construção de belas e
luxuosas residências, nas avenidas Cipriano Del Fávero e João
Pinheiro. (...) As antigas residências ali existentes foram, pouco a
pouco, desocupadas e demolidas, fazendo surgir, ao longo dos
anos 40/ 50, casas comerciais, serviços e edifícios, que
redesenharam o espaço urbano da cidade (...). (SOARES, 1995:
107).

49
As informações e imagens aqui expostas, bem como a descrição que se segue, baseiam-se em
Soares (1995) e em Vale et alii (2004a).
Figura 2 – Uberlândia: Fundinho e Praça Clarimundo Carneiro (primeiro plano);
84

Centro (segundo plano), nos anos 40


Fonte: Arquivo Público Municipal. Imagem extraída de SOARES (1995: 125)
85

Figura 3 (à esquerda) – Avenida Afonso Pena (década de 1940)


Figura 4 (à direita) – Avenida João Pinheiro (década de 1940)
Fonte: Arquivo Álvaro Abbott Soares
Imagens extraídas de SOARES (1995: 126)

Figura 5 – Avenida João Pinheiro (sem data)


Fonte: Arquivo CDHIS/ UFU
86
87

Mapa de 1915

Estação
Ferroviária

blica
Repú
a da
Praç

Antigo Largo do Rosário


Largo
da Antigo Cemitério
Cavalhada

Antigo Largo do
Praça Comércio
da
Matriz

Área delimitada pelo mapa de 1898


Área intermediária
Área definida pelo novo traçado de 1915

Figura 7 – Sistema viário da cidade de Uberlândia, MG (1915)

Nomes atuais dos logradouros:


Nome antigo (no mapa) Nome atual
Cemitério Praça Clarimundo Carneiro
Estação Ferroviária Praça Sérgio Pacheco
Largo da Cavalhada Praça Adolfo Fonseca
Largo do Comércio Praça Doutor Duarte
Largo do Rosário Praça Rui Barbosa
Praça da Matriz Praça Cícero Macedo
Fontes: VALE et alii (2004a: 26); UBERLÂNDIA (1991, Capítulo I)
88

O apelo do tratamento higiênico, “homogêneo e asséptico” do espaço urbano era


determinante para a preferência da elite (SOARES, 1995: 105). A imprensa local da época
ressalta essas qualidades, como em O Repórter50 – “nada de ruas tortuosas, mas artérias
em alinhamento reto, avenidas amplas” – e no Correio de Uberlândia:

a cidade velha que, atendendo aos imperativos da época, buscou


as glebas que se estendem ao longo dos ribeirões São Pedro e
Cajubá, apresentando suave declive. E a cidade nova, já refletindo
a mentalidade arrojada da nova geração, se lança rumo à vastidão
da chapada, com um traçado geométrico e harmonioso. (Correio
de Uberlândia, 7/4/1948, apud SOARES, 1995: 105)
As “ruas tortuosas” da descrição de 1942 referem-se ao sistema viário do Fundinho, que
não é propriamente “tortuoso”, como se vê na Figura 7, mas estreito e descontínuo em
relação à malha circundante.

O projeto de modernização urbana de Uberlândia, resultante de parceria entre


políticos e empresários, trazia características desse urbanismo higienista, em voga nas
três primeiras décadas do século XX. Esse projeto identificava-se com as intervenções
visando a “melhoramentos”, que então ocorriam em áreas centrais de várias cidades
brasileiras, como explica Leme (1999):

A questão da circulação já está presente na definição de posturas


para o alinhamento de edifícios, na abertura, alargamento e
prolongamento de vias. Mas não é apenas para fluidez do tráfego
que servem estas normas. Está sendo elaborado um novo modelo
de cidade com ruas largas, casas alinhadas, praças e parques com
desenhos definidos de canteiro. (LEME, 1999: 24-5)

A partir da década de 1940, começa-se a vincular Uberlândia à imagem de


entreposto comercial com localização privilegiada no território brasileiro, que ela ainda
hoje tenta sustentar. Essa estratégia de anunciar a cidade como um bom produto para
investidores51 exige a eliminação dos resquícios daquela cidade interiorana, supostamente
desprovida de atributos valorizados por esse mercado. A ordem passou a ser inseri-la na
modernidade, pelas vias do urbanismo e da arquitetura.

Para que isso acontecesse, era preciso, segundo essa visão,


acabar com a memória da cidade velha, carcomida, assim sendo,
era inevitável a demolição de prédios antigos para dar lugar aos
novos empreendimentos imobiliários (...); [ou seja, era preciso

50
O Repórter, 16/7/1942, apud SOARES, 1995: 105.
51
Por esta passagem, vê-se que, há muito tempo, os governantes de Uberlândia se identificam
com os preceitos do planejamento estratégico: “A chegada do arranha-céu na cidade proporcionou
tudo aquilo que políticos, empresários, jornalistas almejavam para a cidade, no que diz respeito à
possibilidade de sua inserção entre os principais centros regionais de Minas Gerais, pois, assim,
poderiam vender a sua imagem no Brasil afora...” (SOARES, 1995: 162, sem destaques no original).
89

erradicar] tudo aquilo que se identificava com o arcaico, antigo,


atrasado e tradicional. (SOARES, 1995: 138)

Alguns edifícios públicos, construídos entre 1910 e 1950, traziam feições


arquitetônicas condizentes com tal imagem de cidade moderna que a elite pretendia
divulgar – como o Ginásio Mineiro (1913, atual Escola Estadual de Uberlândia), a antiga
Prefeitura (1917, atual Museu Municipal), a antiga Rodoviária (1946, atual Biblioteca
Pública) e o Mercado Municipal (1944), enumerados por Soares (1995). À exceção do
último, todos se localizam no antigo núcleo histórico, o Fundinho. Estes edifícios ainda
existem e encontram-se tombados, exceto a antiga Rodoviária, descaracterizada (ver
Figuras 8 a 12).

Quanto ao edifício da antiga Rodoviária52, adaptado para abrigar a Biblioteca


Pública Municipal (uso atual), encontra-se no mesmo local onde fora erigida a Igreja
Matriz de N. S. do Carmo, construção do século XIX que remontava ao arraial original de
São Pedro do Uberabinha (Figuras 13 e 14). A inauguração do templo, autorizado sete
anos antes, ocorreu em 1953. “Em torno de seu adro, o arraial cresceu com o
adensamento populacional, estendendo-se pelo Largo de Nossa Senhora do Rosário, que
passou a chamar-se Largo do Comércio, depois da transferência dessa capela para o local
onde hoje se encontra, na atual Praça Rui Barbosa53” (VALE et alii, 2004a: 15).

Observem-se os motivos da demolição da Matriz54, segundo Vale et alii (2004a):

A demolição deste templo, em 1943, com a justificativa de que sua


construção não condizia com os princípios de progresso e
desenvolvimento então buscados pela municipalidade, fez com que
a Praça perdesse seu mais importante edifício. (VALE et alii, 2004a:
40)

O crescimento de Uberlândia, na alvorada do século XX, esteve vinculado à


instalação de infra-estrutura de transportes e comunicações, acompanhada de
industrialização incipiente (VALE et alii, 2004a; OLIVEIRA, 1992). Atribui-se a
empreendedores como o Coronel José Teófilo Carneiro e o engenheiro Fernando Vilela a
construção de estradas e ferrovias de ligação regional, que resultaram na instalação do

52
A Estação Rodoviária funcionou no Fundinho entre 1946 e 1976 (SOARES, 1995; RAMIRES, 1998).
53
Ver, na Figura 7, a localização e os nomes atuais, correspondentes aos logradouros citados.
54
É forçoso admitir que, na primeira metade do século XX, razões como esta eram freqüentemente
evocadas para a demolição de monumentos, mesmo em cidades mais antigas, como destaca Meira
(2004), citando o relatório da Prefeitura de Porto Alegre sobre o levantamento dos “bens imóveis
de valor histórico e cultural, (...) para fins de futuro tombamento e declaração de utilidade
pública”: “Em nome de um suposto progresso a picareta iconoclasta dos poderes públicos e do
particular nas décadas passadas arrasou praticamente quase que todo o patrimônio citadino, só
restando poucos exemplares de imóveis” (Relatório final da Comissão designada pela Portaria 209/
1971, apud MEIRA, 2004: 76).
90

telégrafo, no prolongamento da Ferrovia Mogiana até Uberabinha e na ligação rodoviária


com a Ponte Afonso Pena, sobre o Rio Paranaíba, importantes impulsos para o
desenvolvimento da cidade. “A partir da instalação da Usina Geradora de Energia Elétrica,
em 1901, várias fábricas aqui se instalaram: marmoraria, ladrilhos, bebidas, artefatos de
couro, tecelagens e outras, e deram início ao desenvolvimento industrial da cidade” (VALE
et alii, 2004a: 15).

Vale et alii (2004a: 16) caracterizam a década de 1930 como “um período de
crescimento e desenvolvimento”, em que “as atividades comerciais e culturais se
intensificaram”, devido à criação de diversas associações e espaços de sociabilidade:
Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Uberlândia (1933, atual ACIUB); Praia
Clube (1935); Parque de Exposições Agropecuárias (1936), na Avenida Vasconcelos
Costa; Cine Teatro Uberlândia (1937), na avenida Afonso Pena, com 2.200 lugares.

A década de 1940 foi marcada pela diversificação do comércio e


do setor de serviços, e a instalação de algumas indústrias,
transformações que se refletiram de maneira acentuada no
crescimento de seu espaço urbano. No ano de 1944 foi inaugurado
o edifício do Mercado Municipal, que se configurou como um
centro do comércio hortifrutigranjeiro. (VALE et alii, 2004a: 16)

A década de 1950, por sua vez, foi marcada por “grande crescimento econômico e
social em Uberlândia (...), com projetos modernos que renovaram a paisagem da cidade”,
entre os quais a remodelação da Praça Tubal Vilela, levada a cabo pelo arquiteto João
Jorge Coury, um dos principais expoentes da arquitetura moderna da cidade55.

Em janeiro de 1959, o prefeito Geraldo Ladeira, em um de seus


primeiros pronunciamentos, levantou problemas referentes à
remodelação urbana e convidou o arquiteto João Jorge Coury para
remodelar o espaço mais significativo da cidade: a Praça Tubal
Vilela. (...) Entre o desenvolvimento do projeto e a construção da
praça, executada pelo próprio escritório de João Jorge Coury e
Rodolfo Ochôa, foram dois anos de trabalho. A praça foi
inaugurada no aniversário da cidade, em 31 de agosto de 1962.
(Inventário de proteção do acervo cultural, 2002, ficha Praça
Tubal Vilela)

55
Um estudo aprofundado sobre a arquitetura de João Jorge Coury pode ser encontrado em
Guerra, Maria Eliza A. As praças modernas de João Jorge Coury no Triângulo Mineiro. São Carlos:
EESC/ USP, 1998. (Dissertação, Mestrado em Arquitetura e Urbanismo).
91

Figura 8 – Praça da Independência, atual Praça Coronel Carneiro, com torres


da Igreja Matriz ao fundo (1929)
Fonte: Arquivo NUHCIS/ UFU
Imagem extraída de SOARES (1995: 111)

Figura 9 – Praça Adolfo Fonseca, com Ginásio Mineiro (atual Escola Estadual de
Uberlândia) ao fundo (1940)
Fonte: Arquivo Álvaro Abbott Soares
Imagem extraída de SOARES (1995: 108)
92

Figuras 10 e 11 – Antiga Prefeitura e Câmara Municipal (atual Museu


Municipal), na Praça Clarimundo Carneiro (sem data)
Fonte: Arquivo CDHIS/ UFU
Imagem extraída de ATTUX (2001: 111)

Figura 12 – Museu Municipal (agosto de 2004)


Fotografia do autor
93

Figura 13 – Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião


(demolida em 1943), no local onde se construiu a antiga Estação
Rodoviária (sem data)
Fonte: Arquivo Público Municipal
Imagem extraída de VALE et alii (2004a: 40)

Figura 14 – Praça Cícero Macedo e Estação Rodoviária (ao fundo, década de 1960)
Fonte: Arquivo Público Municipal
Imagem extraída de VALE et alii (2004a: 41)
94

Vários edifícios construídos na fase de ocupação do Centro, entre o fim do século


XIX e o início do XX, acabaram demolidos entre os anos 1960 e 1970: o antigo Fórum, o
Hotel Colombo, o Grande Hotel56, o Grupo Escolar Bueno Brandão e a Estação Ferroviária
da Mogiana, “importantes referenciais urbanos até os anos 1970” (SOARES, 1995: 122;
Figuras 8 a 22). Todos desapareceram, segundo Soares, “sem qualquer preocupação por
parte dos administradores e nenhum clamor público” (SOARES, 1995: 122).

Aquela antiga Estação foi inaugurada em 1895 e demolida em 1970. O arquiteto


Paulo de Freitas, mais tarde diretor da Divisão de Patrimônio Histórico da Secretaria de
Cultura, relatou em entrevista:

Quando a Mogiana saiu de Uberlândia, (...) Renato [de Freitas,


prefeito, 1967-1970 e 1974-1977] conseguiu de São Paulo ganhar
todas as terras da Mogiana, todo o pátio da Mogiana, e fez uma
solenidade lá na praça, para desmanchar a Estação [em 1970]. Eu
disse a ele: ‘Renato, não faça isso... Esta estação é muito
importante, vamos mantê-la como um patrimônio histórico e
estudar uma adequação dela para alguma finalidade: um posto de
atendimento, uma escola primária...’ (Paulo de Freitas, entrevista
gravada em 13/7/2005)

O edifício e toda a área ocupada pelo pátio ferroviário deram lugar à atual Praça
Sérgio Pacheco. A demolição foi noticiada, sem esconder um certo escárnio, em capa de
jornal diário: “Avenidas ficarão livres: velha estação está sendo demolida” (Correio de
Uberlândia, 1/5/1970, pesquisa do autor).

Antes dela, ocorrera a demolição do Fórum. Segundo Freitas, ambos os episódios


despertaram pouco interesse na cidade:

[A partir do episódio da Praça Sérgio Pacheco] ...eu comecei a me


interessar, como arquiteto, por dar um apoio ao desenvolvimento
cultural da cidade. Eu senti falta do [desenvolvimento] cultural
quando todo mundo apoiou o Renato (...) [na ocasião] da
demolição da Estação. (...)

[Pergunta do autor] Não houve nenhuma voz contrária, a não ser


a sua?

Não. E eu já tinha gritado também contra a demolição do Fórum


de Uberlândia. (...) Era uma maravilha de prédio! (...) Era um
prédio espetacular, talvez um dos prédios ecléticos melhores da
cidade... (Paulo de Freitas, entrevista gravada em 13/7/2005)

56
No Grande Hotel, trabalhava como carregador de malas Sebastião Prata, que mais tarde se
tornaria o popular ator Grande Othelo, apelido artístico criado em função do ofício anterior.
95

Figura 15 – Estação Rodoviária (atual Biblioteca Pública Municipal), vista da


rua 15 de Novembro (sem data)
Fonte: Arquivo CDHIS/ UFU

Figura 16 (acima) – Biblioteca Pública


Municipal, vista da rua 15 de Novembro
(junho de 2005)
Fotografia do autor

Figura 17 (à direita) – Biblioteca Pública Municipal, vista da rua Coronel Manoel


Alves (junho de 2005)
Fotografia do autor
96

Sobre a perda do antigo Grupo Escolar Bueno Brandão, Freitas


afirmou não ter sido o único a discordar, mas fez uma ressalva:

Quando o (...) Banco do Brasil ofereceu, pelo terreno onde era o


Bueno Brandão, cinco grupos [escolares construídos] em
Uberlândia, (...) eu fui contra a construção de um prédio no
terreno do Bueno Brandão, que era uma construção maravilhosa,
eclética (...), no mesmo lugar onde é o Bueno Brandão
atualmente... Fui contra. Aí (...) houve muita gente contra, então
não foi feito o negócio. (...) ...mas não fui eu quem puxou um
movimento desses. Foi mais político. Acho que eles queriam mais
[em pagamento pelo terreno], não foi pra salvar o prédio, foi um
problema comercial! (Paulo de Freitas, entrevista gravada em
13/7/2005)

Uma das previsões do Plano de urbanização da cidade de Uberlândia (MINAS


GERAIS, 1954) foi a transferência da Estação Ferroviária para outro local. Segundo Soares
(1995: 143), “a proposta do projeto reafirmava a prática das elites uberlandenses, quanto
à necessidade de produzir grandes planos e obras, que pudessem expressar seu
pensamento, sua ideologia”. Esse plano definia o futuro da cidade,

tanto no que diz respeito à construção de obras públicas, como na


implantação de um novo sistema viário e de tráfego, foi o primeiro
em escala global, ainda que de forma um tanto fragmentada,
sobretudo porque não foram tratadas questões relativas ao
parcelamento do solo e à produção de moradias. (SOARES, 1995:
143-4)

No Plano de 1954, a preservação do patrimônio cultural foi assunto de apenas


uma seção, sobre a implantação do Centro Cívico. Entre as obras públicas previstas, além
da nova Estação Ferroviária e dos Centros Cívico e Administrativo, havia a Rodoviária,
escolas e o Estádio municipal. Essas obras foram implantadas até quarenta anos mais
tarde, algumas em locais diferentes dos previstos no Plano, como o Centro Administrativo,
na década de 1990. A transferência das sedes da Prefeitura e da Câmara (Centro
Administrativo) para fora do Centro da cidade, no bairro Santa Mônica, abriram espaço
para a instalação do Museu Municipal na antiga sede dos Poderes Legislativo e Executivo,
em edifício tombado na Praça Clarimundo Carneiro, local e uso previstos para esse Centro
Cívico. “O edifício onde funciona a Prefeitura Municipal será transformado em museu e
exposição de artes em geral” (MINAS GERAIS, 1954: 19). Quatro décadas depois, o Plano
Diretor mais recente, de 1994, repetiria a recomendação, desta vez atendida: “restaurar o
prédio da Câmara Municipal, transformando-o em Museu Municipal” (art. 46, V).
97

Figura 18 – Fórum e Hotel Colombo (demolidos), na Praça da República (atual


Praça Tubal Vilela) (década de 1940)
Fonte: Arquivo Álvaro Abbott Soares
Imagem extraída de SOARES (1995: 109)

Figura 19 – Centro de Uberlândia, com Uberlândia Clube (em primeiro plano) e


Praça da República (final da década de 1950)
Fonte: Arquivo Público Municipal
Imagem extraída de SOARES (1995: 161)
Ver nota no texto.
98

Figura 20 – Praça Tubal Vilela (tombada em 2004), com edifícios construídos nos
lotes do Fórum (edifício mais alto, no quadrante superior direito) e do
Hotel Colombo (edifício branco, ao lado daquele) (julho de 2004)
Fotografia do autor
99

Ainda que restrita à adaptação da antiga Câmara para Museu, a implantação do


Centro Cívico nesse logradouro foi a única prescrição do Plano de 1954 que considerava a
preservação de um prédio histórico. Nas demais referências, como no caso do Centro
Administrativo, o documento recomendava o contrário: rápidas demolição e substituição
do prédio do Grupo Escolar Bueno Brandão, onde se previa a instalação do “Palácio da
Municipalidade”, em virtude de suposta inadequação do edifício à cidade e – mais
importante – de sua privilegiada localização, em plena Praça da República57.

O edifício original da E. E. Bueno Brandão, como é sabido, acabou demolido, mas


em seu lugar foi construída outra escola pública com o mesmo nome.

Afigura-se-nos inconveniente a localização do grupo escolar


situado na Praça da República, em razão de tratar-se de ponto de
grande movimento. Além desse grave inconveniente, o prédio é
antiquado e possue [sic] terreno exíguo para fim de tanta
importância. (MINAS GERAIS, 1954: 17)

Na seção que trata do comércio, há um verdadeiro estímulo à destruição dos


edifícios que testemunhavam a história da cidade. “Na zona comercial compreendida
pelas Avenidas de Floriano Peixoto e Afonso Pena, (...) incluindo-se as ruas transversais,
deverá ser exigida a construção de prédios de dois pavimentos no mínimo, proibindo-se
as reformas dos prédios de um só pavimento” (MINAS GERAIS, 1954: 17, sem destaques
no original).

Transferir a Rodoviária e a estrada de ferro também era um meio de desobstruir


vias e terrenos centrais, a fim de promover a expansão da mancha urbana. “Problemas
locais”, como o patrimônio poderia classificar-se, uma vez que as preocupações daquele
Plano eram diversas desse tema, não estavam presentes.

Planejamos um trabalho de conjunto, sem nos determos no exame


de problemas locais ou interêsses de cada parte. Isto constituiria
árdua e infrutífera tarefa, visto ser impraticável conciliar os
objetivos de todos, que se chocam entre si. (MINAS GERAIS,
1954)58

57
Ver, na Figura 19, novos edifícios em construção no Centro, na década de 1950: em primeiro
plano, o Uberlândia Clube (2 pavimentos), exemplar de arquitetura de “linhas arrojadas, de
tendência moderna, associadas a elementos do art-déco” (Inventário de proteção do acervo
cultural, 2001, ficha Uberlândia Clube); no quadrante superior esquerdo, os Edifícios Drogasil (7
pavimentos) e Tubal Vilela (16 pavimentos). Observar ainda outros prédios e logradouros citados
neste texto: no quadrante superior direito, a Praça da República (atual Tubal Vilela); entre esta e o
Uberlândia Clube, o antigo Grupo Escolar Bueno Brandão (com planta em U), já demolido.
58
Trecho também citado por Soares (1995: 144).
100

Figuras 21 e 22 – Estação Ferroviária da Mogiana, demolida em 1970 (sem data)


Fonte: Arquivo CDHIS/ UFU
101

Figura 23 – Praça Sérgio Pacheco, construída no mesmo local da Estação


Ferroviária da Mogiana (1976)
Fonte: Arquivo Público Municipal
Imagem extraída do Inventário de proteção do acervo cultural, 2002, ficha Praça Sérgio
Pacheco

Figura 24 – Praça Sérgio Pacheco (agosto de 2002)


Fonte: Inventário de proteção do acervo cultural, 2002, ficha Praça Sérgio Pacheco
Fotografia de Edinardo Rodrigues Lucas
102

A remoção do pátio ferroviário, a partir de 1970, constituiu definitivamente um


vetor de crescimento para a direção nordeste. A construção da nova Estação Ferroviária –
tão comemorada pela imprensa local quanto a extinção da antiga – abriu caminho “rumo
à vastidão da chapada”. Ligada a malha viária do Centro com a da Vila Operária, havia
espaço para a expansão urbana – caracterizada por lotes mais acessíveis, como denuncia
o nome do bairro pré-existente – até a vizinhança da nova Estação, quilômetros adiante.
Embora o sistema viário, com o prolongamento das principais vias centrais, já estivesse
aberto nos anos 1940 (como comprova a Figura 2), a transferência daquele equipamento
urbano intensificou a ocupação dos lotes.

Contudo, no limite oposto, justamente na área adjacente ao Fundinho, surgia uma


demanda diferente. No fim da década de 1960, o comércio e os serviços ainda se
concentravam no “espaço compreendido entre os bairros Fundinho, Martins, Operário,
Centro e Patrimônio”59 (SOARES, 1995: 149). Em 1962, aproveitando-se dessa situação e
da conseqüente valorização do solo na região, foi lançado um novo loteamento60
destinado a público de alta renda. A expansão do Centro nessa direção, com tais
características, foi desfavorável ao Fundinho.

Na construção do imaginário do uberlandense acerca de sua cidade, a


verticalização foi outro elemento importante. O fascínio dos cidadãos pelo que
representam os “arranha-céus”, por terem sido símbolos de seu acelerado crescimento e
evidências materiais de sua pretensa vanguarda desde os anos 1960, quando começaram
a ser construídos, ajuda a explicar o que aconteceu ao Fundinho. Para Soares, “os altos
edifícios” – concentrados no Centro até a década de 1980, posteriormente espalhados
pelos bairros vizinhos, entre os quais o Fundinho – “se constituíram em importantes
signos na estética urbana de Uberlândia” (SOARES, 1995: 153). Essa autora pondera que
a verticalização não era uma necessidade imposta pelas condições urbanas de Uberlândia
à época. A intenção de construí-los era outra:

A cidade de forma alguma necessitava desse tipo de


empreendimento [o edifício vertical] naquele momento, sua
construção justificava-se, somente pelo que ele simbolizava: o

59
O nome do último bairro refere-se ao patrimônio doado à igreja de Nossa Senhora da Abadia em
1883, ou seja, terras situadas na margem esquerda do córrego de São Pedro, oposta ao Fundinho.
Esses terrenos foram cedidos pela igreja a negros libertos, após a abolição da escravatura – como
informa Soares (1988: 28). Parte do bairro Patrimônio abriga atualmente uma população negra e
pobre, que preserva manifestações de cunho imaterial, como os grupos de congado. Outra parcela
sofreu processo de verticalização e renovação de população nos anos 1990 (RAMIRES, 1998). Sua
arquitetura e seu desenho urbano não possuem singularidade ou expressividade.
60
“Revolucionário plano urbanístico na cidade acaba de ser lançado e brevemente será posto em
prática no luxuoso e elegante Jardim Altamira, o mais novo e central recanto da cidade” (Correio
de Uberlândia, 31/3/1962, apud SOARES, 1995: 148).
103

progresso, a modernidade, a divulgação, ou seja, a possibilidade


de a mesma ser conhecida fora de seus limites territoriais.
(SOARES, 1995: 159)

Segundo Soares, havia até algumas vozes contrárias, mas eram as “exigências do
progresso” que soavam mais fortes:

...os grandes edifícios, crescendo já em sentido vertical, só podem


ser erguidos na parte central, há muito tempo tomada por casas
boas (...). E a localidade destas é que tem que ser disputada pelas
novas arquiteturas. Daí a demolição muitas vezes de imóveis que
ainda seriam aproveitados por muitos anos. São as exigências do
progresso, nem sempre previstas com todas as suas vantagens
econômicas. (Correio de Uberlândia, 28/4/1955, apud SOARES,
1995: 162)

Após essa fase de verticalização do Centro (Figuras 19 e 25), o Fundinho também


se torna interessante opção de residência para a população de média e alta renda,
seduzida pelo relativo sossego e pela localização privilegiada do bairro, principalmente a
partir dos anos 1980. Ramires (1998) confirma que, entre o fim da década de 1950 e os
anos 1970,

...os primeiros edifícios altos foram construídos nas avenidas


Afonso Pena, Floriano Peixoto e João Pinheiro. A partir do final da
década de 80 e, mais especificamente, nos anos 90, a
verticalização concentra-se no trecho nomeado ‘Fundinho’ e tem
uma função eminentemente residencial. (RAMIRES, 1998: 194)

Esse novo público conserva-se indiferente em relação ao patrimônio, contribuindo


para a substituição das velhas casas de um e dois pavimentos do Fundinho.
104

Figura 25 – Localização dos edifícios com mais de 5 andares em Uberlândia


(1955-1969)
Fonte: SOARES (1995: 173)
105

3.2. A gestão municipal do patrimônio cultural: aparato institucional e


normativo
3.2.1. A Lei municipal de patrimônio histórico (Lei 4.240/ 1985)

No município, o patrimônio cultural enfrentou reveses que podem ser creditados a


uma gestão historicamente negligente com esse tema, que permitiu o sumiço de quase
todos os bens arquitetônicos que testemunharam os primeiros anos da cidade. Como
mostramos até aqui, num município cuja população atual é quatro vezes maior que há 30
anos (Tabela 12), a expansão e a renovação urbanas mantiveram-se com todo o
destaque, em detrimento do debate sobre a memória e o patrimônio cultural.

O aparato de gestão do patrimônio cultural surgiu com a criação da Secretaria


Municipal de Cultura61 e da Divisão de Patrimônio Histórico (DPH), incluída em seu
organograma. Para Silva (1992: 55), essa nova Secretaria “pode ser considerada pioneira
no interior do Estado de Minas Gerais, tanto pela data de sua implantação, quanto por
sua estrutura orgânica...”.

Naquele momento, ascendia à chefia do Executivo um prefeito, Zaire Rezende,


identificado com a luta brasileira pela redemocratização, num contexto de distensão do
regime ditatorial então vigente. Silva (1992: 51) assim caracteriza o prefeito eleito em 15
de novembro de 1982: “um ‘progressista’ do PMDB, que tivera sua campanha pautada
num amplo programa de reformas e mudanças”, cuja chegada à Prefeitura “propiciará a
realização de vários projetos antes considerados menos importantes, como a criação da
Secretaria de Cultura”. Goulart acrescenta:

Ele era um médico ginecologista, poucos meses antes das eleições


apenas um ilustre desconhecido, mas que em campanha
memorável deslocara as oligarquias que ocupavam o poder local
havia décadas, seja aquelas da legenda e sublegendas oficiais
(Arena-PDS), como as do MDB-PMDB, partido ao qual era filiado.
(GOULART, 2002: 16)

Participante do processo, Silva descreve o contexto dessa transformação em


relação às demandas do segmento cultural local. Segundo seu relato, “movimentos
esparsos e efêmeros aconteciam nas áreas de teatro, literatura e artes plásticas. Grupos
dos movimentos culturais reivindicavam maior preocupação com a cultura local,
negligenciada pelos governos municipais” (SILVA, 1992: 52). Com relação à estrutura
institucional preexistente, essa autora acrescenta:

61
Silva (1992: 55) informa que a criação da Secretaria de Cultura estava na Proposta para ação do
Governo Municipal (programa de governo do candidato Zaire Rezende) e ela surgiu com a Lei
Municipal 3.955, de 9 de setembro de 1983.
106

Nas gestões anteriores, a palavra cultura da Secretaria Municipal


de Educação e Cultura não significava uma vertente de ação,
antes mera composição formal. Até este momento, a elite que
dominava o ambiente político demonstrava total desprezo pelas
manifestações da cultura local. A Banda Municipal e a Biblioteca
Pública, ambas criadas na década de 40, representavam as únicas
estruturas oficiais para a cultura. (SILVA, 1992: 51)

Com a intenção de responder a essas demandas, o organograma da nova


Secretaria compunha-se de três divisões: Bibliotecas, Cultura e Patrimônio Histórico. A
primeira “foi estruturada a partir da Biblioteca Pública Municipal, com a proposta de
implantar uma nova política de atendimento que ampliasse seu alcance” (SILVA, 1992:
52). A Divisão de Cultura, por sua vez, era responsável pela “programação de eventos em
todas as formas de manifestações, oferecia apoio material (...), financeiro e humano aos
grupos culturais” (SILVA, 1992: 53), além de administrar os espaços culturais da cidade.

A Divisão de Patrimônio Histórico foi a última a ser implantada, segundo Silva


(1992: 54), “por falta de profissionais especializados” e porque “a problemática do
patrimônio, principalmente o arquitetônico, requer uma legislação mais ampla de uso e
ocupação do solo”. A implantação da Secretaria de Cultura se deu ao longo de 1984,
cinco anos antes de que a cidade dispusesse de sua primeira Lei de uso e ocupação do
solo (Lei 5.013/ 1989), aprovada apenas pelo governo seguinte, em outro momento
político.

A ausência de legislação mais abrangente, entretanto, não inibiu alguns esforços.


A despeito dessa deficiência, a iminência de perda de diversos exemplares
62
arquitetônicos , a crescente pressão do mercado imobiliário sobre o Fundinho e o novo
contexto político, mais aberto à discussão de novas demandas pela sociedade local63,
favoreciam a ascensão do tema do patrimônio na agenda da cidade. Ramires (1998)
também assegura que, com a posse do prefeito Zaire Rezende, em 1983, “a discussão do
patrimônio histórico passou a ter um tratamento mais sério, por parte do Poder Público
municipal, podendo-se demarcar, a partir de então, a preocupação com a área que foi o
núcleo histórico da cidade” (RAMIRES, 1998: 196).

Na mesma eleição, a Câmara Municipal renovou-se: dos dezenove vereadores


empossados em 1983, onze nunca haviam ocupado aquele cargo anteriormente. Por
iniciativa de um desses novos membros, Olga Helena da Costa – educadora, ligada ao
movimento negro e a associações de moradores da periferia da cidade, que pela primeira

62
Ramires constatou: “Nos anos 80, existiam cerca de 25 prédios altamente representativos, que
deveriam ser preservados, e hoje [1998] eles não chegam a dez” (RAMIRES, 1998: 263).
107

vez elegeram representantes para o Poder Legislativo – foi aprovada a Lei 4.240, de 14
de novembro de 1985. Com um conceito de patrimônio64 muito semelhante ao Decreto-lei
25/ 1937, essa lei “organiza a proteção do patrimônio histórico, artístico e cultural do
município de Uberlândia” (ementa) e autoriza a criação do Conselho Consultivo Municipal
do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (art. 2º). A vereadora descreve assim sua
motivação para propor uma lei sobre o assunto:

Como eu sou professora, uma das minhas preocupações era ver, a


cada dia, a história de Uberlândia caindo, caindo por terra! (...) Eu
olhava e me lembrava daquele Fórum que foi embora, [olhava]
aquele espigão lá, sem valor nenhum [edifício da Secretaria de
Estado da Fazenda, construído no local], e comecei a me
preocupar. (Olga Helena da Costa, entrevista gravada em
16/7/2005)

Essa lei trouxe para o contexto municipal o instituto do tombamento, embora a


Prefeitura não a tivesse aguardado para aplicar esse instrumento em bens considerados
representativos para a história do município.

Antes disso, a Capela de Nossa Senhora do Rosário – construída em meados do


século XIX, em Miraporanga, distrito mais antigo da cidade – fora o primeiro bem
tombado65 (Figura 27). Paulo de Freitas, diretor da Divisão de Patrimônio durante parte
da década de 1990, deu sua opinião sobre a capela:

Eu acho que o imóvel mais importante que Uberlândia tem é a


igreja de Miraporanga. Porque a igreja de Miraporanga está
diretamente ligada com a Guerra do Paraguai. Ali era a estrada
(...) que passava por Mato Grosso. Foi ali que a tropa passou (...),
quando vieram todos com malária, da guerra, e morreram perto
de Monte Alegre [de Minas, município vizinho]. Foi lá que eles
pararam pra rezar! (...) Ela era todinha de pau-a-pique, taipa de
mão, seu processo construtivo... (Paulo de Freitas, entrevista
gravada em 13/7/2005).

Embora o depoimento avalie a importância do bem a partir de outro aspecto


igualmente verdadeiro – sua ligação indireta com fatos memoráveis da história nacional –

63
Esse contexto de maior participação da sociedade nas decisões políticas, em âmbito local, é
descrito por Silva (1992), Soares (1995) e Ramires (1998), entre outros pesquisadores.
64
“Art. 1º. Constitui o Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Uberlândia o conjunto dos bens
móveis e imóveis existentes no Município, cuja conservação seja de interesse público, quer por sua
vinculação a fatos memoráveis da história do Município, quer por seu excepcional valor artístico,
tanto arqueológico como etnográfico, e cultural, tanto biográfico como documental [sic]” (Lei
Municipal 4.240/ 1985).
65
A capela foi tombada, desprovida de dossiê de tombamento ou inventário, por meio da Lei
Municipal 1.650, de 14 de outubro de 1968. Miraporanga é um dos quatro distritos do município de
Uberlândia, situado a cerca de 50 quilômetros ao sul da sede, povoado “que teve início por volta
de 1860, quando os herdeiros do fazendeiro Jerônimo Sales Cunha edificaram a capela que,
posteriormente, veio a servir de matriz” (BARBOSA, 1995: 206).
108

as prováveis razões desse tombamento apóiam-se em seu valor histórico regional. Pode-
se afirmar que a Capela de Nossa Senhora do Rosário foi tombada por sua antiguidade,
graças à sua condição de único remanescente, no município, do início da ocupação do
Sertão da Farinha Podre – como era conhecido o Triângulo Mineiro. Repare-se que a
excepcionalidade do bem em si não é discutida, visto que não possuía qualidades
arquitetônicas que pudessem lhe valer a preservação, de acordo com os critérios
difundidos à época. A última obra de restauração, em 2001, substituiu os materiais de
construção originais, citados por Freitas.

Tabela 13 – Bens tombados pelo município66, Uberlândia, MG (até junho de 2005)

Tombamento Imóvel
Lei/ Data Descrição/ uso atual Época de Endereço Bairro /
Dec. construção distrito
Lei 14/ 10/ 1968 Capela N. S. do Rosário 1850-1852 Miraporanga
1.650
Lei 25/ 9/ 1985 Conjunto Arquitetônico 1917, 1927 Praça Fundinho
4.209 Praça Clarimundo Clarimundo
Carneiro, Museu Carneiro
Municipal e Coreto
Lei 15/ 10/ 1985 Casa da Cultura 1922-1924 Praça Cel. Fundinho
4.217 Carneiro, 89
Lei 15/ 10/ 1985 Oficina Cultural (antiga 1926 Praça Fundinho
4.217 Cia. Força e Luz, Clarimundo
CEMIG) Carneiro, 204
Lei 9/ 12/ 1985 Igreja N. S. do Rosário 1931 Praça Rui Fundinho
4.263 Barbosa
Lei 25/ 10/ 2000 Conjunto Arquitetônico Fim do Rua do Miraporanga
7.655 Casa D. Domingas século XIX Comércio, 300
Camin
Lei 29/ 10/ 2002 Mercado Municipal 1944 Rua Olegário Centro
8.130 Maciel, 255
2002 Casa D. Albertina c. 1920 Rua Marechal Fundinho
Chacur Deodoro, 52
Lei 2004 Praça Tubal Vilela 1959-1962 Praça Tubal Centro
9.676 Vilela
Dec. 13/ 5/ 2005 Escola Estadual de 1929 Praça Adolfo Fundinho
9.904 Uberlândia – “Museu” Fonseca
(antigo Ginásio Mineiro)
Fontes: Secretaria Municipal de Cultura, Divisão de Memória e Patrimônio Histórico;
www.uberlandia.mg.gov.br;
jornal Correio de Uberlândia, 22/6/2005.

66
As fichas do Inventário de proteção do acervo cultural, referentes a todos os bens tombados nos
níveis estadual e municipal, encontram-se no Anexo 2.
109
110

Figura 27 – Igreja Nossa Senhora do Rosário, em Miraporanga (junho de 2001)


Fonte: Inventário de proteção do acervo cultural, 2002, ficha Igreja Nossa Senhora do
Rosário de Miraporanga
Fotografia de Fábio Leite

Figura 28 – Praça Clarimundo Carneiro, Museu Municipal e Coreto (agosto de


2004)
Fotografia do autor
111

Figuras 29 e 30 – Museu Municipal (agosto de 2004)


Fotografias do autor

Figura 31 – Árvore (sibipiruna) plantada em 1918 na Praça Adolfo Fonseca,


tombada em 1985 (agosto de 2004)
Fotografia do autor
112

Ainda sem o subsídio de diagnósticos e dossiês de tombamento – alguns


elaborados posteriormente, em atendimento ao ICMS Patrimônio Cultural – a Prefeitura
abriu seu livro de tombo, onde passou a registrar exclusivamente bens imóveis.
Desprovida de legislação que considerasse a dimensão espacial da questão, a atuação do
município, nessa época, limitou-se à inscrição desses bens, isoladamente.

Ao contrário do Decreto-lei 25/ 1937, que define o tombamento como ato


administrativo do chefe da autarquia gestora do patrimônio67 – a Lei 4.240 não esclarece
a forma legal de se efetivar a inscrição. Apenas nos casos de tombamento compulsório, a
lei municipal entende que, esgotados os prazos de recurso e análise pela Procuradoria
municipal, cabe ao prefeito a decisão final68. Com isso, os tombamentos em nível
municipal foram feitos tanto por atos do prefeito, quanto por leis. A última forma tem sido
bastante comum, inclusive recentemente.

Com a utilização desse expediente, um conjunto arquitetônico, dois edifícios


públicos e outra igreja receberam proteção, todos em 1985, conforme relato da autora da
Lei municipal de patrimônio histórico:

A partir do momento em que se criou a lei, eu tombei a Casa da


Cultura; (...) tombamos a Oficina Cultural. Aquilo ali já mexeu com
o pessoal! Então, já que estávamos tombando isso tudo, já tinha a
Câmara que seria o Museu... (...) Então tombou-se o Coreto, o
Antônio Jorge [vereador] tombou a praça [Clarimundo Carneiro,
onde ficam a Câmara Municipal e o Coreto], o Amir Cherulli
[vereador] tombou aquela árvore da João Pinheiro69... (Olga
Helena da Costa, entrevista gravada em 16/7/2005)

O depoimento oral acima mostra que a Lei 4.240/ 1985 despertou grande
entusiasmo entre os vereadores. Quanto ao encadeamento dos fatos, entretanto, os
dados pesquisados contradizem a entrevistada: dos quatro tombamentos ocorridos em
1985, três foram aprovados pouco antes da promulgação da referida lei. Isso evidencia

67
“Art. 5º. O tombamento dos bens pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios se fará de
ofício, por ordem do diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional...” (Decreto-lei
25/ 1937 apud FONSECA, 2005: 247).
68
“Se houver impugnação no prazo estipulado, que é fatal, ela será examinada, em igual prazo,
pelo Conselho Consultivo, que emitirá seu parecer. Em seguida, a impugnação será remetida à
Procuradoria Geral, para oferecer parecer sobre os aspectos legais, em dez dias. A decisão final
caberá ao Prefeito” (Lei Municipal 4.240/ 1985, art. 9º, 4).
69
A árvore em questão é uma sibipiruna que, plantada na década de 1910, ainda resiste ao
movimento de ônibus e automóveis na avenida. A atribuição de protegê-la, assim como a outros
espécimes imunes de corte espalhados pela cidade, é da Secretaria de Planejamento Urbano e
Meio Ambiente. Ela não se encontra na lista de bens tombados aqui apresentada (Tabela 13), que
mostra apenas edifícios, mas pode ser vista na Figura 31.
113

que as propostas de proteção desses imóveis foram discutidas concomitantemente com a


norma municipal sobre o tema, tendo tal sentimento durado o período da tramitação.

O primeiro bem tombado naquele ano – segundo no município – foi o Conjunto


Arquitetônico da Praça Clarimundo Carneiro (Figuras 28 a 30), cuja proteção resultou de
três propostas isoladas, como apontado acima. A sede da própria Câmara Municipal (atual
Museu Municipal), embora não fosse protegida anteriormente, era o único edifício cuja
preservação constava no Plano de urbanização da cidade (MINAS GERAIS, 1954), conforme
dissemos. Seu valor excepcional devia-se à inovadora arquitetura. O edifício destaca-se
no contexto urbano graças à singular implantação, no centro da praça. Por esse motivo,
as propostas de proteção da Praça, de seu Coreto e da Câmara foram juntadas em
apenas uma, formando o conjunto urbano. Vale et alii (2004a) apontam sua importância
histórica e simbólica:

A obra de maior importância do início do Século XX, certamente,


foi a construção da Câmara Municipal, o Palácio dos Leões, com
projeto do construtor Cipriano Del Fávero, inaugurada em 1917.
Foi o primeiro imóvel de dois pavimentos e durante algum tempo
o único. Esse edifício expressava a importância que suas
lideranças políticas buscavam para a municipalidade. (VALE et alii,
2004a: 63)

Também tombado em 1985, o prédio da atual Oficina Cultural pertenceu


originalmente à Companhia Força e Luz de Uberabinha, até 1929, quando foi criada a
Companhia Prada de Eletricidade, que o adquiriu. A sede da empresa e a residência de
seu proprietário, o Coronel Clarimundo Carneiro, compartilham o mesmo terreno (Figuras
32 a 35). Em 1973, com a aquisição da Prada pela CEMIG, o imóvel passou ao patrimônio
desta. Atualmente, o conjunto formado pelos dois prédios se encontra protegido
(Inventário de proteção do acervo cultural, 2002, ficha Oficina Cultural). Trata-se de
edifício eclético construído no início do século XX, “primeiro momento de modernização da
cidade”, época em que as lideranças políticas pretendiam, a partir do arrojo de suas
novas construções, marcar a importância que Uberlândia adquiria no cenário urbano
regional (VALE et alii, 2004a: 66). Nesse momento, como nos demais casos, seu
tombamento deveu-se ao esforço de salvaguarda dos edifícios públicos mais antigos que
ainda restavam. Adquirido pela Prefeitura em 1995, foi transformado em espaço cultural,
passando a contar com galeria de exposições, salas de dança, vídeo, palestras e reuniões,
além de amplo pátio descoberto, utilizado esporadicamente para eventos.
114

Figura 32 – Companhia de Força e Luz de Uberabinha (atual Oficina Cultural)


(1929)
Fonte: Arquivo Público Municipal
Imagem extraída do Inventário de proteção do acervo cultural, 2002, ficha Oficina
Cultural

Figuras 33 e 34 (acima) –
Oficina Cultural (antiga
Companhia de Força e Luz de
Uberabinha) (agosto de 2004)

Figura 35 (abaixo) –
Oficina Cultural (antiga Casa de
Clarimundo Carneiro) (agosto de
2004)
Fotografias do autor
115

A Casa da Cultura, por sua vez, foi inscrita no livro do tombo municipal por ser um
dos mais significativos exemplares dos palacetes ecléticos, muito apreciados pelas classes
dominantes, entre 1910 e 1930 (Figuras 36 a 40).

Sua presença [do Ecletismo] seria marcante na antiga Praça da


Cavalhada – atual Praça Coronel Carneiro – onde foram
construídos belos palacetes, dos quais, os únicos remanescentes
são a atual Casa da Cultura e o imóvel situado no nº. 52 [sic],
que, recentemente, sofreu total descaracterização de seu espaço
interior. (VALE et alii, 2004a: 63)

Como informado anteriormente, naquele momento a cidade se expandia, com o projeto


retilíneo do novo Centro, e a construção desses vistosos imóveis tinha o mesmo intuito de
demonstrar a riqueza e a pujança locais. Segundo Vale et alii (2004a: 66), “os palacetes
ocupavam grandes terrenos, com a presença de um jardim frontal ou lateral, que recebia
tratamento paisagístico com canteiro de formas geométricas, presença de bancos e
esculturas e o cultivo de plantas exóticas”. Este, construído entre 1922 e 1924 por
Américo Zardo, teve diversos usos desde então: residência de Eduardo Marquez,
“importante figura política da cidade”; Casa de Saúde e Maternidade; Delegacia e sede
regional da Secretaria Estadual da Fazenda (VALE et alii, 2004a: 67). Quando foi tombado,
o governo estadual havia acabado de cedê-lo em comodato à Prefeitura, em 1984, tanto
que a chamada Casa da Cultura incluía, além desse equipamento, a própria sede da
recém-criada Secretaria da Cultura. “O imóvel (...) ainda preserva suas características
originais, com implantação centralizada no lote, inclusive os materiais e técnicas no
interior, como as pinturas decorativas, os pisos e forros trabalhados em madeira” (VALE et
alii, 2004a: 67). Encontra-se fechado, com restauração em andamento durante todo o
período de realização desta pesquisa, cuja etapa atual mereceu o benefício da Lei
Estadual de Incentivo à Cultura: a renúncia fiscal em favor da empresa privada que
financiou a obra.

O último imóvel tombado na década de 1980 foi a igreja também dedicada a


Nossa Senhora do Rosário, no Fundinho (Figuras 45 a 47). Em torno dela, realiza-se todos
os anos a festa do Congado (Figuras 48 a 51). Importante manifestação cultural,
celebração dos negros em louvor a São Benedito e Nossa Senhora do Rosário,
recentemente tem sido cogitado seu registro como bem cultural de natureza imaterial,
valendo-se da instituição dessa modalidade de proteção pelo IPHAN70.

70
O registro de bens culturais de natureza imaterial é uma forma de preservação instituída pelo
Decreto 3.551, de 4 de agosto de 2000. O município de Uberlândia ainda não efetuou nenhum
registro. A idéia de registrar o Congado foi aventada em julho de 2005, numa edição do evento
Proseando sobre Patrimônio, realizado pela Secretaria de Cultura. A proteção de bens culturais
imateriais não está no foco desta dissertação.
116

Figura 36 – Casa da Cultura (abril de 2004)


Fonte: Inventário de proteção do acervo cultural, 2002, ficha Casa da Cultura
Fotografia de Luciano Pena

Figura 37 (à esquerda) – Casa da Cultura, vista da Praça Coronel Carneiro (junho


de 2005)
Figura 38 (à direita) – Casa da Cultura, vista da rua 15 de Novembro (junho de
2005)
Fotografias do autor
117

Figuras 39 e 40 – Casa da Cultura (detalhes) (junho de 2005)


Fotografias do autor

Figuras 41 a 44 – Restaurante Casarão, na Praça Coronel Carneiro 52 (2005)


Fotografias do autor
118

Figura 45 – Inauguração da Igreja Nossa Senhora do Rosário (Fundinho)


(década de 1930)
Fonte: Arquivo Público Municipal
Imagem extraída de VALE et alii (2004a: 37)

Figuras 46 e 47 – Igreja Nossa Senhora do Rosário (Fundinho), durante obra de


recuperação do telhado (agosto de 2004)
Fotografias do autor
119

Figuras 48 e 49 (acima) –
Praça Rui Barbosa: Congado, festa em
louvor a Nossa Senhora do Rosário e São
Benedito (novembro de 2003)
Fotografias do autor
Figuras 50 e 51 (abaixo) –
Praça Rui Barbosa: Congado (sem data)
Fonte: NASCIMENTO & MOREIRA (2005)
Fotografias de Ricardo Borges
120

Essa Praça [Rui Barbosa], pela presença da Igreja de Nossa


Senhora do Rosário, que se constitui no exemplar de arquitetura
religiosa mais antigo preservado da cidade, (...) possui um alto
valor simbólico para a população de Uberlândia. É o principal local
de realização das festas do Congado, uma das mais importantes
tradições culturais da cidade, realizadas no mês de outubro e um
forte marco urbano. A presença em seu entorno, de outros
imóveis de valor cultural, enriquecem o espaço e criam uma
unidade de conjunto. (VALE et alii, 2004a: 39)

Como a Igreja do Rosário é bastante representativa da presença dos negros na cidade,


como confirmam essas festividades, pode-se elencar esse caráter referencial como uma
das razões de seu tombamento. O engajamento do movimento negro71 na luta pela
preservação do patrimônio certamente pesou em favor da proteção de sua principal
igreja. Assim sendo, afirmamos que o motivo para o tombamento foi dado por critérios
mais abrangentes de reconhecimento de seu valor cultural, uma vez que, não o bem em
si, mas a celebração que testemunha faz ”referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”72 – como a Constituição definiu,
alguns anos após este tombamento73. A construção atual, de gosto eclético, concluída em
1931, é a terceira igreja de iniciativa da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário na
cidade. As anteriores foram demolidas, como explica o inventário do imóvel:

No ano de 1891, o Sr. Arlindo Teixeira, membro da Comissão


Procuradora da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, propôs a
transferência da [primeira] capela, que se encontrava em estado
de abandono e degradação, para a praça hoje denominada Rui
Barbosa. (...) a construção da [segunda] capela foi finalizada em
1893, tendo sido empregada estrutura autônoma de madeira e
fechamento em tijolos de adobe. (...) No entanto, já nos primeiros
anos, verificou-se um espírito geral de descontentamento em
relação a essa edificação, considerada uma “acanhada ermida
sertaneja”74. Dessa forma, alguns anos mais tarde, já se cogitava
a construção de uma nova capela (...), ‘mais condizente com a
época, para embelezar a praça’. (Inventário de proteção do acervo
cultural, 2002, ficha Igreja Nossa Senhora do Rosário)

71
A organização não-governamental Movimento Negro de Uberlândia Visão Aberta (MONUVA)
possuiria, em seguida, uma vaga no COMPHAC, no fim da década de 1980. Atualmente, um
membro da Irmandade Nossa Senhora do Rosário ocupa a representação da COAFRO
(Coordenadoria Afro-racial), da Secretaria de Cultura, no Conselho.
72
Constituição Federal, trecho do caput do art. 216.
73
Já que não houve dossiê de tombamento, neste e em outros casos, não foi possível estudar as
razões dessa medida a partir dos dossiês, como Fonseca (2005) fez em relação aos bens tombados
em nível federal.
74
A primeira capela localizava-se no Largo do Comércio (atual Praça Doutor Duarte). O inventário
assim descreve a segunda capela, considerada “acanhada”, já no local atual, a Praça Rui Barbosa:
“Essa capela tinha frontispício voltado para o Ribeirão São Pedro e contava com três portas – uma
central, mais larga, e duas laterais a esta; com duas janelas rasgadas por inteiro, com balaústres
de madeira recortada, no nível do coro” (Inventário de proteção do acervo cultural, 2002, ficha
Igreja Nossa Senhora do Rosário).
121

Figura 52 – Praça Rui Barbosa, vista da


Igreja Nossa Senhora do
Rosário (agosto de 2004)
Fotografia do autor
Figura 53 (à direita) – Sorveteria Bicota e residência, na Praça Rui Barbosa
(agosto de 2004)
Fotografia do autor

Figura 54 – Vista do Fundinho: rua Bernardo Guimarães e adjacências (julho de


2005)
Fotografia do autor
122

Embora o imóvel se situe no centro da Praça Rui Barbosa, esta se encontra


fragmentada pelo sistema viário e o conjunto de edifícios históricos do entorno,
consideravelmente descaracterizado, respeitado apenas o gabarito, que mesmo assim não
é uniforme. Embora seja um “espaço onde se concentram e reproduzem práticas culturais
coletivas”, o conjunto não se encontra protegido75.

Todas essas iniciativas, porém, ainda careciam de maior articulação entre si. Não
havia, naquele momento, uma política de preservação claramente formulada – em que
pesem as iniciativas de criação da Secretaria de Cultura, promulgação de lei específica e
alguns esforços isolados pela proteção. O Poder Executivo encampou a luta da vereadora
Olga Helena, mas a escassez de imóveis públicos que pudessem ser considerados
historicamente representativos, de acordo com os critérios da época, impediu uma ação
mais efetiva. O próprio COMPHAC, criado em seguida, analisou algumas propostas de
tombamento, mas seu trabalho era freqüentemente inconclusivo, como veremos no item
3.4. Os demais imóveis com interesse de preservação eram privados e sua proteção legal
não chegou a ser cogitada, naquele momento.

3.2.2. A primeira Lei de uso e ocupação do solo (Lei 5.013/ 1989)

Ao longo de toda a década de 1980, o aparato legal necessário à gestão do


patrimônio cultural ainda não estava apto a funcionar plenamente, pois a legislação de
uso do solo se mantinha omissa quanto ao assunto. A Lei Municipal 2.684, de 9 de
dezembro de 1976, vigente à época – que instituía “o regulamento dos processos de
parcelamento do solo” (ementa) – não disciplinava outras questões além do
parcelamento, tinha ênfase nos novos loteamentos e não indicava nenhuma forma de
zoneamento. Apesar de ressalvar que os parcelamentos estariam sujeitos “às diretrizes
estabelecidas em lei, no que se refere ao uso e ocupação, às vias de circulação, aos
equipamentos e serviços de uso público e à proteção dos valores paisagísticos e
históricos”76, não havia norma que definisse quais eram e onde se situavam os bens
portadores desses valores. A referida lei tampouco disciplinava o remembramento de
lotes existentes, que podia ocorrer, como as demais categorias de parcelamento77, em

75
O trecho citado descreve um dos objetos passíveis de inscrição no Livro de Registro dos Lugares,
do Decreto 3.551/ 2000 (apud FONSECA, 2005: 289), que “institui o registro de bens culturais de
natureza imaterial”. O conjunto urbano poderia ser preservado pelo registro nesse livro ou pelo
tombamento.
76
Regulamento dos processos de parcelamento do solo (Anexo da Lei Municipal 2.684/ 1976), art.
1º, sem destaques no original.
77
O Regulamento dos processos de parcelamento do solo (Anexo da Lei Municipal 2.684/ 1976)
enumera, em seu art. 2º, as categorias de parcelamento tratadas – loteamento, desmembramento
e remembramento de lotes.
123

qualquer área inserida no perímetro urbano. Em suma, não oferecia instrumentos


concretos para se enfrentar o problema do desaparecimento desse patrimônio.

Durante os anos subseqüentes daquela legislatura, houve algumas propostas para


se complementar a Lei 4.240, dotando-a de instrumentos para disciplinar a ocupação do
solo, mas nenhuma chegou a transformar-se em lei. Dentre elas, Attux (2001: 123)
destaca algumas observações, contidas na proposta de Lei de uso e ocupação do solo78
que o Gabinete Municipal de Planejamento elaborava, em agosto de 1986:

...a proibição total de edificações na área do Fundinho (...) só se


justificaria através de um processo de desapropriação que viesse
respaldado por justificativas que ressaltassem o caráter cultural e
histórico da região, visto que a preservação da qualidade de vida não é
necessariamente afetada com a modernização e a implantação de novos
projetos arquitetônicos. (Gabinete Municipal de Planejamento, apud
ATTUX, 2001: 123)

A sugestão de proibir “edificações na área” – que supomos referir-se à construção


de edifícios verticais – foi prontamente rechaçada pelo próprio Gabinete de Planejamento,
que a qualificou como “restritiva e discriminatória”, temendo o risco de “gerar reações por
parte da comunidade interessada em aplicar os seus investimentos na área” (idem, apud
ATTUX, 2001: 123). Tais recomendações revelam a ingenuidade com que os órgãos
públicos municipais lidavam com a preservação do patrimônio, naquela época, confirmada
no relato abaixo:

Quando eu tombei a Casa da Cultura, para que ela realmente


fosse [preservada], eu coloquei que, em terrenos lindeiros, não
poderia haver aqueles edifícios (...). Então o Bailoni [vereador]
ampliou os limites [do perímetro de tombamento] para 200
metros!79 (...) Mas não passou... (Olga Helena da Costa, entrevista
gravada em 16/7/2005)

Ademais, percebe-se a postura ambígua que sempre caracterizou a atuação da Prefeitura


no que diz respeito ao enfrentamento dos interesses do mercado imobiliário, além da
impossibilidade de ação efetiva, sem o respaldo de uma legislação de uso do solo
condizente com as intenções propaladas. As normas edilícias admitiam o remembramento
de terrenos, que resultava em aumento do potencial construtivo e conseqüente
verticalização, como se percebe neste depoimento, sobre a restrição a construções no
perímetro de entorno da Casa da Cultura:

78
A proposta de Lei de uso e ocupação do solo , que contou com contribuições do Conselho, foi
enviada à Câmara em junho de 1988, juntamente com o Código de obras do município (Atas de
reuniões do COMPHAC, 30/10/1987 e 7/6/1988). Apenas o Código foi aprovado, na ocasião.
79
A mesma ex-vereadora declarou ao COMPHAC, em 2000, que o perímetro de entorno
originalmente proposto, de 100 metros, também não fora aprovado (Ata de reunião do COMPHAC,
2/8/2000).
124

[A restrição] Mexeu com o interesse do [vizinho ao] lado, porque o


homem já tinha comprado o terreno, a casa, pra fazer um edifício
ali, e já tinha feito até a base! (...) Mas aí o secretário falou pra
ele ‘se você comprar dois terrenos...’ (Olga Helena da Costa,
entrevista gravada em 16/7/2005)

Essa prática, que incomodava alguns proprietários de imóveis – como mostra uma
carta enviada à Prefeitura80 em 1986 (ATTUX, 2001) – foi interrompida pouco depois. A
intenção de rever a legislação de uso e ocupação do solo, com a finalidade de preservar o
patrimônio, não se concretizou na ocasião e, como se verá, ainda se adiaria por mais dez
anos, tempo suficiente para a perda de boa parte do acervo81.

A Lei Municipal 5.013/ 1989 foi a primeira a tratar de uso e ocupação do solo
associados ao zoneamento, com coeficientes de aproveitamento, taxas de ocupação e
permeabilidade diferenciadas para cada região da cidade. Embora oferecesse mais que as
diretrizes para parcelamento contidas na Lei Municipal 2.684/ 1976, o zoneamento da Lei
5.013 ignora a condição do Fundinho, não apresentando qualquer instrumento que o
diferencie do restante da cidade.

A Figura 55 mostra que, para o espaço correspondente ao Fundinho82, a que a


atual lei de uso do solo atribui zoneamento específico, a Lei 5.013 repartiu em três zonas:
Zona 5, Zona 9 e Z7C, sendo que esta última era linear, disposta em alguns trechos de
vias coletoras que cortam o bairro. A Tabela 14 informa usos permitidos, taxa de
ocupação e coeficiente de aproveitamento, para cada uma dessas zonas.

A Zona 5, que admitia apenas os usos residencial, comércio varejista local e


serviços locais, era predominante no bairro. Contudo, mesmo no interior dessa zona, usos
como comércio e serviços diversificados, institucional e industrial, inclusive de médio porte
– de maior impacto, em virtude de seu alcance ampliado em relação à cidade – eram
tolerados em vias coletoras (indicadas na Zona 7C, Figura 55). A Zona 9, ainda mais
permissiva que a 5, com relação aos usos, correspondia às quadras mais próximas do
Centro.

80
“Em junho de 1986, o sr. Sérgio de Oliveira Marquez, proprietário de um imóvel situado no
Fundinho, (...) solicitava o cancelamento da restrição ao direito de edificar um prédio no seu
imóvel, cuja autorização havia sido negada pela Secretária de Cultura, (...) [alegando] que a
referida construção não havia sido tombada por lei, e que outros prédios próximos ao seu imóvel
já haviam sido edificados.” (ATTUX, 2001: 121)
81
Vale a pena repetir Ramires (1998): “Nos anos 80, existiam cerca de 25 prédios altamente
representativos, que deveriam ser preservados, e hoje [1998] eles não chegam a dez” (RAMIRES,
1998: 263).
82
O Fundinho teve sua denominação e seus limites geográficos reconhecidos apenas nas duas Leis
de uso e ocupação do solo posteriores, as Leis Complementares 224/ 1999 e 245/ 2000, quando
tornou-se zona especial de revitalização. O limite indicado na Figura 55 consta desta última lei.
125

Figura 55 – Lei Municipal 5.013/ 1989:


zoneamento proposto para a região correspondente ao Fundinho
Fonte: Lei Municipal 5.013/ 1989
Figura extraída de ATTUX (2001: 127)

Tabela 14 – Lei Municipal 5.013/ 1989: usos, taxa de ocupação e coeficiente de


aproveitamento permitidos na região correspondente ao Fundinho

Zonas Usos permitidos Taxa de Coeficiente de


ocupação aproveitamento

Zona 5 Residencial (R1, R2, R3) 70% 4,0


(art. 23) Comércio varejista local (C1)
Serviços locais (S1)
Zona 9 Residencial (R1, R2, R3) 70% 4,0
(art. 27) Comércio varejista local e diversificado (C1, C2)
Serviços locais e diversificados (S1, S2)
Zona 7C Residencial (R1, R2, R3) 70% 4,0
(art. 25, Comércio varejista local e diversificado (C1, C2)
II) Serviços locais e diversificados (S1, S2)
Indústria: pequeno e médio portes (I1, I2)
Institucional (In1, In2)
Fonte: Lei Municipal 5.013/ 1989
126

Consideradas a taxa de ocupação de 70%, o coeficiente de aproveitamento igual a


4,0 e a possibilidade de remembramento de lotes, que sempre existiu, pode-se imaginar
os enormes prejuízos causados à feição urbana do bairro que deu origem a Uberlândia.
Apenas para efeito ilustrativo, a Área de Diretrizes Especiais (ADE) de Santa Tereza83, em
Belo Horizonte, criada com o objetivo de preservar a ambiência cultural e histórica do
bairro, tem “coeficiente de aproveitamento de 1,20 (...) para edificações residenciais e de
1,0 (...) para as destinadas aos usos não-residencial ou misto”, além de gabarito limitado
a 15 metros (Lei Municipal 7.166/ 1996, art. 83, §2º).

Ramires (1998: 197) lembra que, ao longo dos anos 1990 – enquanto vigorava a
lei 5.013 e discutiam-se o Plano Diretor (1994) e a nova Lei de uso e ocupação do solo
(1999) – muitos empreendimentos imobiliários foram construídos no Fundinho,
caracterizando uma disputa por sua localização privilegiada. Muitos deles foram lançados
pela Encol e concluídos após a falência da empresa, ocorrida em 1996. Vale et alii
(2004a) também apontam essa renovação do tecido urbano, descrevendo a Praça Cícero
Macedo, onde havia a primeira Igreja Matriz:

Até a década de 1980, a Praça, mesmo sem a igreja, conservou


sua ambiência original, com construções datadas de princípios do
Século XX. Nessa década, vários dos antigos casarões que a
circundavam foram demolidos para dar lugar a edifícios
multifamiliares. (VALE et alii, 2004a: 42)

Vale et alii (2004a: 87) mostram alguns dados ilustrativos desse processo de
verticalização do Fundinho84. “Durante a década de 1970, foram construídos seis edifícios
no Bairro, (...) metade com mais de dez pavimentos. Nas décadas de 1980 e 1990 o
número de estruturas verticalizadas dobrou”. Segundo essa autora, “na década de 1980,
foram construídos doze edifícios” (8 deles com mais de 15 pavimentos); na década de
1990, 13 (sendo 12 com mais de 10 pavimentos) e, entre 2000 e 2004, 4 prédios, metade

83
As Áreas de Diretrizes Especiais são instrumentos da Lei de parcelamento, uso e ocupação do
solo do município de Belo Horizonte (Lei Municipal 7.166/ 1996), utilizados em bairros ou
conjuntos urbanos que, “por suas características, exigem a implementação de políticas específicas
(...), podendo demandar parâmetros urbanísticos, fiscais e de funcionamento de atividades
diferenciados, que se sobrepõem aos de zoneamento e sobre ele preponderam” (Lei Municipal
7.166/ 1996, art. 75, apud AMARAL, 1996: 77). Devem ser criadas por leis específicas, com o
objetivo de, “estabelecendo restrições adicionais ao zoneamento de ocupação e ao licenciamento
de uso (...), preservar determinadas características locais de interesse para a região ou mesmo
para o município” (AMARAL, 1996: 77). No caso da ADE de Santa Tereza, o interesse que pesava
sobre o bairro era justamente a preservação do patrimônio, menos representado por edifícios
isolados e mais pela ambiência do conjunto urbano razoavelmente homogêneo, de baixos gabarito
e densidade – à semelhança do Fundinho, sobretudo em 1989. A diferença é que a aprovação da
ADE de Santa Tereza contou com grande mobilização de seus moradores, algo que não ocorreu
em Uberlândia. Recentemente, o Inventário do Fundinho (VALE et alii, 2004a, 2004b) propôs “um
tratamento de Área de Diretrizes Especiais (...) de Caráter Cultural” para o bairro.
84
A autora considera apenas edifícios com três pavimentos ou mais (Tabela 15).
127

com mais de 10 pavimentos (Figuras 56 a 58).

Tabela 15 – Construções com gabaritos acima de dois pavimentos no Fundinho


Gabarito
Décadas
>3e<4 > 5 e < 10 > 10 e < 15 > 15 e < 20 > 20 Total
1970 0 3 1 1 1 6
1980 3 1 0 7 1 12
1990 1 0 7 5 0 13
2000 0 2 1 1 0 4
Total 4 6 9 14 2 35
Fonte: Vale et alii (2004a: 88)

Segundo Ramires (1998), entre os prédios de apartamentos lançados no bairro


nos anos 1990, predominavam os destinados a consumidores de alta renda, nos quais
grandes áreas privativas, materiais de acabamento caros, piscinas, salões de festas e
amplas garagens eram características freqüentes. Sua localização central era destacada
nos folhetos publicitários (Figura 59). Na opinião de Ramires (1998: 200), “esses
apartamentos amplos estariam tentando reproduzir as residências espaçosas que existiam
anteriormente, onde residiam as grandes famílias”.

O edifício Rocha e Silva, por exemplo, possui quase 400 metros


quadrados, com 32 andares, destacando-se na paisagem urbana
da cidade por sua magnitude. (...) Os edifícios Rocha e Silva e Cap
Ferrat (lançado nos anos 80) figuram entre os empreendimentos
de maior área em todo o Estado de Minas Gerais. (RAMIRES, 1998:
200)

O referido edifício situa-se em quadra limítrofe com o Fundinho e é vizinho da Praça


Coronel Carneiro e da Casa da Cultura, tombada pelo município (Figuras 56 a 58). Como
foi construído antes da Lei de uso e ocupação do solo de 1999, seguido de outros em
lotes contíguos, a quadra não foi incluída na região protegida. A Figura 59 exibe os
principais lançamentos da construtora Encol em Uberlândia (1995), evidenciando a
concentração desses edifícios verticais no bairro.
128

Figura 56 – Edifícios de apartamentos na Praça Coronel Carneiro, ao lado da


Casa da Cultura; o último à esquerda é o Edifício Rocha e Silva (abril
de 2004)
Fotografia do autor

Figura 57 – Vista do Fundinho; o Edifício Rocha e Silva é o último à esquerda


(julho de 2005)
Fotografia do autor
129

Figura 58 – Edifícios de apartamentos na rua 15 de Novembro, em área


excluída da zona especial de revitalização; à direita, a Casa da
Cultura (abril de 2004)
Fotografia do autor
130

Figura 59 – Anúncio de empreendimentos da Encol em Uberlândia (1995);


perceber concentração de edifícios no Fundinho e em quadras vizinhas
Fonte: RAMIRES (1998)
131

3.2.3. Plano Diretor de 1994 e Leis de uso e ocupação do solo subseqüentes


(Leis Complementares 224/ 1999 e 245/ 2000)
Recém-promulgada a Lei 5.013/ 1989, cujos efeitos estenderam-se por toda a
década seguinte, a Prefeitura de Uberlândia iniciou a elaboração do Plano Diretor, a fim
de cumprir exigência da Constituição de 198885. A versão preliminar do Plano Diretor86,
publicada em 1991, contendo os estudos que subsidiaram o Plano Diretor, não menciona
a participação da população em sua fase de elaboração. Limita-se a enviar ao “cidadão
uberlandense” a seguinte mensagem, em sua primeira página (Apresentação):

Esta é uma versão preliminar do Plano Diretor de Uberlândia.


Destina-se a dar uma visão macro e micro do Município: seu
passado, seu presente, e o futuro que queremos juntos construir.
Não é um documento fechado e acabado. A sua contribuição para
a versão final pode ser enviada à Assessoria Geral de
Planejamento. Uma vez esgotada esta fase de contribuições, o
Executivo encaminhará o Plano à Câmara Municipal. (UBERLÂNDIA,
1991, sem destaques no original)

O texto anterior, ao informar sobre o objetivo da publicação – “dar uma visão


macro e micro do Município” – desconsidera a existência de mais de uma leitura possível
da cidade. Enquanto a leitura técnica encontrava-se concluída, apresentada num volume
de aproximadamente trezentas páginas87, a possibilidade de participação da comunidade
abria-se naquele momento, mediante o envio da referida publicação a algumas entidades
organizadas, de preferência as que possuíssem afinidades com o prefeito. Em seguida,
após prazo mínimo para a manifestação dos cidadãos, o Plano Diretor sofreria apreciação
da Câmara Municipal. A escolha prévia das entidades participantes e a escassez de tempo
para apreciação são confirmadas pelo ofício que acompanhava o exemplar consultado.
Remetido à Loja Maçônica Acácia do Triângulo em 20 de setembro de 1991, colocava-se
“à sua disposição para recebermos contribuições para a elaboração da versão final [sic]”,
a qual “no mês de outubro será encaminhada à Câmara Municipal [sic]” (Ofício Circular
AGP/GA/ Of. nº 38, 20/9/1991).

Embora proponha-se a discorrer sobre “o futuro”, a ser construído em conjunto, o


documento não faz qualquer referência ao engajamento prévio dos cidadãos em sua

85
“O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte
mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.”
(Constituição Federal, art. 182, §1º)
86
Em alguns momentos, prefere-se o texto da publicação Plano Diretor Cidade de Uberlândia
1991-2006; versão preliminar (UBERLÂNDIA, 1991) ao que acompanha o Plano Diretor aprovado
(Lei Complementar Municipal 78/ 1994). A versão preliminar traz os estudos que subsidiaram a
proposta, por fim apresentada. Por ser mais longa e densa, informa mais sobre sua filiação, que
não é explícita, ao planejamento estratégico, tal como Vainer (2002) o caracterizou.
87
As páginas da publicação (UBERLÂNDIA, 1991) não são numeradas.
132

feitura, deixando de dar oportunidade principalmente aos setores não esclarecidos da


população, que não têm contato com os ambientes profissionais em que tal matéria é
discutida. O pragmatismo e a urgência de resultados, características do planejamento
estratégico, como vimos no Capítulo 1, não permitiriam que a tramitação se desse em
outros termos. “O futuro que queremos juntos construir” (grifado na citação acima) é o
flagrante do consenso preconcebido, em que a abrangência e a profundidade das
discussões por haver pouco interessam, ao contrário do que se anuncia.

“Elaborado pela Equipe de Técnicos da Prefeitura Municipal de Uberlândia com a


assessoria do Escritório Jaime Lerner Planejamento Urbano” – confirmando novamente os
ambientes estritamente técnicos onde foi gerado – o Plano divide-se em duas partes:

A Primeira Parte aborda a situação atual de Uberlândia, detendo-


se nas partes estruturais, apontando as situações mais relevantes,
considerando tanto os fatores positivos como os negativos. (...) A
Segunda Parte (...) propõe um conjunto de diretrizes (...) onde se
tornam relevantes o transporte, o sistema viário e a Lei de Uso e
Ocupação do Solo, por serem os instrumentos de integração das
funções urbanas. (UBERLÂNDIA, 1991, sem destaques no original)

Embora conte com um diagnóstico profuso em dados estatísticos, o Plano


enumera demandas que não correspondem necessariamente aos interesses da cidade,
como algumas das propostas, não concretizadas, de desenho urbano para o bairro
Fundinho, enumeradas nas próximas páginas. O modus operandi da empresa de
consultoria contratada, cuja marca era o próprio nome do então prefeito de Curitiba, não
favorece uma interação maior com a população uberlandense. A leitura atenta de seu
conteúdo indica, como acabamos de explicar, que esta não era uma exigência importante.
Temer (2001), mesmo com opinião divergente em certos aspectos88, reconhece que, na
escolha dos profissionais que elaborariam o Plano Diretor, destacavam-se dois requisitos
desejáveis: primeiro, a comparação com uma imagem de cidade ordenada e planejada;
depois, a associação do produto com seu autor, cuja fama e habilidade técnica eram
considerados incontestáveis no meio político-empresarial.

Com relação a escolha profissional e contratação de um escritório


de consultoria em urbanismo, com a ‘griffe’ Jaime Lerner, (...) o
fato poderia estar relacionado à própria dinâmica empresarial da
cidade de Uberlândia (...). A preocupação com a imagem
progressista da cidade e sua associação com um nome de ‘peso’
no contexto do planejamento nacional fica evidente, assim como o

88
Diz Temer (2001: 93): “A concepção do Plano Diretor Jaime Lerner, em grande parte elaborado
à luz das diretrizes contidas no Movimento Nacional pela Reforma Urbana, (...) passa a determinar
uma nova forma na maneira de formular a questão urbana, mais centrada na ênfase na questão
social como eixo das políticas urbanas.”
133

desejo de associar Uberlândia à boa qualidade urbana conseguida


em Curitiba. (TEMER, 2001: 92)

Da Primeira Parte, a não ser para destacar o relativo mérito de ter compilado
dados sobre a evolução urbana da cidade89, este autor não tem outros comentários.

Vale sublinhar que os “fatores positivos e negativos” anunciados podem ser


interpretados comparativamente à metodologia originária da Harvard Business School
(VAINER, 2002: 110), destacada no Capítulo 1 desta dissertação. Embora as forças,
fraquezas, oportunidades e ameaças não tenham sido apresentadas sistematicamente na
versão preliminar do Plano Diretor (UBERLÂNDIA, 1991), elas transparecem em alguns
exemplos.

A Segunda Parte inicia-se com “problemas comuns às cidades brasileiras”90,


enumerando diversas responsabilidades que a descentralização pós-1988 atribuiu aos
municípios, evidenciando a “consciência da crise urbana” (VAINER, 2002) e generalizando
as fraquezas ou pontos negativos. Lá estão os elogios ao declínio do Estado e à ascensão
do mercado, quando se proclama laconicamente a suposta incompetência do poder
público para lidar com os problemas urbanos, mostrando, neste exemplo extraído das
Diretrizes gerais propostas, sua semelhança com o receituário do planejamento
estratégico:

O poder público se sente freqüentemente atordoado por esse


acúmulo de problemas e se vê sem a mínima condição para
resolvê-los adequadamente. (...) ...essa solução está acima da
competência do governo municipal. (...) O fato é que, no final das
contas, a situação das maiores cidades brasileiras já está ficando
sem solução; em outras palavras, elas estão se tornando inviáveis.
(UBERLÂNDIA, 1991, Capítulo XI)

Sob um diagnóstico tão catastrófico com relação à crise da cidade e à inabilidade


do poder público para lidar com ela, mal se escondia o viés estratégico da parceria
público-privada, esta sim considerada capaz de solucionar adequadamente os ”problemas
das maiores cidades brasileiras” (citação acima), conforme se explicou no Capítulo 1. A
retração do setor público e sua deliberada perda de atribuições para o privado aparecem
claramente nesta passagem, do capítulo de Desenvolvimento econômico:

Do ponto de vista do ordenamento e da orientação das atividades


econômicas, a influência do poder público é limitada. Sua atuação

89
Há alguns diagramas exibindo o arruamento em diferentes épocas do século XIX, acompanhados
da correspondência com os nomes atuais das vias, e um breve histórico da formação do município,
no Capítulo I, Aspectos históricos (UBERLÂNDIA, 1991).
90
Título do item 1 do Capítulo XI, Diretrizes gerais, do Plano Diretor Cidade de Uberlândia 1991-
2006 (UBERLÂNDIA, 1991).
134

deve visar à orientação através dos instrumentos de


planejamento, evitando imposições e limitando-se às negociações
e articulações necessárias à implantação dos projetos.
(UBERLÂNDIA, 1991, Capítulo XIII)

Por trás da incapacidade atribuída ao município, procurava-se descaracterizar o


viés político da crise, ou seja, desestimular a busca de qualquer solução que prescindisse
do conteúdo estratégico ou privilegiasse os canais de negociação convencionais, cuja
característica é essencialmente política. Importa lembrar que, para Vainer (2002: 78), o
projeto de cidade preconizado pelo planejamento estratégico, que Uberlândia se punha a
implantar, ”depende, em grande medida, do banimento da política e da eliminação do
conflito e das condições de exercício da cidadania”. De maneira menos confessa e mais
disfarçada, tratava-se, na prática, de desqualificar esses fóruns de negociação, negando-
lhes a palavra ou ignorando sua posição. O texto não explica a inviabilidade que detectou
com relação à cidade. Em lugar disso, apresenta previsões exageradas91 e enumera riscos
(ameaças) do crescimento urbano não planejado:

Em Uberlândia, a população vem crescendo a uma taxa de 5% ao


ano nos últimos dez anos. Se for mantido esse ritmo, sua
população alcançará um milhão de habitantes por volta do ano
2006. (...) Diante dessa perspectiva, Uberlândia precisa tomar,
agora, uma decisão: ou se decide pelo crescimento quantitativo,
ou se decide pela qualidade de vida de seus cidadãos.
(UBERLÂNDIA, 1991)

Deve-se sublinhar, na passagem acima, o apontamento de dois cenários possíveis:


um bom (a “qualidade de vida”, expressão bastante presente), outro ruim (o “crescimento
quantitativo”). Este último é retratado como uma ameaça, em contraposição ao cenário
positivo, que se pode alcançar desde que as estratégias sejam bem delineadas. Repare-se
no trecho grifado que, nesse modelo, a própria cidade é o sujeito de sua transformação,
em busca da segunda opção apontada. Não se percebe claramente o conceito de
“qualidade de vida”, mas em seu lugar apresenta-se um discurso contraditório,
destacando a importância da ”sua própria gente”, ao mesmo tempo em que promove
esses habitantes a “atração” e parâmetro para a medição dessa qualidade:

Numa cidade com qualidade de vida, a principal atração é sua


própria gente: sua gente como um todo, e cada uma das pessoas
em particular. Qualidade de vida se transforma em um estado de
espírito, e a cidade em si se torna um acontecimento.
(UBERLÂNDIA, 1991, Capítulo XI, sem destaques no original)

De acordo com Vainer (2002: 78), é característica do planejamento estratégico a


necessidade de promoção da cidade voltada para fora, como “uma mercadoria a ser
135

vendida, num mercado extremamente competitivo, em que outras cidades também estão
à venda”92. Assim, fica claro que, exibindo suas atrações e tornando-se um
acontecimento, a cidade-sujeito estaria pronta para ser comparada às demais
concorrentes...

Nesse contexto, aparece a valorização do patrimônio cultural: “...a paisagem


urbana deverá (...) valorizar a herança cultural, os pontos de encontro e os elementos de
surpresa” (UBERLÂNDIA, 1991, Capítulo XI). O “resgate” desse patrimônio constituiria
forma de conectar “criação teórica” (as propostas do Plano) e “situações concretas” (sua
implementação), mas essa conexão teria se mostrado, mais tarde, pouco viável para a
realidade urbana do município. Lê-se na versão preliminar do Plano Diretor:

Uma estrutura urbana não é uma criação teórica e desligada de


situações concretas, mas precisa estar intimamente associada com
o desenho de uma determinada cidade. Descobrir este desenho é
um trabalho paciente que busca resgatar antigas edificações, ruas,
hábitos e valores tradicionais. (UBERLÂNDIA, 1991)

Entre suas propostas para a valorização da área central, o Plano sugere uma
intervenção de desenho urbano: um eixo de pedestres “fazendo a ligação entre o núcleo
antigo e o moderno, entre o centro histórico e o centro de negócios”. Entretanto, se
concretizado, o eixo provocaria conflito com a política de transporte público, porque exige
a diminuição da caixa da Avenida Afonso Pena, principal corredor de ônibus que corta o
Centro. Utilizaria também a Rua 15 de Novembro, a principal do Fundinho, e exigiria uma
ligação alternativa entre os dois bairros: a conexão da Rua Coronel Severiano com a
Barão de Camargos, hoje inexistente. Atualmente, a despeito das intenções de humanizar
o trânsito e favorecer a fruição da cidade, a idéia tem poucas chances de se concretizar –
do ponto de vista da política de transporte, porque desconsidera a dinâmica da área
central; do foco da preservação do patrimônio, porque provocaria a demolição de várias
casas, ao cortar uma quadra já edificada.

Entretanto, apesar da forma questionável com que a preservação do patrimônio


cultural tornou-se prioridade, pois não partiu de demanda da comunidade local nem se
coaduna com determinadas diretrizes setoriais (como as de transporte público), deve-se
reconhecer que esse Plano Diretor foi o primeiro a definir um zoneamento específico para
a área do Fundinho93.

91
Vale a pena lembrar que a previsão citada não se confirmou. Segundo o IBGE, a população
estimada de Uberlândia, em julho de 2005, era de 585.262 habitantes (www.ibge.gov.br).
92
Trecho citado no Capítulo 1.
93
“A Lei de Uso do Solo deverá distinguir claramente na área central o centro histórico,
denominado Fundinho, e o centro de negócios” (Plano Diretor, 1994, art. 12).
136

Figura 60 – Eixo de pedestres entre a rua 15 de novembro e a av. Afonso Pena,


proposto no Plano Diretor (1994)
Fonte: Plano Diretor (1994)
137

Ancona (1996: 147) destaca que as políticas que utilizam o zoneamento, definindo
parâmetros urbanísticos diferenciados, mostraram-se “efetivas no que atenderam
interesses do mercado imobiliário e do consumo da classe de maior renda”. O breve
histórico da área central de Uberlândia, mostrado no título anterior deste capítulo,
confirma isso. “Tradicionalmente, o zoneamento consiste na divisão do território municipal
em subáreas (as zonas) e no estabelecimento de limites legais para as possibilidades de
aproveitamento dos terrenos, diferenciados para cada zona” (ANCONA, 1996: 146).
Ancona lembra ainda que, para Thomas Adams e o planejamento urbano global-
racionalista, “trata-se (...) de ‘colocar as coisas em seus devidos lugares’”.

Na prática das cidades brasileiras, tratar-se-á, bem mais, de


colocar ‘as coisas’ segundo os interesses do consumo das classes
dominantes e as estratégias de valorização da terra promovidas
pelo setor imobiliário. (ANCONA, 1996: 146)

A análise e os dados mostrados até aqui confirmam que essa constatação é


aplicável ao Fundinho. Porém, apesar desses problemas,

o zoneamento continua a ser uma técnica de ordenação territorial,


que permite a identificação/ delimitação de zonas ou áreas onde a
presença de edifícios de valor histórico/ cultural ou de atributos
naturais especialmente significativos exige tratamento especial e
intervenção do setor público. (ANCONA, 1996: 148).

Uma vez que os efeitos da legislação anterior haviam sido desastrosos para o
Fundinho, não é difícil concordar que a ausência de medidas que o protegessem foi um
fator importante na descaracterização do bairro. Ademais, a despreocupação anterior em
delimitar tal zona criava um problema: uma ocupação virtualmente desregulada, quase
sem restrições, graças a parâmetros urbanísticos muito exagerados, numa porção do
território municipal que carecia de instrumentos para sua proteção. A versão preliminar do
Plano Diretor assim diagnostica a situação do Fundinho:

O Fundinho (...) ainda mantém características peculiares de


ocupação, como ruas e calçadas estreitas, e diversas edificações
de algum valor histórico e arquitetônico. Mas vem sofrendo uma
descaracterização e uma verticalização imprópria, visto que não
apresenta infra-estrutura para tal adensamento. Essa
verticalização é conseqüência da expansão e valorização da área
central. (UBERLÂNDIA, 1991, Capítulo VI)

Como reação ao quadro diagnosticado, foi proposta a preservação do Fundinho,


por meio da manutenção de escala e volume das “edificações mais antigas” e do estímulo
à instalação de “cinemas, livrarias, bares, cafés e outros usos que promovam o encontro”
(UBERLÂNDIA, 1991, Capítulo XIV). Há mais recomendações, como as expostas a seguir,
mas poucos instrumentos disponíveis para concretizá-las.
138

O Fundinho, que é o núcleo mais antigo, deverá ser preservado.


Sendo o centro histórico de Uberlândia, deverá ser também o seu
centro cultural e sentimental. Uma legislação específica deverá
preservar as edificações de maior valor, os locais tradicionais e
também os pontos de encontro e as histórias. (UBERLÂNDIA, 1991,
Capítulo XIV)
Neste ponto, em relação a histórias e pontos de encontro que deveriam ser preservados,
vale destacar novamente, como no caso da Igreja Nossa Senhora do Rosário, a
possibilidade de aplicação do registro de bens culturais de natureza imaterial (Decreto
3.551/ 2000), nunca utilizado.

O Plano Diretor definitivo (Lei Complementar 78/ 1994) apresenta a seguinte


diretriz, no Capítulo III, Seção V, “do uso do solo e do zoneamento”:

...incentivo à preservação e revitalização do Fundinho, delimitando


a área de interesse histórico, resguardando a horizontalidade da
região e o gabarito das ruas, equacionando a escala e a
volumetria, de forma a não ferir as características originais da área
(Plano Diretor, 1994, art. 18, VI).

A Seção II (“da estruturação da área central”) recomenda a separação, no


zoneamento, entre o centro histórico e o centro de negócios, como citamos
anteriormente, este situado em torno da Praça Sérgio Pacheco. Tal distinção apareceu, na
Lei de uso e ocupação do solo, por meio da zona especial de revitalização (ZER), com
parâmetros urbanísticos mais restritivos94. Como na versão preliminar, manteve-se na lei
a necessidade de legislação específica, “que disporá sobre locais tradicionais e edificações
de valor histórico, cultural e arquitetônico” (art. 12, §1º).

Entre os instrumentos de indução do desenvolvimento urbano oferecidos pelo


Plano Diretor, encontra-se a transferência de potencial construtivo. Conforme explicado
em Brasil (2002), a transferência de potencial construtivo permite que os proprietários de
imóveis a serem preservados sejam “compensados pelo fato de que em seus imóveis o
coeficiente ou densidade básicos estabelecidos para o território urbano não podem ser
atingidos sob pena de comprometer o objetivo da preservação de imóveis de interesse
histórico, paisagístico ou ambiental”. Assim, “o proprietário de um imóvel sobre o qual
incide um interesse público de preservação (...) pode utilizar em outro imóvel, ou vender,
a diferença entre a área construída do imóvel preservado e o total da área construída
atribuída ao terreno” (BRASIL, 2002: 74).

94
“O Fundinho terá potencial construtivo menor que a região [central] (...), em função da
necessidade da sua preservação histórica e de impedir o adensamento de uma região com infra-
estrutura saturada” (Plano Diretor, 1994, art. 21, §2º).
139

Em Uberlândia, o instrumento é entendido como“o mecanismo que permite, ao


proprietário de imóveis localizados na região do Fundinho, vender a outro o potencial
construtivo de seu terreno, prejudicado pelas restrições de preservação do Fundinho”
(Plano Diretor, 1994, art. 21). Esse mecanismo só pode ser usado para transferir
potencial construtivo excedente do Fundinho (ZER), com destino a “imóveis localizados na
região dos eixos estruturais”, limitado a 20% da área permitida pelo coeficiente de
aproveitamento do receptor, ou seja, da zona estrutural95. O cálculo do potencial
construtivo a ser transferido é dado pela Lei de uso e ocupação do solo: “a Transferência
de Potencial Construtivo será calculada pela resultante da diferença entre os coeficientes
de aproveitamento máximo da ZC2 e ZER” (Lei Complementar 245/ 2000, art. 76,
parágrafo único). Essa diferença resulta num coeficiente transferível de 1,5, igual a índice
definido para a zona especial de revitalização, o que equivale à possibilidade de alienar
todo o potencial construtivo atribuído ao lote cedente, situado no Fundinho. Porém, se é
aplicável apenas à zona especial de revitalização, delimitada na Lei de uso e ocupação do
solo (Figuras 26 e 55), a alternativa não serve a outros bens com interesse de
preservação, como os situados no Centro96, inventariados entre 2002 e 2004.

Os parâmetros específicos de preservação do Fundinho, embora sugeridos no


Inventário do bairro (VALE et alii, 2004b), não tiveram oportunidade de tornar-se norma,
não repercutindo na gestão daquele espaço urbano. A transferência de potencial
construtivo, embora se entenda que as definições contidas na Lei Complementar 245/
2000 possam ser suficientes para sua aplicação, nunca foi utilizada, constituindo-se em
instrumento totalmente novo para a cultura urbanística local. O desinteresse dos
empreendedores e proprietários pelo instrumento revela que a demolição e a substituição
da ocupação dos lotes do Fundinho, aplicando-se o índice no próprio terreno, ainda são
mais atrativas que sua transferência para outro bairro.

O detalhamento de ambos – o zoneamento diferenciado e o instrumento


urbanístico – ficou restrito às Leis de uso e ocupação do solo que se seguiram: Leis

95
A zona estrutural é definida pela Lei de uso e ocupação do solo (Lei Complementar 245/ 2000)
como “a região lindeira às vias estruturais e que funciona como um prolongamento do centro,
definindo um crescimento linear para a cidade ao longo dos eixos de estruturação urbana definidos
pelo Plano Diretor” (Lei Complementar 245/ 2000, art. 52). Essa zona tem alta densidade e
parâmetros de ocupação do solo que estão entre os mais permissivos da cidade, menores apenas
que os aplicados à zona central 1 (ZC 1), coincidente com o Centro, como é conhecido pelos
moradores.
96
Um desses imóveis, o Cine Regente, demolido durante processo de tombamento, em 2003, não
poderia utilizar a transferência de potencial construtivo, por situar-se fora da zona especial de
revitalização.
140

Complementares 224/ 1999 e 245/ 2000, muito semelhantes no que tange à zona
especial de revitalização (ZER)97.

Para a Lei de uso e ocupação do solo vigente, a ZER é a “região demarcada do


Fundinho” (Lei Complementar 245/ 2000, art. 53), à qual se aplicam as seguintes
recomendações:

§1º – A escala e o volume nesta área devem ser os mesmos das


edificações originais.

§2º – Serão incentivados os usos habitacional, de comércio e


serviço que promovam o encontro do cidadão. (Lei Complementar
245/ 2000, art. 53)

Afora essas prescrições, a lei define usos e parâmetros urbanísticos aplicáveis à


ZER, conforme a Tabela 16. A Tabela 17 mostra a comparação entre os parâmetros
admitidos para o Fundinho na Lei 5.013/ 198998 e na Lei Complementar 245/ 2000, antes
e depois do Plano Diretor (1994). A lei vigente oferece parâmetros mais restritivos de
ocupação, visando a deter a verticalização, mas usos diferentes e mais espalhados no
bairro, sem restrições quanto à hierarquia das vias, como ocorria anteriormente na zona
7C. A taxa de ocupação passou a ser de 60% e o coeficiente de aproveitamento, 1,5.
Contudo, o remembramento de lotes permaneceu sem restrições, ou seja, a soma de
áreas permitiria alterar expressivamente a volumetria do conjunto urbano. A limitação
imposta pelo §1º, de escala e volume, só poderia ser cumprida e fiscalizada com a
conclusão do Inventário de configuração do espaço urbano do Fundinho, em 2004 (VALE
et alii, 2004a, 2004b). Esse assunto será novamente abordado adiante.

No Anexo V da referida lei (Usos adequados na ZER), estão enumerados os usos


admitidos no Fundinho, supostamente capazes de promover esse “encontro do cidadão”.
Entre eles, alguns têm-se tornado freqüentes na área, nos últimos anos: antigüidades,
artesanato, boutique, brechó, galerias e lojas de objetos de arte etc., aos quais se somam
alguns restaurantes e um teatro. Não há, entretanto, indicativo de que providências
tenham sido tomadas no sentido de estimular qualquer aglomeração funcional ou vocação
econômica. A descrição acima parece resultar de um processo espontâneo, independente
das ações de planejamento urbano. Portanto, sem a lei específica de preservação do

97
Nas referências à zona especial de revitalização, as leis de 1999 e 2000 coincidem em todos os
parâmetros citados na Tabela 16, incluindo o anexo contendo Usos adequados na ZER. As
diferenças são duas: (1) a delimitação da zona, que tem quatro quadras a mais, na lei mais
recente, e (2) um ajuste no texto do §1º, que era “a escala e o volume nesta área devem ser os
mesmos das edificações mais antigas” e foi substituído por “edificações originais”.
98
Foram utilizadas, nesta comparação, apenas as zonas 5 e 7C da Lei 5.013/ 1989, porque aquela
é predominante na área e esta, mais permissiva nos usos.
141

Fundinho (Plano Diretor, art. 12, §1º), essa diretriz continua a carecer de instrumentos
eficazes para ser estimulada e cumprida.

Tabela 16 – Lei Complementar 245/ 2000: usos, taxa de ocupação e coeficiente de


aproveitamento permitidos no Fundinho (zona especial de revitalização)

Zona Usos permitidos Taxa de Coeficiente de


ocupação aproveitamento

ZER Habitação unifamiliar e multifamiliar (H1, H2) 60% 1,5


(art. 53) Comércio varejista local e diversificado (C1, C2;
ver Anexo V da lei, Usos adequados na ZER)
Serviços locais e diversificados (S1, S2; ver
Anexo V da lei, Usos adequados na ZER)
Equipamento social comunitário: local e geral
(E1, E2; ver Anexo V da lei, Usos adequados na
ZER)
Misto (M; ver Anexo V da lei, Usos adequados
na ZER)
Fonte: Lei Complementar 245/ 2000, Anexos VI e VII
142

Tabela 17 – Comparação entre as Zonas 5, 7C (Lei 5.013/ 1989) e ZER (Lei


Complementar 245/ 2000): usos, taxa de ocupação e coeficiente de
aproveitamento permitidos no Fundinho

Zonas Zona 5 Zona 7C Zona especial de


(Lei 5.013/ 1989, art. 23) (Lei 5.013/ 1989, art. 25, revitalização
II) (Lei 245/ 2000, art. 53)

Usos Residencial (R1, R2, R3) Residencial (R1, R2, R3) Habitação unifamiliar e
multifamiliar (H1, H2)
Comércio varejista local Comércio varejista local e Comércio varejista local e
(C1) diversificado (C1, C2) diversificado (C1, C2; ver
Anexo V da lei, Usos
adequados na ZER)
Serviços locais (S1) Serviços locais e Serviços locais e
diversificados (S1, S2) diversificados (S1, S2; ver
Anexo V da lei, Usos
adequados na ZER)
Institucional (In1, In2) Equipamento social
Indústria: pequeno e comunitário: local e geral
médio portes (I1, I2) (E1, E2; ver Anexo V da
lei, Usos adequados na
ZER)
Misto (M; ver Anexo V da
lei, Usos adequados na
ZER)
TO* 70% 70% 60%
CA* 4,0 4,0 1,5
Fontes: Lei 5.013/ 1989, Lei Complementar 245/ 2000
[*] Legenda: TO = Taxa de ocupação; CA = Coeficiente de aproveitamento
143

3.3. O Conselho Municipal de Patrimônio Histórico (COMPHAC)

3.3.1. Atuação do COMPHAC: 1ª fase (1987-1989)

O Conselho Municipal de Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Cultural


(COMPHAC) teve duas fases de atuação diferentes, separadas por uma longa interrupção,
que durou quase uma década. O Decreto 3.506, de 31 de março de 1987, deu posse aos
primeiros conselheiros e estabeleceu as competências desse órgão colegiado:

I – divulgar e estimular, através da imprensa ou de campanhas


educativas, a prática de preservar o Patrimônio Histórico, Artístico
e Cultural do Município;
II – propor ao Executivo Municipal o tombamento de bens móveis
ou imóveis, de propriedade pública ou particular, existentes no
Município, que, dotados de comprovado valor histórico, artístico,
cultural, arquitetônico ou paisagístico, justifiquem o interesse
público na sua preservação... (Decreto 3.506, art. 2º)
O Conselho, em 1987, tinha uma composição mista, equilibrada entre os setores
público e privado. Pelo poder público, participavam a Comissão de Cultura da Câmara
Municipal; as Secretarias de Cultura, Meio Ambiente e Planejamento; a Delegacia de
Ensino (da Secretaria de Estado da Educação) e os Departamentos de Artes e de Ciências
Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU)99. Além destes, representavam
outros segmentos sociais: entidades ligadas a letras e artes; associações profissionais de
arquitetos, engenheiros, advogados e jornalistas; movimento estudantil; movimentos
populares, como o Conselho de Entidades Comunitárias (CEC) e o Movimento Negro de
Uberlândia (MONUVA); e três membros da comunidade, “escolhidos pelo COMPHAC, entre
pessoas cujo devotamento e interesse pela cidade justifiquem sua inclusão no mesmo”100.
Eram vinte conselheiros, onze do poder público e nove da comunidade. Entretanto, no
intuito de reunir apenas defensores da causa do patrimônio cultural, o Estatuto vedava “a
participação de proprietários, dirigentes, sócios ou empregados que detenham lucros de
empresas de construção ou demolição, de imobiliárias, bem como de antiquários e
leiloeiros”101. Uma vez que, para Teixeira (2000: 101), um conselho de políticas públicas
“facilita a transparência dos atos e decisões e, ao mesmo tempo, constitui-se como
espaço de disputa de posições políticas e ideológicas”102, no COMPHAC a última
característica não aparece plenamente, pois a exclusão daqueles cidadãos neutraliza as

99
Ainda não havia, na época, curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo naquela
Universidade Federal, criado apenas em 1996.
100
Estatuto do COMPHAC (Anexo do Decreto 4.000, de 7 de outubro de 1988), art. 5º, caput e
parágrafo único.
101
Estatuto do COMPHAC (Anexo do Decreto 4.000/ 1988), art. 6º.
102
Trecho citado no Capítulo 2.
144

opiniões contraditórias sobre a política municipal de preservação. Isso tornava o órgão


esquivo diante dos conflitos inerentes à questão, prejudicando sua credibilidade.

As atas mostram que as reuniões do Conselho foram freqüentes até março de


1989 e a partir de junho de 2000, mas deixaram de ocorrer regularmente entre tais
datas103. A periodicidade dos encontros, na primeira fase de funcionamento do órgão,
está na Tabela 18.

Tabela 18 – Periodicidade das reuniões do COMPHAC (1987-1989)

Fase Período Periodicidade das reuniões


1ª fase Março de 1987 a junho de 1988 Quinzenal
(1987-1989) Julho de 1988 a janeiro de 1989 Semanal
Fevereiro a março de 1989 Irregular
Sem registros 1989 a 1993
Conselho desativado 1993 a 2000
Fonte: Atas das reuniões do COMPHAC

Nesse período, o COMPHAC caracterizava-se como órgão consultivo da


administração municipal: era chamado a opinar sobre a destinação a ser dada aos bens
culturais, mesmo não tombados, e desenvolvia atividades de educação patrimonial – as
“campanhas de conscientização” – mas tinha pouca autonomia. Em relação ao
tombamento de bens, por exemplo, a ação do Conselho limitava-se a propor essa medida
ao Executivo, a quem cabia anuí-la ou não.

As discussões ocorridas no biênio 1987-1988 traduzem uma atuação tímida, por


vezes passiva, com poucos resultados para a preservação do patrimônio local. Percebia-se
até mesmo alguma dificuldade em sugerir novos edifícios para tombamento, pois os
principais bens públicos com interesse de preservação já se encontravam tombados,
desde 1985, e imóveis particulares não eram citados nas reuniões, a não ser para
informar sobre eventuais reformas104. De acordo com um registro em ata, “não é meta do
Conselho tombar imóveis, mas sim conscientizar a população” (Ata de reunião
preparatória para a posse do COMPHAC, 23/3/1987).

103
Desse período, foram encontradas apenas duas atas: de outubro de 1993 e de abril de 1998. As
demais desapareceram do arquivo do Conselho.
104
Em junho de 1987, uma ata registrou reforma no imóvel situado na Avenida Afonso Pena
52/56, construído por Ângelo Naguettini e de propriedade de Victorio Siquieroli (Figuras 61 e 62).
O projeto dessa reforma não foi analisado pelo COMPHAC, mas alguns conselheiros visitaram o
proprietário, com o intuito de orientá-lo (Relatório de atividades do COMPHAC, 1987). O imóvel,
inventariado em 2002, teve o tombamento integral apontado pelo próprio Inventário, apoiado por
um abaixo-assinado e aprovado pelo Conselho em 2004 (Ata de reunião do COMPHAC, 1/9/2004).
Até o início de 2006, o pedido ainda não havia sido apreciado pelo prefeito.
145

Figura 61 – Edifício Naguettini, construído entre 1925 e 1927 (sem data)


Fonte: Arquivo Público Municipal
Imagem extraída de VALE et alii (2004a: 69)

Figura 62 – Edifício Naguettini, av. Afonso Pena 52/56 (março de 2001)


Fonte: Imagem extraída do Inventário de proteção do acervo cultural, 2002, ficha Palacete
Ângelo Naguettini
Fotografia de Leonardo Finotti
146

Argumentos para impedir o tombamento ou justificar a demolição imediata, como


o direito sobre a propriedade e o mau estado de conservação, encontravam ecos no
Conselho, conforme grifamos neste registro: “Não será meta preservar simplesmente.
Antes, deverá saber o que preservar, como preservar, para que servirá o bem preservado,
quem será beneficiado etc.” (Ata de reunião do COMPHAC, 13/7/1987, sem destaques no
original). Tais condições, impostas como requisitos ao tombamento, serviam mais à
defesa das demandas dos proprietários de imóveis, e não do interesse público. Contando-
se com pouca disposição do órgão para propor o tombamento, sobretudo de imóveis
particulares, essa medida não ocorreu no período. Ao contrário, ouviram-se queixas
acerca do instrumento e clamor por “formas mais ‘modernas’ de tombamento”, sem
sugerir como flexibilizá-lo (Ata de reunião do COMPHAC, 18/5/1988).

Em outro exemplo, instado a emitir parecer sobre a demolição dos muros de um


cemitério desativado, o Conselho a autoriza, ponderando: “Acreditamos que quem
preserva é a própria comunidade vizinha ao bem histórico e vimos que esta não se
interessa em fazê-lo” (Ofício do COMPHAC à Secretaria de Cultura, 18/5/1988). A julgar
por esse argumento, o interesse público manifesto na preservação de bens culturais
restringia-se à opinião dos vizinhos, ao menos de acordo com o entendimento do
Conselho.

Afora a participação do órgão na Comissão do Centenário105, o único assunto de


maior vulto foi a proposição de tombamento do Mercado Municipal (Figuras 63 a 66). É
interessante destacar que essa proposta, segundo parecer da Secretaria de Cultura, não
identificou “vinculação a fatos memoráveis da história do Município”, tampouco atribuiu
ao bem “excepcional valor artístico”106, casos que a Lei Municipal 4.240 e o Decreto-lei 25
visavam a proteger. Ao contrário, os motivos expostos para o tombamento buscavam
superar a concepção tradicionalista do patrimônio: destacando seu valor de referência
para a população da cidade e a importância das relações sociais que ali tinham lugar,
aproximava-se do conceito de patrimônio expresso na Constituição – promulgada um mês
antes – e dos modelos contemporâneos de preservação, como o participacionista 107. Essas
razões para a preservação encontram-se na passagem a seguir:

Além das próprias características físicas do imóvel e tão


importante quanto estas é a forma de ocupação daquele local

105
O centésimo aniversário de Uberlândia foi comemorado em 31 de agosto de 1988. Na
organização das comemorações, a partir de maio de 1987, o COMPHAC era responsável pela
Subcomissão de memória cultural.
106
Expressões que constam da Lei Municipal 4.240/ 1985.
107
Referimo-nos às concepções tradicionalista-substancialista e participacionista de Canclini
(1994), discutidas no Capítulo 1, que serão retomadas no final do Capítulo 3.
147

público, onde a convivência cotidiana de várias pessoas e


atividades diferentes imprimem ao espaço peculiaridades
expressivas e de grande vivacidade: ali se compra, vende,
permuta, não só mercadorias, como também idéias, experiências,
ocorrendo inclusive atividades lúdicas. (Secretaria de Cultura,
Parecer sobre o tombamento do Mercado Municipal de Uberlândia,
9/11/1988)
A Secretaria de Cultura reputava a preservação do Mercado “de fundamental
importância, não só pelos valores arquitetônicos nele inseridos, como também pelo valor
de memória e de referencial para os habitantes de Uberlândia”. Ressaltava que o edifício,
“apesar de não apresentar características arquitetônicas excepcionais, carrega os
elementos tipicamente empregados nas construções da época (...) [e é] representativo de
uma importante fase da arquitetura de nossa cidade” (Parecer sobre o tombamento...,
9/11/1988).

Conforme relato de Olga Helena da Costa, a iminência de demolição e substituição


por um “arranha-céu” provocou a mobilização pela proteção do Mercado, liderada pelos
comerciantes do local. Em ata do COMPHAC, consta que os feirantes do Mercado
reivindicavam sua permanência no local, com “reformas e melhorias” (Ata de reunião do
COMPHAC, 6/9/1988). O tombamento despertava questionamentos como o deste
conselheiro, representante da Secretaria de Planejamento: “É necessário definir se ele
deve ser tombado ou não, uma vez que está totalmente descaracterizado” (Ata de
reunião do COMPHAC, 6/9/1988). As Figuras 65 e 66 mostram a fachada principal do
edifício em duas épocas, evidenciando que parte de suas características originais ainda
resistem ao tempo.

Isso mostra que não havia consenso em torno da proposta e que a argumentação
sobre a dimensão imaterial da inscrição do bem, linha condutora do parecer do Executivo
municipal, não sensibilizava a todos. A proposta contou com a aprovação do Conselho,
em novembro de 1988, mas não se efetivou, na ocasião. Contudo, com o insucesso da
tentativa de tombá-lo, parte daquele conjunto arquitetônico foi recuperada, a fim de
abrigar a Banda Municipal, fato que inibiu a demolição108.

Reconhecida pelo poder público, a “necessidade do envolvimento não só dos


locatários, mas como também das entidades culturais que já ocupam o espaço (...) no
processo de discussão e definição da política de preservação do edifício” (Parecer sobre o
tombamento..., 9/11/1988) é uma preocupação que, somada às anteriores, contribui para
filiar o discurso dessa fase da preservação do patrimônio local ao paradigma

108
Informação de Olga Helena da Costa, entrevistada em 16/7/2005. Já o tombamento definitivo
ocorreu com a Lei Municipal 8.130, de 29 de outubro de 2002.
148

participacionista (CANCLINI, 1994). Como dissemos no Capítulo 1, segundo Canclini, esse


modelo se preocupa com os usos sociais do patrimônio e, para tanto, com a participação
da população. A tentativa de envolver os usuários na discussão, considerando suas
demandas atuais, expressas pela necessidade de preservação com manutenção do uso do
Mercado Municipal, são traços desse paradigma. A situação descrita mostra que, embora
o parecer tenha significado uma tentativa de se utilizar o modelo participacionista, esse
discurso não encontrou ressonância na prática, pois o episódio não ocasionou a
formulação de uma política pública clara para o patrimônio cultural local.

Teixeira (2000) considera “essenciais à organização dos conselhos: uma base


social concreta; representantes desta base com mandato vinculado e revogável; exercício
de funções legislativas e executivas”109. Comparando com o funcionamento do COMPHAC,
na primeira fase, embora contasse com conselheiros indicados por suas bases e com
mandato revogável, a reduzida autonomia e o próprio Estatuto110 prejudicavam o
desempenho das referidas funções legislativas e executivas. Sobre a classificação do
COMPHAC por seu papel em relação à política pública, vale o que foi dito no Capítulo 2
para os demais conselhos municipais de patrimônio111.

Figuras 63 e 64 – Mercado Municipal (julho de 2004)


Fotografias do autor

109
Teixeira (2000: 101, sem destaques no original). Trecho citado no Capítulo 2.
110
“Art. 4º. Constituem atribuições do COMPHAC: (...) II – propor ao Executivo Municipal o
tombamento de bens móveis ou imóveis...” (Estatuto do COMPHAC , Anexo do Decreto Municipal
4.000/ 1988, sem destaques no original).
111
Os conselhos municipais de patrimônio “aproximam-se dos conselhos temáticos, identificados
que são com uma política pública para um tema transversal como o patrimônio. Não seriam
conselhos gestores, porque não são obrigatórios, mas apenas valorizados para efeito do cálculo do
Índice de Patrimônio Cultural de cada município, e nem sempre manejam os recursos destinados
aos municípios” (trecho do Capítulo 2).
149

Figura 65 – Mercado Municipal (sem data)


Fonte: Arquivo Público Municipal

Figura 66 – Mercado Municipal (julho de 2004)


Fotografia do autor
150

3.3.2. Atuação do COMPHAC: 2ª fase (2000-2005)


No Capítulo VI do Plano Diretor (“do desenvolvimento social”), para cumprir as
diretrizes para a cultura (Seção IV, “da cultura”), recomenda-se “reativar o Conselho
Municipal de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Município – COMPHAC” (Plano
Diretor, 1994, art. 46, VII). O Conselho havia encerrado atividades em 1993, mas o
último registro existente de sua atuação, na fase anterior, é de 1989.

Eu vim pra Prefeitura (...) com a missão de incentivar o COMPHAC,


que estava parado – tanto que foi uma briga danada para
reativar... (...) Várias vezes eu procurei pessoas da sociedade que
tinham uma certa força, para incentivá-los a investir em cultura e
patrimônio histórico. (Paulo de Freitas, entrevista gravada em
13/7/2005)
Mais que por cumprir o Plano Diretor, a reinstalação do Conselho era interessante porque
atendia a uma exigência do IEPHA para o ano de 1998, referente ao Programa de
municipalização da gestão do patrimônio cultural112. Porém, a comunidade local tinha
pouca tradição de participação nas questões urbanas, salvo durante parte da década de
1980, conforme descrito neste Capítulo 3. De acordo com os relatos colhidos nesta
pesquisa, o próprio trabalho do COMPHAC se havia interrompido espontaneamente, por
dispersão de seus membros. Segundo Freitas, sequer foram recuperados os documentos
referentes ao Conselho, que ficaram sob guarda de seu último presidente, em 1993. O
trabalho de reativação do órgão, a partir de 1996, foi infrutífero.

Fizemos a convocação [dos membros do Conselho desativado em


1993] e eles não compareceram. Essa luta houve durante todo o
tempo (...), não para termos um COMPHAC preso à Prefeitura,
pois se fosse para fazê-lo preso, faríamos na hora em que
quiséssemos [mas para] fazer um COMPHAC que tenha [tivesse]
poder de decisão... (Paulo de Freitas, entrevista gravada em
13/7/2005)
O Conselho só voltou a se reunir regularmente a partir de 2000, motivado pela
previsão de “recebimento de verbas do estado” (Ata de reunião do COMPHAC,
14/6/2000). A periodicidade dos encontros, nesta segunda fase, está na Tabela 19.

No reinício dos trabalhos, vários encontros foram tomados para discussão de um


novo Estatuto, cuja principal alteração diz respeito ao caráter do órgão, que, pela vontade
de seus membros e do IEPHA, passaria a ser deliberativo. Para ambos, tanto conselheiros
quanto o Instituto estadual, isso incluiria autonomia para tombar imóveis, dando força de

112
Conforme Resolução 01/ 1997, do IEPHA. Para mais detalhes sobre o funcionamento do
Programa de municipalização, voltar ao Capítulo 2.
151

norma às decisões do Conselho113. Entretanto, a Prefeitura tinha uma postura diferente


sobre essa questão, como expôs a secretária de Cultura:

Terezinha esclareceu também que o Conselho não é soberano. O


Executivo é soberano. (Ata de reunião do COMPHAC, 2/8/2000)
...como ele [o prefeito Virgílio Galassi (1997-2000)] acha que o
Conselho é um órgão auxiliar, ele não abre mão de que o mesmo
esteja vinculado à Secretaria Municipal de Cultura. (Ata de reunião
do COMPHAC, 9/8/2000)

Tabela 19 – Periodicidade das reuniões do COMPHAC (2000-2005)

Fase Período Periodicidade das reuniões


Sem registros 1989 a 1993
Conselho desativado 1993 a 2000
2ª fase Agosto a dezembro de 2000 Quinzenal
(2000-2005) Março a abril de 2001 Quinzenal
Maio de 2001 Semanal
Junho de 2001 a julho de 2002 Quinzenal
Agosto a setembro de 2002 Mensal
Outubro de 2002 Semanal
Novembro de 2002 a abril de 2003 Mensal
Maio a agosto de 2003 Semanal
Setembro a dezembro de 2003 Mensal
Março a abril de 2004 Quinzenal
Junho a julho de 2004 Quinzenal
Setembro a dezembro de 2004 Quinzenal
Fevereiro a março de 2005
Fonte: Atas das reuniões do COMPHAC

A alteração do Estatuto, por sua vez, só aconteceria com o Decreto 8.545, de 17


de agosto de 2001. Em relação ao Estatuto anterior, há poucas novidades. O trecho
acrescentado ao art. 1º, ressaltando que o Conselho “tem caráter consultivo e
deliberativo”, é inócuo. Combinado com as atribuições do órgão, a principal limitação de
que o COMPHAC se ressente ainda persiste: a impossibilidade de efetuar tombamentos
definitivos. Eles dependem de ato do prefeito, algo que os conselheiros consideram uma
interferência indesejada em seu trabalho. Essa impossibilidade cria um descompasso
entre as decisões do Conselho e sua aceitação pelo gestor municipal do patrimônio.

113
A Resolução 01/ 2000 do IEPHA estabelece que o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural
deve, entre outras atribuições, “exercer o controle compartilhado com o Executivo municipal sobre
as verbas repassadas ao município referentes ao ICMS Patrimônio Cultural; abrir e fazer a inscrição
dos livros de Tombo; (...) ter caráter preferencialmente deliberativo de proceder ao tombamento
ou outras formas de proteção de bens culturais” (Resolução 01/ 2000, Quadros III e IV).
152

Tabela 20 – Processos de tombamento aprovados pelo COMPHAC (até março de


2005)
Data da Imóvel
aprovação pelo
COMPHAC
Descrição/ uso atual Época de Endereço Bairro/
construção distrito
28/3/2001 Igreja N. S. do Rosário 1931 Praça Rui Fundinho
(tombado por lei em 1985) Barbosa
28/3/2001 Conjunto Arquitetônico Praça 1917-1927 Praça Fundinho
Clarimundo Carneiro, Museu Clarimundo
Municipal e Coreto Carneiro
(tombado por lei em 1985)
12/6/2002 Casa D. Albertina Chacur c. 1920 R. Marechal Fundinho
Deodoro 52
9/4/2003 Conjunto Arquitetônico Casa Fim do R. do Miraporanga
D. Domingas Camin século XIX Comércio
(tombado por lei em 2000) 300
9/4/2003 Mercado Municipal 1944 R. Olegário Centro
(tombado por lei em 2002) Maciel 255
10/12/2003 Casa D. Adélia França c. 1900 R. Augusto Fundinho
César 101
10/12/2003 Chaminés da Cerâmica Vitória Década de R. Ceará Custódio
1950 2332 Pereira
1/9/2004 Edifício Ângelo Naguettini 1925-1927 Av. Afonso Fundinho
Pena 52/56
1/9/2004 Conjunto Arquitetônico Praça c. 1920 Praça Adolfo Fundinho
Adolfo Fonseca, Escola Fonseca
Estadual de Uberlândia e
residência
6/10/2004 Casa Araguaia c. 1920 Av. Floriano Centro
Peixoto 438
Fontes:
Atas das reuniões do COMPHAC
Inventários dos imóveis

Em relação ao Estatuto anterior, ampliou-se a representação universitária, com a


entrada de quatro novos departamentos da Universidade Federal de Uberlândia e um
representante de uma entidade acadêmica privada. De acordo com o novo Estatuto,
manteve-se o equilíbrio entre as entidades públicas e privadas, com nove membros de
órgãos públicos (Prefeitura e UFU) e dez de outros segmentos. Porém, a mudança mais
significativa na composição do Conselho não foi baseada nesse regulamento. Em maio de
2001, todas as Secretarias Municipais foram convidadas a enviar seus representantes ao
órgão colegiado, desequilibrando essa proporção (ata de reunião do COMPHAC,
23/5/2001). Permaneceu o veto à participação de pessoas ligadas a empresas de
153

construção ou demolição, imobiliárias, antiquários e leiloeiros, motivo pelo qual o


COMPHAC continuou sem se constituir em “espaço de disputa de posições políticas e
ideológicas” (TEIXEIRA, 2000: 101). Deixando de pronunciar-se ante à solicitação de uma
vaga de conselheiro para o SINDUSCON, o Conselho isolou-se, comprometendo sua
credibilidade e empobrecendo a discussão sobre o patrimônio do município114.

Ao mesmo tempo em que os conselheiros passaram a escolher, eles próprios e à


revelia do Estatuto, os componentes do órgão, paradoxalmente, afastaram-se da
orientação da Prefeitura. A partir de 2002, tornou-se freqüente a indicação, pelo
Conselho, de bens imóveis para tombamento, constituindo sua principal linha de atuação.
A Tabela 20 mostra as propostas de tombamento aprovadas pelo COMPHAC, na segunda
fase de atuação. Deve-se destacar que alguns desses bens já se encontravam tombados
(ver observações na Tabela 20), cabendo ao órgão apenas a aprovação dos dossiês de
tombamento, não executados quando da efetivação dessa medida de proteção.

Desde 2002, esse novo posicionamento do COMPHAC, que procurou assumir um


papel mais ativo e ganhou visibilidade, tem provocado diferentes reações. Em razão do
grande número de sugestões aprovadas entre 2002 e 2004 (ver Tabela 20), a DPH
procurou alertar o COMPHAC dos efeitos práticos de sua atuação, ao menos sob o ponto
de vista do órgão municipal gestor do patrimônio cultural:

O conselheiro Fábio Leite ponderou que os encaminhamentos do


COMPHAC estariam ganhando proporções que invibializariam a
efetivação dos Processos. A Presidenta reforçou que o papel do
COMPHAC é cumprir as atribuições e que se o Prefeito não
assumir o seu papel quanto à preservação de bens que resgatem
a memória do Município, o Conselho não estará compactuando
com isso e nem será acusado de omissão. (Ata de reunião do
COMPHAC, 16/11/2004)
O Promotor do Ministério Público Estadual externou opinião contrária: cobrou
“uma atitude mais coerente por parte do Conselho quanto às questões de preservação”,
ante à rejeição da proposição de tombamento das chaminés da Cerâmica Uberlândia
(Figura 67). A votação da proposta ocorreu à luz de um laudo da Prefeitura, atestando o
mau estado de conservação das construções e a necessidade de investimentos imediatos
em sua recuperação, que motivou muitos votos desfavoráveis e abstenções, conforme
explicaram os participantes (ata de reuniões do COMPHAC, 9/4/2003 e 21/5/2003).

114
Ver comentário sobre a limitada representatividade do COMPHAC, no subitem anterior. No caso
em tela, o SINDUSCON-TAP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Triângulo Mineiro e Alto
Paranaíba, entidade patronal do setor) solicitou uma vaga em dezembro de 2003, mas o assunto
não foi sequer tratado até março de 2005 (conforme atas de reuniões do COMPHAC entre
10/12/2003 e 29/3/2005, última pesquisada).
154

Tabela 21 – Processo de tombamento rejeitado pelo COMPHAC (até março de


2005)
Data da Imóvel
aprovação pelo
COMPHAC
Descrição/ uso atual Época de Endereço Bairro/
construção distrito
10/12/2003 Chaminés da Cerâmica 1953 R. Estrela do Osvaldo
Uberlândia Sul 2296 Rezende
Fontes:
Ata de reunião do COMPHAC, 10/12/2003
Inventário do imóvel

Figura 67 – Chaminés da Cerâmica


Uberlândia (fevereiro de 2003)
Fonte: Inventário de proteção do acervo
cultural, 2003, ficha Torres da Cerâmica
Uberlândia
Fotografia de Cíntia Chioca
155

No mesmo período, tornaram-se mais comuns as polêmicas acerca de propostas


de tombamento de imóveis privados, assunto anteriormente evitado por aquele colegiado.
A Prefeitura adiou o quanto pôde o tombamento de imóveis particulares, como o Cine
Regente (Centro) e as casas de D. Albertina Chacur e de D. Adélia França (Fundinho),
processos que enfrentaram polêmicas e dificuldades diversas (Figuras 68 a 70). Mesmo o
processo de tombamento do último imóvel, único caso de tombamento voluntário, em
que a proprietária pretendia beneficiar-se de isenção de IPTU, sofreu contestação por
parte de seus herdeiros e não foi homologado pelo prefeito.

Sobre tal assunto, a Secretaria de Cultura adotou posicionamento semelhante


entre 1997 e 2000, bem como a partir de 2005, quando o mesmo grupo político de toda a
década de 1990 ocupou a Prefeitura. As falas das secretárias de Cultura ao COMPHAC,
uma por ocasião da reabertura do Conselho (2000), outra após a posse do novo prefeito
(2005), mostram isso:

Sabemos também que tombamentos privados são conflitantes e


não creio que a Prefeitura vá retificar [sic] este tipo de deliberação
do Conselho. (Ata de reunião do COMPHAC, 2/8/2000)
Quanto aos processos de tombamento, priorizaria-se [sic] aqueles
que contam com a aquiescência dos proprietários (Ata de reunião
do COMPHAC, 29/3/2005)
Em meio a essa dificuldade de se firmar até mesmo como órgão consultivo da
administração municipal, o COMPHAC conseguiu uma vitória episódica, quando interferiu
num projeto que descaracterizava a Praça Adolfo Fonseca, no Fundinho. O processo de
discussão no Conselho durou nove meses, culminando, em abril de 2004, na aprovação
do projeto com alterações, num acordo que chegou a exigir a interrupção da obra (atas
de reuniões do COMPHAC, entre 30/7/2003 e 22/4/2004). Porém, o motivo que originou a
consulta ao órgão foi outro: a mesma intervenção, vinculada à reestruturação do corredor
de ônibus da avenida João Pinheiro, abrangeria outro espaço, este sim tombado: a Praça
Clarimundo Carneiro, um quarteirão distante dali. O posicionamento do Conselho era de
defesa da integridade da praça e da visibilidade da Escola Estadual de Uberlândia, edifício
histórico até então não protegido. Conseguiu a diminuição da área de um equipamento
público que incluía abrigos de ônibus, sanitários e unidades comerciais para ambulantes,
a ser construído no interior da praça (Figuras 71 a 73). O tombamento isolado da Escola
Estadual115, conhecida como “Museu”, ocorreu em setembro de 2004, após indicação de
seu inventário.

115
O tombamento fora solicitado ao COMPHAC em 30 de março de 2004, por meio de
correspondência, cujo remetente não foi identificado na ata (ata de reunião do COMPHAC,
31/3/2004).
156

Figuras 68 e 69 – Casa de D. Albertina Chacur (agosto de 2004)


Fotografias do autor

Figura 70 – Casa de D. Adélia França (março de 2004)


Fotografia do autor
157

Figura 71 – Escola Estadual de Uberlândia, conhecida como “Museu” (agosto de


2004)
Fotografia do autor

Figuras 72 e 73 – Praça Adolfo Fonseca, com novo mobiliário; Escola Estadual


de Uberlândia (ao fundo) (agosto de 2004)
Fotografias do autor
158

3.3.3. Atuação do COMPHAC: uma síntese

A análise de atas do Conselho e de notícias na imprensa sobre sua atuação


permitiu retratar alguns de seus avanços e recuos, no cumprimento de seu papel
estatutário e em sua relação com o poder público.

De um entendimento inicial de que caberiam ao Conselho apenas as atividades de


educação patrimonial – como disse um conselheiro em 1987, “não é atribuição do
Conselho tombar imóveis” – a indicação de bens para proteção legal cresceu muito nos
últimos anos, numa quantidade que causou reação da Secretaria de Cultura, em 2004.
Isso também denota afastamento entre os interesses do COMPHAC e os do poder público,
que ficou claro por duas razões: pela falta de pragmatismo daquele, ignorando as
limitações da Prefeitura para executar as tarefas do tombamento, e pelas censuras que
recebeu deste.

A alteração de seu papel de consultivo para deliberativo ocorreu por exigência do


programa ICMS Patrimônio Cultural, mas teve pouco efeito. Em razão da complexidade
das questões envolvidas na gestão do patrimônio, sempre coube à Prefeitura, e não ao
Conselho, a negociação dos tombamentos caso a caso, mesmo depois de aprovados pelo
órgão colegiado. Suas deliberações, portanto, prosseguem sem efeito, como em vários
processos de tombamento que ainda aguardam a apreciação do prefeito (Tabela 26, item
3.5), estabelecendo na prática uma hierarquia de competências entre essas instâncias,
graças ao poder de veto garantido ao mandatário do município.

A defesa de interesses individuais por parte de alguns conselheiros, apontada em


1987, continuou a existir em 2002, quando foi tombada a casa de D. Albertina Chacur. Na
ocasião, algumas reuniões do Conselho foram abertas à família dessa moradora do
Fundinho, a fim de que pudessem explicar as razões de sua discordância em relação à
medida, entre as quais a intenção de demolir o imóvel sem nada construir em seu lugar,
explorando o terreno como estacionamento. A família Chacur ainda obteve apoio de
alguns conselheiros, que defendiam os mesmos argumentos de cunho particular.

A escassez de alternativas ao instrumento do tombamento, cuja primeira tentativa


de superação ocorreu com o Inventário do Fundinho em 2004 (VALE et alii, 2004a,
2004b), foi queixa constante naquele grupo, durante todo o período.

Assim como no caso dos interesses particulares, a opinião da vizinhança dos bens
históricos, freqüentemente contrária à proteção, prevaleceu na maioria dos casos,
mostrando que o Conselho avaliava o valor referencial desses bens como apenas regional,
na escala dos bairros, deixando de considerar a população do município como um todo.
159

Quanto aos conceitos de patrimônio que transparecem das solicitações aprovadas


pelo Conselho, observa-se que, salvo em casos específicos, o órgão preferiu posicionar-se
pela concepção mais abrangente, sobretudo aquela exposta na Constituição (1988), como
na proposição não efetivada de proteção do Mercado Municipal, em 1988.

Tal como o exemplo apresentado, a iminência de demolição de outros edifícios


ainda tem provocado o COMPHAC a agir emergencialmente, tombando imóveis como o
Cine Regente. No entanto, embora isso tenha ocorrido recentemente, foi de fato no final
do período estudado que a atuação do órgão adquiriu um caráter mais preventivo, em
comparação com a primeira fase de seu funcionamento. Vale lembrar que o risco de
demolição é motivo freqüente de pedidos de tombamento, denotando uma ação reativa, e
não preventiva, não apenas em Uberlândia, mas em outros conhecidos e numerosos
exemplos.
160

3.4. A preservação do patrimônio cultural a partir da década de 1990

Ao longo da década de 1990, deixando de apontar novos bens para proteção legal
e contando com uma legislação de uso do solo negligente quanto ao assunto, a
preservação do patrimônio cultural ainda carecia de maior atenção por parte do
município. Embora o Museu Municipal e a Oficina Cultural tenham sido implantados nesse
período, com a recuperação dos imóveis tombados que abrigam esses equipamentos,
houve poucos avanços no sentido de se formular uma política de preservação. O Plano
Diretor (1994) foi aprovado, nos termos aqui descritos, mas não houve interesse, por
parte do poder público, por detalhar parâmetros da zona especial de revitalização e a
transferência de potencial construtivo, fazendo com que o instrumento compensatório
tivesse pouca ou nenhuma repercussão na preservação. Embora as diretrizes para a
política de preservação estivessem colocadas, como ainda faltavam normas de ocupação
do solo, o processo de renovação do Fundinho continuava como na Lei 5.013/ 1989:
tratado como em qualquer outro bairro da cidade. “Enquanto eu estive lá [na DPH, como
diretor], (...) as pessoas pediam demolições e a Prefeitura autorizava, ou não autorizava
por uma questão física qualquer, não por um valor histórico, [por ser] um bem de
valor...” (Paulo de Freitas, entrevista gravada em 13/7/2005). A despeito das dificuldades
de reinstalação do COMPHAC, o debate sobre a preservação do patrimônio encontrou
espaço em outras entidades, como o IAB Núcleo Uberlândia e a Universidade Federal de
Uberlândia (UFU).

A Igreja Divino Espírito Santo teve seu tombamento efetuado, mas apenas em
nível estadual, por iniciativa da comunidade, que provocou o envolvimento do poder
público municipal, em 1997. O livro do tombo municipal foi reaberto em 2000, também
graças à mobilização de um grupo, em defesa do conjunto arquitetônico formado pela
casa de D. Domingas Camin, em Miraporanga, preservando-o em lei. Vale lembrar que tal
movimento não se propunha ao enfrentamento de interesses econômicos vultosos, pois o
bem estava distante das pressões e tensões que a valorização pelo mercado imobiliário
normalmente impõe a processos dessa natureza.

A despeito de terem envolvido apenas setores específicos da sociedade, ambos os


episódios merecem lembrança porque representaram a retomada da agenda do tema do
patrimônio na cidade. É importante observar, em ambos os episódios, que a sociedade
finalmente procurava mobilizar-se pela preservação de seus bens culturais, algo raro no
período estudado. Contudo, esses fatos não despertaram a preocupação do governo local
como um todo, mantendo o patrimônio cultural em posição de pouco destaque, entre as
suas prioridades.
161

3.4.1. O tombamento da Igreja Divino Espírito Santo

A Igreja Divino Espírito Santo, ou Espírito Santo do Cerrado, como preferia sua
autora, foi projetada pela arquiteta Lina Bo Bardi e por sua equipe, sob encomenda dos
frades franciscanos, que desenvolviam seu trabalho social num “bairro muito pobre, de
prostitutas e marginais, na periferia de Uberlândia” (Igreja..., AU, 198-?: 54). Construído
em regime de mutirão pelos próprios interessados, os moradores do bairro Jaraguá, o
templo conta com materiais de construção muito simples e rústicos. A modéstia do
acabamento do edifício explicava-se pela postura da arquiteta, consciente das condições
materiais em que se daria a construção:

Sem reboco nem acabamentos especiais, na realização desse


projeto foram empregados materiais do próprio local: tijolos de
barro e a estrutura portante de madeira (aroeiras da região).
Restringiu-se o emprego de concreto armado apenas para as
partes essenciais da estrutura. (BARDI, 1999)
Ferraz (1997) o descreve assim:

Neste projeto, você tem de um lado um terreiro de candomblé


completamente africano, do outro uma igreja simples como uma
igreja franciscana de pequena cidade italiana. No meio, um
‘caracol’ (os claustros), uma área de concentração, de camarim,
até chegar ao centro com um pequeno lago, um poço árabe. Tudo
isso cercado pelas plantas do cerrado, culminando com o
campinho de futebol bem brasileiro. Ela é uma igreja pra lá do
catolicismo. É uma igreja pagã, ou católica panteísta. (FERRAZ,
1997)
Laurentiz (1995) e também Almeida (1999) sublinham a condição de inovação
alcançada pela obra, em seu tempo.

...ela ofereceu uma saída para a tipologia religiosa daqueles dias


que, possivelmente, desde a niemayeriana Pampulha – nada de
novo no front religioso tinha aparecido. (LAURENTIZ, 1995)
Como obra de arquitetura é um marco novo no panorama
arquitetônico brasileiro pós Niemeyer, uma nova flor no Cerrado.
(ALMEIDA, 1999)
Testemunho de uma época recente, o tombamento da Igreja Divino Espírito Santo
resultou da preocupação de religiosos, arquitetos e artistas com sua manutenção, já que
a obra se destacava pelo partido arquitetônico singular e inovador, além da inédita
iniciativa que representara, quando erigida pelos próprios usuários, entre 1976 e 1982.

O que houve de mais importante, na construção da Igreja do


Espírito Santo, foi a possibilidade de um trabalho conjunto, entre
arquiteto e mão-de-obra.
De modo algum foi um projeto elaborado num escritório de
arquitetura e enviado simplesmente para a execução, pois houve
162

um contato fecundo e permanente entre arquiteto, equipe e povo


que se encarregou de realizá-lo. (BARDI, 1999)
A intenção de inscrevê-la no livro de tombo mineiro também era explicada por ter sido o
único edifício projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi em Minas Gerais.

Tabela 22 – Bens tombados pelo estado, Uberlândia, MG (até junho de 2005)


Imóvel
Data Descrição/ uso atual Época de Endereço Bairro /
construção distrito
9/5/1997 Igreja Divino Espírito Santo 1976-1982 Rua dos Mognos, 350 Jaraguá
(Espírito Santo do Cerrado)
Fontes:
Secretaria Municipal de Cultura, Divisão de Memória e Patrimônio Histórico
IEPHA, www.iepha.mg.gov.br

A população do bairro – antes formada por gente pobre, trabalhadores e


prostitutas, como disse a própria Lina 116 – foi substituída, desde o fim dos anos 1980, por
moradores de classe média, em virtude da valorização do solo naquela região, situada a
poucos quilômetros da área central. Os atuais moradores, seus principais usuários – além
de terem tratado de rebocar as paredes internas, por rejeitarem sua simplicidade – não
compreendem sua representatividade e protestam contra o tombamento. “O tombamento
da obra, oficializado há pouco tempo, nos deixa em uma situação complicada, pois não
podemos mexer por direitos reservados ao Instituto117, mas também não podemos deixar
cair por terra uma obra de tamanho valor afetivo ao Instituto Lina Bo e P. M. Bardi [sic]”
(jornal Correio, Cartas, 29/6/2000). Dos freqüentadores anteriores, trabalhadores que
haviam doado parte de seu tempo livre para construí-la, para quem certamente o “valor
afetivo” da igrejinha era inegável, a maioria mudou-se ou morreu. Pelas descrições
apresentadas, percebem-se os motivos pelos quais a elite da cidade e os novos
moradores de classe média do bairro desvalorizam a igrejinha, enquanto arquitetos,
artistas e outros aficcionados deleitam-se com suas formas e defendem sua preservação.

116
“‘Pode ser que a grande obra seja a capelinha miserável de Uberlândia’, ela disse no ano de sua
morte. ‘Foi feita sem dinheiro, com os padres franciscanos e prostitutas; o Masp é menos
importante do que aquilo’.” (jornal Correio, 9/12/1999)
117
O comentário refere-se ao Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, que participara do movimento pelo
tombamento. Exibe uma compreensão equivocada dessa medida de salvaguarda, como se
protegesse os direitos autorais dos arquitetos que a projetaram.
163

Figuras 74 e 75 –
Igreja Divino Espírito Santo: projeto e maquete
Fonte: BARDI (1999)
Fotografia de Marcelo Carvalho Ferraz
164

Figuras 76 e 77 – Igreja Divino Espírito Santo (c. 1982)


Fonte: BARDI (1999)
Fotografias de Marcelo Carvalho Ferraz
165

Figuras 78 a 80 –
Igreja Divino Espírito Santo (outubro de
2002)
Fonte: Inventário de proteção do acervo
cultural, 2002, ficha Igreja Espírito Santo do
Cerrado
Fotografias de autor ignorado
166

Restaram como vínculos entre as duas épocas – a construção do templo e a luta


por sua preservação – o Frei Fulvio Sabia e o artista plástico mineiro Edmar de Almeida,
ainda residentes em Uberlândia. O frade franciscano fora, por parte da instituição
eclesiástica local, um dos responsáveis pela encomenda do projeto arquitetônico à
arquiteta naturalizada brasileira.

A Igreja do Santo Espírito do Cerrado [sic], em Uberlândia, foi


encomendada por franciscanos italianos que lá viviam, num
momento em que a chamada Igreja da Libertação, que se
contrapunha ao Vaticano por estar ideologicamente ao lado dos
pobres, estava em seu auge. (FERRAZ, 1997).
A Almeida, que realizara diversas exposições em parceria com Lina em São Paulo, desde
os anos 1960, coube a iniciativa de trazê-la a Uberlândia e apresentar-lhe o cerrado,
tendo-se envolvido mais tarde com sua preservação.

A perda da maioria dessas pessoas e a presença maciça de novos moradores na


vizinhança contribuem para que a comunidade desconheça a importância do imóvel. No
caso de um bem cultural tão recente, numa cidade que ainda considera o critério da
antiguidade um requisito para a proteção, esses vínculos pessoais são importantes para
fortalecer a defesa do monumento. A justificativa de uma proposição de lei, primeira
iniciativa de proteção do templo, mostra quanto o envolvimento pessoal do frade foi
fundamental ao atendimento dessa reivindicação, além de indicar o descaso com que os
próprios uberlandenses tratavam a igrejinha, ignorando seu valor:

Com este projeto estamos atendendo na medida do possível uma


solicitação da Ordem dos Padres Franciscanos, através de Frei
Fulvio que acompanhou a construção do templo. Trata-se de um
monumento de valor artístico e cultural reconhecido por uma das
mais sérias revistas especializadas, a revista PROJETO [sic]...
(Proposição de lei nº 2286/ 1991, Justificativa, 13/2/1991)
A proposta ainda revelava desconhecimento dos critérios que levavam à preservação de
um monumento histórico, confundindo e restringindo a finalidade da medida:

Não tendo condições de monumento histórico para tombamento,


ocorreu-nos dentro das linhas traçadas pela Lei Orgânica declarar
seu valor artístico e cultural e alinha-lo entre os imóveis protegidos
por nossa tradição cultural, principalmente para visitação de
engenheiros e arquitetos.” (Proposição de lei nº 2286/ 1991,
Justificativa, 13/2/1991, sem destaques no original)
Não se percebe a diferença estabelecida pelo autor entre o tombamento e a
declaração de valor a que se refere, alinhando-o “entre os imóveis protegidos por nossa
tradição cultural” (Proposição de lei nº 2286/ 1991, Justificativa). Entre a proposta, o
parecer dos vereadores sobre sua validade e a lei resultante desse processo, nenhum
deles menciona o tombamento do imóvel, embora descrevam suas intenções de forma
167

semelhante: “esta obra é parte da história de nosso município e deve perpetuar-se


através de gerações de forma a promover o valor de seus traços e complexos culturais
[sic].” (Proposição de lei nº 2286/ 1991, Parecer, 18/2/1991). Assim, nesses termos
simultaneamente inovadores e inócuos, “fica declarada de excepcional valor artístico e
cultural, para fins de preservação, a Igreja do Espírito Santo do Cerrado”118. O objetivo e
a finalidade parecem ser equivalentes, mas o município não considera o bem
efetivamente inscrito no livro do tombo.

Nos anos que se seguiram, arquitetos e artistas ligados a entidades como a


Universidade e o IAB Núcleo Uberlândia uniram-se ao Frei Fulvio em sua preocupação por
salvar a igrejinha da degradação do tempo e reconhecer seu valor histórico e artístico.
Publicações de alcance nacional destacavam a obra esporadicamente, desde então119.
Para a comunidade uberlandense, que pouco conhecia o templo e não compreendia as
razões do projeto explicadas por Ferraz (1997) em trecho citado, esse reconhecimento
externo lhes parecia mais importante do que a valorização da obra em si, tanto que o fato
foi utilizado como justificativa para o projeto de lei citado.

Nesse trabalho de conscientização e mobilização, foi trazida para Uberlândia a


exposição Lina Bo Bardi, arquiteto, com “90 painéis, réplicas fotográficas de estudos, de
desenhos originais e de outras imagens, junto de cadeiras projetadas ‘pelo arquiteto’”
(LAURENTIZ, 1995, grifado no original). O IEPHA participou do debate havido na abertura
desse evento, tendo em seguida iniciado as tratativas para o tombamento estadual da
igreja. A proposta foi homologada em maio de 1997.

Considerando o que já descrevemos sobre o objeto tombado, trata-se de


motivação inédita, entre os tombamentos ocorridos até então em Uberlândia. A
singularidade da obra, tanto pelo partido arquitetônico quanto pela autoria, e uma razão
simbólica – a participação da população pobre em sistema de autoconstrução,
representando seu valor para um grupo social nunca antes considerado na definição do
patrimônio da cidade – tomaram o lugar, entre os critérios para inscrição, da
excepcionalidade, da monumentalidade e da antigüidade do bem. Apesar de ter envolvido

118
Lei municipal 5.207, de 27 de fevereiro de 1991, art. 1º.
119
Ilustrando essa afirmação, o professor Lu de Laurentiz, da UFU, compilou recortes de
publicações referentes à Igreja Divino Espírito Santo, em Fragmentos do discurso amoroso e
científico pró-defesa da Igreja do Espírito Santo do Cerrado (LAURENTIZ et alii, s.n.t.): há artigos
nas revistas Projeto (n. 128, 1989, e n. 149, 1992) e AU (n. 7, década de 1980); estudos
acadêmicos de Maria da Conceição Alves de Guimaraens (Rio de Janeiro, UFRJ, 1993), Luís Antônio
Jorge (São Carlos, EESC/ USP, 1994) e Fátima Campello (São Carlos, EESC/ USP, 1999); e outros
fragmentos, como carta do próprio Laurentiz à revista Projeto (maio de 1993).
168

apenas arquitetos, artistas e alguns outros interessados120, no que se assemelhou aos


tombamentos pedidos pelo COMPHAC, este episódio merece destaque por ter rompido,
pela primeira vez, com os critérios tradicionais de classificação do patrimônio.

Atualmente, a Igreja Divino Espírito Santo conta com projeto de reforma,


elaborado por dois dos autores do risco original, visto que se encontra em estado de
conservação regular. O trabalho está em fase de captação de recursos, por ter sido
aprovado nos termos da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.

3.4.2. O impacto do ICMS Patrimônio Cultural

Disponível desde 1996, o ICMS Patrimônio Cultural foi conhecido, no primeiro


momento, como instrumento compensatório de perdas advindas da própria lei que criou o
programa, redistribuindo o produto do imposto sobre circulação de mercadorias e
serviços, como explicado no Capítulo 2. Mas seu papel não poderia ser esse, pois seus
escassos recursos eram insuficientes para repor as perdas dos municípios mais populosos
e ricos do estado, como Uberlândia. Alguns anos mais tarde, propiciando um ambiente
mais favorável ao debate ou simplesmente provocando o gestor municipal à discussão do
tema, por representar um estímulo até então inédito, sua influência na gestão do
patrimônio cultural municipal pode ser medida.

Deve-se ao programa a reativação do COMPHAC e a emergência de uma política


de preservação que, pela primeira vez, buscou superar a mera sucessão de tombamentos
ocorrida até então. Ao seguir os critérios das Leis 12.040/ 1995 e 13.803/ 2000, mesmo o
tombamento de bens se tornou um processo mais complexo e efetivo, pois dossiês
completos, anteriormente inexistentes, passaram a amparar tal medida, possibilitando a
punição de eventuais infratores. Do contrário, na falta de provas do estado em que se
encontram os imóveis tombados, a sensação de impunidade dos proprietários encoraja-os
a demoli-los. Além disso, como vimos ao longo do Capítulo 2, a alteração dos critérios
pelo IEPHA, ano a ano, pretendia estimular os municípios a diversificar suas ações de
proteção, por meio de inventários, educação patrimonial e investimentos na conservação
dos bens, entre outros.

Quando se iniciou o ICMS Patrimônio Cultural, em 1997, a Divisão de Patrimônio


Histórico limitava-se a manter alguns espaços culturais – como o Museu Municipal, ainda
fora de sua atual sede, a Oficina Cultural e o Arquivo Público, a ela vinculados desde a
criação da Secretaria de Cultura. Na gestão que durou de 1997 a 2000, quando Virgílio
Galassi assumiu a Prefeitura pela quarta vez, a obra de restauração da antiga Câmara

120
“Arquitetos querem preservar igreja”, título de matéria publicada no suplemento Cultura, da
Gazeta Mercantil Triângulo Mineiro, 19/5/2000 ( ARAÚJO, 2000).
169

Municipal – previsão do Plano de 1954 repetida no de 1994 – foi finalmente entregue121. A


decisão de executá-la atribuiu-se à transferência da casa legislativa para o Centro
Administrativo Municipal, ocorrida em 1993, deixando vaga a sede anterior.
Concomitantemente com essa obra, a partir de 1995, a Oficina Cultural, recém-adquirida
da CEMIG, também passou por recuperação. Foram duas raras intervenções públicas
dessa natureza em imóveis tombados – anteriormente, há registros de restauração
apenas da Casa da Cultura e da Capela Nossa Senhora do Rosário (Miraporanga), ambas
na década de 1980.

Começamos a trabalhar fazendo restaurações em imóveis


tombados e classificando imóveis para tombamento. (...) Eu fiz
toda uma listagem, apresentei [à secretária de Cultura] e disse:
(...) ‘nós temos que fazer isto aqui [o tombamento dos imóveis
enumerados] para preservar alguma coisa, antes que acabe tudo’.
(Paulo de Freitas, entrevista gravada em 13/7/2005).
A adesão do município ao ICMS Patrimônio Cultural encontra-se sintetizada na
Tabela 23, que apresenta os atributos que receberam pontuação, anualmente. Em
Uberlândia, novidades introduzidas no programa em 1998 e 1999 – como modelos mais
completos de dossiês de tombamento, laudos de estado de conservação e inventários
dos bens com interesse de preservação122 – repercutiram apenas em 2001, com a
mudança no governo municipal. Tanto que foram elaborados nesse ano os primeiros
dossiês, referentes à Igreja Nossa Senhora do Rosário e ao Conjunto Arquitetônico Praça
Clarimundo Carneiro, que valeram pontos em 2002.

A Tabela 23 evidencia que, em função das novas exigências, tanto os bens


tombados pelo município (BI22), quanto a própria política local de preservação (PCL)
deixaram de pontuar em 1999 e 2000, respectivamente. Nesses anos, a pesquisa nos
arquivos do IEPHA e da DPH revelou que a pontuação da Igreja Divino Espírito Santo
somente se manteve, independentemente de documentação, por se tratar de
tombamento estadual, pois o município sequer participou do programa. Em 2001, com a
volta de Zaire Rezende para um novo mandato como prefeito (2001-2004), a Prefeitura
voltou a interessar-se pelo incentivo. A partir daí, observou-se um aumento em sua
pontuação nos três anos subseqüentes, com nova queda em abril de 2004 (Gráfico 10).

121
O Palácio dos Leões foi inaugurado como sede do Museu Municipal em agosto de 2000
(www.uberlandia.mg.gov.br).
122
Ver Tabela 7, no Capítulo 2.
170

Tabela 23 – Atributos pontuados na avaliação do Índice de Patrimônio Cultural (PPC), Uberlândia, MG, entre 1996 e 2005

1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Bens imóveis tombados isoladamente no nível estadual (BI 4)
Igreja Divino Espírito Santo (Espírito Santo do Cerrado)
Bens imóveis tombados isoladamente no nível municipal (BI 22)
Capela N. S. do Rosário (Miraporanga)
Conjunto Arquitetônico Praça Clarimundo Carneiro, Museu Municipal e Coreto
Casa da Cultura
Oficina Cultural
Igreja N. S. do Rosário (Fundinho)
Conjunto Arquitetônico Casa D. Domingas Camin (Miraporanga)
Mercado Municipal
Casa D. Albertina Chacur
Praça Tubal Vilela
Laudos técnicos sobre estado de conservação dos bens tombados
Inventários de bens com interesse de preservação
Legislação municipal (PCL)
Plano Diretor (1994)
Lei 4.240/ 1985
Lei Complementar 224/ 1999; Lei Complementar 245/ 2000 (Leis de uso e ocupação do solo)
Criação e atuação do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural
Equipe técnica da DPH (PCL)
Investimentos em bens culturais
Fontes: IEPHA; www.iepha.mg.gov.br; Secretaria Municipal de Cultura, Divisão de Memória e Patrimônio Histórico
171

Gráfico 10 – Pontuação do município de Uberlândia no programa ICMS


Patrimônio Cultural (1996-2005)

7 7 6,8
6,5
6
5,25
5 5 5 5
4,4
4

2 2

0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Fontes: IEPHA, www.iepha.mg.gov.br

Gráfico 11 – Recursos repassados ao município de Uberlândia, por ano, por


meio do programa ICMS Patrimônio Cultural (1997-2005)

180.000,00
Valor repassado ao município (em

160.000,00
140.000,00
120.000,00
100.000,00
R$)

80.000,00
60.000,00
40.000,00
20.000,00
0,00
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Ano de entrega*

Fontes: IEPHA, www.iepha.mg.gov.br


[*] Ver observação abaixo123.

123
Os Gráficos 10 e 11 e a Tabela 24 referem-se aos anos em que foram calculados os repasses, e
não ao ano em que ocorreram as transferências efetivas. Exemplo: O pico de R$ 162.000,
apresentado no Gráfico 11 em 2002, foi calculado em função da documentação recebida em abril
de 2002, mas repassado ao município apenas em 2003. Ver também Capítulo 2, nota de rodapé
34.
172

Tabela 24 – Recursos repassados ao município de Uberlândia,


por ano, por meio do programa ICMS Patrimônio
Cultural (1997-2005)
Valor repassado
Ano de entrega Pontuação Média R$/ ponto (em R$)
1996 11.977,00 0,00
1997 5,0 17.131,23 85.656,15
1998 7,0 14.322,00 100.254,00
1999 5,0 12.457,87 62.289,35
2000 2,0 17.588,99 35.177,98
2001 5,0 17.065,13 85.325,65
2002 6,8 23.928,80 162.715,84
2003 6,5 17.121,26 111.288,19
2004 4,4 17.395,78 76.541,43
2005 5,25 Indisponível 108.780,74
Fontes: IEPHA, www.iepha.mg.gov.br

A reabertura do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico (COMPHAC) foi


marcada, a partir de 2001, por sua intenção de desvincular-se dos interesses dos
proprietários e da interferência do poder público. A Divisão de Memória e Patrimônio
Histórico, em contrapartida, procurava diversificar as ações de preservação, aproveitando-
se da metodologia dos inventários, difundida pelo IEPHA por meio do ICMS Patrimônio
Cultural. Assim, ambos tentavam ajustar-se às demandas contemporâneas. Foi a segunda
tentativa, em duas décadas, de se formular uma política de preservação, que novamente
padeceu de interrupção.

Com o objetivo de efetuar as tarefas do programa estadual, a Prefeitura firmou


convênio com a UFU, em 2001, cujo principal produto foi a identificação e o
inventariamento do acervo com interesse de preservação. Os inventários, que se referem
a imóveis isolados em todo o município, com maior concentração no Centro no Fundinho,
têm sido realizados desde 2001. Em 2004, foi concluído o Inventário de configuração do
espaço urbano do Fundinho (VALE et alii, 2004a, 2004b). O objetivo dos inventários,
segundo o IEPHA, é conhecer o acervo, a fim de definir adequadamente as prioridades
das políticas públicas de preservação. “O inventário é uma das atividades fundamentais
para o estabelecimento e priorização de ações dentro de uma política de preservação
efetiva e gestão do patrimônio cultural. Toda medida de proteção, intervenção e
valorização do patrimônio cultural depende do conhecimento dos acervos existentes”
(MINAS GERAIS, s.n.t.).

A opção da Prefeitura foi por inventariar prioritariamente os imóveis selecionados,


no Centro e no restante do município, que, ao contrário dos situados no Fundinho, não
173

possuíam restrições legais à mudança de volumetria e gabarito. Alguns deles foram


indicados para tombamento integral ou parcial, como o imóvel comercial denominado
Casa Araguaia e o antigo Cine Regente, respectivamente (Figuras 81 e 82). A Casa
Araguaia teve seu tombamento aprovado pelo COMPHAC, mas não efetivado por falta de
homologação do prefeito. O cinema, por sua vez, teve sua demolição flagrada quando o
bem estava em processo de tombamento (ver próximo item).

Sobre o Inventário do Fundinho,

os objetivos do trabalho estiveram orientados em realizar


propostas voltadas para a proteção do patrimônio, definindo o
desenho das políticas para sua proteção e conservação, bem como
elaborando propostas e ações em nível urbano e arquitetônico.
(...) O trabalho pretendeu, sobretudo, instrumentalizar o governo
municipal para uma gestão adequada aos propósitos de
preservação e valorização do Patrimônio Cultural do Bairro
Fundinho. (VALE et alii, 2004a)
A leitura que esse Inventário apresentou para o Fundinho representa grande
inovação, pois adapta para o contexto local metodologia 124 que, testada pelo IPHAN em
outras cidades históricas, considera a cidade

como lugar de patrimônio socialmente produzido e de acumulação


de vestígios humanos convertidos em documentos das trajetórias
da sociedade, distanciando-se dos procedimentos e padrões que
privilegiam as obras ou imóveis, individuais ou em conjuntos,
facilmente reconhecidos por sua qualidade excepcional,
homogeneidade ou de valor histórico específico. (VALE et alii,
2004a: 5)
Essa postura responde ao que comumente é considerado obstáculo à formulação
de políticas de preservação em Uberlândia: a escassez de monumentos históricos
isolados, aqueles que, segundo Choay, adquirem essa condição ao longo do tempo,
graças aos “olhares convergentes do historiador e do amante da arte”125. O trabalho visa
a superar o tombamento, até então um instrumento de preservação utilizado à larga,
única forma disseminada e conhecida pelo público local. Seus limites são conhecidos há
muito, conforme se viu na análise da atuação do COMPHAC, segundo a qual alguns
conselheiros cobravam outras alternativas de proteção. Para Vale et alii (2004a: 5), “as
medidas cautelares de preservação, quando associadas ao planejamento urbano,
adquirem um caráter mais amplo e a conservação do bem deixa de depender

124
Trata-se do Inventário de Configuração de Espaços Urbanos (INCEU), do IPHAN.
125
”O monumento histórico não é, desde o princípio, desejado (...) e criado como tal; ele é
constituído a posteriori pelos olhares convergentes do historiador e do amante da arte, que o
selecionam na massa dos edifícios existentes...” (CHOAY, 2001: 25, trecho citado no Capítulo 1).
174

exclusivamente do tombo como instrumento único para a preservação, que se reveste de


um caráter social mais amplo”.

Foram inventariados, nos últimos cinco anos, dezenas de imóveis no Centro e


todos os localizados na zona especial de revitalização, o Fundinho, acompanhados da
análise de percursos no bairro, conforme a metodologia citada, que ainda incluía “técnica
de análise que representa atributos universais do espaço (...), que permite apontar quais
os traços de identidade dos lugares que, sendo universalmente perceptíveis, deveriam ser
preservados” (VALE et alii, 2004a: 10).

As propostas de preservação foram apresentadas para quinze conjuntos urbanos


estruturadores selecionados, articulados em torno de imóveis previamente tombados ou
indicados para tombamento integral ou parcial, “a partir dos quais são definidas as
normas de conservação, reconstrução e inserção de novas construções” (VALE et alii,
2004b: 17). Os conjuntos urbanos estruturadores e os imóveis indicados para
tombamento integral são enumerados na Tabela 25126.

126
Apresentamos sucintamente esses dados. Para mais detalhes, como imóveis indicados para
tombamento parcial ou documentação histórica, ver Vale et alii (2004b). Além dos imóveis
enumerados na Tabela 25, dois outros, isolados, foram indicados para tombamento integral: a
Escola Estadual Dr. Enéas de Oliveira Guimarães (Praça Doutor Duarte 58) e o imóvel situado na
rua General Osório 97.
175

Tabela 25 – Conjuntos urbanos estruturadores e imóveis indicados para


tombamento integral pelo Inventário de configuração do espaço
urbano do Fundinho (VALE et alii, 2004b)
Conjuntos urbanos Imóveis previamente Imóveis indicados para
estruturadores tombados* tombamento integral
Av. Afonso Pena Edifício Naguettini –
Av. Afonso Pena 52/56
Praça Adolfo Fonseca Árvore (sibipiruna) imune Escola Estadual de Uberlândia – Praça
a corte Adolfo Fonseca, 141
Praça Cícero Macedo
Praça Clarimundo Câmara Municipal (atual Imóvel – R. Bernardo Guimarães 89
Carneiro Museu) Imóvel – Praça Clarimundo Carneiro
Coreto 185
Oficina Cultural – Praça
Clarimundo Carneiro 204
Praça Coronel Casa da Cultura – Praça Imóvel – Praça Coronel Carneiro 112
Carneiro Coronel Carneiro 89 Imóvel – Praça Coronel Carneiro 11
Praça Rui Barbosa Igreja Nossa Senhora do Sorveteria Bicota e residência – Praça
Rosário Rui Barbosa 33
Rua Augusto César Casa D. Adélia França –
R. Augusto César 101**
Rua Barão de Imóvel – R. Barão de Camargos 613
Camargos
Rua Bernardo Imóvel – R. Bernardo Guimarães 342
Guimarães
Rua Felisberto
Carrejo
Rua General Osório
Rua Goiás Imóvel – Rua Goiás 450
Rua Marechal Casa D. Albertina Chacur
Deodoro – R. Marechal Deodoro 55
Rua Tiradentes
Rua Vigário Dantas Imóvel – R. Vigário Dantas 291
Legenda:
[*] Até o fim de 2003.
[**] Indicado como tombado no Inventário, o imóvel teve seu tombamento voluntário
aprovado pelo COMPHAC em 10/12/2003, mas não homologado pelo prefeito.
176

Figura 81 – Casa Araguaia (atual Taco) (março de 2001)


Fonte: Inventário de proteção do acervo cultural, 2002, ficha Casa Araguaia
Fotografia de Leonardo Finotti

Figura 82 – Cine Regente (março de 2001)


Fonte: Inventário de proteção do acervo cultural, 2002, ficha Cine Regente
Fotografia de Leonardo Finotti
177

Figuras 83 e 84 –
Cine Regente destruído (junho de
2003)
Fotografias do autor
178

3.4.3. O tombamento do Cine Regente

Em maio de 2003, o tombamento do Cine Regente, “último remanescente dos


palácios cinematográficos da cidade” (FONSECA, 2004, grifado no original), foi solicitado
ao COMPHAC por um membro da comunidade, diante de seu fechamento e da iminência
de sua demolição. “Com a desocupação do imóvel, foram retiradas as cadeiras da platéia,
as instalações elétricas, a tela de projeção, as louças sanitárias e tudo que poderia ser
reaproveitado, já que, pelas informações do antigo locatário, o cinema seria demolido”
(Inventário de proteção do acervo cultural, 2003, ficha Cine Regente). O imóvel havia sido
vendido, com essa finalidade, em fevereiro do mesmo ano. O histórico contido no
inventário informa:

O Cine Regente foi construído pela CPT – Companhia Paulista de


Teatro – e inaugurado em 1952. Era, então o segundo maior
cinema da cidade, com 1.434 lugares. (...) Em 1959, foi vítima do
”Quebra-Quebra”, nome pelo qual ficou conhecido o tumulto
popular ocorrido na cidade em que os cinemas e outros
estabelecimentos comerciais foram depredados e saqueados. O
estopim do tumulto foi o acréscimo de 70% nos preços dos
ingressos dos cinemas, na época, a maior e mais popular forma de
diversão da cidade. (Inventário de proteção do acervo cultural,
2003, ficha Cine Regente)
Com base nesse inventário preexistente, as informações necessárias foram
reunidas com a urgência que a situação exigia, permitindo rápida aprovação do pedido de
proteção pelo Conselho. Alguns dias após ser notificado do tombamento pela Prefeitura, o
proprietário preparou o pedido de impugnação a que tinha direito. Segundo parecer
anexado ao processo, estas eram suas razões:

...limitou-se a informar que não tinha interesse e nem concordava


com o tombamento, uma vez que pretende construir um edifício
moderno com 72 apartamentos, ressaltando que não vislumbra
nenhum valor histórico, arqueológico, artístico, cultural,
arquitetônico ou paisagístico que justifique o interesse público na
conservação do bem, tendo discordado também de sua avaliação.
(Parecer PGM nº 3868/ 2003, p. 2-3, anexado ao Processo de
tombamento)
A alegação não trazia contraprovas, “tendo o proprietário se limitado, repita-se, a
negar tais valores” (idem). Porém, num intervalo de apenas dois dias (os últimos do mês
de maio de 2003), o interessado solicitou alvará de demolição127, apresentou os motivos
contrários ao tombamento e iniciou a destruição do edifício. Paralisada a demolição pelos
fiscais municipais, o imóvel encontrava-se no estado mostrado nas Figuras 83 e 84.
Segundo o mesmo processo, tentando garantir autorização judicial para concluir a

127
A Prefeitura teria um mês para emitir o referido alvará.
179

intervenção, o proprietário argumentou que “promovia meros procedimentos preliminares


pra proceder [sic] à demolição, o que faria após a emissão da licença solicitada”
(Mandado de segurança impetrado pelo proprietário, indeferido em 25/3/2004).

Antes da atitude extremada do proprietário, que demoliu o imóvel às escondidas,


havia sido negociada uma solução para o impasse do tombamento. Tratava-se de
proposta inédita na cidade: o tombamento parcial. “As diretrizes do tombamento do
imóvel permitem a construção de um edifício nos moldes do desejado pelo mesmo, com
preservação apenas da fachada e das ambiências e volume do foyer” (Parecer PGM nº
3868/ 2003, p. 3).

Mas sua resistência à cultura da preservação foi maior que o esforço do poder
público pela manutenção do edifício. Nessa postura intempestiva, o dono do Cine Regente
contou com o apoio de vários cidadãos, tão indignados quanto desinformados, pois
nenhum deles sequer sabia da opção negociada previamente, como se lê em trechos de
cartas à imprensa local. Nestas duas, por exemplo, comentando a defesa feita pelo
COMPHAC da preservação do cinema, transparecem o discurso desenvolvimentista, a
defesa do empresariado que ignora tombamentos e o desrespeito às instituições que
fiscalizam a ação do poder público:

...um conselho que não deixa a cidade crescer e se desenvolver


como uma cidade de grande porte. (...) Na minha opinião, tinha-
se de esquecer que existe este conselho... e fazer, sim. Deixar eles
de lado. Senão, a praça 128 vai ficar igual ao Cine Regente, parada
igual às cabeças destas pessoas que não se desenvolvem e ficam
a viver no passado. Deixem o empresário construir e a Prefeitura
fazer. Assim, teremos uma cidade de exemplo nacional. (jornal
Correio, Cartas, 11/4/2004)
Já li várias opiniões de leitores do CORREIO sobre tombamentos
de prédios históricos em Uberlândia, mas até hoje não entendi por
que essas pessoas querem manter o prédio do Cine Regente como
histórico. (...) Pelo amor de Deus, senhoras e senhores do
patrimônio histórico, isto é idéia atrasada demais. Acho que o
melhor que vocês deviam fazer era deixar o empresário que
comprou aquele imóvel construir lá o prédio que ele imaginou,
porque, na minha opinião, progresso é isso. (jornal Correio,
Cartas, 9/5/2004)
O episódio ainda suscitou acusações de cunho político, igualmente equivocadas quanto
aos critérios de preservação, mas correta nos exemplos de omissão em relação a outros
imóveis, perdidos na mesma época:

128
A comparação refere-se à intervenção do COMPHAC sobre uma obra na Praça Adolfo Fonseca
(Fundinho), em que o Conselho reclamava o exame prévio do projeto de um abrigo de ônibus
naquele espaço público, descaracterizando-o e interferindo na visibilidade de um bem
posteriormente tombado: a Escola Estadual de Uberlândia (conhecida como “Museu”).
180

Recentemente, duas demolições de casarões históricos


aconteceram sem que o COMPHAC tomasse nenhuma providencia.
(...) A primeira foi (...) o casarão da chácara do Cel. Virgilio
Rodrigues da Cunha (...) construída [sic] em 1917, com materiais
importados da Europa, uma obra-prima em arquitetura, muito
mais antiga e mais importante do que o prédio do Cine Regente
em termos de patrimônio histórico. (...) A segunda aconteceu
neste ano, na rua Quinze de Novembro, bem debaixo do nariz do
COMPHAC, ao lado da Casa da Cultura. O que está acontecendo
com a paralisação da demolição do Cine Regente não passa de
politicagem barata do governo do senhor Zaire Rezende... (jornal
Correio, Cartas, 11/4/2004)
O processo de tombamento foi arquivado, pois o prefeito concluiu pela perda do
objeto tombado. O proprietário reiniciou a demolição do que restava do prédio, em
setembro de 2003, “quando foi surpreendido pela imprensa e funcionários públicos
municipais acusando-lhe [sic] de lesar o ‘patrimônio histórico’129 do município” (Mandado
de segurança impetrado pelo proprietário, indeferido em 25/3/2004).

Os protestos na imprensa contra o tombamento e em defesa do proprietário


mostram que a questão ainda é cercada de desinformação e desperta reações acaloradas.
Atualmente, tramita na Justiça uma ação que propõe multa contra o infrator, pela
destruição de um bem cultural tombado provisoriamente, conforme a Lei municipal de
patrimônio histórico.

129
Note-se que o advogado prefere escrever “patrimônio histórico”, entre aspas, como recurso de
ironia contra o título recebido provisoriamente pelo imóvel.
181

3.5. O patrimônio em Uberlândia hoje

Antes de 2000, nunca um edifício que não fosse de uso coletivo havia recebido a
proteção do tombamento. O conjunto arquitetônico formado pelos imóveis do espólio de
D. Domingas Camin (Miraporanga) foi o primeiro bem privado tombado (Figura 85).
Depois deste, vieram os tombamentos compulsórios da casa de D. Albertina Chacur
(Fundinho) e do Cine Regente. Por último, o Conselho aprovou a inscrição voluntária da
casa de D. Adélia França, que esperava gozar do benefício da isenção de IPTU para o
único imóvel que possuía 130. Nem mesmo esse benefício, oferecido pelo município, havia
sido utilizado até a época em que se deram os referidos casos, pois todos os demais eram
edifícios públicos. Nenhum outro tombamento jamais foi solicitado com a mesma intenção
de D. Adélia. Ao contrário, alguns imóveis que poderiam habilitar-se ao instrumento foram
demolidos ou completamente descaracterizados, como mostram os exemplos das Figuras
87 a 89. Outros foram recuperados, com maior ou menor grau de respeito à arquitetura
original, mas não tombados (Figuras 90 a 96). Pode-se aferir, portanto, que a isenção de
IPTU não é atrativa para os proprietários de bens com interesse de preservação, nem
mesmo para os que investem na manutenção da integridade de seus imóveis.

Tabela 26 – Bens em processo de tombamento pelo município, Uberlândia, MG


(até junho de 2005)
Data Descrição/ uso Endereço Bairro/ Situação atual
atual distrito
2003 Cine Regente Rua Machado de Centro Demolido, processo de
Assis, 350 tombamento arquivado;
ação judicial em
andamento
2003 Casa D. Adélia Rua Augusto César, Fundinho Dossiê aprovado por
França 101 Prefeitura e COMPHAC;
aguarda decreto de
tombamento
2003 Chaminés da Av. Rondon Custódio Solicitado pelo COMPHAC;
Cerâmica Vitória Pacheco (final) Pereira dossiê em andamento
2004 Edifício Ângelo Av. Afonso Pena, Fundinho Dossiê aprovado pelo
Naguettini 52/56 COMPHAC, aguarda
decreto de tombamento
2004 Casa Araguaia Av. Floriano Peixoto Centro Dossiê aprovado pelo
COMPHAC, aguarda
decreto de tombamento
Fontes:
Secretaria Municipal de Cultura, Divisão de Memória e Patrimônio Histórico;
Atas de reuniões do COMPHAC

130
Com a morte da proprietária, ocorrida antes da homologação pelo prefeito, os herdeiros
questionaram o tombamento.
182

Figura 85 (à esquerda) – Casa de D. Domingas Camin, em Miraporanga (sem data)


Fonte: NASCIMENTO & MOREIRA (2005)
Fotografia de Ricardo Borges
Figura 86 (à direita) – Chaminés da Cerâmica Vitória (abril de 2003)
Fonte: Inventário de proteção do acervo cultural, 2003, ficha Torres da Cerâmica Vitória
Fotografia de Cíntia Chioca

Figura 87 – Casa na rua 15 de Novembro, demolida em março de 2004 (2003)


Fotografia do autor
183

Figura 88 (acima, à esquerda) – Casa na rua Bernardo Guimarães 525 (Fundinho),


parcialmente demolida (outubro de 2003)
Figura 89 (acima, à direita) – Casa na rua Bernardo Guimarães 525, adaptada para
uso comercial e descaracterizada (abril de 2004)

Figuras 90 a 93 – Imóveis adaptados para usos de comércio e serviços no


Fundinho (abril de 2004)
Fotografias do autor (todas as figuras nesta página)
184

Figuras 94 a 96 – Imóveis adaptados para usos de comércio e serviços no


Fundinho (abril de 2004)
Fotografias do autor
185

O programa de preservação do Fundinho, previsto no Plano Diretor e esperado


após o Inventário do bairro (VALE et alii, 2004a, 2004b), não se desencadeou. Com isso,
as tentativas recentes de preservação do escasso acervo que resta, concentradas em
imóveis privados, foram desarticuladas entre si, despertando na comunidade o sentimento
de injustiça contra alguns proprietários. Estes passaram a fazer acusações contra o gestor
do patrimônio, no que recebiam apoio de concidadãos pela imprensa, como vimos.

Quanto à manutenção de escala e volume prevista na legislação atual, alguns


obstáculos têm prejudicado seu cumprimento: além das indefinições sobre a legislação
específica e da desinformação dos cidadãos sobre a preservação do patrimônio, a
precariedade do sistema de concessão de alvarás também traz muitos prejuízos ao
acervo, como mostra o exemplo do imóvel situado na rua Bernardo Guimarães 525
(Figuras 88 e 89). A descaracterização do imóvel mostrado, apontado como de interesse
de preservação, teria sido evitada quando da emissão da autorização, se essa restrição
aparecesse no cadastro municipal.

A Lei de uso e ocupação do solo (Lei 245/ 2000) tem se mostrado insuficiente para
a proteção do patrimônio cultural do município, porque restringe ao Fundinho os
parâmetros e instrumentos urbanísticos disponíveis, como a transferência de potencial
construtivo. Esta, ainda que potencialmente positiva, não é conhecida e tampouco
passível de utilização. Atualmente, em lugar da implementação das ações programadas
para o conjunto urbano do Fundinho, fala-se em cancelamento de todos os processos que
envolvem imóveis privados, trazendo de volta a antiga oposição entre a liberdade de
iniciativa sobre a propriedade, que é individual, e o direito da comunidade de preservar os
testemunhos de sua história.

Por outro lado, a despeito de manifestações frontalmente contrárias à causa do


patrimônio cultural, ainda freqüentes na comunidade, o Fundinho parece a caminho de
encontrar uma nova vocação, aproveitando-se das mesmas qualidades procuradas por
aqueles novos moradores dos anos 1980. Como sinalizamos ao concluir o item 3.2, têm-
se proliferado atividades de comércio e serviços para um público de poder aquisitivo mais
alto, como butiques, pequenas lojas de móveis e acessórios domésticos, ateliês de
arquitetos e artistas, restaurantes e escolas de ofícios (dança e línguas, p. ex.), algumas
vezes em imóveis históricos recuperados, tombados ou não (Figuras 90 a 93). O trabalho
de convencimento da população, buscando uma convivência respeitosa entre o passado e
o futuro, está apenas em seu início.
186

3.6. Avanços e recuos da gestão municipal do patrimônio cultural

Neste item, de maneira conclusiva, aplicaremos as ferramentas conceituais


escolhidas e o conhecimento produzido sobre essa temática (Capítulo 1), além da análise
do programa estadual de preservação (Capítulo 2), a fim de destacar alguns aspectos da
política local de proteção do patrimônio, ou do conjunto de ações que a conformaram ao
longo desses vinte anos.

No Capítulo 1, pudemos compreender como o conceito de patrimônio cultural


ampliou-se, ao longo do século XX, de maneira a transformar ”as cidades e os conjuntos
urbanos em verdadeiros documentos da vida e da cultura”131 (VALE et alii, 2004a). Como
conseqüência disso, a cidade e seu patrimônio passaram a ser lidos como suportes da
vida cotidiana, constituindo-se como referências espaciais e culturais de seus moradores.
Do ponto de vista da gestão urbana, antes mesmo do fim daquele século, o patrimônio
chega a “uma concepção contemporânea tão ampla que tende a abranger a gestão do
espaço como um todo”132 (CASTRIOTA, 1999). Nessa passagem, Castriota faz referência
indireta à necessidade de que a política de preservação seja coerente com as diretrizes da
política urbana, formando um sistema coeso de gestão do espaço que inclua a proteção
do patrimônio cultural urbano. No caso de Uberlândia, o desprezo por parte do mercado
imobiliário e de construção e a falta de alicerce na legislação urbanística, apontados no
Capítulo 3, resultaram em uma política de proteção do patrimônio que nunca foi
claramente formulada.

Também a comunidade permaneceu bastante alheia à questão, em função da


eficiente difusão de um imaginário calcado no conceito de desenvolvimento urbano como
simples expansão do tecido da cidade (SOUZA, 2002; SOARES, 1995), somada à falta de
disposição do poder público de enfrentar a deterioração e a perda do acervo histórico ou
mesmo de estimular a preservação do patrimônio por particulares. Desde 1999, a
legislação urbanística municipal traz o instrumento da transferência de potencial
construtivo, de grande utilidade para a preservação do patrimônio, porém nunca posto
em prática. Apenas recentemente o sistema de gestão do patrimônio evoluiu no sentido
de consolidar-se, enfrentando a instabilidade do cenário político local e as resistências
ainda presentes na sociedade, como se procurou mostrar, em todo o Capítulo 3.

Uberlândia passou por uma renovação urbana muito acelerada, desde a década de
1970, em grande parte promovida pelos próprios agentes políticos. Passaram pela
Prefeitura vários empresários bastante atuantes no mercado imobiliário local, conduzindo

131
Trecho citado no Capítulo 1.
132
Trecho citado no Capítulo 1.
187

um processo contínuo e simultâneo de expansão da mancha urbanizada e substituição


dos edifícios históricos por novos, que melhor representassem a imagem de modernidade
que se queria associar à cidade. Como os interesses contrários à causa do patrimônio,
que são de cunho essencialmente econômico e baseiam-se na defesa do direito à
propriedade, provinham das próprias lideranças políticas, sempre tiveram grande apelo na
cidade, mesmo nos períodos em que governos de feições mais progressistas
empreenderam esforços isolados de preservação, conforme exposto no Capítulo 3.

A necessidade de se preservar a memória coletiva, representada por tradições,


costumes, crenças e coisas, cresceu na mesma medida em que a sociedade tornou-se
mais complexa 133 (RODRIGUES, 1998). No estudo de caso efetuado, percebeu-se certa
resistência da sociedade em relação à necessidade de se manterem íntegros os imóveis
históricos, exceção feita aos edifícios públicos, sobre os quais pesava o sentimento de
pertencimento à comunidade. Quanto aos demais, a demanda por preservação, nas raras
oportunidades em que se tornou notória, foi afrontada por diversos argumentos:
contestação de seu valor cultural, incompreensão quanto ao papel de cada edifício no
conjunto urbano, defesa do direito à propriedade, questionamentos sobre a legitimidade
do órgão proponente da tutela, entre outras razões, apresentadas ao longo do texto.

No Brasil, ocorre o mesmo que Choay identifica nos Estados Unidos, “onde a
limitação do uso do patrimônio histórico privado é considerada um atentado contra a
liberdade dos cidadãos”134 (CHOAY, 2001: 17). Parte dos cidadãos de Uberlândia pensa de
forma semelhante, a julgar pela forte repulsa à idéia da preservação, observada em
manifestações de alguns conselheiros do COMPHAC e de cidadãos na imprensa, como
demonstramos no Capítulo 3, especialmente nos itens 3.3 e 3.4. Com isso, pode-se
afirmar que os argumentos contrários à proteção do patrimônio urbano, por pesar apenas
sobre imóveis privados, têm lastro na idéia de livre arbítrio sobre a propriedade,
rechaçando qualquer limitação ao seu usufruto por quem de direito – de acordo com esta
interpretação, apenas o dono. A coisa – portadora de memória e referência coletivas, para
Rodrigues (1998) – transforma-se em coisa passível apenas de avaliação econômica, que
rejeita os atributos destacados acima. O direito ao patrimônio cultural, cujo sujeito é a
coletividade, perde-se, ao tempo em que ganha apoio a defesa intransigente do direito
individual ao patrimônio – outro patrimônio, no primeiro sentido exposto neste texto, de
herança material transmitida entre gerações.

133
Rodrigues (1998: 84) defende que, com o “crescimento da complexidade social (...), a
memória, que antes circulava por meio da palavra e de gestos, passou a ser encontrada apenas
nas coisas”, referindo-se ao patrimônio material (trecho citado no Capítulo 1, sem destaques no
original).
134
Trecho citado no Capítulo 1.
188

Fonseca (2005: 39) identifica o foco da tutela do Estado sobre o patrimônio: os


aspectos sobre os quais há interesse público, como “valores culturais, referências da
nacionalidade”. Analogamente, poderíamos tomar essas referências como representantes
do sentimento comum aos cidadãos de pertencer a um lugar, a uma cidade. Ora, se recai
sobre esses aspectos do bem tombado, mas, para sua preservação, é necessário manter-
se o objeto concreto, essa tutela necessariamente afetará o direito individual à
propriedade. Daí a intensidade dos conflitos decorrentes da ação estatal.

Outra distinção de difícil assimilação pela comunidade uberlandense diz respeito


aos monumentos históricos. Para Choay (2001), apenas os monumentos foram
deliberadamente criados para assumir um valor simbólico. Quanto aos que não o foram,
os monumentos históricos, percebemos que a comunidade uberlandense não compreende
a possibilidade de aquisição desse valor ao longo de sua existência. Constituído “a
posteriori pelos olhares convergentes do historiador e do amante da arte, que o
135
selecionam na massa dos edifícios existentes” (CHOAY, 2001: 25), a compreensão do
monumento histórico requer que, além dos intelectuais e especialistas136, os cidadãos
tenham domínio dos códigos presentes nas áreas do conhecimento envolvidas com a
discussão do patrimônio (FONSECA, 2005). Falta-lhes justamente o domínio de tais
códigos, o que prejudica sobremaneira o esclarecimento da comunidade. Como se trata
ainda de um direito difuso, com sujeito indeterminado e objeto variável e imperfeitamente
definido (FONSECA, 2005), isso explica a dificuldade de compreensão do problema pela
opinião pública. Com esses subsídios, podem ser elencados dois possíveis motivos, que
emergem da leitura de Canclini (1994) e Fonseca (2005), para a raridade das
manifestações populares em defesa do patrimônio, observada em Uberlândia: a falta de
reconhecimento pela comunidade de um patrimônio que deveria, ao contrário, simbolizar
sua coesão; ou o desconhecimento dos conceitos e códigos envolvidos com a questão.
Para que a política de preservação seja mais bem aceita pela comunidade, deve-se buscar
solução para ambos os problemas.

Há falsa noção, corrente entre a comunidade – que transpareceu em reuniões do


COMPHAC, entrevistas com gestores e análise de fontes secundárias – de que a
elegibilidade de um bem cultural é dada pelo critério único da antiguidade. Corolário de
tal impressão, por se tratar de uma cidade jovem, é a opinião, bastante difundida, de que
nada merece ser preservado. Choay (2001) lembra que as políticas de preservação
guardam uma particularidade: a natureza afetiva do objeto patrimonial digno de tutela.

135
Trecho citado no Capítulo 1.
136
Os intelectuais de Fonseca (2005) são atores correspondentes ao historiador e ao amante da
arte de Choay (2001).
189

Sem o suporte da relação afetiva da comunidade com seu patrimônio, é muito difícil que
uma ação estatal de proteção obtenha sucesso. Em Uberlândia, a sociedade local não
percebe que a perda dos referenciais materiais da cidade pode ser insubstituível,
irreparável ou irremediável – adjetivos usados por Choay (2001: 136) para qualificar os
danos e a possível perda de um monumento histórico. Tal percepção empobrecida é
explicável, muitas vezes, porque os objetos ainda não portam o atributo da antigüidade.

Pareceu-nos que o foco do problema está na interpretação do conceito central: o


de patrimônio cultural. Apenas muito recentemente os órgãos gestores locais – Secretaria
de Cultura e Conselho Municipal de Patrimônio Histórico – propuseram-se a abandonar,
além do critério da antiguidade, a compreensão suscitada pelo Decreto-lei 25/ 1937, em
que predominavam a “vinculação a fatos memoráveis” e o “excepcional valor” do bem
(Decreto-lei 25/ 1937, in FONSECA, 2005: 245). Antes de 2002, a única exceção a esse
entendimento havia sido a proposição de tombamento do Mercado Municipal (1988), que
não resultou na proteção do bem, à época, como explicado no Capítulo 3.

Da apreciação do conjunto de imóveis indicados para tombamento pelo COMPHAC


(Tabela 20), nota-se que a noção de “testemunho de uma civilização particular, de uma
evolução significativa ou de um acontecimento histórico” (Carta de Veneza, 1964, in
BRASIL, 2004: 92) ganhou importância, gradativamente. A “proteção dos bens culturais de

valor regional” (Compromisso de Brasília, 1970, in BRASIL, 2004: 137) é um


reconhecimento de que os valores de testemunho e referência assumidos por esses bens
devem ser relativizados – ou seja, os imóveis mais significativos para o município não
necessariamente o são para territórios e comunidades maiores (estado, nação) e, por
isso, devem ser selecionados e preservados pelo próprio município. Como se afirmou no
Capítulo 2, tal compreensão é a base do Programa de municipalização da gestão do
patrimônio cultural mineiro, sem a qual o objetivo de descentralizar a salvaguarda dos
bens culturais não se realiza.

Da mesma Carta de Veneza, a preocupação com a preservação da ambiência em


que o bem está inserido, timidamente presente nas discussões ocorridas em Uberlândia
ainda na década de 1980, é evidente no Inventário de 2004 (VALE et alii, 2004a, 2004b).

Em alguns momentos, percebeu-se que os membros do COMPHAC afligiam-se por


não contar com instrumentos de proteção alternativos ao tombamento. Isso suscitou
discussões sobre o próprio tombamento e instrumentos complementares de preservação,
por conseqüência. No Capítulo 1, mostrou-se a importância de se evitar a destruição dos
objetos, sobretudo após o enfraquecimento da transmissão da memória por meio da
oralidade e da fala (RODRIGUES, 1998). A desarticulação do setor patrimônio e as
190

escassas mobilização e conscientização favoráveis à causa fizeram com que a proteção


legal – a quem acompanha a responsabilização civil – fosse o único meio de se preservar.
Fonseca (2005: 179-180) relata o mesmo da política federal de preservação: “embora (...)
o artigo 216 da Constituição de 1988 indique explicitamente a busca de ‘outras formas de
preservação e acautelamento’, a prática da Sphan em termos de preservação continuou
concentrada nos tombamentos”. Afora o tombamento, outros instrumentos não possuem
a mesma força persuasiva e não evitam situações extremas, como a eliminação dos
objetos da preservação. Portanto, o tombamento, por seu alcance e eficácia jurídica, não
possui substituto.

Ainda que a questão do patrimônio cultural tenha surgido na legislação urbanística


local em 1994 – regulamentada apenas em 1999, pela Lei de uso e ocupação do solo – o
município de Uberlândia não chegou a ter uma política clara, formalmente elaborada, para
a preservação de seu acervo. Observaram-se intenções e ações isoladas, sempre carentes
de maior interesse dos prefeitos em priorizar o tema. Contudo, pode-se afirmar que o
programa estadual ICMS Patrimônio Cultural foi efetivamente capaz de estabelecer uma
agenda para a discussão do tema na cidade, sugerindo um conjunto de ações com maior
abrangência, se comparado com a seqüência anterior de tombamentos. Isso constitui
relativo mérito, a despeito das condições ainda insuficientes para fiscalização e
manutenção do acervo. Portanto, seu impacto mais significativo não foi no aspecto
financeiro, mas na agenda local da preservação do patrimônio, aspecto em que o
programa alcançou seu objetivo.

A seguir, buscaremos classificar a política municipal de preservação, aplicando ao


caso de Uberlândia tanto os quatro modelos das políticas de preservação de Canclini
(1994), quanto a distinção de Fonseca (2005) entre política estatal e política pública,
procurando estabelecer um diálogo entre esses autores, aproveitando suas semelhanças e
analogias possíveis, entre si e com o caso estudado.

Recuperando sinteticamente137 os argumentos do Capítulo 1 (ver item 1.5),


Canclini (1994) separa as políticas de preservação, incluindo referências evolutivas no
tempo, em quatro modelos ou paradigmas: tradicionalista-substancialista,
conservacionista-monumentalista, mercantilista e participacionista. Em comum entre os
dois primeiros modelos, há “o papel de protagonista do Estado na definição e promoção
do patrimônio” (CANCLINI, 1994: 104), além do apreço pelas obras grandiosas do
passado, que o Estado privilegia, exaltando essa característica em suas ações de

137
Os instrumentos conceituais de Canclini (1994) e Fonseca (2005), aqui expostos de maneira
sintética, encontram-se detalhados no Capítulo 1.
191

preservação. Entretanto, a concepção conservacionista-monumentalista destaca-se pela


preocupação com o uso dos edifícios, pois freqüentemente dá a eles uma utilização
institucional, após restaurados, enquanto que os adeptos do paradigma tradicionalista-
substancialista simplesmente “concebem sua conservação independentemente do uso
atual” (CANCLINI, 1994: 103). No modelo mercantilista, a possibilidade de gerar
dividendos para o mercado imobiliário é o principal requisito à realização de qualquer obra
ou programa de recuperação de acervo patrimonial. O Estado, nesse caso, é substituído
pelos próprios empresários, na definição de objetos e áreas passíveis de proteção, de
maneira que as decisões referentes à preservação jamais contrariam seus interesses.
Observado mais recentemente e identificado como tendência atual entre os modelos de
políticas públicas para o patrimônio, o paradigma participacionista subordina às demandas
presentes os demais valores dos bens – simbólico, cultural e mercantil, cada qual
associado a um dos modelos anteriores. À preocupação com os usos sociais do acervo
protegido, soma-se a participação das comunidades envolvidas, com vistas a propiciar
condições para a apropriação coletiva e democrática do patrimônio cultural.

Por sua vez, Fonseca (2005) define três qualidades da política pública, que a
diferenciam essencialmente da política estatal. Ao contrário desta última, uma política
pública deve ser “articulada, inclusive por mecanismos formais, com os interesses
múltiplos da sociedade”, considerando a “abertura à participação social na produção e na
gestão do patrimônio”, elemento analisado em âmbito local no Capítulo 3. Outro ponto
enumerado por Fonseca (2005: 29) diz respeito à dualidade patrimônio cultural oficial
versus diversidade cultural, ou seja, à compreensão de que o patrimônio (corpus
patrimonial), não raro classificado por intelectuais com postos no governo, pode não
refletir em sua plenitude as práticas culturais dos ”grupos formadores da sociedade
brasileira”, para usar a definição constitucional. Por fim, a categoria política pública, na
concepção daquela autora, deve contemplar as “condições de apropriação desse universo
simbólico por parte da população”, o que remete à questão do domínio dos códigos
envolvidos nessa discussão, conforme abordamos anteriormente.

Como se vê, as preocupações apresentadas por Fonseca, ou os atributos que ela


entende suficientes para que uma política de preservação tenha caráter público, são
aquelas que se aproximam do paradigma participacionista de Canclini. Vejamos em que
termos a reflexão desses dois autores encontra aplicações em nosso estudo, na cidade
mineira.

A articulação com os interesses da sociedade, quando ocorre, depende


fundamentalmente de alguma abertura à participação social, como defendem tanto
Canclini (1994) quanto Fonseca (2005). Se tais interesses não estiverem bem
192

representados, a política de preservação fica restrita ao aparato legal e institucional,


insuficiente para dar conta da transformação da realidade. A intenção, por parte do
governo local, de ampliar a tutela estatal, envolver a comunidade e desvincular a agenda
pública dos interesses particulares existiu em intervalos esporádicos, quais sejam, entre
1987 e 1988 e entre 2001 e 2004, consubstanciada pela criação do COMPHAC.

Algumas intervenções em reuniões desse Conselho138, em 2000 e 2005,


mostraram que o posicionamento do Poder Executivo, fora desses períodos, colocava em
dúvida a autonomia do órgão139 e resguardava a “aquiescência dos proprietários” como
critério de priorização na política de preservação, em lugar da atribuição de valor cultural.
Como no governo orientado para o mercado – ponto de convergência entre Przeworsky
(1995) e Vainer (2002), destacado no Capítulo 1 – pode-se falar em controle das decisões
de governo por interesses particulares e, conseqüentemente, na classificação do modelo
mercantilista para o restante do tempo, à exceção dos intervalos citados no último
parágrafo, comprovando-se pelos registros em atas do Conselho. Percebe-se essa
orientação nas duas atas citadas e sua confirmação no interesse da Prefeitura em reabrir
o Conselho, em 2000: a previsão de “recebimento de verbas do estado” de Minas
Gerais140.

Diferentemente, em ambos os mandatos do prefeito Zaire Rezende (1983-1988 e


2001-2004), observou-se maior abertura para a discussão do tema patrimônio, bem como
para a explicitação de conflitos. Isso ficou bastante nítido no recente episódio do Cine
Regente, quando Prefeitura, COMPHAC e Ministério Público Estadual, ao invés de recuar,
assumiram a luta por sua preservação. A polêmica envolveu ainda o Poder Judiciário, que
julga ação contra o proprietário, e estimulou os chamados atores da contra-mobilização
(conceituados no Capítulo 3, nota 46) e outras pessoas a manifestar-se pela imprensa, o
que mostramos no item 3.4.3. Essa abertura para o debate contribui para situar essa fase
da preservação no modelo participacionista (CANCLINI, 1994, conforme dito no Capítulo 3)
e entre as políticas públicas (FONSECA, 2005). Ainda mostrou com clareza que a atuação
da DPH não deixou de ser duramente criticada e contestada pelos proprietários de
imóveis diretamente afetados.

138
As intervenções eram de membros da Secretaria de Cultura e referiam-se a tombamentos de
imóveis privados, os quais, sem a manifesta vontade dos proprietários, possivelmente não
contariam com o apoio do Executivo (ver item 3.3).
139
Conforme atas de reuniões do COMPHAC, citadas no Capítulo 3 (item 3.3): “...o Conselho não é
soberano” (2/8/2000), “o Conselho é um órgão auxiliar, ele [o prefeito Virgílio Galassi (1997-
2000)] não abre mão de que o mesmo esteja vinculado à Secretaria Municipal de Cultura”
(9/8/2000).
140
Ata de reunião do COMPHAC, 14/6/2000, citada no Capítulo 3 (item 3.3).
193

Conforme observado no item 3.3, nos períodos citados, o município buscou ouvir
seu Conselho. No intervalo mais recente, chegou a oficializar o tombamento de alguns
bens indicados pelo órgão, inclusive imóveis privados. Porém, a inclinação aqui destacada
ao conceito de política pública, bem como ao paradigma participacionista, durou pouco
tempo, não adquirindo caráter definitivo. A relação entre o poder público e o fórum
público-privado tem enfatizado um caráter meramente consultivo do COMPHAC, inclusive
por força da legislação do tombamento, que exige a interferência do prefeito141. Nas
condições atuais, a manutenção do Conselho está garantida apenas pela exigência do
programa estadual ICMS Patrimônio Cultural, que motivou também sua reabertura, como
se afirmou anteriormente. A contradição entre os modelos participacionista e mercantilista
nunca foi plenamente superada pelo gestor público. Por não conseguir desvencilhar-se
dos interesses e pressões dos proprietários, o governo de Zaire Rezende deixou de
homologar o único tombamento voluntário solicitado para um imóvel privado, a casa de
D. Adélia França 142, possivelmente por ter-se sensibilizado com argumentos do herdeiro
da proprietária e pelas desgastantes experiências de tombamento compulsório de outros
imóveis particulares, como a residência de D. Albertina Chacur e o Cine Regente.

De resto, em boa parte dos municípios que aderiram ao programa, as instâncias


decisórias mistas foram criadas artificialmente e mal articulam suas ações de proteção aos
interesses contraditórios envolvidos, como mostraram os dados sobre irregularidades nos
conselhos mineiros (Capítulo 2, Gráfico 8) e a análise pormenorizada do COMPHAC (item
3.3). Canclini (1994: 106) ainda lembra que “a participação do público e dos usuários”
não substitui os papéis do Estado e dos intelectuais envolvidos com a preservação e a
“valorização histórica e estética dos bens culturais”. Oferece, em lugar disso, “uma
referência – uma fonte de sentido – com a qual deveriam redefinir-se todas as tarefas
para que se avance na democratização da cultura”. Por esses motivos, uma parte
considerável das políticas municipais estimuladas pelo ICMS Patrimônio Cultural é
esvaziada de sentido. Como apontado no Capítulo 3, a política local de preservação em
Uberlândia, a despeito de esforços pontuais que ampliaram a atuação do município na
preservação de bens culturais, teve seu desempenho e credibilidade minados pela falta de
uma ação mais decidida dos sucessivos governos, bem como por falhas apontadas na
composição e atuação do COMPHAC, como a vedação à participação de alguns membros
e a falta de visibilidade de sua atuação. Além disso, a ausência de uma tradição de

141
Ao contrário do que o IEPHA sugere na Resolução 01/ 2000, a legislação municipal, ao definir
como ato administrativo a inscrição do bem no livro do tombo, não permite que seja feita
diretamente pelo Conselho (ver Capítulo 2, Tabela 8).
142
Conforme Tabela 26 (item 3.5).
194

participação popular nas decisões de governo, o desinteresse e a desinformação por parte


dos próprios conselheiros prejudicaram-no sobremaneira.

Assim, no quesito da participação social, a preservação do patrimônio em


Uberlândia foi irregular no período estudado, predominando a classificação de política
estatal – não claramente formulada mas representada pelo conjunto de ações descrito no
Capítulo 3 – e esporadicamente aproximando-se do conceito de política pública (FONSECA ,
2005) e do paradigma participacionista (CANCLINI, 1994), também em forma incipiente. A
descontinuidade observada no governo local impediu melhores resultados. Os diferentes
graus de orientação democratizante deveram-se mais à postura do governo local em cada
mandato e menos a interferências ou estímulos externos. Referimo-nos, neste último
caso, aos procedimentos sugeridos pelo ICMS Patrimônio Cultural, particularmente os
conselhos deliberativos.

Quanto ao confronto entre a classificação oficial do patrimônio e a diversidade


cultural que ele representa (FONSECA, 2005), alguns tombamentos analisados no Capítulo
3 ilustram bem as nuances variáveis da preservação do patrimônio em Uberlândia,
mostrando que as ações ora apresentavam atributos próprios de política pública, ora não,
além de oscilar entre os diferentes modelos de Canclini (1994). Como se fala em um
patrimônio escolhido, ou seja, na possibilidade de diversificá-lo e compará-lo com a
diversidade presente na sociedade, a análise da orientação conceitual assumida por
alguns tombamentos, dentre os citados no Capítulo 3, é elucidativa. No período estudado,
coexistiram orientações conceituais e motivações divergentes, na seleção do patrimônio
em relação aos grupos sociais interessados. Os critérios dessa seleção, como vimos no
Capítulo 1, são determinantes quanto ao grau de representatividade do corpus
patrimonial, frente à diversidade social e cultural envolvida.

Nos exemplos dos tombamentos das Igrejas Nossa Senhora do Rosário (Fundinho,
1985) e Divino Espírito Santo (1997), embora apenas a primeira tivesse a justificativa da
antigüidade, há uma motivação em comum para ambas as inscrições no livro: a condição
de referência cultural que esses templos assumiram, ainda que em tempos diferentes e às
vezes finitos, para a população mais pobre e excluída, quais sejam, negros e
trabalhadores. Mesmo que os grupos sociais envolvidos tenham sido diferentes – negros
engajados numa manifestação cultural bastante representativa localmente, no primeiro
caso; população pobre, moradora da periferia urbana, no segundo – em ambos os
episódios se reconhece maior flexibilidade dos critérios de classificação do patrimônio,
considerando as classes menos favorecidas, não dominantes. Este é um requisito
195

fundamental para Canclini, nas políticas de corte participacionista, o que se comprova, por
analogia 143, com o que o autor concluiu para o caso mexicano:

Um patrimônio reformulado que considere seus usos sociais (...)


interessa aos funcionários e profissionais ocupados em construir o
presente, aos indígenas, camponeses, migrantes e a todos os
setores cuja identidade costuma ser depreciada pelos usos
hegemônicos da cultura. (CANCLINI, 1994: 113-114, sem
destaques no original)
Dialogando com Canclini e Fonseca, embora os tombamentos tenham resultado mais
diretamente da ação de funcionários públicos, vereadores e intelectuais (arquitetos,
artistas etc.) do que de mobilização popular, nota-se que estes procuraram privilegiar as
condições de apropriação dos bens, respeitando a diversidade cultural presente na cidade
e buscando contribuir para a formação de um corpus patrimonial igualmente plural.

Mesmo a proposição de tombamento parcial do Cine Regente, a despeito dos


fortes interesses contrariados e do apoio recebido pelo proprietário, inclusive de cidadãos
que não o conheciam, pode ser considerada uma resposta às demandas mais recentes da
preservação. Na medida em que se pretendia permitir a convivência entre o novo edifício
de apartamentos a ser construído e o antigo foyer do cinema, o que se buscava era a
conciliação de interesses econômicos e culturais, inclusive atendendo mais fortemente
àqueles. Bastava para tanto que o projeto arquitetônico acolhesse a presença do
testemunho histórico, como constava de sugestão de volumetria apresentada no dossiê
de tombamento do imóvel, cuja preocupação era a utilização atualmente necessária, com
uma leitura contemporânea do patrimônio – característica do paradigma participacionista
de Canclini (1994). Seria o exemplo pioneiro, não de recuperação de imóvel histórico para
um uso contemporâneo144, mas de proteção apenas parcial, com aproveitamento da
maior parte do terreno para os propósitos iniciais do empreendedor.

Por outro lado, embora seu valor de marco urbano seja inquestionável, estando
entre os exemplares mais significativos da cidade, o tombamento da Câmara Municipal
(atual Museu Municipal) é um dos exemplos de preservação de edifícios cuja referência
remete-nos às classes política e economicamente dominantes, como nos lembram Vale et
alii (2004a: 63): “A obra de maior importância do início do Século XX, certamente, foi a
construção da Câmara Municipal (...). Esse edifício expressava a importância que suas

143
A analogia a ser feita é entre os setores marginalizados da sociedade mexicana, enumerados
por Canclini, e os de Uberlândia, para quem essas duas igrejas, de uma ou outra forma,
constituem referência cultural.
144
No Fundinho há alguns exemplos de recuperação de imóveis históricos incluindo adaptação
para usos contemporâneos, mostrados no Capítulo 3 (item 3.4).
196

lideranças políticas buscavam para a municipalidade”145. Suas feições arquitetônicas


também não deixam dúvidas acerca da motivação representada pelo excepcional valor
artístico do bem, atributo que apenas os imóveis pertencentes à aristocracia local eram
capazes de portar. Juntamente com a Oficina Cultural e a Casa da Cultura – todos
tombados em 1985, como relatamos no Capítulo 3 – essa obra é representativa daquela
fase em que os tombamentos tinham como critério quase exclusivo o valor artístico,
fundamentando-se conceitualmente no Decreto-lei 25/ 1937, o que, por conseqüência,
limitava a diversidade cultural envolvida.

No Capítulo 1, Canclini (1994) acusa que o Estado, quando orientado pelo modelo
conservacionista-monumentalista, “...’reinaugura’ os monumentos, depois de restaurá-los,
usando-os, na forma mais plena da apropriação, como sede física de um organismo
oficial.” (CANCLINI, 1994: 104, grifado no original). Pela preocupação que tiveram em
garantir usos, todos eles institucionais146, para os edifícios protegidos, os tombamentos da
Câmara Municipal, da Oficina Cultural e da Casa da Cultura classificam-se nesse
paradigma (CANCLINI, 1994).

Finalmente, ainda na classificação assumida por Fonseca (1995), considerando as


“condições de apropriação desse universo simbólico por parte da população”, já neste
capítulo afirmou-se que essas condições requerem domínio dos códigos envolvidos nessa
discussão, dialogando com a distinção entre monumento e monumento histórico. Havia
sido constatado que a comunidade uberlandense é pouco esclarecida a respeito desses
códigos, o que acarreta dificuldade na compreensão do problema pela opinião pública,
como se viu em recentes manifestações na imprensa local (item 3.4). Portanto, o domínio
das informações necessárias à compreensão da questão do patrimônio, condição para a
“apropriação desse universo simbólico” pela população, ainda é insuficiente em
Uberlândia, onde ainda se entende o valor simbólico dos bens culturais diretamente ligado
ao seu valor de antigüidade.

145
Trecho citado no Capítulo 3.
146
Conforme informado no Capítulo 3, a Câmara Municipal, quando perdeu esse uso, foi adaptada
para ser a sede do Museu Municipal; a Oficina Cultural, anteriormente pertencente à CEMIG,
transformou-se em centro cultural público, assim que foi adquirida pela Prefeitura, em 1995, e a
Casa da Cultura, quando tombada, havia acabado de ser cedida ao município, que instalou ali a
recém-criada Secretaria de Cultura.
Capítulo 4
Considerações finais
198

Este capítulo traz considerações e recomendações para o equacionamento de


dificuldades de caráter gerencial e urbanístico, encontrados na gestão estadual e
municipal do patrimônio em Uberlândia, fundamentadas na pesquisa e na análise
realizadas. A intenção é contribuir propositivamente para o debate acerca de uma política
pública de preservação do patrimônio para a cidade, articulando-a com as políticas
cultural e de desenvolvimento territorial urbano do município. As propostas, enumeradas
no item 4.1, referem-se aos seguintes assuntos: a) aperfeiçoamento do programa
estadual ICMS Patrimônio Cultural; b) instrumentos relacionados ao Plano Diretor, ora em
processo de revisão; c) outros incentivos municipais; d) apontamentos para educação
patrimonial e preservação do patrimônio imaterial; e) sugestões para pesquisadores do
tema, na região e no estado de Minas Gerais, e para a parcela da sociedade uberlandense
organizada em torno da luta pela preservação.

Alertamos, todavia, que estas propostas não têm a pretensão de esgotar a


temática, tendo em vista que algumas das fontes citadas neste trabalho já apresentaram
a sua leitura do assunto147. Recomendações sobre projetos arquitetônicos e desenho
urbano no Fundinho, sugestões de alteração de índices urbanísticos de ocupação do solo
(coeficiente de aproveitamento, taxa de ocupação, afastamentos etc.), restrições ao
remembramento de lotes, completo inventariamento e indicação de imóveis para diversas
formas de preservação encontram-se em Vale et alii (2004b), como se disse no Capítulo
3. A elas se soma esta contribuição, sem intenção de sobrepor ou repetir aquele trabalho
recente de diagnóstico e proposições.

Antes de passar às indicações para a preservação do patrimônio, deve-se


reconhecer as limitações e dificuldades que a pesquisa encontrou para ser realizada.
Esses obstáculos incluíram acesso a dados, indicadores de resultados da aplicação dos
recursos e documentação disponível. A descontinuidade das ações relacionadas à
preservação do patrimônio e a pouca atenção dada ao tema, em boa parte do período
estudado, foram algumas das causas do problema.

A falta de sistematização dos dados e indicadores prejudica principalmente a


própria proteção do patrimônio tombado, mas não se restringe a isso. A desorganização
causa prejuízos também aos sucessivos gestores públicos – resultado da descontinuidade
administrativa – e aos pesquisadores da questão. Ambos têm interesse em que a
Prefeitura conserve em seus arquivos os documentos que relatam o processo. Isso deixou

147
Entre as mais recentes, destacam-se Attux (2001) e Vale et alii (2004a, 2004b), com profícua
contribuição para a preservação do patrimônio existente no Fundinho.
199

de ser observado pelos órgãos de preservação – tanto a Divisão de Patrimônio Histórico


quanto o Conselho – por exemplo, na falta de cópias do material encaminhado
anualmente ao IEPHA e no desaparecimento das atas do COMPHAC. O município apenas
recentemente passou a contar com registros referentes aos bens com interesse de
preservação, finalmente inventariados, o que garante, em relação àqueles que sejam
demolidos no futuro, fontes mínimas de informação histórica e iconográfica para os
pesquisadores e interessados.

A fim de contornar tais problemas, realizaram-se entrevistas com alguns atores


relevantes, cuja intenção foi provocá-los a descrever o contexto em que ocorreram
avanços e recuos previamente identificados. Também nessa busca foram observadas
dificuldades, pois alguns dos interlocutores alegaram não ter contribuições a dar, por
causa do longo tempo passado desde os fatos que se pretendia rememorar.

Com a falta de oportunidades para a conscientização da população acerca do


ideário da preservação, como se viu no capítulo 3, a procura por indicadores de
resultados da política de preservação do patrimônio, que deveria ter-se desenvolvido
desde a criação da Secretaria de Cultura (1984) e a promulgação da Lei municipal de
patrimônio histórico (1985), resultou numa alteração de rumo da pesquisa. Na ausência
de uma política pública formalmente elaborada, conclusão apresentada neste capítulo, a
pesquisa dispôs-se a esboçar os motivos que levaram a essa negligência em relação ao
tema. Ainda que esse objetivo não constasse do projeto de pesquisa inicial, as
circunstâncias nos levaram ao resultado que ora apresentamos.

Para tanto, nos momentos mais importantes e representativos, julgou-se


pertinente a pesquisa em jornais diários (matérias jornalísticas e cartas), além de fontes
secundárias. Destas, obtivemos informações e dados que se encontravam esparsos na
bibliografia, dentre diversos temas que estiveram sob o foco dos pesquisadores,
principalmente da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). As pesquisas encontradas, a
maioria de autoria de docentes daquela instituição pública, freqüentemente tangenciavam
a questão do patrimônio cultural – como em Silva (1992), Soares (1995), Ramires (1998)
e Temer (2001), entre as publicações consultadas para esta dissertação. No período mais
recente, surgiram pesquisas específicas sobre o patrimônio cultural de Uberlândia, como
Attux (2001), utilizada neste trabalho, e Silveira148.

Espera-se que esta dissertação seja compreendida como fruto de um esforço de


análise que, a partir das ações da gestão local, mostre como os diversos conceitos de

148
SILVEIRA, Rosana de Ávila Melo. Percepção do patrimônio de Uberlândia: estudo da paisagem
vivida. Uberlândia: IG/ UFU, 2003.
200

patrimônio cultural – resultantes de evolução no tempo e conseqüente alargamento do


conjunto de objetos elegíveis – foram apropriados por essa gestão, contribuindo para
formar algum interesse pela preservação dos testemunhos materiais de uma cidade nova
como Uberlândia.
201

4.1. Indicações em prol da preservação do patrimônio cultural de Uberlândia


Com vistas ao aperfeiçoamento dos mecanismos de preservação, contidos no
ICMS Patrimônio Cultural e na legislação urbanística municipal – à luz do exposto no
Capítulo 2, confrontado com a experiência local (Capítulo 3) – algumas medidas, que
sugerimos abaixo, são passíveis de implementação.

No programa ICMS Patrimônio Cultural, em seu item investimentos – do atributo


bens tombados e com interesse de preservação – propõe-se restringir os tipos de
investimentos admitidos, ampliando sua proporção na pontuação do município, a fim de
focalizar a recuperação e a conservação do patrimônio cultural material e dar maior
atenção também à preservação do patrimônio imaterial, em detrimento de ações como
festas, espetáculos e eventos, periódicos ou não. Tais gastos são admitidos atualmente
para pontuação, ainda que sua proporção tenha diminuído. Sugere-se concentrar em
ações mais duradouras, como recuperação de bens tombados ou inventariados, estudos
referentes ao registro de bens imateriais, entre outros.

Sobre os mecanismos de aferição dos investimentos efetuados, algumas distorções


requerem aperfeiçoamento, como a ausência de um limite mínimo para os gastos com
recuperação de edifícios tombados e a rigidez dos critérios para validação de tais valores.
O primeiro problema detectado é a valorização idêntica, na pontuação, para qualquer
investimento, da pintura à completa prospecção e restauração de edifícios inteiros. O
segundo, a concentração em aquisição de material de construção, em detrimento da
contratação de projetos arquitetônicos, por exemplo. A rigidez do orçamento público,
dividindo os recursos em categorias, tem prejudicado a efetiva preservação dos bens
culturais, tratando de forma injusta alguns municípios preocupados com o tema.

Detectou-se ainda que a maior parte dos pontos que formam o Índice de
Patrimônio Cultural (PPC, Tabela 5, no Capítulo 2) concentra-se em tombamentos,
enquanto outras ações de preservação e acautelamento participam apenas do atributo
planejamento e política municipal de proteção do patrimônio (PCL), cujo limite máximo é
de três pontos, permitindo o crescimento dessa pontuação apenas com o aumento do
número de bens tombados. Isso vai de encontro à recomendação de diversificar os
instrumentos de salvaguarda, em face do privilégio dado aos tombamentos – que podem
chegar a 16 pontos ou mais, somados os itens que forem objeto dessa proteção em
âmbito municipal, estadual ou federal – no cálculo do referido índice.

A elaboração de inventários, requisito inicial para a política de preservação do


patrimônio, encontra-se subvalorizada pelos critérios atuais, desestimulando os municípios
202

a executá-los. Deve-se perceber que ações mais complexas, como neste caso, merecem
ser estimuladas proporcionalmente.

Ademais, da maneira como se encontra, ainda que o município empreenda ações


de conservação do acervo tombado e investimentos diversos na política cultural, tais
iniciativas apenas garantem a manutenção de sua pontuação – conseqüentemente de
seus recursos financeiros – não alcançando o aumento do repasse estadual, resultado
desejado pelos municípios. Por essas razões, sugere-se diminuir o peso dos tombamentos
no Índice de Patrimônio Cultural (ou simplesmente pontuação, como se tratou no Capítulo
2), de modo a estimular efetivamente “outras formas de acautelamento e preservação”,
conforme consta na Constituição Federal (art. 216, § 1º).

Considerando os problemas de funcionamento dos conselhos municipais de


patrimônio cultural, apontados ao final do Capítulo 2 e confirmados em relação ao
COMPHAC em Uberlândia (Capítulo 3, item 3.3), alternativas devem ser encontradas para
a exigência de conselhos deliberativos, que incluem a atribuição de inscrever imóveis no
livro do tombo. A experiência de Uberlândia mostrou que o papel do órgão não é
efetivamente deliberativo, requerendo articulação mais eficiente entre o colegiado e o
poder público. Evidências disso foram as inúmeras contestações ao trabalho do Conselho
e à validade jurídica dos tombamentos por ele indicados – algo que a Lei Municipal 4.240/
1985 resguarda ao prefeito – além do tempo investido na alteração do Estatuto, para
contemplar o caráter deliberativo, quando seria necessária e mais eficaz uma mudança na
Lei municipal de patrimônio histórico. Entendeu-se, a partir dos resultados encontrados,
que a exigência desse papel deliberativo não é o problema central a ser corrigido, e sim
sua composição e, pragmaticamente, sua articulação com a política cultural do município.

A legislação urbanística compatível com a preservação é apenas pré-requisito e


ferramenta para a ação em prol do patrimônio, vinculada ao sistema de planejamento
territorial urbano dos municípios. A implementação de diretrizes e instrumentos
urbanísticos compatíveis com a preservação, decorrência esperada dos planos diretores,
não tem ocorrido, nem conta com o devido estímulo do programa ICMS Patrimônio
Cultural. A excessiva concentração do Índice de Patrimônio Cultural (PPC) nos
tombamentos parece – repetimos – incoerente com a diretriz de diversificação das ações
de preservação.

Em relação à transferência de potencial construtivo, assunto que merece maior


atenção na revisão em curso do Plano Diretor de 1994, sugerem-se duas possibilidades de
se tratar o instrumento, de modo a tornar-se mais atrativo para os empreendedores e,
conseqüentemente, mais difundido como alternativa para os proprietários refratários à
203

idéia do tombamento. Acredita-se que a possibilidade não tenha sido praticada, em que
pese datar de 2000 a atual legislação de ocupação do solo (Lei Complementar 245/
2000), porque surge sem nenhum destaque e pouca clareza nessa lei, além da
insuficiente divulgação do instrumento. As sugestões abaixo caberiam, pois, tanto na
revisão do Plano Diretor, que está em curso neste ano de 2006, quanto na lei específica
que regulamentasse a transferência de potencial construtivo, ainda não formulada.

A primeira proposta consiste em se criar um “banco de potencial construtivo”, ou


seja, um mapeamento das áreas disponíveis na cidade, tanto para cessão quanto para
recepção desse potencial, identificadas no próprio Plano Diretor, de maneira mais clara do
que atualmente. O Plano Diretor vigente (Lei Complementar 78/ 1994) trata o Fundinho
(zona especial de revitalização) como área cedente de potencial construtivo e as zonas
estruturais, regiões menos adensadas que o Centro e mais que o restante da cidade,
como receptoras, sem outras possibilidades. Nos casos em que houvesse interesse
público na preservação, como ocorre com edifícios tombados, a transferência deveria ser
possível para lotes cedentes situados fora da zona especial de revitalização, uma vez que
eventuais impactos negativos da alteração de potencial construtivo somente são
detectados nos lotes receptores, cuja ocupação se adensa com o instrumento.

Além disso, a existência das áreas destinadas à transferência de potencial


construtivo não se expressa com suficiente clareza no Plano Diretor, prejudicando a
compreensão do funcionamento do instrumento por potenciais interessados. Constando
do Plano Diretor, as transações comerciais envolvendo potencial construtivo, um direito
virtual com influência crucial no preço da terra urbana, ganhariam em transparência, além
de institucionalizar-se como negócio para o mercado imobiliário. A principal precaução a
ser tomada seria a definição, na revisão do Plano Diretor, de áreas cedentes e receptoras
do potencial construtivo, numa perspectiva mais generosa que a atual e garantido o
interesse público na preservação, no que tange àquelas que doam índices, e considerada
a capacidade de infra-estrutura, no caso das receptoras. A zona especial de revitalização,
por exemplo, permaneceria exclusivamente cedente de potencial, obedecidos os critérios
enumerados, mas essa condição poderia estender-se a outras áreas e imóveis com
interesse de preservação na cidade.

A segunda proposta é a previsão de transmissão de potencial construtivo em


quantidade maior do que o índice original do lote cedente, obedecendo a um limite
máximo previsto no Plano Diretor. Tal proposta justifica-se plenamente pela existência de
interesse público na preservação – sobretudo para áreas indicadas no Plano, mas não
apenas nesse caso – e constituiria um estímulo efetivo à utilização do instrumento,
tornando-o atrativo para o mercado imobiliário. Vedada a recepção de potencial
204

construtivo na zona especial de revitalização, para as demais regiões receptoras a


majoração eventual da densidade ocupada em alguns lotes, desde que respeitada a
capacidade de infra-estrutura em cada área, significaria um impacto contornável, em
função do benefício trazido pela preservação de áreas previamente identificadas e imóveis
possivelmente tombados na cidade. Provém daí a justificativa de se disseminar mais a
possibilidade de cessão de potencial construtivo.

Acredita-se que as duas medidas, articuladas, tornariam esse instrumento


urbanístico, previsto no Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/ 2001) e no Plano Diretor
vigente (1994), efetivamente viável. Na segunda proposta, o “bônus de potencial
construtivo” – poderia chamar-se assim – seria um argumento entre as opções de demolir
o imóvel, aproveitando atributos como a localização privilegiada, e mantê-lo,
compensando o empreendedor com maior lucratividade na área receptora do potencial
transferido. Atrativa e lucrativa, a transferência de potencial construtivo tornar-se-ia
preferível à demolição, podendo ocorrer inclusive no mesmo lote, desde que fora do
Fundinho, em casos de tombamento parcial como o do Cine Regente.

A aplicação do instrumento da transferência de potencial, somado ao bônus


sugerido no parágrafo acima, deve basear-se no limite admitido para outro instrumento, o
solo criado – ou outorga onerosa de potencial construtivo – igual a 20% do potencial
originalmente atribuído ao lote (Plano Diretor, 1994, art. 20, § 2º). Essa limitação visa a
promover a utilização coerente desses dois instrumentos correlacionados, produzindo
efeitos equivalentes à aplicação do solo criado, mas abrindo mão da receita a ser
arrecadada pelo município, nos casos em que haja interesse público na preservação de
imóveis. A diferença entre essa proposta e a lei atual seria a possibilidade de alienar
potencial construtivo a mais, em relação ao índice original, fazendo com que o
proprietário lucre mais com essa transação do que com a substituição da edificação
existente em seu lote.

Outro instrumento ao alcance do município, cuja apreciação também conviria no


âmbito da revisão do Plano Diretor, seria a isenção de impostos municipais para a
instalação de atividades de comércio e serviços em bens tombados e inventariados. Tal
recomendação inspira-se na isenção de IPTU, já aplicável a imóveis de uso residencial,
mas avançaria em relação àquela, atingindo outros usos, com descontos no imposto
sobre serviços (ISSQN) para aqueles que se instalassem nesses imóveis, mantendo-os
conservados. A extensão a imóveis inventariados aproveitaria o minucioso trabalho de
identificação desses bens, recentemente efetuado pela Prefeitura, com intenção de
estimular a conservação de imóveis igualmente interessantes, antes mesmo que a medida
do tombamento fosse viabilizada. Abrangendo imóveis ocupados por inquilinos e não
205

necessariamente tombados – mas inventariados e classificados para o fim desta isenção –


tal benefício prescindiria da ação direta dos proprietários, contornando sua resistência ao
tombamento e sua negligência com a manutenção dos imóveis, estimulando ainda o
mercado de aluguéis nos imóveis mais representativos do município.

Para imóveis que, “embora portadores de valor histórico e documental, não


implicam em sua preservação material em função de características próprias ou por se
constituírem em contribuições menos significativas para a preservação ambiental” (VALE
et alii, 2004b: 17) – portanto não passíveis de tombamento parcial ou integral – propõe-
se o registro histórico documental, modalidade utilizada à larga em Belo Horizonte,
aproveitada também por Vale et alii no capítulo propositivo daquele trabalho. Consiste em
documentação do imóvel previamente identificado, contendo histórico e registro
fotográfico completos, com algumas exigências a mais para “imóveis que são ou já foram
de uso coletivo (bares, teatros, cinemas, escolas, casas comerciais e industriais, galerias
de arte, por exemplo)” (BELO HORIZONTE, s.n.t.). O histórico do imóvel relacionado com a
ocupação do bairro em que se encontra; informações sobre seus moradores, usualmente
coletadas por meio de entrevistas; material sobre o funcionamento de imóveis que têm ou
tiveram uso coletivo, como “cartazes, programação, propagandas, fotos antigas, artigos
de jornais e revistas” etc., são alguns itens interessantes para a confecção de um dossiê
sobre o imóvel, que depois disso poderia ser demolido, desde que não indicado para
tombamento (BELO HORIZONTE, s.n.t.). Em Uberlândia, sugere-se aplicar esse roteiro em
imóveis indicados para este fim nos inventários149, enviando os dossiês ao Arquivo Público
Municipal – órgão sob responsabilidade da Divisão de Memória e Patrimônio Histórico
(DPH) – para que se tornem fontes de pesquisa, futuramente. Vale lembrar que o registro
histórico documental, uma vez que não impede a demolição de bens, não substitui a
necessidade de tombamento parcial ou integral, em alguns casos, devendo ser usado com
parcimônia, baseado em prévia e cuidadosa identificação. Conforme descrito
anteriormente, o registro histórico documental é mais completo que o inventário, portanto
deve ser efetuado em complementação a este, obrigatoriamente quando da demolição ou
reforma do imóvel, às custas do proprietário interessado nessas intervenções.

Um problema detectado150 na emissão de alvarás de construção pela


administração municipal – resultante de desarticulação entre o sistema de aprovação de

149
Desde 2002, como se viu no Capítulo 3, a Prefeitura tem inventariado imóveis em todo o
município, e não apenas no Fundinho e no Centro, os quais indicam o tipo de proteção adequada –
se registro, tombamento parcial ou integral.
150
O imóvel situado na rua Bernardo Guimarães 525 (Fundinho), mostrado nas Figuras 88 e 89, foi
descaracterizado em reforma autorizada pela Prefeitura, num caso em que a informação sobre o
interesse de preservação não constava da restrição urbanística (ver nota a seguir).
206

projetos e obras da Prefeitura, a cargo da Secretaria de Planejamento Urbano e Meio


Ambiente, e a gestão do patrimônio, efetuada pela Secretaria de Cultura – resolver-se-ia
facilmente com a inclusão, na restrição urbanística151 dos imóveis, de informações sobre
sua situação em relação ao patrimônio cultural do município. Isso equivale a apontar, nas
restrições urbanísticas referentes a bens inventariados, o grau de restrição a que está
sujeito – registro histórico-documental, tombamento parcial ou integral – conforme a
proteção sugerida pelo inventário. Avisado por este documento prévio, o interessado
obriga-se a submeter o projeto de construção, reforma ou demolição ao órgão gestor do
patrimônio, prevenindo danos a esses imóveis e orientando cada caso de intervenção
sobre eles. Como a identificação dos imóveis e dos respectivos graus de proteção já foi
feita no Inventário (VALE et alii, 2004a, 2004b), bastaria incluir essa informação no
sistema informatizado de emissão de restrições urbanísticas, como já fazem outros
municípios, para que aquele diagnóstico começasse a produzir efeitos imediatamente.

No quesito da preservação do patrimônio imaterial, cujo exemplo principal é a


manifestação religiosa do Congado, os instrumentos existentes devem ser mais bem
articulados, considerando que se trata de uma festa de caráter urbano, que ocupa lugares
definidos na cidade. Retomando a sugestão dada na nota de rodapé 75 (item 3.1), a
Praça Rui Barbosa, onde ocorre o clímax da festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário
e São Benedito, deve ser objeto de inscrição no Livro de Registro dos Lugares152,
alternativa ao seu tombamento, uma vez que o referido instrumento, existente para o
edifício da Igreja, não abrange a preservação da manifestação cultural que ali tem lugar.
Em contrapartida, o Livro dos Lugares tem sua dimensão material, associando a
festividade anual com o ambiente onde ela acontece.

Ações de educação patrimonial, apenas esboçadas esporadicamente no período


estudado, poderiam iniciar-se com projetos-piloto em duas escolas estaduais que ocupam
edifícios tombados ou de interesse de preservação – E. E. Uberlândia e Enéas de Oliveira
Guimarães, ambas no Fundinho, nas praças Adolfo Fonseca e Doutor Duarte,
respectivamente (Figuras 71, exibida anteriormente, e 97). Os ambientes desses imóveis,

151
De acordo com o Código de obras do município, “a Prefeitura Municipal informará, mediante
solicitação, sobre restrições urbanísticas que incidam sobre o imóvel” (Lei Municipal 4.808/ 1988,
art. 15, sem destaques no original). Nome popular atribuído à resposta a essa solicitação, restrição
urbanística é o documento que, solicitado à administração municipal previamente à aprovação de
um projeto de construção, reforma ou demolição, informa sobre as restrições impostas ao imóvel
pela Lei de uso e ocupação do solo (Lei Complementar 245/ 2000) e outras implicações, como a
previsão de reserva de áreas para ampliação do sistema viário, por exemplo.
152
Conforme Decreto 3.551/ 2000, que “institui o registro de bens culturais de natureza imaterial”,
extraído de FONSECA, 2005: 289.
207

exemplos de bens com uso social e freqüentados cotidianamente pelos estudantes,


estimulariam sua sensibilização para a questão do patrimônio.

Em relação à produção de conhecimento no tema patrimônio cultural, o município


já se encontra aparelhado para tal, pois conta com cursos de mestrado e doutorado como
os do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia
(UFU). Sugere-se que esse programa torne sua linha de pesquisa sobre análise,
planejamento e gestão dos espaços urbano e rural mais permeável aos pesquisadores do
patrimônio cultural local, diversificando sua grade curricular e credenciando como
orientadores alguns professores de outros programas e especialidades. A ousadia desta
proposta justifica-se pela abrangência da linha de pesquisa e do campo de investigação
da Geografia, além da inserção regional daqueles cursos e de sua interface com a
Arquitetura e o Urbanismo.

Diante das lacunas deixadas por este estudo, sugere-se o programa ICMS
Patrimônio Cultural como tema para pesquisas que apontem em que localidades o
programa gerou mais impactos positivos, a fim de extrair dessas experiências as
respostas não encontradas na especificidade desta dissertação. Outros olhares sobre o
programa seriam bem vindos, pois seu caráter inovador é inegável e suas possibilidades
de disseminar a cultura da preservação do patrimônio no território mineiro, grandes, em
que pese a necessidade de revisão de alguns critérios, demasiadamente rígidos na origem
– as leis estaduais que o criaram – como procuramos apontar neste capítulo.

Quanto à participação de atores da sociedade local, como entidades, movimentos,


associações, organizações não-governamentais etc., é imprescindível a mobilização
desses segmentos, com vistas a participar ativamente, construindo e pactuando propostas
na revisão do Plano Diretor, cujo processo em curso não tem contemplado
satisfatoriamente essa participação, na opinião de alguns cidadãos153. Avanços já
alcançados pelo Plano de 1994, mas não implementados nos doze anos que o separam do
presente, apontados neste capítulo, como a transferência de potencial construtivo,
merecem um debate mais amplo, que mostre os possíveis impactos positivos
provenientes da aplicação desse instrumento, na lógica da política urbana construída
coletivamente no Plano Diretor.

153
O Instituto Cidade Futura, organização não-governamental ligada às questões urbanas, recusou
o convite da Prefeitura para compor o Núcleo Gestor do Plano Diretor, apontando, entre outras
razões, “ausência de discussão e redução do tempo necessário para o debate democrático para
leitura da cidade” e acusando que o Plano “será elaborado sem a efetiva participação da
população” e que “a Comissão de Acompanhamento não representa a maioria da população”
(Ofício nº 003/ ICF/ 2006, 23/1/2006, em resposta à Secretaria de Planejamento Urbano e Meio
Ambiente).
208

Figura 97 – Escola Estadual Enéas de Oliveira Guimarães, imóvel indicado para


tombamento integral no Inventário do Fundinho (Vale et alii,
2004b) (abril de 2004)
Fotografia do autor
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VALE, Marília Maria Brasileiro Teixeira et alii. Fundinho: um bairro histórico para
Uberlândia; Inventário e diretrizes especiais de uso e ocupação do solo. Uberlândia:
Prefeitura Municipal/ UFU, 2004b. Parte II: Prognóstico e proposição de diretrizes
especiais, p. 1-55. (CD)
214

Referências legislativas

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (Constituição Federal,


1988). Brasília: s.n.t. Disponível na internet: <http://www.senado.gov.br/>
BRASIL. Decreto-lei n. 25 – 30 nov. 1937. Organiza a proteção do patrimônio histórico e
artístico nacional. In: FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo:
trajetória da política federal de preservação no Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ/
MinC/ IPHAN, 2005.
BRASIL. Decreto n. 3.551 – 04 ago. 2000. Institui o registro de bens culturais de natureza
imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro, cria o programa nacional do
patrimônio imaterial e dá outras providências. In: FONSECA, Maria Cecília Londres. O
patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação no Brasil. 2 ed.
Rio de Janeiro: Ed. UFRJ/ MinC/ IPHAN, 2005.
MINAS GERAIS. Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico. Conselho Curador.
Deliberação n. 1 – 11 jan. 2002. Belo Horizonte: IEPHA-MG, 2002. In: PEREIRA, Márcia
Custódia. Patrimônio histórico-cultural e gestão urbana: os casos de Ouro Preto e
Itaúna. Belo Horizonte: PUC-Minas, 2003. 129 p. (Dissertação, Mestrado em Ciências
Sociais – Gestão das Cidades)
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Deliberação n. 2 – 27 ago. 2002. Deliberação normativa do Conselho Curador do
IEPHA/MG para o exercício de 2004 e 2005. Belo Horizonte: IEPHA-MG, 2002. Disponível
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Deliberação n. 1 – 20 dez. 2004. Revisão aprovada pelo Conselho Curador do IEPHA/MG
em 20 de dezembro de 2004. Belo Horizonte: IEPHA-MG, 2004. Disponível na internet:
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Resolução n. 1 – 18 fev. 1997. Belo Horizonte: IEPHA-MG, 1997.
MINAS GERAIS. Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico. Conselho Curador.
Resolução n. 1 – 13 mai. 2000. Belo Horizonte: IEPHA-MG, 2000. In: MINAS GERAIS.
Secretaria de Estado da Cultura. Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico.
Diretrizes para a proteção do patrimônio cultural. [online]. Belo Horizonte: s.n.t.
Disponível na internet: <http://www.ipac.iepha.mg.gov.br/>
MINAS GERAIS. Lei n. 5.775 – 30 set. 1971. Autoriza o Poder Executivo a instituir, sob
forma de Fundação, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA/MG) e
dá outras providências. Belo Horizonte: s.n.t. Disponível na internet:
<http://www.almg.gov.br/>
MINAS GERAIS. Lei n. 12.040 – 28 dez. 1995. Dispõe sobre a distribuição da parcela da
receita do produto da arrecadação do ICMS pertencente aos municípios, de que trata o
inciso II do parágrafo único do artigo 158 da Constituição Federal, e dá outras
providências. Belo Horizonte: s.n.t. Disponível na internet: <http://www.almg.gov.br/>
MINAS GERAIS. Lei n. 13.803 – 27 dez. 2000. Dispõe sobre a distribuição da parcela da
receita do produto da arrecadação do ICMS pertencente aos municípios. Belo Horizonte:
s.n.t. Disponível na internet: <http://www.almg.gov.br/>
215

UBERLÂNDIA. Decreto n. 3.506 – 31 mar. 1987. Dispõe sobre a criação do Conselho


Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Uberlândia – COMPHAC e dá
outras providências.
UBERLÂNDIA. Decreto n. 3.545 – 17 ago. 2001. Aprova o novo Estatuto do Conselho
Municipal do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Cultural de Uberlândia –
COMPHAC e revoga os Decretos n. 3.506 de 31 de março de 1987 e 4.000 de 7 de
outubro de 1988.
UBERLÂNDIA. Decreto n. 3.999 – 07 out. 1988. Modifica o Decreto n. 3.506, de 31 de
março de 1987, que dispõe sobre a criação do COMPHAC – Conselho Municipal do
Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Uberlândia.
UBERLÂNDIA. Decreto n. 4.000 – 07 out. 1988. Aprova o Estatuto do Conselho Municipal
do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Uberlândia.
UBERLÂNDIA. Lei Complementar n. 78 – 27 abr. 1994. Dispõe sobre o Plano Diretor do
município de Uberlândia. In: Plano Diretor de Uberlândia. Uberlândia: Prefeitura
Municipal, 1994. 50 p. (Folheto)
UBERLÂNDIA. Lei Complementar n. 224 – 23 dez. 1999. Dispõe sobre o parcelamento e
zoneamento do uso e ocupação do solo do município de Uberlândia.
UBERLÂNDIA. Lei Complementar n. 245 – 30 nov. 2000. Dispõe sobre o parcelamento e
zoneamento do uso e ocupação do solo do município de Uberlândia. In: O Município,
Uberlândia, ano XIII, n. 1313, 5/dez./2000. 2º Caderno, p. 1-20.
UBERLÂNDIA. Lei n. 2.684 – 09 dez. 1976. Institui o regulamento dos processos de
parcelamento do solo.
UBERLÂNDIA. Lei n. 4.240 – 14 nov. 1985. Organiza a proteção do patrimônio histórico,
artístico e cultural do município de Uberlândia.
UBERLÂNDIA. Lei n. 4.433 – 10 nov. 1986. Modifica a Lei n. 4.240 de 14/11/1985.
UBERLÂNDIA. Lei n. 4.808 – 26 out. 1988. Aprova o Código de Obras do município de
Uberlândia e dá outras providências.
UBERLÂNDIA. Lei n. 5.013 – 01 dez. 1989. Dispõe sobre o uso e a ocupação do solo na
cidade de Uberlândia.
UBERLÂNDIA. Lei n. 7.791 – 12 jun. 2001. Dispõe sobre o COMPHAC– Conselho Municipal
do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Cultural de Uberlândia – e dá outras
providências.
Anexos

Anexo 1. Cronologia
Anexo 2. Inventários dos bens imóveis tombados
Anexo 3. Lei Estadual 13.803, de 27 de dezembro de 2000
Anexo 4. Deliberação Normativa do Conselho Curador do IEPHA/MG
n.º 01/2004, revista em 20 de dezembro de 2004
217

Anexo 1
Cronologia

Ano Contexto nacional e internacional

Contexto local
1846 Felisberto Alves Carrejo, fundador da cidade, pede licença para construir capela
dedicada a Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião, na barra do ribeirão São
Pedro, em torno da qual surgiu o arraial de Nossa Senhora do Carmo e São
Sebastião da Barra (atual Uberlândia)
1852 Criação do distrito de paz denominado São Pedro da Uberabinha (atual
Uberlândia), no município de Uberaba
1853 Inauguração da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião
1857 Elevação do distrito de São Pedro da Uberabinha a paróquia
c. Edificação da capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário, “que
1860 posteriormente veio a servir de matriz” (BARBOSA, 1995), no distrito de Santa
Maria (atual Miraporanga, distrito do município de Uberlândia)
1888 Criação do município de São Pedro da Uberabinha, desmembrado de Uberaba,
elevando-se a sede à categoria de vila
1891 Instalação da vila e do município, com a posse do primeiro intendente
municipal, Antônio Alves dos Santos, nomeado pelo Presidente do Estado
1892 Elevação da vila de São Pedro da Uberabinha a cidade
1895 Inauguração da Estação Ferroviária da Mogiana (desativada e demolida em
1970)
1908 Projeto urbanístico de Mellor Ferreira Amado para a expansão urbana de
Uberlândia (parcelamento do atual Centro da cidade)
1909 Inauguração da ponte Afonso Pena, sobre o Rio Paranaíba, em Itumbiara,
importante impulso para o crescimento urbano de Uberlândia
c. Distrito de Santa Maria (atual Miraporanga) “já figura como distrito do
1911 município de Uberlândia” (BARBOSA, 1995)
1913 Inauguração do Ginásio Mineiro (atual Escola Estadual de Uberlândia)
1915 Inauguração da “Praça dos Bambus”, primeiro tratamento paisagístico do
terreno da atual Praça Tubal Vilela
1917 Inauguração da antiga Prefeitura e Câmara Municipal (atual Museu Municipal)
1918 Plantio da árvore sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides) na Praça Adolfo
Fonseca, objeto de tombamento em 1985
c. Construção da casa de D. Albertina Chacur
1920
1922- Construção da atual Casa da Cultura (então residência de Eduardo Marquez,
1924 intendente municipal)
1923 Alteração da denominação do município para Uberabinha
1926 Inauguração da Companhia de Força e Luz de Uberabinha (atual Oficina
Cultural), na Praça Clarimundo Carneiro
1927 Inauguração do Coreto da Praça Clarimundo Carneiro, completando o conjunto
arquitetônico que foi objeto de tombamento em 1985
218

1929 Alteração da denominação do município para Uberlândia


1931 Inauguração da Igreja Nossa Senhora do Rosário, no Fundinho
1933 Inauguração da Praça da República (atual Praça Tubal Vilela)
1937 Promulgação do Decreto-Lei nº 25, de 30/11/1937, que “organiza a proteção do
patrimônio histórico e artístico nacional”
1943 Alteração da denominação do distrito de Santa Maria para Miraporanga
1943 Demolição da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião; início
da construção, em seu lugar, da Estação Rodoviária (atual Biblioteca Pública
Municipal)
1944 Inauguração do Mercado Municipal
1946 Inauguração da Estação Rodoviária (atual Biblioteca Pública Municipal)
1952 Inauguração do Cine Regente
1954 Elaboração do Plano de urbanização da cidade de Uberlândia, pelo
Departamento Geográfico estadual, prevendo a construção das novas Estações
Ferroviária e Rodoviária, além dos Centros Cívico e Administrativo
1959- Construção e inauguração da Praça Tubal Vilela em sua feição atual, de autoria
1962 do arquiteto João Jorge Coury e equipe
1963 Inauguração da sede da Delegacia Regional de Polícia, na atual Casa da Cultura
1964 Publicação da Carta de Veneza – Carta internacional sobre conservação e
restauração de monumentos e sítios
1967 Posse do prefeito Renato de Freitas (PSD), engenheiro e bacharel em Direito
1968 Tombamento, na esfera municipal, da Capela de Nossa Senhora do Rosário, no
distrito de Miraporanga
1970 Publicação do Compromisso de Brasília
1970 Posse do prefeito Virgílio Galassi (Arena), empresário do ramo imobiliário
1970 Inauguração da atual Estação Ferroviária (prevista pelo Plano de urbanização
de 1954) e demolição da antiga Estação da Mogiana
1971 Publicação do Compromisso de Salvador
1971 Criação e instalação do IEPHA – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico
de Minas Gerais
1974 Posse do prefeito Renato de Freitas (PSD), engenheiro e bacharel em Direito
1975 Tombamento do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte (primeiro tombamento
ocorrido na esfera estadual, em Minas Gerais)
1976 Inauguração da atual Estação Rodoviária (prevista pelo Plano de urbanização
de 1954) e desativação da antiga (atual Biblioteca Pública Municipal)
1976 Inauguração da Praça do Estado de São Paulo (atual Praça Sérgio Pacheco),
em lugar da antiga Estação da Mogiana e de seu pátio ferroviário
1976 Início da construção da Igreja Divino Espírito Santo, no bairro Jaraguá, de
autoria da arquiteta Lina Bo Bardi e equipe
1978 Posse do prefeito Virgílio Galassi (Arena), empresário do ramo imobiliário
1982 Inauguração da Igreja Divino Espírito Santo
1983 Posse do prefeito Zaire Rezende (PMDB), médico
1983 Criação da Secretaria Municipal de Cultura
1984 Instalação da Secretaria Municipal de Cultura
219

1985 Instalação da Divisão de Patrimônio Histórico, da Secretaria Municipal de


Cultura
1985 Tombamento, na esfera municipal, do conjunto arquitetônico formado por
Praça Clarimundo Carneiro, Museu Municipal e Coreto (setembro)
1985 Tombamento, na esfera municipal, da Casa da Cultura (outubro)
1985 Tombamento, na esfera municipal, da Oficina Cultural – antiga Companhia de
Força e Luz de Uberabinha (outubro)
1985 Tombamento, na esfera municipal, da árvore sibipiruna (Caesalpinia
peltophoroides) na Praça Adolfo Fonseca
1985 Promulgação da Lei Municipal 4.240/ 1985, que “organiza a proteção do
patrimônio histórico, artístico e cultural do município de Uberlândia”
(novembro)
1985 Tombamento, na esfera municipal, da Igreja Nossa Senhora do Rosário, no
Fundinho (dezembro)
1986 Publicação da Carta de Washington – Carta internacional para a salvaguarda das
cidades históricas
1987 Criação e instalação do COMPHAC – Conselho Municipal de Patrimônio Histórico
1988 Promulgação da Constituição Federal, cuja seção Da cultura traz um conceito mais
abrangente de patrimônio cultural
1988 Comemoração do centenário de criação do município de Uberlândia
1988 Envio à Câmara Municipal, pela Prefeitura, de propostas de Lei de uso e
ocupação do solo e Código de obras; apenas o Código (Lei 4.808/ 1988) foi
aprovado na ocasião
1989 Promulgação da Constituição do Estado de Minas Gerais
1989 Posse do prefeito Virgílio Galassi (PDS), empresário do ramo imobiliário
1989 COMPHAC: provável interrupção da seqüência de reuniões iniciada em 1987;
reuniões havidas a partir de então foram esporádicas, sem regularidade
1989 Promulgação da primeira Lei de uso e ocupação do solo de Uberlândia (Lei
5.013)
1993 Posse do prefeito Paulo Ferolla da Silva (PFL), produtor rural
1993 COMPHAC: provável fechamento do Conselho (última ata encontrada no
período)
1993 Inauguração e transferência da Prefeitura para o Centro Administrativo (em
local diferente do previsto no Plano de urbanização de 1954)
1994 Transferência da Câmara Municipal para o Centro Administrativo
1994 Aprovação do Plano Diretor do município de Uberlândia (Lei Complementar 78)
1995 Promulgação da Lei Estadual 12.040/ 1995 (primeira Lei “Robin Hood”)
1995 Aquisição e adaptação, pela Prefeitura, da atual Oficina Cultural, que
pertencera à Companhia de Força e Luz de Uberabinha, à Companhia Prada de
Eletricidade e à CEMIG
1995 Início da obra de adaptação da Câmara Municipal para Museu Municipal, com
projeto de autoria de Rodrigo Meniconi e Alessandro Rende
1996 Início do programa estadual ICMS Patrimônio Cultural, com base na Lei 12.040/
1995
1997 Posse do prefeito Virgílio Galassi (PPB), empresário do ramo imobiliário
220

1997 Tombamento, na esfera estadual, da Igreja Divino Espírito Santo


1998 Inauguração do Museu Municipal, no edifício da antiga Câmara Municipal
1999 Promulgação da segunda Lei de uso e ocupação do solo de Uberlândia (Lei
Complementar 224)
2000 Publicação do Decreto Federal 3.551, que “institui o registro de bens culturais de
natureza imaterial”
2000 Promulgação da Lei Estadual 13.803/ 2000 (revisão da Lei “Robin Hood”)
2000 COMPHAC: reabertura do Conselho, recomendada pelo Plano Diretor (1994) e
provocada pela Lei Estadual 12.040/ 1995
2000 Promulgação da terceira Lei de uso e ocupação do solo de Uberlândia (Lei
Complementar 245, alterando pontualmente a Lei Complementar 224)
2000 Tombamento, na esfera municipal, do conjunto arquitetônico da Casa de D.
Domingas Camin, no distrito de Miraporanga
2001 Promulgação do Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/ 2001), que regulamenta o
capítulo de Política urbana da Constituição
2001 Posse do prefeito Zaire Rezende (PMDB), médico
2001 Convênio entre Prefeitura e UFU; início do inventário do bairro Fundinho (VALE
et alii, Fundinho: um bairro histórico para Uberlândia)
2002 Tombamento, na esfera municipal, do Mercado Municipal
2002 Tombamento, na esfera municipal, da Casa de D. Albertina Chacur
2003 Demolição, após instauração do processo de tombamento, do Cine Regente
2004 Publicação da primeira etapa do inventário do bairro Fundinho (VALE et alii,
Fundinho: um bairro histórico para Uberlândia), contendo diretrizes de
implementação da zona especial de revitalização prevista no Plano Diretor
2004 Tombamento, na esfera municipal, da Praça Tubal Vilela
2005 Posse do prefeito Odelmo Leão (PP), deputado federal e produtor rural
2005 Tombamento, na esfera municipal, da Escola Estadual de Uberlândia
2006 Início da revisão do Plano Diretor de 1994
221

Anexo 2
Inventários dos bens imóveis tombados

Casa da Cultura
Conjunto D. Domingas Camin Gazelli
Escola Estadual Uberlândia (“Museu”)
Igreja Espírito Santo do Cerrado
Igreja Nossa Senhora do Rosário
Igreja Nossa Senhora do Rosário de Miraporanga
Mercado Municipal
Oficina Cultural
Praça Clarimundo Carneiro
Praça Clarimundo Carneiro – Palácio dos Leões, Museu Municipal
Praça Clarimundo Carneiro – Coreto
Praça Tubal Vilela
Residência Chacur
222

ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS


01. Município: Uberlândia 02. Distrito: Sede
03. Designação: Casa da Cultura
04. Endereço: Praça Coronel Carneiro nº89 – Fundinho
05. Propriedade: Pública
06. Responsável: Luciano Macedo Pena – Secretaria de Cultura – Prefeitura Municipal de Uberlândia
07. Histórico:
A Casa da Cultura, construída de 1922 a 1924 pelo Sr. Eduardo Marquez, importante figura política de
Uberlândia e Intendente Municipal nos anos de 1923 a 1926, teve seu projeto inspirado em um palacete
paulista, conhecido pelo Sr. Marquez em uma de suas viagens a São Paulo, de onde trouxe fotografias e
desenhos. O projeto foi confiado ao engenheiro Fernando Paes Lemes e a construção ficou a cargo do
empreendedor Américo Zardo. Foi a primeira construção realizada com alicerces de pedra moída e que
empregava materiais oriundos do exterior e de outros estados, tornando-se a casa mais destacada e
importante da cidade. Vendida, por volta de 1937, ao médico Laerte Vieira Gonçalves, o imóvel passou por
algumas intervenções visando acomodar, no porão, a Casa de Saúde, e no primeiro pavimento, sua
residência. Posteriormente, para servir somente como Casa de Saúde e Maternidade, construiu-se um anexo
(volume da lateral direita da fachada principal), destinado a abrigar uma sala de cirurgia e uma de
esterilização. Tal construção efetivou-se, provavelmente, entre as décadas de 1940 e 1950. Em princípios de
1960, o palacete foi vendido ao Governo do Estado de Minas Gerais e passou a sediar a Delegacia Regional
de Polícia Civil e, mais tarde, o Centro Regional de Saúde. Em seguida, o imóvel sediou a Superintendência
Regional da Fazenda Estadual, até 1983, quando da mudança do órgão para nova sede, passando a casa a
funcionar como depósito de material apreendido. Em maio de 1984, o Estado doou o imóvel ao município de
Uberlândia, em regime de comodato, pela emenda nº 1 da Lei nº 8541/84, criando a Casa da Cultura, com o
objetivo de “resgatar parte da história de Uberlândia, relacionado com o progresso municipal e fornecer à
população um local para abrigar vertentes da cultura local”. A Lei Municipal nº4217 de 15 de dezembro de
1985, de autoria da vereadora Olga Helena da Costa, decretou o tombamento do imóvel. O primeiro projeto de
restauração do bem foi elaborado, entre os anos de 1984 e 1985, pelos arquitetos Ricardo Pereira, então
chefe da Seção de Projetos de Equipamentos Urbanos – Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, e Maria
Angélica Fernandes, colaboradora do projeto, e pelo restaurador Sílvio Luís Rocha. (Cont.)
09. Documentação Fotográfica:
223

(Cont.) Já em 1989, necessitou de reparos, permanecendo fechada por longo período para a execução das
obras.A casa passou então a sediar as seguintes atividades e setores: Galeria de Arte Geraldo de Queiroz,
Salão Nobre para palestras, cursos, vídeos, saraus e ensaio do Coro Municipal, além de reuniões. Além das
atividades inerentes à Casa da Cultura, o imóvel abrigava também o Museu de Ofícios, a seção de
Preservação e Tombamento,laboratório de fotografia, encadernação e restauro e o setor de Programação Visual da
Secretaria de Cultura. A instabilidade de seu funcionamento e a esporádica manutenção física do imóvel resultou no
abandono, acelerando a ação do tempo. Outros diferentes projetos de restauração foram propostos como o da
arquiteta Marlene A. F. Spini, através do Pronac, ou dos arquitetos Alessandro Rende e Rodrigo Meniconi; porém,
nenhum executado, resultando, em meados de 2000, no desabamento do frontão da fachada principal. Em fins do
segundo semestre de 2000, o evento Casa Décor pretendia utilizar-se do espaço da Casa da Cultura para
instalação de inúmeros ambientes que reuniriam diversos projetos de decoração. No entanto, por constituir um
imóvel resguardado por tombamento, não houve autorização para a realização do evento na casa. A Casa está,
portanto, de fato, fechada desde 1995. No ano de 2002, o arquiteto Fábio Leite, diretor da Divisão de Memória e
Patrimônio Histórico, e a arquiteta Juliana Gomes Gularte, da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento
Urbano, ambos da Prefeitura Municipal de Uberlândia, elaboraram um novo projeto para restauração da Casa da
Cultura, cujas obras estão previstas para 2003.
08. Descrição:
Edifício de características do estilo eclético, que agrupara em sua linguagem elementos característicos de estilos
historicistas, em voga nos grandes estados brasileiros, como, neste caso, o clássico frontão e ornamentos que
remetem ao bucolismo romântico, não se esquecendo o corredor alpendrado que faz alusão à tradicional varanda
colonial. O imóvel, inicialmente implantado em declive, no centro do terreno, com recuos nos quatro lados,
apresenta uma fachada na testada do lote. Inicialmente, a fachada principal era a da Rua XV de Novembro, sendo a
entrada realizada lateralmente, pela praça. A planta configura-se de maneira regular, com suaves sobressalências,
simetricamente dispostas nas laterais do edifício. A construção de porão alto apresenta apenas um pavimento. Seu
sistema construtivo apresenta estrutura de alicerces de pedra moída e alvenaria estrutural de tijolos maciços. O
porão acompanha quase totalmente o volume da casa, apresentando parcialmente, apenas na atual fachada
principal e na lateral direita, um recuo de aproximadamente dois metros e meio. Nesse porão, as esquadrias variam
de madeiras aliadas ao vidro, acompanhadas de gradil apenas no porão, a metálicas vedadas por vidros. As
esquadrias do primeiro piso apresentam portas em madeira e janelas em madeira e vidro, compostas por duas
folhas. Neste pavimento, o piso em parquete apresenta madeira trabalhada em tons claro e escuro; no salão lateral
direito e no salão principal, ao fim do corredor, tanto o piso como o forro, possuem tratamento diferenciado,
observado pelo primor na colocação das peças originando desenhos trabalhados. O forro de alguns pavimentos está
pintado dede a primeira restauração, sendo que todos apresentam trabalhos na madeira. As paredes internas são
revestidas por pintura em tom pastel, apresentando um tom ocre nos barrados. O salão lateral direito e o corredor
encontram-se ornados por pinturas decorativas de tema floral – há indícios de não ser o afresco original da casa. A
parte destinada aos serviços, localizada após o salão principal, apresenta uma escada em alvenaria, revestida por
cimento vermelho, que dá acesso ao porão. Essa escada chega a um pequeno hall, revestido por ladrilho hidráulico,
que se abre para a cozinha atualmente sem piso, revestida por azulejos brancos a meia altura; e para os banheiros,
que estão sem revestimento cerâmico em piso e parede. Na construção destinada inicialmente à residência, a
cobertura é realizada por telhas francesas em quatro águas. A captação das águas pluviais dá-se por calhas
dispostas ao longo do ático que percorre todo o edifício. A entrada pela fachada principal é feita por uma suntuosa
escada em mármore branco, com guarda-corpo em ferro fundido e corrimão em madeira. Dessa escada tem-se
acesso a uma varanda alpendrada, em forma de “L”, revestida por ladrilho hidráulico e arrematada por granitina
clara. A cobertura desse espaço é feita por uma estrutura metálica que sustenta a vedação de vidros, com lambris
ao final da cobertura. A iluminação artificial é feita por arandelas. Na fachada principal, observam-se três frontões,
um na lateral esquerda (anexo), um central, avançado em relação aos demais, e um na lateral direita. O paisagismo
apresenta piso em cimento, formando quadrados de 40 por 40, e canteiros geométricos com a predominância do
triângulo. Ao longo do terreno estão dispostos baixos postes de iluminação, e bancos em granitina. A lateral do
terreno defronte à Rua XV de Novembro, apresenta mureta e gradil de ferro fundido, exceto onde a fachada do
anexo atinge a testada do lote; para a outra via – a Rua Silva Jardim – a mureta existe parcialmente, cedendo
espaço para um portão, igualmente de ferro fundido, ornado por desenhos florais no metal.

10. Uso Atual: 11. Situação de Ocupação:


( ) Residencial ( ) Serviço ( ) Própria ( ) Alugada
( ) Comercial ( X ) Institucional ( ) Cedida ( X ) Comodato
( ) Industrial ( ) Outros ( ) Outros

12. Proteção Legal Existente 13.Proteção Legal Proposta:


( X ) Tombamento ( ) Tombamento Federal ( ) Tombamento Integral
( X ) Municipal ( ) Tombamento Estadual ( ) Tombamento Parcial
( ) Federal ( ) Tombamento Municipal ( ) Fachadas
( ) Estadual ( ) Entorno de Bem Tombado ( ) Volumetria
( ) Nenhuma ( )Documentação Histórica ( ) Restrições de Uso e Ocupação
( ) Inventário
224

Designação: Casa da Cultura

14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência:


As duas vias que circundam o terreno do imóvel apresentam pavimentação asfáltica em boas condições de
uso e calçada em ladrilho hidráulico na cor vinho, igualmente conservada. A Rua XV de Novembro possui
duas pistas de rolamento, em sentido único e estacionamento em outra pista, na lateral direita. Essa rua é
desprovida de árvores. A calçada do lado da Praça Coronel Carneiro possui arborização, que se integra à
própria praça. O bem situa-se no que alguns autores denominam de “Parte Alta” do Fundinho, onde a pressão
imobiliária é elevada, o que se pode confirmar com a marcante verticalização do entorno. Várias foram as
alterações sofridas por essa região desde a época da construção da Casa da Cultura até os dias atuais. As
construções adjacentes constituem-se, na sua maioria, de edifícios de apartamentos com gabarito, em média,
de 20 pavimentos, de linguagem contemporânea. Observa-se uma tendência à substituição dos usos dos
imóveis do entorno, em que as antigas residências são ocupadas por estabelecimentos comerciais e de
serviços. No entanto, o fato de a edificação estar situada em uma esquina e em frente a uma praça
resguardou, de uma certa forma, parte da ambiência e da visibilidade da casa.
15. Estado de Conservação:

( ) Excelente ( ) Bom ( X ) Regular ( ) Péssimo


16. Análise do Estado de Conservação:
O estado de conservação do imóvel é considerado regular, na medida em que a edificação apresenta
problemas físicos que começam a comprometer a integridade do imóvel. Esses problemas são reversíveis,
mas demandam análise e diagnósticos feitos por um responsável técnico capacitado. Apesar dos problemas
apresentados (tais como nos telhados, infiltrações de água, comprometimento do reboco, desgastes nas
esquadrias, pisos e pinturas, instalações hidro-sanitárias em estado de conservação ruim, entre outros), a
Casa da Cultura não se encontra em processo de arruinamento.
17. Fatores de Degradação:
Os principais fatores de degradação verificados na edificação são: infiltração de águas pluviais, presença de
cupins, ferrugem em peças metálicas, ausência de proteção contra intempéries em diversos locais e
elementos, intervenções improcedentes, ausência de manutenção ao longo do tempo. Outros problemas,
como o processo natural de desgaste dos materiais, são ações do tempo e do uso.
18. Medidas de Conservação:
Manutenção periódica do edifício; pintura geral, tanto interna quanto externa; reposição dos vidros quebrados;
reposição de piso no porão e na cozinha; restauração das esquadrias danificadas; colocação de janelas nos
vãos abertos; reforma no telhado; remanejamento do paisagismo, que impede a visualização do edifício, em
especial, na fachada principal; escoamento para as águas pluviais; reconstrução de um novo frontão. Outra
medida de grande importância é a execução do projeto de restauração.
19. Intervenções:
Entre as décadas de 1940 e 1950, construiu-se o anexo na lateral esquerda do imóvel. As demais
transformações, decorrentes dos diversos usos que o imóvel abrigou ao longo dos anos, não puderam ser
identificadas com nitidez. Durante a execução do primeiro projeto de restauração, os belíssimos lustres que
hoje se encontram na casa foram trazidos de um antiquário em São Paulo; as pessoas, que não sabiam de tal
fato, e freqüentaram o imóvel, durante seu tempo de uso, confundiram-nos com os originais. No mesmo
processo de restauração, os forros de algumas salas foram pintados; e as instalações de sarrafos, em metal,
foram fixadas discretamente no forro para suportar exposições de quadros e afins. Há indícios de que o
cômodo da lateral direita, logo após a entrada principal, tenha sido ampliado pela retirada de uma parede que
dividiria dois cômodos. Em meados de 2000, a negativa resposta de realizar-se o evento Casa Décor no bem
tombado não poupou o imóvel da descaracterização de sua fachada posterior, sendo construídos dois
banheiros no porão, adaptados aos portadores de necessidades especiais, retirando-se uma janela original
para a abertura de dois estreitos vãos. O piso do porão foi retirado e foi derrubada uma porta de acesso do
porão, atualmente sustentada por peças de madeira pregadas na alvenaria. Na mesma época, o frontão da
fachada principal desabou; e em uma reconstrução posterior, no final do ano 2000, ficou evidente a
descaracterização do ático.

20. Referências Bibliográficas:


• HAYASHIDA, Walter Yuji. Inventário da Casa da Cultura. Trabalho acadêmico realizado na disciplina
Técnicas Retrospectivas, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal de Uberlândia.
Setembro de 2002.
• TEIXEIRA, Tito. Bandeirantes Pioneiros do Brasil Central – História da Criação do Município de
Uberlândia. Gráfica Uberlândia, 1970, 2 vols.
• VERÍSSIMO, Francisco Salvador & BITTAR, William Seba Mallmann. 500 anos da Casa no Brasil: as
transformações da arquitetura e da utilização do espaço de moradia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro
Publicações S. A., 1999.
225

21. Informações Complementares:


A Casa da Cultura situa-se no Bairro Fundinho - definido pela Lei Municipal Complementar nº 245, de 05 de
dezembro de 2000, que dispõe sobre o Parcelamento e Zoneamento do Uso e Ocupação do Solo do
Município de Uberlândia, como Zona Especial de Revitalização.

Embora construído posteriormente, o anexo que outrora abrigara uma sala de cirurgia e uma de esterilização,
dentre outros usos não identificados, possui elementos que se integram ao prédio original; como o tratamento
do frontão e do restante do ático; todavia, fica evidente a distinção entre um volume e outro, visto que os
materiais utilizados para a elaboração do anexo, diferem-se dos utilizados na casa, sendo o piso de ladrilho
hidráulico, o forro de gesso e as esquadrias de metal com fechamento em vidro.

Dentre as diversas espécies de plantas existentes no local, pode-se identificar exemplares de palmeira
imperial, bico de papagaio, areca bambu, primavera, pau-brasil, jasmim manga, clorofito, leea verde, guaimbé,
maranta, dracena, ave do paraíso e sibipiruna.
22. Atualização de Informações:

23. Ficha Técnica:


Fotografia: Luciano Pena Data: abril/2004
Elaboração: Walter Yuji Hayashida Data: outubro/2002
Cíntia Chioca
Revisão: Fábio Leite Data: outubro/2002
226

ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS


01. Município: Uberlândia 02. Distrito: Miraporanga
03. Designação: Conjunto D. Domingas Camin Gazelli
04. Endereço: Rua do Comércio, nº300
05. Propriedade: Privada
06. Responsável: Espólio de D. Domingas Camin Gazelli
07. Histórico:
O conjunto situa-se em um terreno de aproximadamente 5.700m2, na Rua do Comércio nº 300, em Miraporanga,
distrito do município de Uberlândia. Edificado em fins do século XIX, pelo Coronel Ernesto Rodrigues da Cunha,
importante figura política-administrativa de Santa Maria, o conjunto formado por duas residências, uma garagem e
uma cocheira, constitui-se o imóvel mais antigo existente em Miraporanga. Não há uma documentação que informe
a data precisa das construções, mas sabe-se que o Coronel construiu duas residências, uma para morar com sua
esposa e filhos, e a outra, para a empregada da família. É provável que a cocheira seja também dessa mesma
época. Posteriormente, construiu-se um acréscimo para abrigar cozinha e banheiro, observado pela diferenciação
de telhas, francesas no apêndice, e pela estrutura em concreto, existente no porão desta parte. Vendido o conjunto
ao Sr. Pascoal Bruno, a residência da empregada foi transformada em casa comercial, provavelmente uma
mercearia, substituindo-se as janelas da fachada frontal por portas, remodelando o espaço interno. Os indícios que
levam a essa conclusão constituem-se nos cortes observados no requadro de madeira das esquadrias. A edificação
da garagem possivelmente deu-se nesse período. Em princípios da década de 1960, Domingas Camin adquiriu o
conjunto, e passou a utilizar o espaço comercial como fábrica de queijos, realizando outras transformações internas
no espaço, como retirada parcial de barrotes e do assoalho de madeira, e construção de escadas e de uma
elevação para passagem do leite, alterando a fachada. Quando da desativação da queijaria, na década de 1970,
abandonou-se essa parte do conjunto, agravando o processo de deterioração ao longo dos anos. Na parte utilizada
como residência, retirou-se o fogão à lenha e construiu-se um armário na segunda sala. As intervenções apontadas
na parte destinada à residência de D. Domingas, constituem-se na construção de um armário na segunda sala e na
instalação de uma divisória de tambique na cozinha. A construção de uma rampa de acesso deu-se em princípios
da década de 1990, quando a moradora passou a necessitar de cadeira de rodas para se locomover. A parte
destinada à moradia da família do Coronel manteve o uso com o passar dos anos, apresentando interferências
menos descaracterizantes, como troca de pisos e forros, instalações elétricas e hidráulicas. Após o falecimento de
D. Domingas, a casa ficou fechada por um período, sendo, posteriormente, alugada para reuniões do centro espírita
do distrito. Atualmente, apenas parte do imóvel é utilizada para tais reuniões, sendo a outra alugada juntamente com
a cocheira. Em outubro de 2000, o conjunto - duas residências e a cocheira - teve decretado seu tombamento,
através do decreto-lei nº 752. Tal fato não acarreta, necessariamente, a preservação do bem, e o estado de
conservação do conjunto altera-se entre regular (residência e curral) e péssimo (queijaria).
09. Documentação Fotográfica:
227

08. Descrição:
O conjunto formado pelas duas casas apresenta características das construções tradicionais, com elementos
estéticos e construtivos que remetem à arquitetura colonial de pequenas comunidades do interior: clareza
construtiva e simplicidade formal, sendo edificadas na testada do lote, com paredes caiadas de branco. A
queijaria, bastante descaracterizada ao longo dos anos, configura-se numa construção térrea de porão alto -
terreno em declive, de planta regular, proporcionalmente retangular, dispondo seis cômodos paralelamente de
dois a dois, onde há indícios de que os dois últimos sejam acréscimos posteriores. Possui estrutura
autoportante de pedra tapiocanga e alvenaria, em parte, estrutural de tijolo maciço cozido; apresentando
baldrames, esteios e vigas estruturais aparentes, em madeira. As portas e as janelas de madeira, apenas em
uma folha, assentam-se em portais de madeira serrada, cujas partes superiores funcionam como vergas. Os
dois cômodos que ainda apresentam piso elevado constituem-se de tabuado corrido; os demais cômodos,
aterrados, encontram-se no contra-piso, em cimento. O edifício não apresenta qualquer tipo de forração. A
cobertura realiza-se em duas águas, com telhas tipo capa-e-canal, inclinadas no sentido da elevação frontal e
da elevação posterior, formando beirais, arrematados por cachorros simples. A elevação frontal compõe-se de
quatro portas e uma esquadria serrada, defronte à qual se construiu um elevado em cimento para a passagem
de galões de leite, durante o funcionamento da fábrica de queijos, substituindo as janelas originais. Apresenta
beiral ornamentado por lambrequins, que remetem ao formato de bandeirolas. A elevação lateral direita forma-
se por uma porta de acesso, originalmente uma janela, uma esquadria serrada - primeiro acesso principal - e
uma janela na extremidade esquerda, aberta posteriormente. A elevação lateral esquerda possui duas janelas
simetricamente dispostas na fachada - não há indícios de alterações dessas esquadrias - e uma porta, aberta
posteriormente. A elevação posterior, caracterizada pela diferenciação do alinhamento da planta, compõe-se
de três janelas, sendo duas acrescidas após a primeira da extremidade direita.

A residência, do mesmo modo, configura-se como uma construção térrea de porão alto - terreno em declive -
de planta regular, proporcionalmente retangular, formando um “T” invertido, dispondo longitudinalmente sete
cômodos, constituídos por duas salas e cinco modestos quartos, e, transversalmente, cinco, compostos de
uma copa – separada em dois cômodos por um tabique, uma pequena despensa, uma cozinha e um banheiro.
Estes três últimos constituem-se em acréscimo realizado em data indeterminada. Apresenta estrutura
autoportante de pedra tapiocanga e alvenaria parcialmente estrutural de tijolo maciço cozido – maior
quantidade - e tijolo vazado. Igualmente, os baldrames, esteios e vigas estruturais são aparentes e em
madeira. Com relação ao enquadramento dos vãos, as esquadrias, alternadas entre uma e duas folhas,
apresentam verga reta e as janelas mais trabalhadas demonstram robusta caixilharia com vidros. As portas
que circundam a segunda sala apresentam as bandeiras vedadas por madeira pintada. As que possuem duas
folhas mantêm sua integridade. O piso dos cômodos, dispostos longitudinalmente, constitui-se de tabuado
corrido, havendo indícios de troca da madeira, principalmente nas duas salas. Os demais cômodos
apresentam piso em cimento queimado, na cor vermelha – estando a alcova no contra-piso. Somente as duas
salas apresentam forração, com encaixe do tipo saia-e-camisa. A cobertura realiza-se em duas águas,
apresentando telhas coloniais, inclinadas no sentido da elevação frontal e opostas a esta, formando beirais
ornados por cachorros trabalhados; e em duas águas no apêndice, possuindo telhas francesas.A elevação
frontal apresenta quatro janelas trabalhadas, dispostas proporcionalmente e beiral ornamentado por
lambrequins. A elevação lateral direita compõe-se de duas janelas – idênticas às da elevação frontal; uma
porta com acesso realizado por uma escada em cimento; uma pequena janela de metal – vitrô, implantada
posteriormente; e uma janela de madeira, de apenas uma folha – cozinha. A elevação posterior apresenta
quatro janelas, duas originais nas extremidades, e duas iguais à da elevação lateral direita, no apêndice
construído, todas em madeira, sendo apenas a da extremidade direita idêntica às da elevação frontal. A
elevação lateral esquerda compõe-se de uma janela idêntica às da elevação frontal; uma porta trabalhada,
com acesso efetuado por uma rampa em cimento e uma pequena janela de madeira – na subdivisão de
tabique da copa.

Quanto à policromia das edificações, ambas apresentam as paredes brancas e os elementos de madeira em
ocre; estes últimos demonstram, pelo descolamento da camada pictórica, indícios de cores pastéis, em tons
de azul, primeiramente, e posteriormente rosa. Vale ressaltar que a ausência de alpendres ou varandas
reforça a construção de uma arquitetura urbana, pois tais elementos eram uma constante na arquitetura rural.
A cocheira situa-se na lateral direita do lote, apresentando estrutura em madeira e cobertura em telhas
coloniais e, parcialmente, em telhas francesas. A garagem, localizada entre as residências, edificada em data
indeterminada, e a edícula, localizada próxima à elevação lateral direita da residência, constituem construções
simples que não se integram ao conjunto.
228

Designação: Conjunto D. Domingas Camin Gazelli

10. Uso Atual: 11. Situação de Ocupação:


( ) Residencial ( ) Serviço ( ) Própria ( X ) Alugada
( ) Comercial ( X ) Institucional ( ) Cedida ( ) Comodato
( ) Industrial ( ) Outros ( ) Outros
12. Proteção Legal Existente 13. Proteção Legal Proposta:
( X ) Tombamento ( ) Tombamento Federal ( ) Tombamento Integral
( X ) Municipal ( ) Tombamento Estadual ( ) Tombamento Parcial
( ) Federal ( ) Tombamento Municipal ( ) Fachadas
( ) Estadual ( ) Entorno de Bem Tombado ( ) Volumetria
( ) Nenhuma ( )Documentação Histórica ( ) Restrições de Uso e
( ) Inventário Ocupação
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência:
O entorno do Conjunto D. Domingas Camin Gazelli é constituído por esparsas construções, em sua maioria
edificações construídas ou reformadas recentemente, sem uma tipologia arquitetônica predominante ou
relevante. Não há nenhum imóvel residencial que possua o mesmo estilo arquitetônico ou que tenha sido
construído na mesma época do conjunto em estudo. A Rua do Comércio, onde a residência da D. Domingas
está localizada, não possui pavimentação asfáltica e apresenta largura para duas pistas de rolagem, sem no
entanto, tê-las definidas. As calçadas também não são delimitadas ou revestidas. Na parte anterior do terreno,
existe uma mata e, no final do declive, o Córrego Santa Maria. No alto, do outro lado do córrego, avista-se a
Igreja Nossa senhora do Rosário de Miraporanga, uma edificação também em estilo colonial primitivo,
tombada pelo Município em 1968.
15. Estado de Conservação:

( ) Excelente ( ) Bom ( ) Regular ( x ) Péssimo


16. Análise do Estado de Conservação:
Queijaria
A estrutura autoportante de tijolos com alicerces de pedras tapiocangas apresenta-se em péssimo estado de
conservação, com rachaduras que comprometem sua integridade física de maneira imediata. A cobertura
apresenta processo de degradação nas pontas dos beirais e nos lambrequins da fachada frontal; o
madeiramento do telhado apresenta apodrecimento; o cunhal da elevação lateral posterior apresenta
apodrecimento devido ao destelhamento; a cobertura apresenta algumas telhas quebradas. As alvenarias
apresentam regular estado de conservação, salvo algumas rachaduras. Nos rebocos, verificam-se sinais de
infiltrações em diversos pontos das elevações externas, com perda de material em alguns pontos na elevação
frontal; a pintura apresenta desgaste generalizado, com descolamentos da camada pictórica, principalmente
nas faces externas das elevações. As esquadrias de madeira apresentam desgastes devido à ação do tempo
e da umidade, encontram-se desniveladas e desaprumadas; as ferragens necessitam de revisão; algumas não
podem, sequer, serem movimentadas devido ao grau de deterioração. Os pisos apresentam péssimo estado
de conservação, com sinais de extrema deterioração: nas áreas onde os barrotes estão visíveis, apresentam
apodrecimento e perda de material; o contra-piso das partes aterradas, apresenta, igualmente, estado ruim de
conservação. Quanto ao agenciamento externo, a área ao redor da edificação não possui nenhum tipo de
pavimentação, nem tampouco rampa de acesso aos portadores de necessidades especiais. As diversas
árvores, de pequeno e médio porte, constituem-se em barreiras físicas e visuais.

Residência
A estrutura autoportante de tijolos com alicerces de pedras tapiocangas apresenta regular estado de
conservação, com rachaduras que não comprometem sua integridade física de maneira imediata. A cobertura
apresenta estado geral de conservação regular, verificando-se degradação nas pontas dos beirais e nos
lambrequins; a cobertura possui, em toda sua extensão, algumas telhas quebradas; o madeiramento não
demonstra ataque de insetos. Os rebocos, de maneira geral, apresentam sinais de infiltrações em diversos
pontos das elevações externas, com perda de material em alguns pontos na elevação lateral direita; a pintura
apresenta desgaste generalizado, com descolamentos da camada pictórica, principalmente nas faces externas
das elevações. As esquadrias de madeira apresentam desgastes devido à ação do tempo e da umidade;
algumas encontram-se desniveladas e desaprumadas; as ferragens necessitam de revisão; a única esquadria
de metal, descaracterizante, apresenta regular estado de conservação. Os pisos apresentam de maneira
geral, regular estado de conservação; nas áreas onde os barrotes são visíveis - porão, demonstram
apodrecimento das cabeças e perda de material; o piso de cimento, igualmente, apresenta estado regular de
conservação. Os forros, de maneira geral, apresentam-se com repinturas, mas sem aparente ataque de
cupins; o primeiro cômodo à esquerda da segunda sala possui “forro” executado em compensado de madeira;
os demais aposentos não apresentam forros. Com relação à instalação elétrica, a fiação possui entrada
improvisada pelo telhado, permanecendo aparente; a instalação hidráulica, igualmente improvisada,
229

apresenta-se aparente, exibindo tubos nas elevações posterior e lateral direita. Quanto ao agenciamento
externo, a área ao redor da edificação não possui nenhum tipo de pavimentação; as pedras tapiocangas
formam uma estreita passagem na elevação posterior; as diversas árvores, de pequeno e médio porte,
constituem-se em barreiras visuais; a rampa, embora descaracterizante, possibilita o acesso de portadores de
necessidades especiais.
17. Fatores de Degradação:
Os principais fatores de degradação verificados na edificação são: presença de cupins, infiltrações de água
pluvial, falta de manutenção e de cuidados especiais no imóvel, oxidação de ferragens e peças metálicas,
reformas e intervenções executadas de maneira improcedente. Outros problemas, como o desgaste de
materiais, são ações naturais causadas pelo tempo e pelo uso.
18. Medidas de Conservação:
As medidas de conservação pertinentes referem-se à manutenção periódica do edifício; pintura geral, tanto
interna quanto externa; tratamento de superfícies e de peças de madeira com produtos especiais contra
cupins; reposição dos vidros e das telhas quebradas; reposição de piso no porão e na cozinha; restauração
das esquadrias danificadas; colocação de janelas nos vãos abertos; reforma no telhado; escoamento para as
águas pluviais.
19. Intervenções:
Queijaria
Dentre as intervenções realizadas na edificação que abrigou inicialmente uma residência, depois um
estabelecimento comercial e posteriormente uma fábrica de queijos, as principais são: substituição de janelas
por portas na fachada frontal, devido à mudança do uso do espaço para comércio; remodelação interna dos
ambientes; na instalação da queijaria, foi realizada uma retirada parcial de barrotes e do assoalho de madeira
e construção de escadas e de uma elevação para passagem do leite, alterando a fachada.
Residência
As intervenções apontadas na parte destinada à residência de D. Domingas, constituem-se na construção de
um armário – segunda sala, retirada do fogão à lenha e instalação de uma divisória de tabique na cozinha. Foi
realizada, também, a construção de uma rampa de acesso, em princípios da década de 1990, quando a
moradora passou a necessitar de cadeira de rodas para se locomover. Com a manutenção do uso com o
decorrer do tempo, a residência sofreu interferências menos descaracterizantes, como troca de pisos, forros,
instalações elétricas e hidráulicas.
20. Referências Bibliográficas:
• MARTINS, Tatianna. Pousada Santa Maria – Projeto de Restauração do Conjunto Domingas Camin em
Miraporanga. Trabalho Final de Graduação, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal
de Uberlândia. Outubro de 2002.
• TEIXEIRA, Tito. Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central – História da Criação do Município de
Uberlândia. Gráfica Uberlândia, 1970, 2 vols.
21. Informações Complementares:

Biografia da D. Domingas Camin Gazelli


Domingas Camin Guazelli nasceu em Mococa, Estado de São Paulo, no ano de 1901, filha de Pedro Ângelo
Camin e Maria José Pereira dos Santos Camin. Em 1907, mudou-se com as irmãs para a capital, enquanto
seus pais viajavam com seu irmão para a Itália, estudando durante nove anos e meio no Colégio Madre Xavier
Cabrini. Aos 17 anos, casou-se com o italiano Dino Guazelli, união que teve como fruto três herdeiros: Ricardo
José Guazelli, Clemente Guazelli e Pedro Ângelo Guazelli. Logo após o casamento, estabeleceram residência
em Riberão Preto, mudando posteriormente para Poços de Caldas, depois para o Rio de Janeiro. Em
princípios da década de 1930, então viúva, transferiu-se para Uberlândia, Cruzeiro dos Peixotos, a convite do
tio, Sr. José Camim, onde permaneceu por cerca de vinte anos. Nesse período, dedicou-se à fabricação de
queijos, em parceria com o tio; e pôs-se a lecionar para crianças na Fazenda Quilombo. Posteriormente, teve
como sócio na produção de queijos o Sr. Ângelo Biase, por aproximadamente dez anos. Em 1962, adquiriu
terras e imóveis em Miraporanga, onde deu continuidade à produção de queijos, em sociedade com o Sr.
Francisco Camin - neto de José Camin; instalando a fábrica na edificação ao lado de sua casa. Sem
abandonar seu entusiasmo pelo educar, concedeu um terreno defronte à sua residência para que o então
prefeito, Raul Pereira, construísse uma modesta sala onde pudesse ser implementada uma escola. Quando o
Bispo Dom Almir decidiu demolir a Igreja de Nossa Senhora das Neves, em 1967, contou com o apoio de D.
Domingas, que com o material retirado da demolição, principalmente a madeira, ajudou a edificar a nova Igreja
próxima à sua residência. Falecida em 1998, a professora, costureira, parteira, empresária e escrivã deixou
registradas sua vivacidade e paixão pelo trabalho e ensino na memória e na história de Miraporanga.
230

Designação: Conjunto D. Domingas Camin Gazelli

22. Atualização de Informações:

23. Ficha Técnica:


Fotografia: Luciano Pena Data: abril/2004
Elaboração: Cíntia Maria Chioca Lopes Data: outubro/2002
Revisão: Fábio Leite Data: outubro/2002
231

ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS


01. Município: Uberlândia 02. Distrito: Sede
03. Designação: Escola Estadual Uberlândia (popularmente conhecida por “Museu”)
04. Endereço: Praça Adolfo Fonseca, no. 141 – Bairro Fundinho/Centro
05. Propriedade: Pública
06. Responsável: Yolanda de Leva Bernardes
07. Histórico:
A história da Escola Estadual de Uberlândia teve início em 1912, com a instalação do Ginásio de Uberabinha,
instituição particular sob a direção de Antônio Luiz da Silveira, funcionando em condições precárias e em local
inadequado. Algumas pessoas de grande influência na cidade tais como Arlindo Teixeira, Tito Teixeira, José
Nonato Ribeiro, Antônio Rezende, Custódio Pereira, Carmo Gifoni e Clarimundo Carneiro uniram-se para criar
a Sociedade Progresso de Uberabinha, com objetivo de construir um prédio novo para a escola. A obra foi
realizada pelo construtor Hermenegildo Ribas, entre 1818 e 1921; não há confirmação se a autoria do projeto
é sua. O colégio funcionou até 1929 em regime particular; nessa data o prédio foi doado ao Estado de Minas
Gerais, sem ônus para o governo, para a instalação do Ginásio Mineiro de Uberabinha, criado pelo decreto
estadual no. 8.958, em 03 de janeiro de 1929. Oferecia internato para 120 alunos além dos externos. A
instalação se deu em 30 de março de 1930. Ainda em 1930, durante a Revolução Constitucionalista, o prédio
foi transformado em quartel general das Forças Revolucionárias do Triângulo Mineiro. Seu primeiro diretor foi
Mário Guimarães Porto, seguido por Luiz da Rocha e Silva, Aniceto Maccheroni e João Siqueira, Osvaldo
Vieira Gonçalves (Prof.Vadico), Saint-Clair Netto, Celso Correa dos Santos, Glaúcia Santos Monteiro, Sâmia
Mameri Ferreira, Arlete Lopes Buiatti, Dilma de Paula Sagatto e Yolanda de Leva Bernardes. O imóvel foi
Tombado pela Lei 9904 de 2005.
08. Descrição:
A E. E. de Uberlândia pode ser considerada o melhor exemplar da arquitetura institucional eclética, com forte
presença de estilemas neoclássicos, ainda existente na cidade. Está implantada em terreno de esquina da
Praça Adolfo Fonseca com a Rua Teixeira Santana; com sua fachada principal voltada para a praça. Possui
dois pavimentos, com porão alto. Sua fachada é marcada pela presença da porta central com verga de arco
pleno encimada por duas janelas no nível do segundo pavimento, também com verga em arco-pleno, que se
abrem para um pequeno balcão. De cada lado das aberturas centrais, há seis janelas, de vergas de arco
abatido, distribuídas em dois panos marcados por pilastras adoçadas.
09. Documentação Fotográfica:
232

A fachada é arrematada por ático contínuo, com acrotérios correspondentes aos cunhais e às pilastras
adoçadas; no centro, apresenta-se um frontão de perfil recortado, tendo na parte superior a Estrela da
República e, abaixo, o ano de inauguração do prédio (1921). Sua planta organiza-se em um volume horizontal
que constitui a fachada frontal e três pavilhões iguais, dispostos paralelamente, que se articulam em posição
ortogonal ao volume frontal, formando um “E” deitado. Sua construção emprega estrutura autoportante de
tijolos maciços, alicerces de pedra
10. Uso Atual: 11. Situação de Ocupação:
( ) Residencial ( ) Serviço ( X ) Própria ( ) Alugada
( ) Comercial ( X ) Institucional ( ) Cedida ( ) Comodato
( ) Industrial ( ) Outros ( ) Outros
12. Proteção Legal Existente 13.Proteção Legal Proposta:
( ) Tombamento ( ) Tombamento Federal ( X ) Tombamento Integral
( ) Municipal ( ) Tombamento Estadual ( ) Tombamento Parcial
( ) Federal ( X ) Tombamento Municipal ( ) Fachadas
( ) Estadual ( ) Entorno de Bem Tombado ( ) Volumetria
( X ) Nenhuma ( )Documentação Histórica ( ) Restrições de Uso e
( ) Inventário Ocupação
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência:
A Praça Adolfo Fonseca, onde se encontra implantada a Escola, foi urbanizada em 1950; antes constituía-se
em um espaço vazio, apenas delimitado pelas ruas. Apresenta-se bem cuidada, com vegetação e bancos bem
conservados. As vias que a delimitam apresentam tráfego intenso; são asfaltadas e em bom estado de
conservação; tem largura para dois carros, com estacionamento nas laterais. Os passeios têm 1,20 m. de
largura, com boa pavimentação. Encontra-se em uma área que sofre grande pressão de verticalização; nos
terrenos da lateral direita da escola, foram construídos dois grandes condomínios verticais, que também estão
presentes nas ruas adjacentes. O entorno próximo tem sofrido a substituição do uso residencial unifamiliar por
serviços e comércios. Em um dos quarteirões da Praça, verifica-se a instalação de um grande supermercado;
em outro, um tradicional bar e restaurante; há também escola de línguas e comércio em antigas casas
adaptadas para novos usos.
15. Estado de Conservação:

( ) Excelente ( X ) Bom ( ) Regular ( ) Péssimo


16. Análise do Estado de Conservação:
O estado de conservação geral do edifício é bom, sem problemas estruturais graves. A instalação elétrica feita
para adequação da escola ao uso de novos equipamentos é toda com condutores aparentes, mas necessita
de uma reavaliação para maior segurança. As portas e esquadrias não funcionam bem e encontram-se sem
fechaduras ou maçanetas. A pintura encontra-se desgastada.
17.Fatores de Degradação:
Falta de manutenção e desgaste natural do uso.
18.Medidas de Conservação:
Manutenção periódica.
19. Intervenções:
Em 1942, na administração do Prof. Osvaldo Vieira Gonçalves, foram construídos um galpão com palco e um
campo de basquete iluminado para uso noturno, calçou-se os pátios, pintura e reparos gerais no prédio foram
feitos. Em 1973, o edifício passou por uma reforma geral, dentro do programa CARPE, do Estado de Minas
Gerais, quando o assoalho de madeira foi retirado e substituído por cerâmica; a escada de acesso do primeiro
ao segundo pavimento, de madeira, foi substituída por outra, de concreto. Em 1980 a escola encontrava-se
em condições precárias e, durante a direção de Dilma de Paula Sagatto (1980/1996) foram feitas várias
intervenções: pintura geral, colocação de guarda-corpo de metal na escada interna, a portaria também
recebeu grades de proteção, o patamar de acesso à porta lateral esquerda do prédio foi fechado com
alvenaria para instalação de uma copiadora, alteração nos usos de salas, colocação de grades nas janelas da
fachada frontal do primeiro pavimento. Em 1992 o prédio foi novamente pintado. No terreno dos fundos, foram
construídos vários anexos ao longo dos anos: cozinha, depósito, casa do zelador, marcenaria, uma quadra
poliesportiva coberta com estrutura metálica (1974) e salas para laboratórios (1981). A fachada conserva
todos os elementos decorativos originais.
20. Referências Bibliográficas:
MOTTA, Guilherme Augusto S., REIS, Andréa C. dos. (2000). Dossiê de Tombamento da E. E. de
Uberlândia. Uberlândia: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Uberlândia.
Designação: Escola Estadual Uberlândia (popularmente conhecida por “Museu”)
233

(Trabalho de alunos da disciplina Técnicas Retrospectivas).

21. Informações Complementares:


O inventário deste imóvel foi realizado em 2001; em 2002 a ficha foi adequada ao novo modelo do IEPHA/MG,
adotada pela Secretaria Municipal de Cultura, sendo acrescidos de avaliação.
Levantamento métrico-arquitetônico s/esc.

22. Atualização de Informações:

23. Ficha Técnica:


Fotografias: Luciano Pena Data: outubro/2004
Elaboração: Andréa Cunha e Guilherme Motta Data: março/2001
Revisão: Marília M. B. T. Vale. Data: agosto/2002
234

ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS


01. Município: Uberlândia 02. Distrito: Sede
03. Designação: Igreja Espírito Santo do Cerrado
04. Endereço: Avenida dos Mognos, 355 - Bairro Jaraguá
05. Propriedade: Propriedade Privada - Eclesiástica
06. Responsável: Ordem dos Padres Franciscanos
07. Histórico:
A Igreja Espírito Santo do Cerrado foi projetada pela arquiteta Lina Bo Bardi, iniciando-se o projeto em 1975,
quando o Frei Egydio Parisi e o Frei Fúlvio Sabia pediram à arquiteta que lhes fizesse um desenho. Com os
moradores, foi constituído um “conselho de construção”, por eles mesmos eleito. Conseguiu-se uma ajuda
substancial da organização alemã Adveniat, sediada em Essen. A Igreja foi construída em um sistema de
mutirão, realizando-se, assim, um trabalho em conjunto entre arquiteto e mão-de-obra. De 1975 a 1981, a
arquiteta esteve por diversas vezes em Uberlândia, para dar prosseguimento à construção, escolhendo os
materiais, fazendo todos os detalhamentos in loco e, principalmente, trabalhando diretamente com os mestres
de obras e os operários.

09. Documentação Fotográfica:


235

08. Descrição:
A Igreja Espírito Santo do Cerrado constitui-se de um conjunto formado pelo espaço de celebração – a igreja
propriamente dita, por uma residência para três religiosas, um salão e um campo de futebol. A implantação
destes foi realizada através da execução de quatro platôs, sendo o mais baixo no limite da Avenida dos Ipês e,
o mais alto, no limite da Rua das Mangabeiras. Na realização desse projeto foram utilizados materiais do
próprio local, tais como tijolos de barro e a estrutura portante de madeira, em aroeira da região. Restringiu-se o
emprego do concreto armado apenas às partes essenciais da estrutura: pilares e vigas dos volumes circulares
da igreja e da residência.
O volume da igreja é localizado na parte mais alta do relevo. Seu acesso se dá frontalmente à Avenida dos
Mognos, por uma porta de madeira treliçada. O volume é constituído por um círculo, cuja estrutura do telhado é
sustentada por 8 pilares em madeira, dispostos regular e ortogonalmente. A estrutura do volume apresenta
vigas e pilares em concreto armado, aparentes na fachada, com fechamento externo em tijolinho também
aparente. As paredes internas apresentam massa e pintura na cor branca, aplicadas em uma intervenção
posterior. O piso é realizado em pedra portuguesa, com pintura na cor rosa, com corredor central com piso com
pintura branca e moldura em toda a extensão da circunferência na cor preta. A Igreja não possui forro, ficando
aparentes a estrutura do telhado em madeira e o revestimento em telhas capa-e-canal. Foram colocados
pilares em madeira para escoramento de vigas que apresentam rachaduras. O altar situa-se em um nível um
pouco acima do nível da Igreja, recebendo piso em cimento queimado vermelho. No telhado acima do altar, o
revestimento é realizado em telhas translúcidas, destinadas a proporcionar iluminação nessa área. A parte
posterior do altar é fechada por uma parede de alvenaria, que recebe textura nas cores azul e branco. Atrás
dessa parede, localiza-se uma sala que abriga a sacristia, com fechamento lateral também em paredes de
alvenaria, contando com armários, mesas, cadeiras, mesa de som. Desse espaço, tem-se acesso ao
campanário, que não possui sino. As instalações elétricas e hidráulicas da Igreja são aparentes, apresentando,
em alguns locais, fiação exposta.
O volume da residência, também circular, está situado em um platô em um nível abaixo do da Igreja. Seu
acesso principal conduz a um hall, que permite a entrada tanto à secretaria da Paróquia quanto à sala da
administração. Desta última, tem-se acesso a um banheiro e ao hall de circulação interno dos dormitórios. Na
secretaria da Paróquia foi instalada uma divisória, criando-se um pequeno depósito. Deste, tem-se acesso à
cozinha, e desta à uma despensa. Todos os ambientes possuem forro em réguas de madeira e o piso é
constituído de tábuas corridas de madeira, exceto nas áreas molhadas – cozinha, banheiros e lavanderia, que
é feito em cimento. O volume conta com um pátio interno central, descoberto, com uma pequena fonte, que
atualmente não funciona. O piso desse pátio é feito em cimento, com seixos rolados. As janelas dos
dormitórios, banheiros e outras dependências voltam-se para esse pátio, assim como uma porta que dá acesso
à cozinha e outra à sala da secretaria. Todas as paredes internas recebem massa com pintura, sendo que os
banheiros recebem revestimento em cerâmica branca, 15x15cm. A estrutura do telhado é em madeira, com
revestimento em telhas capa-e-canal. No hall de circulação interno, uma parte da cobertura, localizada acima
da escada que permite acesso à Igreja, recebe revestimento em vidro temperado, no formato de um triângulo,
proporcionando iluminação à essa área. Da cozinha, tem-se acesso à lavanderia, que conta com um banheiro
e um tanque. Da lavanderia, descendo-se para um nível inferior, chega-se a uma área coberta – destinada
originalmente à churrasqueira, que hoje possui alguns bancos e uma pia, sendo utilizada pela creche. Esse
espaço possui uma escada, que permite acesso ao subsolo do volume da residência, que abriga duas salas de
depósito e um banheiro. Nessa área, o piso é em cerâmica vermelha, 15x15cm, e as paredes possuem
revestimento apenas de reboco grosso. No mesmo nível dessa área coberta localiza-se o salão, destinado a
eventos, reuniões e festas; constitui-se de um volume com estrutura com pilares de madeira, que sustentam a
estrutura também em madeira do telhado. Seu fechamento é em peças roliças de madeira, até a altura do
telhado. O piso é feito em placas de concreto. No nível mais baixo, no limite com a Avenida dos Ipês, encontra-
se o campo de futebol, originalmente gramado, que hoje recebe pavimentação com placas de concreto. Na
parte voltada para a avenida acima citada, o lote recebe fechamento em muro de alvenaria. Na face voltada
para a Avenida dos Mognos, recebe grade.
10. Uso Atual: 11. Situação de Ocupação:
( ) Residencial ( ) Serviço ( X ) Própria ( ) Alugada
( ) Comercial ( X ) Institucional ( ) Cedida ( ) Comodato
( ) Industrial ( ) Outros ( ) Outros
12. Proteção Legal Existente 13. Proteção Legal Proposta:
( X ) Tombamento ( ) Tombamento Federal ( ) Tombamento Integral
( ) Municipal ( ) Tombamento Estadual ( ) Tombamento Parcial
( ) Federal ( ) Tombamento Municipal ( ) Fachadas
( X ) Estadual ( ) Entorno de Bem Tombado ( ) Volumetria
( ) Nenhuma ( ) Documentação Histórica ( ) Restrições de Uso e
( ) Inventário Ocupação
Designação: Igreja Espírito Santo do Cerrado
236

14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência:


O entorno da Igreja Espírito Santo do Cerrado encontra-se bastante adensado, diferentemente da época em
que foi inaugurada, em que existiam poucas edificações no bairro – considerado periferia. Atualmente, o
entorno é constituído por edificações em sua maioria térreas, cujo uso predominante é o residencial. Existem,
no entanto, na área, uma creche, localizada ao lado da Igreja, e algumas edificações destinadas ao comércio
local, tais como bares, mercearias e sacolão. Não há uma tipologia arquitetônica específica e predominante
nas edificações do entorno. Situado em uma esquina, o terreno da Igreja, que ocupa toda a extensão da
quadra, é delimitado pela Avenida dos Mognos, Avenida Ipê e Rua das Mangabeiras. As duas avenidas são de
duplo sentido, com canteiro central arborizado, contando, cada uma delas, com duas pistas de rolamento e
uma pista para estacionamento. A Rua das Mangabeiras também possui duplo sentido, com duas pistas de
rolamento e estacionamento nos dois lados. A calçada, em todas as três vias de circulação, possuem 5 metros
de largura. Entretanto, na extensão do lote da Igreja, a calçada não é pavimentada, possuindo apenas grama,
que não conta com manutenção e cuidados especiais. Também nessa extensão, existem três sibipirunas.
Quanto ao fluxo de veículos, na Avenida Ipê, ele é intenso; na Avenida dos Mognos, é moderado; e na Rua das
Mangabeiras, é pequeno, configurando-se como uma via de acesso residencial.
15. Estado de Conservação:

( ) Excelente ( X ) Bom ( X ) Regular ( ) Péssimo


16. Análise do Estado de Conservação:
Igreja: O espaço circular que abrange a igreja propriamente dita – local de celebração de missas – encontra-se
em estado de conservação regular. A edificação apresenta problemas físico-construtivos e problemas estético-
formais. Na primeira classificação, encontram-se principalmente os problemas relacionados à estrutura do
telhado, que apresenta vigas em madeira com início de processo de rachamento (foram colocados
escoramentos nas peças que apresentam essas rachaduras, no entanto, esses escoramentos, de madeira
pouco resistentes, têm sido atacados por cupins, comprometendo a função a que se destina), e às instalações
elétricas, visto que essas estão aparentes, com fiação exposta e com risco de curto-circuito. Na segunda
classificação, encontram-se as intervenções realizadas no imóvel, que provocaram uma sensível
descaracterização deste em relação ao projeto original da arquiteta Lina Bo Bardi: aplicação de massa sobre o
tijolinho nas paredes internas da Igreja (que em alguns pontos apresentam rachaduras); fechamento dos vãos
de iluminação em toda a extensão da Igreja, provocando perda da circulação cruzada de ar; construção de
paredes de alvenaria, formando um cômodo para abrigar a sacristia, localizada atrás do altar; pintura da pedra
portuguesa do piso; recobrimento do piso do altar, originalmente de tijolinho, em cimento queimado vermelho;
entre outros.
Residência: O volume que abriga atualmente a administração da Paróquia Espírito Santo do Cerrado encontra-
se em bom estado de conservação, visto que mantém sua integridade físico-construtiva. Os problemas
identificados nesse local são de fácil resolução: desgaste em peças do forro de madeira; necessidade de troca
de algumas peças danificadas do rodapé em madeira; desgaste e manchas no piso em cimento da cozinha e
banheiros. Esse volume, assim como o da Igreja propriamente dita, apresenta intervenções descaracterizantes
em relação ao projeto original: substituição de uma esquadria original; instalação de forro em réguas de
madeira; entre outros.
Salão: O salão encontra-se em bom estado de conservação, no que tange à sua integridade física e
construtiva. A estrutura do volume e do telhado, as telhas, o fechamento e o piso não apresentam danos. No
entanto, assim como os dois volumes anteriores, o salão sofreu intervenções conflitantes com o projeto
original: fechamento com peças de madeira até a altura do telhado; pavimentação do piso com placas de
concreto; entre outros.
17. Fatores de Degradação:
Os principais fatores de degradação identificados na edificação estão relacionados à presença de cupins;
infiltrações de água pelo telhado (o que foi solucionado com uma completa revisão em sua estrutura e
vedação, mas que provocou danos em peças do forro em madeira); desgaste natural de materiais em função
do uso; e, principalmente, a realização de intervenções improcedentes e descaracterizantes em relação ao
projeto original de Lina Bo Bardi.
18. Medidas de Conservação:
As principais medidas de conservação a serem realizadas na Igreja Espírito Santo do Cerrado são: tratamento
e cuidados especiais de peças de madeira para o combate à atuação dos cupins; substituição de peças
danificadas do forro; manutenção do imóvel; execução de um projeto de restauração que venha solucionar os
problemas que a edificação apresenta, sem descaracterizar o projeto original e sem provocar a perda da
qualidade arquitetônica, ambiental e de conforto aos usuários.
19. Intervenções:
Igreja
• Aplicação de massa sobre o tijolinho, anteriormente aparente, nas paredes internas da igreja, com pintura em tinta
branca;
• Fechamento dos vãos de iluminação e ventilação cruzada, antes existentes em toda a extensão da circunferência
do volume da igreja, também com massa, provocando uma sensível queda no conforto ambiental do espaço;
237

• Colocação de pilares de madeira para funcionarem como escoramento de vigas que apresentam rachaduras; não
cuidando para que essas peças fossem realmente resistentes, visto que se apresentam em processo de
degradação pela ação de cupins, prejudicando a função para a qual foram destinados;
• Construção de um cômodo com paredes de alvenaria, localizado atrás do altar, com paredes chegando até a
estrutura do telhado, ocasionando assim, a perda da qualidade estética do espaço, cujo volume circular foi
quebrado por uma intervenção totalmente improcedente;
• Substituição do piso do altar, originalmente de tijolinho, por cimento queimado vermelho, provocando perda da
unidade no piso, que era totalmente realizado em pedra portuguesa;
• Pintura do piso em pedra portuguesa em toda a parte interna da Igreja, na cor rosa, efetuando-se pintura da piso
de corredor central na cor branca.
• Instalação de luminárias, sem cuidados com a fiação elétrica, que encontra-se aparente e com fios expostos.
Residência
• Substituição da porta da atual sala da administração, onde a esquadria original foi retirada e em seu lugar foi
instalada uma porta de madeira com uma moldura em vidro jateado, no qual foi inscrito o nome do Padre
Henrique;
• Fechamento do vão da porta de acesso ao banheiro, que anteriormente se abria para o hall de entrada da
residência, transferindo-se esse acesso para a sala da administração, configurando esse banheiro como privativo;
• Instalação de forro em réguas de madeira em toda a área interna da residência;
• Instalação de divisórias na atual sala da secretaria da Paróquia (antiga sala de reuniões);
• Construção de um subsolo, abaixo da residência, com acesso pela parte posterior – próximo à churrasqueira, que
conta com duas áreas para depósito de materiais e um banheiro;
• Ampliação da cobertura da área da churrasqueira.
Salão
• Substituição do fechamento do espaço, a meia altura, em bambu, por peças em madeira roliça, cuja altura alcança
a estrutura do telhado;
• Pavimentação do piso, originalmente em terra batida, por placas de concreto.
Campo de Futebol
• Pavimentação do campo com placas de concreto, em substituição à grama, provocando com isso, além da
impermeabilização do solo, um aumento considerável na temperatura local;
• Fechamento do campo com muro em alvenaria, encimado por uma cerca de arame farpado.
Área externa
• Fechamento frontal com grade metálica, na extensão da esquina da Avenida Ipê até o nível do platô onde localiza-
se a residência – acesso principal da Igreja. Esta grade faz também o fechamento do acesso externo do salão,
quebrando o caráter público da instituição;
• Construção de um volume anexo para abrigar a secretaria da Paróquia, encostado no volume cilíndrico do
campanário, provocando perda da qualidade estética da edificação;
• Instalação de guarda-corpos metálicos no nível mais elevado do terreno, na parte frontal.
20. Referências Bibliográficas:
• Bardi, Lina & Almeida, Edmar de. Igreja Espírito Santo do Cerrado – 1976/1982. Editora Blau – Instituto
Lina Bo e Pietro Maria Bardi, 1999. Lisboa, Portugal.
21. Informações Complementares:

22. Atualização de Informações:

23. Ficha Técnica:


Fotografias: Data:
Elaboração: Cíntia Chioca Data: outubro/2002
Revisão: Fábio Leite Data: outubro/2002
238

ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS


01. Município: Uberlândia 02. Distrito: Sede
03. Designação: Igreja Nossa Senhora do Rosário
04. Endereço: Praça Rui Barbosa s/n – Centro
05. Propriedade: Propriedade Privada - Eclesiástica
06. Responsável: Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens de Cor
07. Histórico:
A Igreja Nossa Senhora do Rosário constitui-se a terceira construção destinada ao Rosário de Maria
Santíssima nessa cidade. Sua primeira implantação seria realizada na baixada que verte para o Ribeirão São
Pedro. Entretanto, considerando as tendências de crescimento do arraial, optou-se por construí-la no local
atualmente ocupado pela Praça Dr. Duarte. No ano de 1891, o Sr. Arlindo Teixeira, membro da Comissão
Procuradora da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, propôs a transferência da capela, que se
encontrava em estado de abandono e degradação, para a praça hoje denominada Rui Barbosa. Autorizada
pela comissão em junho do mesmo ano, a construção da capela foi finalizada em 1893, tendo sido empregada
estrutura autônoma de madeira e fechamento em tijolos de adobe. Essa capela tinha frontispício voltado para o
Ribeirão São Pedro e contava com três portas – uma central, mais larga, e duas laterais a esta; com duas
janelas rasgadas por inteiro, com balaústres de madeira recortada, no nível do coro. No entanto, já nos
primeiros anos, verificou-se um espírito geral de descontentamento em relação à essa edificação, considerada
uma “acanhada ermida sertaneja”. Dessa forma, alguns anos mais tarde, já se cogitava a construção de uma
nova capela. Por iniciativa do farmacêutico Cícero Macedo, que havia construído sua residência na Praça Rui
Barbosa, formou-se uma comissão encarregada de uma construção de uma nova capela, “mais condizente
com a época, para embelezar a praça”. Essa comissão conseguiu apoio e recursos da população de
Uberlândia. A antiga capela foi então demolida e a construção da Igreja Nossa Senhora do Rosário se deu
entre os anos de 1928 e 1931, tendo sido inaugurada em maio de 1931.
09. Documentação Fotográfica:
239

A implantação da Igreja na praça foi modificada, sofrendo uma rotação – seu frontispício foi orientado para o
Norte, isto é, para o lado em que a cidade crescia, ficando os fundos voltados para o Ribeirão São Pedro.Em 9
de dezembro de 1985, a Igreja Nossa Senhora do Rosário foi tombada em âmbito municipal pela Lei nº 4263.
No biênio 1987/1988 e no ano de 1992, a igreja passou por processos de restauração. Além de ser a
construção religiosa mais antiga da cidade, a importância dessa Igreja decorre também do fato de ela ser a
sede da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens de Cor de Uberlândia, que a
mantém. Fundada em 1916, essa Irmandade conserva até os dias atuais a tradição da Festa da Congada, que
ocorre em novembro – uma das mais expressivas manifestações de festividade religiosa dessa cidade.
Atualmente, a Igreja tem sido utilizada para missas e reuniões de grupos de oração.
08. Descrição:
A Igreja foi projetada pelo arquiteto Thomaz Hovanes, que utilizou uma linguagem eclética, onde predominam
elementos neogóticos. Com implantação no centro da praça, a Igreja possui frontispício voltado para o Norte. A
volumetria da igreja é regular e simétrica, com uma torre central, localizada na parte anterior da edificação. Sua
planta desenvolve-se em cruz, com transepto que avança nas laterais. Possui nave única, duas sacristias
laterais, arco-cruzeiro, capela-mor e coro sobre a porta principal.
As sacristias comunicam-se diretamente com a capela-mor através de portas de madeira, com bandeira na
forma ogival, em madeira e vidro liso. A sacristia localizada à direita possui uma porta de acesso ao exterior do
edifício. Um outro vão, de verga reta, foi aberto em data posterior à da construção da igreja, promovendo a
comunicação entre a sacristia, localizada à esquerda, e a capela lateral.
O altar é feito em mármore branco, com detalhes em mármores coloridos, iluminado por três vitrais coloridos.
O piso da nave e do transepto é realizado em ladrilhos hidráulicos decorados, formando um mosaico. O piso
da capela-mor é de ladrilho hidráulico branco, com peças de ladrilho hidráulico decorado formando um
requadro. Nas sacristias, no coro e na torre, o piso é de assoalho de madeira, com tábuas corridas. Os forros
da nave, transepto e capela-mor são em madeira, em gamela. Os pilares que sustentam o coro apresentam,
na parte superior, mão-francesa em forma de voluta. Todas as paredes internas da igreja recebem pinturas
decorativas. Os lustres existentes não são originais. Exteriormente, a composição da fachada frontal é
marcada pelos pilares, que a dividem em três partes, elevando e destacando a torre central. A porta principal é
em madeira, almofadada, apresentando entalhes decorativos, ladeada por dois falsos nichos. Vitrais coloridos
fazem a iluminação do coro. Na parte superior da fachada, duas janelas, com mesma proporção e desenho
dos vitrais, iluminam a torre. Na fachada central encontra-se um relógio, que não possui mecanismo de
funcionamento. Os elementos decorativos constituem as cimalhas, as coroações em ogivas das janelas, vitrais
e portas, ático, bordaduras abaixo do relógio e pináculos, que fazem o arremate final de cada pilar. Na altura
do piso do coro, uma moldura percorre externa e horizontalmente as fachadas. Em cada uma das fachadas
laterais, encontram-se duas portas, também de madeira, encimadas por um vitral. Na fachada posterior nota-se
a presença de instalações sanitárias, construídas em 1984, que comprometeram a composição estética da
igreja. A ventilação é realizada através de dois pequenos vãos gradeados abertos na fachada. A nave tem a
sua cobertura em duas águas, feita em estrutura de madeira e revestida em telhas cerâmicas. Os condutores
de água pluvial estão parcialmente aparentes. A cobertura da torre é realizada em quatro águas, com estrutura
em madeira e revestimento em chapas metálicas. Acima dessa cobertura, está localizada a cruz, feita em
treliça metálica.
10. Uso Atual: 11. Situação de Ocupação:
( ) Residencial ( ) Serviço ( X ) Própria ( ) Alugada
( ) Comercial ( X ) Institucional ( ) Cedida ( ) Comodato
( ) Industrial ( ) Outros ( ) Outros
12. Proteção Legal Existente 13.Proteção Legal Proposta:
( X ) Tombamento ( ) Tombamento Federal ( ) Tombamento Integral
( X ) Municipal ( ) Tombamento Estadual ( ) Tombamento Parcial
( ) Federal ( ) Tombamento Municipal ( ) Fachadas
( ) Estadual ( ) Entorno de Bem Tombado ( ) Volumetria
( ) Nenhuma ( ) Documentação Histórica ( ) Restrições de Uso e
( ) Inventário Ocupação
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência:
A Praça Rui Barbosa é delimitada, a Norte, pela Rua Silviano Brandão, a Sul, pela Rua Barão de Camargos, a
Leste, pela Rua Rodolfo Correa e, a Oeste, por uma travessa sem denominação. O piso externo da praça, na
área circundante à igreja, é feito em tijolo cerâmico, tipo “tijolinho espelho”. A praça, em suas outras áreas,
recebe piso em pedra portuguesa preta, branca e vermelha, formando uma paginação em arcos definida com
projeto paisagístico realizado em 1984. O entorno da igreja encontra-se parcialmente verticalizado, visto que
se encontram, em seu entorno imediato, dois edifícios residenciais com mais de dez pavimentos.
Designação: Igreja Nossa Senhora do Rosário
As outras edificações adjacentes constituem em edifícios de tipologia arquitetônica variada,
240

predominantemente térreas, com usos diversos, tais como restaurantes edifícios de serviço, de comércio e
residenciais. Destaca-se o conjunto arquitetônico da esquina da Praça, hoje ocupado pela Sorveteria Bicota e
por uma pizzaria, edificações em estilo eclético, contemporâneas à igreja. As ruas circundantes possuem uma
faixa para trânsito de veículos e outra para estacionamento. Apresentam fluxo de moderado a intenso, de
acordo com o horário. A travessa lateral constitui uma espécie de rua particular, na qual o fluxo é pouco
intenso.
15. Estado de Conservação:

( ) Excelente ( X ) Bom ( ) Regular ( ) Péssimo


16. Análise do Estado de Conservação:
O estado de conservação da Igreja pode ser considerado bom, na medida em que a edificação mantém sua
integridade estrutural. Porém apresenta alguns problemas de ordem física, de fácil resolução: a alvenaria e o
reboco apresentam algumas partes danificadas; os elementos artísticos aplicados interna e externamente nas
paredes apresentam algumas partes com danos; a pintura das paredes e das portas e janelas apresentam
desgaste, manchas, vários vidros quebrados e início de processo de oxidação nas esquadrias de metal; a
porta principal está bastante danificada; o piso de ladrilho hidráulico está sujo e apresenta algumas peças
trincadas; a parte que separa o transepto da capela-mor apresenta um afundamento do piso; o piso em
mármore do altar está sujo; o piso das sacristias, coro e torre, feito de assoalho de madeira, possui peças
bastante desgastadas e abauladas; o forro apresenta problemas de deterioração de algumas peças e sua
estrutura não se encontra em bom estado de conservação; na estrutura em madeira da cobertura da torre são
encontradas peças em processo de apodrecimento e seu revestimento em chapas metálicas também está
comprometido; os banheiros encontram-se em péssimo estado de conservação, com grande parte de seu
revestimento de piso e de parede soltos, sujos ou quebrados.
17. Fatores de Degradação:
Os fatores de degradação do imóvel estão relacionados principalmente à má conservação e manutenção da
igreja. Cupins atacam o madeiramento da estrutura do forro, do telhado, do piso do coro, do piso da torre, do
piso das sacristias; existem infiltrações de água em diversos pontos da igreja, tanto interna quanto
externamente, provocados principalmente por problemas no telhado, como telhas deslocadas, quebradas ou
faltantes; os banheiros encontram-se em mau estado de conservação, provocado pela falta de cuidado dos
usuários. Outros problemas, como o desgaste e a sujeira, são causados pela ação natural do ambiente.
18. Medidas de Conservação:
As medidas de conservação pertinentes referem-se à reforma no telhado, com recuperação da sua estrutura e
substituição de telhas; reforma nos banheiros, recompondo todos os revestimentos e maximizando a ventilação
e iluminação no local; tratamento especializado das madeiras, tanto no piso e estrutura como no forro; pintura
geral da igreja, tanto interna quanto externa, realizando a restauração das pinturas decorativas. Outra medida
de grande importância é a execução do um projeto de restauração da igreja, que está sendo elaborado pela
Divisão de Memória e Patrimônio Histórico da Prefeitura Municipal de Uberlândia.
19. Intervenções:
Em 1958, foi realizada uma reforma no forro e no telhado. Em 1961, os bancos foram restaurados.
Posteriormente, algumas modificações foram realizadas: troca de esquadrias da torre; fechamento da escada
de acesso ao coro; abertura de uma segunda porta na sacristia esquerda, interligando-a à capela lateral;
construção de dois banheiros, nos fundos da igreja, com acesso pelo pátio externo. No biênio 1987/1988, a
igreja passou por um processo de restauração, realizado pela empresa Século XXX – Preservação e Restauro,
de Belo Horizonte. Projeto executado pela Secretaria Municipal de Cultura de Uberlândia, com acessoria
técnica por um convênio firmado com IEPHA/MG, foi inaugurado em 12 de junho de 1988. Um novo processo
de restauração da igreja foi realizado em junho de 1992, dessa vez executado pela empresa Hubaid
Engenharia de Construção Ltda, de Uberlândia, sem o acompanhamento técnico de um responsável por esse
setor, ocasionando, dessa forma, falhas na resolução dos problemas existentes na edificação.
20. Referências Bibliográficas:
• ATTUX, Denise Elias. Revitalização Urbana em Centros Históricos: Estudo de Caso do Bairro
Fundinho. Dissertação de Mestrado. Instituto de Geografia, UFU, 2001.
• GUERRA, Maria Eliza. As ‘Praças Modernas’ de João Jorge Coury em Uberlândia. Dissertação de
Mestrado. Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1998.
• PEZZUTI, Pedro. Município de Uberabinha. Uberabinha, 1922.
• TEIXEIRA, Tito. Pioneiros e Bandeirantes do Brasil Central. Uberlândia, vol.1, 1970.
• VALE, Marília Maria Brasileiro Teixeira. A Arquitetura Religiosa do Século XIX no Sertão da Farinha
Podre. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 1998.
241

21. Informações Complementares:

22. Atualização de Informações:

23. Ficha Técnica:


Fotografias: Cíntia Maria Chioca Lopes Data: agosto/2002
Elaboração: Cíntia Maria Chioca Lopes Data: agosto/2002
Revisão: Marília M. B. T. Vale. Data: agosto/2002
242

ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS


01. Município: Uberlândia 02. Distrito: Miraporanga
03. Designação: Igreja Nossa Senhora do Rosário de Miraporanga
04. Endereço:
05. Propriedade: Propriedade Privada - Eclesiástica
06. Responsável: Diocese de Uberlândia
07. Histórico:
No período de 1850 a 1852, foi construída a primeira capela no distrito de Santa Maria – hoje
Miraporanga, sob o oráculo de Nossa Senhora do Carmo e Santa Maria Maior: a Capela Nossa Senhora
das Neves, tendo sido a 15º capela construída no Sertão da Farinha Podre e a única remanescente nos
dias atuais. O início da construção contou com a orientação do então vigário do Prata, o Padre Antônio
Dias de Gouvêia. O Padre Gouvêia era uma figura irrequieta, proprietário de enormes fazenda, com
uma intensa atuação política, tendo sido vítima, dentro de sua própria Igreja no Prata, de um atentado a
tiros, do qual saíra ileso. Abandonou desgostoso a sua paróquia, retirando-se para sua fazenda do
Espraiado. A construção da “capelinha de Santa Maria” foi finalizada em 1852, sob orientação do Padre
Jerônimo Gonçalves Macedo. A Capela Nossa Senhora das Neves, posteriormente denominada Nossa
Senhora do Rosário, foi construída por escravos e serviu como espaço de repouso para os integrantes
da Coluna do Mato Grosso, composta por cerca de 3.000 homens, que seguiam para a Guerra do
Paraguai, no ano de 1865. Foi tombada em âmbito municipal através da Lei nº 1650, de 14 de outubro
de 1968, devido à sua importância histórica enquanto marco do núcleo que originou a cidade de
Uberlândia, e devido à sua importância arquitetônica, pois representa uma forte referência do estilo
colonial primitivo, que possui atualmente poucos exemplares remanescentes no Brasil. Essa Igreja teve
o seu nome substituído por Igreja Nossa Senhora do Rosário em 30 de julho de 1986, através de uma
votação realizada pelo Conselho Comunitário de Miraporanga, devido às discussões acerca das várias
padroeiras da capela. No mesmo ano de 1986, a Igreja Nossa Senhora do Rosário de Miraporanga
sofreu um processo de restauração, executado pelas Secretarias de Cultura e de Obras, da Prefeitura
Municipal de Uberlândia, e contando com assessoria técnica do IEPHA-MG. No período de 1999 a
2001, a Igreja sofreu nova restauração, visto que foram verificados na edificação problemas
relacionados à infiltração de águas pluviais pela cobertura, deterioração da estrutura autônoma de
madeira e das alvenarias de adobe, má conservação geral do imóvel, entre outros. A restauração foi
realizada pela Secretaria de Cultura – Divisão de Memória e Patrimônio Histórico, de acordo com projeto
elaborado pelos arquitetos Rodrigo Meniconi e Alessandro Rende. A Igreja foi entregue à população no
dia 09 de junho de 2001.
09. Documentação Fotográfica:
243

08. Descrição:
A Igreja Nossa Senhora do Rosário de Miraporanga caracteriza-se pelo estilo arquitetônico colonial. O
sistema construtivo empregado utiliza técnicas vernaculares de construção, com vigas baldrames, vigas
estruturais e esteios em madeira, apresentando fechamento em tijolos de adobe, com pintura em
caiação. A planta da capela desenvolve-se em partido retangular, no qual o altar localiza-se na parte
central da nave, ladeado por corredores que dão acesso às sacristias. O altar-mor situa-se em um plano
mais elevado que o restante da edificação e apresenta-se cercado por uma galeria de balaústres de
madeira. As sacristias localizam-se na parte posterior do corpo da capela. O piso interno da capela é
realizado em assoalho de madeira, com tábuas corridas. A nave apresenta forro em réguas de madeira,
revestidas com pintura a óleo. Os corredores laterais e as sacristias não apresentam forros, ficando a
estrutura do telhado aparente. As fachadas apresentam uma composição simples, na qual a fachada
principal apresenta um corpo central mais elevado, ladeado por dois outros volumes com cobertura em
uma água, obedecendo a um eixo de simetria marcado pela porta principal em madeira, que apresenta
verga em canga de boi. As fachadas laterais são idênticas, apresentando, cada uma, uma porta e duas
janelas, com verga reta. Na fachada posterior, os volumes mais baixos se encontram, visto que o corpo
central termina no alinhamento do altar-mor. Os elementos estruturais ficam aparentes nas fachadas. A
cobertura do corpo central da edificação é realizada em duas águas. Toda a cobertura possui estrutura
em madeira, revestimento em telhas colonial e apresenta beirais, cujos cachorros são escondidos por
um forro em réguas de madeira. Sobre o telhado da nave central, há três cruzes latinas. A capela
constitui uma referência de grande importância do estilo arquitetônico colonial e também constitui um
marco histórico do núcleo que originou a cidade de Uberlândia.
10. Uso Atual: 11. Situação de Ocupação:
( ) Residencial ( ) Serviço ( X ) Própria ( ) Alugada
( ) Comercial ( X ) Institucional ( ) Cedida ( ) Comodato
( ) Industrial ( ) Outros ( ) Outros
12. Proteção Legal Existente 13. Proteção Legal Proposta:
( X ) Tombamento ( ) Tombamento Federal ( ) Tombamento Integral
( X ) Municipal ( ) Tombamento Estadual ( ) Tombamento Parcial
( ) Federal ( ) Tombamento Municipal ( ) Fachadas
( ) Estadual ( ) Entorno de Bem Tombado ( ) Volumetria
( ) Nenhuma ( ) Documentação Histórica ( ) Restrições de Uso e
( ) Inventário Ocupação
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência:
A Igreja Nossa Senhora do Rosário de Miraporanga localiza-se na área mais elevada de uma região que
possui um declive em direção ao Córrego Santa Maria, oposta ao local onde se concentra o núcleo
habitacional do distrito. Seu entorno é composto por área extensa, com algumas árvores de grande
porte. Existem algumas construções residenciais nas proximidades; no entanto, sua relativa distância
em relação à igreja, seu gabarito e sua integração com a paisagem natural não comprometem a
ambiência e a visibilidade da Igreja. Na parte frontal à Igreja, a cerca de 45 metros desta, encontra-se
um cruzeiro antigo e, a aproximadamente 15 metros da igreja, localiza-se o cruzeiro novo.
15. Estado de Conservação:

( X ) Excelente ( ) Bom ( ) Regular ( ) Péssimo


16. Análise do Estado de Conservação:
A Igreja Nossa Senhora do Rosário de Miraporanga sofreu um processo de restauração no ano de
2001, sendo inaugurada em 09 de junho de 2001. Sendo assim, os problemas físicos e construtivos
encontrados na edificação foram solucionados, devolvendo à Igreja sua integridade e funcionalidade.
17. Fatores de Degradação:
Não foram detectados fatores de degradação no imóvel.

18. Medidas de Conservação:


As medidas de conservação pertinentes referem-se à manutenção periódica no edifício.

19. Intervenções:
As intervenções realizadas na Igreja Nossa Senhora do Rosário de Miraporanga constituem,
basicamente, os dois processos de restauração, ocorridos um em 1986 e outro no período de 1999 a
2001. Em ambos, foram realizadas intervenções tais como, entre outras: substituições de peças
estruturais de madeira danificadas; execução de vigamento e travamento necessários à manutenção da
integridade construtiva do imóvel; recomposição e consolidação da alvenaria; revisão, recuperação e
substituição de peças da cobertura; reconstituição de revestimentos e esquadrias; execução de
244

Designação: Igreja Nossa Senhora do Rosário de Miraporanga


instalações elétricas; imunização e limpeza geral do imóvel; restauração de peças e elementos
integrados à edificação.
20. Referências Bibliográficas:
• PEZZUTI, Pedro. Município de Uberabinha. Uberabinha, 1922.
• TEIXEIRA, Tito. Pioneiros e Bandeirantes do Brasil Central – História da Criação do Município
de Uberlândia. Uberlândia, vol.1, 1970.
• VALE, Marília Maria Brasileiro Teixeira. A Arquitetura Religiosa do Século XIX no Sertão da
Farinha Podre. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 1998.
21. Informações Complementares:
22. Atualização de Informações:

23. Ficha Técnica:


Fotografia: Fábio Leite Data: junho/2001
Elaboração: Cíntia Chioca Data: outubro/2002
Revisão: Fábio Leite Data: outubro/2002
245

ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS


01. Município: Uberlândia 02. Distrito: Sede
03. Designação: Mercado Municipal
04. Endereço: Olegário Maciel nº255 - Centro
05. Propriedade: Pública
06. Responsável: ALMEM - Associação dos Locatários do Mercado Municipal
07. Histórico:
O primeiro decreto - lei autorizando a construção de um mercado municipal em Uberlândia, data de 13 de
janeiro de 1923, porém, a sua construção, à Rua Olegário Maciel, no. 255, só aconteceu em 25 de dezembro
de 1944, no mandato do Prefeito Vasconcelos Costa. Sendo este o único estabelecimento do gênero, à
medida que a cidade crescia, a ampliação do prédio tornou-se necessária. Na Administração do Prefeito Tubal
Vilela da Silva, foi criado um prédio anexo, ocupando toda a lateral direita e o fundo do terreno; este anexo que
serviria de estufa para o amadurecimento de frutas. Como o projeto não foi bem sucedido, o prédio foi
transformado em um local para novas lojas. Posteriormente foi construído outro bloco, na área lateral esquerda
da construção original, com lojas na fachada voltada para a Avenida Getúlio Vargas e outras para a área
interna do Mercado; o pavimento superior cedido à UESU (União dos Estudantes Secundaristas de
Uberlândia), que ali permaneceu até 1991. Em 1959, na gestão do prefeito Geraldo Ladeira, foram construídos
seis cômodos, na lateral esquerda do prédio principal, destinados à instalação de açougues, além de novos
sanitários localizados no pátio. Em 1972, no governo do Prefeito Virgílio Galassi, foi construído um cômodo
para o depósito de frutas, anexo às lojas do fundo. Com a criação do CEART, em 1977, o Mercado Municipal
perdeu sua função de concentrador do comércio atacadista hortifrutigranjeiro, ficando apenas com o comércio
varejista. Em 1985, foi criado mais um anexo em seu pátio, destinado a receber a administração, o PRONAV -
Programa Nacional de Voluntários - e um cômodo para depósito. A partir de 1995, nas gestões dos Prefeitos
Paulo Ferolla da Silva e Virgílio Galassi, os prédios centrais, laterais direito e dos fundos foram restaurados.
Atualmente, o Mercado Municipal conta com 46 (quarenta e seis) lojas comerciais e 09 (nove) depósitos para
armazenamento de produtos. O prédio cuja fachada é voltada para a Avenida Getúlio Vargas, hoje acomoda a
sede da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Uberlândia e as suas lojas estão fechadas. O
Mercado foi Tombado pela Lei Municipal nº8130 de 2002.
09. Documentação Fotográfica:
246

O primeiro Diretor do Mercado Municipal foi o Sr. Antônio Ferreira Magalhães. Hoje a Administração do
Mercado Municipal está sob a responsabilidade da ALMEM (Associação dos Locatários do Mercado
Municipal), conforme Termo de Permissão de Uso outorgado na data de 01 de novembro de 1988, e
supervisionado pelo Encarregado Administrativo, Sr. Arnaldo Botelho Garcia, lotado na Secretaria Municipal de
Agropecuária e Abastecimento, responsável pelos setores de feiras e mercados do Município de Uberlândia.
08. Descrição:
O projeto apresenta influência da arquitetura moderna e, segundo divulgação da época de sua construção,
atendia à todas as condições técnicas recomendadas; seu autor é desconhecido. O conjunto é composto por
três blocos independentes, dispostos paralelamente entre si, um bloco sobre os limites do terreno nos fundos –
que, na verdade é a continuação do bloco lateral direito -, e um pátio interno, delimitado pelo três blocos e o
bloco dos fundos. O pátio interno se abre para a Avenida Getúlio Vargas e se liga à Rua Olegário Maciel por
duas vias internas, pavimentadas com paralelepípedos de basalto, que passam entre os três blocos. O Bloco
central, o mais antigo, possui um grande volume circular, de dois pavimentos, em sua fachada principal voltada
para a Rua Olegário Maciel; possui esquadrias de metal verticais, com decoração de elementos geométricos e
platibanda alta; o corpo deste bloco desenvolve-se em um volume retangular, com abertura zenital na parte
central e abriga as lojas; além da entrada principal, possui acessos pelas laterais e pelo pátio interno, criando
uma circulação cruzada entre as ilhas dos boxes. O bloco da lateral esquerda, que se estende pelo limite do
terreno nos fundos, possui um único pavimento; cada cômodo possui um frontão que esconde o telhado com
um óculo circular no centro; as lojas estão voltadas para a rua interna ou para o pátio; as portas são protegidas
por lajes que avançam sobre a calçada. O terceiro bloco, na lateral esquerda, possui dois pavimentos; o térreo
é ocupado por lojas voltadas para a Avenida Getúlio Vargas e para a rua interna; o segundo pavimento possui
um grande salão e salas menores. O acesso ao segundo pavimento é feito por uma rampa apoiada em pilares
circulares e protegida por elementos de concreto vazado. O pátio interno, antes usado para comércio livre de
gêneros alimentícios e camelôs, hoje são usados como estacionamento. O bloco central, o da lateral direita e
fundos apresentam maior unidade estilística; o terceiro bloco, por ser mais moderno, apresenta linguagem e
concepção distintas, sem grande interesse arquitetônico.
10. Uso Atual: 11. Situação de Ocupação:
( ) Residencial ( ) Serviço ( ) Própria ( X ) Alugada
( X ) Comercial ( ) Institucional ( ) Cedida ( ) Comodato
( ) Industrial ( ) Outros ( ) Outros
12. Proteção Legal Existente 13. Proteção Legal Proposta:
( ) Tombamento ( ) Tombamento Federal ( X ) Tombamento Integral
( ) Municipal ( ) Tombamento Estadual ( ) Tombamento Parcial
( ) Federal ( X ) Tombamento Municipal ( ) Fachadas
( ) Estadual ( ) Entorno de Bem Tombado ( ) Volumetria
( X ) Nenhuma ( )Documentação Histórica ( ) Restrições de Uso e
( ) Inventário Ocupação
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência:
O Mercado Municipal ocupa a esquina da Rua Olegário Maciel e Avenida Getúlio Vargas, em área central da
cidade que tem uso, predominantemente, comercial e institucional. Pela Avenida Getúlio Vargas, faz divisa
com o Prédio dos Correios e, pela Rua Olegário Maciel, faz divisa com um Posto de Gasolina. A área
apresenta tráfego intenso. A Avenida Getúlio Vargas possui duas pistas asfaltadas, com largura para dois
carros cada e estacionamento nas laterais; o canteiro central é arborizado; encontra-se em ótimas condições
de uso. A Rua Olegário Maciel tem largura para dois carros, mais estacionamento; é asfaltada e apresenta
boas condições de uso. O seu entorno, próximo às construções, tem gabarito baixo, mas, em seu entorno mais
amplo, verifica-se forte tendência à verticalização. O passeio pela Rua Olegário Maciel é largo, com quase 5
metros, integrando-se aos passeios das ruas internas. Nela estão três árvores, das quais um ficus de grande
porte oferece boa área sombreada na entrada do bloco central. O passeio em frente ao bloco central e lateral
direito encontra-se em ótimas condições; o passeio em frente ao bloco da lateral esquerda encontra-se todo
danificado, com buracos. O passeio da Avenida Getúlio Vargas apresenta-se em boas condições.
15. Estado de Conservação:
( ) Excelente ( X ) Bom ( ) Regular ( ) Péssimo
16. Análise do Estado de Conservação:
Os prédios, que passaram por restauração em 1995, encontram-se em boas condições de uso, sem problemas
estruturais, elétricos ou hidráulicos. A pintura está bem conservada, assim como os pisos.
Designação: Mercado Municipal
247

Não há indícios de infiltrações. Entretanto, o prédio voltado para a Avenida Getúlio Vargas, encontra-se
abandonado. Suas lojas estão fechadas e o pavimento superior não apresenta condições de uso, mas não há
indícios de problemas estruturais que comprometam a sua recuperação.
17. Fatores de Degradação:
A falta de conservação do edifício voltado para a Av. Getúlio Vargas levou a um estado de degradação grave;
embora não apresente problemas estruturais, todo o pavimento térreo encontra-se sem condições de uso, sem
instalações elétricas e hidráulicas e com áreas sem piso. O segundo pavimento, embora em uso, também não
apresenta boas condições de conservação.
18. Medidas de Conservação:
Manutenção regular do edifício central, porém, o prédio voltado para a Av. Getúlio Vargas necessita de uma
reforma geral.
19. Intervenções:
O Mercado Municipal é o resultado de uma série de construções e acréscimos feitos até 1985. Em 1995 o
prédio central, lateral direito, dos fundos, e o pátio interno passaram por uma restauração, sem grandes
alterações em relação à sua arquitetura; foram feitos trabalhos de recuperação da pintura, rede elétrica,
esgoto, banheiros, nova pavimentação dos pisos e higienização geral dos prédios que passou a apresentar
ótimas condições de uso; nesta época foi feita uma reorganização dos setores de comércio. As pinturas de
Geraldo Queiroz foram retiradas em época indeterminada.
20. Referências Bibliográficas:
HADDAD, Carlos Alberto; NUNES, Maysa Freire; CAMPOS, Ricardo de; FERREIRA, Gizela Peralta. (2000).
Dossiê de Tombamento – Mercado Municipal de Uberlândia. Uberlândia: Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Uberlândia. (Trabalho de estudantes da disciplina Técnicas
Retrospectivas).
21. Informações Complementares:
O inventário deste imóvel foi realizado em 2001; em 2002 a ficha foi adequada ao novo modelo do IEPHA/MG
adotado pela Secretaria Municipal de Cultura, sendo acrescidos de avaliação.

22. Atualização de Informações:

23. Ficha Técnica:


Fotografias: Leonardo Finotti Data: março/2001
Elaboração: Marília M. B. T. Vale. Data: março/2001
Revisão: Marília M. B. T. Vale. Data: agosto de 2002
248

ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS


01. Município: Uberlândia 02. Distrito: Sede
03. Designação: Oficina Cultural
04. Endereço: Praça Clarimundo Carneiro n° 240 - Fundinho
05. Propriedade: Prefeitura Municipal de Uberlândia
06. Responsável: Secretaria Municipal de Cultura
07. Histórico:
A Oficina Cultural é composta por um conjunto de construções do início do século XX, ligados à história da
energia elétrica em Uberlândia. A primeira companhia de energia elétrica de Uberlândia - Companhia de Força
e Luz de Uberabinha - foi criada em 1912. Em 1929, foi criada a Companhia Prada de Eletricidade que
comprou o patrimônio da Cia de Força e Luz. O imóvel de dois pavimentos, implantado no terreno da esquina
da Praça Clarimundo Carneiro e Rua Tiradentes foi construído para alojar a administração da Cia Prada. Na
mesma época, no terreno ao lado voltado para a Rua Tiradentes, o Coronel Clarimundo Fonseca Carneiro, um
dos fundadores da companhia, construiu sua residência. A construção dos dois imóveis é atribuída a Cipriano
Del Fávero e Fernando Vilela. O conjunto ainda é integrado pelo pátio com três anexos: um construído no
alinhamento do terreno voltado para a Praça Clarimundo Carneiro, outro nos fundos do terreno e o terceiro,
entre este e a antiga residência. De 1936 a 1973, foi utilizada para residência dos gerentes da Prada
Eletricidade. Neste período, no pátio formado pelo restante do terreno, funcionou um posto de abastecimento
dos veículos da firma e, no anexo construído nos fundos, foram instaladas uma oficina mecânica, uma
marcenaria e uma carpintaria. Em 1973, a CEMIG encampou a Prada Eletricidade. Com essa incorporação da
Companhia CEMIG, a casa deixou de ter uso residencial para abrigar funções administrativas. Em 1993, todos
os terrenos que compunham o conjunto foram retificados com relação às suas medidas e confrontações e
passaram a se constituir num único imóvel. A Lei Municipal no. 4.217 de 15/10/1985 decretou o tombamento
do “Prédio da Cemig”. O imóvel foi adquirido em 1995 pela Prefeitura Municipal para ser ocupado pela Oficina
Cultural de Uberlândia, onde as atividades e programações são gratuitas enfatizando as áreas de arte-
educação, artes plásticas, dança, literatura, música e teatro, além de sessões permanentes de vídeo e
exposições. Não foi possível identificar a data de construção desses anexos, sendo que o que está voltado
para a Praça Clarimundo Carneiro apresenta características construtivas – técnicas e ornamentais - típicas das
construções das primeiras décadas do século XX.
09. Documentação Fotográfica:
249

08. Descrição:
O conjunto das edificações que compõem a Oficina Cultural situa-se em um terreno de esquina localizado na
confluência da Rua Tiradentes com o lado Sul da Praça Clarimundo Carneiro e é composto por: um imóvel
localizado na esquina, uma residência com entrada pela Rua Tiradentes, um pequeno jardim entre esses dois
imóveis, um pátio interno que articula três galpões dos quais, dois são implantados nos limites laterais do lote
pelos lados Sul e Oeste e um ocupa a área intermediária entre a residência e o galpão do lado Sul.O imóvel
que ocupa a área da esquina propriamente dita, possui dois pavimentos com a porta de entrada de metal de
enrolar, localizada na parte chanfrada no vértice do terreno. Suas fachadas conservam apenas parte dos seus
elementos decorativos originais, dos quais destaca-se ático marcado por linhas retas e curvas delimitadas por
pilaretes sobrepostos por pináculos e decoração com guirlandas e palmeiras; apenas o ático da parte
chanfrada conserva a inscrição 1926. O imóvel possui vitrais de esquadrias metálicas e vidros, ocupando os
mesmos vãos das janelas originais que eram em madeira e vidro com bandeira fixa. O imóvel possui salões
para exposições, salas para reuniões e aulas, banheiros; a circulação vertical é feita por escada. Possui uma
porta ampla voltada para o jardim aberto para a Rua Tiradentes, que o integra ao restante do conjunto. A
edificação que tem entrada pela Rua Tiradentes, antiga residência do proprietário e administradores da Cia
Prada, apresenta alinhamento frontal com entrada lateral aberta para um jardim que hoje faz a integração das
demais partes do conjunto. A casa, de porão alto, tem planta organizada em “L”, circundada por uma varanda,
voltada para o jardim; possui duas escadas com degraus de mármore, que dão acesso à varanda. O espaço
interno sofreu total alteração que impossibilita a compreensão de sua organização original; atualmente abriga
uma grande sala usada como auditório e salas administrativas. Uma escada interna acessada pelo auditório,
faz a ligação com porão localizado no lado esquerdo onde funciona uma cozinha. O imóvel preserva alguns de
seus materiais originais: as esquadrias – portas e janelas de duas folhas, de madeira e vidro com bandeira
fixa, o piso de ladrilho hidráulico da varanda, o piso de tábuas corridas dos espaços internos, os forros de
madeira, os balaústres e as colunas de sustentação em concreto da varanda. Os galpões e anexos dispostos
no pátio tem características construtivas diferentes e são resultados de inúmeras interferências e adaptações.
O galpão que se encontra no alinhamento do terreno pelo lado Oeste e pelo lado sul da praça, apresenta
características e detalhes ornamentais semelhantes ao da construção de dois pavimentos. Os demais são
construções desprovidas de quaisquer elementos decorativos, com coberturas de duas águas, esquadrias
simples de metal e vidro. No pátio entre os galpões, observa-se a presença de um caramanchão encostado na
elevação lateral esquerda do prédio de dois pavimentos. O pátio é pavimentado em concreto, com poucos
canteiros na proximidade da antiga residência e possui um muro de proteção de alvenaria com portão para
entrada de veículos voltados para a praça; esse portão é de ferro trabalhado com ornamentação de influência
do Arte-Decô. O jardim situado entre a antiga residência e o prédio de dois pavimentos tem canteiros
plantados e, no alinhamento do terreno, apresenta muro de proteção com gradil e portão de ferro.
10. Uso Atual: 11. Situação de Ocupação:
( ) Residencial ( ) Serviço ( X ) Própria ( ) Alugada
( ) Comercial ( X ) Institucional ( ) Cedida ( ) Comodato
( ) Industrial ( ) Outros ( ) Outros
12. Proteção Legal Existente 13.Proteção Legal Proposta:
( X ) Tombamento ( ) Tombamento Federal ( ) Tombamento Integral
( X ) Municipal ( ) Tombamento Estadual ( ) Tombamento Parcial
( ) Federal ( ) Tombamento Municipal ( ) Fachadas
( ) Estadual ( ) Entorno de Bem Tombado ( ) Volumetria
( )Nenhuma ( )Documentação Histórica ( ) Restrições de Uso e
( ) Inventário Ocupação
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência:
As duas vias que circundam o terreno do imóvel tem pavimentação asfáltica, em boas condições de uso e
calçada em pedra portuguesa nas cores preto e branco, também bem conservada. A Rua Tiradentes possui
uma única pista de rolamento, em sentido único e estacionamento na lateral direita; essa rua é desprovida de
árvores, mas o passeio do lado da praça possui árvores que se integram à arborização da própria praça. No
entorno predominam edificações de um e dois pavimentos com bons exemplos da arquitetura eclética, como
por exemplo, o Colégio Anchieta, situado à Rua Tiradentes e o conjunto da Praça Clarimundo Carneiro.
Observa-se uma tendência a substituição dos usos dos imóveis do entorno em que as antigas residências são
ocupadas por estabelecimentos comerciais e de serviços.

15. Estado de Conservação:

( ) Excelente ( X ) Bom ( ) Regular ( ) Péssimo


250

Designação: Oficina Cultural

16. Análise do Estado de Conservação:


Os imóveis apresentam boas condições gerais de conservação, apresentando apenas o desgaste natural do
tempo e do uso intenso por parte do público que atende às atividades desenvolvidas no local; uma das salas
do anexo situado no limite do terreno pelo lado Leste, cujo piso é madeirite, apresenta sinais de apodrecimento
por umidade.
17. Fatores de Degradação:
Não foi apontado nenhum fator de degradação física no conjunto, com exceção da umidade do piso do anexo.

18. Medidas de Conservação:


O imóvel recebe manutenção regular estando em boas condições de uso; o piso de madeirite do anexo precisa
ser substituído.
19. Intervenções:
O conjunto passou por algumas transformações ao longo dos anos, o que resultou em interferências que
alteraram, parcialmente, sua integridade formal original. Em todas as construções foram realizadas alterações
na articulação interna, para adequação de novos usos. O edifício da esquina perdeu parte de seus elementos
decorativos e as janelas em madeira e vidro foram substituídas por outras em metal. Foram retirados uma
porta que se abria para a praça e os balcões que ficavam nas portas acima das outras duas existentes no
primeiro pavimento. Essas portas do segundo pavimento que davam para esses balcões foram substituídas
por janelas. Entretanto, preservam – se ainda algumas características originais típicas das construções de
caráter eclético do início do século, com porão elevado, escadarias de acesso em mármore, varanda e jardim
laterais, pé direito alto, amplas janelas com esquadrias de vidro e venezianas e elementos decorativos
aplicados à fachada.
20. Referências Bibliográficas:
PEZZUTI, Pedro. Município de Uberabinha.. Livraria Kosmos. 1922.
TEIXEIRA, Tito. Bandeirantes Pioneiros do Brasil Central.
21. Informações Complementares:
O Conjunto da Oficina Cultural situa-se no Bairro Fundinho - definido pela Lei Municipal Complementar no.
245, de 05/12/2000, que dispõe sobre o Parcelamento e Zoneamento do Uso e Ocupação do Solo do
Município de Uberlândia, como Zona Especial de Revitalização. No dia 31 de Outubro de 1909 era erguido o
primeiro poste de luz elétrica marcando a inauguração de iluminação pública e particular, iniciando-se também
o emprego da eletricidade como força motora na cidade. De posse da concessão obtida junto à Câmara, o Cel.
Carneiro rumou para São Paulo negociando junto à Companhia Paulista de Eletricidade, a extensão das redes
elétricas da Empresa Carneiro & Irmãos (composta por vários filhos seus sob a sua chefia) em 1912,
transformando-a então em Sociedade Anônima Cia de Força e Luz. Em 1926, constrói o prédio de dois
pavimentos, a subestação da Cia e a residência do diretor gerente, na época, Clarimundo Carneiro. Em 1929,
a Empresa Carneiro & Irmãos é transformada em Cia Prada de Eletricidade que, em 1973, foi incorporada pela
CEMIG, Centrais Elétricas de Minas Gerais.

Companhia de Força e Luz – 1929


Fonte: Arquivo Público Municipal – Prefeitura Municipal de Uberlândia
251

22. Atualização de Informações:

23. Ficha Técnica:


Fotografias: Leonardo Finotti Data: março/2001
Elaboração: Adriane Silvério Neto e Alexandre Bueno Data: agosto/2002
Sampaio
Revisão: Marília M. B. T. Vale. Data: agosto/2002
252

ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS


01. Município: Uberlândia 02. Distrito: Sede
03. Designação: Praça Clarimundo Carneiro
04. Endereço: Centro
05. Propriedade: Pública
06. Responsável: Prefeitura Municipal de Uberlândia
07. Histórico:
A Praça Clarimundo Carneiro ocupa a área onde foi o segundo cemitério da cidade, construído em 1881.
Esse cemitério foi desapropriado e demolido em 1915, para a construção do Paço Municipal, inaugurado em
1917. Seu primeiro nome foi Praça da Liberdade, depois Praça Antônio Carlos (1929) e, em 1961, passou a
chamar-se Clarimundo Carneiro, em homenagem a um dos mais importantes empresários do início do século
XX, em Uberlândia, responsável pela companhia da energia elétrica na cidade. A praça foi projetada pelo
construtor Cipriano Del Fávero e tinha como finalidade oferecer ornamentação paisagística ao edifício do Paço
Municipal, também de sua autoria. O projeto inicial previa, além do Paço, a construção de dois coretos. Na
década de 20, foi cogitada a idéia de se construir o edifício do Fórum na praça, em lugar desses coretos.
Entretanto, optou-se pelo coreto, tendo sido construído apenas um, entre os anos de 1926 e 1927. Ao longo
dos anos, a Praça sofreu várias interferências em seu paisagismo e no desenho de seu contorno, devido a
alterações no trânsito. A alteração mais significativa foi a modificação de seus canteiros originais, com troca
das espécies de médio porte para plantas de pequeno porte. O argumento para tal reforma, feita também em
outras praças da cidade, foi diminuir a violência que ocorria no interior dos jardins escuros, cuja vegetação
obstruía a visibilidade de quem andava ao redor. Em 1992, com a transferência da Câmara dos Vereadores
para o novo Paço Municipal, o antigo Paço – também conhecido como Palácio dos Leões - foi restaurado e
adaptado para abrigar o Museu Municipal (inaugurado em 1987), revalorizando a praça. Esse conjunto –
praça, coreto e Palácio dos Leões – é um dos espaços mais importantes e significativos da cidade e, em 25 de
setembro de 1985, mereceu o tombamento, em nível municipal, decretado pela Lei n° 4.209.
09. Documentação Fotográfica:
253

08. Descrição:
A praça localiza-se em terreno plano, em uma área que faz o limite entre a atual área central e a parte mais
antiga da cidade – o Bairro Fundinho. Seu contorno é definido por dois lados que formam um ângulo reto –
lados Oeste e Sul; os outros lados – Norte e Leste – se unem em uma forma arredondada desenhada em
função do trânsito de transporte coletivo. Internamente, seu desenho é composto por caminhos definidos por
linhas retas que partem dos quatro vértices e caminhos secundários que subdividem o espaço em diversos
canteiros, delimitados por elementos pré-moldados em concreto, pintados de branco. Os caminhos se
encontram no centro da praça formando um grande pátio pavimentado onde estão o “Palácio dos Leões” e o
Coreto. Tanto o centro como os caminhos, tem revestimento em asfalto. Dentro dos limites da Praça, existe
um estacionamento destinado a táxi em seu lado Norte e um estacionamento público, no lado Sul. Toda a
Praça é contornada por passeios trabalhados em pedra portuguesa, nas cores preta e branca, formando
desenhos regulares, que são interrompidos pelos estacionamentos. Na praça existem duas placas
comemorativas em bronze, com suporte em concreto, sendo uma delas referente à reinauguração do Coreto
e, a outra, com características Art Decô, festejando o “Dia da Vitória”, em referência à Segunda Guerra
Mundial. A Praça possui bancos, de estrutura de ferro fundido e de assento de madeira, no pátio central e nos
caminhos que levam a ele. Na calçada do lado leste e no estacionamento de táxi, os bancos são de concreto
armado. A Praça possui arborização de grande porte, com espécies do cerrado, da mata atlântica e exóticas.
A iluminação da praça é feita por quatro modelos de postes, com lâmpadas halógenas e de vapor de sódio. No
vértice noroeste, encontra-se uma antiga banca de revista que também comercializa frutas; no lado oposto há
um chaveiro e uma banca de comércio de raízes. No interior da Praça, há barracas para os vendedores
ambulantes que comercializam roupas, bijouterias, peças de artesanato e manufaturados em geral. Para
disciplinar a circulação do pedestre, no ponto de ônibus, situado no lado leste, foi colocado uma grade de
metal pintada de amarela, rompendo com a unidade da praça.
10. Uso Atual: 11. Situação de Ocupação:
( ) Residencial ( ) Serviço ( ) Própria ( ) Alugada
( ) Comercial ( ) Institucional ( ) Cedida ( ) Comodato
( ) Industrial ( X ) Outros ( X ) Outros
12. Proteção Legal Existente 13. Proteção Legal Proposta:
( X ) Tombamento ( ) Tombamento Federal ( ) Tombamento Integral
( ) Municipal ( ) Tombamento Estadual ( ) Tombamento Parcial
( ) Federal ( X ) Tombamento Municipal ( ) Fachadas
( ) Estadual ( ) Entorno de Bem Tombado ( ) Volumetria
( ) Nenhuma ( )Documentação Histórica ( ) Restrições de Uso e
( ) Inventário Ocupação
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência:
As ruas ao redor da praça encontram-se em boas condições de uso, sendo todas revestidas com
pavimentação asfáltica, com mão única. No entorno, predominam as construções de baixo gabarito, de dois
pavimentos, com exceção dos edifícios localizados na confluência com a Rua XV de Novembro, com 5
pavimentos, e na confluência da Rua Bernardo Guimarães com Av. João Pinheiro, com 15 pavimentos. Em
seu lado leste, há uma via exclusiva para ônibus; para disciplinar os pedestres foi afixada uma grade na cor
amarela que interfere negativamente na ambiência do local. Em seu entorno, destaca-se a presença da
Oficina Cultural, situada em seu lado Sul, que é um bem tombado em nível municipal e promove intensa
programação cultural; em seu lado Leste, a Casa dos Leões, é um exemplar da arquitetura neoclássica,
contemporânea à construção do Paço Municipal.
15. Estado de Conservação:

( ) Excelente ( X ) Bom ( ) Regular ( ) Péssimo


16. Análise do Estado de Conservação:
A pavimentação asfáltica do pátio central e dos caminhos internos se apresentam em boas condições de uso,
apesar da existência de saliências e reentrâncias provocadas por remendos executados em obras de
manutenção. Este piso se encontra muito manchado com tintas e resíduos de massas utilizadas na construção
civil. Os canteiros e jardins se encontram bem cuidados e limpos; as árvores apresentam-se saudáveis. Os
bancos estão em condições precárias de uso: alguns apresentam os pés substituídos por troncos de árvores;
outros, com os pés originais, não possuem assento. Os edifícios implantados no interior da praça – Palácio
dos Leões e Coreto - se apresentam bem conservados. Os postes de iluminação estão em perfeitas
condições, conservados em sua íntegra.
17. Fatores de Degradação:
Falta de manutenção dos bancos deteriorados pela ação do tempo.

Designação: Praça Clarimundo Carneiro


254

18. Medidas de Conservação:


Os bancos necessitam de reformas. O policiamento constante tem inibido ações de vandalismo e favorecido a
conservação dos equipamentos e das construções.
19. Intervenções:
Ao longo dos anos, o contorno original da praça sofreu alterações, principalmente no seu lado Leste, em
função de adequações do trânsito; a mais recente foi em 2001, com a criação de uma via exclusiva de ônibus
e outra exclusiva para veículos particulares. Na praça propriamente dita, foram feitas intervenções de
adequação quanto ao tipo de pavimentação dos passeios e mudanças de espécies de vegetação dos jardins
alterando a composição paisagística original. Houve acréscimo de poste de iluminação, introduzindo diferentes
modelos ao longo dos anos.
20. Referências Bibliográficas:
PEZZUTI, Pedro. Município de Uberabinha. Uberabinha, 1922.
TEIXEIRA, Tito. Pioneiros e Bandeirantes do Brasil Central. Uberlândia, vol.1, 1970.
21. Informações Complementares:

Praça Antônio Carlos, atual Praça Clarimundo Carneiro


Fonte: Arquivo Público Municipal – Prefeitura Municipal de Uberlândia

22. Atualização de Informações:

23. Ficha Técnica:


Fotografias: Leonardo Finotti Data: março/2001
Elaboração: Adriane Silvério Neto e Data: setembro/2001
Alexandre Bueno Sampaio
Revisão: Marília M. B. T. Vale. Data: agosto/2002
255

ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS


01. Município: Uberlândia 02. Distrito: Sede
03. Designação: Palácio dos Leões - Museu Municipal
04. Endereço: Praça Clarimundo Carneiro, s/n - Fundinho
05. Propriedade: Pública
06. Responsável: Secretaria Municipal de Cultura – Prefeitura Municipal de Uberlândia
07.Histórico:
O Município de Uberlândia foi criado pela Lei no. 3.643 de 31 de agosto de 1888; sua instalação se deu em 14
de março de 1891, tendo como sede um imóvel alugado. A Lei Municipal no. 7, de 1898, determinou a
construção do Paço Municipal mas sua realização só se concretizaria em 1916. O local escolhido – atual Praça
Clarimundo Carneiro – criou polêmica, pois parte do terreno, no período de 1881 a 1915 fora ocupado por um
cemitério. O projeto e a construção ficaram a cargo de Cipriano Del Fávero e sua inauguração se deu em 1917.
Foi o primeiro edifício de dois pavimentos na cidade e, durante algum tempo, o único. O prédio destinado a
sediar os poderes legislativo e executivo abrigou também a Coletoria Estadual, o Centro Agro Pecuário e a
Biblioteca Pública Municipal. Com o crescimento da cidade, o prédio tornou-se insuficiente para atender ao
programa de necessidades gerando a transferência do poder executivo e dos gabinetes dos vereadores para o
móvel situado na esquina da Rua Bernardo Guimarães com a Praça Clarimundo Carneiro, antiga sede do Banco
do Brasil. Em 1985, a Lei Municipal no. 4.209, de 25 de setembro, tombou o Paço Municipal como patrimônio
histórico e determinou-o a abrigar o Museu Histórico de Uberlândia. Em 1994, com a inauguração do novo
Centro Administrativo de Uberlândia, situado à Av. Anselmo Alves dos Santos, o Paço Municipal foi
definitivamente desocupado pelo poder legislativo. A Lei 6.278, de 07 de abril de 1995, alterou o artigo 1.º da
Lei 4.209 e possibilitou a realização do projeto de restauração com alteração de seu espaço interno. Esse
projeto, de autoria dos arquitetos Rodrigo Otávio de Marco Meniconi e Alessandro Rende, teve início em 1995 e
fez a adequação do imóvel para museu. O Museu Municipal foi inaugurado e aberto ao público em agosto de
1998. Em 1985, o conjunto constituído pela Praça Clarimundo Carneiro, o Palácio dos Leões e o Coreto nela
instalados foram tombados pelo poder público como Conjunto Arquitetônico.

08. Descrição:
O edifício encontra-se implantado no centro da Praça Clarimundo Carneiro, que se situa no limite do Bairro
Fundinho com a área central da cidade.
09. Documentação Fotográfica:
256

Embora apresentasse originalmente uma planta de matriz clássica, organizada em forma de um quadrado
quase perfeito, com os lados voltados para os pontos cardeais – os lados Leste e Oeste são ligeiramente
menores que os lados Norte e Sul onde ficam as portas de entrada -, com quatro fachadas iguais,
simetricamente organizadas, a variedade dos elementos decorativos e arquitetônicos nele presentes, o definem
como uma obra eclética. As quatro fachadas possuem dois pares de colunas de pé direito duplo, com capitéis
compósitos; estas sustentam um entablamento que se movimenta em arco nas duas extremidades; por trás
destes arcos, elevam-se, nos quatro lados, cúpulas em bulbos de gosto oriental. O ático reto que percorre toda
a cobertura apresenta, nas fachadas Sul e Norte, a área central mais elevada, ornamentada nos cantos por
duas bolas de concreto. As janelas do segundo pavimento situadas no centro das fachadas são tripartidas, com
acabamento arredondado nos cantos, uma influência do Art Nouveau; estas janelas, nas elevações Norte e
Sul, possuem balcões de ferro; as demais janelas possuem vergas retas, sendo que as do pavimento superior
possuem balaústres de concreto. Ainda nas elevações Norte e Sul, verifica-se a presença de quatro pilastras
adoçadas que se transformam em mísulas que arrematam os balcões de ferro das janelas superiores e servem
de suportes aos leões que justificam o nome dado ao edifício. A superfície de todas as paredes recebe
desenhos em relevo de argamassa. A escadaria de acesso à porta do lado Sul é ladeada por uma pequena
mureta. A restauração realizada em 1995/2000, que teve por objetivo sua adequação a um espaço de museu,
levou a uma total reorganização dos espaços internos, com demolição das paredes internas, criando espaços
para exposições que estão presentes nos dois pavimentos. Da sala do plenário da Câmara, foi preservada a
pintura parietal que fazia fundo à mesa do Presidente. O projeto propôs a construção de um pavimento
subterrâneo para abrigar as instalações sanitárias e reserva técnica, parcialmente executado. No centro do
edifício foi instalado um elevador panorâmico em estrutura metálica e, em frente a este, uma escada, que
fazem a circulação vertical. Os elementos das fachadas foram preservados; apenas o esquema compositivo
das cores sofreu uma inversão com a cor clara sendo aplicada nos detalhes e a cor escura sobre os panos das
paredes. A entrada da elevação Norte foi adaptada para portadores de necessidades especiais e recebeu
revestimento em granito apicoado. Todo o edifício foi protegido por um canteiro de pedras criado em volta de
seu perímetro.
10. Uso Atual: 11. Situação de Ocupação:
( ) Residencial ( ) Serviço ( X ) Própria ( ) Alugada
( ) Comercial ( X ) Institucional ( ) Cedida ( ) Comodato
( ) Industrial ( ) Outros ( ) Outros
12. Proteção Legal Existente 13. Proteção Legal Proposta:
( ) Tombamento ( ) Tombamento Federal ( ) Tombamento Integral
( X ) Municipal ( ) Tombamento Estadual ( ) Tombamento Parcial
( ) Federal ( ) Tombamento Municipal ( ) Fachadas
( ) Estadual ( ) Entorno de Bem Tombado ( ) Volumetria
( ) Nenhuma ( )Documentação Histórica ( ) Restrições de Uso e
( ) Inventário Ocupação
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência:
O prédio está implantado no centro da Praça Clarimundo Carneiro, com as fachadas orientadas para os quatro
pontos cardeais; à sua frente, pelo lado Sul, encontra-se o Coreto, construído em 1926. A praça possui
pavimentação asfáltica, com caminhos e canteiros nas laterais, deixando a área central livre, favorecendo a
visibilidade tanto do Palácio como do Coreto. A praça possui arborização de médio e grande porte, com bancos
distribuídos ao longo dos caminhos. As ruas que circundam a praça possuem pavimentação asfáltica em boas
condições de uso. Os passeios são bem conservados. Em volta da praça predominam as construções de
gabarito de até três pavimentos, mas também verifica-se a presença de dois edifícios residenciais com 15 e 16
andares. Em seu entorno destaca-se a presença da Oficina Cultural, também tombado.
15. Estado de Conservação:

( X ) Excelente ( ) Bom ( ) Regular ( ) Péssimo


16. Análise do Estado de Conservação:
A edificação encontra-se em boas condições de conservação.

17. Fatores de Degradação:


Não foram verificados fatores de degradação física.

18. Medidas de Conservação:


A edificação tem recebido manutenção regular que garante a sua conservação.

Designação: Palácio dos Leões - Museu Municipal


257

19. Intervenções:
A intervenção mais significativa foi a restauração realizada entre 1995/2000 que alterou seu espaço interno e o
esquema cromático das cores da fachada.
20. Referências Bibliográficas:
Dados obtidos junto ao acervo do Museu Municipal.

21. Informações Complementares:

22. Atualização de Informações:

23. Ficha Técnica:


Fotografias: Eugênio Pacelli Data: março/2001
Elaboração: Daniela G. Mattar Data: julho/2002
Revisão: Marília M. B. T. Vale. Data: agosto/2002
258

ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS


01. Município: Uberlândia 02. Distrito: Sede
03. Designação: Coreto
04. Endereço: Praça Clarimundo Carneiro s/n - Fundinho
05. Propriedade: Pública
06. Responsável: Divisão do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura
07. Histórico:
O coreto integra o conjunto urbanístico da Praça Clarimundo Carneiro, constituído pela própria praça, o
Palácio dos Leões – antigo Paço Municipal, hoje Museu Municipal - e o Coreto, tombados, em nível municipal,
pela Lei no. 4.209, de 25 de setembro de 1985. A praça foi projetada pelo construtor Cipriano Del Fávero e
tinha como finalidade oferecer ornamentação paisagística ao edifício do Paço Municipal, também de sua
autoria, inaugurado em 1917. Este projeto previa a construção de dois coretos. Na década de 20, foi cogitada
a idéia de se construir o edifício do Fórum na praça, em lugar desses coretos. Entretanto, a Lei Municipal no.
2/24,optou pela construção dos coretos, mas apenas um foi construído, entre os anos de 1926 e 1927, com
verbas particulares. O projeto deveria compreender um banheiro público, porém, em seu lugar, foi instalada
uma barbearia, o que gerou protestos pela imprensa local. O banheiro foi instalado, posteriormente, em data
indeterminada. Em 1986, o coreto encontrava-se em estado generalizado de degradação e foi restaurado, sob
orientação da arquiteta Maria de Lourdes Pereira Fonseca, da Secretaria Municipal da Cultura.
08. Descrição:
Apresenta planta octogonal elevada do solo, gerando um pavimento térreo que é ocupado por dois banheiros
– masculino e feminino - e um depósito. Ao gosto da época, sua arquitetura eclética é marcada por uma
cobertura de dois telhados sobrepostos, separados por uma esquadria fixa com vidros coloridos. A cobertura é
arrematada por uma cúpula em forma de bulbo. Os telhados e a cúpula são de chapas de aço, sustentadas
por estrutura de madeira que se apóiam sobre oito pilares de alvenaria localizados nos vértices do octógono.
Não apresenta forro, deixando aparente a estrutura de sustentação da cobertura. Os oito vãos definidos pelos
pilares são protegidos por guarda corpo de metal trabalhado que acompanha o movimento do piso que avança
em relação ao alinhamento do pavimento térreo, em forma circular. A escada de acesso, construída em
alvenaria, é interna e o acesso é feito por uma das portas, localizada entre os banheiros. A iluminação é feita
por luminárias afixadas nos vértices do octógono. As portas dos banheiros e depósito são metálicas, com
venezianas, pintadas da mesma cor que as alvenarias.
09. Documentação Fotográfica:
259

10. Uso Atual: 11. Situação de Ocupação:


( ) Residencial ( ) Serviço ( X ) Própria ( ) Alugada
( ) Comercial ( ) Institucional ( ) Cedida ( ) Comodato
( ) Industrial ( X ) Outros ( ) Outros
12. Proteção Legal Existente 13.Proteção Legal Proposta:
( ) Tombamento ( ) Tombamento Federal ( ) Tombamento Integral
( X ) Municipal ( ) Tombamento Estadual ( ) Tombamento Parcial
( ) Federal ( ) Tombamento Municipal ( ) Fachadas
( ) Estadual ( ) Entorno de Bem Tombado ( ) Volumetria
( )Nenhuma ( )Documentação Histórica ( ) Restrições de Uso e
( ) Inventário Ocupação
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência:
O coreto encontra-se implantado no lado Leste da praça, em alinhamento ao Palácio dos Leões, que ocupa o
lado Oeste. A praça tem pavimentação asfáltica e os canteiros são cercados por elementos pré-moldados de
concreto. O desenho da praça, que concentra os canteiros nas laterais, deixa o centro livre, dando destaque
ao coreto e ao Palácio dos Leões, permitindo-lhes boa visibilidade. A vegetação, composta de plantas de
médio e grande porte e forrações, cria um ambiente de tranqüilidade e lazer para os usuários da praça.
15. Estado de Conservação:

( X ) Excelente ( ) Bom ( ) Regular ( ) Péssimo


16. Análise do Estado de Conservação:
O coreto apresenta integridade física, sem fatores de degradação atuantes; os banheiros, embora tenham
manutenção de limpeza, apresentam os pisos deteriorados, bem como as bacias turcas; as portas metálicas
dos banheiros, do depósito e da escada, encontram-se em condições precárias.
17. Fatores de Degradação:
Desgaste pelo uso e falta de manutenção física.
18. Medidas de Conservação:
Substituição das louças e dos pisos dos banheiros; substituição das portas metálicas.
19. Intervenções:
O coreto sofreu poucas alterações ao longo dos anos; as mais significativas, em épocas não determinadas,
foram: introdução de banheiros no térreo, redução dos pilares de alvenaria que tinham prolongamentos
decorativos no nível do solo e delimitavam espaços entre os quais eram colocados bancos; alteração das
portas do primeiro pavimento; retirada do forro de madeira. A restauração de 1986 preservou os elementos
originais, com exceção das portas do pavimento térreo, que foram substituídas por portas metálicas.
20. Referências Bibliográficas:
Arquivo Público Municipal, Arquivo da Divisão de Memória e Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de
Cultlura.
21. Informações Complementares:

22. Atualização de Informações:

23. Ficha Técnica:


Fotografias: Leonardo Finotti Data: agosto/2002
Elaboração: Daniela G. Mattar Data: agosto/2002
Revisão: Marília M. B. T. Vale. Data: agosto/2002
260

ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS


01. Município: Uberlândia 02. Distrito: Sede
03. Designação: Praça Tubal Vilela
04. Endereço: Centro
05. Propriedade: Pública
06. Responsável: Secretaria Municipal do Meio Ambiente - Prefeitura Municipal de Uberlândia
07. Histórico:
O Plano de Expansão de Uberlândia de 1909, propôs a abertura de seis avenidas entre a parte mais antiga
da cidade e a Estação da Mogiana; o quarteirão mais central dessa expansão, atual Praça Tubal Vilela, foi
destinado à construção de um jardim, com o nome de Praça da República. Esse local era usado, anualmente,
para encontro de grupos de congado que se dirigiam à Igreja do Rosário, situada nas proximidades. A Praça
da República foi utilizada como campo de futebol até 1915, quando recebeu um tratamento paisagístico com a
plantação de bambus gigantes, e passou a ser chamada popularmente de “Praça dos Bambus”. Em 1925,
uma lei municipal determinou que a praça e as ruas circundantes - Afonso Pena, Floriano Peixoto, Visconde
de Rio Branco, atual Duque de Caxias e Luziânia, atual Olegário Maciel - fossem destinadas à construção de
um parque municipal. Em 1933, o projeto do parque foi esquecido e a praça recebeu um novo projeto de
jardim, com características classicizantes, executado pelo técnico e construtor de jardins Júlio Steinmertz.
Esse projeto apresentava uma organização parcelada em canteiros ordenados em quadrículas, com
tratamento paisagístico elaborado a partir do conceito de jardins europeus, com o uso de plantas exóticas,
porém com algumas espécies nativas. A proposta contemplava vários passeios internos, com uma fonte
localizada em seu centro; nas extremidades, de um lado, alguns bustos e, de outro, um coreto. Em 1937, a
Praça da República passou a chamar-se Benedito Valadares, e em 1958, Tubal Vilela, em homenagem a um
ex-prefeito de Uberlândia. Em janeiro de 1959, o prefeito Geraldo Ladeira, em um de seus primeiros
pronunciamentos, levantou problemas referentes à remodelação urbana e convidou o arquiteto João Jorge
Coury para remodelar o espaço mais significativo da cidade: a Praça Tubal Vilela. Neste projeto, o arquiteto
teve como colaboradores o arquiteto Ivan Rodrigues Cupertino, os irmãos engenheiros Rodolfo e Roberto
Ochôa e Sebastião da Silva Almeida. Entre o desenvolvimento do projeto e a construção da praça, executada
pelo próprio escritório de João Jorge Coury e Rodolfo Ochôa, foram dois anos de trabalho. A praça foi
inaugurada no aniversário da cidade, em 31 de agosto de 1962. Várias modificações em seu projeto original
foram realizadas desde então. Entretanto, a praça nunca deixou de ser o “cartão-postal” da cidade de
Uberlândia e, além de ser um espaço urbano de lazer e convivência, tem sido também, ao longo dos anos,
palco para manifestações políticas e culturais. A Praça foi Tombada pelo Lei Municipal nº9676 de 2004.
08. Documentação Fotográfica:
261

09. Descrição:
A Praça Tubal Vilela está localizada no centro da cidade de Uberlândia, em um quarteirão de forma retangular
(102 x 142m), com uma área de 14.484 m2 e inserida na malha urbana de traçado xadrez, com uma topografia
plana e suave. João Jorge Coury concebeu a Praça Tubal Vilela como um espaço de convivência e
manifestação pública, onde o centro livre sobressai na sua organização, que é enfatizado através da forte
paginação de piso e dos acessos em “X”, diagonais que convergem das esquinas para este centro. Possui um
programa diversificado, com equipamentos comunitários tais como: concha acústica, fonte sonoro-luminosa,
espelhos d’água, instalações sanitárias, grandes bancos contínuos e a resolução dos estacionamentos. A
organização determina setorizações que podem ser definidas pelos elementos construídos, ou pelo
paisagismo, buscando tirar partido dos aspectos visuais ou explorando a visibilidade, permitida com o uso de
espécies vegetais em três níveis de abordagem: forrações, arbustos e árvores, que sugerem as possibilidades
cênicas e volumétricas entre piso, barreiras e coberturas. O projeto dispõe os equipamentos comunitários em
ambientes, sem obstruir as linhas de comunicação espontâneas ou o centro livre. A concha acústica frontal ao
centro livre, está colocada no eixo central da Avenida Afonso Pena. Sua volumetria destaca-se por sua
proporção e por sua elevação em relação ao solo. A conseqüente leveza é reforçada pelo espelho d’água, que
separa a platéia do palco; o acesso ao palco é feito pelo lado posterior da concha e por duas rampas externas,
laterais ao palco, que se apresentam totalmente integradas ao conjunto. A fonte sonoro-luminosa é o elemento
plástico mais audacioso: um volume em forma de um prato de concreto iluminado, assentado sobre um outro
de forma triangular envolvido por um espelho d’água. Esses volumes destacam-se por suas superfícies
tecnicamente trabalhadas. A utilização de bancos contínuos e coletivos, executados em concreto, com
moderno despojamento, sem ornato, em substituição aos tradicionais, inova ao propor dimensões de até 50
metros. Quanto à sua implantação, estão associados ao próprio traçado urbano: a maioria penetra nos
grandes canteiros, exceção feita aos bancos centrais, que auxiliam na delimitação física do centro livre,
direcionando o fluxo do caminhante. A pavimentação emprega a pedra portuguesa, trabalhando a superfície
em faixas brancas e pretas dispostas paralelas e longitudinalmente à praça, acentuando sua horizontalidade,
que só é rompida pelos grandes canteiros e pelos bancos contínuos.
10. Uso Atual: 11. Situação de Ocupação:
( ) Residencial ( ) Serviço ( X ) Própria ( ) Alugada
( ) Comercial ( ) Institucional ( ) Cedida ( ) Comodato
( ) Industrial ( X ) Outros ( ) Outros
12. Proteção Legal Existente 13.Proteção Legal Proposta:
( X ) Tombamento ( ) Tombamento Federal ( X ) Tombamento Integral
( X ) Municipal ( ) Tombamento Estadual ( ) Tombamento Parcial
( ) Federal ( X ) Tombamento Municipal ( ) Fachadas
( ) Estadual ( ) Entorno de Bem Tombado ( ) Volumetria
( ) Nenhuma ( )Documentação Histórica ( ) Restrições de Uso e
( ) Inventário Ocupação
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência:
A Praça Tubal Vilela é delimitada, a noroeste, pela Avenida Afonso Pena e, a sudeste, pela Avenida Floriano
Peixoto - duas avenidas importantes na cidade no que se refere à circulação, comércio e serviços; a sudoeste
é delimitada pela Rua Olegário Maciel, onde está situada a Escola Estadual Bueno Brandão e, a nordeste,
pela Rua Duque de Caxias, onde se localiza a Catedral de Santa Terezinha. Quando da inauguração da
praça, em 31 de agosto de 1962, em seu entorno já se encontravam vários edifícios verticais construídos ou
em processo de construção. A praça contava com a presença de prédios de presença marcante para a
população, tais como o Fórum Abelardo Pena e os hotéis Colombo e Zardo. O local concentrava instituições
financeiras, empresas comerciais e um comércio variado com lojas, cafés, armazéns, bares, restaurantes etc.
Hoje o centro da cidade já se expandiu, ocupando outras áreas, porém a Praça Tubal Vilela ainda concentra
atividades diversificadas, com múltiplos usos. A tipologia arquitetônica do entorno foi se transformando com o
decorrer do tempo e, onde antigamente predominavam casarões ecléticos, na atualidade, foram substituídos
por arranha-céus e edifícios de tipologia contemporânea, restando poucos exemplares remanescentes da
época da construção da praça. Atualmente, a paisagem urbana do entorno da praça caracteriza-se por
grandes lojas de departamentos, instituições financeiras, hotéis, vários estabelecimentos comerciais e áreas
de estacionamento, estas últimas em função do grande número de veículos que ali trafegam diariamente. O
trânsito nas vias que contornam a praça é intenso, sendo que nas avenidas Afonso Pena e Floriano Peixoto os
veículos menores se misturam com os ônibus de transporte coletivo. As avenidas e as ruas, no trecho da
praça, têm capacidade de dois veículos com as áreas laterais reservadas para estacionamento. As vias são
asfaltadas e encontram-se em bom estado de conservação. A Praça Tubal Vilela - “coração da cidade”,
“cartão de visita” -, no entanto, ainda constitui-se como um espaço de forte significado simbólico para a cidade.
Designação: Praça Tubal Vilela

15. Estado de Conservação:


262

( ) Excelente ( X ) Bom ( ) Regular ( ) Péssimo


16. Análise do Estado de Conservação:
O estado de conservação pode ser considerado bom, na medida em que mantém sua integridade físico-
construtiva. O piso não apresenta falhas significantes, necessitando apenas de cuidados tais como limpeza e
reposição de algumas pedras. Os bancos contínuos encontram-se em boas condições, demonstrando apenas
sinais de desgaste causado pelo uso contínuo, sinais estes geralmente disfarçados pela pintura em tons de
grafite. Os postes de iluminação estão em perfeito estado; apenas os globos das cúpulas das luminárias
necessitam de limpeza. O bloco do sanitário público apresenta sinais de infiltração nas paredes externas,
necessitando de impermeabilização e pintura. Os azulejos que recobrem parte das fachadas precisam de
limpeza. Interiormente, há necessidade de limpeza e reparos. Os três espelhos d’água - um em frente à
concha acústica, outro mais ao centro, com o busto de Juscelino Kubistchek e o da fonte sonoro-luminosa -
encontram - se bem conservados e com pintura recente. Apenas no que contém o busto, por ficar mais
próximo dos transeuntes, a água está mais suja e com pedaços de papel. A fonte sonoro-luminosa ainda
funciona, sendo acionada geralmente em fins de semana, com música, jatos de água e iluminação em néon.
17. Fatores de Degradação:
Não foram verificados fatores de degradação física uma vez que a Secretaria de Serviços Urbanos faz a
manutenção regular da Praça; a fonte luminosa, embora tenha sido consertada não se encontra em uso por
medidas de contenção de gastos com energia elétrica; a falta de uso pode ser fator de degradação do
equipamento.
18. Medidas de Conservação:
Manutenção periódica.

19. Intervenções:
O crescimento populacional e econômico de Uberlândia durante a década de 70 alterou sensivelmente as
feições da Praça Tubal Vilela, que recebeu pontos de ônibus, junto ao tradicional ponto de táxi. A praça
tornou-se ponto de passagem, já que passou a comportar o fluxo de um grande número de pessoas, que por
sua vez abriram, pelo uso, novos acessos nos grandes canteiros. Alguns desses acessos foram pavimentados
com pedra portuguesa preta. A Administração Municipal, em 1975, realizou várias modificações no projeto
original, principalmente em relação às circulações: onde antes se encontravam placas de concreto com juntas
de grama, substituiu-se por pedra portuguesa acompanhando a paginação existente no piso. Um dos pontos
mais importantes no projeto de João Jorge Coury - a implantação dos bancos contínuos entrecortando os
espaços pavimentados e os espaços interiores dos canteiros, criando múltiplos ambientes de lazer - foi o que
mais sofreu com a intervenção no desenho desses canteiros. Eles foram recortados em várias formas, de
diversos tamanhos, levando, sem exceção, os bancos contínuos para seu exterior, tornando-os seus
elementos de delimitação. Nos anos 80, a praça recebeu um novo personagem em seu cotidiano: o camelô,
com sua barraca, criando um comércio informal que permaneceu alguns anos no local, multiplicando seu uso
enquanto espaço de encontros e comércio. Em 1991, a Prefeitura Municipal, aproveitando a campanha dos
comerciantes contra o comércio ambulante, retirou os camelôs e iniciou uma reforma na praça, durante oito
meses. Essa reforma não alterou estruturalmente a praça - as circulações já haviam sido alteradas na década
anterior - mas alterou o seu paisagismo, que recebeu novas espécies vegetais. Aparentemente, a intenção foi
resgatar um pouco de seu desenho original, principalmente no que se refere à visualização, mas não resgatou
a intenção do projeto. O espelho d’água, em frente à concha acústica, foi cercado com uma grade de
aproximadamente 50cm de altura, rente à qual foi plantada uma vegetação arbustiva, formando uma
bordadura. O espaço da concha acústica é atualmente ocupado por um posto policial, sendo que alterações
internas foram realizadas com divisórias móveis. Com a retirada do transporte coletivo da Avenida Floriano
Peixoto em 1997, o fluxo de pessoas em passagem na praça diminuiu, proporcionando uma dinâmica
qualitativa a seus múltiplos usos, fortalecendo seu significado simbólico na cidade.
20. Referências Bibliográficas:
• Arquivo Geral da Prefeitura Municipal de Uberlândia – Secretaria de Planejamento.
• GUERRA, Maria Eliza A. (1998). As praças modernas’ de João Jorge Coury no Triângulo Mineiro. São
Carlos, SP: Escola de Engenharia de São Carlos.
Universidade de São Paulo. (Dissertação de Mestrado em História da Arquitetura.
• SALAZAR, Aparecida Portilho, CUNHA, Mons. Antônio Afonso. (1989). Nossos Pais nos contaram. História
da Igreja em Uberlândia, 1818/1989. Uberlândia.
21. Informações Complementares:
O inventário deste imóvel foi realizado em 2001; em 2002, a ficha foi adequada ao novo modelo do IEPHA/MG
adotado pela Secretaria Municipal de Cultura.

22. Atualização de Informações:

Agosto 2002: Os sanitários públicos estão sendo reformados visando sua melhoria e adequação às novas
exigências como a criação de sanitários para portadores de necessidades especiais.
263

23. Ficha Técnica:


Fotografias: Data:
Elaboração: Cíntia Maria C. Lopes e Greiceana M. D. de Data: março de 2001
Morais.
Revisão: Marília M. B. T. Vale. Data: agosto de 2002
264

ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS


01. Município: Uberlândia 02. Distrito: Sede
03. Designação: Residência Chacur
04. Endereço: Rua Marechal Deodoro da Fonseca nº 52, esquina com a Rua Vigário Dantas - Fundinho
05. Propriedade: Privada
06. Responsável: Albertina Chacur
07. Histórico:
Não há documentação que informe a data exata da construção do imóvel, no entanto, suas características
arquitetônicas e o fato de sua primeira transferência datar de 1927, nos indicam que sua construção se deu no
início da década de 1920. Os primeiros proprietários foram o Sr. Francisco Moyulba e sua esposa, os
proprietários seguintes foram o Sr. Setrack Naccachi e sua esposa e, em 1927, passou para Salomão Attie &
Cia. Em 1932, em conseqüência da dissolução da firma Salomão Attie e Cia. e para o saldo de uma hipoteca, a
residência foi vendida ao Sr. Aníbal Guimarães e sua mulher, que, em 1934, a transferiram para o Sr. Miguel
Jacob. Posteriormente, em 1936, a residência voltou às mãos da família Attie, uma vez que o Sr. Jacob a
vendeu aos filhos do Sr. Salomão Attie, Jorge Salomão e Adib Salomão, ainda, menores de idade. Em 1944,
vendeu-se, novamente, o imóvel, desta vez, para o Sr. Aladim José Bernardes, que a transferiram, em 1962, a
Adel Elias El Rassi e Abrahim Elias Rassi. Nesse período, efetivou-se uma divisão no imóvel, ficando uma parte
com nove cômodos e a outra com sete. Enfim, em 1966, as duas partes do imóvel passaram para o Sr. Said
Chacur e sua esposa, Sra. Albertina Chacur. Com a morte do Sr. Said, seus herdeiros – Sra. Albertina e seus
filhos Bacima, Nádia, Nazira e Marco Antônio – tornaram-se os responsáveis pelo imóvel. Em 1984, a residência
passou por uma reforma, em que se acrescentou ao volume da cozinha uma varanda e uma garagem, e parte
do piso foi trocado. Em uma das salas, o forro, anteriormente de madeira, foi substituído por um de gesso e
algumas esquadrias também foram substituídas. O imóvel foi tombado pela Lei Municipal nº7655 de 2000. A Sra.
Albertina reside com a filha Nazira em uma das partes da casa. A outra parte, locada por Hiram Abritta, abriga
uma escola de Língua Portuguesa.
09. Documentação Fotográfica:
265

08. Descrição:
O imóvel situa-se em um terreno de aproximadamente 428m2, na esquina da Rua Vigário Dantas com a Rua
Marechal Deodoro da Fonseca, no Fundinho. A residência possui, em sua fachada, características neoclássicas
expressas pela clareza construtiva e por uma simplicidade formal. O ritmo mantido pela disposição das janelas e
de outros elementos afirma tal peculiaridade. A casa é térrea com porão, ou de porão alto. A implantação do
edifício é realizada no alinhamento do lote, tanto em relação à Rua Vigário Dantas como em relação à Rua
Marechal Deodoro, sem afastamento frontal. Estão distribuídas nas fachadas nove janelas ornadas por arcos
plenos, cujas bandeiras constituem-se de vidro pintado. Este mesmo ornamento aparece na porta principal da
casa. O telhado, formado de telhas francesas, configura-se como uma composição de águas em “L” e é
parcialmente encoberto por um ático. Tal ático não aparece em todo o perímetro da edificação, mas apenas nas
fachadas voltadas para a rua vigário Dantas e Rua Marechal Deodoro. A casa possui estrutura autônoma de
madeira, esteio com fechamento em alvenaria. O imóvel foi repintado recentemente, a área externa nas cores
branco, areia e ocre com as esquadrias em azul colonial. O imóvel divide-se em duas partes, com entradas
diferenciadas: uma pela Rua Vigário Dantas e outra pela garagem, na Rua Marechal Deodoro. A primeira parte
da casa apresenta oito cômodos, sendo que destes, cinco possuem piso em assoalho de madeira. Existem dois
banheiros, cujas paredes são revestidas por azulejos e cujo piso é realizado em peças de cerâmica. Há uma
varanda coberta por telhas de fibrocimento, sendo o piso igualmente de cimento. Na outra parte da casa,
existem nove cômodos, além de uma varanda, uma garagem e um acréscimo onde funciona uma loja de
aviamentos.
10. Uso Atual: 11. Situação de Ocupação:
( X ) Residencial ( ) Serviço ( X ) Própria ( X ) Alugada
( ) Comercial ( X ) Institucional ( ) Cedida ( ) Comodato
( ) Industrial ( ) Outros ( ) Outros
12. Proteção Legal Existente 13. Proteção Legal Proposta:
( X ) Tombamento ( ) Tombamento Federal ( ) Tombamento Integral
( X ) Municipal ( ) Tombamento Estadual ( ) Tombamento Parcial
( ) Federal ( ) Tombamento Municipal ( ) Fachadas
( ) Estadual ( ) Entorno de Bem Tombado ( ) Volumetria
( ) Nenhuma ( )Documentação Histórica ( ) Restrições de Uso e
( ) Inventário Ocupação
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência:
No entorno da residência Chacur predominam edificações de um e dois pavimentos, sendo algumas com porão
alto. Existem na área bons exemplos da arquitetura eclética, como, por exemplo, o Colégio Anchieta, situado na
Rua Tiradentes, o conjunto da Praça Clarimundo Carneiro e a Oficina Cultural; da arquitetura neoclássica, como
a Escola Estadual Enéas de Oliveira Guimarães; e exemplares menos significativos da arquitetura eclética,
neocolonial e híbridas. O entorno apresenta, apesar da diversidade de tipologia arquitetônica, unidade em
relação ao gabarito, garantindo a visibilidade e a ambiência da residência Chacur. O uso predominante na área é
o residencial, no entanto, pode-se perceber a presença do comércio varejista local – mercearia, serviço local –
atelier de costura, equipamento de âmbito geral – escola de 2º grau e preparatória para vestibulares;
equipamento de âmbito especial – universidade. As duas vias que circundam o terreno do imóvel tem
pavimentação asfáltica, em boas condições de uso. As calçadas também apresentam-se em bom estado de
conservação. Tanto a Rua Marechal Deodoro quanto a Rua Vigário Dantas possuem uma única pista de
rolamento, em sentido único e estacionamento na lateral esquerda, sendo, porém, a primeira um pouco mais
larga do que a segunda. O entorno é, praticamente, desprovido de árvores, tendo sido verificadas apenas duas
árvores, localizadas no passeio do lado oposto à residência Chacur, na Rua Vigário Dantas. Observa-se uma
tendência à substituição dos usos dos imóveis do entorno, assim como em quase todo o Bairro Fundinho, em
que as antigas residências são ocupadas por estabelecimentos comerciais e de serviços. Além disso, verifica-se
uma forte pressão imobiliária nessa área, devido à sua localização privilegiada e à infra-estrutura urbana
consolidada, ocasionando uma intensa verticalização.
15. Estado de Conservação:

( ) Excelente ( X ) Bom ( ) Regular ( ) Péssimo


16. Análise do Estado de Conservação:
O estado de conservação da residência Chacur pode ser considerado bom, na medida em que a edificação
mantém sua integridade estrutural. Sua estrutura em aroeira é bastante resistente e sua alvenaria não apresenta
danos significativos. Não há a degradação de peças de madeira por insetos, especialmente por cupins. O piso,
o forro, as esquadrias, as instalações elétricas e as instalações hidráulicas encontram-se em bom estado de
conservação. Recentemente, o imóvel foi reformado, houve a repintura das paredes e esquadrias, e a reposição
de telhas quebradas na cobertura.
266

17. Fatores de Degradação:


Os principais fatores de degradação do imóvel estão relacionados ao desgaste natural de materiais, ocasionados
pelo próprio uso. As rachaduras encontradas no reboco da edificação podem ter sido causadas pelo grande fluxo
de automóveis e ônibus de transporte coletivo na Rua Marechal Deodoro.

18. Medidas de Conservação:


As medidas de conservação pertinentes referem-se à manutenção periódica no edifício.

19. Intervenções:
No decorrer de sua história, a residência Chacur sofreu algumas interferências, principalmente, em seu espaço
interno, no entanto, devido às constantes transferências de proprietários e de locações, não foi possível
identificar a data e os responsáveis por tais intervenções. No ano de 1984, uma reforma foi realizada no imóvel,
acrescentando-se ao volume da residência uma cozinha, uma varanda e a garagem. Efetuou-se, também, a
troca de parte do piso e, em uma das salas, o forro de madeira foi substituído por um de gesso. Algumas
esquadrias também foram trocadas.

Na análise da planta da residência, pode-se perceber que, em um corredor localizado na lateral direita do imóvel,
existem vestígios de uma abertura, com ornamentos diferenciados, atualmente fechada. Tais vestígios levam a
crer, por seu trabalho elaborado, que ali se situava a entrada principal da casa e que, provavelmente, o lote
lindeiro fizesse parte do terreno da residência. Tais conclusões são reforçadas por uma foto antiga – Fonte:
Arquivo Público Municipal – onde percebe-se que não há a porta que hoje encontra-se na Rua Vigário Dantas.
Na realidade, esta seria uma outra janela, confirmando o ritmo neoclássico da fachada.

Segundo a Sra. Albertina Chacur, a esquina da casa foi chanfrada a pedido da Prefeitura do município.
20. Referências Bibliográficas:
ATTUX, Denise Elias. Revitalização Urbana em Centros Históricos: Estudo de caso do Bairro Fundinho.
Dissertação de Mestrado – Instituto de Geografia. Universidade Federal de Uberlândia, 2001.
PEZZUTI, Pedro. Município de Uberabinha. Livraria Kosmos. 1922.
TEIXEIRA, Tito. Bandeirantes Pioneiros do Brasil Central – História da Criação do Município de Uberlândia.
Gráfica Uberlândia, 1970.
Referências Complementares:
Entrevistas com a proprietária Abertina Chacur, e sua filha Nazira Chacur, em Outubro de 2002.
Livro 2 do Registro Geral do Cartório do Primeiro Ofício de Registro de Imóveis e Hipotecas, 27 de junho de
2001.
21. Informações Complementares:

A Residência Chacur situa-se no Bairro Fundinho - definido pela Lei Municipal Complementar nº 245, de 05 de
dezembro de 2000, que dispõe sobre o Parcelamento e Zoneamento do Uso e Ocupação do Solo do Município
de Uberlândia, como Zona Especial de Revitalização.

22. Atualização de Informações

23. Ficha Técnica:


Fotografias: Luciano Macedo Pena Data: Dezembro de 2003.
Elaboração: Cíntia Chioca Data: Outubro de 2002.
Revisão: Rodrigo Moretti/Giovanna Damis Viltal/ Luciano Pena Data: Abril de 2004.
267

Anexo 3
Lei Estadual 13.803, de 27 de dezembro de 2000

Norma: LEI 13803 2000 Data: 27/12/2000 Origem: LEGISLATIVO

Ementa: DISPÕE SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DA PARCELA DA RECEITA DO PRODUTO DA


ARRECADAÇÃO DO ICMS PERTENCENTE AOS MUNICÍPIOS.

Observação: LEI ROBIN HOOD III.


ICMS ECOLÓGICO.

Fonte: PUBLICAÇÃO - MINAS GERAIS DIÁRIO DO EXECUTIVO - 28/12/2000 PÁG. 2


COL. 2

Vide:
DECRETO 41650 2001
MINAS GERAIS DIÁRIO DO EXECUTIVO - 04/05/2001 PÁG. 1 COL. 1
LEGISLAÇÃO RELEVANTE

DECRETO 41709 2001


MINAS GERAIS DIÁRIO DO EXECUTIVO - 19/06/2001 PÁG. 2 COL. 1
LEGISLAÇÃO RELEVANTE ART. 1

LEI 15027 2004 / ART. 9


MINAS GERAIS DIÁRIO DO EXECUTIVO - 20/01/2004 PÁG. 2 COL. 1
ALTERAÇÃO ANEXO IV

Indexação: CRITÉRIOS, DISTRIBUIÇÃO, MUNICÍPIOS, PARCELA, RECEITA, PRODUÇÃO,


ARRECADAÇÃO, (ICMS), ANEXO, ESPECIFICAÇÃO, PERCENTAGEM.
DISPOSITIVOS, DIVULGAÇÃO, SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA
PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, (SSMG), (FJP), (SFMG), VALOR,
DISTRIBUIÇÃO, MUNICÍPIOS, PARCELA, RECEITA, PRODUTO, ARRECADAÇÃO,
(ICMS).
CRITÉRIOS, APURAÇÃO, VALOR ADICIONADO, PRODUÇÃO, CIRCULAÇÃO,
MERCADORIA, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, TRIBUTAÇÃO, (ICMS), HIPÓTESE,
ESTABELECIMENTO, CONTRIBUINTE, LOCALIZAÇÃO, DIVERSIFICAÇÃO,
MUNICÍPIOS.
ANEXO, CRITÉRIOS, CÁLCULO, ÍNDICE, EDUCAÇÃO, PATRIMÔNIO CULTURAL,
CONSERVAÇÃO, MUNICÍPIOS, REFERÊNCIA, MEIO AMBIENTE, DISTRIBUIÇÃO,
PARCELA, RECEITA, (ICMS).

Catálogo: (ICMS).

Texto Dispõe sobre a distribuição da parcela da receita do produto da


arrecadação do ICMS pertencente aos municípios.
Atualizado:
O Povo do Estado de Minas Gerais, por seus representantes,
decretou e eu, em seu nome, sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º - A parcela da receita do produto da arrecadação do


Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e
sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e
Intermunicipal e de Comunicação - ICMS - pertencente aos
municípios, de que trata o inciso II do parágrafo único do art.
158 da Constituição da República, será distribuída nos
percentuais indicados no Anexo I desta lei, conforme os seguintes
critérios:
I - Valor Adicionado Fiscal - VAF -: valor apurado com base
nos critérios para cálculo da parcela de que trata o inciso I do
parágrafo único do art. 158 da Constituição da República;
II - área geográfica: relação percentual entre a área
geográfica do município e a área total do Estado, informada pelo
Instituto de Geociências Aplicadas - IGA -;
III - população: relação percentual entre a população
residente no município e a população total do Estado, medida
268

segundo dados fornecidos pela Fundação Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística - IBGE -;
IV - população dos cinqüenta municípios mais populosos:
relação percentual entre a população residente em cada um dos
cinqüenta municípios mais populosos do Estado e a população total
destes, medida segundo dados fornecidos pelo IBGE;
V - educação: relação entre o total de alunos atendidos, os
alunos da pré-escola inclusive, e a capacidade mínima de
atendimento pelo município, publicada pela Secretaria de Estado
da Educação até o dia 30 de abril de cada ano, relativamente aos
dados do ano civil imediatamente anterior, calculada de acordo
com o Anexo II desta lei, observado o disposto no § 1º deste
artigo;
VI - produção de alimentos os valores decorrentes da
aplicação dos percentuais à frente de cada item serão
distribuídos aos municípios segundo os seguintes critérios:
a) parcela de 50% (cinqüenta por cento) do total será
distribuída de acordo com a relação percentual entre a área
cultivada do município e a área cultivada do Estado, referentes à
média dos dois últimos anos, incluindo-se naárea cultivada a área
destinada à agricultura de pequeno porte;
b) parcela de 25% (vinte e cinco por cento) do total será
distribuída de acordo com a relação percentual entre o número de
pequenos produtores rurais do município e o número de pequenos
produtores rurais do Estado;
c) parcela de 15% (quinze por cento) do total será
distribuída entre os municípios onde exista programa ou
estrutura de apoio à produção e à comercialização de produtos
agrícolas, que atenda especialmente aos pequenos produtores
rurais, de acordo com a relação percentual entre o número de
pequenos produtores rurais atendidos e o número total de
pequenos produtores rurais existentes no município;
d) parcela de 10% (dez por cento) do total será distribuída
aos municípios que tiverem, na estrutura organizacional da
Prefeitura, órgão de apoio ao desenvolvimento agropecuário,
respeitada a mesma relação percentual estabelecida na alínea "b"
deste inciso;
VII - patrimônio cultural: relação percentual entre o Índice
de Patrimônio Cultural do município e o somatório dos índices de
todos os municípios, fornecida pelo Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico - IEPHA -, da Secretaria de
Estado da Cultura, que fará publicar, até o dia 30 de abril de
cada ano, os dados apurados relativos ao ano civil imediatamente
anterior, observado o disposto no Anexo III desta lei;
VIII - meio ambiente: observados os seguintes critérios:
a) parcela de, no máximo, 50% (cinqüenta por cento) do total
será distribuída aos municípios cujos sistemas de tratamento ou
disposição final de lixo ou de esgoto sanitário, com operação
licenciada pelo órgão ambiental estadual, atendam, no mínimo, a,
respectivamente, 70% (setenta por cento) e 50% (cinqüenta por
cento) da população, sendo que o valor máximo a ser atribuído a
cada município não excederá o seu investimento, estimado com base
na população atendida e no custo médio "per capita" dos sistemas
de aterro sanitário, usina de compostagem de lixo e estação de
tratamento de esgotos sanitários, fixado pelo Conselho Estadual
de Política Ambiental - COPAM -;
b) o restante dos recursos será distribuído com base no
Índice de Conservação do Município, calculado de acordo com o
Anexo IV desta lei, considerando-se as unidades de conservação
estaduais, federais e particulares, bem como as unidades
municipais que venham a ser cadastradas, observados os parâmetros
e os procedimentos definidos pelo órgão ambiental estadual;
c) a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável fará publicar, até o último dia do trimestre civil,
os dados apurados relativos ao trimestre imediatamente anterior,
com a relação de municípios habilitados segundo as alíneas "a" e
"b" deste inciso, para fins de distribuição dos recursos no
trimestre subseqüente;
269

IX - saúde: os valores decorrentes da aplicação dos


percentuais constantes no Anexo I desta lei serão distribuídos
aos municípios segundo os seguintes critérios:
a) um valor de incentivo para os municípios que
desenvolverem e mantiverem em funcionamento programas específicos
voltados para o atendimento à saúde das famílias, mediante
comprovação na Secretaria de Estado da Saúde, limitado a 50%
(cinqüenta por cento) do percentual relativo a saúde previsto no
Anexo I, que serão distribuídos e ponderados conforme a população
efetivamente atendida;
b) encerrada a distribuição conforme a alínea "a" deste
inciso, o saldo remanescente dos recursos alocados a essa
variável será distribuído tendo em vista a relação entre os
gastos de saúde "per capita" do município e o somatório dos
gastos de saúde "per capita" de todos os municípios do Estado,
calculada com base nos dados relativos ao segundo ano civil
imediatamente anterior, fornecidos pelo Tribunal de Contas do
Estado;
X - receita própria: relação percentual entre a receita
própria do município, oriunda de tributos de sua competência, e
as transferências de recursos federais e estaduais recebidas
pelo município, baseada em dados relativos ao segundo ano civil
imediatamente anterior, fornecidos pelo Tribunal de Contas do
Estado;
XI - cota-mínima: parcela a ser distribuída em igual valor
para todos os municípios;
XII - municípios mineradores: percentagem média do Imposto
Único sobre Minerais - IUM - recebido pelos municípios
mineradores em 1988, com base em índice elaborado pela Secretaria
de Estado da Fazenda, demonstrando a efetiva participação de
cada um na arrecadação do IUM naquele exercício;
XIII - compensação financeira por emancipação de distrito:
compensação financeira aos municípios remanescentes de Mateus
Leme e Mesquita, devido à emancipação de distritos deles
desmembrados.
§ 1º - Para o efeito do disposto no inciso V deste artigo,
ficam excluídos os municípios nos quais o número de alunos
atendidos pela rede municipal não corresponda a, pelo menos, 90%
(noventa por cento) de sua capacidade mínima de atendimento.
§ 2º - Os dados referentes ao inciso VI deste artigo,
relativos à produção de alimentos, serão fornecidos pela
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
que fará publicar, a cada trimestre civil, no órgão oficial dos
Poderes do Estado, as informações pertinentes às alíneas
enumeradas naquele inciso, para fins de distribuição no trimestre
subseqüente.
§ 3º - A Secretaria de Estado da Saúde fará publicar, na
primeira segunda-feira de cada mês, as modificações ocorridas no
mês anterior relativamente às alíneas "a" e "b" do inciso IX
deste artigo para fins de distribuição no mês subseqüente.
§ 4º - A Fundação João Pinheiro fará publicar, até a segunda
segunda-feira de cada mês, os índices de que tratam os incisos
II a XIII deste artigo, relativos ao mês anterior, bem como a
consolidação destes por município.
§ 5º - A Secretaria de Estado da Fazenda fará publicar, até
o dia 30 de junho de cada ano, o índice provisório de que trata o
inciso I deste artigo.
§ 6º - Sem prejuízo das ações cíveis e criminais cabíveis,
os prefeitos municipais e as associações de municípios ou seus
representantes poderão impugnar, no prazo de trinta dias contados
de sua publicação, os dados e os índices relativos aos critérios
para apuração anual do VAF e, no prazo de cinco dias úteis, os
demais.
§ 7º - A Fundação João Pinheiro fará publicar o resultado do
julgamento das impugnações previstas no § 6º deste artigo no
prazo de quinze dias contados do seu recebimento.
§ 8º - A Secretaria de Estado da Fazenda fará publicar, até
o dia 31 de agosto de cada ano, o índice definitivo de que trata
270

o inciso I deste artigo, para fins de distribuição dos recursos


no exercício subseqüente, após o julgamento das impugnações
previstas no § 6º.
§ 9º - A participação de município em razão de critério
previsto em inciso deste artigo não prejudica sua participação na
distribuição na forma dos demais dispositivos.
§ 10 - As publicações de índices previstas nesta lei
apresentarão os dados constitutivos e os percentuais para cada
critério, previstos nos incisos I a XIII deste artigo.
§ 11 - O critério da compensação financeira por
desmembramento de distrito, previsto no inciso XIII, extingue-se
no exercício de 2005, e os resíduos apurados em razão de perda
anual serão incorporados ao índice de que trata o inciso I deste
artigo, observado o disposto no Anexo I desta lei.

Art. 2º - A apuração do VAF compreenderá o montante global da


apresentação do movimento econômico, observado o disposto no § 4º
do art. 3º da Lei Complementar Federal nº 63, de 11 de janeiro de
1990.

Art. 3º - Para se estabelecer o valor adicionado relativo à


produção e à circulação de mercadorias e à prestação de serviços
tributados pelo ICMS, quando o estabelecimento do contribuinte do
imposto se estender pelos territórios de mais de um município, a
apuração do valor adicionado será feita proporcionalmente,
mediante acordo celebrado entre os municípios envolvidos e
homologado pela Secretaria de Estado da Fazenda.
§ 1º - Com relação às operações de circulação de energia
elétrica, entendem-se como estabelecimento de usina hidrelétrica
as áreas ocupadas pelo reservatório de água destinado à geração
de energia, pela barragem e suas comportas, pelo vertedouro,
pelos condutos forçados, pela casa de máquinas e pela subestação
elevatória.
§ 2º - O valor adicionado relativo a usina hidrelétrica cujo
estabelecimento ocupe território de mais de um município será
creditado conforme os seguintes critérios:
I - 50% (cinqüenta por cento) ao município onde se
localizarem a barragem e suas comportas, o vertedouro, os
condutos forçados, a casa de máquinas e a estação elevatória e,
no caso de um ou alguns desses componentes se situarem em
território de mais de um município, o percentual será dividido em
tantas partes iguais quantos forem os municípios envolvidos, a
cada qual atribuindo-se uma delas;
II - 50% (cinqüenta por cento) aos demais municípios, ao
município sede a que se refere o inciso I inclusive, respeitada a
proporção entre a área do reservatório localizada em território
do Estado e a localizada em cada município, de acordo com o
levantamento da Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL -,
sem prejuízo de termo de acordo a ser celebrado entre os
municípios.

Art. 4º - Para os efeitos desta lei, considera-se pequeno


produtor rural aquele que satisfizer os seguintes requisitos:
I - mantiver até dois empregados permanentes, permitida a
contratação eventual de terceiros;
II - não detiver, a nenhum título, área superior a quatro
módulos fiscais, sendo que cada município possui seu próprio
módulo fiscal, cuja extensão varia entre o limite mínimo de 5ha
(cinco hectares) (Belo Horizonte) e o máximo de 70ha (setenta
hectares) (São Romão);
III - ter, no mínimo, 80% (oitenta por cento) de sua renda
bruta anual proveniente de exploração agropecuária;
IV - residir na propriedade rural ou em aglomerado urbano
próprio.

Art. 5º - Esta lei entra em vigor no primeiro dia do ano


subseqüente ao da data de sua publicação.
271

Art. 6º - Revogam-se as disposições em contrário,especialmente a


Lei nº 12.040, de 28 de dezembro de 1995; a Lei nº 12.428, de 27
de dezembro de 1996; o art. 26 da Lei nº 12.581, de 17 de julho
de 1997; a Lei nº 12.734, de 30 de dezembro de 1999, e a Lei nº
12.970, de 27 de julho de 1998.

Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, aos 27 de dezembro de


2000.

Itamar Franco - Governador do Estado

Anexo I (a que se refere o art. 1º da Lei nº 13.803, de 27 de


dezembro de 2000)

Notas:
1 - Os dados relativos aos bens tombados pelo Governo Federal
são os constantes no "Guia de Bens Tombados em Minas Gerais",
publicado anualmente pelo Instituto de Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional - IPHAN.
2 - Os dados relativos aos bens tombados pelo Governo do Estado
são os constantes na "Relação de Bens Tombados em Minas
Gerais", fornecida pelo Instituto Estadual do Patrimônio
Histórico e Artístico de Minas Gerais - IEPHA-MG -, e no art. 84
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da
Constituição do Estado.
3 - O número de domicílios a que se refere a tabela foi obtido a
partir do somatório do número total de domicílios dos setores
censitários integrantes dos perímetros de tombamento.
4 - Os perímetros de tombamento são os estabelecidos pelos
respectivos dossiês de tombamento ou originários de estudos e
resoluções da 13ª Coordenação Regional do IPHAN.
5 - O número total de domicílios é o fornecido pelo IBGE.
6 - Os dados relativos aos tombamentos e às políticas municipais
são os atestados pelo Conselho Curador do IEPHA-MG,
mediante a comprovação pelo município:
a) de que os tombamentos estão sendo realizados conforme a
técnica e a metodologia adequadas;
b) de que possui política de preservação de patrimônio
cultural, devidamente respaldada por lei;
c) de que tem efetiva atuação na preservação dos seus bens
culturais.

Critérios de 2001 2002 2003 2004 A


Distribuição partir
de 2005
VAF (art. 1º, I) 4,632 4,644 4,656 4,668 4,680
Área geográfica (art. 1º, II) 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000
População (art. 1º, III) 2,710 2,710 2,710 2,710 2,710
População dos 50 municípios 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000
mais populosos (art. 1º, IV)
Educação (art. 1º, V) 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000
Produção de alimentos 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000
(art. 1º, VI)
Patrimônio cultural 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000
(art. 1º, VII)
Meio ambiente (art. 1º, VIII) 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000
Gasto com saúde (art. 1º, IX) 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000
Receita própria (art. 1º, X) 2,000 2,000 2,000 2,000 2,000
Cota mínima (art. 1º, XI) 5,500 5,500 5,500 5,500 5,500
Municípios mineradores 0,110 0,110 0,110 0,110 0,110
(art. 1º, XII)
Mateus Leme (art. 1º, XIII) 0,032 0,024 0,016 0,008 0
Mesquita (art. 1º, XIII) 0,016 0,012 0,008 0,004 0

Total 25,000 25,00 25,000 25,000 25,000


25,000

Anexo II
272

Índice de Educação – Pei (a que se refere o inciso V do art. 1º


da Lei nº 13.803, de 27 de dezembro de 2000)

PEi = ICMAi x 100 , considerando-se:


a) ICMAI = MRMI, onde
a.1) MRMi é o número de matrículas na rede municipal de ensino
do município.
a.2) CMA é a capacidade mínima de atendimento do município,
calculada pela relação entre 25% (vinte e cinco por cento) da
receita de impostos do município, compreendida a proveniente de
transferências e o custo por aluno estimado pela Secretaria de
Estado da Educação.
b) ICMAi é o somatório do ICMAi para todos os municípios.

Anexo III
Índice de Patrimônio Cultural – PPC (a que se refere o inciso VII
do art. 1º da Lei nº 13.803, de 27 de dezembro de 2000)

O PPC corresponde ao somatório das notas do município


dividido pelo somatório das notas de todos os municípios

Atributo Característica Sigla


Nota
Cidade ou distrito com seu Nº domicílios > 5000 NH1
16
núcleo histórico urbano 5.000 > nº domicílios > 3.000 NH2
12
tombado pelo Governo
Federal ou pelo Estadual 3.000 > nº domicílios > 2.001 NH3
08
2.000 > nº domicílios NH4
05

Somatório dos conjuntos unid. > 30 e área > 10 ha CP1


05
urbanos ou paisagísticos, unid. > 20 e área > 5 ha CP2
04
localizados nas áreas urba unid. > 10 e área > 2 ha CP3
03
nas ou rurais, tombados unid. > 5 e área > 0,2 ha CP4
02
pelo Governo Federal ou
pelo Estadual

Bens imóveis tombados Nº unidades > 20 B11


08
isoladamente pelo Governo 20 > nº unidades > 10 B12
06
Federal ou pelo Estadual, 10 > nº unidades > 5 B13
04
incluídos seus acervos de 5 > nº unidades > 1 B14
02
bens móveis, quando houver.

Bens móveis tombados Nº unidades > 5 BM1


02
isoladamente pelo Governo 5 > nº unidades > 1 BM2
01
Federal ou pelo Estadual.

Cidade ou distrito com seu Nº domicílios > 2.001 NH21


04
núcleo histórico urbano 2.000 > nº domicílios > 50 NH22
03
tombado pela administração
municipal.
273

Somatório dos conjuntos unid. > 10 e área > 2 ha CP21


02
urbanos ou paisagísticos, unid. > 5 e área > 0,2 ha CP22
01
localizados em zonas urba-
nas ou rurais, tombados pe
la administração municipal.

Bens imóveis tombados Nº unid. > 10 B121


03
isoladamente pela 10 > nº unidades > 5 B122
02
administração municipal, 5 > nº unidades > 1 B123
01
incluídos seus acervos de
bens móveis, quando houver.

Bens móveis tombados BM21


01
isoladamente pela
administração municipal.

Existência de planejamento PCL


03
e de política municipal de
proteção do patrimônio
cultural.

Anexo IV
Índice de Conservação do Município – IC (a que se refere a alínea
b do inciso VIII do art. 1º da Lei nº 13.803, de 27 de dezembro
de 2000)

I - Índice de Conservação do Município "I"


IC = FCMi , onde:
FCE
a) FCMi = Fator de Conservação do Município "I"
b) FCE = Fator de Conservação do Estado
II - FCE : Fator de Conservação do Estado
FCE = FCMI, onde
a) FCMi = Fator de Conservação do Município "I"
FCMi = FCM i,I
b) FCM I,j = Fator de Conservação da Unidade de
Conservação
"j" no Município "I".
III - FCMi,j = Área UCi,j x FC x FQ, onde
Área Mi
a) Área UC i,j = Área da Unidade de Conservação
“j“no
Município "i"
b) Área Mi = Área do Município "i"
c) FC = Fator de Conservação relativo à categoria de
Unidade
de Conservação, conforme tabela
d) FQ - Fator de Qualidade, variável de 0,1 (um décimo) a
1
(um), relativo à qualidade física da área, plano de manejo,
infra-
estrutura, entorno protetivo, estrutura de proteção
e
fiscalização, entre outros parâmetros, conforme
deliberação
normativa do Conselho Estadual de Política Ambiental - COPAM. (1)

Nota: 1 - O Fator de Qualidade será igual a 1 até que sejam


ponderadas as variáveis e disciplinada sua aplicação, por meio
de
deliberação normativa do COPAM.
274

Tabela
Fator de Conservação para Categorias de Manejo
de Unidades de Conservação

Categoria de Manejo Código Fator de


Conservação -
FC
Estação ecológica EE 1
Reserva biológica RB 1
Parque PAQ 0,9
Reserva particular do patrimônio RPPN 0,9
natural
Reserva particular de recomposição 0,9
ambiental
(Item acrescentado pelo art. 9º da
Lei nº 14027, de 19/1/2004.)
Floresta nacional, estadual ou FLO 0,7
municipal
Área indígena AI 0,5
(1) Área de proteção ambiental I APA I 1
Zona de vida silvestre ZVS 0,1
Demais zonas DZ
(1) Área de proteção ambiental II, APA II 0,025
federal ou estadual

(2) Área de proteção especial APE 0,1


Outras categorias de manejo definidas em lei e declaradas pelo
poder público estadual, com o respectivo fator de conservação.

Notas:
1 - APA I dispõe de zoneamento ecológico-econômico; a APA
II
não dispõe de zoneamento.
2 - APE: declarada com base nos arts. 13, I, e 14 da
Lei
Federal nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979, para proteção
de
mananciais ou do patrimônio paisagístico e arqueológico.

-----------------------------------------------------------------
-
-------------

Data da última atualização: 2/3/2004.


275

Anexo 4
Deliberação Normativa do Conselho Curador do IEPHA/MG n.º 01/2004 –
Revisão aprovada pelo Conselho Curador do IEPHA em 20 de dezembro de 2004
276
Deliberação Normativa 01/2004

O Conselho Curador do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas


Gerais - IEPHA/MG, no uso das atribuições que lhe confere o Anexo III da Lei nº 13.803/2000, de
27/12/2000, altera a Deliberação Normativa 02/2002 e resolve:

Art. 1º - Fará jus à pontuação prevista no Anexo III da Lei nº 13.803/2000 – Atributos: Núcleo
Histórico ( NH ), Conjunto Paisagístico ( CP ), Bens Imóveis ( BI ), Bens Móveis ( BM ), Existência de
Planejamento e Política Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural ( PCL ) e Atuação na
Preservação de seus Bens Culturais, o município que atender às exigências de que trata esta
Deliberação.

Art. 2º – A entrega da documentação deverá ser feita por via postal, com comprovante de postagem e
de recebimento. Somente será aceita a documentação postada até 15 de abril de cada ano. e
encaminhada ao IEPHA/MG – ICMS Patrimônio Cultural, no endereço: Praça da Liberdade s/nº -
Edifício SETOP – 4º andar – Funcionários – Belo Horizonte – MG – CEP 30.140-010. A
documentação encaminhada para endereço diferente não será considerada para efeito de pontuação.
Parágrafo Único - As informações de caráter administrativo deverão ser assinadas por autoridade
municipal e as de caráter técnico pelos técnicos responsáveis pelo trabalho. No caso de laudo de estado
de conservação de bens imóveis, deverá ser indicado o número do CREA do responsável técnico.

Art. 3º - A documentação deverá atender às exigências definidas nos Quadros I, II, III, IV e Anexo I -
definidos abaixo - e apresentados com os respectivos percentuais para a pontuação:
a) O Quadro I – Existência de Planejamento e de Política Municipal de Proteção do Patrimônio
Cultural – PCL – apresenta a relação de documentos e as orientações jurídico-administrativas
necessárias à implementação da política municipal de preservação do patrimônio cultural e à
efetiva atuação do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural e de órgãos públicos, devidamente
respaldadas por lei.
b) O Quadro II – Inventários de Proteção ao Acervo Cultural – IPAC – apresenta a relação de
documentos a serem entregues e orientações técnicas para a elaboração e implementação do Plano
de Inventário.
c) O Quadro III – Dossiês de Tombamento e Laudos de Estado de Conservação – apresenta a
relação de documentos e orientações técnicas para a realização de tombamentos e a preservação de
bens culturais.
d) O Quadro IV – Ações de Proteção e Investimentos – apresenta a relação de documentos e as
orientações necessárias a uma efetiva atuação na preservação dos bens culturais, comprovada por
investimentos financeiros e iniciativas empreendidas pela municipalidade.
e) O Anexo I - Forma de Apresentação - orienta quanto à forma de apresentação dos conjuntos de
documentos. Destaca-se a recomendação para que a documentação seja encaminhada com folha de
rosto, conforme modelo em anexo. É indispensável o encaminhamento da folha de rosto impressa e
em disquete.

§ 1º - Com exceção do Quadro II, que continua referindo-se ao Inventário, os demais Quadros são
resultantes de nova numeração, obedecendo a melhor lógica, como segue: o Quadro I é o antigo
Quadro IV, o Quadro III, o antigo Quadro I e o Quadro IV é o antigo Quadro III.
277
§ 2º - As orientações técnicas e os modelos de que trata esta Deliberação são também divulgados no
site do IEPHA/MG - www.iepha.mg.gov.br
§ 3º – A documentação encaminhada em atendimento aos Quadros I a IV deverá seguir, rigorosamente,
as normas explicitadas no Anexo I, conforme definido no inciso e.

Art. 4º – Para efeito desta Deliberação Normativa, entende-se por:


a) Ano-base: o ano sobre o qual o município está prestando informações a respeito das atividades
desenvolvidas no âmbito municipal.
b) Período de ação e preservação: de 16 de abril do ano anterior ao ano-base a 15 de abril do ano-
base, quando o município executa as atividades de proteção ao patrimônio cultural localizado em
seu território, relatada em documentação comprobatória a ser entregue até 15 de abril do ano-base.
c) Período de análise: de 16 de abril a 31 de dezembro do ano-base, imediatamente subseqüente ao
período de ação e proteção ao patrimônio. Neste período serão analisados pelo IEPHA/MG a
documentação entregue e os pedidos de reavaliação.
d) Ano de exercício: o período de janeiro a dezembro imediatamente posterior ao ano-base, quando se
fará a distribuição de recursos financeiros advindos do critério do patrimônio cultural, conforme
disposto pela Lei nº 13.803/2000.
e) Exercício civil: o período entre 1º de janeiro e 31 de dezembro anterior ao ano-base.
Parágrafo único - as definições acima são explicitadas na Linha do Tempo abaixo.

Linha do tempo
31/12 31/12
1/01 16/04 1/01 15/04 1/01 31/12

período de ação e preservação período de análise ano de exercício

exercício civil

A N O - B A S E

Art. 5º – A pontuação prevista no Quadro I refere-se ao atributo Existência de Planejamento de


Política Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural (sigla PCL) e será atribuída aos municípios
que implantarem legislação municipal de proteção ao patrimônio cultural, criarem e implantarem
Conselho Municipal do Patrimônio Cultural e definirem, na administração municipal, setor responsável
pela gestão do patrimônio cultural.
Parágrafo Único - A legislação municipal do patrimônio cultural, a documentação comprobatória da
criação do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural e seu Regimento Interno, exigidos no Quadro
I, deverão ser apresentados somente no ano de sua implementação. Nos anos subseqüentes, para efeito
de pontuação, deverá ser declarado, em documento próprio, apenas o ano de sua apresentação ao
IEPHA/MG e encaminhadas as eventuais modificações.
Art. 6º - A execução do Inventário de Proteção ao Acervo Cultural/IPAC – Quadro II, no primeiro ano, consta
da elaboração do Plano de Inventário, que relaciona as etapas de desenvolvimento do trabalho e o cronograma.
Nos anos subseqüentes à pontuação do Plano de Inventário, o município deve executar o Inventário de Bens
Culturais propriamente dito, abrangendo todo o seu território, segundo os critérios de identificação e o
cronograma definidos pelo próprio município no Plano. Terminado o Inventário, o município deve atualizar e
disponibilizar o cadastro.
278
Art.7º - A pontuação referente a tombamentos - atributos Núcleo Histórico ( sigla NH), Conjunto
Paisagístico ( sigla CP), Bens Imóveis ( sigla BI ) e Bens Móveis ( sigla BM ) - foi distribuída em
percentagens, sendo 30% referente ao “dossiê de tombamento e/ou laudo de estado de conservação”– Quadro III
– e 70% às “ações de proteção e investimentos” – Quadro IV.

Art.8º - Para todo e qualquer bem, independente da data de seu tombamento, será exigida a
documentação relacionada no Quadro III, apenas no primeiro ano de sua inclusão para efeito de
pontuação. Nos anos subseqüentes, deverá ser encaminhada ao IEPHA/MG apenas a documentação
relacionada no Quadro III, Laudo técnico de avaliação do estado de conservação, contendo
o ano em que foi enviado o dossiê ao IEPHA/MG, data do decreto de tombamento
municipal e data da inscrição no livro de tombo.

§ 1º - Para os bens tombados nos níveis federal e estadual não será exigida do município a apresentação
dos Laudos de Estado de Conservação, ficando garantida a porcentagem da pontuação correspondente.
§ 2º – Para serem pontuados, os sítios arqueológicos, pré-históricos e históricos deverão ser tombados
pelo município como Conjunto Paisagístico ou Bens Imóveis e atender às exigências feitas para os bens
imóveis – dossiês e laudos técnicos de estado de conservação - constantes do Quadro III.
§ 3º – No caso de sítios arqueológicos e pré-históricos tombados e abertos à visitação ou ao turismo,
deverá ser elaborado Plano de Gestão aprovado pelo IPHAN, condição para serem considerados para
efeito de pontuação.
§ 4º – Não serão pontuados os bens que apresentarem, pelo segundo ano consecutivo, laudo técnico
comprovando estado de conservação precário. Será aceita a informação sobre sua recuperação em
andamento, comprovada por projeto de intervenção aprovado pelo Conselho Municipal de Proteção ao
Patrimônio Cultural.
§ 5º – Os laudos técnicos de estado de conservação deverão informar a existência de
sistema de prevenção contra incêndio e furtos em bens tombados.
Caso não existam tais equipamentos, será concedido o prazo de um ano para sua
implantação, em bens tombados públicos e eclesiásticos detentores de acervos e
elementos artísticos e caso possível, em bens tombados particulares, condição para
serem pontuados como bens tombados no Quadro III.

§ 6º - O IEPHA/MG reserva-se o direito de aferir laudos de estado de conservação de bens tombados


em nível municipal. Caso a aferição apresente resultado diferente daquele apontado pelo laudo enviado
pelo município, prevalecerão, para efeito de cálculo da pontuação, as informações do Instituto.

Art. 9º - Para efeito de análise e pontuação no Quadro IV somente serão considerados os municípios
que apresentarem a documentação exigida no Quadro III.
§ 1º – As atividades objeto do Relatório de Atividades do Setor de Patrimônio Cultural da Prefeitura
serão aquelas realizadas no período de ação e preservação.
§ 2º - O Setor de Patrimônio Cultural deverá desenvolver as atividades de educação patrimonial, a
serem registradas no Relatório de Atividades do Setor de Patrimônio Cultural da Prefeitura, Anexo II.
§ 3º – Para efeito de pontuação, fica entendida como ação de educação patrimonial, a atividade
educacional que utilizar o patrimônio cultural local - preferencialmente o patrimônio local tombado ou
inventariado - como fonte geradora de conhecimento. As atividades de educação patrimonial deverão
279
ser desenvolvidas de acordo com Projeto(s) de Educação Patrimonial, contendo justificativa,
objetivos, metodologia, público-alvo e equipe do Setor de Patrimônio da Prefeitura envolvida. As
atividades desenvolvidas e o material de apoio produzido, quando houver, inclusive fotografias,
deverão ser encaminhados junto com o Quadro IV, devendo ser anexado(s) o(s) Projeto(s) de
Educação Patrimonial que as direcionou(aram).
§ 5º - Para a comprovação dos investimentos em bens móveis ou imóveis tombados ou inventariados e
em atividades culturais, será considerado o valor recebido pelo município pelo critério do patrimônio
cultural no exercício civil. Caso, nesse período, o município não tenha recebido recursos advindos do
ICMS – critério do patrimônio cultural - as percentagens de investimentos em bens móveis ou imóveis
tombados ou inventariados e em atividades culturais do Quadro IV serão atribuídas automaticamente
sobre as notas dos atributos referentes ao tombamento.
Art. 10 - Após a análise da documentação, o IEPHA/MG encaminhará cópia do resultado aos municípios
participantes, através de AR dos correios. O município terá até 30 (trinta) dias, a contar da data de
recebimento da análise, para solicitar revisão de sua pontuação. Para tanto, deverá encaminhar ao
Instituto ofício assinado por autoridade municipal, justificando seu pedido de revisão. As justificativas
usadas pelo município deverão estar fundamentadas na documentação enviada até 15 de abril, e
consideradas as disposições da deliberação não sendo aceita, em qualquer hipótese, a remessa de novos
documentos nem mudança de informações. Sendo procedente o pedido de revisão feito pelo município, o
IEPHA/MG fará a correção da pontuação. A pontuação final será divulgada no site
www.iepha.mg.gov.br, até 30 de dezembro do ano de análise, não sendo aceitas novas solicitações de
revisão.

Art. 11 - O município deverá manter, no Setor de Patrimônio Cultural da Prefeitura, original integral
da documentação enviada ao IEPHA/MG, que se reserva o direito de conferi-la em vistoria in loco.
Não sendo encontrado aquele original nos arquivos do setor, não caberá pontuação ao município.

Art. 12 - As dúvidas referentes à Lei nº 13.803/2000 e a esta Deliberação Normativa serão


esclarecidas, pessoalmente, somente pelos técnicos da SDP - Superintendência de Desenvolvimento e
Promoção do IEPHA/MG, em entrevista agendada pelos telefones (31) 3213-5990 ou (31) 3213-6000,
no horário de 14 às 17 horas.
Parágrafo Único: As dúvidas específicas de interesse dos municípios somente serão esclarecidas
pessoalmente no IEPHA/MG, a integrante do Setor de Patrimônio Cultural da Prefeitura ou a seu
superior hierárquico, portando ofício do Prefeito Municipal.

Art. 13 - Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Curador do IEPHA/MG na forma
regimental.

Art. 14 - Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em
contrário.

Belo Horizonte, 30 de junho de 2004


280

QUADROS

Quadro I – Planejamento e Política Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural

Quadro II – Inventário de Proteção ao Acervo Cultural

Quadro III – Dossiês de Tombamento e Laudo Técnico de Estado de Conservação

Quadro IV – Ações de Proteção e Investimentos

ANEXOS
Anexo I – Normas de Apresentação

Anexo II – Modelos de Relatório de Atividades

Anexo III – Modelos de Relatório de Investimentos

Anexo IV – Modelo de Laudo Técnico de Estado de Conservação

Anexo V – Folha de Rosto


281
QUADRO I – Valor Total – 3 pontos
EXISTÊNCIA DE PLANEJAMENTO DE
POLÍTICA MUNICIPAL DE PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL - PCL
ATUAÇÃO NA PRESERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS

Porcentagem
em relação á
CARACTERÍSTICAS MÍNIMAS EXIGIDAS nota referente
ITEM
PARA EFEITO DE PONTUAÇÃO ao atributo sigla
PCL

1 - LEGISLAÇÃO 1. O município deverá apresentar cópia da publicação da lei municipal específica que cria o
MUNICIPAL DE instituto do tombamento no nível municipal. Para os municípios que não tenham veículos 5%
PROTEÇÃO AO próprios de publicação de seus atos, exige-se documento comprobatório de que a lei municipal (0,15 ponto)
PATRIMÔNIO encontra-se em vigor, devidamente assinado por autoridade competente.
CULTURAL.
Nos anos posteriores à apresentação da cópia da referida Lei, o município
deverá encaminhar declaração informando o n.º,a data da Lei, e o ano em que
foi enviada ao IEPHA/MG

O município deverá encaminhar apenas no ano de sua criação ou na primeira vez em que remeter a
documentação ao IEPHA/MG, cópia dos seguintes documentos:
1. de criação do Conselho, podendo ser decreto municipal, lei municipal específica ou capítulo
2 - EXISTÊNCIA DE específico da lei orgânica municipal.
CONSELHO 2. do regimento interno do Conselho ou documento similar, onde deverão constar, no mínimo, as
MUNICIPAL DO formas de convocação, deliberação e periodicidade de suas reuniões. Caso haja alterações, as
PATRIMÔNIO retificações deverão ser encaminhadas no ano de sua aprovação.
CULTURAL O município deverá encaminhar anualmente cópia dos seguintes documentos:
RESPONSÁVEL 3. de nomeação dos integrantes do Conselho, sendo recomendável que este apresente composição 20 %
PELA DEFINIÇÃO equilibrada entre o poder público e entidades e instituições representativas da sociedade civil. (0,60 ponto)
DA POLÍTICA 4. do documento de posse dos conselheiros nomeados, assinado por autoridade municipal.
MUNICIPAL DE 5. das atas assinadas pelos membros presentes às reuniões do Conselho, comprovando sua
PROTEÇÃO AO atuação. As reuniões do Conselho deverão ter periodicidade mínima bimestral, a partir da data
PATRIMÔNIO de sua criação, para efeito de pontuação.
CULTURAL DO 6. de comprovação de publicidade das atas de reunião do Conselho;
MUNICÍPIO. 7. de informação sobre o ano em que foi enviada ao IEPHA/MG a documentação de:
a) criação do Conselho;
b) seu regimento interno.

3 - SETOR DE 1. O município deverá informar qual o setor responsável, em seu organograma, pela gestão da
PATRIMÔNIO política municipal de proteção ao patrimônio cultural. Deverá constar da informação os nomes 35 %
CULTURAL DA do setor e de seus integrantes, o nome e a formação profissional do Responsável pelo setor, o (1,05 ponto)
PREFEITURA endereço e o telefone para contato e o e-mail do setor ou da prefeitura, se houver.

4 – EXECUÇO 4%
1. Elaborar o inventário de acordo com o Quadro I .
DE INVENTÁRIO (1,20 ponto)
282
QUADRO II – INVENTÁRIO DE PROTEÇÃO AO ACERVO CULTURAL - IPAC
DOCUMENT

CARACTERÍSTICAS EXIGIDAS PARA EFEITO DE PONTUAÇÃO INDICADA Porcentage


NO QUADRO I – ITEM 4 m da nota
referente ao
O

POLÍTICA DE PRESERVAÇÃO DE PATRIMÔNIO CULTURAL


atributo
EFETIVA ATUAÇÃO NA PRESERVAÇÃO DOS BENS CULTURAIS sigla PCL
I. O inventário baseia-se no conhecimento da história e da memória do município, desde seus primeiros habitantes até os dias
atuais, para o trabalho de identificação e conhecimento de bens culturais. O inventário é instrumento de orientação às ações do
poder público e das comunidades para a implementação da política cultural local, bem como às ações de preservação nas esferas
estadual e federal. O inventário começa com a elaboração do Plano de Inventário. A execução do inventário se faz a partir do
cronograma elaborado no Plano.
II. O município deve encaminhar ao IEPHA/MG, a cada ano, para análise e pontuação dos dados relativos ao inventário:
II.1. O Plano de Inventário, segundo Quadro II – Plano de Inventário anexo, caso já não o tenha apresentado e obtido
pontuação integral.
II.2. Os municípios que já apresentaram o seu Plano de Inventário, tendo ele obtido pontuação integral, devem encaminhar:
1. As recomendações da última análise da documentação – dados mais recentes do inventário entregue pelo município;
2. Duas cópias do cronograma de execução do inventário [uma delas a ser destacada para uso do IEPHA/MG];
3. Relação de nomes das áreas e respectivos bens culturais inventariados e ano do inventário;
4. Planta cadastral da(s) área(s) inventariada(s), em escala compatível, com a indicação dos nomes e localização dos bens
inventariados [utilizar legenda na planta cadastral];
5. documentação comprobatória da realização de todas as atividades previstas no cronograma de inventário para
o exercício vigente. A documentação pode ser apresentada sob forma de informes históricos, fotografias,
QUADRO II - INVENTÁRIO DE PROTEÇÃO AO ACERVO CULTURAL - IPAC

desenhos, mapas e plantas cadastrais e fichas de inventário preenchidas. As atividades devem ser executadas
segundo os períodos estabelecidos em cronograma ao longo do ano. O cronograma pode ser reavaliado e
modificado, mediante justificativa e desde que não sejam alteradas as atividades previstas para o exercício
vigente. (ver item III) 40%
II.3. Terminado o inventário, o município deve apresentar: (1,2 ponto)
a) ficha atualizada de informações gerais do município, segundo modelo do roteiro de preenchimento divulgado pelo
IEPHA/MG;
b) informação sobre locais [setor responsável da prefeitura, bibliotecas, conselho, casas de cultura, associações, escolas etc.] e
meios de disponibilização do inventário ao público [em papel e/ou meio digital, sob forma de banco de dados ou outras
formas (mídias) de apresentação]; item 4 do
c) fichas de inventário atualizadas. O município deve atualizar anualmente o seu inventário. A atualização refere-se a dados Quadro I
complementares históricos, campos descritivos, intervenções e estado de conservação dos bens inventariados. Nessa fase,
novos bens culturais podem ser inventariados.
d) Recomendações de proteção de áreas, conjuntos, bens isolados e/ou bens imateriais de interesse de preservação. A proteção
pode se dar por meio de tombamento, ordenamento urbanístico, registro, cadastro, projetos e planos de conservação e
revitalização ou outras formas.
III. Entrega da documentação comprobatória após análise da documentação:
a) Após a entrega do Plano de Inventário, o município que obtiver análise “satisfatória” (pontuação integral) deve executar as
atividades previstas em cronograma para o exercício seguinte; o município que obtiver análise “satisfatória com
recomendações” (pontuação integral) deve executar as atividades previstas em cronograma e atender às recomendações da
análise; o município que obtiver análise “insuficiente” (pontuação zero) deve apresentar novo Plano de Inventário.
b) Execução do inventário. o município que não apresentar a documentação comprobatória das atividades previstas para
qualquer ano do cronograma, ou apresentá-la parcialmente, e obtiver pontuação zero deve apresentá-la no ano seguinte.
Essas atividades não devem ser alteradas. O critério de exeqüibilidade do cronograma deve sempre ser observado. Nesse
caso, não é necessário que o município acumule dois anos consecutivos de atividades. Basta que o município apresente
novo cronograma prevendo a realização do restante das atividades. Apresentar justificativa.
c) O município que não apresentar documentação comprobatória por dois anos consecutivos deve reelaborar e reapresentar
novo Plano de Inventário.
IV. A documentação referente ao inventário a ser analisada refere-se ao período de ação e preservação, ano a ano.
V. O município deve seguir a metodologia divulgada pelo IEPHA/MG, podendo complementá-la e suplementá-la.
VI. As fichas de inventário devem conter, no mínimo, os campos de informação constantes dos modelos do roteiro de
preenchimento divulgado pelo IEPHA/MG. É facultativo o acréscimo de campos pelo município. O preenchimento das fichas de
inventário deve ser coerente com as categorias de bens culturais e com o conteúdo das fichas – identificar, localizar e informar
aspectos históricos, arquitetônicos, urbanísticos e artísticos do bem cultural por meio de textos, fotos, desenhos ou outras formas
de identificação.
VII. Os bens culturais são inventariados segundo as categorias: estruturas arquitetônicas e urbanísticas, bens integrados, bens
móveis, arquivos, patrimônio arqueológico, sítios naturais e patrimônio de natureza imaterial (saberes, celebrações, expressões,
lugares) ou outras, quando não couber adequação. O inventário de arquivos refere-se ao conjunto de documentos que compõe o
acervo [e, não, ao inventário de documento por documento].
VIII. Recomenda-se a composição interdisciplinar da equipe técnica responsável pela execução do IPAC. Recomenda-se,
também, a participação de agentes comunitários e de representante do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural, em função
das informações técnicas necessárias a cada categoria de bens culturais. Exige-se, o mínimo, um funcionário do Setor de
Patrimônio Cultural da prefeitura integrando a equipe.
283
QUADRO II – PLANO DE INVENTÁRIO

1. Dados do município
a) Dados dos distritos e povoado: indicar nome, população e número estimado de edificações do distrito sede, dos demais distritos, povoados
e localidades.
b) Patrimônio protegido: indicar a categoria e a denominação dos bens tombados, sua localização, o acervo a que pertence (no caso de bens
móveis, integrados e arquivos), o nível de proteção (tombamento ou registro federal, estadual e/ou municipal) e o ano de inventário, caso
existente. Os bens tombados que não foram inventariados devem ser incluídos no cronograma de inventário.
c) Patrimônio inventariado pelo município: indicar a categoria e a denominação do bem inventariado, sua localização, o acervo a que
pertence (no caso de bens móveis e integrados) e o ano do inventário.
d) Apresentar a ficha de informações gerais do município preenchida segundo o roteiro de preenchimento divulgado pelo IEPHA/MG. No
campo informe histórico relatar a evolução histórica do município, distritos e localidades, desde os primórdios da ocupação do território
até os dias atuais, destacando atividades econômicas, características geográficas, acontecimentos políticos, aspectos sociais e culturais,
tradições e transformações urbanas. Informar sobre a legislação urbanística existente e se o município está inserido em ramal ferroviário.
No campo aspectos naturais informar sobre a existência de cursos d’água, relevo (serras, morros, chapadas, picos etc.), clima, vegetação e
formações geológicas.
2. Objetivos do inventário
Apresentar os objetivos do inventário como instrumento de proteção inserido na política de preservação do patrimônio cultural do município,
QUADRO II - PLANO DE INVENTÁRIO

orientando o planejamento urbano, turístico e ambiental, a definição de áreas e diretrizes de proteção, os planos e projetos de preservação de
bens culturais e a educação patrimonial. Destacar as particularidades do município e as ações do poder público local, do Conselho de
Patrimônio Cultural e o envolvimento da comunidade nas decisões relacionadas à preservação do patrimônio cultural.
3. Identificação de bens culturais do município
Constituem bens culturais, não somente o conjunto de edificações e objetos por meio dos quais se atribui valor a expressões e significados
coletivos, mas também os elementos referenciais da geografia física e humana, a configuração de vias e parcelas de moradia remanescentes de
determinados períodos de formação da cidade, as formas de uso e ocupação do território, os arquivos jurídico-administrativos, institucionais,
particulares e religiosos, os bens de natureza intangível, isto é, bens que documentam tanto a continuidade quanto o esquecimento histórico e
contribuem para a formação da memória e do potencial criativo dos indivíduos e da diversidade cultural local e regional.
a) Apresentar os critérios de identificação de bens a serem inventariados. A partir da história do município, os critérios adotados para a
identificação, priorização e execução do inventário podem basear-se em aspectos:
Econômicos – cultura material e imaterial que surge a partir da instalação de atividades de trabalho e geração de renda e da extração de
matéria-prima local.
Administrativos – divisão administrativa do distrito sede, distritos, zona urbana e zona rural.
Geográficos – elementos do meio físico e de redes de comunicação, tais como rios, ribeirões, córregos, nascentes, clima e vegetação,
formações geológicas (serras, morros, chapadas, picos etc.), rede rodoviária e ferroviária, urbanização etc.
Culturais – conjunto de referências, suportes [meios e formas] e expressões de indivíduos e dos diferentes grupos sociais que constituem a
diversidade cultural do município.
b) Indicar as áreas a serem inventariadas. Todo o território do município deve ser contemplado pelo inventário: área urbana do distrito sede,
demais distritos, povoados, localidades e área rural. A área urbana pode ser subdividida em seções: bairros, seções urbanas, quarteirões etc.
c) Apresentar as características das áreas a serem inventariadas. Indicar as características de cada área a ser inventariada, que distinguem ou
relacionam uma área/unidade às outras, a partir dos critérios de identificação. Uma área não precisa ser contínua no território [por
exemplo, o conjunto de edificações do início do século XX].
d) Apresentar levantamento fotográfico de todas as áreas a serem inventariadas, de modo a fornecer o panorama da paisagem e do acervo
existente em cada uma delas, incluídos distritos e povoados. (mínimo de seis fotos de cada área)
e) Apresentar o mapa do município com a representação das áreas a serem inventariadas em todo o território municipal e a denominação das
áreas em legenda. (consultar a ficha de cartografia em roteiro de preenchimento divulgada pelo IEPHA/MG)
4. Execução do inventário. Apresentar o cronograma de inventário a ser cumprido pelo município nos anos posteriores ao Plano de
Inventário. O cronograma é a síntese do Plano.
a) O cronograma deve prever as atividades a serem executadas em períodos trimestrais e anos de execução. Fica a critério do município o
prazo para a execução do inventário, devendo, no entanto definir o ano de término. Priorizar os bens culturais em risco de
desaparecimento.
b) As atividades a serem executadas para cada área a ser inventariada devem prever: inventário por categorias de bens culturais, elaboração
de plantas cadastrais das áreas (fichas de cartografia), lista de bens a serem inventariados, inventário de bens tombados ainda não
inventariados, disponibilização do inventário em lugares acessíveis ao público.
284

QUADRO III PARA BENS IMÓVEIS


DOSSIÊS DE TOMBAMENTOS E LAUDOS DE ESTADO DE CONSERVAÇÃO

Porcentagem em
DOCU- relação às notas
CARACTERÍSTICAS EXIGIDAS PARA EFEITO DE PONTUAÇÃO referentes aos
atributos siglas
MENTO NH, CP, BI e BM
Integram o processo de tombamento de cada bem cultural:
1. Dossiê de tombamento de bens materiais imóveis, contendo, no mínimo, cópia dos seguintes documentos:
ƒ Introdução (deverá conter apresentação e justificativa das etapas metodológicas a serem seguidas e identificação do bem em questão);
ƒ Histórico do município (contendo a evolução histórica do município/distrito onde está situado o bem a ser tombado: a evolução política, econômica, sociocultural, religiosa e
urbana desde os primórdios até os dias atuais);
ƒ Histórico do bem cultural, relacionando-o ao município, identificando e analisando sua importância na evolução local;
PARA CADA BEM CULTURAL TOMBADO

ƒ Fontes de pesquisa para elaboração dos históricos do município e do bem cultural em questão;
1 – PROCESSO DE TOMBAMENTO

ƒ Descrição detalhada ( morfológica e/ou arquitetônica, urbanística, antropológica, arqueológica, etnográfica e/ou outras ) e análise do bem cultural;
ƒ Delimitação e descrição do perímetro de tombamento, indicadas através de desenho técnico;
ƒ Justificativa da definição do perímetro de tombamento;
ƒ Delimitação do perímetro de entorno do tombamento, indicada através de desenho técnico e descrição topográfica;
ƒ Justificativa da definição do perímetro de entorno;
ƒ Ficha de inventário do bem cultural;
ƒ Documentação cartográfica;
ƒ Documentação fotográfica colorida em, no mínimo, 20 fotos datadas e legendadas (legenda contendo designação do bem, detalhe que esteja sendo mostrado - como por exemplo
fachada frontal, quarto ou sala de estar etc. e o nome do município). Deverão ser mostradas fotos de todas as fachadas, telhado e detalhes.
ƒ Laudo de avaliação sobre o estado de conservação;
ƒ Diretrizes de intervenção para o bem tombado;
30%
ƒ A critério do município, poderão ser anexados outros documentos, tais como medidas complementares, depoimentos de moradores etc.
ƒ Ficha técnica indicando os responsáveis técnicos e a data de elaboração do dossiê de tombamento, devidamente assinada por todos os técnicos citados.
2. Parecer sobre o tombamento elaborado por profissional que tenha adquirido habilidades para tanto, devendo destacar a(s) exemplaridade(s) do bem cultural.
3. Parecer sobre o tombamento elaborado por conselheiro integrante do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural;
4. Notificação ao proprietário do bem ou ao seu representante legal informando o tombamento e documento que comprove o seu recebimento . A notificação deverá ser feita ainda que o
bem seja de propriedade pública.
5. Cópia da ata da reunião do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural aprovando o tombamento. O trecho da ata que tratar da aprovação do tombamento deverá ser destacado com
caneta marca-texto colorida;
6. Cópia do decreto ou documento similar do executivo tombando o bem cultural;
7. Cópia da inscrição do bem cultural no Livro de Tombo Municipal;
8. Cópia da publicação do ato de tombamento.

Observação: Atentar para os prazos de tramitação. A cronologia dos trâmites 2 a 8 acima deve seguir o rito legal do tombamento, sob pena de não ser considerado para efeito de pontuação
2 - LAUDO TÉCNICO DE

Os laudos técnicos referentes aos bens tombados devem ser elaborados, segundo o roteiro divulgado pelo IEPHA/MG, no período de ação e preservação, por responsáveis
DO BEM CULTURAL

técnicos conforme habilitação para as seguintes categorias de bem tombado, recomendando-se a experiência mínima de 8 anos na área profissional:
TOMBADO PELO
CONSERVAÇÃO

MUNICÍPIO.

ƒ Estruturas arquitetônicas e urbanísticas – arquiteto urbanista ou engenheiro civil.


ESTADO DE

ƒ Sítios naturais - biólogo, geólogo, engenheiro agrônomo, engenheiro florestal, engenheiro agrimensor ou arquiteto.
ƒ Sítios arqueológicos – arqueólogo.
ƒ Sítios espeleológicos – espeleólogo, engenheiro de minas ou geólogo.

Todos os laudos deverão ser apresentados conforme modelo divulgado pelo IEPHA/MG, destacando-se a recomendação sobre o número e a qualidade das fotos.
285

QUADRO III PARA NÚCLEOS HISTÓRICOS, CONJUNTOS URBANOS E/OU PAISAGÍSTICOS


DOSSIÊS DE TOMBAMENTOS E LAUDOS DE ESTADO DE CONSERVAÇÃO

Porcentagem em
DOCU- relação às notas
CARACTERÍSTICAS EXIGIDAS PARA EFEITO DE PONTUAÇÃO referentes aos
MENTO atributos siglas
NH, CP, BI e BM
Integram o processo de tombamento de cada bem cultural:
1. Dossiê de tombamento de conjuntos urbanos e paisagísticos, contendo, no mínimo, cópia dos seguintes documentos:
ƒ Introdução (deverá conter apresentação e justificativa das etapas metodológicas a serem seguidas e identificação do bem em questão);
ƒ Histórico do município (contendo a evolução histórica do município/distrito onde está situado o bem a ser tombado: a evolução política, econômica, sociocultural,
religiosa e urbana desde os primórdios até os dias atuais);
ƒ Histórico do conjunto urbano e/ou paisagístico em foco, relacionando-o ao município, identificando e analisando sua importância dentro da evolução local;
ƒ Fontes de pesquisa para elaboração dos históricos do município e do bem cultural em questão;
1 – PROCESSO DE TOMBAMENTO PARA CADA

ƒ Descrição detalhada (arquitetônica, urbanística, antropológica, arqueológica, etnográfica e/ou outras ) e análise do bem cultural focalizando a) a forma urbana definida
pelo traçado e pelo parcelamento; b) as relações entre os diversos espaços urbanos, espaços construídos, espaços abertos e espaços verdes; c) a forma e o aspecto das
edificações (interior e exterior), tais como são definidos por sua estrutura, volume, estilo, escala, materiais, cor e decoração; d) as relações da cidade com seu entorno
natural ou criado pelo homem; e) as diversas vocações da cidade adquiridas ao longo de sua história;
BEM CULTURAL TOMBADO

ƒ Delimitação e descrição do perímetro de tombamento, indicada através de desenho técnico e descrição topográfica;
ƒ Justificativa da definição do perímetro de tombamento;
ƒ Delimitação do perímetro de entorno do tombamento, indicada através de desenho técnico e descrição topográfica;
ƒ Justificativa da definição do perímetro de entorno;
ƒ Ficha de inventário do núcleo histórico ou conjunto urbano e/ou paisagístico;
ƒ Documentação cartográfica;
ƒ Documentação fotográfica colorida, mínimo de 40 fotos, datadas e legendadas (legenda contendo designação dos elementos compositivos do núcleo histórico ou conjunto
30%
urbano e/ou paisagístico e o nome do município);
ƒ Laudo de avaliação sobre o estado de conservação;
ƒ Diretrizes de intervenção para o núcleo histórico, conjunto urbano e/ou paisagístico tombado;
ƒ A critério do município, poderão ser anexados outros documentos, tais como medidas complementares, depoimentos de moradores etc.;
ƒ Ficha técnica indicando os responsáveis técnicos e a data de elaboração do dossiê de tombamento, devidamente assinada por todos os técnicos citados;
2. Parecer sobre o tombamento elaborado por profissional que tenha adquirido habilidades para tanto, devendo destacar a(s) exemplaridade(s) do bem cultural;
3. Parecer sobre o tombamento elaborado por conselheiro integrante do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural;
4. Notificação aos proprietários dos imóveis localizados dentro do perímetro de tombamento e comunicação ao proprietários localizados no entorno ou a seu representante legal,
informando-lhes o tombamento e documento que comprove seu recebimento. A notificação deverá ser feita mesmo quando se tratar de propriedade pública;
5. Cópia da ata da reunião do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural aprovando o tombamento. O trecho da ata que tratar da aprovação do tombamento deverá ser destacado
com caneta marca-texto colorida;
6. Cópia do decreto ou documento similar do executivo tombando o bem cultural;
7. Cópia da inscrição do bem cultural no Livro de Tombo Municipal;
8. Cópia da publicação do ato do tombamento.

Observação: atentar para os prazos de tramitação. A cronologia dos trâmites 2 a 8 acima deve seguir o rito legal do tombamento, sob pena de não ser considerado para efeito de
pontuação.
Os laudos técnicos referentes aos bens tombados devem ser elaborados , segundo roteiro divulgado pelo IEPHA/MG, no período de ação e preservação, por responsáveis
TOMBADO PELO

técnicos conforme habilitação para as seguintes categorias de bem tombado, recomendando-se a experiência mínima de 8 anos na área profissional:
ÇÃO DO BEM
TÉCNICO DE

MUNICÍPIO.
ESTADO DE
CONSERVA

CULTURAL

ƒ Estruturas arquitetônicas e urbanísticas – arquiteto urbanista ou engenheiro civil.


2 - LAUDO

ƒ Sítios naturais - biólogo, geólogo, engenheiro agrônomo, engenheiro florestal, engenheiro agrimensor ou arquiteto.
ƒ Sítios arqueológicos – arqueólogo.
ƒ Sítios espeleológicos – espeleólogo, engenheiro de minas ou geólogo
Todos os laudos deverão ser apresentados conforme modelo divulgado pelo IEPHA/MG, destacando-se a recomendação sobre número e qualidade de fotos.
286

QUADRO III PARA BENS MÓVEIS


DOSSIÊS DE TOMBAMENTOS E LAUDOS DE ESTADO DE CONSERVAÇÃO

Porcentagem em
DOCU- relação às notas
CARACTERÍSTICAS EXIGIDAS PARA EFEITO DE PONTUAÇÃO referentes aos
MENTO atributos siglas
NH, CP, BI e BM
Integram o processo de tombamento de cada bem cultural:
1. Dossiê de tombamento de bens materiais móveis, contendo, no mínimo, cópia dos seguintes documentos:
ƒ Introdução (deverá conter apresentação e justificativa das etapas metodológicas a serem seguidas e a identificação do bem em questão);
ƒ Histórico do município (contendo a evolução histórica do município/distrito onde está situado o bem a ser tombado: a evolução política, econômica, sociocultural,
religiosa e urbana desde os primórdios até os dias atuais);
1 – PROCESSO DE TOMBAMENTO PARA CADA

ƒ Histórico do bem cultural, relacionando-o ao município e ao ambiente no qual se insere, identificando autoria, propriedade, subordinação (se é público ou privado), acesso
etc. e analisando sua importância dentro da evolução local, informando, ainda, sobre o histórico do local onde o bem se encontra. Em caso de imaginária deverá ser
abordada a história do santo e de sua devoção.
ƒ Fontes de pesquisa para elaboração dos históricos do município e do bem cultural em questão;
BEM CULTURAL TOMBADO

ƒ Descrição detalhada (morfológica e/ou antropológica, arqueológica, etnográfica e/ou outras) e análise do bem cultural;
ƒ Ficha de inventário do bem cultural;
ƒ Bibliografia;
ƒ Documentação fotográfica colorida, datada e legendada, em número suficiente para ilustrar claramente as informações que integram o dossiê (mínimo de 10 fotos com
legenda, contendo a designação do bem, detalhe que esteja sendo mostrado e o nome do município). Deverão ser apresentadas, também, fotos do ambiente em que se
encontra o bem móvel – sala, oratório, retábulo etc.;
ƒ Laudo de avaliação sobre o estado de conservação do bem; 30%
ƒ Diretrizes de intervenção sobre o bem tombado;
ƒ A critério do município, poderão ser anexados outros documentos, tais como medidas complementares, depoimentos de moradores etc.
ƒ Ficha técnica indicando os responsáveis técnicos e a data de elaboração do dossiê de tombamento, devidamente assinada por todos os técnicos citados.
2. Parecer sobre o tombamento elaborado por profissional que tenha adquirido habilidades para tanto, devendo destacar a(s) exemplaridade(s) do bem cultural.
3. Parecer sobre o tombamento elaborado por conselheiro integrante do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural;
4. Notificação ao proprietário do bem em processo de tombamento ou ao seu representante legal, informando o tombamento e documento que comprove o seu recebimento da
notificação. A notificação deverá ser feita ainda que o bem seja de propriedade pública;
5. Cópia da ata da reunião do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural aprovando o tombamento. O trecho da ata que tratar da aprovação do tombamento deverá ser destacado
com caneta marca-texto colorida;
6. Cópia do decreto ou documento similar do executivo tombando o bem cultural;
7. Cópia da inscrição do bem cultural no Livro de Tombo Municipal;
8. Cópia da publicação do ato do tombamento.

Observação: Atentar para os prazos de tramitação. A cronologia dos trâmites 2 a 8 acima deve seguir o rito legal do tombamento, sob pena de não ser considerado para efeito de
pontuação.
Os laudos técnicos referentes aos bens tombados devem ser elaborados, segundo roteiro divulgado pelo IEPHA/MG, no período de ação e preservação, por responsáveis
técnicos conforme habilitação para as seguintes categorias de bem tombado, recomendando-se a experiência mínima de 8 anos na área profissional:
ÇÃO DO BEM
TÉCNICO DE
ESTADO DE
CONSERVA

CULTURAL
TOMBADO
2 - LAUDO

ƒ Bens móveis ou integrados – conservador/restaurador.

Todos os laudos deverão ser apresentados conforme modelo divulgado pelo IEPHA/MG, destacando-se a recomendação sobre o número e a qualidade das fotos.
287

QUADRO III PARA ARQUIVOS


DOSSIÊS DE TOMBAMENTOS E LAUDOS DE ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Porcentagem em
DOCU- relação às notas
CARACTERÍSTICAS EXIGIDAS PARA EFEITO DE PONTUAÇÃO referentes aos
MENTO atributos siglas
NH, CP, BI e BM
Integram o processo de tombamento de cada bem cultural:
1. Dossiê de tombamento de arquivos, contendo, no mínimo, cópia dos seguintes documentos:
ƒ Introdução (deverá conter apresentação e justificativa das etapas metodológicas a serem seguidas e identificação do bem em questão);
ƒ Histórico do município (contendo a evolução histórica do município/distrito onde está situado o bem a ser tombado: a evolução política, econômica, sociocultural,
religiosa e urbana desde os primórdios até os dias atuais);
1 – PROCESSO DE TOMBAMENTO PARA CADA

ƒ Histórico do bem cultural, relacionando-o ao município, identificando e analisando sua importância dentro da evolução local e enfocando ainda a criação do
Arquivo, propriedade, subordinação, formação do acervo, se é público ou privado, acesso etc.;
ƒ Fontes de pesquisa para elaboração dos históricos do município e do bem cultural em questão;
ƒ Descrição (tipo e conteúdo do acervo, datas-limite, mensuração ou quantificação da documentação, organização e/ou formas de armazenamento, estado de
conservação da documentação, instrumentos de busca – índices, inventários, catálogos, listagens - tipo de cópia fornecida);
BEM CULTURAL TOMBADO

ƒ Ficha de inventário do bem cultural;


ƒ Bibliografia;
ƒ Documentação fotográfica colorida, datada e legendada, em número suficiente para ilustrar claramente as informações que integram o dossiê, com o mínimo de 10
fotos (fotografias da documentação, do ambiente físico – sala, estantes, móveis em geral etc.), com legenda contendo designação do bem, detalhe que esteja sendo
mostrado, o nome do município e a data da foto;
ƒ Laudo de avaliação sobre o estado de conservação da documentação e do ambiente onde se encontra o arquivo;
ƒ Diretrizes de preservação para o bem tombado;
ƒ A critério do município, poderão ser elaborados outros documentos, tais como medidas complementares, depoimentos de moradores etc.;
ƒ Parecer sobre o tombamento elaborado por técnico da área destacando a exemplaridade do bem em processo de tombamento;
ƒ Ficha técnica indicando a data e os responsáveis pela elaboração do dossiê de tombamento devidamente assinada por todos os técnicos citados; 30%
2. Parecer sobre o tombamento elaborado por profissional que tenha adquirido habilidades para tanto, devendo destacar a(s) exemplaridade(s) do bem cultural.
3. Parecer sobre o tombamento elaborado por conselheiro integrante do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural;
4. Notificação ao proprietário do bem em processo de tombamento ou ao seu representante legal informando o tombamento e documento que comprove o seu
recebimento. A notificação deverá ser feita mesmo quando o bem for de propriedade pública;.
5. Cópia da ata da reunião do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural aprovando o tombamento. O trecho da ata que tratar da aprovação do tombamento deverá ser
destacado com caneta marca-texto colorida;
6. Cópia do decreto ou documento similar do executivo tombando o bem cultural;
7. Cópia da inscrição do bem cultural no Livro de Tombo Municipal;
8. Cópia da publicação do ato do tombamento.

Observação: Atentar para os prazos de tramitação. A cronologia dos trâmites 2 a 8 acima deve seguir o rito legal do tombamento, sob pena de não ser considerado para
efeito de pontuação.
Os laudos técnicos referentes aos bens tombados devem ser elaborados segundo roteiro divulgado pelo IEPHA/MG, no período de ação e preservação, por
ÇÃO DO BEM

responsáveis técnicos conforme habilitação para as seguintes categorias de bem tombado, recomendando-se a experiência mínima de 8 anos na área profissional:
TÉCNICO DE
ESTADO DE

MUNICÍPIO
CONSERVA

CULTURAL
TOMBADO
2 - LAUDO

PELO

ƒ Acervo documental – historiador, bibliotecário, arquivista ou restaurador.

Todos os laudos deverão ser apresentados conforme modelo divulgado pelo IEPHA/MG, destacando-se a recomendação sobre o número e a qualidade
das fotos.
288
QUADRO IV
AÇÕES DE PROTEÇÃO E INVESTIMENTOS
ATUAÇÃO NA PRESERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS

Porcentagem em
relação às notas
CARACTERÍSTICAS EXIGIDAS PARA EFEITO DE referentes aos atributos
DOCUMENTO PONTUAÇÃO de sigla
NH, CP, BI e BM

1 - ATUAÇÃO DO Apresentação de relatório de atividades do Setor de Patrimônio Cultural da


SETOR DE Prefeitura ou órgão afim, pertencente à estrutura da Prefeitura, elaborado
PATRIMÔNIO conforme Anexo II, indicando sua atuação na proteção do acervo cultural do 30 %
CULTURAL DA município, na execução de ações de educação patrimonial (artigo 9º e parágrafos
PREFEITURA OU desta Deliberação). A cópia da folha de pagamento do mês de dezembro do
ÓRGÃO AFIM período de ação e preservação de cada integrante do Setor de Patrimônio Cultural
da Prefeitura ou órgão afim deverá ser juntada e enviada junto ao Anexo II.

Comprovar investimentos em bens móveis ou imóveis tombados ou


inventariados, por meio de relatórios de investimentos conforme Anexo III, com
apresentação de: 1) declaração do Prefeito ou responsável pela área contábil
responsabilizando-se pela informação; 2) documentação que comprove a
realização do investimento (fotos, notícias de mídia impressa, folder´s e/ou 30 %
2 – RELATÓRIO DE vídeos). 3) Para apenas um dos investimentos indicado, encaminhar cópia do
empenho e a respectiva nota fiscal comprovando o gasto pela municipalidade.
INVESTIMENTOS
Cuidar para que o gasto comprovado esteja de acordo com o tipo de
DOS RECURSOS investimento, sob risco de perda do percentual referente ao atributo.
RECEBIDOS, NO
PERÍODO DE
AÇÃO E Comprovar investimentos em atividades culturais, por meio de relatórios de
PRESERVAÇÃO, investimentos conforme Anexo III, com apresentação de 1) declaração do
EM BENS OU Prefeito ou responsável pela área contábil responsabilizando-se pela informação;
ATIVIDADES 2) documentação que comprove a realização do investimento (fotos, notícias de
mídia impressa, folder´s ou vídeos); 3) Para apenas um dos investimentos
CULTURAIS
indicado, encaminhar cópia do empenho e a respectiva nota fiscal comprovando o
gasto pela municipalidade. Cuidar para que o gasto comprovado esteja de acordo 10 %
com o tipo de investimento, sob risco de perda do percentual referente ao
atributo.

Nota: Para efeito deste quadro, são entendidos como bens móveis ou imóveis,
bens culturais materiais tombados e/ou inventariados e, como atividades
culturais, atividades relacionadas às artes visuais, artes plásticas, educação
patrimonial, artes gráficas, artes musicais, literatura, dança, exposições, festivais,
festas folclóricas ou tradicionais, museus, arquivos, bibliotecas ou similares.
289
ANEXO I
NORMAS DE APRESENTAÇÃO

Toda a documentação a ser enviada ao IEPHA/MG deverá seguir as seguintes orientações, para
efeito de apresentação:

1. A documentação a ser entregue deverá ser encaminhada por ofício assinado pelo prefeito ou
autoridade municipal, contendo folha de rosto conforme modelo do IEPHA/MG em anexo.
2. Os documentos técnicos deverão ser datados e assinados pelo responsável técnico. As informações
que se referirem a dados oficiais e administrativos do município deverão ter assinatura do prefeito
ou autoridade municipal e deverão estar em papel timbrado da prefeitura.
3. A documentação deverá conter cópia impressa de todos os arquivos. Quando a documentação tiver
sido produzida em meio eletrônico, encaminhar também o(s) disquete(s) ou cd-rom.
4. Os documentos escritos deverão ser apresentados em papel formato A4, letter ou ofício.
5. Os documentos gráficos - planta ou desenho - deverão ser apresentados em papel formato A0, A1,
A2 ou A3 dobrado ou, ainda, A4, quando se tratar de planta escaneada. Neste último caso, deverá
ser indicada a escala gráfica. Não serão aceitas plantas em papel vegetal. Toda planta deverá conter
legenda e escala.
6. Todo documento que tiver informação em sua frente e verso, deverá ter ambos os lados copiados.
7. Todas as fotos que integrarem a documentação poderão ser apresentadas em cópias do original ou
escaneadas, deverão ser em cores e conter legenda com a data em que a foto foi feita, nome do
município, do bem e detalhe que esteja sendo mostrado como, por exemplo, fachada frontal, quarto,
sala de estar, face de quadra etc.
8. O conjunto de documentos de cada bem cultural deverá ser apresentado em uma única pasta –
parte técnica e de tramitação legal – que integra o dossiê de tombamento.
9. A documentação referente a cada quadro deverá formar um único conjunto (somatório de pastas).
Dependendo do volume que um quadro representar, poderá ser dividido em mais de uma pasta que
deverão estar numeradas. A critério do município, as pastas poderão ser encadernadas ou ter capa
preta plastificada, contendo plásticos internos. A documentação referente a um quadro deverá
integrar sempre um mesmo conjunto.

10. Serão estes os conjuntos:

♦ Conjunto I para o Quadro I, itens 1 a 3

♦ Conjunto II para o Quadro II (Quadro I – item 4),

♦ Conjunto III para o Quadro III e

♦ Conjunto IV para o Quadro IV

11. A documentação referente a cada pasta deverá ser numerada seqüencialmente. A numeração deverá
ser colocada no canto superior direito de cada página e deverá conter o número da página e o total
de páginas que integra a pasta. A numeração poderá ser escrita à mão.
12. Toda informação que se destinar a comprovar afirmações, principalmente aquela constante de ata
de reunião do Conselho, deverá estar destacada na cópia com caneta marca-texto.
290
ANEXO II
RELATÓRIO DE ATIVIDADES DA SETOR DE
PATRIMÔNIO CULTURAL DA PREFEITURA1

--------------------------------------------------------------
NOME DO SETOR OU ÓRGÃO AFIM

Período:2
EXERCÍCIO: 3

FUNCIONÁRIO RESPONSÁVEL 4 :
FUNCIONÁRIOS INTEGRANTES DA EQUIPE MUNICIPAL 5:
FUNÇÃO DENTRO DA EQUIPE /
NOME DO FUNCIONÁRIO
FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A – PROMOÇÕES ( exposições, concursos, premiações, palestras )


DATA
FUNCIONÁRIO(S) RESPONSÁVEL
EVENTOS (INÍCIO E
ENVOLVIDO(S)
PELO EVENTO TÉRMINO)

B – PROJETOS DE PESQUISAS ( inclusive inventário )


PUBLICAÇÕES /
FUNCIONÁRIO(S) RESPONSÁVEL PELO DATA
MONTAGEM DE
ENVOLVIDO(S) PROJETO
DOSSIÊS / (INÍCIO E
INVENTÁRIOS TÉRMINO)

1
Relatório para a comprovação de atuação do Setor Municipal de Patrimônio Cultural ou órgão afim. O município deverá apresentar, em
anexo, cópia de folder`s, convites, certificados e diplomas dos técnicos, quando for o caso. Cada quadro deste relatório poderá ter o
número de linhas necessárias para a devida relação de atividades.
2
Período de ação e preservação.
3
Ano de exercício.
4
Indicar o responsável pela chefia do setor ou órgão conforme indicado no Quadro I.
5
Usar tantas linhas quanto necessárias, não devendo estar citados técnicos que não pertençam aos quadros da prefeitura.
291
C – VISTORIAS /LAUDOS TÉCNICOS EM BENS CULTURAIS

DATA DA
FUNCIONÁRIO(S) RESULTADO DA
BEM CULTURAL6 ÚLTIMA
ENVOLVIDO(S) ÚLTIMA VISTORIA 7
VISTORIA

D – PROJETOS DE RESTAURAÇÃO DE BENS CULTURAIS

DATA
PROJETO BEM CULTURAL RESPONSÁVEL / FUNCIONÁRIO(S)
AUTORIA ENVOLVIDO(S) (INÍCIO E
TÉRMINO)

E– EDUCAÇÃO PATRIMONIAL (artigo 8º - parágrafo 3º desta Deliberação Normativa)

ESCOLAS E DATA
FUNCIONÁRIO(S)
COMUNIDADES ATIVIDADE (INÍCIO E
ENVOLVIDO(S)
ENVOLVIDAS TÉRMINO)

F– CURSOS DE ATUALIZAÇÃO

ESCOLAS OU DATA
FUNCIONÁRIO(S)
INSTITUIÇÕES TEMA DO CURSO
APRENDIZ(ES) (INÍCIO E
RESPONSÁVEIS
TÉRMINO)
292
G – FORMAÇÃO TÉCNICA

DATA
FUNCIONÁRIO(S) RESPONSÁVEL /
CURSO /SEMINÁRIO (INÍCIO E
ENVOLVIDO(S) AUTORIA
TÉRMINO)

H – PROJETOS CULTURAIS DIVERSOS


FUNCIONÁRIO(S) DATA (INÍCIO /
PROJETO TEMA DO PROJETO
ENVOLVIDO(S) TÉRMINO )

PREFEITO MUNICIPAL DE ........................

DATA E LOCAL:
293
ANEXO III
RELATÓRIO DE INVESTIMENTOS FINANCEIROS
EM BENS E ATIVIDADES CULTURAIS8

PREFEITURA MUNICIPAL DE [...]


Período:9
Exercício:10

I - INVESTIMENTOS EM ATIVIDADES CULTURAIS11

A – EXPOSIÇÕES

RESPONSÁVEL OU DATA DA INVESTIMENTO


NOME DA EXPOSIÇÃO
CURADOR EXPOSIÇÃO R$

TOTAL DOS
R$
INVESTIMENTOS

B – FESTIVAIS

RESPONSÁVEL / DATA DO INVESTIMENTO


NOME DO FESTIVAL CURADOR FESTIVAL R$

TOTAL DOS
R$
INVESTIMENTOS

C – MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

NOME DA MANIFESTAÇÃO RESPONSÁVEL / DATA DA INVESTIMENTO


CULTURAL CURADOR MANIFESTAÇÃO R$
CULTURAL

TOTAL DOS
R$
INVESTIMENTOS

8
O município deverá apresentar, em anexo, no mínimo, cópia de notas, recibos e outros comprovantes referentes a uma das atividades
relacionadas como atividade cultural e a uma das atividades relacionadas como bem cultural, conforme indicado no Quadro IV desta
Deliberação Normativa.
9
Período de ação e preservação.
10
Ano de exercício.
11
Cada campo deverá ter o número de linhas necessárias para o completo relatório dos investimentos.
294
D – PUBLICAÇÕES

NOME / TIPO DE RESPONSÁVEL / DATA DO INVESTIMENTO


PUBLICAÇÃO AUTORIA LANÇAMENTO R$

TOTAL DOS
R$
INVESTIMENTOS

E – EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

ESCOLAS
RESPONSÁVEL / DATA INVESTIMENTO
TIPO DE ATIVIDADE E /OU
AUTORIA
COMUNIDADES R$
ENVOLVIDAS

TOTAL DOS
R$
INVESTIMENTOS

F – REALIZAÇÃO DE TRABALHOS TÉCNICOS

DOSSIÊS / INVENTÁRIOS
/ LAUDOS TÉCNICOS / INVESTIMENTO
PROJETOS DE TÉCNICO(S) ATIVIDADE DATA
RESTAURAÇÃO OU RESPONSÁVEL(EIS)
REABILITAÇÃO / R$
PARECERES / OUTROS

TOTAL DOS
R$
INVESTIMENTOS

G – FORMAÇÃO TÉCNICA

PERÍODO
TÉCNICO PROFESSOR DO INVESTIMENTO
CURSOS / SEMINÁRIOS DO CURSO /
APRENDIZ CURSO
SEMINÁRIO R$

TOTAL DOS
R$
INVESTIMENTOS
295
H – GASTOS COM FOLHA DE PAGAMENTO DA EQUIPE TÉCNICA

INVESTIMENTO
SERVIDOR MUNICIPAL FUNÇÃO SALÁRIO
R$

TOTAL DOS
R$
INVESTIMENTOS

I – MANUTENÇÃO DE ESPAÇOS CULTURAIS12

TÉCNICOS INVESTIMENTO
ESPAÇO ATIVIDADE DATA
ENVOLVIDOS R$

TOTAL DOS
R$
INVESTIMENTOS

TOTAL DOS INVESTIMENTOS EM


ATIVIDADES CULTURAIS (EM R$) :

2 – INVESTIMENTOS EM BENS CULTURAIS13

A – BENS CULTURAIS TOMBADOS

NOME DO BEM RESPONSÁVEL / INVESTIMENTO


ATIVIDADE DATA
CULTURAL AUTORIA
R$

TOTAL DOS
R$
INVESTIMENTOS

12
Por manutenção de espaços culturais entendem-se obras de conservação do prédio e/ou despesas com custeio de espaços culturais.
13
Bem cultural refere-se àquele tombado e/ou inventariado em qualquer nível de poder, podendo tratar-se de bens móveis, imóveis,
conjuntos paisagísticos ou núcleos históricos. Os investimentos aqui apontados devem se referir a obras que garantam a preservação da
materialidade do bem cultural. Cada campo deverá ter o número de linhas necessário para o completo relatório dos investimentos.
296
B – BENS CULTURAIS INVENTARIADOS

NOME DO BEM ATIVIDADE RESPONSÁVEL / DATA INVESTIMENTO


CULTURAL AUTORIA
R$

TOTAL DOS
R$
INVESTIMENTOS

TOTAL DOS INVESTIMENTOS EM BENS


CULTURAIS (EM R$) :

3 – TOTAL DOS INVESTIMENTOS

INVESTIMENTOS TOTAL EM R$
INVESTIMENTOS EM
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS :

INVESTIMENTO EM BENS
CULTURAIS :

TOTAL GERAL :

RESPONSÁVEL: ____________________________________________
NOME E ASSINATURA DO PREFEITO

PREFEITO MUNICIPAL DE [...]

DATA E LOCAL.
297
ANEXO IV – MODELOS DE LAUDO TÉCNICO DE ESTADO DE CONSERVAÇÃO

BENS IMÓVEIS TOMBADOS PEL0 MUNICÍPIO14

RESPONSÁVEL TÉCNICO: 15
CREA:16
BEM TOMBADO EM 17: DOSSIÊ ENVIADO AO IEPHA EM:18
ENDEREÇO:
DATA19:
HÁ OBRA DE RESTAURAÇÃO EM ANDAMENTO? SIM NÃO
HÁ PROJETO APROVADO POR LEI DE INCENTIVO À CULTURA? SIM NÃO
EM CASO POSITIVO: LEI FEDERAL LEI ESTADUAL OUTRA

ESTADO DE CONSERVAÇÃO20
ESTRUTURA RUIM, NECESSITANDO
BOM REGULAR
INTERVENÇÃO
ESTRUTURA AUTÔNOMA DE
MADEIRA
PILARES DE CONCRETO
ESTRUTURA METÁLICA
OUTROS
DANOS VERIFICADOS21

ESTADO DE CONSERVAÇÃO22
COBERTURA RUIM, NECESSITANDO
BOM REGULAR
INTERVENÇÃO
ESTRUTURA DO TELHADO
(MADEIRA, LAJE, PERFIL METÁLICO)
TELHADO (CAPA E BICA, TELHA
FRANCESA, FIBROCIMENTO, ARDÓSIA,
METÁLICO)
CALHAS / RUFOS / CONDUTORES
COROAMENTO (PLATIBANDA,
FRONTÃO, CIMALHA)
OUTROS
DANOS VERIFICADOS23

14
Em cada campo, indicar o percentual do bem cultural objeto da avaliação que esteja em estado de conservação bom, regular ou ruim,
demandando intervenção. A soma dos percentuais deverá ser de 100%.
15
Nome e assinatura do profissional autor do laudo.
16
Indicar o registro no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - CREA.
17
Informar a data em que o bem cultural foi tombado.
18
Informar o ano em que o município enviou o dossiê ao IEPHA
19
A data de elaboração do laudo não poderá ser anterior a dois meses antes do prazo de entrega do mesmo ao IEPHA/MG.
20
Anotar a percentagem.
21
Descrever a deterioração (apodrecimento dos pés de esteio, ferragem, vandalismo, ataque de cupins etc. ).
22
Anotar a percentagem.
23
Descrever a deterioração (infiltração de águas pluviais, ataque de cupins, oxidação, telhas quebradas ou soltas, fixação, entupimento,
inexistência ou falhas na soldagem de calhas etc.).
298

ESTADO DE CONSERVAÇÃO24
ALVENARIAS RUIM, NECESSITANDO
BOM REGULAR
INTERVENÇÃO
TIJOLO
ADOBE
TAIPA DE PILÃO
PAU-A-PIQUE
PEDRA
OUTROS (CONCRETO, MADEIRA)
ELEMENTOS ARTÍSTICOS APLICADOS
DANOS VERIFICADOS25

ESTADO DE CONSERVAÇÃO26
REVESTIMENTO RUIM, NECESSITANDO
BOM REGULAR
INTERVENÇÃO
REBOCO
CAIAÇÃO
PINTURA (A ÓLEO, À BASE DE ÁGUA)
CERÂMICA
PEDRA (MÁRMORE, GRANITO ETC.)
OUTROS
ELEMENTOS ARTÍSTICOS APLICADOS
DANOS VERIFICADOS27

ESTADO DE CONSERVAÇÃO28
VÃOS E VEDAÇÕES RUIM, NECESSITANDO
BOM REGULAR
INTERVENÇÃO
PORTAS
JANELAS
ENQUADRAMENTOS (MADEIRA,
MASSA, PEDRA)
FERRAGENS
OUTROS
ELEMENTOS ARTÍSTICOS APLICADOS
DANOS VERIFICADOS29

24
Anotar a percentagem.
25
Descrever a deterioração (infiltração por capilaridade ou águas pluviais, trincas, fissuras etc. ).
26
Anotar a percentagem.
27
Descrever a deterioração (reboco solto, descolamento da pintura, pintura gasta, vandalismo, infiltração, desprendimento de cerâmica ou
pedra etc. ).
28
Anotar a percentagem.
29
Descrever a deterioração ( trincas no enquadramento, apodrecimento das esquadrias de madeira, ataque de cupins, desarticulação das
peças, vidros quebrados, partes faltando, ferrugem etc. ).
299

ESTADO DE CONSERVAÇÃO30
PISOS RUIM, NECESSITANDO
BOM REGULAR
INTERVENÇÃO
PEDRA (LAJEADO, OUTRO)
CIMENTADO
MADEIRA
CERÂMICA
OUTROS
ELEMENTOS ARTÍSTICOS APLICADOS

DANOS VERIFICADOS31

ESTADO DE CONSERVAÇÃO32
FORROS RUIM, NECESSITANDO
BOM REGULAR
INTERVENÇÃO
ESTEIRA
MADEIRA
GESSO
LAJE
OUTROS
ELEMENTOS ARTÍSTICOS APLICADOS
DANOS VERIFICADOS33

ESTADO DE CONSERVAÇÃO34
ELEMENTOS INTEGRADOS
RUIM, NECESSITANDO
EXTERNOS BOM REGULAR
INTERVENÇÃO
BALCÃO/SACADA
VARANDA/ALPENDRE/TERRAÇO
ESCADA
TORRE
CERCADURA / FECHAMENTO DO LOTE
/ GRADIL / MURO
PORTADA
AGENCIAMENTO EXTERNO (FONTE /
CHAFARIZ / JARDIM / QUINTAL)
OUTROS
ELEMENTOS ARTÍSTICOS APLICADOS
DANOS VERIFICADOS35

30
Anotar a percentagem
31
Descrever a deterioração (Para madeira: partes faltando, desnivelamento, desgaste, apodrecimento da madeira, ataque de cupins,
assentamento, barroteamento, uso inadequado, tratamento da madeira etc. Para ladrilho hidráulico, cerâmica e pedra: assentamento,
tratamento, uso inadequado, trincas, soleiras e rodapés etc. )
32
Anotar a percentagem
33
Descrever a deterioração (infiltrações, ataque de cupins, “desprendimento”, partes faltantes, trincas, estrutura, assentamento, rodateto,
cimalha, guarda-pó etc. )
34
Anotar a percentagem
35
Descrever a deterioração (falta e desarticulação das peças, incluir os acréscimos/analisar o agenciamento).
300

ESTADO DE CONSERVAÇÃO36
AGENCIAMENTO EXTERNO RUIM, NECESSITANDO
BOM REGULAR
INTERVENÇÃO
MURO
GRADIL
JARDIM
QUINTAL
FONTE/CHAFARIZ
OUTROS
DANOS VERIFICADOS37

ESTADO DE CONSERVAÇÃO38
INSTALAÇÕES RUIM, NECESSITANDO
BOM REGULAR
INTERVENÇÃO
INSTALAÇÃO ELÉTRICA
INSTALAÇÃO HIDRÁULICA
OUTROS
DANOS VERIFICADOS39

ESTADO DE CONSERVAÇÃO40
EXISTÊNCIA DE INSTALAÇÕES DE
SEGURANÇA RUIM, NECESSITANDO
BOM REGULAR
INTERVENÇÃO
INSTALAÇÃO DE PREVENÇÃO E
COMBATE A INCÊNDIO
SIM NÃO 41
SISTEMA DE SEGURANÇA 42
SIM NÃO

USOS
DESCREVER: Ocorrência das deteriorações verificadas nos imóveis em razão do uso(s) do seu espaço. Se
o imóvel estiver desocupado, informar há quanto tempo.

FOTOGRAFIAS43
Vista geral: no mínimo, 10 fotos legendadas e detalhes de cada problema.

CONCLUSÃO 44
ESTADO DE CONSERVAÇÃO45
BEM CULTURAL RUIM, NECESSITANDO
BOM REGULAR
INTERVENÇÃO

36
Anotar a percentagem
37
Descrever a deterioração (falta e desarticulação das peças, incluir os acréscimos/analisar o agenciamento).
38
Anotar a percentagem
39
Descrever a deterioração (fiação em mau estado, sobrecarga na rede, pára-raios, alarme, vazamentos, extintores vencidos, falta de
extintores etc.).
40
Anotar a percentagem
41
Informar se há sistema de prevenção contra incêndio
42
Informar se há sistema de segurança com alarme
43
Coloridas, no original ou escaneadas.
44
Apontar o percentual geral de estado de conservação do bem cultural objeto da avaliação.
45
Anotar a percentagem
301
MODELO DE LAUDO TÉCNICO SOBRE ESTADO DE CONSERVAÇÃO DE
BEM CULTURAL MÓVEL E/OU INTEGRADO TOMBADO PELO MUNICÍPIO

AVALIAÇÃO DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS MÓVEIS E INTEGRADOS


TOMBADOS PELO MUNICÍPIO

RESPONSÁVEL PELO LAUDO TÉCNICO: 46


IDENTIDADE:
ESPECIALIZAÇÃO EM:
NOME DO BEM TOMBADO47:
LOCALIZAÇÃO48:
DATA49:
DATA DO TOMBAMENTO -
HÁ RESTAURAÇÃO EM ANDAMENTO? SIM NÃO
HÁ PROJETO APROVADO POR LEI DE INCENTIVO À CULTURA? SIM NÃO
EM CASO POSITIVO: LEI FEDERAL LEI ESTADUAL OUTRO

SIM NÃO
ELEMENTOS ESTRUTURAIS
50% 100%
1. Ataque de insetos
2. Perdas
3. Furos (pregos, cravos etc.)
4. Apodrecimentos causados por umidade
5. Rachaduras, lascas, fissuras, frestas
SUPORTE
6. Sujidade superficiais e aderidas
7. Ataque de insetos
8. Perdas de partes (elementos em relevo)
9. Furos (pregos, cravos, cupim etc.)
10. Apodrecimentos causados por umidade
11. Rachaduras, lascas, fissuras, frestas
12. Queimaduras
13. Desprendimento de fragmentos
CAMADA PICTÓRICA
14. Sujidade
15. Descolamentos
16. Perdas
17. Craquelês
18. Manchas (causadas por umidade, ceras etc.)
19. Oxidações, escurecimentos
20. Abrasões
21. Repinturas
22. Verniz oxidado

46
Nome, assinatura e profissão.
47
Retábulos, forros, arco-cruzeiro, púlpitos, coro, esculturas policromadas, pinturas de cavalete.
48
Endereço onde se encontra o bem tombado.
49
A data de elaboração do laudo não poderá ser anterior a dois meses antes do prazo de entrega do mesmo ao IEPHA/MG.
302

ESTADO DE CONSERVAÇÃO50
EXISTÊNCIA DE INSTALAÇÕES DE
SEGURANÇA NO PRÉDIO RUIM, NECESSITANDO
BOM REGULAR
INTERVENÇÃO
Instalação de equipamento de prevenção
e combate a incêndio
sim não 51
Sistema de segurança 52
sim não

Elementos Estruturais – Em um retábulo, por exemplo, é a parte de trás, a estrutura. Deve-se detectar a
presença de insetos (cupim, brocas), pregos oxidados que ocasionam perdas e furos, perdas por golpes e frestas
nas junções das tábuas.

Suporte –. Em um forro, por exemplo, são as tábuas onde o trabalho foi realizado. Observar se há irregularidade
na superfície, sujidades, marcas, perdas, ataque de insetos, frestas nas junções da talha, pregos e cravos inúteis,
perdas nos elementos em relevo, rachaduras, pontos queimados por velas e desprendimento de fragmentos da
talha.

Camada Pictórica – Na pintura e no douramento, observar sujidades aderidas e acumuladas, repinturas e


abrasões, perdas, descolamentos, resina escurecida, manchas de umidade e escurecidas.

Camada de Proteção – O verniz, por exemplo, tem a função de proteger a camada pictórica. Observar
principalmente a oxidação em excesso, que causa aparência escurecida.

FOTOGRAFIAS53
Vista geral: no mínimo, 3 fotos legendadas e detalhes de cada problema.

CONCLUSÃO 54
ESTADO DE CONSERVAÇÃO55
BEM CULTURAL RUIM, NECESSITANDO
BOM REGULAR
INTERVENÇÃO

50
Anotar a percentagem
51
Informar se há sistema de prevenção contra incêndio no prédio que abriga o bem cultural
52
Informar se há sistema de segurança com alarme no prédio que abriga o bem cultural
53
Coloridas, no original ou escaneadas.
54
Apontar o percentual geral de estado de conservação do bem cultural objeto da avaliação.
55
Anotar a percentagem
303
MODELO DE LAUDO TÉCNICO SOBRE ESTADO DE CONSERVAÇÃO PARA
ARQUIVO(S) E/OU DOCUMENTO(S) TOMBADO(S) PELO MUNICÍPIO.
RESPONSÁVEL PELO LAUDO TÉCNICO: 56
IDENTIDADE:
ESPECIALIZAÇÃO EM:
NOME DO BEM TOMBADO:
LOCALIZAÇÃO57:
DATA58:
DATA DO TOMBAMENTO -
HÁ RESTAURAÇÃO EM ANDAMENTO? SIM NÃO
HÁ PROJETO APROVADO POR LEI DE INCENTIVO À CULTURA? SIM NÃO
EM CASO POSITIVO: LEI FEDERAL LEI ESTADUAL OUTRO

IDENTIFICAÇÃO DO ACERVO

Textual (manuscritos e impressos) Fotografias Mapas e plantas


Outros ___________________________________________________________________

ESTADO DE CONSERVAÇÃO
ÁREA DE GUARDA - ELEMENTOS ESTRUTURAIS 59
BOM RUIM
25% 50% 75% 100%
Piso
Paredes
Teto da sala
Instalação elétrica
Instalação hidráulica
Sistema de prevenção e combate a incêndio
Observação

ESTADO DE CONSERVAÇÃO
ARMAZENAMENTO / ACONDICIONAMENTO DO
ACERVO60 BOM
RUIM
25% 50% 75% 100%
Estantes de madeira
Estante de aço
Armário de madeira
Armário de aço
Arquivo de aço
Caixas
Pacotes
Observação

56
Nome, assinatura e profissão.
57
Endereço de onde se encontra o bem tombado.
58
A data de elaboração do laudo não poderá ser anterior a dois meses antes do prazo de entrega do mesmo ao IEPHA/MG.
59
A percentagem total deverá somar 100 %.
60
Idem nota 59.
304

ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO SUPORTE SIM


NÃO
DOCUMENTAL61 25% 50% 75% 100%
Manchas e sujidades
Fungos (manchas causadas por umidade)
Folhas rasgadas
Ataque de insetos (cupins, traças e outros)
Perdas de partes do documento
Capa solta / fragilizada
Elementos estranhos (clipes metálico, fitas adesivas, etc.)
Observação

OBSERVAÇÃO: O laudo deverá conter fotos da área de guarda e armazenamento (sala, estante, armários ou
arquivos) e dos documentos, mostrando todos os problemas detectados, recomendando-se uma foto por
problema. .

FOTOGRAFIAS62
Vista geral: no mínimo, 10 fotos legendadas e detalhes de cada problema.

CONCLUSÃO 63
ESTADO DE CONSERVAÇÃO64
BEM CULTURAL RUIM, NECESSITANDO
BOM REGULAR
INTERVENÇÃO

61
Idem nota 59.
62
Coloridas, no original ou escaneadas.
63
Apontar o percentual geral de estado de conservação do bem cultural objeto da avaliação.
64
Anotar a percentagem
305
ANEXO V – FOLHA DE ROSTO

DATA DE ENCAMINHAMENTO AO IEPHA/MG MUNICÍPIO


ENDEREÇO DA PREFEITURA
NOME DO PREFEITO
NOME DO SETOR DE PATRIMÔNIO
CULTURAL DA PREFEITURA
ENDEREÇO DO SETOR
TELEFONE DO SETOR
ENDEREÇO ELETRÔNICO DO
SETOR
NOME DO GERENTE
QUADRO I – Conjunto I (Contém páginas)
Lei de tombamento enviado ao Lei de criação do Conselho enviada
Legislação IEPHA/MG em ao IEPHA/MG em

Nome do Conselho: Telefone para contato:

Presidente do Conselho: Telefone para contato:


Conselho

Deliberativo Endereço do Conselho: Data da nomeação:


Data da posse do Conselho:
Consultivo Ano de criação: Regimento interno em vigor enviado
ao IEPHA/MG em
Nome do setor: Nome do Gerente: Formação do gerente:
Setor de Patrimônio Cultural da
Prefeitura Endereço do setor: Telefone do setor: E-mail do Setor:

Nome da Empresa: Nome do Consultor: Formação do Consultor:


Tem Consultor Contratado
Endereço do Consultor: Telefone do Consultor: E-mail do Consultor:
sim não
306

DATA DE ENCAMINHAMENTO AO IEPHA/MG MUNICÍPIO


ENDEREÇO DA PREFEITURA
NOME DO PREFEITO
NOME DO SETOR DE PATRIMÔNIO
CULTURAL DA PREFEITURA
ENDEREÇO DO SETOR
TELEFONE DO SETOR
ENDEREÇO ELETRÔNICO DO
SETOR
NOME DO GERENTE
QUADRO II – Conjunto II - PLANO DE INVENTÁRIO (Contém páginas)

É o primeiro ano em que apresenta? sim não Se não, em que ano foi sua primeira apresentação:

RELACIONAR NOME DOS BENS CUJO INVENTÁRIO ESTEJA SENDO ENVIADO


1. 2. 3. 4.

5. 6. 7. 8.

9. 10. 11. 12.

13. 14. 15. 16.

17. 18. 19. 20.

21. 22. 23. 24.

25. 26. 27. 28.

29. 30. 31. 32.

33. 34. 35. 36.

37. 38. 39. 40.


307

DATA DE ENCAMINHAMENTO AO IEPHA/MG MUNICÍPIO


ENDEREÇO DA PREFEITURA
NOME DO PREFEITO
NOME DO SETOR DE
PATRIMÔNIO CULTURAL DA
PREFEITURA
ENDEREÇO DO SETOR
TELEFONE DO SETOR
ENDEREÇO ELETRÔNICO DO
SETOR
NOME DO GERENTE
QUADRO III – Conjunto III (Contém páginas)
RELACIONAR NOME DOS BENS CUJO DOSSIÊ DE TOMBAMENTO ESTEJA SENDO ENVIADO
1) 6. 11. 16.
2) 7. 12. 17.

3) 8. 13. 18.
4) 9. 14. 19.
5) 10. 15. 20.

RELACIONAR NOME DOS BENS ESTADO DE CONSERVAÇÃO RELACIONAR NOME DOS BENS ESTADO DE CONSERVAÇÃO
CUJO LAUDO DE ESTADO DE CUJO LAUDO DE ESTADO DE
CONSERVAÇÃO ESTEJA SENDO BOM REGULAR RUIM CONSERVAÇÃO ESTEJA SENDO BOM REGULAR RUIM
ENVIADO ENVIADO
308

DATA DE ENCAMINHAMENTO AO IEPHA/MG MUNICÍPIO


ENDEREÇO DA PREFEITURA
NOME DO PREFEITO
NOME DO SETOR DE
PATRIMÔNIO CULTURAL DA
PREFEITURA
ENDEREÇO DO SETOR
TELEFONE DO SETOR
ENDEREÇO ELETRÔNICO DO
SETOR
NOME DO GERENTE
QUADRO IV – Conjunto IV (Contém páginas)
ENCAMINHOU QIII Valor recebido no exercício civil Valor do investimento em bens culturais: R$
SIM NÃO R$ Valor do investimento em atividades culturais: R$
NOME PROFISSÃO
1.
INTEGRANTES DO
2.
SETOR DA
PREFEITURA 3.

RESPONSÁVEL PELA 4.
GESTÃO DO POLÍTICA
CULTURAL LOCAL FEZ VISTORIA EM BENS CULTURAIS? ATIVIDADE DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
SIM NÃO REALIZOU NÃO REALIZOU QUAL?
BENS INVENTARIADOS VALOR APLICADO R$ BENS TOMBADOS VALOR APLICADO R$
1. 1.
2. 2.
INVESTIMENTOS EM 3. 3.
BENS CULTURAIS
4. 4.
5. 5.
6. 6.

INVESTIMENTOS EM ATIVIDADE VALOR APLICADO R$


ATIVIDADES
CULTURAIS
1.
2.
VALOR TOTAL
INVESTIDO R$ 3.
/mas

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