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César Henrique de Queiroz Porto

2ª edição atualizada por


César Henrique de Queiroz Porto

História Moderna i

2ª EDIÇÃO

Montes Claros/MG - Abril/2015


Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES

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César Henrique de Queiroz Porto Zilmar Santos Cardoso

Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes


Ficha Catalográfica:

ISBN - 978-85-7739-658-0

2015
Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.

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Chefe do departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes


Carlos Caixeta de Queiroz
Autor
César Henrique de Queiroz Porto
Graduado em História pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes.
Mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG.
Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo - USP.
Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Montes Claros -
Unimontes.
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
A Formação das Monarquias Modernas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.2 Teoria Geral do Absolutismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.3 Novas Abordagens do Absolutismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
As Monarquias Modernas na Europa Ocidental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2.2 Absolutismo na Espanha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2.3 Absolutismo na França . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.4 Absolutismo na Inglaterra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

2.5 Absolutismo em Portugal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
A Economia, Cultura e Religião na Época Moderna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

3.2 Mercantilismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

3.3 O Renascimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

3.4 O Humanismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

3.5 Reformas Religiosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

Referências Básicas e Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
História - História Moderna I

Apresentação
Caros Acadêmicos e Acadêmicas,

Daremos início a um novo conteúdo. Trata-se do período que ficou conhecido como Época
Moderna, em que se assistiu à formação das Monarquias Absolutistas. É claro que essas designa-
ções como “Época Moderna”, “Monarquia Absoluta”, são dadas a posteriori.
Assim como foi visto no conteúdo de História Medieval, a designação de “Idade das Trevas” e
mesmo de “Idade Média” foi feita pelos renascentistas que procuravam se afastar de tudo que se
referia àquele período dominado pela Igreja. A noção de uma “Idade Moderna” também foi cons-
truída para marcar a diferença do período anterior.
Os homens que viveram nos séculos XVI a XVIII consideravam que viviam na melhor época
possível e, com essa convicção, acreditavam que a época passada era algo retrogrado e ultrapas-
sado e que viviam, portanto, em uma Idade Moderna.
Contudo, essa é uma época em que se assiste a muitas rupturas, mas também muitas con-
tinuidades com os valores do mundo medieval. Trata-se de um período de muitas tensões políti-
cas e religiosas. Aliás, nesse período, política e religião estavam intrinsecamente unidas.
Transformações de ordem política, econômica, social, cultural e religiosa, podem ser assisti-
das com imenso vigor nesses séculos.
O Estado Moderno se centralizava e ao mesmo tempo partilhava o poder, criando institui-
ções, muitas delas ainda atuais. Esse Estado que se fortalecia também procurava ajustar sua eco-
nomia aos desígnios da política.
Foi nesse período que floresceu a cultura do renascimento como um importante canal para
expressão dos valores da burguesia. As reformas religiosas quebraram o monopólio da Igreja Ca-
tólica sobre a religião, surgindo a partir de então novas concepções religiosas.
Trata-se de uma época de grandes transformações em todas as esferas da vida social. De-
pois da Idade Moderna, o mundo ocidental nunca mais foi o mesmo.
O principal objetivo da disciplina consiste na análise dos processos de transformações polí-
ticas, sociais, econômicas e culturais nas modernas sociedades ocidentais. Outro objetivo impor-
tante é a identificação das relações que perpassam os vários processos históricos da modernida-
de e como eles se constituíam.
Vale à pena destacar que a disciplina de História Moderna compreende duas subdivisões, a
saber, História Moderna I e História Moderna II. Tal divisão facilita o entendimento da dinâmica
que levou ao advento e a consolidação do período moderno. Este Caderno aborda os primeiros
séculos do período em questão (séculos XVI e XVII), cujos marcos assinalaram os fundamentos da
História Moderna.
Para tanto, organizamos os conteúdos em três unidades. Na unidade I, discutiremos sobre
a teorização geral do Absolutismo. Já na unidade II, estudaremos como se deu a formação do
Estado absolutista nas principais monarquias da Europa ocidental, bem como o advento do pri-
meiro Estado europeu que limitou o poder real e instaurou um modelo de parlamentarismo com
participação política burguesa na condução dos negócios do governo. Por último, na unidade III,
analisaremos a economia mercantil, assim como a ascensão do Renascimento e da Reforma Lute-
rana no panorama do Ocidente europeu.

Bom trabalho!
O autor.

9
História - História Moderna I

Unidade 1
A Formação das Monarquias
Modernas

1.1 Introdução
Nesta primeira unidade, o tema abordado se constitui em um dos itens mais significativos
do estudo da História Moderna. Trataremos aqui sobre a conceituação básica geral do absolutis-
mo, além de suas principais características. Priorizaremos nessa análise a perspectiva teórica de
Perry Anderson (1989), que considera o Estado absolutista uma espécie de aparelho reforçado de
poder da aristocracia, tendo como função política e permanente a repressão das massas campo-
nesas e plebeias na base da hierarquia social.
Para estudar a formação das Monarquias Modernas, a obra do historiador inglês Perry An-
derson, Linhagens do Estado Absolutista, fornece uma abordagem panorâmica, e, ao mesmo
tempo, aprofundada sobre o assunto. Mesmo que essa primeira Unidade vá se apoiar principal-
mente na obra desse importante historiador, outros trabalhos de interesse podem vir a ser utili-
zados e serão devidamente mencionados.
Uma das primeiras advertências que tem de ser feita para se ter uma melhor compreensão
desse novo sistema político que emergiu na Europa é que o absolutismo não seguiu uma crono-
logia única, mas teve durações diferentes nas várias nações que o adotaram.
Na Espanha, por exemplo, o absolutismo sofreu um duro golpe em meados do século XVI
com a revolta que resultou na independência dos Países Baixos – apesar de não ter aí se sucum-
bido. Já na Inglaterra, as revoluções de meados do século XVII puseram fim aos últimos resquí-
cios absolutistas que havia no país. Na França, a revolução de 1789 é que põe fim a esse sistema,
o que os Estados Alemães e Italianos só irão conhecer em meados do século XIX (ANDERSON,
1989, p. 10, 51, 172).

1.2 Teoria Geral do Absolutismo


Em sua obra já referida, Linhagens do Estado absolutista, Perry Anderson procura fornecer
uma teoria geral do absolutismo, a partir de análise da centralização do poder nas várias monar-
quias europeias, com o objetivo de traçar as características mais essenciais desse sistema de go-
verno, e também de evidenciar os aspectos que cada um dos reinos europeus possui de peculiar.
Com uma orientação marxista e ao mesmo tempo crítica a ela, Anderson contrapõe a tese
de Marx e Engels na qual o Estado absolutista era caracterizado como um equilíbrio entre classes
– a nobreza e a burguesia –, com uma tendência para o predomínio da burguesia.
De acordo com a interpretação do historiador, a nobreza, como classe dominante, permane-
ceu a mesma do período medieval. Anderson reconhece que esse aspecto foi salientado pionei-
ramente por Christopher Hill. Conforme esse entendimento, o absolutismo constituía uma nova
forma de dominação política necessária à exploração e à dominação dos resquícios feudais. Essa
nova forma de dominação política foi o resultado do temor da aristocracia diante do risco de per-
der o seu domínio com a dissolução da servidão. Essa reação da aristocracia produziu um “deslo-
camento da coerção político-legal no sentido ascendente, em direção a uma cúpula centralizada
e militarizada”, ou seja, o próprio Estado absolutista do Ocidente (ANDERSON, 1989, p. 19).
Em essência, o absolutismo pode ser definido como “um aparelho de dominação feudal re-
colocado, destinado a sujeitar as massas camponesas à sua posição tradicional...” (ANDERSON,

11
UAB/Unimontes - 5º Período

1989, p. 18). Além disso, o Estado absolutista é secundariamente determinado pela ascensão da
burguesia urbana.
Todavia, esse Estado reforçado de poder significou muito mais que a sujeição das massas e
a centralização do poder. As monarquias Abso-
lutas Modernas foram responsáveis ainda pela
Figura 1: Capa do Livro ► criação de vários órgãos e instituições, muitos
O Leviatã, de Thomas deles presentes na atualidade. Entre as inova-
Hobbes ções e criações desse período, pode-se citar a
Fonte: Disponível em codificação do direito, antes consuetudinário,
<http://andraderodnitzky. ou seja, baseado nos costumes; a constituição
blogspot.com>. Acesso
em 26 out. 2010. de um mercado unificado, a consolidação da
diplomacia, o estabelecimento de exércitos
permanentes e regulares, além da fixação de
um sistema fiscal e tributário.
A constituição de todas essas instituições
visava, antes de tudo, a assegurar e afirmar a
dominação da nobreza. Deve ser salientado,
naturalmente, que alguns desses órgãos já
existiam em época anterior, porém, muitas ve-
zes, de maneira temporária e esporádica, sen-
do que, no período em questão, passaram a
constituir instâncias permanentes e a integrar
o Estado.
Na sequência, será visto com mais deta-
lhes como cada um desses órgãos se formaram
e de que maneira eles passaram a integrar a
Monarquia e, ao mesmo tempo, dar sustenta-
ção a ela.

Dica 1.2.1 Burocracia e Diplomacia


Conforme Anderson
destacou, o Direito
A época Moderna foi um período marcado por muitos conflitos e guerras, como mais adian-
Romano correspon-
deu ao incremento te haverá oportunidade de se mostrar. Nesses momentos de grande instabilidade política, torna-
da autoridade pública va-se sempre necessário a negociação de tratados de paz, o que passou a exigir pessoas espe-
corporificada na pessoa cialmente voltadas para essa função. A Diplomacia surgiu, então, da necessidade dos Estados de
do rei. As monarquias representar seus interesses internos, e externos junto às nações estrangeiras.
vão contar com uma
camada de juristas.
Outro efeito dessa “mo-
dernização jurídica” foi
reforçar a dominação da
classe feudal tradicional
(ANDERSON, 1989, p.
24-27).
Figura 2: Ratificação do ►
Tratado de Münster
Fonte: Disponível em
<http://pt.wikipedia.org/
wiki/Direito_internacio-
nal>. Acesso em 26 out.
2010.

A consolidação da Diplomacia serviu como uma importante via de acesso da nobreza ao Es-
tado. Mas, nesse período, talvez o principal meio com que os nobres procuraram se ingressar nos

12
História - História Moderna I

cargos administrativos da Monarquia foi através da compra de cargos. Isso mesmo! Naquela épo- Dica
ca, quem desejasse ocupar uma função no Estado bastava apenas dispor de uma boa quantia em Leia sobre a venalidade
dinheiro. Esse tipo de prática era designada de venalidade de ofícios régios e, além de constituir de cargos na França que
uma maneira de satisfazer os interesses da nobreza, também era uma forma de atender aos in- possibilitava a entrada
teresses da Coroa, já que a venda de cargos também era uma importante fonte de renda. É claro de burgueses no apare-
que esse tipo de prática trazia sérias implicações. Uma delas era que a partir do momento em lho burocrático.
que o nobre comprava um cargo, tratava aquela função como de sua propriedade, passando a
atender muito mais aos seus interesses que aos interesses do Estado. É justamente nesse tipo de
prática que deve ser buscada um dos maiores males da administração publica atual que é a cor-
rupção. Não se pode deixar de observar que a ocupação de alguns cargos exigia conhecimentos
específicos, de modo que, com isso, teve no princípio certa especialização para o cumprimento
de determinadas funções.
Um dos órgãos da administração que exigia conhecimentos técnicos apurados era a tributa-
ção, que será vista na sequência.

1.2.2 Tributação

Os grandes conflitos que se travaram na Europa ocidental nos séculos XVI a XVIII passaram
a exigir um número cada vez maior de homens para fazerem parte dos Exércitos, e de dinheiro
para manutenção das tropas e financiamento das guerras. Foi a partir dessa dupla necessidade
que surgiu uma tributação eficiente, e de exércitos permanentes. Nunca é demais lembrar que
a cobrança de impostos e os exércitos, obviamente, não eram uma invenção desse período,
mas a partir desse momento passaram a existir de forma mais eficiente e permanente, como
foi observado.
De uma maneira geral, os nobres não pagavam impostos, diferentemente dos camponeses.
Pagar impostos para os nobres era até mesmo aviltante e, segundo defendiam, era uma prática
que não condizia com a sua condição e status social. Assim, toda a carga tributária recaía sobre
os camponeses, que contra isso promoveram diversos levantes e protestos, sendo duramente re-
primidos. A carga tributária excessiva era um importante meio de extração de rendas para a Co-
roa, para os nobres e, como já foi salientado, para cumprir uma função bélica, ou seja, para finan-
ciar as guerras e sustentar os exércitos. Infortunadamente, o mesmo imposto que os camponeses
pagavam, muitas vezes, era usado para custear as tropas que os reprimiam. Além de servirem
para sufocar os inimigos internos, os Exércitos tinham a função de combater os inimigos exter-
nos que ameaçavam os Estados.

1.2.3 Exército

Antes da constituição dos modernos Estados absolutistas, os exércitos eram, em geral,


compostos a partir do sistema de ban, que obrigava os vassalos a fornecerem tropas aos seus
suseranos. Com o advento das monarquias nacionais modernas, os estados passaram a se uti-
lizar de tropas compostas por mercenários, ou seja, soldados da infantaria que recebiam para
lutar e só eram convocados em situações de guerra. A utilização de exércitos mercenários tinha,
principalmente, dois fatores negativos. O primeiro deles consistia no fato de serem solicitados
somente diante de uma guerra iminente; assim sendo, era mais demorada a convocação dos
soldados, principalmente nessas situações em que se exigiam ações rápidas, já que os recruta-
mentos eram, em geral, muito lentos. Outro ponto desfavorável da utilização de exércitos mer-
cenários era o fato de lutarem somente mediante o pagamento de dinheiro e tinham, portanto,
uma fidelidade duvidosa, já que poderiam passar para outro lado, desde que lhes fosse ofereci-
do mais dinheiro.
Entretanto, a partir de uma maior estruturação das monarquias, após o século XVII, o apare-
lho militar foi sendo aos poucos racionalizado e reorganizado, o que levou a ampliação dos efeti-
vos armados que passaram a incluir um grande número de soldados “nacionais”.

13
UAB/Unimontes - 5º Período

Figura 3: Os Exércitos ►
só passaram a
constituir Tropas
permanentes com
a centralização das
Monarquias Absolutas.
Na imagem atuação do
exército em episódio
da Revolução Francesa
de 1789.
Fonte: Disponível
em <http://histo-
riadornet.blogspot.
com/2010_04_01_archive.
html>. Acesso em 8 fev.
2011.

Dica Uma importante contribuição no entendimento da formação dos Exércitos e do sistema tri-
No reinado de Luís XIV
butário é dada por Norbert Elias. De acordo com o sociólogo alemão, o monopólio dos aparelhos
foi gestado o que Nor- fiscal e militar era precondição necessária para a centralização do poder e, consequentemente, a
bert Elias definiu como pacificação interna dos países que se formavam. Conforme a sua argumentação, eram monopó-
“Sociedade de Corte”, lios decisivos e que se constituíam ao mesmo tempo, podendo ser considerados como uma via
ou seja, um meio onde de mão dupla. Em suas palavras,
eram tecidas as alianças
políticas entre os diver-
os meios financeiros arrecadados pela autoridade sustentam-lhe o monopólio
sos grupos e facções.
da força militar, o que, por seu lado, mantém o monopólio da tributação. Ne-
A respeito da formação
nhum dos dois tem, em qualquer sentido, precedência sobre o outro, pois são os
da sociedade de corte
dois lados do mesmo monopólio (ELLIAS, 1993, p. 198).
na França, durante o rei-
nado de Luís XIV, ver a
importante obra: ELIAS,

1.3 Novas Abordagens do


Norbert. A Sociedade
de Corte: investigação
sobre a sociologia da
realeza e da aristocracia
de corte. Tradução Pe-
dro Süssekind; prefácio
Roger Chartier. Rio de
Absolutismo
Janeiro: Jorge Zahar,
2001. Mais recentemente, algumas abordagens sobre a concepção de Estado absolutista têm pro-
curado salientar o caráter descentralizado e fragmentário da Monarquia e, desse modo, questio-
nado o poder do rei como absoluto.
Perry Anderson chega a reconhecer a impropriedade do termo Absolutismo, no sentido do
exercício do poder do monarca sobre seus súditos de maneira ilimitada. Segundo o historiador,
as monarquias europeias ocidentais eram limitadas por noções de direito costumeiro, que era
particularmente forte no século XV.
Apesar de argutas, as análises de Anderson deixam entrever que o rei aparece como deten-
tor de grandes poderes que, de posse dos aparelhos fiscal e militar, impõe sua vontade aos de-
mais grupos sociais.
A realização de estudos mais localizados veio demonstrar que o monarca não exercia o po-
der de maneira ilimitada. A formação do “Estado absolutista” em Portugal, investigada por Anto-
nio Manuel Hespanha (2001), e para o caso francês, por Emmanuel Le Roy Ladurie, dão mostras
de que, para o pleno exercício do poder real, dependia o monarca, em grande medida, dos pode-
res situados na periferia do Estado (LADURIE, 1994).
Analisando a formação do Estado monárquico na França, Ladurie (1994) considera que, no
reinado de Luís XIV, trata-se de um momento em que o “Rei Sol” chama a si a nobreza, tornando
-a mais próxima da Corte, presa a benesses concedidas pelo monarca e pela residência na sede
governamental. Apesar disso, os senhores não se tornavam completamente submissos ao sobe-

14
História - História Moderna I

rano, no máximo se deixam manipular. A seu ver, na monarquia clássica, quando analisada fora
da Corte, o sistema de administração que lhe distinguia é apenas em parte, por vezes, fracamen-
te centralizado.
A descentralização administrativa, quando analisada no contexto português, fica ainda mais
patente, diante das constantes limitações que o monarca sofria no exercício de sua soberania,
conforme analisada por Antonio Manuel Hespanha. Em estudo sobre as instituições, a fim de
compreender as bases sobre as quais se erigiu o Estado monárquico em Portugal no século XVII,
o historiador português procurou demonstrar como alguns órgãos impunham limites ao pleno
exercício do poder real. Instituições, como tribunais de justiça, a Igreja, Câmaras municipais ga-
nhavam, em algumas ocasiões, certo espaço de autonomia. Hespanha salientou que uma cen-
tralização política não podia ser efetiva sem uma hierarquização estrita de oficiais, por meio dos
quais o poder pudesse chegar à periferia. A eficiência da centralização política dependia, consi-
deravelmente, da existência de laços de hierarquização de “funcionários” entre os vários níveis do
aparelho administrativo.
Assim, nesse quadro de autonomia na hierarquia imperial, governadores de Capitanias e
Províncias desfrutavam de um amplo poder extraordinário, traduzido em uma grande autono-
mia administrativa. Muitos deles, em nome da mais perfeita realização de suas diligências, po-
diam, inclusive, derrogar a vontade do próprio rei, sempre que assim o justificasse. Ainda em um
plano mais elevado na hierarquia de autonomia dos poderes, aos vice-reis eram permitidos al-
guns atributos que os situavam até mesmo acima da justiça, a exemplo do exercício da graça, ou
seja, o ato de conceder honras, privilégios e mercês. Em níveis diferentes de autonomia, oficiais
régios do alto escalão do governo, como juízes ordinários, também possuíam uma larga autono-
mia de decisão.
Importante destacar é que percebido esse quadro de “autonomias” no seio das monarquias,
agora ditas absolutas, a imagem de um Estado centralizado fica ainda mais comprometida quan-
do projetada ao contexto do império ultramarino português, conforme, mais uma vez, investiga-
do por Antonio Manuel Hespanha, o que incluiria nesse caso, o Brasil, mas escapa aos objetivos
propostos neste Caderno (HESPANHA, 1998, p.167).
As diferentes abordagens sobre os Estados modernos têm passado por inovações, mas tam-
bém por valorizações de aspectos antes relegados a segundo plano. Isso pode ser constado, por
exemplo, na importância que adquiriu mais recentemente a obra de Norbert Elias, O Processo
Civilizador, cuja primeira edição data de 1939.
O sociólogo alemão, radicado na Holanda, Norbert Elias, estudou a função do rei no pro-
cesso de formação das Monarquias nacionais. O autor destaca que, embora internamente mui-
tas nações se mantivessem pacificadas, externamente eram extremamente beligerantes. Mes-
mo com relativa paz interna, isso não significava dizer que não houvesse um estado de tensão
entre nobreza e burguesia, que ganhava poder social com a evolução da economia monetária,
enquanto diminuía o poder da nobreza. Contudo, nenhum desses dois grupos tinha poder sufi-
cientemente forte para se manter no domínio por um período prolongado de tempo. O monarca
precisava alimentar as tensões entre esses dois grupos.
Segundo Elias (1993), a força do governante dependia, por um lado, da preservação de um
equilíbrio entre os diferentes interesses da sociedade, mas também, por outro lado, da persistên-
cia entre eles de tensões e conflitos de interesses. De acordo com essa interpretação, a domina-
ção do monarca diminuía quando um grupo ou classe da sociedade prevalecia sobre os demais,
e precisava manipular as tensões fazendo prevalecer um “equilíbrio instável”. Ainda conforme
essa interpretação, o rei em si é socialmente fraco, uma vez que, se toda a sociedade voltar-se
contra ele, nada poderá fazer. Mesmo os grupos privilegiados, nobreza e burguesia, não estavam
interessados em ir longe demais com as disputas entre eles, diante do risco de que uma profun-
da sublevação social levasse a uma mudança na estrutura social de poder como um todo. Desse
modo, Elias (1993) destacou a função do rei e o seu papel enquanto árbitro entre as demais or-
dens, manipulando as tensões entre elas.

Referências
ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista. 2. ed. Tradução de Beatriz Sideau. São
Paulo: Brasiliense, 1989.

15
UAB/Unimontes - 5º Período

ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador. Formação do Estado e Civilização. v. 2. Tradução Ruy


Jungmamn. Revisão, apresentação e notas de Renato Janine Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1993.

HESPANHA, António Manuel. “A fazenda”. In: MATTOSO, José (dir.). História de Portugal, v. 4 (O
Antigo regime). Lisboa: Estampa, 1998.

HESPANHA, António Manuel. A constituição do Império português. Revisão de alguns enviesa-


mentos correntes. In: FRAGOSO, João Luis Ribeiro, BICALHO, Maria Fernanda Baptista & GOUVÊA,
Maria de Fátima Silva. (orgs.) O Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa
(séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

HESPANHA, António Manuel e XAVIER, Ângela Barreto. A teoria corporativa do poder e da so-
ciedade. In: MATTOSO, José (dir.). História de Portugal, v. 4 (O Antigo regime). Lisboa: Estampa,
1998.

LE ROY LADURIE, Emmanuel. O estado monárquico: França 1460-1610. Tradução: Maria Lucia
Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

16
História - História Moderna I

Unidade 2
As Monarquias Modernas na
Europa Ocidental

2.1 Introdução
Nesta unidade veremos as diferenças que as monarquias europeias apresentaram no perío-
do denominado de Antigo Regime, tempo histórico caracterizado pela forma política absolutista,
com o poder concentrado nas mãos do monarca e pela política econômica denominada de mer-
cantilismo.

2.2 Absolutismo na Espanha


A Espanha ocupa uma posição diferenciada no processo mais amplo de formação dos Esta- Dica
dos absolutistas da Europa Ocidental. De uma maneira geral, o Absolutismo espanhol, quando
A política de casa-
comparado com outras partes da Europa em meados do século XVI, é considerado bem mais mentos era um dos
forte. principais objetivos da
Em grande parte, a Monarquia Espanhola devia sua supremacia a uma combinação de dois Diplomacia dos Estados
fatores: a política de casamentos e a conquista do Novo Mundo. absolutistas.
Os casamentos realizados pela linhagem dos Habsburgos conseguiram fazer com que não
apenas obtivessem a anexação de uma série de territórios como conseguissem firmar importan-
tes alianças políticas. Por outro lado, a conquista da América permitiu que a Coroa Espanhola se
suprisse de metais preciosos a uma quantidade tal que nenhuma outra Monarquia do período
jamais teria sonhado acumular. O afluxo de metais preciosos permitiu que a Espanha realizasse
uma acumulação primitiva de capitais sem paralelo na história.
Certamente, como nenhuma outra Monarquia da Europa, a Corte Espanhola tinha um ca-
ráter demasiadamente aristocrático e, portanto, bastante refratária ao desenvolvimento da bur-
guesia. A consequência mais imediata disso foi que as grandes quantias de prata trazidas da
América não foram revertidas em investimentos para desenvolver as manufaturas e a indústria.
A imensa quantidade de recursos acumulada pela Espanha foi canalizada para o fortaleci-
mento dos seus exércitos e levou a monarquia dos Habsburgos a desenvolver uma agressiva po-
lítica externa. Nesse período, várias nações europeias se viram invadidas por tropas espanholas.
A Holanda sofreu uma grande destruição frente às tropas castelhanas e, de igual maneira, a
região sul da Itália se viu dominada. Foram travadas batalhas com a França e a Inglaterra. Portu-
gal, por problemas na sucessão do trono, acabou passando ao domínio espanhol; o território da
atual Alemanha terminou servindo de palco para um verdadeiro teatro de operações militares
vindas da península ibérica.
As constantes invasões e ameaças fizeram com que essas nações acabassem se armando e
se fortalecendo, preparando-se para se defenderem. Apesar dessa agressiva política externa, em
relação à política interna, o Absolutismo espanhol era modesto e limitado em seu desenvolvi-
mento.
O Absolutismo espanhol é inaugurado com a união de Castela e Aragão, formalizada pelo
casamento de Isabel I e Fernando II. Essa união fez da Espanha a principal potência europeia de
todo o século XVI.

17
UAB/Unimontes - 5º Período

Figura 4: Fernando ►
de Aragão e Isabel de
Castela
Fonte: Disponível em
<http://www.brasilescola.
com/historiag/formacao-
monarquia-nacional-es-
panhola.htm>. Acesso em
26 out. 2010.

Tanto Aragão quanto Castela possuíam estruturas muito diferentes e, mesmo unidas, con-
servaram suas estruturas políticas e econômicas. Conforme Perry Anderson, “Nunca se desenvol-
vera aí uma institucionalização sólida e fixa dos sistemas de Estados” (ANDERSON, 1989, p. 61).
Mesmo com a união dos dois reinos de Aragão e Castela, a aristocracia espanhola ainda do-
minava vastas extensões de terras.
O Reino de Aragão era composto dos principados de Aragão, Catalunha e Valência. Nesse
período, o principado de Aragão atravessava uma fase de prosperidade econômica, ao passo que
a Catalunha passava por uma aguda crise. O principado de Valência encontrava-se em uma posi-
ção intermediária.
Politicamente, em Aragão a nobreza possuía um tradicional sistema de corte que era um
obstáculo a qualquer política centralizadora. Essa aristocracia, a despeito da fusão dos dois rei-
nos, manteve todo seu sistema de privilégios e imunidades.
Já Castela era muito maior e mais rica que o seu vizinho. Seu território era muito mais urba-
nizado e sua economia era marcada por uma expressiva criação ovina destinada ao abastecimen-
to da produção lanífera da região de Flandres. Sua nobreza, apesar de muito mais rica e poderosa
que a de Aragão, não tinha instituído um sistema de corte equivalente ao Aragonês. Ao contrário
da nobreza aragoneza, que conseguia limitar a autoridade do monarca, a castelhana não exercia
influência sobre seu rei, no sentido de limitação de seu poder.
Havia, portanto, uma disparidade econômica muito grande entre os principais reinos de
Aragão e Castela, quando da época da união. Apenas para uma breve comparação, enquanto
Aragão (reunindo os três principados de Aragão, Catalunha e Valência) possuía um total de 1 mi-
lhão de habitantes, Castela possuía cerca de 5 a 7 milhões de habitantes.
Com a manutenção da diversidade dos Estados de Aragão e Castela, o que unia os diferen-
tes lugares do Império era tão somente a figura do Monarca.
Em Castela, tanto a composição quanto a convocação das Cortes ficavam a cargo do Monar-
ca. As decisões aí tomadas também dependiam do Rei. O resultado disso era que as Cortes não
possuíam poder legislativo que pudesse limitar o poder real. Além disso, a nobreza desfrutava de
imunidade fiscal; com isso, a cobrança de impostos recaía sobre as cidades e sobre as massas em-
pobrecidas. As cortes permaneciam como uma instituição frágil e isolada.
Já em Aragão havia, portanto, um complexo de liberdades e autonomias que foi preservada
quando da época da união. Após isso, criava dificuldades para construção de um absolutismo
centralizado. Mesmo com essas forças que tendiam à dispersão, Fernando e Isabel tentaram to-
mar medidas centralizadoras.
Uma das medidas centralizadoras foi concentrar a administração em Castela. Além disso,
cortaram o poder das ordens militares; tomaram medidas que limitavam o poder da Igreja; assu-
miram um maior controle sobre o aparelho eclesiástico.
Com essas medidas, a máquina Castelhana foi racionalizada e modernizada. Apesar dessas
medidas centralizadoras, a Monarquia nunca conseguiu vergar a classe aristocrática. Em Aragão,
por exemplo, nunca houve centralização efetiva.

18
História - História Moderna I

Em razão da diversidade econômica e política que se verificava nos principados espanhóis,


nunca houve efetivamente uma centralização administrativa entre Aragão e Castela. Nunca foi
cogitado, por exemplo, a possibilidade de se realizar uma fusão administrativa entre Aragão e
Castela. Assim, é possível afirmar que não criaram um reino unificado. Fernando II confirmou to-
dos os privilégios da nobreza. Outro exemplo que ilustra esse aspecto reside no fato de nunca
terem conseguido impor uma moeda única.
Nesse quadro de autonomias e liberdades, a Inquisição era o único órgão, a única instituição
unitária.
A ascensão de Carlos V ao trono
espanhol iria complicar ainda mais o
◄ Figura 5: Carlos V, rei
quadro político da Espanha. O Monar- de Espanha
ca resolveu formar uma Corte com- Fonte: Disponível em
posta somente de pessoas exiladas, <http://fabiopesta-
com pessoas das mais diversas ori- naramos.blogspot.
com/2010/08/as-relacoes
gens: flamengos, borgonheses e italia- -internacionais-nos-secu-
nos. los.html>. Acesso em 26
Como se não bastasse a Corte out. 2010.
ser integrada por pessoas de origem
estrangeira, as verdadeiras extorsões
financeiras que promoveram, com
cobranças cada vez mais elevadas de
impostos, serviram para acirrar ainda
mais os ânimos da população e flo-
rescer um sentimento de aversão por
parte dos grupos populares em rela-
ção a estrangeiros no país.
A situação se agravou ainda mais
quando o rei Carlos V, da dinastia
Habsburgo, resolveu partir em dire-
ção ao norte da Europa. Isso fez com
que estourasse uma rebelião, cha-
mada de revolta dos Comuneros, de
1520 a 1521. Promovida basicamente
por grupos populares, a revolta ainda
conseguiu a adesão de setores urbanos como da burguesia, que exercia o papel de liderança. A
rebelião caracterizou-se nitidamente como uma revolta do Terceiro Estado, ou seja, envolveu ba-
sicamente pessoas menos privilegiadas. A revolta acabou sendo completamente esmagada. Po-
rém, essa rebelião caracterizou-se como algo diferente naquela conjuntura, já que normalmente
as revoltas do período eram, em geral, de caráter aristocrático, e não burguesas.
As realizações mais significativas do reinado de Carlos V foram, com efeito, a considerável
expansão de seu império. Apenas na Europa, foram conquistados os Países-baixos, o Franché-
comté e Milão. A Alemanha serviu como um palco de operações militares, como já foi salientado.
No Novo Mundo, a conquista da América rendia o México e o Peru e suas enormes reservas mi-
nerais.
A rápida ascensão de Carlos V ao trono acentuou ainda mais o caráter de delegação de po-
deres, por meio da criação de Conselhos através dos quais era concedida grande autonomia ad-
ministrativa. Mesmo com essa política de partilha do poder, o reino espanhol tinha um grande
bloqueio para a unificação do Império. Nunca é demais lembrar que a Espanha encontrava-se di-
vidida em dois reinos: Aragão e Castela. Enquanto Castela era responsável pelo governo da Amé-
rica, Aragão tomava conta do sul da Itália.
Com a dispersão do Império dos Habsburgo, dificultou ainda mais a sua capacidade de inte-
gração e ajudou a conter o processo de centralização dentro da própria Espanha.
Com a série de guerras inaugurada por Carlos V, a tendência à dispersão só fez se acentuar.
Com isso, os gastos militares cresceram enormemente e, com eles, as pressões fiscais. Disso de-
correu que as receitas aumentaram significativamente, todavia, revelaram-se insuficientes para
os enormes gastos com as guerras, que se avolumavam. Ademais, Castela tinha que sustentar
praticamente sozinha os encargos fiscais das campanhas militares no exterior. A maior parte das
rendas vinha de Castela, dos impostos arrecadados e da cobrança de juros.
O resultado de todo esse conjunto de fatores foi que o Estado de Carlos V teve de decretar
falência a seu sucessor.

19
UAB/Unimontes - 5º Período

O império continental na Europa começou a revelar-se insustentável economicamente em


meados do século XVI. Todavia, o Novo Mundo é que iria salvar o Estado Espanhol do colapso
imediato. Com a descoberta das minas de Prata de Potosi, aumentou significativamente o fluxo
do tesouro nacional. Mas a prata vinda do Novo Mundo correspondia a apenas 20 a 25 % de suas
receitas.
Durante muito tempo foi o metal americano que permitiu sustentar a agressiva política ex-
terna do império espanhol.
As operações militares bancadas por Felipe II só foram possíveis graças à flexibilidade finan-
Dica
ceira propiciada pela prata americana.
Na Holanda, onde já O comércio, praticado em regime de exclusividade, por meio de monopólios, com as colô-
ressoava o descon-
tentamento desde as
nias americanas, permitiu auferir lucros significativamente consideráveis. Mercadores espanhóis
perseguições religiosas podiam vender produtos, como tecidos, vinhos e azeites a preços elevados.
de Carlos V, explodiu A expectativa de altos lucros fez com que as terras antes destinadas à produção de cereais
aquilo que viria a ser a fossem voltadas agora para a produção de gêneros destinados ao mercado externo, como o cul-
Primeira Revolução Bur- tivo de uva e oliveira. Isso fez com que houvesse uma contração na produção de trigo em bene-
guesa da história sob a
pressão do centralismo
fício da criação de ovelhas para aproveitamento da lã e confecção de tecidos. Dentro de pouco
de Felipe II. tempo a Espanha passou de produtora a importadora de cereais. Além disso, a grande quanti-
dade de prata que chegava ao país levou a inflação, o que paralisou o setor manufatureiro espa-
nhol, em função da elevação dos custos de produção.
Com isso, a Espanha não conseguiu se modernizar e desenvolver a indústria. Toda a sua ri-
queza e o seu potencial produtivo foram consumidos em guerras.
Uma medida de centralização e de tentativa de modernização da máquina de estado espa-
nhola foi a transferência da capital para Madri, mas uma medida tardia. A ocorrência de pestes
acabou agravando ainda mais a situação.
Felipe III levou ao armistício com a Holanda e selou um período de paz. Porém, adotou me-
didas que arruinaram as finanças e causou inflação.
Nesse período, as colônias também começaram a se tornar autossuficientes. Desde a segun-
da metade do século XVII, as minas de prata entraram em crise. Além disso, os constantes assé-
dios de piratas ingleses e holandeses cresciam às suas custas.
Felipe IV conferiu plenos poderes ao Conde Duque de Olivares. Suas medidas autoritárias
geraram uma das mais fortes resistências, tendo que enfrentar a revolta da Catalunha. Com a
resistência Catalã em se integrar ao império, perdendo sua autonomia e a ofensiva francesa ao
território espanhol, os Catalães terminaram por render soberania aos franceses, permanecendo
sob seu domínio por cerca de uma década. O Absolutismo Espanhol passava a ficar em apuros
dentro de seu próprio território.
Todos os conflitos europeus terminaram por esgotar suas finanças e desintegraram sua or-
ganização compósita. A separação de Portugal, em 1640, a revolta da Catalunha e de Nápoles
foram atestados da fraqueza interna do Absolutismo Espanhol.
Assim, se no auge da mineração os embarques de prata ajudaram a financiar o expansionis-
mo Habsburgo pela Europa, impedia ao mesmo tempo uma centralização tributária na própria
Espanha, com Aragão continuando fora do aparelho fiscal. O resultado foi o esgotamento de Cas-
tela em meio a crise no século XVII, levando ao colapso o imperialismo Habsburgo.

2.3 Absolutismo na França


A história da construção do Absolutismo na França em direção a um Estado Monárquico
centralizado foi marcada por avanços e recuos. Aconteceu por meio de um processo caracteriza-
do por interrupções e sucedido por momentos de concentração do poder, até que se conseguis-
se chegar, enfim, a uma estrutura sólida e estável.
Os três momentos de ruptura que travaram, e ao mesmo tempo aceleraram, o processo de
centralização política e administrativa do Estado Monárquico Francês foram a Guerra dos Cem
Anos no século XV, as Guerras Religiosas no século XVI e a Fronda no século XVII.
Com a extinção da dinastia capetíngea, tem início a Guerra dos Cem Anos, conflito que opu-
seram ingleses e franceses e que dividiu a nobreza francesa, ainda no século XIV.
Analisando, então, esse primeiro momento de ruptura, o maior legado que a Guerra dos
Cem Anos deixou à França foi a sua emancipação fiscal e militar. Depois do conflito, a Monar-
quia passou a contar com a existência de um Exército permanente pago regularmente, graças

20
História - História Moderna I

à cobrança do primeiro imposto


que incidia em todo o território na- ◄ Figura 6: Luis XIV, rei
cional, que foi a taille. A nobreza, o da França
clero e, no caso da França, também Fonte: Disponível em
algumas cidades, estavam isentas <http://leisdemerf.
blogspot.com/2010/09/
dessa cobrança. qual-origem-do-pente.
A Guerra só foi vencida em html>. Acesso em 26 out.
razão do abandono do sistema de 2010.
ban, uma forma de recrutamento
que consistia na convocação do
vassalo pelo rei, para o serviço mi-
litar, e que, naquele momento, em
épocas de guerras rápidas, revela-
va-se lento e ineficaz.
O fato é que, no final do sécu-
lo XV, com o término do conflito, a
Monarquia Francesa saiu fortaleci-
da e centralizada. Na realidade, a
França foi dividida em 12 governos
que foram distribuídos a príncipes
e nobres que mantinham grandes
privilégios e direitos em suas áreas
de jurisdição. Os governantes des-
ses territórios conseguiram conser-
var grande autonomia até o século
XVI.
Carlos VII e Luís XII deram con-
tinuidade à política de expansão territorial iniciada por Luís XI, anexando a região da Bretanha,
por meio de uma política de casamentos. No governo do Carlos VII e Luís XII, também foram es- Atividade
timuladas as Assembleias, que consistiam em Cortes Provinciais, conhecidas como parlaments, Diante das novas
criadas pela própria Monarquia, e que tinham grande poder de justiça em várias regiões de todo abordagens sobre o
o território francês. Várias cidades também mantiveram sua autonomia e liberdade preservadas. Absolutismo, avalie a
A centralização administrativa era dificultada também pela ausência de um mercado unifi- frase atribuída a Luís
cado, e apesar dos enormes avanços alcançados, a França ainda não tinha construído uma estru- XIV, na qual se procura
resumir a expressão do
tura econômica e política que pudesse unificar seu território, submetendo os poderes locais. Estado centralizado: “O
Por outro lado, praticamente inexistia uma assembleia unificada, pois, em geral, a convoca- Estado Sou Eu”. Depois,
ção do Parlamento único, as Cortes Gerais, era motivada pela necessidade financeira de se lançar compartilhe no fórum a
impostos. Porém, isso não acontecia na França, já que nos parlaments, as assembleias regionais sua opinião.
frustravam qualquer iniciativa nesse sentido. Isso se dava em razão das inúmeras concessões que
foram feitas aos poderes locais situados na periferia do Estado. A nobreza estava isenta de pagar
impostos e isso evitava que as Cortes fossem convocadas exclusivamente para essa finalidade
(ANDERSON, 1989, p.89).
Luís XI, que governou de 1461 a 1483, tomou medidas centralizadoras que serviram para
aumentar o poder e as finanças na França. Eliminou a última e a mais forte ameaça ao seu po-
der, que era a Dinastia de Borgonha. Com a aniquilação do Estado Borgonhês, seu território aca-
bou sendo anexado. O reino da França passou a reunir todas as Províncias que eram vassalas na
época medieval, e extinguiu todas as grandes Casas da Idade Média. Mesmo com esses notáveis
progressos, a Monarquia Francesa ainda estava longe de constituir uma Monarquia forte e cen-
tralizada. O reino passava por uma fase de crescimento e prosperidade. Diminuía a atividade re-
presentativa das Assembleias, os Estados Gerais entravam em decadência, as cidades deixavam
de ser consultadas em decisões políticas importantes e a política externa passou a ser tratada
cada vez mais como uma matéria de prerrogativa régia.
Passou a haver um controle maior sobre as nomeações na hierarquia eclesiástica, mas ne-
nhum Monarca, seja Carlos VII, ou Luis XII, passou a ter grandes poderes, pois ambos consulta-
vam com frequência as Assembleias provinciais e mantinham os privilégios tradicionais da no-
breza.
A manutenção do prestígio interno da Monarquia Francesa era sustentada externamente
com as guerras que foram travadas na Itália. Esses conflitos também eram motivados pelas pre-
tensões francesas ao trono italiano, servindo para canalizar a pequena nobreza ávida por guerras.

21
UAB/Unimontes - 5º Período

Figura 7: Palácio de ►
Versalhes no século
XVII
Fonte: Disponível em
<http://www.jornaljovem.
com.br/edicao6/exposi-
cao30.php>. Acesso em 26
out. 2010.

Com a morte de Henrique II, a França se viu consumida em 40 anos de luta. Isso resultou
num vazio de poder na Monarquia, mesmo durante a regência de Catarina de Médicis. A partir
daí, deu-se o segundo momento na França, que contribuiu e ao mesmo tempo retardou a Mo-
narquia centralizada.
As guerras civis que dividiram a França foram resultantes dos conflitos religiosos oriundos da
Reforma. As lutas eram travadas entre Huguenotes e a Santa Liga, pelo controle da Monarquia.
A disputa entre as grandes famílias feudais foi intensificada com o empobrecimento da no-
breza. Nessa altura, o conflito entre Huguenotes e a Santa Liga ameaçou romper a tênue unidade
da França.
Revoltas urbanas e rurais estouraram em todo o país. Os protestos se espalharam pelo cam-
po e pela cidade, sendo que muitas delas contavam com o apoio das massas plebeias.
Foi a dupla radicalização do conflito na cidade e no campo que reagrupou a classe domi-
nante. A nobreza ficou temerosa de que uma sublevação geral vinda de baixo para cima pudesse
colocar em risco o seu próprio domínio.
Henrique IV aceitou o Catolicismo, mas sua opção foi muito mais por conveniência que por
convicção, e obedeceu a critérios meramente estratégicos. Com isso, cessaram as guerras religio-
sas, fortalecendo o Estado Monárquico.
Henrique IV foi o fundador da nova Dinastia Bourbon, que sucedeu a antiga dinastia Valois.
Ele estabeleceu o governo permanentemente em Paris, transformando a cidade em capital. A
França estava pacificada, o Rei desfrutava de grande popularidade. Com o Edito de Nantes, o pro-
blema do protestantismo foi resolvido, concedendo-lhe uma autonomia regional limitada. Na-
quele momento, a França não cultivava hostilidade alguma com nenhuma potência estrangeira,
o que contribuiu para o equilíbrio das contas internas. O Estado cortava despesas e passava a
arrecadar mais com a cobrança indireta de impostos.
A grande inovação institucional foi a introdução da paulette, em 1604, que era a venda de
cargos na administração do Estado. Isto significava que àqueles que estivessem interessados em
adquirir um cargo na administração bastava apenas pagar por ele. Na verdade, tratava-se de algo
há muito recorrente, e a paulette apenas formalizava aquelas práticas, tornando-as hereditárias. A
nova medida tinha o objetivo de aumentar os rendimentos do Estado e preservar a burocracia da
influência da alta nobreza.
Sob o comando do Cardeal Richelieu, já sob o reinado de Luiz XIII, teve início a construção
de uma máquina administrativa racionalizada, capaz de controlar e intervir nos poderes locais
em todo o território francês. Richelieu acabou com as últimas resistências dos Huguenotes, es-
magou conspirações aristocráticas, acabou com os privilégios militares medievais, derrubou cas-
telos e proibiu duelos.
Richelieu criou ainda o sistema de Intendentes. Com esse sistema havia os Intendentes de
Justiça, de Polícia e de Finanças. Eram funcionários investidos de plenos poderes, deslocados em
missões temporárias para as províncias distantes e que, posteriormente, seriam incorporados
permanentemente ao governo central da França. Os Intendentes eram nomeados diretamente

22
História - História Moderna I

pelo Estado, não eram hereditários, nem seus


cargos estavam sujeitos à venda; eram recruta- ◄ Figura 8: O Cardeal
dos entre a média nobreza do reino e represen- Richelieu
tavam os novos interesses do Estado nos luga- Fonte: Disponível em
<http://meubixano.
res mais afastados. blogspot.com/2009/01/o-
A expectativa de aquisição de um cargo cardeal-richelieu-e-seus-
e de todos os privilégios que ele trazia, princi- 14-bixanos.html>. Acesso
em 26 out. 2010.
palmente a isenção fiscal, era um dos grandes
objetivos da burguesia. Muitos burgueses com-
pravam cargos e se aristocratizavam.
O Estado teve então que realizar inves-
timentos em manufaturas e companhias de
comércio. Isso desviou a evolução política da
burguesia por 150 anos. A par de tudo isso, o
Estado passava a arrecadar cada vez mais im-
postos.
O Cardeal Richelieu envolveu-se na Guerra dos 30 anos (1618-1648), e o Estado quadrupli-
cou a coleta de impostos; o povo, é claro, é aquele que mais contribui, ou na feliz expressão, “o
povo paga o pato!”. Como resultado, a França traça o destino da Alemanha e destrói a suprema-
cia Espanhola. O tratado da Vestfália ampliou as fronteiras do reino. O custo da guerra foi sentido,
sobretudo pelos pobres. Nesse momento, revoltas camponesas, as Jacqueries, estouram em vá-
rias regiões contra os coletores de impostos.
Em suma, na política externa, o cardeal assegura a hegemonia e a grandeza da França; e, na
política interna, restaura a autoridade absoluta ao nível da monarquia, inspirada pela Providência
Divina que, na concepção do Cardeal, o rei era um lugar tenente de Deus e estava a serviço Dele
(DEUS).
Sob o reinado de Luis XIV, durante a sua minoridade, O Cardeal Mazarino sucede o odiado
Richelieu em 1642 e conduz com habilidade a política externa francesa até a aquisição da Alsá-
cia. Porém, vai enfrentar uma gigantesca revolta, a Fronda, uma insurreição urbana radical que
vai coincidir com o descontentamento de uma área rural (o extremo sudoeste). Essa rebelião foi
apenas na base da pirâmide. Não contou com apoio da elite feudal, por isso foi menos perigosa
que as guerras religiosas. A Fronda teve como causas a extorsão fiscal, más colheitas, fome e fúria
popular, revolta de uns poucos privilegiados liderados pelo Parlament de Paris contra o sistema
de Intendentes. O cardeal Mazarino, que era italiano, sufoca a revolta. As consequências desse
agudo conflito foi ter conferido um temperamento ao absolutismo Bourbon e ao mesmo tempo
ter assegurado uma solidariedade maior da nobreza contra as massas.
Em 1661, o rei assume pessoalmente o comando de todo o aparelho de Estado e reúne todo
o governo da França sob sua autoridade. Ele silencia os Parlamentos. As Cortes e os Estados pro-
vinciais não mais discutem os impostos. A nobreza, mais precisamente a alta nobreza, é obrigada
a residir em Versalhes a partir de 1682, e é separada do seu senhorio (domínio territorial). Porém,
o Absolutismo francês garante a apropriação econômica pela nobreza de 30% de todos os ren-
dimentos da nação. O país passa a ser dividido em 32 áreas, cada uma com Intendente real que
tinha autoridade suprema sobre toda a região, como a coleta da taille. O Exército praticamen-
te quintuplica para desarmar a nobreza e esmagar as revoltas camponesas com eficácia. Estava
consumado o Estado absolutista Francês cuja destinação, na concepção do rei Sol, era servir ao
objetivo supremo da expansão militar. Colbert, o Ministro das Finanças, incentiva o comércio, es-
tabiliza o fisco e controla a arrecadação. O Ministro lança um ambicioso programa mercantilista
estritamente expansionista e protecionista. Porém, a guerra domina praticamente todos os as-
pectos do reino. Os camponeses se revoltam em vários recantos do país, mas são facilmente es-
magados, pois a nobreza foi aliviada dos encargos financeiros que Richelieu e Mazzarino tinham
tentado lhe impor, mantendo lealdade ao rei. Contribuiu para o êxito administrativo iniciado
pelo rei Sol o fato de muitos funcionários da época dos Cardeais serem mantidos em seus cargos.
Porém, a França acaba mergulhada em uma série de guerras, em que o resultado desses conflitos
quase sempre é desfavorável para ela. Exemplo disso é a guerra pela sucessão espanhola, em
que a determinação Bourbon de monopolizar a totalidade do Império Hispânico vai acabar unin-
do a Áustria, a Inglaterra, a Holanda e parte dos Estados Alemães contra ela.
Na verdade, no paradoxo do Absolutismo francês, o ápice de seu florescimento interno não
coincidiu com o ápice de sua supremacia internacional, ao contrário, foi a estrutura política ainda
defeituosa e incompleta de Richelieu e Mazzarino, marcada por anomalias institucionais e dila-
cerada por sublevações internas, que consumou espetaculares êxitos externos, ao passo que a

23
UAB/Unimontes - 5º Período

monarquia consolidada e estável de Luis XIV, com sua autoridade e sua força militar enormemen-
te aumentada, fracassou solenemente em impor-se à Europa ou realizar conquistas territoriais
notáveis.

2.4 Absolutismo na Inglaterra


A partir de agora se passa a analisar o Absolutismo que teve lugar na Inglaterra. É curioso
notar como aquela que foi considerada a mais forte Monarquia Medieval de toda a Europa Oci-
dental produziu um Absolutismo fraco e de curta duração. Isso se deveu, significativamente, às
peculiaridades do Feudalismo Normando, que foi caracterizado por uma Monarquia centralizada.
A existência de um Parlamento unificado, na Inglaterra, desde o século XIII, conferiu uma singu-
laridade ao Absolutismo que se desenvolveu ali. A composição do Parlamento, dividido entre a
Câmara dos Comuns e a Câmara dos Lordes, acabou resultando em uma assembleia unificada.
Assim, uma monarquia centralizada tinha também uma assembleia unificada.
Esse Parlamento unitário, que se reuniu em Londres, conseguiu assegurar uma tradicional
limitação ao poder legislativo do rei. Para ilustrar isso basta dizer que depois dos séculos XIII-XIV
nenhum monarca poderia decretar qualquer lei sem o consentimento do Parlamento. Isso ates-
tava o grande poder da nobreza.
O motivo dessa limitação do poder real se explica, também, em razão da exiguidade ter-
ritorial do país, que fez com que ali não surgissem grandes potentados proprietários de vastas
extensões de terras.
Outro aspecto é o fato de que as cidades sempre fizeram parte dos domínios do rei e, em
função disso, gozavam de certos privilégios comerciais sem, contudo, desfrutarem de grande au-
tonomia política. Além disso, os aglomerados urbanos nunca foram bastante numerosos e fortes
o suficiente para contestarem a sua condição de subordinação.
A nobreza na Inglaterra ainda se caracterizava por sua forte militarização, como qualquer
outra de sua época, porém estava constantemente no campo de batalha e tinha um raio de atua-
ção bastante amplo. Na Alta Idade Média, se viu envolvida, em várias guerras, além da Guerra
dos Cem Anos. Essa aristocracia também tomou parte em conflitos na Escócia e em Flandres, na
Renânia e em Navarra, em Portugal e Castela.
O envolvimento em todos esses conflitos e, principalmente na Guerra dos Cem Anos, serviu
para lhe investir de plenos poderes.
A supremacia inglesa durante a maior parte da Guerra dos Cem Anos que, diga-se de pas-
sagem, não foi pela supremacia marítima, se deu, em boa parte, pelo resultado da integração e
da solidez política muito maior da monarquia feudal inglesa que da monarquia feudal francesa.
Além do mais, as vitoriosas campanhas inglesas travadas externamente serviram para fortalecer
de vez a lealdade da aristocracia inglesa.
A nobreza que havia se mantido unida na Guerra dos Cem Anos se consumiu em disputas
internas na Guerra das Duas Rosas. Esse conflito, que durou de 1455 a 1485, foi marcado pela dis-
puta de grupos que se opunham irremediavelmente: os Lancaster (nobres ligados à antiga tra-
dição feudal) e os York (nobres ligados a interesses mercantis). Ao término dos conflitos, os dois
principais grupos em disputa se encontravam bastante enfraquecidos e isso contribuiu para que
emergisse a Dinastia dos Tudor.
Com a ascensão ao poder de Henrique VII, que governou de 1485 a 1509, depois de anos de
Guerra Civil, o Monarca dá início a uma reorganização da Inglaterra.
Com efeito, Henrique VII consolidou o poder dos Tudor e o centralizou em suas mãos, a ad-
ministração local ficou subordinada ao controle monárquico, rebeliões e motins foram sufoca-
dos, potentados foram sujeitados ao controle real, principalmente no norte e oeste da Inglaterra.
Com todas essas realizações, os domínios reais foram ampliados com a retomada de terras, oca-
sionando o aumento dos rendimentos à Coroa, principalmente dos tributos alfandegários. Com
isso, Henrique VII promoveu um início promissor da construção de um Absolutismo na Inglaterra.
O governo seguinte de Henrique VIII (de 1509-1547) não foi marcado por grandes alterações
políticas. O novo monarca deu continuidade à política que vinha sendo realizada no reinado an-
terior. O acontecimento de maior importância que se passou durante o governo de Henrique VIII
foi mesmo a crise matrimonial que se abriu em virtude da separação do rei de sua esposa Catari-
na de Aragão.

24
História - História Moderna I

Em princípio, a crise política e religiosa


que se abriu na Dinastia dos Tudor, e que
teve como resultado mais imediato a criação ◄ Figura 9: Henrique VIII
de uma nova religião na Inglaterra, o Angli- Fonte: Disponível em
canismo esteve intimamente relacionado a <http://www.passado.
uma crise matrimonial. Henrique VIII, ao se com.br/ntc/default.asp?-
Cod=110>. Acesso em 26
casar com a espanhola Catarina de Aragão, out. 2010.
não teve filho varão para lhe suceder no tro-
no, solicitando então ao Papa Clemente VII a
anulação de seu casamento. Como a Igreja
Católica não admitia o divórcio, o pedido lhe
foi negado, mas ainda assim o Monarca ter-
minou por se casar novamente. O Papa aca-
bou excomungando o Rei inglês. Henrique
VIII, por sua vez, anunciou o rompimento
com a Igreja: estava criado, pois, o Anglica-
nismo, que fora consolidado com o Ato de
Supremacia.
Com o Anglicanismo, o Monarca, além
de se tornar chefe da nação, era também o
chefe supremo da Igreja. A nova religião estava estruturada praticamente sobre as mesmas bases
do Catolicismo. Porém, seu conteúdo era de orientação calvinista, consistindo, portanto, numa
doutrina mais adaptada à mentalidade da burguesia.
Apesar dessa transformação que, a longo prazo, viria trazer benefícios para o pleno desen-
volvimento do Capitalismo na Inglaterra, com a separação de Henrique VIII, o Monarca inglês
passou a sofrer constante oposição do Papa Clemente VII, e do Imperador espanhol Carlos V.
Para resistir à pressão externa que sofria, Henrique VIII convocou o Parlamento. Ao convocar
o Parlamento em busca de apoio, isso “não significou um enfraquecimento do poder real, mas
apenas um novo impulso no sentido de sua intensificação” (ANDERSON, 1989, p. 119). A Corte
Inglesa, por seu turno, acabou por lhe conferir ainda mais poder. Basta apenas dizer que o Par-
lamento colocou em suas mãos todo o controle eclesiástico e limitou ainda mais os poderes se-
nhoriais. Houve ainda a expropriação de toda a riqueza fundiária dos Mosteiros, que tiveram suas
terras confiscadas pelo Estado e lançadas ao mercado. Com isso, completou-se, assim, uma refor-
ma política e religiosa.
Outra medida centralizadora foi a anexação formal do País de Gales ao reino da Inglaterra.
Todo poder conferido ao Parlamento, que caracterizara consideravelmente os governos an-
teriores, sob Henrique VIII, ficava agora obscurecido. O Parlamento era uma força em declínio.
Enquanto o Estado sob os Tudor afirmava-se e se consolidava internamente, a política ex-
terna declinava; a França e a Espanha haviam se fortalecido bastante e superavam, significativa-
mente, a Inglaterra.
O poder conferido a Henrique VIII pelo Parlamento escondia, na verdade, uma limitação ou
mesmo uma fragilidade, que era a inexistência de um forte aparelho militar.
A Inglaterra não construiu um exército forte, devido à sua condição insular. A Ilha continua-
va relativamente imune ao risco de uma invasão marítima. Por esse motivo, não foi possível nem
necessário à Inglaterra construir um aparelho militar comparável ao Absolutismo Francês ou Es-
panhol.
Ainda que fortalecida internamente, na política externa, a posição da Inglaterra era de infe-
rioridade. Suas tentativas de intervenção nas guerras, no norte da França, na primeira metade do
século XVI, tiveram péssimos resultados, geraram altos custos e revelaram-se verdadeiramente
inúteis.
A intervenção no estrangeiro foi mal conduzida, consumiu enormes gastos, o Estado teve
de fazer empréstimos, mas, para financiar a guerra, foi necessário abrir mão das imensas proprie-
dades de terras expropriadas dos Mosteiros, colocando-as à venda a uma pequena nobreza enri-
quecida. Estima-se que grande parte do reino tenha sido vendido. Isso fragilizou economicamen-
te as finanças da Inglaterra e acabou fortalecendo a pequena nobreza, o que futuramente trouxe
enormes consequências.
A Inglaterra nunca pôde contar com um grande exército regular, pois, conforme já visto, o
Parlamento impedia o rei de impor taxações. Isso fez com que ocorresse uma precoce desmili-
tarização da classe nobre. Conforme Anderson, “verificava-se uma progressiva dissociação da
nobreza com respeito à função militar... precocemente, mais que qualquer outro reino do conti-

25
UAB/Unimontes - 5º Período

nente” (ANDERSON, 1989). Com o desenvolvimento do comércio marítimo, houve “uma conver-
são gradual da aristocracia às atividades comerciais muito antes de qualquer outra classe rural
europeia do mesmo gênero” (ANDERSON, 1989, p. 125). Na definição de Anderson, a nobreza na
Inglaterra tinha uma propensão não militar e proto-comercial. Isso acontecia, principalmente, em
função do desenvolvimento da lanicultura e da indústria de lã para a fabricação de tecidos. Esse
tipo de investimento atraía principalmente a pequena nobreza.
Essas características fizeram com que a Inglaterra do período fosse definida como “[...] um
Estado com uma pequena burocracia, um fisco limitado e sem exército regular” (ANDERSON,
1989, p.126).
Com as consequências desastrosas para a economia da Inglaterra, decorridas em grande
parte do envolvimento de Henrique VIII nas guerras com a França, o governo sucessor da Casa
dos Tudor sofreu oposições. Eduardo VI (1547-1553), que assumiu o trono de Henrique VIII, teve
de enfrentar diversas rebeliões e levantes durante o período de sua minoridade.
Todas as rebeliões que tiveram lugar na Inglaterra desse período foram esmagadas por exér-
citos de mercenários, já que, como foi visto, a Inglaterra não tinha um exército forte, regular e
permanente. Maria Tudor (1553-1558) restaurou o catolicismo, mas sem muitas implicações.
No reinado de Elizabeth – de 1558-1603 –, no âmbito religioso, direcionou-se o reino a um
protestantismo moderado, com o estabelecimento de uma Igreja Anglicana obediente. A autori-
dade real foi reforçada, já que a rainha desfrutava de grande popularidade.
Uma área do governo em que se verificaram avanços foi no campo institucional. O Parla-
mento começava agora a revelar certa independência e esboçar críticas à Monarquia. O Parla-
mento viu também aumentar o número de membros, crescendo mais significativamente a pre-
sença de fidalgos rurais.
Com os constantes ataques promovidos à Igreja e a sua perda de credibilidade perante os
fiéis, surgiu também um puritanismo de oposição. Houve uma gradual difusão, principalmente
entre os membros dos grupos que estavam ligados as atividades comerciais, que deram novo
incremento ao Parlamento.
O Parlamento dava seus primeiros sinais de rebeldia principalmente quando se tratava de
lançar novos impostos. A fim de aliviar sua dependência financeira, a rainha abria mão de novos
lotes de terra, vendendo-os ao mercado.
A Inglaterra continuava a não possuir um exército permanente, mas as novas formas de
recrutamento fizeram com que a rainha contasse com tropas regulares para honrar os poucos
compromissos externos que assumiu. Sua política externa era limitada. O único grande aspecto
positivo, se é que pode ser assim considerado, foi a vitória marítima obtida contra a Espanha em
que derrotou a invencível armada. Esse foi o único êxito de sua política externa. Todavia, isso não
significou a anexação de territórios, nem outro tipo de ganho material.
As colaborações externas que se comprometeu a dar, como o envio de soldados, serviram
para corroer ainda mais suas finanças.
As tentativas, ao longo do século XVI, da Inglaterra de anexar-se à Irlanda não foram feitas
sem resistência. No final do governo de Elizabeth I, a Irlanda estava militarmente anexada. Essa
conquista territorial só foi conseguida em razão da proximidade geográfica, e a Inglaterra não
conseguiria conquistar outros domínios no continente. A anexação da Irlanda serviu, de todo
modo, para fornecer à nobreza uma alternativa à expansão continental, contudo, a maior guina-
da que a Inglaterra deu nesse período foi a progressiva reorientação de sua política naval que co-
meçava a modernizar e militarizar sua esquadra. Navios de guerra começaram a ser construídos.
Pode-se considerar que foi Henrique VIII que iniciou a modernização e ampliação do poder naval
inglês.
Mesmo que avançando em relação ao período anterior, o poder naval inglês ainda era in-
ferior em relação ao poder naval espanhol e português, que estavam na dianteira da expansão
marítima.
Com a modernização da frota naval inglesa, os navios passaram a constituir, assim, uma du-
pla função, ao serem, ao mesmo tempo, um navio mercante e um navio de guerra, equipados
que eram com vários canhões.
A vitória inglesa sobre o grande poderio naval espanhol, chamada de “A invencível armada”,
prova a eficiência dos navios ingleses. Ao término do governo de Elizabeth, a Inglaterra já pos-
suía uma expressiva marinha de guerra e mercante. Elizabeth I transformou a Inglaterra em uma
potência marítima.
Isso teve efeito positivo, pois, a partir daí, grande parte da nobreza se voltou para as ativi-
dades mercantis. A classe fundiária e os grandes proprietários aliaram-se às elites mercantis dos
portos e condados. Tais grupos não desenvolveram antagonismos.

26
História - História Moderna I

Com a subida ao trono de Jaime I (1603-1625), da dinastia Stuart, a Escócia passava a ficar Glossário
sob a mesma Coroa da Inglaterra
Parlamento inglês:
Jaime I perseguia os ideais absolutistas, tinha profundo desprezo pelo Parlamento e en-
dividido em duas
frentava resistência da pequena nobreza. Com a conquista da Irlanda e da Escócia, os dois reinos Câmaras: a Câmara dos
eram mais alinhados e não ofereciam grande resistência às pretensões absolutistas de Jaime I. Nobres e a Câmara dos
A política externa do referido Monarca foi caracterizada pela aproximação com a Espanha, o Comuns.
que em muito desagradava à classe fundiária. Apesar do descontentamento com a política exter- Câmara dos Lordes:
formada por membros
na, a classe fundiária se viu imensamente beneficiada, já que foi um período caracterizado pela
do alto clero e pela
elevação das rendas, principalmente da pequena nobreza, a gentry. nobreza.
Houve um progressivo aumento do comércio no período. Com o desenvolvimento das ativi- Câmara dos Comuns:
dades comerciais, no final do século XVI, a Inglaterra já constituía um mercado unificado. formada por represen-
Como não havia necessidade da manutenção de grandes exércitos, o nível fiscal manteve-se tantes dos diversos Con-
dados e Municípios.
baixo. Assistiu-se a um período de paz social no campo, os pobres não pagavam tantos impostos
Tratado de Vestfália:
e recebiam como caridade a ajuda das paróquias de fundos públicos. designa uma série de
O campesinato estava sujeito a uma carga fiscal bem mais suave e também a um processo tratados que encerrou a
de diferenciação social bem mais acentuado. Assim, emergiu um bom número de trabalhadores Guerra dos Trintas Anos
rurais assalariados. (1618-1648).
Fronda: Rebelião ocor-
Não havia temores de uma insurreição rural no campo. Com isso, ocorreu a dispensa de um
rida na França durante
exército permanente, que resultou na cobrança de menos impostos, aliviando a população rural o período em que o
no campo, dispensou também a criação de uma burocracia para administrar o sistema tributário. Cardeal Mazzarino go-
A intervenção inglesa de Carlos I na Guerra dos 30 anos (1618-1648) revelou-se desastrosa. vernava o país em nome
O Parlamento impedia a criação de impostos. do regente Luís XIV.
Taille: primeiro imposto
Diferentemente da Escócia e da Irlanda, o rei tentou se valer de vários expedientes para au-
nacional criado por uma
mentar a arrecadação, tais como aplicação de multas e aumento dos monopólios. A venda de monarquia moderna
cargos como fonte de renda tornou-se uma importante receita. na Europa Ocidental.
Todos esses expedientes revelaram-se inadequados e acabaram servindo muito mais para Surgiu na França no
aumentar o antagonismo da classe fundiária, tanto em relação à Coroa quanto à Igreja. As tenta- contexto da guerra dos
cem anos para financiar
tivas de lançamento de impostos também eram tolhidas pelo Parlamento.
a luta. A partir de então,
Em meio a esses acontecimentos, uma revolta estourou na Escócia em virtude da tentativa tornou-se a base da
de imposição de uma liturgia anglicana. A Escócia, que não havia sido desmilitarizada, armou um tributação do estado
poderoso exército, e Carlos I não tinha condição de reunir forças para oferecer resistência. absolutista francês.
A rebelião da Escócia pôs fim ao poder pessoal de Carlos I. Com a convocação do Parlamen-
to, todas as garantias que os Stuarts haviam conseguido foram revogadas.

2.4.1 Revolução Inglesa

Christopher Hill, um dos mais importantes historiadores da Inglaterra, aventa pelo menos Dica
duas interpretações sobre Revolução Inglesa do século XVII, uma mais liberal, outra mais conser- Para observar melhor o
vadora (HILL, s/d). tópico, assista ao filme
Um dos aspectos destacados por Hill é o caráter progressista da Revolução, sendo caracteri- “A outra”.
zada, sobretudo, por uma luta pela liberdade contra um rei que se tornou tirano.
Outra interpretação, de sentido mais conservador, destaca o caráter burguês da Revolução,
em que os interesses do rei se opuseram aos interesses do parlamento.
Há pelo menos um ponto em comum entre essas duas grandes interpretações acerca da Re-
volução Inglesa. O conflito tornava evidente que um dos seus objetivos era decidir qual das duas
principais religiões deveria predominar na Inglaterra: o Puritanismo ou o Anglicanismo. Essa
questão conduz à discussão a respeito do papel que a Igreja desempenhou na Revolução.

2.4.1.1 Papel da Igreja

O questionamento em torno do papel desempenhado pela Igreja Anglicana no curso da Re-


volução Inglesa é um dos principais pontos destacados por Hill. Nesse período a instituição exer-
cia uma grande influência na vida da população. É possível considerar que a Igreja estava presen-
te em praticamente todas as etapas da vida do ser humano. Era ela a responsável pelo batismo,
a educação e o casamento. Importante destacar o papel desempenhado pela Igreja na educação
das pessoas, numa época em que a maioria da população era iletrada. Era essa poderosa insti-

27
UAB/Unimontes - 5º Período

tuição eclesiástica a responsável por controlar o sentimento dos homens e orientar em que eles
deveriam acreditar.
A Igreja constituía ainda um importante espaço de sociabilidade numa época em que havia
poucos espaços para entretenimento. Funcionava também como uma propaganda da política
do Estado, num período em que essas instituições estavam intimamente ligadas. A Igreja consti-
tuía, desse modo, uma unidade administrativa em que bispos e sacerdotes eram como que fun-
cionários públicos.
A Igreja era uma importante fonte de notícias em que o sermão do padre era uma das prin-
cipais fontes de informação e era frequente o governo orientar os religiosos sobre o conteúdo da
pregação, a exemplo, da condenação da rebelião.
A Igreja era, por fim, defensora da ordem vigente, e aqueles que pretendiam derrubar o Es-
tado tinham que obter o seu controle. Nisso reside o quanto era importante para o Estado exer-
cer um controle sobre a Igreja.
O controle da Igreja pelo Estado também era justificado porque, nesse período, as ideias
religiosas também estavam permeadas de ideias políticas. Nas palavras de Christopher Hill, as
ideias religiosas eram envolvidas por uma “atmosfera religiosa” e por trás dessas ideias também
havia um forte conteúdo social (HILL, s/d, p.21).
Existia, portanto, um conteúdo social por trás das ideias religiosas. Aquelas pessoas que ten-
tavam impor uma orientação religiosa também o faziam conforme as suas necessidades e inte-
resses, materiais inclusive, seja dos mais ricos, seja dos mais pobres.
Uma questão que não podemos perder de vista é que não se tratava de uma postura pura
e simplesmente contrária à Igreja, mas tratava-se, na verdade, de “por fim ao uso da Igreja como
um instrumento exclusivo e opressor do poder político” (HILL, s/d, p.21).
Nesses termos e, com base nessas ideias, é possível pensar a Revolução Puritana tanto como
uma luta religiosa quanto política. Assim, é lícito pensar a revolução como uma luta pelo desen-
volvimento futuro da sociedade inglesa. Em suas últimas consequências, isso não significou ex-
clusivamente a vitória da burguesia, mas a luta pela propriedade privada.
Pelo menos uma coisa era dada como certa: diante do progresso econômico e social que a
Inglaterra havia alcançado nos séculos XVI e XVII, o sistema político em vigor tornava-se incom-
patível.

2.4.2 Fundo Econômico

A Inglaterra, em princípios do século XVII, era um país predominantemente rural, uma vez
que a maioria da população residia no campo. Vivia-se basicamente do cultivo de gêneros de pri-
meira necessidade, da criação de ovelhas para o aproveitamento da lã e da confecção de tecidos.
Praticamente não existia comércio entre as diversas comunidades integrantes dessa estrutura
econômica que ainda conservava traços marcadamente feudais.

2.4.2.1 Indústria e Comércio

Esse quadro começou a sofrer alterações nos séculos XVII e XVIII. A economia ia se tornando
mais dinâmica e o comércio, principalmente dos produtos derivados de lã, passava a ser pratica-
do a distâncias cada vez maiores. Configurou-se pela primeira vez na história da Inglaterra um
mercado nacional.
Essas transformações se deveram, em grande medida, à “descoberta” do Novo Mundo pelos
europeus e ao início de sua exploração. Em 1492, Colombo havia chegado ao continente que vi-
ria a ser denominado de América, fato de grande repercussão na Europa.
Podemos considerar que a exploração do Novo Mundo teve dois importantes efeitos à Euro-
pa, com seus respectivos desdobramentos.
O primeiro deles foi que proporcionou um novo mercado ainda maior para os produtos da
Inglaterra. O comércio rompeu as fronteiras da própria Europa, passou a ser praticado em uma
escala mundial. Abria-se, assim, um mercado ultramarino, principalmente para os tecidos ingle-
ses. O segundo fator foi que, com o início da exploração das riquezas minerais do Novo Mundo,
o velho Continente foi invadido por um afluxo de prata que monetarizando a economia e pro-
vocando alterações nas relações de trabalho. Dessa forma, muitos pagamentos que antes eram

28
História - História Moderna I

feitos em trabalho ou em produtos passaram a ser feitos em espécie, ou seja, em dinheiro. Essas
transformações esboçaram também o princípio de uma divisão social do trabalho na Inglaterra.
O afluxo de metais preciosos na Europa também provocou um aumento nos preços, levan-
do ao aumento do valor dos produtos têxteis e dos alimentos, ocasionando inflação.
Com o incremento da atividade comercial houve também uma pressão pelo aumento da
mão de obra, e, por conseguinte, de uma maior demanda por alimentos. Com isso, muitos pro-
dutores se enriqueceram.
Assim, aqueles que não tinham mais que a força de trabalho para vender, ficaram mais po- Glossário
bres; aqueles que viviam para o comércio ou para produção de alimentos, enriqueceram.
Guildas: corporações
Setores como as classes médias prosperaram, e, guardadas as devidas proporções, pode-se artesanais ou corpo-
considerar que até mesmo a grande aristocracia feudal, e mesmo o rei e bispos, “ficaram mais po- rações de ofício, eram
bres”, pois suas rendas se estagnaram. associações de artesãos
Porém, essas transformações proporcionaram um desenvolvimento desigual na Inglaterra. de um mesmo ramo,
O advento do comércio ultramarino serviu para dinamizar apenas algumas áreas da Inglaterra. isto é, pessoas que
desenvolviam a mesma
Basicamente somente as regiões sul e norte do país é que conheceram maior prosperidade. atividade profissional
Outra importante transformação de ordem econômica foi a que se registrou na indústria e e procuravam garantir
no comércio. Na indústria houve o desenvolvimento da fabricação de tecidos a partir da lã de os interesses de classe.
ovelhas. Ocorreram na Europa,
O desenvolvimento industrial também não seria possível sem um aumento da exploração durante a Idade Média,
e mesmo após. Cada
da mão de obra. Com o “putting out system”, ou sistema doméstico, era possível produzir tecidos cidade tinha sua própria
a baixos custos. corporação de ofício. Es-
O advento do colonialismo com a exploração de territórios na América constituía um pro- sas corporações tinham
missor mercado para o escoamento de produtos manufaturados e, ao mesmo tempo, possibilita- como finalidade prote-
va o acesso a matérias-primas e riquezas minerais. ger seus integrantes.
Putting out system:
Com a derrota da “Invencível Armada” Espanhola, a Inglaterra conquistava a supremacia nos sistema doméstico que
mares. Após esse conflito, praticamente cessaram os conflitos externos, e as tensões passaram a predomina na Idade
se voltar para dentro. O Parlamento passou a questionar a Monarquia, principalmente a partir da Moderna quando os
ascensão dos Stuarts. burgueses passaram
Começava a se acentuar um processo de diferenciação social: surgia uma classe agrária com a ser considerados
“empresários”. Caracte-
uma mentalidade mercantil e com interesses próprios. Todavia, esses grupos esbarravam nos rizava-se pelo fato de
obstáculos à expansão do capitalismo, da indústria, comércio e agricultura. o Burguês oferecer ao
Talvez o mais representativo desses obstáculos fosse a existência das Guildas que controla- artesão a matéria-prima
vam o comércio, a produção, a qualidade e o número dos produtos, ou seja, as Guildas contro- e às vezes até as ferra-
lavam todas as etapas de produção. Isto constituía um entrave ao pleno desenvolvimento das mentas necessárias para
a produção de determi-
atividades industriais e comerciais. As Guildas representavam os interesses da estrutura social do nados produtos.
feudalismo.
As Guildas revelavam sua incompatibilidade com o sistema econômico em vigor, já que na-
quele momento não se tratava mais de mercados locais, mas tratava-se de atender às demandas
de um comércio que era praticado em escala mundial. Com o impulso da colonização também
houve um aumento significativo do volume de comércio. O conjunto dessas transformações eco-
nômicas levou à acumulação primitiva de capitais que seriam investidos para financiar a Revolu-
ção Industrial.
A coroa também procurava submeter a indústria e o comércio, porém a tentativa de imposi-
ção de monopólios falhou e teve péssimos resultados.

2.4.2.2 Questão da Terra

Como foi discutido anteriormente, Henrique VIII, em sua luta contra a Igreja, obteve apoio
do Parlamento e de grupos mercantis, o que resultou na expropriação fundiária dos Mosteiros.
As terras antes pertencentes à Igreja Católica foram sistematicamente lançadas ao mercado.
Assim, aqueles setores médios, principalmente envolvidos no comércio ou na criação de
ovelhas, e que se enriqueceram com a venda de alimentos e de produtos derivados de lã, pude-
ram também comprar terras.
Até então, a terra, na Inglaterra, era cultivada com meios tradicionais, com mão de obra fa-
miliar e, geralmente, passava de pai para filho. Após o advento da Reforma (que disseminou uma
nova visão acerca do trabalho) e com as expropriações realizadas por Henrique VIII, surge uma
nova perspectiva, uma nova ética em relação à terra.

29
UAB/Unimontes - 5º Período

Anteriormente, as terras eram vistas, quase sempre, somente como um meio para se garan-
tir a subsistência. A partir de então, a terra passou a ser encarada como uma mercadoria. Os se-
nhores começaram a ver a propriedade fundiária como uma fonte de renda, um meio para se
poder ganhar dinheiro.
Essas transformações provocaram uma revolução econômica e moral na Inglaterra. A partir
de então, a agricultura pôde ser desenvolvida a partir de métodos capitalistas. Isso teve como
efeito uma maior exploração dos camponeses.
Apesar da força econômica que muitos proprietários de terras passaram a ter, eles possuíam
um poder político meramente local e não eram eleitos para o Parlamento, o que cabia somente
aos aristocratas.
As transformações de ordem econômica fizeram com que emergisse na Inglaterra uma prós-
pera nobreza rural. Era essa mesma nobreza enriquecida que tentava romper os entraves para o
pleno desenvolvimento do Capitalismo. Ainda havia uma pequena nobreza rural, proprietária de
terras, mas sem capital, mas também com uma mentalidade capitalista. Porém, esses grupos es-
barravam numa aristocracia parasitária e que não estava diretamente envolvida com o desenvol-
vimento de atividades produtivas. Era um segmento que mantinha toda a pompa e circunstância
dos rituais aristocráticos e era mais focado na Corte do Rei. Porém, esses grupos tinham imenso
poder político e podiam ser eleitos para integrar o Parlamento.
Como foi discutido anteriormente, com as mudanças sociais e econômicas que ocorreram
nos séculos XVI e XVII, que permitiram a emergência de novos grupos sociais enriquecidos, essa
prosperidade foi desigual e não atingiu a todos os setores e regiões da Inglaterra. A própria Coroa,
Bispos e a nobreza parasitária ficaram proporcionalmente mais pobres, embora não enfrentassem
dificuldades para as suas necessidades mais elementares. Esses grupos se encontravam em franca
decadência e não era raro encontrar alguns deles endividados com algum mercador da cidade.
Apesar disso, possuíam imenso poder político e não era exagero considerar que o Estado
existia para servir e assegurar os seus interesses.
O Estado constituía, portanto, um empecilho para o avanço do Capitalismo no campo. A
maior parte das terras na Inglaterra do período não era usada no limite de suas capacidades técni-
cas, e elas poderiam ser mais bem exploradas.
Diante disso, é possível considerar que as transformações que ocorreram não foram causadas
por uma melhoria nas terras, mas por um aumento no volume da produção e também pelo aban-
dono de técnicas rudimentares. Essas mudanças, em si, não tiveram qualquer efeito revolucioná-
rio, mas levaram a implantação de uma agricultura comercial que enriqueceu os proprietários.
Essas transformações também significaram o aumento da exploração dos camponeses. A
muitos não restara mais que a mão de obra, a força de trabalho para vender. Muitos deles foram
transformados em proletários para trabalharem nas fábricas, ou, então, convertidos em vadios.
Nisso, a legislação teve papel fundamental. A lei dos Cercamentos liberou mão de obra no cam-
po e, além disso, foi baixada uma legislação que proibia a vadiagem, contribuindo ainda mais
para tornar ex-camponeses em proletários nas indústrias, que davam seus primeiros passos no
desenvolvimento.

BOX 1
Enclosure Acts - As Leis de Cercamentos

As Leis de Cercamentos (Enclosure Acts) foram sendo editadas por sucessivos monar-
cas ingleses, mas que ganharam maior fôlego a partir de meados do século XVIII. Essa altera-
ção consistiu em uma crescente ação de privatização de terras que eram de uso comum dos
camponeses, através do cercamento desses locais realizado por poderosos senhores locais. A
paisagem rural inglesa que era caracterizada pelo openfield (o campo aberto, sem vedação)
passou a ter sua exploração nos campos fechados.
As terras comunais inseriam-se em uma tradição econômica de utilização comunitária
que remontava à Idade Média, e sua privatização representava a ruptura das relações capita-
listas com o antigo mundo feudal. O senhor feudal deixava, assim, de ser o detentor da posse
de terras para se tornar o seu proprietário.
Os camponeses que utilizavam as terras de forma comunal e dela extraíam madeira, caça
e outros produtos viram-se privados dessa fonte de recursos. A incapacidade de produção em
seus pequenos lotes de terras obrigou esses camponeses a abandoná-las – sendo então apro-
priadas pelos grandes proprietários – e a tentar melhores condições de vida nas cidades.

Fonte: Cercamentos e Revolução Industrial Inglesa (Adaptado). Disponível em <http://www.brasilescola.com/historiag/

30 cercamentos-revolucao-industrial-inglesa.html>.
História - História Moderna I

Como foi observado um pouco antes, o desenvolvimento da Inglaterra foi desigual e não
atingiu todos os setores e lugares da sociedade. Ainda houve, em algumas áreas, a manutenção
de um campesinato semi-independente, que também chegou a se aliar à burguesia, mas foi ali-
jado do poder no curso do processo revolucionário.

2.4.3 O Fundo Político

Em meados do século XVII, na Inglaterra, ainda havia muitos interesses em comum entre a
Monarquia, a burguesia, a grande e a pequena nobreza, de modo que “As linhas de divisão entre
as classes ainda não tinham se cristalizado...” (HILL, s/d).
Em parte, esses grupos de distintas origens sociais mantinham-se unidos com a expectativa
de ganhos com o comércio ultramarino – a exploração das colônias – que se desenvolvia, e com
a oportunidade de saques e pilhagens por meio da pirataria aos navios (principalmente de na-
vios espanhóis) que vinham carregados de riquezas das colônias. Essa expectativa de ganhos e
de lucro uniu nobreza e burguesia.
Tanto o comércio ultramarino quanto a pirataria tiveram papel importante na acumulação
primitiva de capitais na Inglaterra.
Com isso, a grande nobreza feudal passava a depender mais da Corte, tornando-se cada vez
mais parasitária. Diferentemente, a burguesia e a nobreza mercantil passavam a não depender
tanto da Monarquia e iam se tornando mais independentes.
No século XVII, por diversas vezes, a Coroa utilizou a burguesia para defender-se de inimigos
externos e internos. Em mais de uma oportunidade, a Coroa se valeu da burguesia para afastar
seus opositores no estrangeiro e para defender o Parlamento de revoltas da pequena nobreza.
Durante a Dinastia dos Tudor, havia uma comunhão de interesses entre a Coroa e o Parla-
mento. Sob os Tudor, o Parlamento raramente se reunia. Porém, a burguesia passou a não depen-
der tanto da Monarquia, quando começou a haver uma divergência entre a Coroa e o Parlamen-
to. O que contribuiu para a independência da burguesia foi, por exemplo, os preços que subiam
exponencialmente e, com isso, a burguesia se enriquecia. Grandes proprietários e a própria coroa
se mantinham estacionárias.
Com isso, a Coroa tenta limitar a burguesia ao impor impostos e criar Monopólios. Isso, to-
davia, conduziu a violentas disputas com o Parlamento. Ambos os resultados se revelaram desas-
trosos.
Através dos monopólios, a Coroa procurava controlar e canalizar a atividade comercial nas
mãos daqueles que não produziam, ou seja, da classe parasitária. Tratava-se de privilegiar os
grandes proprietários de terras.

2.4.3.1 Resistência aos Stuarts

A política externa de Jaime I estava ligada tanto às finanças quanto à religião. Além disso, o
Monarca inglês tentou levar adiante uma política de aproximação com a Espanha. Toda essa con-
duta teve resultados negativos e suscitou muitos conflitos.
A política de aproximação de Jaime I com a Espanha fez com que o Monarca inglês passasse
a sofrer oposição dentro da própria Inglaterra já que a Espanha era muito odiada pelo conjunto
da população inglesa.
Também houve discordâncias entre a Coroa e a burguesia quanto à política externa. Exem-
plo disso pode ser visto, por exemplo, na relação com a Irlanda. Enquanto a Coroa via na Irlanda
uma oportunidade de exploração por parte de elementos aristocráticos, a burguesia via nessa
área uma oportunidade de se obter lucro com o comércio.
A política externa de Jaime I visava angariar recursos. Enquanto isso, a burguesia se enrique-
cia e perdia a confiança na Coroa.
Assim como Jaime I, o Monarca Carlos I também deu continuidade a uma política com vistas
a angariar recursos. Os expedientes financeiros do governo de Carlos I afetaram a todas as clas-
ses sociais. Desse modo, a fim de levar adiante a sua política, tributos feudais foram restabeleci-
dos e mesmo ampliados, afetando proprietários de terras e seus arrendatários. Além disso, ainda
houve a tentativa de imposição de monopólios que afetavam os homens de negócios e peque-
nos produtores e privilegiavam a classe parasitária da Corte, que não desempenhava atividades

31
UAB/Unimontes - 5º Período

produtivas. Além do mais, os monopólios recaíam sobre os bens de primeira necessidade, como
o sal, o que fazia aumentar os preços, atingindo principalmente os mais necessitados. A política
de monopólios constituía um verdadeiro obstáculo ao pleno desenvolvimento do país.
Com isso, crescia a oposição ao governo, principalmente por parte de famílias proprietárias
de terras que estavam ligadas ao Parlamento por relações de casamento e relações comerciais.
Essa oposição foi realizada principalmente na recusa sistemática ao pagamento de impostos.
Esse período também foi caracterizado como uma sucessiva submissão da Igreja anglicana.
Na época das rebeliões de 1640, o histórico de dependência da Igreja em relação à Coroa já tinha
uma longa trajetória de dependência. A aliança que costuraram tinha a mais completa comu-
nhão de interesses.
Ao mesmo tempo em que a burguesia e a Coroa se afastavam, os grupos ligados aos setores
mercantis logo começaram a atacar o Estado, o que correspondia quase ao mesmo que atacar a
Igreja anglicana.
Cingiu-se uma luta ferrenha pelo controle da Igreja. Por trás dessa questão evidenciava-se
um conflito entre o Anglicanismo e o Presbiterianismo. Enquanto o Anglicanismo era partidário
da defesa da Monarquia, da ordem e da autoridade da Coroa, o Presbiterianismo constituía um
foco de oposição expresso pelo puritanismo religioso.
Não bastassem essas disputas políticas e religiosas, estourava na Escócia uma rebelião que
vinha expor a flagrante fragilidade da Coroa, que não teve forças para oferecer resistência.
Tudo isso conduziu a uma alteração na composição do Parlamento, sendo que o Rei passava
a não ter mais unanimidade entre os homens que compunham a Câmara dos Lordes e a Câmara
dos Comuns.
Outra rebelião, agora na Irlanda, na tentativa de se libertar do domínio inglês, acabou por
enfraquecer mais ainda o poder real.
Acentuava-se cada vez mais a divisão entre os grupos. A burguesia ansiava por um Estado
que representasse seus interesses. Os burgueses deixaram de apoiar Carlos I, não porque ele fos-
se um homem ruim, mas porque ele representava um sistema social obsoleto que impedia o de-
senvolvimento do Capitalismo.

2.4.4 A Revolução
Havia discordâncias entres os diversos grupos em conflito quanto à maneira de conduzir a
revolução. Havia o grupo dos Cavaleiros que tinha mais apoio nas regiões norte e oeste da In-
glaterra. Eram mais indisciplinados, porém mais experientes militarmente. Foram os Cavaleiros
que lutaram ao lado do rei. Havia os chamados “Cabeças redondas”, designação para se referir à
tonsura – o modo circular como cortavam o cabelo –, e que tinha forte significado de escárnio
social. Estes tinham mais aceitação nos meios urbanos, e apesar de serem mais inexperientes nas
lutas, eram mais disciplinados. Os cabeças redondas formaram as tropas que lutaram pela causa
do parlamento.
Dois grupos, ou facções, integravam os “Cabeças Redondas”. Havia uma ala mais moderada,
os Presbiterianos, também designados como partidários do compromisso, e havia uma ala mais
radical, designados de independentes, ou sectários.
Ao mesmo tempo em que a burguesia apoiava muitos desses segmentos, temia-os.
Em meio ao exército rebelde, vai emergir uma facção dos Levellers, algo que poderia ser tra-
duzido como os “Niveladores”, das quais falaremos mais adiante.
O sistema de recrutamento do exército era feito com base no sistema aristocrático e era
através dele que eram fornecidos os oficiais para as Tropas. Assim, somente os nobres e suas
clientelas é que faziam parte do exército, principalmente nas posições de mando.
Esse sistema começou a mudar quando Oliver Cromwell assumiu o controle do Exército re-
belde, ligado ao Parlamento. Cromwell implantou uma nova forma de recrutamento. A partir de
então o recrutamento no exército passava a ser com base no mérito e não no nascimento. Nascia
assim, o chamado Novo Exército Modelo. Com isso, “a promoção tinha lugar pela via do mérito
e não do nascimento...” (HILL, s/d, p.21). Desse modo, a carreira no Exército estava aberta aos ta-
lentos. Para Cromwell, uma Guerra revolucionária devia ser organizada de um modo verdadeira-
mente revolucionário.
Com as vitórias que obteve, prevaleceram as ideias de Cromwell quanto ao modo de recru-
tamento no Exército, e os nobres perderam o direito tradicional de comandá-los.
O Novo Exército Modelo passava agora a ser organizado em âmbito nacional, custeado por
um único imposto.
32
História - História Moderna I

Havia um contraste marcante entre a forma com que eram organizadas as tropas reais e ma-
neira como era organizada as tropas de Cromwell. O Exército de Oliver Cromwell era mais disci-
plinado e organizado, ao passo que a nobreza feudal costumava praticar saques quando lutava
nas batalhas.
As tropas de Cromwell, além de serem mais disciplinadas, tinham liberdade de discussão
nos Exércitos, podendo, inclusive, expressar suas opiniões políticas.
As lutas que foram travadas pelo Parlamento foram ganhas graças à disciplina e eficiência
do Novo Exército Modelo.
As massas organizadas nas Tropas de Cromwell tinham consciência política, sabiam por que
lutavam. O Exército estava organizado, pago com regularidade e passou a influenciar na política.
A influência política que os militares passaram a ter e o método democrático de recruta-
mento adotado foram interrompidos com o temor de que seu programa pudesse vir a se tornar
muito radical e ameaçasse a própria propriedade privada. Com isso, diante desse temor, teve fim
a democracia no exército.
Os Levellers representavam os interesses da pequena burguesia e sua influência nos Exérci-
tos crescia rapidamente. Entre as suas exigências, pretendiam o fim do monopólio, a separação
entre Estado e Igreja, a abolição de impostos como os do dízimo, a proteção à pequena proprie-
dade e o voto para todos os homens.
Uma revolta promovida pelos Levellers, a fim de levar adiante seu projeto, acabou sendo Dica
duramente reprimida e os seus líderes terminaram sendo fuzilados. Assista ao filme:
Os Levellers também estavam longe de constituírem um grupo homogêneo, prejudicando, A Morte do Rei.
assim, atingir seus objetivos.
Com a eliminação dos seus líderes, a maior parte deles acabou se desviando para movimen-
tos religiosos radicais como os Quakers (que eram mais pacifistas), os Anabatistas (anarquistas) e
os Fifth Monarchists.
Entre os diversos grupos em luta na Revolução inglesa, os Diggers eram os que represen-
tavam ao máximo os interesses daqueles que não possuíam nada. Constituíam uma espécie de
“comunismo” agrário e eram assim designados, em razão dos trabalhos que faziam de cavarem a
terra para o aproveitamento de áreas alagadas.
Os Diggers eram um grupo pequeno. Eles não contavam com uma importante base social
de apoio e foram rapidamente eliminados pela repressão.
Com o advento de Oliver Cromwell ao poder, consolida-se um governo que estabiliza os
grupos em conflito, eliminando as facções mais radicais e promovendo importantes políticas que
vão impulsionar o desenvolvimento do comércio e do capitalismo. Um bom exemplo disso foi a
adoção dos Atos de Navegação que teremos oportunidade de discutir no item referente à políti-
ca econômica mercantilista.

2.5 Absolutismo em Portugal


O importante estudo de Perry Anderson, ao tratar da formação das Monarquias Nacionais
que o autor julgava como principais, não abordou, todavia, a Monarquia portuguesa. Em razão
dessa lacuna, serão dispensadas algumas palavras a esse respeito, ainda que de maneira mais
abreviada. Para compreensão do Absolutismo português é importante ter em vista as aborda-
gens mais recentes da historiografia, conforme foi discutido em páginas anteriores.
Cabe lembrar que Portugal também passou por um processo de centralização política e ad-
ministrativa, porém isto só se consolidou de maneira mais efetiva na segunda metade do século
XVIII. Esse período se deu durante a gestão do rei D. José, que escolheu como seu primeiro minis-
tro Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marques de Pombal. Pombal teria
sido a versão mais acabada do Absolutismo português (MAXWELL, 1996.)
Conforme as análises de José Subtil (1998), da segunda metade do século XVIII em diante, a
imagem do rei como “cabeça da república” se sobrepõe às demais esferas de poder da sociedade.
Inaugura-se, assim, o que ficou caracterizado como uma “administração ativa” em que

[...] o governo legitima-se planificando reformas e levando-as a cabo, contra os


interesses estabelecidos. Daí que a administração deva ser transformada num
instrumento racional e adequado, liberto de todos os constrangimentos de tipo
corporativo. Os oficiais devem ser disciplináveis e livremente amovíveis, [...] (SUB-
TIL, 1998, p. 159-160).

33
UAB/Unimontes - 5º Período

As reformas implementadas por Pombal abrangeram praticamente quase todos os setores


da vida política, social e econômica da sociedade portuguesa.
No âmbito econômico, foram criadas Companhias privilegiadas de comércio e uma Junta de
comércio em 1755, composta por representantes de grandes casas comerciais, com o objetivo de
conceder empréstimos para o desenvolvimento de produtos manufaturados. As Companhias de
comércio criadas na América portuguesa compreendiam as Companhias do Estado do Grão-Pa-
rá e Maranhão, em 1755, da Pesca das Baleias, em 1756, e a de Pernambuco e Paraíba, no ano de
1759. Na Ásia foi criada uma Companhia em 1753. O reino também assistiu à criação da Compa-
nhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro em 1756.
Uma importante medida tomada por Pombal foi a supressão dos estigmas de sangue que
repousavam sobre os chamados cristãos-novos. Em 1497, os descendentes de judeus portugue-
ses, para não serem expulsos do reino, tiveram que se converter obrigatoriamente ao cristianis-
mo, ficando conhecidos como “cristãos-novos”, o que os impedia de ocupar cargos e de terem
acesso a certos benefícios. A medida adotada durante o período Pombalino, entretanto, não era
fortuita, mas visava atrair capitais de judeus dispostos a investirem nas Companhias de comércio.
Também foram realizadas reformas no plano militar no ano de 1763. Foi introduzido um
modelo militar de inspiração prussiana, afastando as técnicas e estratégias dos exércitos da Áus-
tria, Rússia e França, já então vistos como ultrapassados. No reino, as reformas foram levadas a
cabo pelo Conde Schaumburg-Lippe Buckeburg e não estavam destituídas de influência da
Guerra dos Sete Anos (1756-1763) (WELHLING; WELHLING, 1999, p. 317).
Com reformas militares e econômicas, Pombal pôde concentrar poder como jamais nenhum
representante da Coroa conseguiu alcançar. Apesar de tardio, o Absolutismo português não
pode deixar de ser considerado.

Referências
ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista. 2. ed. Tradução de Beatriz Sideau. São
Paulo: Brasiliense, 1989.

HILL, Christopher. A Revolução Inglesa de 1640. 3. ed. Lisboa: Editorial Presença, s/d.

MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal - Paradoxo do Iluminismo. Tradução Antonio de Pá-


dua Danesi. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

SUBTIL, José. Os poderes do centro. In: MATTOSO, José (dir.). História de Portugal, v. 4 (O Antigo
regime). Lisboa: Estampa, 1998.

WELHLING, Arno e WELHLING, Maria José. Formação do Brasil Colonial. 3. ed. rev. e ampl. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

34
História - História Moderna I

Unidade 3
A Economia, Cultura e Religião na
Época Moderna

3.1 Introdução
Nesta unidade veremos como a economia passou de feudal para capitalista por meio do
Mercantilismo, política econômica de transição cuja característica principal é a intervenção esta-
tal. Veremos ainda o Renascimento Cultural e os movimentos de contestação religiosas, denomi-
nados de Reforma e Contra-Reforma.

3.2 Mercantilismo
Não pode deixar de ser mencionado ainda o surgimento de um conjunto de ideias e doutri-
nas econômicas reunidas sob a designação de Mercantilismo que visavam, antes de tudo, refor-
çar o poder do Estado.
Um aspecto bastante acentuado das monarquias dos séculos XVII e XVIII na Europa diz res-
peito à orientação da política econômica conhecida como “Mercantilismo”, que poderia ser ligei-
ramente definida como a intervenção do Estado na economia com vistas a assegurar “proteção
da moeda e dos estoques de metais preciosos, proteção da produção, encorajamento e favores”
(DEYON, 1973, p. 30).
Os críticos do Mercantilismo muitas vezes ignoram que esse sistema era também manufa-
tureiro, agrícola e, além disso, uma concepção de poder do Estado. Pierre Deyon – um dos prin-
cipais teóricos do Mercantilismo e em quem esta parte do texto se apóia para discutir o assunto
– considera o Mercantilismo como um conjunto de teorias e práticas de intervenção econômica
da Europa moderna desde meados do século XV.

3.2.1 Antecedentes Medievais

O Estado Moderno dos séculos XVI-XVIII deve, possivelmente, à comuna medieval sua pri-
meira intervenção na vida econômica e social da população que mantinha sob seu domínio. Os
Estados Monárquicos da Idade Moderna encontraram nessa tradição os primeiros elementos de
sua política econômica. Em certa medida, o Mercantilismo inglês e francês do século XV esten-
deu as práticas urbanas medievais aos limites das jovens monarquias nacionais, visto que aque-
las consistiam num reabastecimento das cidades em produtos alimentícios e matérias-primas,
bem como, entre outras coisas, combater a concorrência dos países de planície e de outras ci-
dades. A semelhança é clara com os principados italianos dos séculos XIV e XV, cuja intervenção
consistia em proteção das comunidades profissionais urbanas, subvencionamento de invento-
res, interesse pelos artistas em metal, vidro e tecidos, bem como pelos cuidados militares ou
financeiros. Na Inglaterra, medidas como a proibição temporária de exportação de lã bruta ou a
liberação mediante pagamento de elevados direitos de saída já vigoravam desde o século XIV.
Havia também o cuidado em evitar saídas de numerário e exportações de ouro. Apesar de te-
rem sido medidas temporárias, foram muito significativas. Na França, após a Guerra dos Cem

35
UAB/Unimontes - 5º Período

Anos, Luís XI interveio na economia, concedendo novos privilégios às Feiras de Lyon. A fim de
evitar saídas de ouro e prata, ajudou a Companhia das Galés com o monopólio temporário de
importação das drogas e especiarias do levante. Para diminuir o preço das importações, enco-
rajou a produção mineira, favoreceu as manufaturas de tecidos finos ou de sarjas de seda, pro-
curando, ainda, diminuir importações de produtos de luxo. Tal intervencionismo respondeu aos
interesses de grandes mercadores e do próprio soberano, criando, assim, uma tradição em ter-
mos de política mercantilista.
Mesmo que muitas dessas práticas pudessem ser observadas anteriormente “não passavam
ainda de medidas circunstanciais, empresas temporárias” (DEYON, 1973, p. 21), de modo que, do
século XVII em diante, a intervenção estatal adquire um caráter sistemático (DEYON, 1973, p. 30).
A forte intervenção do Estado na economia visava garantir uma rigorosa política de monopólios
e controle fiscal, seguida do princípio de que o acúmulo de metais preciosos constituía uma po-
derosa fonte de enriquecimento, ainda acompanhada da busca desmesurada pela balança co-
mercial positiva, ou seja, exportar mais do que importar (VAINFAS, 2000, p. 392).

3.2.2 Esboço de um Primeiro Mercantilismo no Século XVI

No século XVI, todas as grandes monarquias europeias já haviam se enveredado pela via do
intervencionismo econômico. Também já se preocupavam com a balança comercial, com o de-
senvolvimento das manufaturas e com os movimentos internacionais. No Parlamento de Paris,
o chanceler Duprant propunha uma proibição das saídas de espécie com o propósito de desen-
volver a economia interna, proposta defendida por Claude de Seyssel em seu livro. Na Espanha,
Luís Ortiz, por sua vez, defendia em sua obra uma multiplicação das manufaturas e interdição da
exportação de matéria-prima têxtil, algo que evidenciava certa convergência de pensamentos e
planos para a economia. A tentativa de por fim às saídas de numerário foi vista em toda parte
como na França, que renovava a proibição ao longo dos anos, após 1506; e na Inglaterra, onde
a tentativa de submeter todo o negócio dos câmbios ao controle estatal (a fim de acabar com
as fraudes e o tráfico clandestino) resultou em fracasso. A pouca disponibilidade de agentes do
Glossário governo bem como de meios de transmissão e, ainda, a não aceitação dos argumentos dos mer-
Pistola de Ouro: São cadores, os quais defendiam as importações indispensáveis aos fabricantes franceses, inviabiliza-
unidades de ouro utili- vam a vigilância dos portos e fronteiras territoriais. Da Espanha, embora não pudesse sair ouro e
zadas para padronizar prata, pistolas de ouro e reais de prata circulavam daí para a Europa Ocidental toda. Na Inglaterra
e controlar o fluxo do e França, com o objetivo de suscitar novas produções e conceder-lhes privilégios contra concor-
metal no país. Equi- rentes estrangeiros, a coroa incentivou manufaturas que inauguraram fabricações.
valem, guardadas as
devidas proporções, aos Na França, essa intervenção direta do poder monárquico fez-se, talvez, mais multiforme e
lingotes. sistemática já anunciando a prática de manufaturas reais, as quais se mostraram frágeis e efê-
Reais de Prata: São meras, com o tempo, pois dependiam muito do apoio do tesouro real, quase sempre vazio. Ao
unidades de prata lado das subvenções em numerário, os soberanos, por meio de proibições e taxações, tentavam
utilizadas para controle proteger as fabricações nacionais da competição estrangeira. Assim, nota-se, em várias partes, a
e padronização do fluxo
desse metal no país. proibição ou controle da entrada de lanifícios estrangeiros e de mercadorias de luxo, bem como
Lanifícios: Manufatura o incentivo às exportações. Um último traço da intervenção estatal na economia do século XVI
de lã característica do consiste no caráter unificador do Mercantilismo, algo percebido quando do esforço dos príncipes
período moderno. da Europa Ocidental em facilitar as relações no interior de seus Estados, reduzir postagens e or-
ganizar correios. No século XVI, os entraves à livre circulação de homens e mercadorias estrangei-
ras continuam inumeráveis em cada Estado. As taxas recolhidas nas fronteiras sobre mercadorias
estrangeiras conservavam ainda muitas vezes o caráter de simples direitos fiscais e nem sempre
é fácil saber se a fixação de tarifas corresponde a considerações financeiras ou protecionistas. Em
nenhum lugar as ideias e “receitas” constituem uma doutrina coerente. Em nenhum lugar o Es-
tado é bastante poderoso, com aparelho organizado e com as finanças sãs para dar à interven-
ção do soberano a indispensável continuidade. Embora não passem de medidas temporárias, já
anunciam grandes projetos econômicos da Europa Clássica.

3.2.3 O Mercantilismo na França

Entre as várias circunstâncias que contribuíram para o florescimento do Mercantilismo na


França dos Bourbons e na Inglaterra de Elizabeth a Guilherme III, destaca-se a aspereza das com-

36
História - História Moderna I

petições internacionais em que tanto a França quanto a Inglaterra se envolveram e que incitou
seu jovem nacionalismo econômico. O prêmio era a exploração das riquezas do Império Espa-
nhol, o monopólio das reexportações e o benefício da navegação do Báltico ao Mediterrâneo.
A prosperidade da Holanda incomodava a Inglaterra da mesma forma que a dos holandeses
perturbava a França. Isso resultava em conflitos que também apresentavam aspectos tarifários
e comerciais, os quais justificavam ainda mais o intervencionismo estatal na economia. A mo-
dernização do aparelho do estado, tanto inglês quanto francês, contribuiu para os progressos da
prática mercantilista; isso em termos de desenvolvimento do serviço das aduanas, ou seja, das
alfândegas, o que permitiu uma contabilidade mais exata das trocas internacionais, também em
termos de reformas tarifárias.
Os administradores e ministros guiaram-se mais seguramente pelos progressos da reflexão
teórica de autores ingleses e franceses, cujo pensamento econômico ia de encontro às restrições
religiosas. A falta de ouro e prata na Europa Ocidental também justifica as teses mercantilistas.
Algo que gera crises periódicas, compromete os tesouros públicos e o abastecimento dos exérci-
tos e frotas. Tal penúria se explica pelo debate das minas, o entesouramento universal sob forma
de joias e baixelas, bem como o desequilíbrio das forças com o levante e o Extremo Oriente. A
crise econômica, por razões políticas e sociais, gera a intervenção estatal e, na França, o esfor-
ço do ministro Colbert é um plano de reconstrução nacional. Segundo Colbert, a prosperida-
de de um Estado só poderia ser edificada à custa de seus vizinhos na chamada “Guerra de Pra-
ta” (DEYON, 1973). Para melhor conduzi-la, Colbert procedeu a uma nova disposição das tarifas
aduaneiras que consistia, basicamente, em isentar mercadorias manufaturadas dentro do rei-
no. Mas a arma fundamental dessa competição internacional é o desenvolvimento da marinha,
a multiplicação das manufaturas e companhias de comércio. Há um investimento na produção
manufatureira francesa no sentido de torná-la de qualidade sem igual na Europa. Há também um
forte controle das fabricações e fiscalização, a fim de evitar contravenções. Fica difícil apreciar a
eficácia dessas empresas devido à falta de informações estatísticas. Porém, muitos obstáculos se
impuseram às empresas de Colbert, tais como as indigências do campesinato, a ausência de um
amplo mercado interno, a relutância por mercadores em participar de companhias semipúblicas,
entre outros. Por outro lado, subsistiu à morte de Colbert uma marinha reconstituída e, entre ou-
tras coisas, uma manufatura de relas de linho e de cânhamo que se tornou a primeira da Europa.
As companhias coloniais no Atlântico entraram em nova atividade com novos colonos. A pes-
soa e a obra de Colbert foram alvos de duras críticas como também geraram polêmica. Colbert
não compreendeu bem, por exemplo, o caráter multilateral das trocas e não acreditou nas leis
de mercado. São posições que revelam o atraso do pensamento econômico e das instituições so-
ciais francesas em relação ao seu vizinho anglo-saxão. Mas Colbert foi um homem do seu tempo
e não teve culpa se algumas posições suas não foram retidas e se, entre outras coisas, o rei sacrifi-
cou a vocação marítima do reino e escolheu a “glória”, a Guerra Continental.

3.2.4 O Mercantilismo na Inglaterra

Na Inglaterra dos séculos XIV e XV, já esboçando o sistema dos Atos de Navegação, a Coroa
opôs obstáculos à livre circulação e ao livre tráfico dos navios estrangeiros em portos britânicos.
As ameaças externas contribuíram para o seu sucesso. O caráter sistemático da intervenção es-
tatal, no século XVII, se explica como uma resposta à grande depressão econômica a partir de
1620. Formou-se uma comissão de peritos, mercadores, banqueiros para analisar a questão, e as
grandes companhias comerciais prepararam e favoreceram a adoção dos Atos de Navegação.
Como nos demais países europeus, o Mercantilismo adquiriu, na Inglaterra, três formas essen-
ciais: proteção da moeda e dos estoques de metais preciosos; proteção da produção; incentivos
e favores à marinha e ao comércio nacional. Na Inglaterra medieval, a exportação das espécies
fora regularmente proibida. Ao tomar, gradativamente, consciência do caráter ilusório dessa me-
dida, a nação descobriu que a pretensão do comércio no Báltico e nas Índias Orientais exigia saí-
das de prata e que o saldo global dos movimentos de metais preciosos dependia da atividade
econômica geral do reino e do equilíbrio de seu comércio. Para garantir, na medida do possível,
sua subsistência, o reino devia desenvolver certas produções, reservar à sua marinha e a seus
mercadores o controle de suas trocas exteriores, encorajar e desencorajar tráficos de acordo com
a flutuação tarifária. O protecionismo inglês no século XVII é industrial e agrícola. A indústria têx-
til é privilegiada pela coroa e pelo Parlamento, sendo a exportação de lã interditada, pois tal ma-
téria-prima torna-se monopólio dos tecelões ingleses. O tecido oriental também sofre restrições

37
UAB/Unimontes - 5º Período

para entrar na Inglaterra que, para encorajar sua agricultura, soube favorecer exportações de ce-
reais e barrar importações. O terceiro elemento essencial do Mercantilismo inglês no século XVII
foi constituído pelos Atos de Navegação que, visando atingir a marinha e o comércio holandês,
determinou que mercadorias europeias não poderiam entrar na Inglaterra a não ser em navios
ingleses ou do país de origem. Tais Atos contribuíram para a prosperidade da marinha britânica e
suscitaram a hostilidade de países vizinhos, algo que levou a uma discussão sobre a legitimidade
de tal medida.

3.2.5 O Mercantilismo em outros Estados Europeus

Em toda parte nota-se que os projetos mercantilistas são, basicamente, universais. Mas só
há uma política mercantilista eficaz nos séculos XVII e XVIII em que se observa um forte poder
central, uma resposta dos empreendedores às proposições do governo e um mercado nacional.
No caso da Holanda, esta se singulariza pela liberdade que concede aos movimentos internacio-
nais de espécies e moedas; pelo papel de intermediários marítimos que exerciam; pela liberdade
de comércio com o estrangeiro, concedida aos seus súditos; pela resposta tarifária igualmente
rigorosa às mercadorias inglesas e francesas, entre outras coisas. Porém, com o tempo, a mode-
ração tarifária adotada pelos holandeses, seus empréstimos e investimentos no exterior preju-
dicaram suas manufaturas. O Império Espanhol dependia de seus vizinhos para suprir as suas
necessidades, pois ali abundavam preconceitos aristocráticos e considerações mesquinhas para
com o comércio e a manufatura, sobrecarregando-os com taxas elevadas. Nos Países Baixos me-
ridionais que permaneciam espanhóis, haviam reconstituído sua prosperidade material até de-
pois de 1650 quando, devido principalmente à concorrência têxtil, começaram a decair em sua
economia sem, no entanto, obter ajuda espanhola. Mesmo em fins do século XVII, as tentativas
de reestruturação se mostraram frustradas.
No século XVII, os Estados socialmente atrasados em relação à Europa Norte-Ocidental ade-
rem ao Mercantilismo, mas à sua maneira, ou seja, é o Despotismo Esclarecido. Na Rússia, o chan-
celer Natchokin propõe a criação de grandes companhias de comércio para controlar o comércio
internacional e as manufaturas, além da industrialização do país. Essas e outras medidas contri-
buem para a formação de um Estado centralizado e unificado. Assim, nota-se algumas caracterís-
ticas comuns de todas essas políticas mercantilistas, tais como a vontade de unificação e pode-
rio, a empresa monárquica nacional e a política social como segurança anti-insurreição.
Quanto à Suécia, seu esforço mercantilista em favorecer sua produção lanífera para exporta-
ção, acabar com os monopólios holandeses de certos produtos e setores de seu comércio ilustra
bem uma tomada de consciência nacional rumo à Suécia Moderna.
Além do intenso controle estatal e do metalismo, era o princípio da balança comercial favo-
rável que “ditava os outros aspectos da política mercantilista” (DEYON, 1973, p. 31).
Em outras palavras, o Estado deveria conduzir a economia de modo a favorecer as expor-
tações, controlar ou proibir a importação de produtos manufaturados, a fim de obter um saldo
positivo na balança comercial; porém, deveria haver o incentivo à importação de matérias primas
(FALCON, 1982, p. 89).
O princípio da balança comercial favorável não deve ser, entretanto, sobrevalorizado, pois,
quando se trata da importação de matérias-primas, deve haver o incentivo por parte do Esta-
do. O princípio puro e simples, por vezes obstinado, da balança comercial favorável a todo custo,
deu origem a certo “mito”, conforme assinalou Francisco Falcon, não sendo bem entendido entre
alguns estudiosos (FALCON, 1982).
O Mercantilismo constitui, desse modo, um instrumento de geração de riquezas e, nesse
ínterim, o fiscalismo “opera na realidade como um mecanismo de transferência de rendas dos se-
tores mais produtivos e dinâmicos da sociedade para aqueles setores mais retardatários ou es-
tagnados” (FALCON, 1982).
Apesar do fisco se apresentar quase sempre com a sua face mais perversa de extrator de
rendas por meio da tributação, importante salientar também outro aspecto que decerto pouca
oposição despertou, que é o incentivo ao desenvolvimento industrial.

38
História - História Moderna I

3.3 O Renascimento
O Renascimento é definido historicamente como um movimento cultural voltado para a va-
lorização da cultura clássica grega e romana.
De um lado, o Renascimento procura imitar as formas literárias e artísticas da cultura gre-
co-romana; de outro lado, apresenta uma tendência a descobrir, a apropriar-se de conteúdos e
valores humanos transmitidos por essa mesma cultura clássica (NOGARE, 1985, p.56).
Em uma definição, o Renascimento pode ser descrito como um florescimento cultural que
teve lugar na Itália nos séculos XV e XVI e que posteriormente se estendeu por outras nações
europeias (NOGARE, 1985, p. 57), e, em alguma medida, até mesmo outros continentes. A Re-
nascença é um fenômeno tipicamente italiano, mas que teve lugar em outras partes da Europa,
recebendo, naturalmente, características diferentes, adaptando-se às diferentes situações e con-
textos (NOGARE, 1985, p. 58).
Mas, afinal, uma vez que o Renascimento, como o próprio nome sugere, significa um “renas-
cer”, um “nascer de novo”, ao retomar a cultura clássica da Grécia e de Roma, representou mais
uma ruptura ou uma continuidade daqueles valores? É possível considerar que o Humanismo,
maior marca do Renascimento, significa uma enorme diferença em relação ao período anterior,
que é o da Idade Média, mas ainda possui algumas raízes fincadas no medievo.
O apreço pela cultura clássica da Grécia e de Roma foi marcado pela busca de manuscritos
antigos, por exemplo, e de tudo aquilo que remetesse ao período e pudessem servir aos Renas-
centistas como motivo de inspiração para expressarem seus novos valores. Cultivava-se uma ver-
dadeira paixão pela antiguidade clássica (NOGARE 1985, p. 60).
O período dos séculos XV e XVI foi de grandes riquezas na Europa, gerada pelo comércio
com o oriente por meio do mar mediterrâneo, e também a época dos grandes descobrimentos
no Novo Mundo, que, como se sabe, também rendeu grande fortuna aos países europeus. Um
dos principais centros de comércio na Europa desse período era a cidade de Florença, chamada
por muitos de Sereníssima. Com toda a riqueza que circulava em suas ruas, fazia com que inúme-
ros artistas fossem financiados para realizarem esculturas, pinturas, palácios e outros meios com
que a arte pudesse ser expressa. Florença foi, assim, o grande baluarte do Renascimento Italiano
e mesmo da Europa.
Destacava-se no Renascimento a atuação dos Mecenas, que possuíam grande riqueza e fi-
nanciavam o trabalho de diversos artistas. Muitos deles, apoiados pelo mecenato, procuravam re-
tratar a expressão de uma cultura, porém pautada por valores, hábitos e comportamentos típicos Figura 10: Busto de
daquilo que a burguesia pensava de si mesma e procurava representar. Esses artistas expressa- Brunelleschi.
vam, portanto, uma visão dinâmica, progressista, otimista e opulenta do mundo e da sociedade. Fonte: Disponível em
<http://members.iinet.
A luta pela imposição dessa nova cultura era apenas mais uma dimensão de um conflito net.au/~matteoli/html/Ar-
maior que se delineava, pela afirmação da burguesia e de seus valores. ticles/Brunelleschi.html>.
As artes plásticas eram o que condensava as principais preocupações dos renascentistas. A Acesso em 26 out. 2010.
arte que se desenvolveu nesse período era uma arte de pesquisa, de invenções e inovações. Mui- 
tos artistas, antes de pintarem seus quadros, realizavam com-
plexos cálculos matemáticos e geométricos. Nesse sentido, a
arte renascentista acompanhou as principais inovações e con-
quistas no campo da física, matemática, anatomia, geometria,
entre outros domínios do conhecimento. Exemplo disso pode
ser dado com a invenção da perspectiva por Brunelleschi, ou
as pesquisas na área de anatomia realizadas por Michelangelo.
Com essas inovações, os artistas renascentistas procuravam se
distanciar da arte medieval.
Outro importante nome do Renascimento foi Giotto, que
criou uma nova concepção de espaço em profundidade ou
em perspectiva, procurando valorizar os espaços interiores. A
perspectiva linear tem como ponto fundamental o princípio
da unidade.
Ainda pode ser citado, como exemplo, como importan-
te inovação da época, o desenvolvimento da técnica do “olho
fixo”, que produz um efeito maior de profundidade nas obras
de arte. Esses novos métodos, técnicas e inovações se difun-
diam com grande rapidez.

39
UAB/Unimontes - 5º Período

Figura 11: Obra de ►


Giotto
Fonte: Disponível em
<http://luizhenriquepolo-
ni.blogspot.com/2010/03/
biografia-giotto-di-bon-
done.html>. Acesso em 26
out. 2010.

A arte cada vez mais se aproximava da Ciência. A arte, tal como pretendiam os renascen-
tistas, deveria remeter o homem a sua realidade concreta, a uma realidade que condizia com as
condições de vida da população, e não somente dos reis, dos nobres e dos eclesiásticos.
A Itália, e principalmente as cidades de Genova e Veneza, como principais pontos de co-
mércio da Europa com o mar mediterrâneo e o novo mundo, também atraía um considerável
número de artistas. Foi esse cruzamento de influências vindas de diversas partes e lugares que
fizeram com que a Península Itálica se tornasse o berço do Renascimento.
Além da retomada da cultura clássica, uma das principais características da renascença foi
a redescoberta do homem como centro da vida social. No tópico seguinte, veremos como o Hu-
manismo exerceu influência na sociedade renascentista que emergiu no período moderno.

3.4 O Humanismo
Ao se estudar o Humanismo é necessário distinguir dois aspectos fundamentais. O primeiro
deles é o filológico; já o segundo, é o filosófico. Todavia, esses dois aspectos estão ligados entre si.
O Humanismo nasceu a partir das atividades de indivíduos que, desde o século XIV, vinham
se esforçando para modificar e renovar o padrão de estudos ministrado de maneira tradicional
nas Universidades Medievais.
Tinham por objetivo atualizar, dinamizar e revitalizar a maneira como o conhecimento era
transmitido. O ponto de partida para eles consistia no aprendizado das línguas clássicas, ou seja,
o latim e o grego, já que a maioria das obras mais importantes da antiguidade se encontrava nes-
sas línguas.
Os humanistas desejavam reinterpretar os valores cristãos à luz da experiência e dos valores
da antiguidade clássica, que pautava pela valorização do homem e do indivíduo.

40
História - História Moderna I

O Humanismo significa a valorização do homem. O homem se apercebe e se dá conta de


que tem um lugar seu na terra, neste mundo. O homem deixa de passar a vida se preocupando
somente com a sua salvação no outro mundo, e passa a buscar a paz e felicidade na terra. Para os
Humanistas, os homens da antiguidade constituíam os exemplos mais perfeitos de humanidade
(NOGARE, 1985, p. 62).
Nas artes plásticas e na escultura, por exemplo, há o predomínio da figura humana, com o
corpo humano passando a ser retratado de uma maneira idealizada. Muitos artistas, com a finali-
dade de retratarem o homem da maneira mais fiel possível, passam a estudar anatomia e outras
áreas do conhecimento, conforme já aludimos, desenvolvendo-se mais importantes campos do
saber.
O homem renascentista era aquele que deveria dominar vários campos do conhecimento.
Essa preocupação com a formação do homem resultava na importância cada vez maior que os
educadores passaram a assumir. Aspectos como o otimismo passaram a ser valorizados, bem
como a capacidade criativa do homem comum, antes visto somente como um ser destinado à
procriação e ao desenvolvimento de atividades produtivas.
De acordo com essa nova concepção, o homem passa a ser responsável pelo seu próprio
destino, e não mais sujeito à providência divina, que o levava a passar a vida inteira a se preocu-
par apenas com a salvação, em conquistar um lugar no céu.
Tendo como inspiração primordial a cultura antiga, os humanistas consideravam que o co-
nhecimento deveria ser concebido por meio da crítica filológica, da crítica histórica e da crítica
cultural. Isso significava dizer que nenhuma forma de conhecimento deveria ser aceita sem ques-
tionamento. Figura 12: Erasmo de
Roterdã
Isto implicava também ter uma visão mais atenta para aspectos da mudança, da transforma-
Fonte: Disponível em
ção. Assim, o homem poderia desempenhar um papel transformador na história, e o indivíduo <http://www.culturagene-
passava a ser considerado o responsável pelo seu próprio destino. ral.net/pintura/cuadros/
Esse novo tipo de aprendizado iria, inevitavelmente, entrar em choque com os teólogos tra- erasmo_de_rotterdam.
htm>. Acesso em 26 out.
dicionais da época, que defendiam os valores medievais da permanência, da tradição. 2010.
Todas essas transformações não implicavam a negação a Deus. Os pensadores daquele pe-

ríodo consideravam o homem um ser privilegiado por
Deus.
Nesse período, o que normalmente se entendia
por Ciência passou por uma nova elaboração. Emergiu
uma nova concepção de Ciência. Também nesse perío-
do é que foram lançadas as bases da atual Ciência Mo-
derna. A natureza passou a ser vista como um campo
de experimentação e de atividade do homem.
Conforme essa orientação, o homem deve conhe-
cer e agir sobre a natureza, baseando-se no princípio de
que saber é poder. Ele necessitava conhecer para me-
lhor dominar.
Tudo deveria ser submetido à autoridade da razão.
Os fenômenos deveriam ser exaustivamente observa-
dos para a formulação de hipóteses explicativas que,
por sua vez, deveriam ser verificadas por meio da pro-
vocação de uma experiência direta.
Para homens como Leonardo Da Vinci, até mesmo
a arte e ciência deveriam ser conduzidas pela raciona-
lidade.
A religião cristã começou a ser questionada, mas
isso não significava necessariamente negar Deus. Nes-
se sentido, o Humanismo não é um movimento anti-
cristão. Não se pode falar que durante a Renascença
alguém se declarasse ateu. Havia pessoas que questio-
navam certas determinações da Igreja sem que isso im-
plicasse objetivamente na negação do Divino. Apesar
disso, a Igreja da época nem sempre entendeu dessa
maneira e aqueles que não concordavam com as dire-
trizes do catolicismo eram taxados de heréticos, sendo
que muitos deles acabaram sendo queimados nas fo-
gueiras da Inquisição.

41
UAB/Unimontes - 5º Período

Exemplo de pensamento crítico em relação ao catolicismo da época pode ser dado com
Erasmo de Roterdã em sua obra, Elogio da Loucura, livro em que realiza uma sátira mordaz contra
a religião e a Igreja.
Roterdã era um pensador polêmico. Em seus escritos, criticou até mesmo Martinho Lutero
que, por sua vez, acabou o insultando.
Outro exemplo de obra renascentista que, embora não desfira uma crítica direta à Igreja, de-
nuncia a injustiça social e a situação de miséria em que muitos viviam é o livro A Utopia (1516),
de Thomas Morus. Nessa obra, o pensador inglês expressa como deveria ser a vida ideal das pes-
soas em uma sociedade verdadeiramente justa e humana.
Apesar de ter se verificado enorme avanço no Renascimento, esse importante movimento
não deixou também de apresentar algumas limitações. A verdadeira onda de culto ao passado,
em certa medida, tornou-se um obstáculo ao progresso e à criatividade, fazendo com que pouco
se olhasse para o futuro.
Para ficar em apenas um exemplo, pode ser constatado o fato de que nessa época poucos
autores escreveram em suas línguas maternas, predominando quase exclusivamente o uso do
Latim, já que o Renascimento tinha por característica intrínseca a retomada dos valores greco
-latinos. Deixou-se de se desenvolver as línguas nacionais numa época em que poucas pessoas
sabiam ler.
Dentro de pouco tempo o termo “humanista” passou a ser aplicado a todos aqueles que se
dedicavam à crítica da cultura tradicional, ou seja, o termo passou a se referir a professores, clé-
rigos, poetas, artistas, estudantes, entre outros. Em razão do grande poder que a Igreja tinha na
época, vários pensadores e intelectuais passaram a sofrer perseguições e muitos deles acabaram
sendo levados à fogueira pela Inquisição.
Em virtude dessa diversidade de pessoas que passaram a ser consideradas como humanis-
tas, inúmeras correntes surgiram dentro dessa vertente de pensamento, dessa nova forma de en-
xergar a vida e a sociedade. O Humanismo não foi um movimento homogêneo e várias tendên-
cias do movimento tiveram origem nele.
Em Florença, por exemplo, desenvolveu-se a corrente platônica, que, como o próprio nome
sugere, era seguidora das ideias de Platão. Era a chamada Filosofia da beleza e consistia em ver
a arte não como uma mera imitação da natureza, e sim como uma superação no sentido da per-
feição absoluta. Era essa corrente que defendia que a arte deveria ser conhecida tal como uma
ciência, ou seja, defendia que a arte tinha as suas próprias leis, as suas características intrínsecas,
a sua própria natureza.
Outra vertente do humanismo foi aquela que se desenvolveu na Escola de Pádua. Em Pádua,
na Itália, havia um destaque especial para as artes plásticas, que constituía o principal eixo do
Renascimento.

3.5 Reformas Religiosas


Para tratarmos das Reformas Religiosas, este tópico irá se basear nas análises desenvolvidas
na obra Nova História da Igreja, de David Knowles e Dimitri Obolensky (KNOWLES e OBOLENSKY,
1974), e também nos argumentos de Quentin Skinner, no capítulo que dedica à Reforma lutera-
na em seu livro As Fundações do Pensamento Político Moderno (SKINNER, 1996).
Mas, antes mesmo de fazer uma abordagem sobre as Reformas Religiosas propriamente di-
tas, não se pode deixar de dispensar algumas palavras a respeito da biografia daquele que foi
considerado um dos seus principais responsáveis: Martinho Lutero.
A Reforma, de uma certa maneira, pode ser entendida como a obra pessoal de um homem,
Martinho Lutero, mas também como um conjunto de aspirações coletivas de uma Europa que
clamava por uma renovação no âmbito religioso.
Lutero nasceu na cidade de Eisleben, na atual Alemanha, no seio de uma família de pessoas
humildes. Realizou seus estudos na Faculdade de Artes Liberais, onde se formou, mas não parou
por aí. Posteriormente se ingressou no curso de Direito e acabou entrando para um seminário,
ordenando-se como religioso no ano de 1507. Cinco anos mais tarde, obteve o seu doutorado
em teologia em Wittemberg. Lutero teve, portanto, sólida formação.

42
História - História Moderna I

Depois de concluir seus es-


tudos eclesiásticos, Lutero pas-
sou a questionar certas orienta- ◄ Figura 13: Martinho
Lutero
ções da Igreja. Acreditava, por
Fonte: Disponível em
exemplo, que o homem estava <http://principiosda-
totalmente corrompido pelo teologia.blogspot.
pecado original. Ou seja, consi- com/2009/04/vida-de
-martinho-lutero.html>.
derava ser completamente inútil Acesso em 26 out. 2010.
qualquer esforço individual para
se obter a salvação. Dizia que
as boas obras em nada contri-
buíam para a salvação.
Lutero acreditava na ideia
da completa indignidade do ho-
mem. Esse pensamento era bas-
tante influenciado pelas ideias
de Santo Agostinho, que dizia
que o homem era um ser decaí-
do por natureza. Essa doutrina
religiosa rompia com o Tomis-
mo, ou seja, com o pensamento
de São Tomás de Aquino que
por sua vez negava que o ho-
mem fosse detentor de grandes virtudes. Assim, o pensamento de Tomás de Aquino, ao negar
que o homem fosse um ser capaz, contrariava o que defendia Lutero, assim como os humanistas,
que procuravam antes de tudo valorizar o ser humano (SKINNER, 1996, p. 286).
Um ponto fundamental para a compreensão das ideias de Lutero era o que ele entendia por Dica
Justiça Divina. De acordo com o seu pensamento, a Justiça de Deus deveria se dar somente pela João Calvino (1509-
fé. O pecador deveria ter como único objetivo alcançar a fé, pois somente através dela seria pas- 1564) esteve entre
sível da Justiça Divina; somente em decorrência disso é que seria uma pessoa capaz de obter a os primeiros adeptos
redenção dos seus pecados por meio da graça misericordiosa de Deus (SKINNER, 1996, p. 289- das ideia de Martinho
Lutero, mas com o
290). Acreditava, portanto, na graça redentora de Deus.
tempo começou a
A salvação dependia única e exclusivamente de Deus, que poderia destinar o homem para a defender que a salvação
bem-aventurança, como também para a eterna danação. vinha pelo trabalho
A defesa dessas ideias implicava o rompimento com a doutrina da escolástica, com a teolo- justo e honesto e que
gia medieval e, por conseguinte, com a própria Igreja, que passou a lhe fazer oposição. o enriquecimento era
apenas uma graça
Mas não foi apenas essa poderosa instituição eclesiástica que passou a condenar suas ideias.
divina, não podendo ser
Erasmo de Rotterdam foi um dos que o criticaram. O autor de Elogio da Loucura criticava o mon- condenado. Com esse
ge, principalmente quanto à ideia da servidão humana ao pecado, ou seja, de que o homem an- pensamento, Calvino
dava consumido eternamente para o pecado (SKINNER, 1996, p. 287). acaba atraindo muitos
Um ponto que suscitou enorme polêmica na época foi a questão das indulgências. A indul- comerciantes e ban-
queiros. Surge assim, o
gência era o meio pelo qual os fiéis poderiam obter a remissão dos seus pecados mediante o
Calvinismo.
cumprimento de determinadas penas. Porém, na época, os Papas Julio II e Leão X promulgaram e
ampliaram bastante o conceito de indulgência. Chegaram a promulgar uma indulgência plenária
para toda a cristandade, que alcançava até mesmo aqueles que já haviam morrido.
As pregações de Lutero passaram a encampar também uma luta contra as indulgências.
Foi nesse contexto que Lutero redigiu então as suas 95 teses que encontram uma acolhida
bastante favorável na Alemanha, mas que obtiveram uma rápida difusão por outras partes de
Europa.
Com a defesa dos seus pontos de vista, acabou sendo excomungado. Quando foi submetido
ao interrogatório de Vórmia, recusou-se a fazer qualquer retratação.
Nesse meio tempo, Lutero é acolhido pelo chamado Príncipe Eleitor da Saxônia, no Castelo
de Warburg, que lhe dá proteção. Aí teve tempo e disposição para iniciar a tradução da Bíblia do
latim para o alemão, tornando as sagradas escrituras mais acessíveis às pessoas de língua alemã.
Isso teve algumas consequências, já que a Bíblia teve várias edições e um número maior de pes-
soas passou a ter maior conhecimento sobre os ensinamentos religiosos.
Com isso, Lutero passou a ter vários seguidores e muitos deles assumiram posturas radicais.
Com as adesões que obteve, configuraram-se dois grupos que apoiavam as ideias do reforma-
dor: havia uma ala mais humanista e outro segmento mais radical. Isso fez com que o religioso

43
UAB/Unimontes - 5º Período

Glossário tivesse de organizar um culto divino. Na realização do culto, foram extintos a missa particular, a
Sola Fides: significa confissão obrigatória, o preceito do jejum, o monaquismo e o celibato clerical. Foi conservado,
pela fé somente e se todavia, o uso de alguns elementos típicos do catolicismo, como os paramentos litúrgicos, a ele-
constituiu em base para vação solene na missa dominical, entre outros.
a doutrina luterana. Para Naquela época, os príncipes alemães encontravam-se bastante descontentes diante dos pe-
Lutero só se podia valer sados impostos que tinham de pagar à Igreja. Em princípio, não chegou a haver uma forte oposi-
como verdade religiosa,
o que se pode, como tal, ção unida e decisiva contra Lutero.
ser demonstrado pela Lutero contou particularmente com o apoio do príncipe da região do Saxe, na atual Alema-
bíblia. nha. A partir daí suas doutrinas conheceram um rápido alastramento. Logo, questões políticas
Disputação de Lípsia: em muito lhe beneficiaram.
Se dá em 1519 na Ale- A partir do momento em que o reformador começou a contar com a proteção dos príncipes
manha e é o momento
onde Lutero é con- alemães, suas posturas em relação à Igreja vão se radicalizando. Exemplo disso pode ser observa-
frontado por teóricos do quando negou a infalibilidade dos Concílios ecumênicos. Isso significava dizer que decisões
ligados a igreja. O re- tomadas pela Igreja podiam ser questionadas.
formador nessa disputa Houve o estabelecimento do princípio formal da doutrina de “Sola Fides” (literalmente pela
é obrigado a defender fé somente). Em seu entendimento, só se podia valer como verdade religiosa aquilo que pudesse
seus argumentos com
bastante veemência. ser demonstrado pela Bíblia.
Um ponto decisivo na difusão das ideias Luteranas foi a célebre disputação de Lípsia. A par-
tir desse momento, as doutrinas e as proposições feitas pelo religioso deixaram o âmbito estri-
tamente acadêmico e passaram a ser discutidas por toda a população de um modo geral. Essa
difusão aumentava também o tom das discussões, que passaram a ser mais ásperas e acaloradas.
Esses debates foram importantes na medida em que os temas religiosos e mesmo os repre-
sentantes da Igreja passaram a ser dessacralizados. Nessa época, algumas tipografias chegaram a
imprimir panfletos obscenos e caricaturas do Papa e da Igreja.
A negação de Lutero em relação à Igreja não era tanto pela religião, mas pela maneira pou-
co ortodoxa com que se comportavam os homens que estavam nela envolvidos.
Os pontos de vista e as ideias de Lutero inevitavelmente não irão deixar de ter implicações
políticas. Primeiramente porque o que o Reformador entendia por Igreja era algo bem diferente
do que vigorava naquele tempo. Lutero desqualificava a importância da Igreja como instituição
visível. Para ele, a verdadeira Igreja não tinha existência real, mas estava dentro do coração de
cada um daqueles que tinham fé (SKINNER, 1996, p. 292-293).
Lutero repudiava veementemente a ideia segundo a qual a Igreja possuía poderes jurisdi-
cionais e, em razão disso, possuía poderes para dirigir e regular a vida cristã. Para ele, era um ver-
dadeiro absurdo as pretensões eclesiásticas quererem exercer certas prerrogativas em uma so-
ciedade cristã (SKINNER, 1996, p. 294).
Dica Sua crítica recaía não somente sobre a Igreja, mas a todas aquelas instituições que estavam
O homem que não ven- imediatamente ligadas a ela e que se fundamentavam na ideia, de acordo com a qual o Clero
deu sua alma e Lutero constituía um grupo distinto dos demais setores da sociedade e que, por isso, era detentor de
sobre a Reforma. Gior- privilégios. Com esse posicionamento, recusava por completo o Direito Canônico.
dano Bruno e Galileo Não escapa a sua crítica nem mesmo às Ordens Mendicantes que pregavam o ideal de vida
são boas dicas para se monástica (SKINNER, 1996, p. 295).
discutir o renascimento.
Ainda como parte de sua crítica aos poderes jurisdicionais da Igreja, para Lutero o cristão
vivia em um reino espiritual que se constituía em um “governo da alma”, sem nenhuma relação
com os aspectos temporais.
Com isso, Lutero saía de um extremo a outro. Passava então do ataque às autoridades espi-
rituais para uma defesa ardorosa das autoridades temporais. Fazendo jus a esse pensamento, o
poder tinha como um dos seus fundamentos os decretos e atos régios, que eram vistos como ex-
pressão da providencia divina (SKINNER, 1996, p. 297). Assim, o Príncipe tinha o dever de utilizar,
segundo os preceitos da fé religiosa, os poderes que Deus lhe concedeu (SKINNER, 1996, p. 298).
As ideias de Lutero acabaram inspirando outros movimentos semelhantes na Europa. Exem-
plo disso foi a emergência do jovem humanista Zwinglio, na Suíça alemã, que promoveu a difu-
são de algumas ideias reformadas na região.
Entre os camponeses, ideias sociais revolucionárias como o anabatismo também se desen-
volveram. Há que se citar ainda a revolta camponesa liderada por Tomas Muntzer, que sublevou
milhares de camponeses na Turíngia, na região centro-sul da Alemanha, levando a uma radica-
lização e promovendo um violento movimento de repressão liderado pelos príncipes alemães,
que culminou com milhares de mortos. Lutero apoiou a nobreza e condenou a sublevação, isso
porque acreditava e pregava a não resistência diante do quadro de rebelião que tomou conta da
Turíngia.

44
História - História Moderna I

Em 1530, fazendo jus aos próprios preceitos que defendia, Martinho Lutero casou-se com
uma ex-freira, Catarina de Bora.

BOX 2
A Contra-Reforma Católica

Diante dos movimentos de contestação que enfraqueciam a Igreja Católica, esta não fi-
cou parada. Primeiramente, ela iniciou uma série de perseguição às novas denominações cris-
tãs, mas sem obter grandes resultados em seu objetivo de retomar seu poderio. Então ela pas-
sa para um movimento de moralização e reorganização estrutural de si, nas quais se destecam
as seguintes medidas:
Criação da Ordem dos Jesuítas: Fundada em 1534, pelo militar espanhol Inácio de Loyola,
os jesuítas consideravam-se soldados da igreja e possuíam uma estrutura militar, que tinha
por função combater o avanço protestante com as armas do espírito, através da catequização
e da conversão ao catolicismo. No âmbito da catequização, destaca-se o trabalho dos jesuítas
nas novas terras descobertas, visando converter os não-cristãos.
Concílio de Trento: em 1545, o papa Paulo III, convocou reuniões entre católicos, realizadas
inicialmente na cidade de Trento. Esse apresentou, ao final de 18 anos, um conjunto de deci-
sões para garantir unidade católica e disciplina eclesiástica e reafirmando o dogma católico.
Inquisição: O tribunal da Inquisição foi criado em 1231, mas com o tempo foram reduzin-
do suas atividades. Mas com o avanço do protestantismo eles foram reativados em meados
do século XVI. Entre suas atividades foram criadas listas de livros proibidos e julgaram os que
discordavam da Igreja Católica.

Fonte: Reforma Religiosa (Adaptado). Disponível em <http://www.historianet.com.br/conteudo/default.


aspx?codigo=918>. Acesso em 20 mar. 2015.

Referências
DEYON, Pierre. O mercantilismo. (1. ed. 1969) São Paulo: Perspectiva: 1973.

FALCON, Francisco José Calazans. A época pombalina. (Política Econômica e Monarquia Ilustra-
da). São Paulo: Ática, 1982.

KNOWLES, David e OBOLENSKY, Dimitri. Nova História da Igreja. A Idade Média. 2 vols. Petró-
polis: Vozes, 1974.

NOGARE, Pedro Dalle. Humanismo e anti-humanismos: Introdução a antropologia filosófica.


Petrópolis-RJ: Vozes, 1985.

SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo: Atual, 1994.

SKINNER, Quentin. As Fundações do Pensamento Político Moderno. São Paulo: Companhia


das Letras, 1996.

VAINFAS, Ronaldo. Mercantilismo. In: VAINFAS, Ronaldo (dir.). Dicionário do Brasil Colonial
(1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

45
História - História Moderna I

Resumo
Como foi chamada atenção na Introdução, a época Moderna foi um período de muitas ten-
sões. A emergência do Estado no Ocidente europeu foi uma resposta a conjuntura de crise do
final do período medieval.
O Estado absolutista criou a necessidade de exércitos permanentes e pagos com regula-
ridade. Isso se explicava em razão dos constantes conflitos do período, sejam internos com as
inúmeras revoltas que os Estados enfrentaram, sejam conflitos externos que foram travados com
potências estrangeiras.
Na tese defendida por Perry Anderson, a classe dominante na época moderna permaneceu
a mesma do período medieval, ou seja, a nobreza feudal. Boa parte desses grupos era organizada
nos órgãos burocráticos que foram criados, como a Diplomacia, e em outros cargos da adminis-
tração.
Com variações no tempo e no espaço, esse foi um traço comum em todas as monarquias
que se pretenderam absolutas na época moderna.
O conjunto de transformações não se limitou ao político. Mudanças de ordem cultural com
o advento da renascença promovem a ascensão da razão ao primeiro plano no pensamento
ocidental. Paralelamente a esse movimento, ocorreram as reformas religiosas como uma forte
expressão de uma nova sensibilidade religiosa e que, juntamente com o Renascimento, termi-
naram por expressar os valores burgueses. Arte, religião e mentalidades se adaptam aos novos
tempos, contribuindo para a expansão das relações capitalistas.
O Estado absolutista também promoveu uma política econômica intervencionista que asse-
gurou a acumulação primitiva de capital e promoveu o fortalecimento da burguesia e do poder
real.

47
História - História Moderna I

Referências
Básicas

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49
UAB/Unimontes - 5º Período

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História - História Moderna I

Atividades de
Aprendizagem - AA
1) O Estado absolutista que emergiu no Ocidente foi um aparelho feudal reforçado, destinado a
sujeitar o campesinato à sua tradicional posição social.
Das alternativas abaixo, assinale aquela que NÃO foi determinante para a formação desse Estado.
a. As revoltas camponesas no final da Idade Média.
b. A reforma protestante na Alemanha.
c. A ascensão das cidades e da burguesia.
d. O renascimento jurídico propiciado pelo Direito Romano.

2) Pode ser considerada uma consequência da redescoberta e do reflorescimento do Direito Ro-


mano no final da Idade Média.
a. A emergência da cidadania na sociedade europeia.
b. A aliança Rei-Burguesia e a política mercantilista.
c. A legitimação do programa de centralização da monarquia.
d. A contra-reforma na igreja católica romana.

3) O estado espanhol foi formado no século XV pela união de dois reinos medievais surgidos no
processo de reconquista. Assinale a alternativa que corresponde a esses dois reinos:
a. Castela e Leão.
b. Navarra e Aragão.
c. Catalunha e Aragão.
d. Aragão e Castela.

4) O Absolutismo Espanhol foi determinante para o conjunto do Absolutismo europeu, como um


todo. Segundo Anderson, a monarquia Habsburgo “limitou criticamente a natureza do próprio
absolutismo espanhol no seio do sistema que ajudou a criar.” A afirmativa acima indica:
a. O Absolutismo espanhol era uma máquina organizada, racionalizada e centralizada.
b. O Absolutismo espanhol, fortemente militarizado, assegurou sua hegemonia na Europa do sé-
culo XVIII.
c. Não existiu uma completa unificação e racionalização da máquina administrativa espanhola.
d. O Absolutismo espanhol nunca foi determinante para o conjunto do Absolutismo na Europa.

5) O Absolutismo na Espanha apresentou em seu início uma base aparentemente promissora.


Essa base inicial foi possível graças a/as:
a. Conquista da América e a política de casamentos.
b. Política de casamentos e o confisco de terras da Igreja.
c. Conquista da América e o confisco de terras da nobreza.
d. Minas de ouro das Astúrias e a política de casamentos.

6) O Absolutismo na Inglaterra, apesar de seus primeiros movimentos, não logrou sua efetiva ra-
cionalização. Pode ser considerada uma força política que ajudou a neutralizar o poder monár-
quico:
a. A Igreja.
b. O parlamento.
c. A burguesia.
d. Os partidos.

7) É característica básica da política econômica mercantilista:


a. Intervencionismo Estatal.
b. Livre concorrência.
c. Propriedade coletiva dos meios de produção.
d. Trabalho livre e assalariado.

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UAB/Unimontes - 5º Período

8) NÃO pode ser considerada uma característica do Renascimento :


a. O Humanismo.
b. O Teocentrismo.
c. O Individualismo.
d. O Antropocentrismo.

9) Considerando a política econômica mercantilista e as nações europeias, no período dos sécu-


los XV ao XVIII, numere a segunda coluna de acordo com a primeira.

(1) Espanha ( ) Privilegia o Bulionismo, ou seja, o entesouramento dos metais preciosos.

(2) França ( ) Estimulou as exportações e o controle das importações, mantendo a ba-


lança comercial favorável.
(3) Holanda ( ) Aplicou uma política protecionista e manufatureira, privilegiando a pro-
dução de artigos de luxo. (colbertismo).
(4) Inglaterra ( ) Tradicionais financistas na Europa, criaram companhias comerciais para
estimularem o comércio colonial.

Assinale a sequência CORRETA.


a. 1, 2, 3, 4.
b. 4, 3, 2, 1.
c. 1, 4, 2, 3.
d. 2, 4, 1, 3.

10) Comente o papel da religião no contexto da Revolução de 1640, na Inglaterra.

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