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Depois,
ao
reflectir
que,
uma
vez
que
duvidada,
eu
não
era
completamente
perfeito
–
pois
via
claramente
que
conhecer
é
uma
perfeição
maior
do
que
duvidar
–
lembrei-‐me
de
procurar
de
onde
me
teria
vindo
o
pensamento
de
alguma
coisa
mais
perfeita
do
que
eu,
tendo
percebido
com
toda
a
evidência
que
deveria
ter
vindo
de
algum
ser
cuja
natureza
fosse
efectivamente
mais
perfeita.
(...)
Por
exemplo,
eu
compreendia
bem
que
é
necessário
que
os
três
ângulos
de
um
triângulo
sejam
iguais
a
dois
ângulos
rectos.
Apesar
disso,
nada
via
que
me
garantisse
que
no
mundo
existe
qualquer
triângulo.
Ao
passo
que,
voltando
a
examinar
a
ideia
de
um
ser
perfeito,
notava
que
a
existência
está
contida
nessa
ideia,
de
um
modo
talvez
ainda
mais
evidente
do
que
na
ideia
de
um
triângulo
está
compreendido
os
seus
três
ângulos
serem
iguais
a
dois
ângulos
rectos,
ou
na
esfera
os
seus
pontos
serem
equidistantes
do
centro.
Assim,
é
pelo
menos
tão
certo
como
qualquer
demonstração
da
geometria
que
Deus,
que
é
esse
ser
perfeito,
existe.
Na
verdade,
aquilo
que
há
pouco
adoptei
como
regra,
isto
é,
que
as
coisas
que
concebemos
muito
clara
e
distintamente
são
inteiramente
verdadeiras,
não
é
certo
senão
porque
Deus
existe
–
ser
perfeito
de
quem
nos
vem
tudo
o
que
existe
em
nós.
Segue-‐se
que
as
nossas
ideias
ou
noções
–
coisas
reais
que
provém
de
Deus
–
não
podem
deixar
de
ser
verdadeiras,
na
medida
em
que
são
claras
e
distintas.
(...)
mas
se
não
soubéssemos
que
tudo
o
que
de
real
e
verdadeiro
existe
em
nós
provém
de
um
ser
perfeito
e
infinito,
por
claras
e
distintas
que
possam
ser
as
nossas
ideias,
nenhuma
razão
teríamos
que
nos
certificasse
que
elas
possuem
a
perfeição
de
serem
verdadeiras.
DESCARTES,
R.
(1637)
Discurso
do
Método,
pp.32-‐33
PROVA
DA
EXISTÊNCIA
DE
UM
DEUS
COMO
SER
PERFEITO
(NÃO
ENGANADOR)
1)
Um
sujeito
imperfeito
–
que
duvida
e
muitas
coisas
desconhece
–
conclui
que
só
um
ser
perfeito
pôde
ser
a
origem
da
ideia
de
perfeito.
2)
A
ideia
de
um
ser
perfeito
corresponde
à
ideia
de
um
ser
que
não
duvida,
que
tudo
sabe
(omnisciente).
Como
só
o
que
é
perfeito
pode
ser
a
causa
da
ideia
de
perfeito,
conclui
que:
3)
tem
de
haver
um
SER
PERFEITO,
logo,
DEUS
EXISTE
NECESSARIAMENTE.
-
Deus,
uma
vez
que
não
nos
engana
nem
ilude,
é
a
garantia
da
objectividade
dos
conhecimentos:
Sendo
uma
realidade
metafísica
(transcendente)
é
o
fundamento
de
todo
o
saber,
o
seu
alicerce
é
seguro
e
firme.