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Sentenças e Decisões
extraído em 11.04.01

Rejeição de Denúncia: Prova Ilicita

Processo nº 99.001.07.3023-1

Sentença

Trata-se de denúncia oferecida em face de JOÃO, qualificado nos autos, atribuindo-se ao réu o cometimento do
crime de furto mediante fraude, uma vez que, de acordo com a inicial, o acusado, a pretexto de providenciar a
segunda via da sua cédula de identificação, esteve no Posto do Instituto Félix Pacheco da Rua Adriano, em 9 de
dezembro de 1998, e subtraiu para si três espelhos destinados à emissão de carteiras.
A peça vestibular está respaldada em autos de investigação criminal, cujos principais elementos de convicção
certamente são os termos de declarações de fls. 8, 11 e 12, além do auto de apreensão de fl. 7.
É o relatório. Examinados, decido.
A denúncia deve ser rejeitada porque fundada exclusivamente em prova obtida por meio ilícito.
Com efeito, ao acusado atribui-se a autoria de um crime de furto mediante fraude, porque se apossou de espelhos
destinados à emissão de carteiras oficiais de identificação, isto supostamente no dia em que esteve no Instituto de
Identificação para providenciar outra via da própria carteira. De acordo com a inicial, valendo-se da perda da sua
cédula logrou o réu superar a atenção dos funcionários do posto, apropriando-se dos objetos visados.
Ocorre que a acusação, para justificar a deflagração adequada da ação penal, deve encontrar nos autos de
investigação suporte probatório para a atribuição delituosa, obtido este conjunto de evidências, todavia, de forma
lícita. Neste caso as provas juntadas foram adquiridas por meio de flagrante violação das regras constitucionais.
Assim é que os agentes do posto, como eles mesmos declaram, ao se darem conta da subtração e refazendo
racionalmente as atividades do dia em que os espelhos desapareceram, chegaram a conclusão de que JOÃO
seria o provável autor da infração penal.
No entanto, no lugar de noticiar o delito à autoridade policial e obter mandado judicial de busca e apreensão,
optaram por se dirigir diretamente a residência do processado, onde recuperaram parte das coisas subtraídas.
Ora, as garantias constitucionais de preservação da intimidade, entre as quais floresce com mais vigor a que cuida
da proteção do domicílio – minha casa é meu castelo – taxativamente não admitem o ingresso em casa alheia,
salvo nas hipóteses previstas de modo expresso no inciso XI, do artigo 5º, da Constituição da República.
A aquisição de prova, nas circunstâncias do fato, sem recurso ao Judiciário, remonta aos tempos do arbítrio,
quando nenhum lugar estava a salvo da invasão daqueles que tinham por obrigação o dever de zelar pela tutela
dos direitos constitucionais, justamente porque dispunham, e dispõem, de condições reais de abusar do poder.
Cumpre salientar que a suposta aquiescência do investigado, que parece extrair-se da maneira como suas
declarações foram colhidas, não supre e não se confunde com a autorização do morador, porque esta só será
válida, como é intuitivo, se as condições de livre expressão da vontade estiverem presentes. Portanto, o
consentimento do morador como elemento apto a conferir legalidade e legitimidade ao ato de ingresso na
residência alheia, depende da existência concreta de condições para não consentir, resultando o consentimento
inequivocamente da livre opção entre alternativas viáveis. Se agentes policiais comparecem à residência de
qualquer pessoa, nos dias de hoje, sem estarem munidos de mandado judicial, e resolvem entrar e revistar o local,
dificilmente encontrarão resistência e, menos ainda, darão registro ao fato como ele realmente ocorreu.
Cabe ao Poder Judiciário amputar os excessos e, de maneira didática, excluir os elementos de convicção que
tenham sido apurados com base em atos de violação de direitos e garantias fundamentais. Assim deve ser e por
isso todos os documentos pertinentes à apreensão, assim compreendidas as declarações do investigado, os
depoimentos que decorreram da ação policial e, naturalmente, o auto de apreensão, não constituem patrimônio de
prova válido – artigo 5º, inciso LVI, da Constituição da República.
Como outras evidências não foram reunidas, nada resta a fazer salvo rejeitar a vestibular.
Posto isto, rejeito a denúncia oferecida em face de JOÃO, com fulcro no artigo 5º, inciso LVI, da Constituição
da República.
Sem custas.
P. R. Intimem-se.
Anote-se e comunique-se.
Transitada em julgado, dê-se baixa e arquive-se.

Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 2000

Geraldo Prado
Juiz de Direito

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