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VIVÊNCIA EM GRUPO ARTÍSTICO ESPÍRITA

Ney Wendell1

Nenhum homem tem as faculdades completas. Pela união social,


eles se completam uns pelos outros para assegurar seu bem-estar
e progredir. Por isso, tendo necessidades uns dos outros, são feitos
para viver em sociedade e não isolados.
(Allan Kardec)

Na base de nossas conquistas na humanidade se encontra uma instituição que


simboliza e encarna a palavra união: Grupo. A reunião de pessoas em torno de uma
causa promove grandes transformações e revoluções, tanto para construção ou
destruição, tal a força dos braços, mentes e corações unidos.
Nascemos numa célula grupal da sociedade chamada família e nela
construímos e exercitamos nossos primeiros passos de convivência, onde
encontramos nossos amores e desamores e aprendemos a lidar com as diferenças. A
partir desta família seguimos uma seqüência ilimitada de convívios em grupos, desde
a rua onde moramos, escolas, trabalhos, clubes, associações, centros espíritas etc.
O mundo do século XXI vem mostrar a imprescindível necessidade de
trabalharmos em grupos e nos unirmos em conjuntos para mover determinadas
causas. Ao mesmo tempo estamos no paradoxo do isolamento e da separação
causados pelas escolhas pessoais, desestruturação das células familiares, guerras
entre países e um completo sentimento de insegurança movido pela violência
manifestada de várias formas. Há uma perda de nossos espaços de convivência
social, estamos perdendo os sentidos estéticos por uma educação da insensibilidade
cotidiana que nos cerca, ou seja, esquecemos do espaço da beleza da convivência
em nós e na sociedade. Estamos numa crise de sentidos que nos afasta uns dos
outros.
É na religiosidade, como espaço do sagrado e da convivência conosco, com o
divino e com o outro, que encontramos uma possibilidade concreta de resgatarmos,
na prática, o sentido de comunidade, em que cada um é valorizado na sua
individualidade e, assim, trabalharmos em prol de um bem coletivo. Quando nos
colocamos disponíveis em estar nas grupalidades que lutam pelo bem estar
planetário, sentimos que nosso Cristo, mais íntimo e transformador, está conosco,
lembrando quando ele nos disse que “porque, onde estiverem dois ou três reunidos
em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mt 18, 20).
Nas comunidades religiosas reconstruímos a base de nossa convivência em
tribos, em círculos humanos ou coletivos solidários. Muitas vezes são nestes espaços
que encontramos verdadeiros laços espirituais que se constituem novas famílias,
onde teremos a irmandade, a paternidade e maternidade redefinidas por novas
pessoas na junção de amigos ou familiares espirituais. Chamamos estas pessoas
também de companheiros, por se definirem como aqueles que seguem ao nosso
lado, que nos pode dar o apoio necessário na jornada complexa desta encarnação na
terra e, assim, conseguir ser um vencedor das empreitadas nesta vida. Este vencer
1
Artista Espírita, Arteducador, Diretor Teatral, Gestor Cultural, Pesquisador das Artes Cênicas e Membro da Rede Brasileira de
Artistas Espíritas-ABRARTE. Contato: ney.arte@hotmail.com (Salvador-Bahia)
1
segue o que Bezerra de Menezes nos fala (2002, p. 90) que “aprendemos que
vencedor é aquele que cede, ditoso é aquele que serve, feliz é aquele que doa, fiel é
aquele que renuncia”, sendo estas boas pistas de nosso viver bem em grupos.
Além disto, temos como alicerce desta grupalidade aquilo que chamamos de
afinidade. Nós nos vinculamos àqueles com quem temos uma relação afim e isto não
quer dizer pessoas iguais, mas pessoas que se ligam por uma determinada
combinação, sejam de valores, crenças, desejos etc. São pessoas sintonizadas, pois,
vivemos em “campos de sintonia, nos quais os semelhantes se atraem e se unem,
proporcionando reciprocidade vibratória, que eleva ou retarda o avanço espiritual e
moral do ser” (MIRANDA, 2006, p. 86)
Podemos conviver em grupos afins e com completas diferenças pessoais e é
isto que se constitui o grande brilho da relação interpessoal e que nos ensina os
saberes necessários para um crescimento individual. Fica claro que precisamos do
grupo e o universo conspira sempre a nosso melhor caminho, portanto são nestes
aglomerados de centelhas divinas que estão nossos campos de trabalho.
Sendo o espiritismo uma religião a qual temos disponível para seguir em
crença e prática religiosa, é importante sermos um verdadeiro espírita em grupo.
Pelo vínculo espiritual destes aglomerados humanos, somos levados ao encontro de
companheiros de outras jornadas reencarnatórias e, desta forma, ampliar nossas
ligações afetivas ou desfazermos nossos desafetos. Cada membro do grupo
representa um auxílio divino ao nosso aprendizado. São trocas de conhecimentos e
experiências de vida que nos movem para uma rede e que podem nos auxiliar
cotidianamente, facilitando um melhor entendimento do mundo por caminhos já
vividos por outros. É a magia inesgotável da rede que se amplia, não somente de
forma presencial, como virtual, ao vermos uma infinidade de possibilidades de
construção de comunidades pela rede mundial da Internet e outros processos físicos
e virtuais de comunicações.
Entretanto, toda a constituição do grupo depende essencialmente de uma
responsabilidade individual perante aquelas pessoas com quem nós efetivamos um
contato (aproximação) e chegamos a um contrato (vinculação) e, assim, com
determinados compromissos explícitos (regras) e implícitos (disposição)
determinamos a nossa participação. É claro que tudo isso pode ser feito de maneira
espontânea e improvisada, mas, a organização deste vínculo determina a sua
sobrevivência. Não basta somente existir é preciso sobreviver, contornando as
adversidades e gerando novos rumos que garantem o fôlego e o interesse do grupo.
E para uma saudável sobrevida de uma coletividade é necessários alguns
fatores de sucesso, principalmente, quando escolhemos a instituição de um grupo de
arte espírita. Quando falamos destes coletivos é importante deixar claro que, num
grupo, “a obra mais valiosa não é aquela que mais chama a atenção, mas a que
presta mais benefícios à coletividade”. (PRISCO, 1992, p. 58).
Neste sentido, definimos como campo de avaliação, alguns fatores que
determinam a vivência saudável, produtiva e unida dos grupos de arte espírita:

Clareza da causa

Para se constituir, inicialmente, um grupo de artes, deve existir algum


consenso naquilo que une seus membros. Houve alguma demanda para se
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vincularem e com isto feito é preciso ter total clareza da causa ou do grande
anseio/objetivo/foco desta coletividade. Como grupo artístico espírita a sua
centralidade deve ser mantida em torno do eixo da arte e do espiritismo. Não se
pode perder deste centro se não enfraquece os interesses ou se transforma em outra
coisa que não um grupo de arte espírita. E isto se define também pela linguagem
artística básica escolhida que tanto pode ser teatro, dança, música e/ou artes
visuais.
A partir destas linguagens é que nos vinculamos ao ato da produção estética e
nela depositamos nossos interesses, tanto por termos uma afinidade pela técnica
artística adquirida ou pela paixão de praticá-la. Uma causa é um eixo diretivo como
algo amplo que responde a identidade do grupo (características, escolhas estéticas,
formas e itinerários) que abarca os princípios e alimenta todos os objetivos e metas
do fazer grupal. É nele que nos voltamos quando temos dúvida de qual caminho
tomar (qual obra ser construída, atividade a ser desenvolvidas, regras, soluções de
problemas etc.). É a bússola do grupo, onde as direções representam as
possibilidades e que limitam ou ampliam nossas escolhas, pois, ao determinarmos
nossa causa criamos uma fronteira de atuação (não podemos fazer tudo ou abraçar
o mundo).
Há uma definição clara que controla as escolhas individuais do grupo e por isso
é fundamental cautela, segurança e responsabilidade na hora de fixarmos nossa
causa. É claro que a qualquer momento o grupo pode mudar, mas, isso pode
interferir completamente na afinidade deste grupo e com isso acabá-lo por completo.
Ao acabar, não podemos esquecer que a energia da causa permanece, sendo
este um desejo divino, e ela será manifestada/encarnada automaticamente por outro
grupo. Isto responde quando falamos que o trabalho não pára, as pessoas passam,
os grupos terminam, as formam mudam, mas, a energia permanece viva até cessar
sua necessidade. Como grupo espírita, a causa, ao ser criada, se vincula a um
específico campo espiritual que acompanhará cada membro e todas as ações
coletivas e individuais. É como se ligássemos uma tomada a determinado
alimentador de energias e com isto mantivéssemos um compromisso de ideais e
práticas que podem ultrapassar reencarnações.
Há vários exemplos de grupos que lidam com determinada causa artística e
que recebem um acompanhamento direto de artistas e outras pessoas sintonizadas
com este trabalho nos planos físicos e espirituais. É sabido que cada ligação
espiritual vai de acordo com a seriedade e a responsabilidade do grupo, dependendo
disto, para uma conexão permanente e qualificada. A desorganização atrai
desorganização. Quando nos perdemos na causa é um passo para o fim. E outra
coisa operativa é que não existe grupo sem causa, pode ser um aglomerado de
pessoas mantidas por uma eruptiva vontade e que, só pela impulsão, pode não se
firmar. É evidente que a partir da paixão (anseio) e de nosso ímpeto (vigor), se
configuram os momentos iniciais de um grupo. Fiquem atentos a estes ímpetos para
alimentá-los quando forem para o bem de uma coletividade.
E como último ponto fundamental é que a causa nasce e se vincula as causas
pessoais. Ao pensarmos nestas causas próprias na vida, é importante lembrar o
seguinte chamado para nosso ser:

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Fala sobre o bem e atua no bem; refere-te à luz e acende
lâmpadas de esperança; doa a moeda e ensina como adquirir o
pão com dignidade; oferta o agasalho e promove o homem
necessitado; elucida sobre o valor da cultura e ensina o alfabeto;
comenta a excelência da prece e ora sem cessar, agindo e
amando, porquanto, se nos cumpre fazer o melhor ao nosso
alcance hoje (...). (SCHEILLA, 2002, p. 240)

Quando nós não temos claras nossas causas na vida, talvez ainda, não
estaremos prontos para alimentarmos a causa de uma grupalidade. Podemos seguir
de forma inconsciente, mas, é preciso o estado de consciência para utilizarmos sem
ignorância o nosso livre-arbítrio e nossas criações para o bem da humanidade.

Base espírita

Toda crença é constituída de bases de estudos para uma determinada prática


religiosa, no caso do espiritismo temos, ao mesmo tempo, a religião, a ciência e a
filosofia que formam uma plêiade de conteúdos que alimentam toda a estrutura de
uma casa espírita, com seus grupos, trabalhadores e freqüentadores. E numa
definição clara do praticante do espiritismo como espírita, temos as bases de seus
valores referenciados por aquilo que denominamos de homem de bem.
Um espírita deve ver o espiritismo como causa maior na vida, pois, é nele
reservado a atribuição de trabalhador da última hora, como semeador e divulgador
da terceira revelação e seguidor cristão do mestre Jesus como caminho, verdade e
vida, partindo de uma causa eixo: amar ao próximo como a si mesmo e a Deus
acima de todas as coisas.
E quando falamos de grupo espírita, estamos falando que seus membros,
necessariamente, precisam estudar e praticar o espiritismo escolhendo como a
primeira causa de suas ações, mantendo-se como trabalhador consciente de sua
missão e assíduo frequentador das atividades, leitor das obras espíritas e dedicado
na ação do bem. Como espírita, o reconhecemos pelo seu exemplo como pessoa na
família, no trabalho e em vários outros ambientes e também no centro espírita.
Desta forma, como fator de sucesso, temos então, a demanda de cada membro do
grupo artístico ser um espírita como gostamos de chamar: praticante. É uma prática
que se efetiva com toda a responsabilidade, pois,

em todo lugar onde nos encontremos, envidemos esforços para a


verdadeira luta, do amor contra a brutalidade, da educação contra
ignorância, oferecendo a quota de luz que todos possuímos, na
certeza de que este é um dever nosso – espíritas – que não
podemos postergar ou transferir para outrem (SPÍNOLA, 2002,
p.43).

Somos aqueles que nos encontramos vinculados a esta crença e podemos com
isso contribuir cada vez mais com a permanente produção de conhecimento para o
mundo. Isto não mede o nível de equilíbrio espiritual, mas, define uma maior

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proteção e segurança perante as intempéries da vida, além de garantir uma
vinculação mais qualificada e consciente com o plano espiritual.

Gestão participativa

A casa dividida rui, todavia ninguém pode arrebentar um feixe de


varas que se agregam numa união de forças.
(Bezerra de Menezes)

Estamos num momento planetário que nos pede a solidariedade e a ética como
atitudes cotidianas. Há muita corrupção se revelando cada vez mais pelo interesse
público de mudar um quadro social de injustiça, seguindo a necessidade de se
constituir um mundo mais ético. Com isso, não podemos separar a ética de uma
atitude solidária perante o próximo. Iniciando isto pela simples atitude básica que
explicita, esclarece e resolve os conflitos: o diálogo. Ao nos disponibilizar ao diálogo,
estamos agindo no respeito ao outro, aos seus direitos e deveres e contribuindo para
a proximidade afetiva, partindo para nos reconhecermos mutuamente.
Na construção de um grupo é básico o diálogo, o espaço aberto para o
consenso (definições unidas) e o bom senso (definições coerentes) juntando-se
ao respeito às diferenças, que chamamos atualmente de alteridade (conviver com
as singularidades do outro). A pessoa solidária tem um movimento que envolve e
que permite o verdadeiro encontro, sendo isto, representado por um símbolo: o
círculo.
O coletivo em circularidade mostra que cada um tem seu espaço garantido.
Todos podem ver todos e, principalmente, formarem uma unidade. É nesta base que
hoje estamos alcançando um modelo de trabalho grupal mais democrático, em que
as hierarquias se dissolvem em uma equidade de poder e decisão balanceando
harmonicamente o nível de participação de cada um.
O grupo (corpo) é visto como um conjunto formado por suas partes (células),
seguindo também o exemplo de sementes que se constituem em árvores. Podemos
pensar num grupo como uma árvore, que mantém seus ciclos em permanente
dinamismo. Como uma árvore, o grupo sabe que se encontram diante de
intempéries, complicações, críticas etc. Desta forma, salientamos que “a árvore
depredada, experimentando a poda violenta, renova-se e responde à agressão com
a abundância de folhagem, de flores e frutos...”. (SCHEILLA, 2002, p 235)
Como corpo, o equilíbrio é mantido pela a participação e a sincronicidade de
cada membro e, assim, podemos definir a saúde do grupo, em que

compete-nos agora o dever intransferível de não enganarmos


nossa consciência; não utilizarmos o conhecimento das verdades
espirituais em interesse próprio; não ocultarmos a quem quer a luz
da verdade consoladora do Cristo (...) (MENEZES, 2000, p. 146).

Portanto, uma gestão participativa é uma forma de trabalhar que garante,


eticamente, a completa participação solidária e democrática de cada membro nos
encaminhamentos coletivos, em que se afirma “a tarefa de fazer luz em nós para
todos que nos cercam” (Idem, p. 145).

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Metas para sobrevivência

O espírito avança segundo a maneira pela qual ele cumpre sua


tarefa
(Allan Kardec)

O que mais nos move na vida é o fazer, o agir, o ato de criar, ou seja, ter
tarefas. Em um grupo de artes isto é o mantenedor do fôlego produtivo. É sua
respiração para envolver cada um na prática. A produção artística representa uma
das metas centrais deste tipo de grupo e move para uma direção que tem em sua
trajetória. É o que chamamos de projeto, algo definido grupalmente como uma obra
de arte em teatro, dança, música ou artes visuais e que vincula cada pessoa a uma
determinada atribuição para gerar os resultados desejados.
Assim, explicitamos uma meta ligada diretamente ao fazer artístico, como
existem outras metas de estudo, discussões, ações eventuais etc. O importante é ter
metas, é vislumbrar resultados futuros e escolhermos os passos para alcançá-los.
Quando o grupo perde o foco do que fazer, por ter escolhidos muitas metas sem as
devidas condições de realizá-la ou por não ter definido as metas claramente é
provável que se desintegre com o afastamento dos seus membros, perca-se o
interesse e, por fim, acabe. Mas, neste instante de desafio grupal é preciso pensar
que “somente através da perseverança é que se consegue amoldar as ambições aos
atos, tornando-os realizáveis e materializando-os (...)” (ÂNGELIS, 1997, p. 112).
Vivemos para construir algo na vida e como artistas para criar através desta
construção. É este nosso serviço divino, criarmos obras para mostrar, no exemplo, o
nosso aprendizado individual e o desenvolvimento grupal.
Metas são como horizontes. É preciso tê-los para nos localizar no mapa
(direções) e definir as melhores estradas (estratégias). Quando mais alto
alcançarmos mais horizontes veremos, ou seja, quando mais experiente e
desenvolvido, técnica e artisticamente o grupo, poderemos optar com mais clareza e
escolher com maior discernimento. Ao perdermos o horizonte, talvez seja a hora de
rever a causa e a disposição do grupo em crescer juntos para alçar vôos. As boas
metas são aquelas que nascem com a junção de amor (aquilo que nos leva) e
desafio (o que mais nos faz aprender). É quando realmente praticamos a frase:
se queremos, podemos.

Compromisso individual

Você é: instrumento do Divino Mestre, para que as excelsas


melodias da Boa Nova repitam irrepreensivelmente a harmoniosa
mensagem de vida ao mundo atormentado
(Marcos Prisco)

Somos espíritos. Num entendimento de nosso ser integral, é preciso


compreender que “o ser humano é um conjunto harmônico de energias, constituído
de espírito e matéria, mente e perispírito, emoção e corpo físico, que interagem em
fluxo contínuo uns sobre os outros” (ÂNGELIS, 1995, p.20).
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Temos a oportunidade desta encarnação, que se junta a várias outras que
tivemos na nossa história de vida para aprender e evoluir neste mundo de provas e
expiações, como bem define os ensinamentos espíritas. E ao nos deparar com a vida
que temos na atualidade sempre nos perguntamos: qual a nossa missão neste
momento?
Nesta reflexão sentimos, intimamente, que “a hora é de vigilância, de atenção,
para que não percamos a oportunidade que se renova para nossos corações
devedores e carente da misericórdia divina”(MENEZES, 2000, p. 146).
O vislumbre desta missão, que pode ser representada por um conjunto de
ações concretas na vida, esclarece quais os nossos compromissos. Vemos isto como
escolhas efetivadas por nós mesmos para este tempo determinado de vida terrestre.
Pelo nosso livre-arbítrio, podemos rever nossos caminhos, acelerando, atrasando,
adiando ou transformando nosso crescimento, mas tudo se vincula diretamente ao
que chamamos de compromisso individual. É algo que nos faz lembrar o que Joana
de Ângelis esclarece ao dizer que “ninguém, portanto, aspira vencer, aguardando
que outros realizem o esforço que lhe cumpre desenvolver, porque a conquista é
pessoal e intransferível, não havendo lugar para fraude ou enganos” (ANGELIS,
1997, p. 136)
É neste pacto consigo mesmo que determinamos nossas responsabilidades
que, muitas vezes, se referem a um trabalho conjunto. O nosso plantio/colheita em
um grupo específico tem a ver com compromissos espirituais assumidos não
somente com a causa, mas principalmente, com as pessoas.
Falamos de assumir o dizer sim ou não a uma determinada tarefa coletiva. É
um compromisso muito precioso porque envolve diretamente o próximo. Imaginem
uma pessoa que antes de reencarnar assume que será pai de outro e quando, já
encarnado, desiste. O compromisso além de ter sido descumprido, pode ter gerado
um desafeto, uma grande mágoa naquela pessoa. Multipliquemos isto para com um
grupo de pessoas, quantas mágoas poderemos causar ao desistir daquele
compromisso firmado, além de comprometer toda a tarefa escolhida. Pois, cada um
é uma parte (célula geradora) do todo. Tem sua habilidade que servirá para
determinadas metas do grupo. Podemos mudar, mas é preciso consciência de que as
mudanças geram consequências que, talvez, mudem a vida de várias pessoas. Este
é um processo de auto-responsabilidade profunda, em que o “conscientizar-se do
que é, do que necessita fazer, de como conseguir o êxito, constitui para o ser,
chamamento urgente, como contribuição valiosa para o empenho na inadiável tarefa
da revolução íntima transformadora” (ÂNGELIS, 1997, p. 101).

Como um bom exemplo, pode-se escolher um compromisso com determinado


grupo que terá uma grande missão de atender milhares de pessoas, mas por minha
causa desastrosa e inconsequente, posso ter destruído tudo, pelo abandono
impensado neste grande atendimento. Não é calar-se diante das faltas para com os
compromissos, mas, sim ter a maturidade espiritual de assumir as conseqüências.
No momento destas decisões é importante pensar que “os grandes homens são
valorizados pela insistência com que perseverem na manutenção dos ideais que
possuem” (PRISCO, 1992, p.188).
Ao assumir um compromisso é preciso ter a cautela, o discernimento e a
sinceridade consigo e com o grupo para não ferir e atrair para si maiores desafetos.
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Sabemos que para iluminar nossas reflexões, o orar é um caminho saudável para
abrir uma sintonia com Deus nas horas que a vida nos pede decisões de
compromissos. Manoel Philomeno de Miranda (2006, p. 93) fala que “(...) aquele que
ora se potencializa e irradia ondas de harmonia que envolve a tudo e a todos quanto
lhe estão no campo psíquico ou emocional”
Comprometer-se representa um uso consciente do livre-arbítrio. É deixar a
ignorância e atuar com a maturidade. Este amadurecimento é estar desperto,
mostrando-se que
estar acordado é encontrar-se pleno, consciente da sua realidade
interior e das infinitas possibilidades de crescimento que estão ao
se alcance; liberta-se dos medos que o imobilizam na inutilidade;
redescobrir-se a alegria de viver e de agir; ampliar o campo de
comunicação com a natureza e todos os seres; multiplicar os meios
de dignificação humana, colocando-os ao alcance de todos (...)
(ANGELIS, 1997, p. 78).

Podemos negar o trabalho em determinado grupo, ou não, e isto representa


assumir, implicar-se com nossas decisões para um melhor caminho na vida. Este
caminho está ligado a nossa atitude de ser espírita, realmente, e assumir-se
enquanto homem de bem, respondendo pelos nossos atos, sem por isso perder
nossa busca pela felicidade, sem culpar-se diante das escolhas, mas mantendo-se
um responsável consciente.

Organização íntima

Cabe a todo homem e toda mulher dedicados ao Bem, ao Amor e à


Caridade, ao labor de fomentar o progresso sob todas as formas
possíveis, refugiar-se sob a proteção desses Emissários da Luz e
da Divina Misericórdia.
(Manoel Philomeno de Miranda)

Ao identificarmos um caminho para a organização de um grupo, há primeiro


que se prestar muita atenção na organização íntima de cada indivíduo. Sabemos que
nosso bem estar ou mal estar interfere diretamente no equilíbrio do grupo. Falamos
de algo que está por traz, que vem antes e penetra todos os passos de estruturação
de um grupo artístico. Muitas vezes, nos preocupamos e gastamos muita energia
com as tentativas de organizar tempo, materiais, cronogramas, formas de trabalho,
documentações etc., e esquecemos de que nosso ser com todo o seu potencial de
harmonizar ou desarmonizar é que compõe toda a concretização da estrutura grupal.
Somos compostos por um conjunto de emoções, pensamentos, estados físicos,
histórias de vida e energias espirituais que precisam ir antecipando-se no ato de
organizar-se por inteiro e, ao mesmo tempo, dimensionando a mais coerente e
adequada organização, seguindo o nosso estado integral no tempo presente. Este
olhar dá um alívio para que tenhamos calma e estejamos concentrados para criar
formas organizacionais de acordo com nossas capacidades. É um nivelamento entre
estado íntimo e formas externas, que pressupõe menos frustrações, revoltas e

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desuniões que acontecem nos grupos que criam tão inalcançáveis exigências e
impede a todos de crescerem no aprendizado.
É preciso entender que organizar é um planejamento que vem de dentro, que
nasce no espírito e se manifesta através dos diversos instrumentos disponíveis na
atualidade. O tempo, o espaço, as relações e as diversas operacionalizações que
qualificam o equilibrado andamento e a produtividade de um grupo, alcançam seu
sucesso contínuo e progressivas realizações saudáveis para o mundo, quando
escolhemos começar pela nossa essência: o espírito.
Cada passo dado está de acordo o nosso querer em consonância com o nosso
poder, isto é que define as exigências mais equilibradas para organizar um grupo
artístico, para que este aconteça no mundo com exemplos vivos de organizações que
emane energias de bem estar e seja um permanente agregador.
Para potencializar este ato organizador do grupo, sigamos os passos dados por
Cícero Pereira (2000, p. 173), quando nos fala da instituição espírita:

Nossa melhor instituição: o amor;


Nossa maior necessidade: o Evangelho;
Nosso método mais eficaz: a simplicidade;
Nosso êxito no trabalho: equipe;
Nossa bússola teórica: a codificação;
Nosso primeiro dever comunitário: a família;
Nossa melhor administração: promocional;
Nossa primordial divulgação: o exemplo;
Nosso projeto unificador: a união entre os espíritas;
Nossa meta social: o resgate da dignidade humana;
Nossa estratégia segura: nunca ser contra ninguém;
Nossa mais útil discordância: a que fizermos conosco;
Nosso melhor trabalho: a realização despretensiosa;
Nosso maior compromisso: a melhoria íntima;
(PEREIRA, 2000, p. 173)

Que assim seja nosso grupo artístico espírita.

Referências Bibliográficas

ÂNGELIS, Joanna de [Espírito]. Autodescobrimento: uma busca interior.


[psicografado por Divaldo Pereira Franco]. Salvador: Leal, 1995.
__________. Vida: desafio e soluções. [psicografado por Divaldo Pereira Franco].
Salvador: Leal, 1997.
__________. Terapêutica de emergência. [psicografado por Divaldo Pereira
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KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Salvador Gentille. 71ª edição. Araras-
SP: Instituto de Difusão Espírita, 1974.
__________. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Salvador Gentille. 107ª
edição. Araras-SP: Instituto de Difusão Espírita, 1978.

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MENEZES, Bezerra [Espírito]. Atitude de Amor. In: OLIVEIRA, Maria José C.S;
OLIVEIRA, Wanderley Soares de (Org.). Seara Bendita. Belo Horizonte: INEDE,
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___________. Unificação. [psicografado por Divaldo Pereira Franco]. In: O
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MIRANDA, Manoel P. [Espírito]. Reencontro com a vida. [psicografado por Divaldo
Pereira Franco]. Salvador: Leal, 2006.
PEREIRA, Cícero [Espírito]. Crises e paradigmas. In: OLIVEIRA, Maria José C.S;
OLIVEIRA, Wanderley Soares de (Org.). Seara Bendita. Belo Horizonte: INEDE,
2000.
PRISCO, Marcos. Legado Kardequiano. [psicografado por Divaldo Pereira Franco].
Salvador: Leal, 1992.

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