Garantismo: As garantias se apresentam no contexto do Estado Democrático de Direito, que, ao
contrário do Estado totalitário em que vivíamos, apresenta novos meios para se compor conflitos. As garantias são pressupostos basilares e indisponíveis que orientam o acesso à justiça na nossa realidade. Nas palavras de Nucci, é necessário que as garantias fluam da Constituição e imantem todo o nosso sistema.
Parte I – Teoria Geral do Processo Penal
Infração penal: A afronta a um determinado grupo de bens, como a vida ou a integridade física, que gera a lesão do Estado e, consequentemente uma afronta à sociedade; Lide penal: conflito caracterizado pela pretensão punitiva do Estado (jus puniendi) resistida pelo direito à liberdade do indivíduo (jus libertatis); o Consideração: a doutrina de Tourinho afirma que existe uma lide penal e que o Estado limita o seu direito através da garantia do due process of law, que pressupõe dois princípios e o pressuposto da igualidade entre as partes; Nulla poena sine judicio: consiste na garantia do due process, que, nas palavras de Couture é “o direito de não se ver privado de bem ou de direito sem o trâmite de um processo previsto em lei”; Nulla poena sine judice: só o Estado-Juiz é quem aplica a sanctio penal; Princípios do Processo Penal: princípios informativos que, segundo Bettiol, se traduzem na expressão da democracia de um Estado propriamente dita; o Verdade Real: consiste em dizer que o juiz deve tentar buscar uma verdade próxima, ou seja, vem do preceito de que o juiz deve penalizar ao real infrator penal. O juiz penal transige, de certo modo, com o princípio da verdade real, mas bem menos que o juiz cível, que pode aceitar a chamada verdade formal. E.g. o fato de a confissão não importar em renúncia ao direito de defesa; o Imparcialidade: se o juiz se propõe, como terceiro, a prestar provimento jurisdicional, deve ser ele imparcial. Por isso existem suas garantias constitucionais e também alguns impedimentos. Existe a suspeição, que pode ser reconhecida de ofício ou arguida para preservar esse princípio; o Juiz Natural: segundo Tourinho, a representação máxima dos princípios fundamentais da administração de justiça. Consiste na garantia de se ser julgado por um tribunal, à época do fato, de existência determinada em texto legal; o Promotor Natural: consiste na existência de um promotor prévio e imparcial. Não é reconhecida por parte da doutrina, mas, segundo a matéria de aula, se trata de princípio intrínseco; o Igualdade entre as partes: todas as partes têm obrigações, deveres e direitos iguais. Decorre do contraditório. Exige-se, portanto, a necessidade da defesa técnica para resistir-se à Acusação; o Paridade de armas: consiste em colocar acusação e defesa no mesmo patamar, possuindo um equilíbrio de forças. O réu tem mais armas que a acusação para compensar o caráter inquisitivo do inquérito. o Persuasão racional: o juiz não conhece prova fora do universo do processo, sendo, portanto, livre para decidir de acordo com as provas instruídas sob o crivo do contraditório, não devendo conhecer provas obtidas na fase investigatória, a não ser as colhidas em sede cautelar; o Publicidade: em regra, vigora a publicidade absoluta, ou seja, todos os atos são abertos. O ordenamento reconhece, no entanto, a existência da publicidade restrita, a exemplo da permissão de o juiz conduzir determinados atos a portas fechadas. O inquérito, de natureza inquisitiva é, em regra, sigiloso. Súmula 14 (STF): permite que o defensor tenha acesso à prova já documentada e permite que a polícia mantenha em sua posse determinada prova que dependa de outra a ser colhida; o Contraditório: auditatur altera pars. Consiste no direito de se conhecer as alegações da outra parte e poder respondê-las. Para Tourinho, a citação e a resposta do réu prestigiam esse princípio, que nos traz duas regras: Igualdade processual: partes num mesmo patamar; Liberdade processual: liberdade da parte em constituir defensor e produzir suas provas; o Iniciativa das partes: vedação do processo ex officio. O Estado-Juiz, limitando seu jus puniendi, deve ser provocado pelo titular da ação penal; o Identidade física do juiz: o juiz que faz a instrução é aquele que julga; o Ne eat judex ultra petitia partium: o juiz não define além do pedido. Há a exceção da tipificação errada (art. 383); o Inadimissibilidade da prova ilícita: as provas ilícitas devem ser destruídas. O nosso ordenamento também prevê a destruição da prova ilícita por derivação, aquela colhida licitamente, mas cujo conhecimento se deu por meio ilícito; o Presunção de inocência: princípio da não culpabilidade. Não se pode punir ao réu antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. Trata-se de prestigiação máxima do due process e ato de fé no valor ético da pessoa – a prisão cautelar deve ser estritamente legal e só cabe quando necessária, por esse princípio; o Favor rei: norteia a interpretação, que deve ser em favor do réu. É por meio dele que o silêncio não importa confissão; o Duplo grau: princípio implícito que diz respeito à possibilidade de o juiz se equivocar; Parte II – da Persecução Introdução: a necessidade de o Estado depender do Estado Administração para levar a lide penal ao seu conhecimento; o Persecutio criminis in judicio: exercida pelo órgão do Ministério Público; o Persecutio criminis: consiste na investigação em fase pré-processual que se dá pela polícia judiciária; Polícia: Origem greco-romana do vocábulo politeia ou politia; o Divisão: Administrativa: visa assegurar o êxito da administração quanto a algumas limitações de bens jurídicos (e.g. polícia rodoviária); Segurança: age com certa discricionariedade na prevenção do crime; Civil: exerce as atividades de polícia judiciária; o Circunscrição: divisão de competência policial; Rationae loci: em razão do local da infração; Rationae materiae: em razão da especialização; o Hierarquia: existência dos Delegados Seccionais, que substituem os Chefes de Polícia de antigamente; Inquérito Policial: procedimento administrativo de caráter inquisitivo que visa investigar ou elucidar a ocorrência de infrações penais, determinando sua autoria; o Presidência: autoridade – poderes inquisitivos para agir, realizando as diligências que ver como necessárias; o Natureza: tem a finalidade de fornecer subsídio para eventual propositura de ação penal competente; Escrito; Sigiloso; Artigo 20 CPP o Elucidação do fato: visa impedir que os elementos do crime se descontituam ou que se impeça à investigação; o Interesse da sociedade: publicidade do inquérito possa causar perturbações à opinião pública; EOAB: permite que o advogado se comunique com seu cliente e tenha vista do inquérito – na prática, quer dizer que o I.P. não mais é sigiloso; Incomunicabilidade: vedada, à luz da interpretação da impossibilidade da incomunicabilidade no processo militar; Condição do averiguado: objeto de investigação. No inquérito não há Acusação e, portanto, não há defesa, não se fala em “atos processuais”. Trata-se de procedimento inquisitivo e a ampla defesa se dá na garantia dos direitos fundamentais, traduzidos pela possibilidade do habeas corpus; o Instauração: em regra, mediante portaria, mas depende da notitia criminis, o método pelo qual a Autoridade se cientifica do ilícito; Notitia Criminis imediata: aquela obtida por meio do exercício das funções rotineiras pela autoridade. Há a obrigação da instauração do I.P., no caso de crimes de ação penal pública incondicionada e a instauração pode se dar por ofício; Notitia Criminis mediata: aquela obtida por meio do requerimento da parte ou da requisição ministerial ou judicial. Há a obrigação da instauração do inquérito nos casos da requisição, salvo se for exigência manifestamente ilegal. No caso do requerimento, pode ele ser indeferido. O indeferimento é recorrível ao Chefe de Polícia; Notitia Criminis coercitiva: obtida quando, junto com a notícia, é apresentado o autor da mesma – fragrante. Prisão em fragrante: cabe quando o autor acaba de cometer a infração, está comentendo-a, é perseguido e capturado após cometê-la ou é encontrado na posse de instrumentos que possibilitem inferir sua autoria; o Procedimento: lavra-se o auto, ouve-se o condutor e entrega-se o recibo, ouve-se duas testemunhas e depois procede-se ao interrogatório do preso, que deverá ser solto, em regra; o Ação Penal condicionada: depende da representação, que pode ser dirigida à Autoridade, ao MP ou ao Juíz para sua instauração. A representação é oferecida pelo ofendido ou quem o represente e consiste em ato que permite investigar, normalmente sendo feita de maneira oral ou escrita. A representação tem prazo decadencial análogo ao da propositura da queixa-crime; o Ação Penal privada: só há a instauração mediante o requerimento do ofendido ou de quem o represente; o Controle Externo: realizado pelo M.P., na qualidade de custos legis. O membro ministerial pode requisitar diligências e controla a legalidade do inquérito, podendo promover o seu arquivamento; o Prazo: impróprio, que permite dilação, desde que encaminhado pedido fundamentado ao juiz. Normalmente se ouve o representante ministerial; 30 dias: indiciado solto; 10 dias: indiciado preso; o Indiciamento: identificação do averiguado, quando pesam-lhe indícios de autoria. Segue-se do interrogatório e, se necessário, da identificação dactiloscópica, que, em regra, é suplantada pela identificação civil; o Diligências: Positivadas no art. 6º o Término: redige-se o relatório, que relata o que foi feito em sede de investigação. O relatório não contém juízo de valor. Após, é encaminhado ao MP que: Denuncia: inicia a ação penal, com essa pessa que é narrativa (fatos e suas circunstâncias) e demonstrativa (razões); Arquiva: promove o arquivamento do inquérito, que deve ser acatado pelo juiz, salvo em algumas condições, nas quais ele pode proceder segundo o art. 28 CPP; Devolve os autos: se entender que algumas diligências a mais devem ser realizadas; Determina a guarda em cartório: no caso de inquérito sobre crime de ação penal privada; Parte III – Ação Penal Conceito: direito dirigido contra o Estado para obter provimento acerca do exercício do jus puniendi em prática de infração penal; Classificação: subjetiva; o Pública incondicionada: a iniciativa cabe ao Ministério Público – ele é parte e também custos legis. Se inicia pela denúncia e é a regra. A denúncia pode ser decretada inepta Princípios: Obrigatoriedade: consiste em dizer que todo o crime deve ser punido (art. 24) e na obrigação de o Estado em punir o crime; Oficialidade: consiste na competência do Estado e só do Estado em exercer o jus puniendi; Indivisibilidade: não se fala nele propriamente dito, mas existe sua aplicação para vedar que o promotor escolha a quem denunciar, havendo mais de um autor para o crime; Intranscendência: a ação deve ser dirigida em face daquele que pratica a infração; Indisponibilidade: o MP não pode desistir da ação; Conteúdo da denúncia: Tipificação da conduta; Qualificação dos autores; Narração de todos os fatos; Rol de testemunhas; o Ordinário: 8; o Sumário: 5; o Sumaríssimo: 3; Prazo da Denúncia: 5 dias para réu preso e 15 dias para indiciado solto. O prazo é contado a partir do dia em que se abre vista; o Pública condicionada: só pode ser exercida por meio da verificação de uma condição: a representação oferecida pelo ofendido ou por quem o represente. A representação permite retratação e tem natureza processual. O prazo para oferecer a representação é de seis meses após o conhecimento de quem é o autor. Quando há a denúncia, o MP assume a condição de dominus litis; o Privada: iniciativa compete ao ofendido ou a quem lhe represente. Se dá para preservar a intimidade do ofendido; Princípios: Oportunidade ou conveniência: não há a obrigatoriedade quanto a essa ação; Indivisibilidade: Art 48 CPP; Intranscendência: idem acima; Disponibilidade: a perempção e o perdão são meio de o ofendido abdicar do seu direito; Prazo: seis meses após a ciência da autoria; o Privada Personalíssima: Aquela que cabe no crime de erro essencial. Na morte do cônjuge inocente, há a extinção da punibilidade; o Subsidiária da pública: ocorre diante da inércia do MP. O ofendido, pelo seu interesse, promove a chamada queixa-crime subsidiária. Há o impulso oficial. Se o ofendido desistir, o MP reassume sua condição de dominus litis; Parte IV do Interrogatório e da Confissão Conceito: há o interrogatório policial (realizado após o formal indiciamento) e o judicial. O interrogatório integra a autodefesa em sua parcela disponível, segundo o professor. O interrogatório é o meio pelo qual o juiz ouve do réu sua versão dos fatos e confronta-lhe a imputação; o Fases: Dispositiva: Não se pode utilizar o direito ao silêncio aqui. Aqui estão, por exemplo, as perguntas que identificam o sujeito processual – a não resposta aqui é a recusa em responder e não o direito ao silêncio, que uma renúncia à autodefesa; Material: diz respeito aos fatos e circunstâncias propriamente ditas. É aqui que se exerce o nemo tenetur; Confissão: segundo o professor, é atenuante genérica da pena e pressupõe um grau de arrependimento. A confissão que tem efeito é aquela judicial. A confissão admite a retratação em juízo. o Confissão como justificativa de curso de ação: não é admitida, pois não há o arrependimento; o Confissão e o due process: não dispensa o devido processo legal;