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Mas o que se quer nomear quando se fala "currículo"? Basta um breve mapeamento
sobre o que tem sido escrito a respeito deste termo para percebermos que existem
diferentes maneiras de compreendê-lo e significá-lo.
Assim, a questão que me parece pertinente para começar esta breve reflexão pode
ser assim formulada: Que concepção de currículo melhor contribui para consolidar,
fortalecer a parceria entre escola e família, entendida como um processo
permanente de construção entre atores diferentes mas com projetos coletivos
comuns? Projetos esses que, ainda que de forma diferenciada, expressam a
intencionalidade da construção de uma sociedade mais justa e democrática.
Uma outra dimensão inovadora consiste no fato de este novo olhar colocar em
evidência os limites de uma concepção de currículo centrada apenas na sua
dimensão formal, como um produto acabado e materializado nas propostas
curriculares. Pensar currículo a partir do campo conceptual acima mencionado,
implica igualmente percebê-lo como prática social viva, dinâmica e processual
traduzida pelo conjunto de experiências produzidas e vividas por professores e
alunos no cotidiano da sala de aula. É nesse sentido que se distingue o "currículo
formal" do "currículo real", este último incorporando as noções de incerteza,
urgência, dinâmica, acaso, contingência, processo, pluralidade que caracterizam o
processo de ensino-aprendizagem a partir das condições objetivas e subjetivas que
estão postas.
Em termos de permanência, este novo olhar se caracteriza pelo fato de que, apesar
dos questionamentos sobre a natureza e função dos conteúdos escolares, ele não
nega a centralidade e importância dos mesmos nas discussões curriculares. O
currículo é visto assim como o conjunto de representações e práticas que se
organizam em torno do conhecimento escolar. Conhecimento esse produzido num
espaço social com funções sociais formativas e normativas, que precisam ser
devidamente consideradas. Assumir a não-neutralidade dos conteúdos escolares e
as suas implicações político-ideológicas e culturais não autoriza, no entanto, cair
em um relativismo radical que permite afirmar que qualquer saber ou valor ético-
cultural pode e deve ser ensinado nas escolas. Não se trata de negar a necessidade
de selecionar os conteúdos escolares, mas sim de explicitar os critérios desta
seleção de forma consciente e em sintonia com o projeto de escola e de sociedade
no qual se acredita e pelo qual se luta.
Mas em que medida a parceria escola-família pode sair reforçada quando se opta
por uma concepção de currículo como esta acima privilegiada? Em que medida as
mudanças e as permanências apontadas na percepção deste novo olhar sobre o
currículo podem estreitar esta parceria?