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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ

Pós-graduação em Gestão do Espaço e do Território

Marcelo Di Filippo Miné Bastos

Possibilidades da Economia Solidária na Promoção do


Desenvolvimento Social Sustentável e Emancipatório

Taubaté
2009
Introdução

O presente artigo tem como objetivo refletir, através de revisões


bibliográficas e reflexões pessoais, sobre as possibilidades da Economia
Solidária (ES) em contribuir para o desenvolvimento sustentável e
emancipatório nas escalas local/regional.
Para tanto, será primeiramente desenvolvida uma breve fundamentação
teórica e conceitual sobre o tema, para, em seguida, inseri-lo no atual contexto
de aparente reestruturação do sistema capitalista e dos imensos desafios
impostos por esse processo. Nesse percurso, advogar-se-á sobre as
potencialidades da ES em promover o desenvolvimento local/regional, nas
seguintes perspectivas:

a) desenvolvimento sustentável: entendido basicamente como um modelo de


desenvolvimento social que considere os limites ambientais e que não produza
discrepâncias sociais e econômicas;

b) desenvolvimento emancipatório: perspectiva na qual os progressos


sociais e econômicos se dêem num contexto democrático e,
consequentemente, não alienado, de forma que os agentes envolvidos possam
ter no trabalho um espaço para o desenvolvimento da cidadania e da
autonomia.
Tal análise se justifica diante das urgências desencadeadas pelo atual
estágio do modelo de desenvolvimento adotado ao longo das ultimas décadas,
essencialmente degradante e excludente.
É importante salientar, desde já, que não se pretende aqui defender a
idéia de que as praticas da ES sejam em si suficientes para mitigar todos os
problemas sociais, muito menos de transgredir o sistema sócio-econômico
vigente, mas sim que tal proposta pode contribuir valiosamente para a
construção de uma nova cultura política e de trabalho, mais sustentáveis e
culturalmente legitimadas, o que, por sua vez, poderá refletir na construção de
novas possibilidades transformadoras.
Economia Solidária: um paradigma

Encontramo-nos diante se um modelo sócio-econômico no qual o


desemprego e a exclusão social já se tornam estruturais, colocando crescente
massa de cidadãos à margem dos circuitos formais da economia e dos direitos
fundamentais. A presente crise do modelo capitalista, que começa a atingir até
mesmo os próprios capitalistas, reforça a urgência em pensarmos alternativas
mais humanas e sustentáveis.
A idéia de Economia Solidária (SE) não cabe em uma conceituação
delimitada. Ela se insere em um conjunto de propostas, iniciativas e
experiências de produção, distribuição e consumo, criados e recriados
periodicamente, nos quais os paradigmas norteadores, diferentemente
daqueles que prevalecem no modelo capitalista, são em graus variados: a
participação coletiva, autogestão, democracia, cooperação, auto-sustentação,
responsabilidade social e preservação do equilíbrio dos ecossistemas.
(MANCE, 2004)
A perspectiva da ES, portanto, vai além da “cooperativa de produção”
auto ou co-gestionada, e se amplia para um contexto não só econômico, mas
também social, cultural e político mais amplo, possibilitando a criação de redes
nas mais diversas escalas. A seguir estão enumeradas algumas entre tantas
práticas que podem ser inseridas nessa modalidade:

- agricultura ecológica e familiar;


- comércio justo (fair trade);
- consumo solidário e consciente;
- difusão de software livre;
- finança ética;
- movimentos de boicote;
- sistemas de intercâmbio local;
-sistemas de microcrédito e de crédito recíproco, “bancos do povo”;
- sistemas locais de emprego e comércio (LETS);
- sistemas locais de troca (SEL);
Para Singer (2000), as proposta de Economia Solidária constituem um
conjunto de transformações e alternativas que precisam ser buscadas pelos
trabalhadores vitimas das seguidas reestruturações do sistema capitalista,
cada vez mais excludente. Para esse autor, ao criar os alicerces para uma
nova lógica, a ES “permitirá, ao cabo de alguns anos, dar a muitos, que
esperam em vão um novo emprego, a oportunidade de se reintegrar à
produção por conta própria, individual ou coletivamente.”(SINGER, 1998, p.
138)
Apesar do otimismo de Singer, sabe-se dos imensos desafios que se
colocam à frente daqueles agentes envolvidos na construção desse novo
paradigma produtivo e social. Desafios impostos não apenas pela esmagadora
força do grande capital, mas também, muitas vezes, pela própria cultura
política brasileira, ainda avessa às idéias de participação, autogestão, etc...
Nessa condição, o próprio poder público, que poderia ser um fomentador das
práticas da ES acaba se omitindo, dando maior ênfase a políticas
assistencialistas do que emancipatórias, como as que são propostas por esse
novo paradigma.

A Economia Solidária para Além da Geração de Emprego e Renda

Não é objetivo deste breve artigo aprofundar-se na discussão de cunho


mais econômico sobre as crises do sistema capitalista e suas origens. O que
se pretende aqui é refletir sobre as possibilidades do grande leque de
alternativas que permeiam o paradigma da Economia Solidária não só de gerar
renda e emprego para aqueles excluídos temporariamente ou estruturalmente
da economia formal capitalista.
Como já foi apontado anteriormente, e apoiando-se na visão de alguns
autores como o sociólogo Boaventura Sousa Santos, a Economia Solidária, ao
mobilizar os cidadãos em prol de um desenvolvimento fundado na prática
participativa e sustentável (humano e ambientalmente), pode contribuir para a
tão proclamada construção de uma nova cultura política, fundamentada em
novos valores. Para esse autor:
a idéia de participação e da solidariedade concretas na formulação
da vontade geral são as únicas susceptíveis de fundar uma nova
cultura política e, em última instância, uma nova qualidade de vida
pessoal e colectiva assentes na autonomia e no autogoverno, na
descentralização e na democracia participativa, no cooperativismo e
na produção socialmente útil. (SOUSA SANTOS, B., 1995, p.263)

É preciso ressaltar que, ao acreditar nessa possibilidade e lançando-se


mão da citação acima, não estamos, entretanto, afirmando que o tão buscado
Socialismo finalmente se realizará, mas sim que teremos novos espaços para a
ampliação da democracia, para a reversão do trabalho alienado, para a
valorização de culturas e saberes locais e para a construção, enfim, de novas
práticas e organizações sociais.

A Economia Solidária e o Desenvolvimento Regional

Na perspectiva do Desenvolvimento Regional, as redes de ES podem ser


estimuladas pelo poder público comprometido com a idéia de emancipação
social. A pressão dos cidadãos organizados pode contribuir para a instalação
de vetores de força que contribuam para a adoção de políticas que viabilizem
tais práticas. Essa pressão muitas vezes se faz necessária devido ao caráter
ainda predominantemente clientelista existente entre o poder público e a
sociedade civil brasileira.
O apoio técnico e o desenvolvimento de capital social são ações com as
quais o Estado e organizações do terceiro setor podem contribuir, bem como
as Universidades.
No Brasil temos diversas experiências com “incubadoras”, em sua maioria
criadas por universidades públicas, nas quais, apesar do alcance ainda
pontual, avanços têm sido obtidos. Essas universidades se aglomeram no
PRONINC – Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares, e
nessas experiências também se enriquecem, uma vez que, atuando no seio da
praxe social, conseguem superar o mero discurso academicista,
compreendendo melhor a dinâmica dessa praxe e desenvolvendo tecnologias
sociais úteis e aplicáveis.
Na tabela a seguir, pode-se verificar a distribuição dessas incubadoras
nas diferentes regiões do país, bem como o número de empreendimentos
assistidos por elas:

Regiões Incubadoras Empreendimentos


Norte 2 18
Nordeste 8 82
Centro-Oeste 2 16
Sudeste 12 112
Sul 9 87
Total 33 315
Fonte: PRONINC

Como se percebe, a distribuição das incubadoras universitárias e do


número de empreendimentos é bastante desigual considerando todo o território
nacional. Percebe-se claramente uma correspondência à concentração
populacional e econômica de cada região. Apesar disso, não há dúvida de que
tais empreendimentos poderiam se espalhar por todas as regiões caso políticas
públicas com essa visão fossem adotadas.
Em uma escala micro-regional, ou mesmo local, outros agentes poderiam
contribuir para a viabilização dessas sinergias solidárias, tais como:
associações de bairros, ONGs e ativistas do terceiro setor em geral, sindicatos,
etc... Consórcios intermunicipais de Economia Solidária podem ser criados,
estimulando a ampliação dessas pequenas redes.

Economia Solidária e Sustentabilidade

Além da questão da emancipação social e econômica, cabe destacar,


também, o caráter ambientalmente sustentável das práticas de Economia
Solidária.

O incentivo para a organização dos trabalhadores rurais que cultivam


culturas orgânicas, sem uso de agrotóxicos, ou que estão envolvidos em
atividades extrativistas sustentáveis, por exemplo, poderiam conquistar uma
maior disseminação e poder de competitividade nas cidades através de “clubes
de compra” e práticas do consumo consciente. Essas experiências já existem,
mas poderiam ser ampliadas. Além da questão ecológica, é a própria questão
da segurança alimentar, atualmente nas mãos de conglomerados do
agrobusiness, que está em jogo, bem como a sobrevivência digna dos
agricultores.
A questão da agricultura sustentável é uma das mais relevantes, mas o
caráter sustentável da ES, não se esgota nela. Temos, por exemplo, a questão
do lixo urbano, que poderia envolver em escalas muito maiores do que
atualmente, nas diversas etapas de seu tratamento (desde a coleta até a
reciclagem) cooperativas organizadas em redes de ES. Na realidade, as
possibilidades são inúmeras.

Considerações Finais

Nesse início de século XXI já são mais do que visíveis os sintomas de um


modelo de desenvolvimento socialmente excludente, humanamente alienante e
ambientalmente degradante. Para muitos autores, vivemos, nesse alvorecer de
milênio, em uma “sociedade de risco”, onde as conseqüências negativas de
nossas intervenções no planeta começam a se fazer frequentemente
desastrosas. Apesar disso, grande parte das nações e das sociedades
continuam preocupadas com o crescimento econômico a qualquer custo.
Após a derrocada das experiências socialistas, o Neoliberalismo e a
Globalização, mundializaram também as conseqüências negativas da
modernidade. Hoje temas como pobreza, poluição, conflitos culturais não são
mais preocupações imediatas apenas do mundo “subdesenvolvido”.
A nova crise financeira que tem abatido as principais economias do
mundo tem o mérito de “democratizar” os grandes problemas mundiais. É como
se a partir de agora ninguém mais pudesse se sentir completamente imune ou
cego às graves questões que emergem. A “globalização como fábula”
(SANTOS, 2000), ou seja, aquela com a qual todos seriam beneficiados caiu
por terra.
Nesse novo contexto de preocupação com os rumos que serão traçados
para o mundo nas próximas décadas, não podemos nos esquecer da
importância de se mudar as realidades locais. É nessa perspectiva que as
quase infinitas possibilidades trazidas pelo paradigma da Economia Solidária, a
partir de escalas locais e regionais, encontram ressonância com as atuais
necessidades humanas e ecológicas em nível global.
Referências Bibliográficas

MANCE, Euclides. Redes de Economia Solidária. In: Revista Thot, n. 81, p.


06-17, 2004.
SANTOS, Milton. Por uma Outra Globalização. Rio de Janeiro: Record, 2000.
SOUSA SANTOS, Boaventura. Pela Mão de Alice: o social e o político na
pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1995.
SINGER, Paul. Globalização e Desemprego: diagnósticos e alternativas.
São Paulo: Contexto, 1998.

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