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PESQUISA MEDIADORA: ALTERNATIVA METODOLÓGICA PARA DESENHOS DE

INTERVENÇÃO DIALÉTICA EM LINGÜÍSTICA APLICADA

Fábio José RAUEN (Universidade do Sul de Santa Catarina)

ABSTRACT: Dialectic educative interventions in applied linguistics demand methodologies that go


beyond problems of the quantitative and qualitative designs. Alternatively, I present the mediating
design as an action of dialectic case study, which, analytically, aims at transforming the student's
conception of an object of knowledge from a syncretic view to a synthetic one.

KEYWORDS: Applied linguistics; scientific methodology; methodological designs; qualitative research;


mediating research.

0. Introdução

Quando um pesquisador propõe-se a investigar efeitos de uma intervenção educativa


dialética em lingüística aplicada, depara-se com o problema da escolha do desenho metodológico. Se, por
um lado, os desenhos quantitativos, inclusive por razões epistemológicas, são insuficientes para as
demandas; por outro, os desenhos qualitativos atendem apenas de forma parcial as necessidades inerentes
a uma pesquisa de intervenção (cf. LAVILLE e DIONE, 1999).
Neste ensaio, proponho como alternativa o que denominei de pesquisa mediadora
(RAUEN, 2002: 233). Pesquisa mediadora consiste numa ação de investigação dialética de caso, que visa,
por meio de processos analíticos, transformar a concepção de um objeto do conhecimento dos educandos
de uma visão sincrética para uma visão sintética.
Enquanto estudo de caso, a pesquisa mediadora é uma análise profunda e exaustiva de uma
ou de poucas unidades, de forma a permitir um amplo e detalhado conhecimento. Merriam (1998: 21)
define estudo de caso qualitativo como “uma intensa descrição holística e análise de um exemplo único,
fenômeno ou unidade social”.
Dado que a pesquisa mediadora compartilha características com o método de casos, ela
também possui as seguintes características (cf. Merriam, 1998):
a) visa à descoberta – em que se pese partir de teorias, o investigador mediador deve estar
atento a elementos teóricos emergentes dos estudos, pois o conhecimento é de construção contínua;
b) enfatiza a interpretação contextual - o contexto é essencial para uma apreensão mais
completa do caso. A situação clarifica: a manifestação global do problema, as ações, as percepções, os
comportamentos e as interações das pessoas;
c) busca retratar a realidade de forma completa e profunda – dada a complexidade natural
da realidade, buscam-se as relações pertinentes, pois há múltiplas dimensões observadas numa situação
ou problema a serem estudados, sempre com a perspectiva de focalizar o todo;
d) usa uma variedade de fontes de informação – a pesquisa não se contenta com uma única
visão do objeto, mas recorre a vários dados, coletados em diferentes momentos, em muitas situações e
com uma variedade de sujeitos;
e) revela experiência vicária e visa à generalização naturalística;
f) procura representar pontos de vista presentes numa situação social; e,
g) utiliza uma linguagem e uma forma mais acessível – os relatos apresentam, geralmente,
estilo informal, narrativo, ilustrado por figuras de linguagem, citações, exemplos e descrições, numa
exposição clara e direta que se aproxima com a vivência pessoal do interlocutor.
Enquanto pesquisa dialética, a pesquisa mediadora deve estar subordinada aos princípios
dialéticos. A dialética lida essencialmente com o conflito, com as contradições da realidade. Segundo
Demo (1991: 86), seu pressuposto mais fundamental é que toda formação social é suficientemente
contraditória para ser historicamente superável. A dialética é a lógica do movimento e da mudança. O que
é pode ser dimensionado com aquilo que não é, bastando termos em mente o devenir, o vir-a-ser, ao
longo do qual, o que parece contraditório deixa de sê-lo. Assim, há um elo indissociável entre dialética e
história. Uma pesquisa mediadora, portanto, tem de captar essas características.

1. A construção do conhecimento

Em educação, e nas áreas do conhecimento que dela fazem uso, como, por exemplo, a
lingüística aplicada, os métodos de ensino dialéticos procuram superar os problemas cruciais dos métodos
de ensino expositivos. Para a metodologia expositiva, o conhecimento pode ser transmitido de geração em
geração. O professor configura-se como transmissor do conhecimento e como o único elemento ativo do
processo; o aluno, por sua vez, é o depositário desse conhecimento e, desse modo, mero receptor passivo.
Uma postura expositiva, segundo Vasconcellos (1999: 22), não reconhece: a concretude do
estudante; a motivação como essência para a aprendizagem; a construção do conhecimento pela relação
ativa sujeito/objeto/realidade, por meio da mediação do professor e não pela transmissão; a construção do
conhecimento pela ação do educando e não pela ação do professor; os diferentes estágios de
desenvolvimento; a bagagem cultural do estudante; e, a dimensão coletiva do conhecimento.
A superação dessa postura pode se dar pela concepção dialética, onde o conhecimento só
adquire sentido quando possibilita ao educando compreender, usufruir e transformar a realidade. Só existe
construção no sujeito, quando ele opera, transforma e cria, a partir de representações mentais prévias em
relação ao objeto. Isso em mente, o conhecimento não pode ser depositado na mente do educando, nem é
espontâneo, isto é, proveniente do nada. O conhecimento tem de ser interpretado como do estudante e não
para o estudante. De nada adianta expor o conteúdo ao aluno, sem que ele trabalhe esse conteúdo e o
assuma como dele.
A metodologia dialética pressupõe três momentos: a síncrise, a análise e a síntese. A
síncrise consiste numa abordagem da realidade de caráter global, indeterminada, confusa e fragmentada.
Trata-se do chamado senso comum ou conhecimento popular. Os processos de análise consistem em
quebrar a realidade em partes significativas, nesse caso, nunca se esquecendo do todo de que essas partes
surgem. Por fim, os processos de síntese consistem na integração de todos os conhecimentos analisados,
num todo orgânico e lógico mais próximo do conhecimento científico.
Qual é o papel do docente nesse processo? O docente precisa dirigi-lo, estabelecer
estratégias de mediação que possibilitem a elaboração de uma visão sintética de mundo, por meio da
análise dos objetos, tendo sempre em mente a visão sincrética inicial.
Para Vasconcellos (1999: 46), a mediação opera a partir de três dimensões. Num primeiro
momento, deve ocorrer a mobilização para o conhecimento. Essa fase consiste nas estratégias que
possibilitam um vínculo significativo inicial entre o sujeito e o objeto, que permitirão ser o objeto de
ensino um objeto de conhecimento para esse sujeito. Após essa fase, propõe-se a construção do
conhecimento. A construção reflete o confronto entre o sujeito e o objeto, com vistas à apreensão de suas
relações internas e externas. Por fim, deve ocorrer a elaboração e expressão da síntese do conhecimento.
Trata-se do momento em que o estudante revela a sua capacidade de elaboração de uma construção
integradora, sistematizando esse conhecimento e permitindo ao educador avaliar o processo.
O raciocínio mediador segue, aqui, os princípios de tese, antítese e síntese do raciocínio
dialético. A tese, representada no método pela fase de síncrise, é apresentada com a intenção primeira de
ser questionada e, se possível, impugnada. Contra essa tese, levanta-se uma antítese, o conhecimento
científico, evidentemente oposto ao estado sincrético inicial. Com a inserção da antítese questionam-se os
pontos fracos da tese, provocando, nesse confronto, uma crise (Figura 1).

Síncrise do Estudante Conhecimento Científico


Conflito
TESE ANTÍTESE

Figura 1 – Estágio de conflito gerado pelo contraste entre a visão sincrética trazida pelo estudante e a
visão sintética do conhecimento científico.

Neste momento, entra o papel mediador do docente, promovendo a mobilização e a


construção do conhecimento. Mediada a crise, espera-se que o estudante possa, mais adequadamente,
chegar a sua síntese pessoal. Isso ocorre pelo já referido trabalho analítico do estudante. A síntese é uma
proposição superior que, em princípio, consiste na fusão dos pontos positivos da tese e da antítese. Em
nosso caso, uma visão mais próxima do conhecimento científico (figura 2).
Em síntese, a mediação implica: a mobilização do educando para o objeto de trabalho; a
construção e elaboração de conhecimentos cada vez mais totalizantes, como resultado da análise desse
objeto; e, a expressão de um conhecimento mais organizado do todo.

2. Mediação enquanto pesquisa

Que isso tem a ver com pesquisa? A resposta a essa questão encontra respaldo nas palavras
de Saviani (1983: 77), para quem
o movimento que vai da Síncrise (a visão caótica do todo) à Síntese (uma rica totalidade de
determinações mais simples) constitui uma orientação segura tanto para o processo de descoberta de
novos conhecimentos (o método científico) como para o processo de transmissão-assimilação de
conhecimentos (o método de ensino).

Isso em mente, o método mediador consiste na transposição das etapas de construção do


conhecimento como etapas constitutivas da elaboração de novos conhecimentos.

Síntese do Estudante
SÍNTESE

Síncrise do Estudante Conhecimento Científico


TESE Mediação ANTÍTESE
Dialética

Figura 2 – Estágio de superação do conflito (construção da síntese) gerado pelo contraste entre a visão
sincrética trazida pelo estudante e a visão sintética do conhecimento científico, por meio da intervenção
mediadora dialética.

Como qualquer desenho metodológico, a pesquisa mediadora surge da constatação de um


problema da realidade. Essa constatação pode advir das teorias, da experiência do investigador, ou
mesmo de pesquisas exploratórias sobre o tema ou objeto. Ressalte-se que outra fonte de problematização
pode ser o estudo minucioso da visão sincrética dos participantes da pesquisa, como parte da etapa de
mobilização. Nesse sentido, a mobilização pode ser: a) a fonte de toda a pesquisa, cumprindo a função da
dita pesquisa exploratória inicial; ou b) a fonte de aperfeiçoamento da problematização inicial provisória.
Vejamos o fluxo desse tipo de pesquisa (figura 3).

Anteprojeto

Mobilização e Observação da Síncrise

Revisão do Anteprojeto

Construção do Conhecimento

Elaboração da Síntese

Considerações Finais

Figura 3 - Fluxo da pesquisa mediadora

Vamos supor que um pesquisador esteja interessado no aperfeiçoamento da produção


textual de estudantes do ensino médio. Mais especificamente, o trabalho quer verificar se uma discussão
dialeticamente orientada de um tema gera produções textuais nos quais existam suportes argumentativos
explícitos aos argumentos centrais. Nesse sentido, esse pesquisador está consciente de que não basta
ensinar técnicas de suporte à argumentação, o que seria uma visão fragmentada dessa questão. Convicto
de que uma intervenção didática dialética, com base na perspectiva de Vygotsky, permite uma visão mais
orgânica da argumentação, o pesquisador opta por um estudo de casos mediador no qual um amplo debate
sobre um tema, por exemplo o aborto, serve de suporte uma nova escritura.
O primeiro passo do método é a elaboração de um anteprojeto, que explicite os elementos
essenciais de pesquisa, quais sejam:
a) a determinação do problema e/ou a determinação de questões de pesquisa – em nosso
exemplo, a questão poderia ser traduzida por – Que efeitos de síntese podem ser depreendidos de uma
ação mediadora com vistas ao aperfeiçoamento da sustentação dos argumentos centrais de uma
produção textual com estudantes do ensino médio da escola ‘X’ da cidade ‘Y’?;
b) a determinação de objetivos – consiste na elaboração de metas que se esgotam com a
conclusão da intervenção. Repare-se que uma pesquisa dialética é rica em intenções e finalidades que vão
além da mediação propriamente dita. Em nosso exemplo, poderíamos expressar o objetivo da seguinte
forma: Descrever que efeitos de síntese podem ser depreendidos de uma ação mediadora com vistas ao
aperfeiçoamento da sustentação dos argumentos centrais de uma produção textual com estudantes do
ensino médio da escola ‘X’ da cidade ‘Y’; e,
c) a elaboração de justificativa ou relevância – trata-se de um discurso dissertativo que visa
apresentar as intenções, o que o pesquisador pensa alterar nas pessoas com o resultado de sua pesquisa, e
as finalidades, aquilo que se julga ser a utilidade histórica dos resultados da pesquisa.
Construídos os itens que farão parte da introdução do trabalho, o pesquisador elaborará suas
estratégias de intervenção, isto é, como se processará a mobilização, a construção e a síntese do
conhecimento. Esse esforço deve ser apoiado por fundamentação teórica.

2.1 Mobilização

A mobilização consiste no movimento de sedução do participante da pesquisa para o objeto


de conhecimento. Parte-se, aqui, do pressuposto de que só se aprende quando se está afetivamente
mobilizado para o objeto de aprendizagem. Cabe ao pesquisador/docente encontrar mecanismos que
permitam essa mobilização.
Antes de tudo, é interessante questionar se o objeto de conhecimento é significativo para os
participantes. “Que relevância há em fundamentar argumentos?”, “Que vínculo pode-se obter desse
conhecimento com a realidade social e histórica dos participantes?” Se o objeto não mobilizar, cabe
questionar se é útil ou se há meios de fazê-lo útil. Se isso não for possível, não deve ser alvo de esforço.
Vasconcellos (1999: 52) ressalta que

significar um objeto de conhecimento, para que o sujeito se debruce sobre ele, implica uma
ação educativa no sentido de provocar, desafiar, estimular, ajudar o sujeito a estabelecer uma relação
pertinente com o objeto, que corresponda, em algum nível, à satisfação de uma necessidade sua, mesmo
que essa necessidade não estivesse tão consciente de início.

O primeiro passo é o contato com o objeto. Se esse contato for adequado, surge uma
necessidade ontológica de conhecer. Por meio dela, advém a contradição entre o que se sabia, visão
sincrética, e o que propõe o conhecimento epistêmico elaborado. Na busca das relações, obtém-se o
conhecimento novo.
Na mobilização, uma das tarefas do investigador é conhecer a realidade do grupo. No ato
de conhecer o grupo de participantes, o pesquisador levanta subsídios importantes que permitirão uma
visão mais apropriada do estágio de síncrise. Esse conhecimento, porém, não pode ser reduzido à idéia de
pré-teste da metodologia experimental. Aqui, conhecer se estabelece numa postura dialética de
profundidade. Daí serem interessantes: as estratégias de discussão coletiva sobre os temas, a produção de
textos, a metodologia participante, entre outras técnicas qualitativas.
O pesquisador, então, coleciona todas as evidências empíricas dessa visão sincrética da
realidade e provê uma descrição e uma explicação. A descrição dos procedimentos de mobilização e a
análise dos resultados dessa mobilização deverão constituir os elementos para a comparação do
desempenho das práticas mediadoras.
No nosso exemplo, duas práticas seriam centrais. A primeira concerne à produção de um
texto no qual os estudantes apontariam argumentos sobre o aborto. Nessa produção, o pesquisador deve
simular situações de produção textual coerentes com a prática escolar da unidade escolar. A segunda
consiste numa coleta da visão que os sujeitos da pesquisa têm sobre a argumentação. Todavia, ressalte-se
que não se trata de fazer pesquisa de campo sobre o tema, dado que isso empobreceria a pesquisa, mas de
conhecer mesmo a visão sincrética que os participantes possuem na entrada do processo.
Nesse ponto do trabalho, fica mais evidente a idéia da revisão permanente do projeto,
porque a expressão da visão dos participantes pode ser até diferente de nossas expectativas anteriores,
agora percebidas como ingênuas. Diga-se de passagem que a própria eficiência da mobilização está
relacionada com esse conhecimento.

2.2 Construção
A fase anterior nos coloca numa situação em que mobilizamos a atenção do participante
para o objeto de conhecimento. Cabe, agora, propiciarmos a interação do sujeito com a visão mais
elaborada desse conhecimento. O pesquisador transforma-se em mediador da relação participante/objeto
auxiliando o surgimento da reflexão.
Para isso, Vasconcellos (1999: 70-83) defende que a construção deve levar à contradição, à
criticidade e à análise. Por meio da contradição, o trabalho do pesquisador provoca a necessidade de se
negar a visão sincrética e de se avançar para uma explicação mais apurada da argumentação. O
investigador deve não só propiciar a contradição, mas também as condições de sua superação. Isso não se
deve dar apenas verbalmente, mas por toda espécie de estratégias que permitam ao participante lidar com
o conhecimento, tais como, experimentações, pesquisas, trabalhos de grupo, dramatizações, construções
de modelos, entre outros, sempre propiciando o confronto, o desafio.
Por meio da criticidade, o trabalho deve levar o participante a buscar as causas das coisas,
superar as aparências, romper a continuidade das mesmas coisas. Finalmente, por meio da análise, o
trabalho deve buscar a observação sempre mais profunda e articulada dos elementos que compõem a
realidade. A partir da análise, pode-se chegar, por aproximações sucessivas, a um nível mais abrangente,
à síntese integradora da totalidade.
No projeto de pesquisa mediadora, o pesquisador procura antecipar os principais
procedimentos que julga serem essenciais para propiciar essas ações. No relato da pesquisa, sua meta é
confrontar o plano com sua execução, ressaltando acertos e desacertos do processo. O critério de
qualidade é a possibilidade de se replicarem os procedimentos, isto é, propiciar a outro investigador
repetir os procedimentos, de forma semelhante, para que se possam estabelecer comparações, estas
mergulhadas nas concepções dialéticas de pesquisa.

2.3 Elaboração e expressão da síntese

Na fase de elaboração e de expressão da síntese, o participante poderá elaborar uma


formulação mais adequada do objeto, já que teve a oportunidade de sistematizar o conhecimento. Essa
exposição, compreenda-se, não pode ser reduzida a uma prova ou a um teste, mas a técnicas, que
expressem mais adequadamente a nova visão do participante. Entre elas, podem ser destacadas as
dramatizações, as verbalizações e a produção escrita.
Nesse momento, o trabalho do pesquisador é duplo. De um lado, ele tem de estabelecer
uma criteriosa descrição da síntese elaborada, buscando os aspectos de maior relevância. De outro, ele
precisa comparar, qualitativamente, a produção obtida no segundo momento com a produção sincrética
do primeiro momento. No nosso exemplo, o pesquisador, após amplo debate sobre o tema, instiga os
estudantes a escreverem novamente sobre o tema. Uma vez coletadas as produções textuais, lança-se a
um minucioso estudo sobre a qualidade da sustentação dos argumentos, comparando-os com os achados
da primeira produção.
Muitos trabalhos de pesquisa em educação e, mais especificamente, em lingüística aplicada,
pecam por não fazer essa comparação, porque isso poderia indicar rendição aos procedimentos
experimentais clássicos. A conseqüência disso é a impressão de que os resultados positivos advêm da
vontade do investigador e não dos achados de pesquisa. Quando se diz que os procedimentos de mediação
foram eficazes, compara-se com quê? Outras técnicas não chegariam a resultados semelhantes?
Outras vezes, a travessia da situação inicial para a situação final permanece incógnita,
como se revelar o processo fosse render-se aos mecanismos positivistas. Ora, sem saber como se deu a
interação, é impossível considerar méritos dessa interação.
A comparação obtida dá subsídios para as considerações finais, momento em que o
pesquisador busca uma síntese integradora para sua intervenção.
Aqui, cumpre-se destacar o caráter naturalístico dessas considerações. Uma pesquisa
qualitativa, por princípio, destaca os aspectos qualitativos do fenômeno, sacrificando os seus aspectos
quantitativos. Ora, estudos de profundidade tendem a ser feitos sobre uma quantidade finita de casos, por
vezes, um único caso. Isso inviabiliza a generalização de escopo estatístico. O pesquisador, numa
pesquisa qualitativa, não está interessado em generalizar os dados obtidos em seu estudo, mas em
aprofundar as nuanças, buscando descrever mais profundamente a constituição intrínseca daquilo que está
pesquisando. Portanto, a generalização não pode ser estabelecida pelo pesquisador, mas por atores
externos à pesquisa. A generalização naturalística ocorre, quando atores externos atribuem relação de
coerência entre os resultados obtidos pelo pesquisador e as suas realidades particulares. Em outras
palavras, a generalização ocorre de um caso particular para outro caso particular e, dessa forma, para
todos os casos assemelhados.
2.4 O relato de pesquisa

Uma vez executada a pesquisa nos moldes colocados, o pesquisador deve relatar esses
momentos. Do ponto de vista estrutural, uma pesquisa mediadora pode ser construída com as categorias
textuais: introdução, visão sincrética, construção, visão sintética e considerações finais.
Na introdução, o pesquisador apresenta os elementos históricos de escolha do assunto e do
tema de pesquisa, até o momento em que são destacados: o problema central e/ou as questões de
pesquisa. Passada essa etapa, o investigador ressalta a relevância do trabalho, destacando intenções e
finalidades para a pesquisa. No final, descreve em quantos capítulos o relato científico foi organizado e
quais são os principais temas desenvolvidos em cada capítulo.
No capítulo destinado à visão sincrética, o pesquisador apresenta os resultados da descrição
e da análise da visão sincrética dos participantes antes da intervenção. Neste texto, ele não se limita a
olhar por si mesmo, mas busca elementos da literatura para aprofundamentos. Esse trabalho tanto será
melhor quanto mais concreto for o entendimento do leitor sobre a visão inicial dos sujeitos pesquisados.
No capítulo de construção, o investigador deve alternar os dados de seu planejamento com
os achados obtidos na execução da pesquisa. O fundamental, aqui, é propiciar ao leitor a possibilidade de
replicar os passos executados para realizar a pesquisa. Cumpre-se destacar os pontos fortes da
metodologia e não omitir pontos conflitantes. Esse capítulo é o ritual de passagem da visão sincrética para
a visão sintética que se sucede.
Na visão sintética, o pesquisador descreve e analisa os resultados obtidos, a partir da visão
sintética, fruto do trabalho de análise obtido da intervenção. No mesmo capítulo ou em capítulo diferente,
estabelecem-se comparações entre a visão obtida depois da intervenção e aquela obtida antes da
intervenção, sempre respeitando os princípios da metodologia dialética e da pesquisa qualitativa.
Por fim, nas considerações finais, o pesquisador revisa o trabalho, buscando sínteses
integradoras. O autor deve fazer uma varredura, buscando saber se o problema central e/ou as questões de
pesquisa foram respondidos. Não se pode deixar de estabelecer limitações e recomendar alternativas para
novas pesquisas. Finalmente, basta organizar um discurso de encerramento.

3. Considerações finais

Como a pesquisa mediadora se caracteriza por ser um estudo de intervenção dialética de


caso, compartilha com os estudos de caso e com a dialética suas forças e fraquezas.
Stake (1981: 35-36) diz que o conhecimento obtido em um estudo de caso é diferente do
conhecimento obtido das demais formas de investigação em quatro importantes sentidos. Um estudo de
casos é mais: a) concreto, pois o conhecimento do estudo de caso resulta de sua própria experiência,
porque ela é mais viva, concreta e sensível do que abstrata; b) contextual, pois suas experiências são
originadas no contexto, como é o conhecimento no estudo de casos, conhecimento este distinto do
conhecimento abstrato normal derivado de outras formas de pesquisa; c) desenvolvido pela interpretação
do leitor, pois os leitores trazem para o estudo de caso suas próprias experiências e compreensão, que
conduzem a generalizações, quando novos dados para o caso são adicionados a dados mais antigos; e d)
baseado com referência às populações determinadas pelo leitor, pois, ao generalizar, os leitores têm
alguma população em mente. Então, diferente da pesquisa tradicional, o leitor participa estendendo
generalizações para referidas populações.
Suas virtudes, no entanto, implicam certas limitações: a) pode não haver dinheiro ou tempo
para uma descrição rica do fenômeno; b) a descrição pode revelar-se prolixa, muito detalhada, para ser
utilizável; c) a simplificação ou exagero na descrição pode dirigir o leitor a conclusões errôneas ou, ainda,
pretender avaliar o todo quando, na verdade, observa-se parte do fenômeno; d) os resultados são
dependentes da sensibilidade e da integridade do pesquisador, donde se põem em xeque questões de
ordem ética; e) a escolha do que é típico ou do que é marginal para se constituir como unidade de caso é
muito controversa; e, por fim, f) sempre é discutível um trabalho que se baseie exclusivamente na
generalização naturalística.
Em que se pesem méritos e deméritos, a pesquisa mediadora é uma excelente proposta para
ser implementada em casos de aplicação didática de teorias. Por um lado, mantém intactos os interesses
do método, por não abandonar o princípio da comparação de resultados. De outro, não menos importante,
amolda-se ao discurso dialético, permitindo ao pesquisador uma rota segura para a aplicação de uma
metodologia qualitativamente orientada.

RESUMO: Intervenções educativas dialéticas em lingüística aplicada demandam metodologias que


superem problemas dos desenhos quantitativos e qualitativos. Alternativamente, apresento o desenho
mediador, enquanto ação de investigação dialética de caso que, analiticamente, visa transformar a
concepção de um objeto do conhecimento dos educandos de uma visão sincrética para uma visão
sintética.

PALAVRAS-CHAVE: Lingüística aplicada; metodologia da pesquisa; desenhos metodológicos; pesquisa


qualitativa; pesquisa mediadora.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CORBISIER, Roland. Enciclopédia filosófica. 2. ed. São Paulo: Civilização Brasileira, 1987.
DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: Atlas, 1991.
LAVILLE, Christian, DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em
ciências humanas. Revisão técnica e adaptação da obra de Lana Mara Siman. Porto Alegre: Artes
Médicas; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.
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expanded from case study research in education. San Francisco, USA: Jossey-Bass, 1998.
RAUEN, Fábio José. Roteiros de investigação científica. Tubarão-SC: Unisul, 2002.
SAVIANI, Demerval. Escola e democracia. São Paulo: Cortez, 1983.
STAKE, R. E.. Case study methodology: an epistemological advocacy. In: WELSH, W. W. (Ed.). Case
study methodology in educational evaluation. Minneapolis: Minessota Research and Evaluation
Center, 1981.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Construção do conhecimento em sala de aula. São Paulo:
Libertad, 1999. (Cadernos do Libertad, 2).

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