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Atuação da tutoria na Educação a Distância

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6418-2

57289 9 788538 764182

Juliana Bordinhão Diana


Atuação da tutoria
na Educação a Distância

Juliana Bordinhão Diana

IESDE BRASIL S/A


2018
© 2018 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da
autora e do detentor dos direitos autorais.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
D529a Diana, Juliana Bordinhão
Atuação da tutoria na educação a distância / Juliana Bordinhão
Diana. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2018.
118 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6418-2

1. Ensino a distância. 2. Tecnologia educacional. 3. Inovações


educacionais. 4. Ensino a distância - Efeito das inovações
tecnológicas. I. Título.
CDD: 371.35
17-46745
CDU: 37.018.43

Capa: IESDE BRASIL S/A.


Imagem da capa: karpenko_ilia/iStockphoto

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Apresentação

Os avanços das tecnologias e sua ampla disseminação na sociedade


tornaram-se um importante fator nas transformações ocorridas no processo
de ensino-aprendizagem, resultando na adoção de práticas educacionais
diferentes daquelas que tradicionalmente ocorrem no ensino presencial.
O uso cada vez mais comum e frequente das tecnologias contribui para
potencializar a ação pedagógica, especialmente quando nos referimos à
educação a distância (EaD).

O princípio fundamental da EaD está em professores e alunos sepa-


rados física e geograficamente na maior parte do tempo de ensino-apren-
dizagem. Para que esse processo de ensinar e aprender aconteça, o uso
das tecnologias da informação e comunicação (TIC) são essenciais.

Com as transformações que estamos vivenciando, temos uma socie-


dade que vive a globalização, tem necessidade de interação e valoriza o
retorno rápido, ou seja, o comportamento das pessoas vem mudando e,
como resultado, o ensinar e aprender também se transforma. Na EaD es-
sas mudanças são mais evidentes e se destacam nas ações desenvolvidas
pelos professores e alunos.

Para que a aprendizagem seja efetiva em um curso ofertado a dis-


tância, o aluno precisa apresentar um perfil de disciplina, autonomia e
administração do tempo. Nos cursos na modalidade em EaD, o aluno
deve caminhar sozinho, porém recebendo sempre o acompanhamento
da tutoria.

O avanço das tecnologias também traz desafios para a EaD, como


estabelecer relações com o que estamos acostumados em relação ao ensi-
no presencial, de modo a enriquecer as possibilidades de formação a dis-
tância, para que a inserção no mundo virtual aconteça da melhor forma
possível. O desafio existe, mas também devemos sempre estar atentos às
perspectivas e tendências que surgem a todo momento.

Esta obra foi elaborada justamente em função da importância cada


vez maior da EaD e, consequentemente, de tutores devidamente forma-
dos para a atuação nessa modalidade.
Para esclarecer essa área específica da atuação docente, esta obra foi subdividida
didaticamente em oito capítulos. O Capítulo 1 apresenta o contexto histórico da EaD
no Brasil, identificando as transformações sociais e comportamentais nos contextos de
ensino-aprendizagem. No Capítulo 2, é abordada a formação do professor na moda-
lidade a distância, destacando a atuação desse profissional diante das transformações
tecnológicas. O Capítulo 3 pretende identificar o profissional da tutoria de EaD, des-
tacando suas funções e atribuições. O Capítulo 4 aponta as competências necessárias
para os atores envolvidos na construção do conhecimento com ferramentas virtuais.
No Capítulo 5, são enfocadas as características mais relevantes da aprendizagem na
EaD, enfatizando o uso das tecnologias, bem como a importância da mediação pe-
dagógica realizada pelo profissional de tutoria. Por sua vez, o Capítulo 6 pretende
analisar a relevância do material didático no processo de ensino-aprendizagem, desta-
cando seu processo de produção, os profissionais envolvidos e as mídias utilizadas na
construção do conhecimento. No Capítulo 7, são identificados os recursos didáticos e
as estratégias em tutoria. Por fim, no Capítulo 8 é feita uma reflexão sobre as potencia-
lidades do ambiente virtual como recurso para as ações dos tutores e do processo de
ensino-aprendizagem.

Bons estudos!
Sobre a autora

Juliana Bordinhão Diana

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e


Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela UFSC e
especialista em Informática na Educação pela Universidade Estadual de
Londrina (UEL). Graduada em Licenciatura em Ciências – Habilitação em
Biologia, pelas Faculdades Integradas de Ourinhos (FIO). Atuou como
coordenadora de polo de educação a distância. Trabalha na área da edu-
cação, nas funções de tutora, pesquisadora e orientadora de TCC em cur-
sos de formação continuada na modalidade a distância. Tem experiência
principalmente nos seguintes temas: educação a distância, polo de apoio
presencial, design instrucional e produção de conteúdo para cursos a
distância.
Sumário

1 EaD no Brasil: contexto histórico e atualidades 9


1.1 Contexto histórico da EaD no Brasil 10
1.2 Transformações no ensinar e aprender diante da EaD 12
1.3 A EaD hoje: desafios e perspectivas com foco na tutoria 13

2 A EaD na formação profissional 21


2.1 A atuação do professor nos cursos a distância 22
2.2 Os desafios da inclusão digital na formação docente 25
2.3 Formação continuada e a EaD 28

3 A tutoria na EaD 37
3.1 Quem é o tutor na EaD 38
3.2 A tutoria no Brasil 40
3.3 Funções e atribuições do tutor: conhecimentos e competências necessários 43

4 O presencial e o virtual: o desenvolvimento de


novas competências para ensinar 51
4.1 Competências em EaD 52
4.2 Educação virtual e construção do conhecimento 55
4.3 A presença física e a educação virtual 57

6 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Sumário

5 Aprendizagem na EaD 65
5.1 O uso de tecnologias no processo de ensino-aprendizagem 66
5.2 Aprendizagem colaborativa por meio das tecnologias disponíveis 68
5.3 Mediação pedagógica e tutoria 71

6 Material didático na EaD 79


6.1 A produção do material didático na EaD 80
6.2 Os profissionais envolvidos na produção do material didático 82
6.3 As mídias do conhecimento 85

7 Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD 91


7.1 Teoria e prática na ação da tutoria 92
7.2 O uso dos recursos didáticos na tutoria 94
7.3 Estratégias em tutoria 98

8 Ambiente virtual de ensino-aprendizagem: desafios da tutoria 107


8.1 As relações interpessoais no ambiente virtual de ensino-aprendizagem 108
8.2 Ferramentas virtuais do ambiente virtual de ensino-aprendizagem 111
8.3 Netiqueta 113

Atuação da tutoria na Educação a Distância 7


1
EaD no Brasil: contexto
histórico e atualidades

Para iniciar nosso estudo sobre a educação a distância (EaD), vamos apresentá-
-la em um contexto mais amplo, para que assim você possa compreender como as
mudanças ocorridas em nosso meio interferem e influenciam o ensinar e o aprender,
especialmente quanto ao uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC).

Primeiramente, será apresentado o contexto histórico em que se insere a EaD e


seu cenário de evolução, relacionando essa nova metodologia com as transformações
no modo de ensinar e aprender. Vamos finalizar este capítulo refletindo sobre como
vivenciamos a EaD hoje, bem como sobre os desafios e as perspectivas da tutoria.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 9


1 EaD no Brasil: contexto histórico e atualidades

1.1 Contexto histórico da EaD no Brasil

A educação a distância (EaD) apresenta um contexto histórico que reflete as diferentes


mudanças e transformações que ocorrem na sociedade, especialmente quanto à evolução e
ao uso das tecnologias. Mas antes de nos aprofundarmos sobre a evolução da EaD, você sabe
definir o que é a modalidade a distância?
A literatura nos apresenta diferentes definições, uma vez que autores e pesquisadores
do mundo todo se dedicam ao estudo dessa inovadora forma de ensinar e aprender. Assim,
apresentamos no Quadro 1, a seguir, definições de autores de renome nacional e internacio-
nal, bem como de fonte oficial governamental.

Quadro 1 – Definições de EaD.

Definição Autor(es)
Forma de aprendizagem organizada que se caracteriza, basi-
camente, pela separação física entre professor e alunos e pela
(BEHAR, 2009, p. 16)
existência de algum tipo de tecnologia de mediatização para
estabelecer a interação entre eles.
A EaD é uma modalidade de educação planejada por docen-
tes ou instituições, em que professores e alunos estão separa-
(MATTAR, 2011, p. 3)
dos espacialmente e diversas tecnologias de comunicação são
utilizadas.
Educação a distância é o aprendizado planejado que ocor-
re normalmente em um lugar diferente do ensino, o que (MOORE; KEARSLEY,
requer comunicação por meio de tecnologias e uma organi- 2013, p. 2)
zação institucional especial.
Modalidade educacional na qual a mediação didático-peda-
gógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a
utilização de meios e tecnologias de informação e comunica-
(BRASIL, Decreto
ção, com pessoal qualificado, políticas de acesso, com acom-
n. 9.057/2017, art. 1º)
panhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desen-
volve atividades educativas por estudantes e profissionais da
educação que estejam em lugares e tempos diversos.
Fonte: Elaborado pela autora.

Com base no que o Quadro 1 nos apresenta, temos que o princípio da EaD está na sepa-
ração física e geográfica de professores e alunos durante a maior parte do tempo do ensino-
-aprendizagem. Destacamos ainda que, para esse processo de ensinar e aprender acontecer,
o uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC) são essenciais. Nesse contexto,
voltamos a enfatizar a relação da evolução das tecnologias com o avanço da EaD.
As primeiras experiências de EaD de que temos registro fazem referência ao uso de cor-
respondência, que se utilizava dos grandes avanços tecnológicos ocorridos no século XIX: os
meios de transporte e de comunicação (BELLONI, 2009). Essa foi a primeira geração da EaD,
que teve por principal característica o envio de materiais didáticos, como livros impressos,

10 Atuação da tutoria na Educação a Distância


EaD no Brasil: contexto histórico e atualidades 1
encaminhados via correio. Para o aluno, a aprendizagem era marcada pela autonomia de
estudo e flexibilidade de tempo, além da distância quase total do professor, visto que a in-
teração era baixa.
Com o passar do tempo, as tecnologias de comunicação foram evoluindo, o que resul-
tou no surgimento de meios de comunicação em massa, como o rádio e a televisão. Essas,
que foram as mídias mais marcantes ocorridas nos meados do século XX, caracterizam a
segunda geração da EaD. O uso do rádio e televisão para ampliar o acesso à informação
foi um marco na história. No Brasil, destacamos o Telecurso 2º Grau, o qual, por meio de
programas educativos transmitidos pela televisão, proporcionava acesso à informação e ao
conhecimento a um elevado número de pessoas.
A partir da década de 1990, o avanço da internet impulsionou ainda mais a EaD como
modalidade de ensino que possibilita a expansão da educação. Mattar (2011, p. 6) aponta
que com o uso cada vez mais frequente da internet “surge um novo território para a edu-
cação, o espaço virtual da aprendizagem, digital e com base na rede”. Assim, o uso das TIC
foi se intensificando com o passar do tempo e o uso dessas novas ferramentas disponíveis
contribuiu para uma comunicação ativa e dinâmica.

Figura 1 – Gerações da EaD.

Fonte: Elaborada pela autora.

Como vimos, o ensinar e aprender a distância existe há muito tempo, sempre sofrendo
mudanças de acordo com as tecnologias disponíveis à sua época. Nesse contexto, podemos
afirmar que as TIC contribuem para que o acesso ao conhecimento se amplie, especialmente
por considerar os diferentes recursos disponíveis. Assim, temos que as tecnologias estão
diretamente ligadas à EaD e percebemos que com o avanço das TIC diferentes atividades de
aprendizagem tornaram-se mais interativas, enriquecendo ainda mais as experiências que
a EaD proporciona (MATTAR, 2011). É nesse contexto que vamos ampliar nosso estudo no
tópico seguinte, e nos aprofundar sobre as transformações no ensinar e aprender possibili-
tadas pela EaD.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 11


1 EaD no Brasil: contexto histórico e atualidades

1.2 Transformações no ensinar e


aprender diante da EaD

Os avanços das tecnologias e sua ampla disseminação na sociedade tornaram-se um im-


portante fator nas transformações ocorridas no processo de ensino-aprendizagem, resultando
na adoção de práticas educacionais diferentes daquelas que tradicionalmente ocorrem no en-
sino presencial. O uso cada vez mais comum e frequente das tecnologias contribui para po-
tencializar a ação pedagógica, especialmente quando nos referimos à EaD (CORREIA, 2016).
Esse momento de transformação está rompendo paradigmas, conforme destaca Behar (2009,
p. 15), estamos “rompendo com a ideia de uma sociedade centrada no trabalho para a que dá
valor à educação”.
Considerando o modelo educativo tradicional, a prática pedagógica não valorizava a
descoberta, mas sim o acúmulo de conhecimento, sem despertar a curiosidade do aluno.
Essa forma de ensino, segundo Behar (2009), pode resultar no desinteresse pelo conteúdo
apresentado. Com as transformações sociais, que buscam o compartilhamento do conheci-
mento, estimulado pelo uso das tecnologias, chegamos a uma construção do conhecimento
mais efetiva.
Na visão de Silva, Diana e Catapan (2014, p. 159), essas transformações estão relacio-
nadas diretamente ao acesso à informação, comunicação e interação. O acesso à informação
foi facilitado pela internet, cada vez mais popular entre as pessoas. A comunicação deixou
de ser formal para atingir um público mais numeroso, formando assim novos modelos de
comunicação. Já a interação passou a ser mais dinâmica, as pessoas se expressam com maior
frequência, trocam mais informações e estão dispostas a se comunicar com os outros.
Com essas transformações, estamos diante de uma sociedade que vive a globalização,
tem necessidade de interação e valoriza o retorno rápido, ou seja, o comportamento das pes-
soas vem mudando e, como resultado, o ensinar e aprender também se transforma. Na EaD
essas mudanças são mais evidentes e se destacam nas ações desenvolvidas pelos professo-
res e alunos. No que diz respeito ao ensinar, Correia (2016, p. 27) nos traz uma importante
reflexão: “Os professores, que antes eram somente provedores e direcionavam informação,
agora, assumem novos papéis, numa atitude coparticipativa, deixam a postura de educa-
dores provedores para tornarem-se assessores”. Os alunos, por sua vez, desenvolvem suas
atividades de maneira instantânea e “constroem sentidos para os diferentes textos lidos na
tela de um computador, escrevem diferentes textos, mensagens rápidas e utilizam imagens
associadas a esses textos” (CORREIA, 2016, p. 27).
Portanto, podemos considerar que o ensinar e o aprender estão em constante constru-
ção, na qual se valoriza o desenvolvimento de competências, a formação de comunidades
virtuais de aprendizagem e a rede de convivência. Nessas relações, o compartilhamento e a
troca de informações passam a ser cada vez mais reconhecidos como um importante meio
de ensinar e aprender (BEHAR, 2009). Nesse contexto, apresentamos no quadro a seguir
algumas características que representam esse novo modo de ensino-aprendizagem.

12 Atuação da tutoria na Educação a Distância


EaD no Brasil: contexto histórico e atualidades 1
Quadro 2 – Principais características no novo modo de ensinar e aprender.

Característica Descrição
Significativa
Cooperativa
Aprendizagem
Participativa
Dinâmica
Motivação de alunos e professores.
Processos da Compartilhamento do conhecimento adquirido.
aprendizagem Consciência e controle dos próprios mecanismos
de aprendizagem.
Professor provedor: transmite informações e conteúdos.
Professor modelo: ilustra comportamentos,
atitudes e habilidades.
Professor treinador: verifica o que os alunos
Professores múlti-
devem fazer, quando e como.
plos no ensinar
Professor tutor: fixa as metas, direciona os procedimentos
e permite que os alunos organizem sua própria prática.
Professor assessor: permite que os alunos estabeleçam
os objetivos e planejem suas aprendizagens.
Fonte: CORREIA, 2016, p. 26. Adaptado.

Com base nas características apresentadas no Quadro 2, é possível identificar que as


novas ações, tanto dos alunos quanto dos professores, diferenciam-se do modo tradicional
de ensinar e aprender. Na EaD, essas características destacam-se devido à ação e atuação
dos envolvidos, o que as diferenciam da educação presencial, especialmente quanto ao uso
intensivo das tecnologias no processo de ensino-aprendizagem.
Diante do que apresentamos até aqui, percebemos as transformações na sociedade, es-
pecialmente na relação entre o uso das tecnologias e a educação, e identificamos diferentes
desafios para os envolvidos, em que os alunos e professores precisam se adaptar ao que é pro-
posto. Nessa perspectiva, no tópico a seguir, vamos refletir um pouco mais sobre os desafios e
perspectivas que essas transformações nos trazem, especialmente na EaD e na ação da tutoria.

1.3 A EaD hoje: desafios e perspectivas


com foco na tutoria

Diante das constantes transformações que vivenciamos em nossa sociedade, aquela que
merece destaque especial é a globalização, fenômeno mundial que evidenciou o uso das
mídias e tecnologias no desenvolvimento de diferentes ações que praticamos no nosso dia
a dia. Utilizamos a tecnologia para realizar nossas atividades profissionais, para o lazer e,
como não poderíamos deixar de ressaltar, para a educação.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 13


1 EaD no Brasil: contexto histórico e atualidades

No início do nosso estudo, por meio de um breve contexto histórico, conhecemos como
as tecnologias estão relacionadas à educação, com especial destaque para o modo de ensinar e
aprender na EaD. Behar faz uma importante reflexão sobre o uso das tecnologias da informa-
ção e da comunicação na educação na modalidade a distância. Para a autora, a EaD desperta
uma expectativa muito grande quanto às oportunidades de formação que podem ser ofere-
cidas à população. O Ministério da Educação (MEC) incentiva ações e programas que visam
“promover o desenvolvimento e a incorporação das TIC e das técnicas de educação a distância
aos métodos didáticos-pedagógicos convencionais” (BEHAR, 2009, p. 17). Para que o curso na
modalidade EaD tenha seu objetivo atingido, precisamos considerar, além do uso consciente
e coerente das tecnologias digitais, o modo como a aprendizagem será realizada. Nesse ponto
surgem diferentes desafios: quem é o aluno da EaD? Ele tem as mesmas características do alu-
no do ensino presencial tradicional? Como o tutor atua no processo de ensino-aprendizagem?
Quais as perspectivas para atuação da tutoria na EaD? É o que vamos refletir na sequência.

Figura 2 – Os desafios e perspectivas da EaD.

TIC

Ensinar e
aprender
na EaD
Perfil
do
aluno Desafios e
perspectivas
da EaD

Ensino
presencial
x
EaD

O tutor

Fonte: Elaborada pela autora.

Primeiramente, não podemos deixar de enfatizar os desafios que a EaD enfrenta desde
o início: a resistência quanto à qualidade do curso oferecido. É muito comum encontrarmos
comentários que desvalorizam a EaD, como: “os cursos a distância são mais fáceis, não tem
professor acompanhando”. Essa é uma suposição que muitos fazem antes de conhecer as
características do curso, desmerecendo a qualidade oferecida. Para que a aprendizagem seja
efetiva em um curso ofertado a distância, o aluno precisa apresentar um perfil de disciplina,
autonomia e administração do tempo. Nos cursos a distância, o aluno deve caminhar sozi-
nho, porém sempre com o acompanhamento da tutoria.

14 Atuação da tutoria na Educação a Distância


EaD no Brasil: contexto histórico e atualidades 1
Outro fator que compõe o desafio da EaD é a resistência de muitos quanto ao uso das
TIC na educação. Hoje vivemos em uma época de nativos digitais, mas não devemos nos
esquecer de que muitos estudantes mais velhos que buscam formação complementar pro-
curam na EaD uma oportunidade, porém o envolvimento com as tecnologias digitais mui-
tas vezes assusta esse futuro aluno (MOORE; KEARSLEY, 2013). Assim, queremos destacar
como o acompanhamento da tutoria pode minimizar esse desafio para o aluno, especial-
mente no momento de ambientação e familiarização com os meios de comunicação utiliza-
dos no curso.
No desenvolvimento de um curso a distância devemos ter em mente que os alunos, em
sua maioria, são adultos que necessitam de atenção e de uma orientação diferenciada, quanto
ao uso dos recursos e ferramentas disponíveis.
Para que o aluno tenha um acompanhamento que estimule o aprendizado e a interação,
a tutoria desenvolve um papel de extrema importância. Mas e esse profissional, como é sua
formação? O que se exige dessa importante figura na EaD? Correia (2016) destaca que esse
também é um dos desafios da EaD. Mas fique atento, vamos conhecer mais sobre o profis-
sional da tutoria, suas funções e atribuições no Capítulo 3.
Vimos até agora o contexto histórico de desenvolvimento da EaD, os seus diferentes
desafios atuais, mas e seu futuro? As perspectivas para a EaD só se ampliam, principal-
mente se considerarmos o avanço cada vez mais frenético das tecnologias. Nesse sentido,
Mattar (2011) nos apresenta algumas tendências da EaD, conforme esquematizamos no
quadro a seguir.

Quadro 3 – Tendências da EaD.

Tendência Característica

Criação de currículos que permitem ao aluno mais liber-


Currículos mais flexíveis
dade de escolha em relação ao próprio currículo.

É quando um professor cria, desenvolve, divulga e im-


Docência ­on-line
planta um curso de maneira independente, sem vínculo a
independente
uma instituição e sem envolver grandes equipes.

Possibilita ao aluno organizar seu próprio ambiente de


Ambientes pessoais
aprendizagem de acordo com o que mais lhe interessa,
de aprendizagem
como interface, ferramentas e conteúdos.

Promove a integração de aprendizagem a games, no qual o


Games aluno pode ser motivado a fazer descobertas e assim con-
tribuir com a construção do conhecimento.

O uso de dispositivos móveis amplia-se cada vez mais, pos-


Mobile learning
sibilitando o estudo em qualquer lugar, a todo momento.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 15


1 EaD no Brasil: contexto histórico e atualidades

Tendência Característica

É a utilização de dados virtuais e dados reais que possibi-


Realidade aumentada litam novas formas de simulação, enriquecendo os proces-
sos de ensino-aprendizagem.
É o acesso gratuito a conteúdos elaborados por professo-
Recursos educacionais
res de diferentes países e diferentes formações, estimulan-
abertos
do o compartilhamento do conhecimento.
Fonte: Elaborado pela autora com base em MATTAR, 2011.

De acordo com as tendências da EaD apresentadas no Quadro 3, é possível identificar


que o avanço tecnológico contribui para que a informação e o conhecimento sejam cada
vez mais acessíveis. Ao refletir sobre essas tendências, devemos sempre nos lembrar de
que os diferentes perfis de alunos que a EaD alcança vão sempre exigir a presença de um
profissional da tutoria, visto que o acompanhamento e a interação fazem parte da cons-
trução do conhecimento.

Conclusão

Finalizamos este primeiro capítulo conhecendo um cenário da EaD, considerando seu


contexto histórico, e entendendo como o avanço das tecnologias reflete nessa modalidade.
Tivemos a oportunidade de conhecer como a EaD vem ampliando seu leque de possibilida-
des com o uso de diferentes tecnologias e, especialmente, das mídias digitais, como aquelas
disponibilizadas nos ambientes virtuais de ensino-aprendizagem.
As tecnologias são um importante meio para atingirmos diferentes objetivos e, quando
nos referimos à educação, destacamos seu uso como um meio de comunicação, uma forma
de compartilhar informações e conhecimento. Assim, a tecnologia torna-se uma importante
ferramenta para a construção do conhecimento.
O avanço das tecnologias também traz desafios para a EaD, como estabelecer relações
entre o que já estamos acostumados – o ensino presencial – a fim de enriquecer as pos-
sibilidades trazidas pelo novo – a formação a distância. Nessa modalidade, destacamos
os desafios da tutoria para que esse processo de inserção no mundo virtual aconteça da
melhor forma possível. O desafio existe, mas também devemos sempre estar atentos às
perspectivas e tendências que estão surgindo a todo momento, pois vivemos em um mun-
do em constante transformação.

Ampliando seus conhecimentos


No decorrer deste capítulo, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais a EaD,
tendo como ponto de partida seu contexto histórico, especialmente quanto à evolução das
tecnologias. Nosso estudo também apresentou algumas reflexões sobre ensinar e aprender

16 Atuação da tutoria na Educação a Distância


EaD no Brasil: contexto histórico e atualidades 1
na EaD e, para ampliar ainda mais nosso estudo e reflexão sugerimos a leitura do capí-
tulo “Whatsapp na educação: criar, construir e compartilhar”, de Lígia de Assis Monteiro
Fontana. O texto ajudará você a ampliar seu conhecimento sobre o uso das tecnologias na
EaD e se manter atualizado nas ações da tutoria.

WhatsApp na educação: criar, construir e


compartilhar
(FONTANA, 2015, p. 291)

A tecnologia na palma da mão revoluciona a cada dia com os aplicativos edu-


cacionais ofertados. As ferramentas de comunicação, como Whatsapp, promo-
vem o contato cada vez mais eficaz, fazendo parte de uma reestruturação da
comunicação. Lévy (2009) mostra que a nossa cultura mudou com o advento
da internet, cibercultura. Consequentemente nossa forma de comunicação tam-
bém, antes esperávamos por cartas e telegramas; atualmente este aplicativo e
outros solucionam os problemas da distância, promovendo a comunicação e
outras formas de estudo (BELLONI, 2009).

Há uma discussão sobre a sala de aula digital que promove este tipo de traba-
lho, com a aprendizagem colaborativa, mas para ter sucesso é preciso planeja-
mento. O planejamento envolve selecionar os profissionais que irão trabalhar,
definir a missão, analisar o contexto atual e verificar a possibilidade da rea-
lização, verificar os problemas que podem ocorrer, determinar os objetivos e
depois da implantação reformular e revisar o plano (JUNIOR, 2013).

Podemos ver que nesta ideia evolução midiática é um desafio para todos envol-
vidos, escola, professores, alunos, funcionários técnicos. A utilização dependerá
de cada realidade educativa. Para Lévy (2009), a cibercultura traz mudanças no
ensino tradicional e presencial, a cultura do ensino tradicional, presencial, se
reconfigura nos moldes das práticas educomunicativas e de acordo com o cená-
rio social tecnológico vivenciado.

Desta forma, o objetivo desta ação docente é criar estratégias e promover um


processo de ensino e a aprendizagem com um aplicativo de comunicação
digital, onde as interações giram em torno da produção do conhecimento e
o trabalho com a tecnologia mobile. Esta possibilidade de trabalho se torna
um recurso para futuras ações pedagógicas dos alunos e contribuição para a
formação docente.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 17


1 EaD no Brasil: contexto histórico e atualidades

Atividades
1. Em seu contexto histórico, a EaD apresenta como característica uma forte relação
com as tecnologias de informação e comunicação. Assim, considerando as mudanças
e transformações da EaD diante da evolução tecnológica, descreva as gerações da
EaD que formam o cenário histórico e evolutivo dessa modalidade.

2. Na EaD o modo de ensinar e aprender diferencia-se do ensino tradicional, no qual


alunos e professor desempenham suas atividades de modo presencial. Consideran-
do o processo de ensino-aprendizagem na EaD e no ensino presencial tradicional,
elabore um quadro com as principais diferenças entre esses dois modos de ensinar
e aprender.

3. Na EaD consideramos que o aluno deve apresentar disciplina e organização do tem-


po para seu estudo, visto que diante da separação física e geográfica do professor,
sua forma de estudo é diferente do ensino presencial tradicional. Diante dessa pers-
pectiva de organização que o aluno deve apresentar, temos a figura do tutor, que
visa auxiliar o aluno em seu processo de aprendizagem. Nesse contexto, descreva os
desafios que a tutoria enfrenta, considerando esse novo perfil de aluno.

Referências
BEHAR, P. A (Org.). Modelos pedagógicos em educação distância. Porto Alegre: Artmed, 2009.
BELLONI, M. L. Educação a distância. 5. ed. Campinas: Autores Associados, 2009. (Coleção Educação
Contemporânea).
BRASIL. Decreto n. 9.057, de 25 de maio de 2017. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília,
DF, 30 maio 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/
D9057.htm>. Acesso em: 24 jan. 2018.
CORREIA, R. A. R. Introdução à educação a distância. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
FONTANA, L. A. M. Whatsapp na educação: criar, construir e compartilhar. In: BUSARELLO, R.
I.; BIEGING, P.; ULBRICHT, V. R. (Org.). Sobre educação e tecnologia: processos e aprendizagem.
São Paulo: Pimenta Cultural, 2015. p. 290-307. Disponível em: <https://docs.wixstatic.com/ugd/143639_
ddf01e64cd904b2b8941fdd5a9153b24.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2018.
MATTAR, J. Guia de educação a distância. São Paulo: Cengage Learning: Portal Educação, 2011.
MOORE, M.; KEARSLEY, G. Educação a distância: sistemas de aprendizagem on-line. São Paulo:
Cengage Learning, 2013.
SILVA, A. R. L.; DIANA, J. B.; CATAPAN, A. H. Do digital ao virtual na EaD. ESUD – Congresso
Brasileiro de Ensino Superior a Distância, 11, Florianópolis, 5-8 nov. 2014. Anais... 2014. Disponível
em: <http://esud2014.nute.ufsc.br/anais-esud2014/files/pdf/126671.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2018.

18 Atuação da tutoria na Educação a Distância


EaD no Brasil: contexto histórico e atualidades 1
Resolução
1. Devemos considerar que a EaD apresenta três gerações, sendo:

• Primeira geração: uso da correspondência para troca e compartilhamento de material


didático e interação com equipe pedagógica.
• Segunda geração: ampliação do acesso à informação a partir do rádio e da TV, que
promoviam programas didáticos.
• Terceira geração: uso das TIC como principal meio de comunicação e compartilha-
mento de conhecimento, especialmente nos cursos ofertados via internet.

2. Com base no que foi exposto sobre as transformações do processo ensino-aprendiza-


gem diante da EaD, esperamos que você consiga apresentar as principais diferenças
entre o ensino presencial tradicional e a EaD. Assim, consideramos:

Ensino presencial EaD


Aprendizagem centrada no aluno. Compartilhamento de conhecimento.
Uso das TIC como apoio ao Uso intensivo das TIC para co-
ensino-aprendizagem. municação e interação.
Comunicação síncrona. Aprendizagem significativa.
Aprendizagem com foco em conteúdo. Atuação docente mais participativa.

3. Após conhecer o contexto histórico da EaD e como ocorre o processo de ensino-


-aprendizagem nessa modalidade, considera-se que a tutoria possui diferentes desa-
fios para atender ao aluno, que busca formação profissional e construção do conhe-
cimento. Nessa questão, esperamos que você saiba identificar os desafios da EaD no
papel da tutoria, especialmente ao auxiliar o aluno da EaD para atingir seu objetivo
final. O principal desafio da tutoria é identificar o perfil do aluno de acordo com suas
expectativas e perspectivas, ou seja, conhecer seu aluno de modo que o acompanha-
mento atenda ao objetivo de aprendizagem. Também deve ser destacado que, muitas
vezes, o novo aluno da EaD não tem familiaridade com as tecnologias, assim o tutor
deve estar atento para estimular a descoberta desse novo meio.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 19


2
A EaD na formação
profissional

A Educação a Distância é uma modalidade de ensino que estimula a busca do


novo, a construção e o compartilhamento do conhecimento, além da interação entre
seus atores, especialmente devido ao fato de que, nessa modalidade, os professores e
alunos estão distantes física e geograficamente. Essa interação torna-se, então, um dos
principais fatores que contribuem para o ensinar e aprender na EaD.

Mas de que forma o professor, que sempre atuou de maneira presencial com seu
aluno, pode desenvolver suas atividades a distância? Como incluir esse professor na
realização dos cursos e no uso das tecnologias? Neste capítulo vamos encontrar res-
postas a essas perguntas e refletir um pouco mais sobre a formação e a atuação do
professor na EaD.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 21


2 A EaD na formação profissional

2.1 A atuação do professor nos cursos a distância

A educação é um tema que está sempre em alta quando nos referimos ao desenvolvimen-
to da sociedade e, a partir do avanço tecnológico ocorrido nos últimos anos, acrescentamos a
essa discussão a presença da modalidade a distância, que vem sendo cada vez mais reconhe-
cida e valorizada como um meio de acesso à formação e à qualificação profissional. Na socie-
dade de hoje, justifica-se esse reconhecimento da importância da EaD pelo fato de as pessoas
estarem dispostas e abertas a novos aprendizados e, principalmente, a mudanças econômicas
e sociais, visto que o comportamento social acompanha a dinâmica das transformações.
Dessa forma, algumas perguntas podem surgir quando nos referimos à educação e,
especialmente, à atuação do professor: tivemos mudanças com o passar do tempo? Como o
uso das tecnologias e mídias digitais influenciaram a forma de ensinar? E, na EaD, o profes-
sor apresenta as mesmas atribuições que na educação presencial em sala de aula? Como o
professor desenvolve suas atividades docentes quando está distante de seus alunos? Diante
desses questionamentos, vamos ampliar nosso conhecimento e visão sobre a atuação do
professor nos cursos a distância.
Depois de estudarmos, no Capítulo 1, o contexto histórico da EaD e verificarmos que o
avanço das tecnologias foi um importante fator que contribuiu para a expansão de cursos
na modalidade a distância, podemos afirmar que nosso comportamento social também
mudou, não é mesmo? Hoje estamos conectados a todo momento e em qualquer lugar,
pois há facilidade de acesso à internet e mais possibilidades para aquisição de notebooks,
smartphones e tablets, o que contribui para que o processo de ensino-aprendizagem aconteça
de maneira contínua.
Você já parou para pensar que podemos assistir a uma aula virtual enquanto estamos
no caminho do trabalho? Ou, ainda, que o compartilhamento de informações é cada vez
mais instantâneo?
Essas mudanças são constantes e refletem diretamente na atuação do professor, visto
que a forma de receber a informação precisa ser diferente daquela que nos acostumamos a
receber. Hoje valoriza-se uma linguagem mais acessível e informal, a fim de facilitar a co-
municação entre as pessoas. E na educação isso não é diferente. Por isso, o professor deve,
então, utilizar a tecnologia como uma aliada, o que na EaD significa a necessidade de aplicar
uma organização pedagógica que se adéque à proposta do curso e que esteja de acordo com
o perfil de seus alunos (no Capítulo 1, discutimos a importância de identificar o perfil do
aluno dos cursos a distância para o acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem).
Para reforçar o que refletimos até o momento, vejamos a afirmação de Belloni (2009,
p. 79) sobre a atuação do professor nos cursos a distância.
Diretamente relacionada com as inovações tecnológicas, com as novas demandas
sociais e com as novas exigências de um aprendente mais autônomo, uma das
questões centrais na análise da EaD, e talvez a mais polêmica, refere-se ao papel
do professor nesta modalidade de ensino, chamado a desempenhar múltiplas
funções, para muitas das quais não se sente, e não foi, preparado.

22 Atuação da tutoria na Educação a Distância


A EaD na formação profissional 2
Isso significa que a atuação do professor a distância abrange diferentes atividades que
refletem no desenvolvimento dos cursos, e são, portanto, relevantes na capacitação e forma-
ção contínuas para que, dessa forma, o docente atenda às expectativas a ele atribuídas. Ao
final deste capítulo, abordamos um pouco mais sobre formação continuada.
Mas quais seriam, então, essas múltiplas ações de um professor que atua na EaD? Vamos
conhecer como diferentes autores apresentam as principais atuações docentes na EaD.
Para Rosini (2007), os cursos a distância devem contar sempre com um professor que
seja especialista na área da disciplina ofertada. Nesse contexto, Correia (2016, p. 60) enfatiza
as múltiplas dimensões do saber docente, que se define como um “saber plural”, envol-
vendo “saberes advindos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares
e experienciais”. Na EaD, esses saberes são potencializados pelos recursos que o mundo
virtual possibilita, estimulando assim a autonomia e a definição de estratégias que podem
ser aplicadas aos alunos.
Behar (2013) destaca a atuação do professor nos cursos a distância com base nas orien-
tações apresentadas no sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), representando assim
um importante programa que promove a expansão da formação docente no país. Assim, a
autora considera que os professores atuantes nos cursos a distância precisam apresentar as
seguintes atribuições:
• realizar capacitações da equipe pedagógica, bem como participar das capa-
citações oferecidas;
• desempenhar atividades de docência;
• participar de grupo de trabalho para o desenvolvimento de metodologia na
modalidade a distância;
• coordenar as atividades acadêmicas dos seus tutores;
• desenvolver o sistema e a metodologia de avaliação dos alunos;
• apresentar relatório do desempenho dos estudantes e do desenvolvimento
da disciplina;
• desenvolver, em colaboração com o coordenador de curso, pesquisa de
acompanhamento das atividades de ensino desenvolvidas;
• elaborar relatórios semestrais sobre as atividades de ensino para encami-
nhamento à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal Nível Superior
(CAPES) ou quando solicitado. (BEHAR, 2013, p. 153-154)
Observe que, além de conhecimento específico disciplinar e de conhecimento em gestão
pedagógica, são diversas as atividades que envolvem a atuação do professor. Nesse contex-
to, a publicação do MEC, Referenciais de qualidade para educação superior a distância, destaca
que os docentes que atuam nos cursos nessa modalidade devem ser capazes de:
• estabelecer os fundamentos teóricos do projeto;
• selecionar e preparar todo o conteúdo curricular articulado a procedimentos
e atividades pedagógicas;
• identificar os objetivos referentes a competências cognitivas, habilidades
e atitudes;

Atuação da tutoria na Educação a Distância 23


2 A EaD na formação profissional

• definir bibliografia, videografia, iconografia, audiografia, tanto básicas


quanto complementares;
• elaborar o material didático para programas a distância;
• realizar a gestão acadêmica do processo de ensino-aprendizagem, em parti-
cular motivar, orientar, acompanhar e avaliar os alunos;
• avaliar-se continuamente como profissional participante do coletivo de um
projeto de ensino superior a distância. (BRASIL, 2007, p. 20)
Para ampliar e apresentar mais uma visão que complementa as diferentes ações de-
senvolvidas pelo professor, Belloni (2009) traz uma importante contribuição que também
retrata a atuação docente na EaD. A autora caracteriza a ação docente em seis atividades,
apresentadas no quadro a seguir.

Quadro 1 – Funções do professor na EaD.

Função Descrição
Orienta o estudo e a aprendizagem, corresponde à função pe-
Professor formador
dagógica do professor do ensino presencial.
Conceptor e realizador Responsabiliza-se pela elaboração do plano pedagógico e sele-
de cursos e materiais ção de conteúdos.
Pesquisa e se atualiza em sua disciplina específica, reflete so-
Professor pesquisador bre sua prática pedagógica, orienta e participa da pesquisa de
seus alunos.
Orienta o aluno em seus estudos relativos à disciplina pela qual
Professor tutor
é responsável e em geral participa da pesquisa de seus alunos.
Responsabiliza-se pela organização pedagógica dos conteú-
Tecnólogo educacional dos, assegurando a qualidade pedagógica e comunicacional
dos materiais do curso.
Responsabiliza-se pelo acompanhamento das atividades pre-
Monitor
senciais (quando pré-definidas no plano de ensino).
Fonte: BELLONI, 2009, p. 83-84. Adaptado.

Correia (2016) apresenta ainda outra atividade desempenhada pelo professor que refle-
te diretamente na qualidade de um curso a distância: o desenvolvimento de conteúdo. Na
elaboração de conteúdo, o professor deve ter como foco o perfil de seus alunos, de modo
que os objetivos pedagógicos sejam cumpridos. Além disso, quanto à produção, os docentes
podem ainda atuar na gravação de videoaulas.
Para a produção de conteúdo, é preciso que o professor disponibilize um momento
para a organização e escrita do material, a fim de atender às características da EaD, entre
elas alunos estudando em espaços distintos e variados, o que exige, por exemplo, linguagem
clara e objetiva. Assim, Correia (2016, p. 64) resume que o professor que escreve o conteúdo,
também conhecido como professor conteudista, ao escrever, deve ter em mente “para quem
está escrevendo, por que está escrevendo e o que o leitor precisa para compreender o que
está sendo proposto em seu texto”.

24 Atuação da tutoria na Educação a Distância


A EaD na formação profissional 2
Diante das diferentes metodologias adotadas nos cursos a distância e que envolvem
diretamente a participação do professor, há o uso de videoaulas, que têm se tornado cada
vez mais frequentes. Segundo Correia (2016), diversas universidades, ao transmitir uma
aula por videoconferência, gravam-na para disponibilizar no ambiente virtual de ensino-
-aprendizagem (Avea). Essa é mais uma forma de o professor atuar na EaD. No Capítulo 6
desta obra, aprofundamos nosso estudo sobre a produção dos materiais didáticos e como o
professor atua nesse processo.
Com base nas atribuições docentes nos cursos a distância, percebemos que o professor é
bastante exigido e que sua atuação é ampla, conforme destacado nos Referenciais de qualidade
para educação superior a distância: “é enganoso considerar que programas a distância mini-
mizam o trabalho e a mediação do professor. Muito pelo contrário, nos cursos superiores a
distância, os professores veem suas funções se expandirem” (BRASIL, 2007, p. 20).
Ser professor na EaD é enfrentar desafios constantemente, ainda mais quando levamos
em conta os desafios que a tecnologia apresenta e como acontece a formação docente em um
processo de inclusão digital. E é sobre isso que iremos refletir no tópico a seguir.

2.2 Os desafios da inclusão digital


na formação docente

A integração da tecnologia no cotidiano do ensinar e aprender é um fato que deve ser


considerado na formação dos professores, especialmente quando nos referimos aos benefí-
cios e facilidades que a tecnologia proporciona. Assim, saber incorporá-la na proposta de
ensino é mais uma tarefa para o professor que tem contato com alunos da nova geração.
Nesse contexto, Tajra (2012, p. 98) trata sobre essa perspectiva da carreira docente.
O professor deve estar aberto para as mudanças, principalmente em relação à
sua nova postura, o de facilitador e coordenador do processo de ensino-apren-
dizagem; ele precisa aprender a aprender, a lidar com as rápidas mudanças, ser
dinâmico e flexível. Acabou a esfera educacional de detenção do conhecimento,
do professor “sabe-tudo”.
Refletindo sobre essa afirmação, percebemos que o professor precisa ser flexível e estar
aberto a novas formas de ensinar, precisa buscar informações para como complementar seu
plano de ensino e integrar as tecnologias ao processo de ensino-aprendizagem. O docente
deve sempre se lembrar de que seus alunos, independentemente da faixa etária, estão en-
volvidos com as tecnologias nas atividades do dia a dia, seja para ler uma notícia, consultar
preços de produtos, comprar equipamentos e até mesmo interagir nas redes sociais: eles
estão cercados pela tecnologia.
Mas como o professor pode acompanhar essas mudanças e proporcionar um ensino
atualizado para seu aluno? Na figura a seguir, apresentamos algumas sugestões de como o
professor pode se atualizar quanto ao uso das tecnologias no cotidiano de ensino.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 25


2 A EaD na formação profissional

Figura 1 – Atualização docente quanto ao uso das tecnologias.

Gerenciamento
Conhecimento da sala de aula
pedagógico com os recursos
tecnológicos

Integração
de tecnologias Didática mais
com as propostas interativa
pedagógicas

Conceitos básicos Revisão das


de informática práticas adotadas

Fonte: Elaborada pela autora com base em TAJRA, 2012/ sliplee/iStockphoto.

Observe que essas são ações que envolvem vivências e práticas do dia a dia. Assim, o
compartilhamento de informações com os demais colegas de profissão pode contribuir para
que os desafios da inclusão digital na formação e ação docente aconteçam de modo mais
natural e integrado. Complementar a essas ações, destacamos a necessidade de comparti-
lhar informações e conhecimento, incentivando a implementação de práticas que valorizem
a reflexão coletiva e dialogada, uma vez que, dessa forma, contribui-se com a construção de
novos conhecimentos (PARENTE; VALLE; MATTOS, 2015).
Ao fazer parte dessa sociedade que exige de cada um de nós atenção e preparo para o
novo, torna-se um desafio, ainda mais intenso, quando nos referimos ao papel do professor,
uma vez que ele é o profissional que prepara outros profissionais. Assim, Kenski reflete so-
bre o desafio dessa sociedade em constante transformação.
Formar professores com qualidade e conhecimento teórico e prático para atuar
em múltiplas frentes, além dos espaços tradicionais da educação regular – como
educação a distância; educação mediada pelas tecnologias; educação cooperati-
va, empreendedora inclusiva, etc. –, é uma necessidade que a nova cultura e a
nova sociedade exigem. (KENSKI, 2013, p. 91)

26 Atuação da tutoria na Educação a Distância


A EaD na formação profissional 2
Para atender a essa demanda, Behar (2013) destaca que, na atual sociedade em que vive-
mos, ter pensamento crítico e funcional relacionado à informação, às tecnologias e às mídias
se torna essencial. Assim, a autora apresenta uma relação de componentes que integram
essa necessidade de compreender e utilizar cada vez mais as tecnologias, a qual a autora
define como fluência digital.

Quadro 2 – Componentes da fluência digital.

Componentes Ação
Engajar-se em raciocínio continuado.
Testar uma solução.
Capacidades
Organizar e navegar em diferentes informações.
intelectuais
Comunicar-se com outros públicos.
Antecipar mudanças tecnológicas.
Configurar um computador pessoal.
Utilizar pacotes de software para criação de texto e ilustrações.
Habilidades de
tecnologia da Utilizar a internet para encontrar novas informações.
informação
Utilizar planilhas para organizar processos.
Utilizar materiais instrucionais para aprender sobre novas aplicações.
Fonte: BEHAR, 2013, p. 295-296. Adaptado.

Com base nesses componentes, é possível identificar ações que podem fazer parte do
nosso cotidiano e, principalmente, ser adaptadas para diferentes situações e contextos. Nessa
perspectiva, consideramos que vivemos em um processo de mudança constante, exigindo
a inclusão digital, que vem acompanhada de desafios. Esse processo de mudança, segundo
Tajra (2012), envolve três etapas que formam um ciclo, conforme apresenta a figura a seguir.

Figura 2 – Processo de mudança.

Descongelamento Mudança Recongelamento

Renovação

Fonte: TAJRA, 2012, p. 110.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 27


2 A EaD na formação profissional

O ciclo proposto por Tajra reflete o início de nossa reflexão sobre a necessidade de o
professor estar aberto às mudanças, estando disposto a rever o que é feito e atualizando-se
para uma nova realidade. Esse é então o primeiro desafio da inclusão digital. Para a autora,
a etapa de descongelamento tem como principal característica o reconhecimento que o pro-
fessor apresenta sobre a necessidade de mudança e revisão dos paradigmas.
A etapa de mudança está relacionada às ações que promovem esse processo de maneira
teórica e prática, ou seja, é quando o professor está em busca de novas informações teóri-
cas que irão auxiliá-lo a assimilar o que precisa e pode ser adotado nas ações cotidianas da
prática docente. Segundo Tajra (2012, p. 111), essa etapa de “mudança é concluída quando
estamos aptos para a nova realidade proposta”.
Por fim, há a etapa de recongelamento, aquela que representa o surgimento de novas
oportunidades, como um novo recurso disponível no sistema de acompanhamento dos alu-
nos ou, ainda, uma nova forma de compartilhar conhecimento usando as tecnologias. É nesse
momento que devemos retomar o processo de mudança, no qual torna-se preciso desconge-
lar os novos paradigmas construídos e identificar as próximas possibilidades (TAJRA, 2012).
O mundo digital está em constante transformação e estar sempre atualizado é um de-
safio que faz parte de todos aqueles que estão em busca do novo, de utilizar as tecnologias
mais atuais. É preciso refletir sobre o uso adequado das tecnologias, para que elas sejam
utilizadas de modo que contribuam com a formação do aluno, o que faz com que a inclusão
digital também seja um desafio constante ao professor.
Nesse contexto, vamos ampliar nosso conhecimento no tópico seguinte, que tem como
foco a formação continuada docente na EaD.

2.3 Formação continuada e a EaD

A formação continuada de professores é uma necessidade constante, especialmente


quando associamos o avanço das tecnologias e a expansão cada vez mais veloz da modalida-
de a distância. Segundo Parente, Valle e Mattos (2015, p. 25), “a formação continuada, pensa-
da em novas bases como uma das dimensões da formação docente, é o recurso mais eficiente
para manter os professores permanentemente atualizados sobre as mudanças na educação”.
Quando nos referimos à formação docente integrada ao uso das tecnologias, torna-se
relevante destacar que seu processo de aprendizagem é diferenciado, especialmente quando
falamos de EaD. Partindo da essência dessa modalidade, sabemos que o espaço e o tempo
para ensinar e aprender não são restritos, a aprendizagem acontece a todo instante, espe-
cialmente diante da mediação realizada entre os atores envolvidos. Ficou interessado sobre
como acontece a mediação que auxilia nesse processo de ensino-aprendizagem? Vamos nos
aprofundar sobre esse assunto no Capítulo 5, que será dedicado à aprendizagem na EaD.
Considerando que essa modalidade vem se fortalecendo com o passar do tempo, pre-
cisamos ter em mente que utilizá-la para a formação docente ainda pode ser novidade
para muitos, especialmente se levarmos em conta que esse momento pode ser duplamente
novo, com a capacitação utilizando as tecnologias digitais e o professor no papel de aluno.

28 Atuação da tutoria na Educação a Distância


A EaD na formação profissional 2
Nesse contexto, Tajra (2012) apresenta um ciclo de aprendizagem para representar esse
momento. Segundo a autora, esse ciclo envolve três etapas: capacitação, exercitação e pla-
nejamento de novas ações.

Figura 3 – Ciclo de aprendizagem.

Capacitação Exercitação

Planejamento
de novas ações

Fonte: Elaborada pela autora com base em TAJRA, 2012./NatBasil/iStockphoto.

A primeira etapa, capacitação, corresponde aos momentos em que o professor se torna


aluno novamente. Nessa etapa, ele tem o acompanhamento de um especialista para adquirir
informações, além da interação e do contato com outros colegas de profissão para comparti-
lhar experiências e construir novos conhecimentos. Na EaD esse acompanhamento é facilita-
do pelo uso das tecnologias digitais realizadas no Avea. No Capítulo 8, você pode conhecer
mais sobre os benefícios do Avea.
O segundo momento que compõe o ciclo de aprendizagem é a exercitação, ou seja, a
parte prática. Aqui, o professor, na condição de aluno, tem a oportunidade de interagir com
outros colegas docentes, compartilhando ideias, vivências e experiências, ampliando seu
leque de conhecimento e tendo acesso a outras experiências de professores, podendo, assim,
explorar, refletir e adequar aquilo que vem aprendendo à sua realidade, na prática em sala
de aula com seus alunos. Esse pode ser considerado um dos maiores benefícios de utilizar
a EaD como meio para formação docente. Pela flexibilidade e instantaneidade proporcio-
nadas, a EaD contribui para que o professor em formação aplique na prática e de maneira
rápida aquilo que vem aprendendo.
Para fechar o ciclo, há então o planejamento de novas ações, que segundo Tajra (2012),
acontece após a reflexão e a nova visão construída na etapa de exercitação do ciclo de
aprendizagem. Assim, espera-se que, com base nesse ciclo de aprendizagem, o professor
se sinta motivado a continuar sua formação, especialmente quando realizada na modali-
dade a distância.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 29


2 A EaD na formação profissional

Parente, Valle e Mattos (2015, p. 35) afirmam que a formação docente na EaD “é uma
oportunidade de se ampliar conhecimentos e informações úteis para um bom desempenho
profissional e, ao mesmo tempo, familiariza os professores com o modus operandi da tecno-
logia utilizada, estimulando, possivelmente, a reformulação de suas práticas pedagógicas”.
Nessa perspectiva de estímulo à busca do conhecimento de modo constante, o Ministério
da Educação (MEC) oferece diferentes cursos de formação continuada. Listamos, a seguir,
alguns dos programas ofertados.

Quadro 3 – Programas do MEC para formação docente.

Programa Descrição
O programa oferece formação inicial a distância a professores em
exercício nos anos/séries finais do Ensino Fundamental ou Ensino
Médio dos sistemas públicos de ensino. O Pró-licenciatura ocorre em
parceria com instituições de Ensino Superior que implementam cur-
Pró-licenciatura
sos de licenciatura a distância, com duração igual ou superior à míni-
ma exigida para os cursos presenciais, de modo que o professor-aluno
mantenha suas atividades docentes. O programa é desenvolvido no
âmbito da Universidade Aberta do Brasil.
O Pró-letramento – Mobilização pela Qualidade da Educação – é um
programa de formação continuada de professores para a melhoria da
qualidade de aprendizagem da leitura/escrita e matemática nos anos/
Pró-letramento séries iniciais do Ensino Fundamental. O programa é realizado pelo
MEC, em parceria com universidades que integram a Rede Nacional
de Formação Continuada e com adesão dos estados e municípios.
O programa é ofertado na modalidade semipresencial.
O ProInfantil é um curso de nível médio, a distância, na modalidade
normal. Destina-se aos profissionais que atuam em sala de aula da
Educação Infantil, nas creches e pré-escolas das redes públicas – mu-
ProInfantil
nicipais e estaduais – e da rede privada, sem fins lucrativos – comu-
nitárias, filantrópicas ou confessionais – conveniadas ou não, sem a
formação específica para o magistério.
Mídias na Educação é um programa de educação a distância, com es-
trutura modular, que visa proporcionar formação continuada para o
uso pedagógico das diferentes tecnologias da informação e da comu-
Mídias na
nicação – TV e vídeo, informática, rádio e impresso. O público-alvo
Educação
prioritário são os professores da Educação Básica. O programa é de-
senvolvido pela Secretaria de Educação a Distância (Seed), em parce-
ria com secretarias de educação e universidades públicas.
Fonte: Elaborado pela autora.

Com base nessas informações, percebemos que a formação docente é contínua e que,
quando a relacionamos com o uso das tecnologias, a EaD só vem a somar nesse processo,
pois estimula o professor a desenvolver novas habilidades e competências, enriquecendo
ainda mais sua prática e seus saberes.

30 Atuação da tutoria na Educação a Distância


A EaD na formação profissional 2
Conclusão

Neste capítulo, tivemos a oportunidade de refletir sobre a atuação docente em relação


ao uso das tecnologias, bem como sobre sua atribuição nos cursos na modalidade em EaD.
O avanço das tecnologias se tornou um importante fator para as mudanças no modo de
ensinar e de aprender, em que o papel do professor foi intensificado, uma vez que se exige
domínio e saberes sobre o uso das mídias e tecnologias digitais.
A necessidade de formação contínua sempre foi uma constante na profissão docente
porém, quando acrescentamos o uso das tecnologias no processo de ensino-aprendizagem,
essa necessidade se torna ainda mais relevante. A atuação do professor nos cursos ofertados
na modalidade a distância passou a exigir mais envolvimento desse profissional, uma vez
que ele está presente em diferentes momentos do curso, como no planejamento, na elabora-
ção de material, na gravação de videoaula e na gestão pedagógica.
O conhecimento acerca das tecnologias faz com que esse professor busque sua inclusão
no mundo digital, superando desafios e complementando sua atuação. E, para vencer tais
desafios, a EaD contribui por meio da possibilidade de formação continuada, proporcionan-
do uma nova experiência para esse professor-aluno, que está em busca do novo, da constru-
ção do conhecimento para agregar valor à sua profissão.

Ampliando seus conhecimentos


A EaD é uma modalidade educacional em evolução e seus desafios são constantes.
Paralelo a esse desafio, temos o uso cada vez mais frequente das tecnologias digitais pelas
pessoas. Mesmo diante do avanço tanto da EaD quanto das tecnologias, ainda se faz neces-
sária a inclusão digital. Nesse contexto, sugerimos a leitura do texto de Silva, Marcon e Ripa
(2017), que destacam o desafio que a inclusão digital representa para a EaD.

Inclusão digital
(SILVA; MARCON; RIPA, 2017, p. 104-105)

A inclusão digital se torna um desafio na Educação a Distância quando pensa-


mos, inicialmente, na democratização do acesso às tecnologias digitais. Porém,
mais do que isso, pensamos que é preciso superar a simples busca do acesso do
sujeito às tecnologias, pois “enquanto o foco permanecer no acesso, a reforma
permanecerá concentrada nas tecnologias; assim que começarmos a falar em
participação, a ênfase se deslocará para os protocolos e práticas culturais”
(JENKINS, 2009, p. 52). Mais importante do que proporcionar o ingresso do
sujeito no mundo tecnológico, o que está em pauta é a construção de novas for-
mas de participação social. Marcon (2015, p. 99), compreende inclusão digital;

Atuação da tutoria na Educação a Distância 31


2 A EaD na formação profissional

[...] como um processo que fomenta apropriações tecnológicas nas quais


os sujeitos são compreendidos como produtores ativos de conhecimento
e de cultura, em uma dinâmica reticular que privilegia a vivência de
características nucleares na sociedade contemporânea, como a interação,
a autoria e a colaboração. Inclusão digital pressupõe o empoderamento
das pessoas por meio das tecnologias, a garantia à equidade social e à
valorização da diversidade, suprindo necessidades individuais e cole-
tivas, visando à transformação das próprias condições de existência e o
exercício da cidadania na rede.

Na percepção da autora, o conceito de inclusão digital perpassa por três eixos: 1)


Apropriação/Fluência/Empoderamento Tecnológico; 2) Produção/Autoria indi-
vidual/coletiva de conhecimento e de cultura e 3) Exercício da cidadania na rede.

O eixo 1 – Apropriação/Fluência/Empoderamento Tecnológico – diz respeito ao


acesso, à apropriação, ao domínio e à fluência tecnológica, elementos necessá-
rios para reconhecer e transitar pela linguagem hipermidiática, condutora da
cultura digital. É nesse eixo que se dialoga com os diferentes níveis de apro-
priação tecnológica e letramento digital, reconhecendo a necessidade de se
assegurar a equidade de acesso, bem como oportunizar o empoderamento dos
sujeitos por meio das tecnologias digitais de rede, reconhecendo seu potencial
comunicacional, educativo e político (MARCON, 2015).

O eixo 2 – Produção/Autoria individual/coletiva de conhecimento e cultura –


compreende os sujeitos como autores e produtores ativos de conhecimento e
de cultura. As tecnologias digitais de rede potencializam a vivência de pro-
cessos comunicacionais interativos, autorais e colaborativos. Com a abertura
dos polos de emissão, a cibercultura autoriza o sujeito a se expressar, interagir
e participar. Supera-se a comunicação unidirecional e os limites temporais e
espaciais, privilegia-se a interação todos-todos. É nesse eixo que se correlaciona
a inclusão digital com a apropriação crítica e criativa das tecnologias digitais de
rede, na qual os sujeitos, além de consumidores, são autorizados a criar, pro-
duzir e compartilhar informações, conhecimentos e cultura (MARCON, 2015).

O eixo 3 – Exercício da cidadania na rede – refere-se à garantia de participa-


ção política dos sujeitos no ciberespaço e à valorização da diversidade social.
Compreende-se que apropriação tecnológica pode acontecer de acordo com a
realidade e interesses de cada sujeito, isso é, cada um apropria-se das tecnologias
de acordo com as suas necessidades individuais, coletivas ou comunitárias. Nesse
eixo, se faz uma interlocução com propostas que objetivam o reconhecimento das
tecnologias digitais de rede como propulsoras de transformação das próprias con-
dições de existência e do exercício da cidadania na rede (MARCON, 2015).

32 Atuação da tutoria na Educação a Distância


A EaD na formação profissional 2
Diante desta compreensão da inclusão digital como um processo complexo que
acontece por meio destes três eixos centrais, e ao pensar que na modalidade a
distância os processos de ensino-aprendizagem acontecem, sobretudo, media-
dos pelas tecnologias digitais de informação e comunicação, entendemos que é
possível fomentar processos de inclusão digital na formação inicial a distância,
desde que a proposta pedagógica destes cursos seja pensada a partir das carac-
terísticas e dos potenciais das tecnologias. O desenho didático destas propostas
e a apropriação das tecnologias na perspectiva apontada pelos três eixos são
desafios prementes da EaD que precisam ser considerados.

Atividades
1. Os cursos na modalidade em EaD envolvem a atuação de diferentes profissionais,
mas o professor é aquele que está diretamente ligado ao que será apresentado para
o aluno. Sugerimos, então, que o docente da EaD apresente atribuições diferencia-
das para sua atuação, de modo que a aprendizagem de qualidade seja o principal
objetivo. Nesse contexto, descreva ao menos cinco atribuições que os professores da
modalidade a distância precisam apresentar.

2. Atuar em cursos a distância exige do professor conhecimento e uso das tecnologias e


mídias digitais. Porém, vivemos em uma sociedade que está em constante transfor-
mação, o que faz com que muitos professores encontrem dificuldades para utilizar
esses novos recursos e ferramentas. A inclusão digital torna-se, assim, um desafio
para o professor, porém algumas ações são importantes e o auxiliam a superar essas
dificuldades. Descreva quais ações são essas.

3. A formação continuada de professores por meio da EaD é uma realidade cada vez
mais frequente no âmbito docente, tanto é que diversas ações são desenvolvidas pelo
governo a fim de estimular esses profissionais a atualizarem seus conhecimentos.
Diante dessa perspectiva, como você considera que a EaD pode contribuir, de forma
prática, para que os professores aproveitem ao máximo o que é proporcionado nos
cursos de formação?

Referências
BEHAR, P. A. (Org). Competências em educação a distância. Porto Alegre: Penso, 2013.
BELLONI, M. L. Educação a distância. 5. ed. Campinas: Autores Associados, 2009. (Coleção Educação
Contemporânea).
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Referenciais de qualidade para
educação superior a distância preliminar. Brasília: MEC, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.
br/seed/arquivos/pdf/referenciaisead.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2018.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 33


2 A EaD na formação profissional

CORREIA, R. A. R. Introdução à educação a distância. São Paulo: Cengage Learning, 2016.


KENSKI, V. M. Tecnologias e tempo docente. Campinas: Papirus, 2013.
PARENTE, C. M. D.; VALLE, L. E. L. R.; MATTOS, M. J. V. M. (Orgs.) A formação de professores e
seus desafios frente às mudanças sociais, políticas e tecnológicas. Porto Alegre: Penso, 2015.
ROSINI, A. M. As novas tecnologias da informação e a educação a distância. São Paulo: Cengage
Learning, 2007.
SILVA, S. C.; MARCON, K.; RIPA, R. Desafios e perspectivas da formação do pedagogo na modali-
dade a distância. In.: TEIXEIRA, C. S.; SOUZA, M. V. (Orgs). Educação fora da caixa: tendência para
a educação no século XXI. Florianópolis: Perse, 2017. Disponível em: <http://eduforadacaixa.com.br/
principal/wp-content/uploads/2017/11/book-eduforadacaixa-vol2-v3.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2018.
TAJRA, S. F. Informática na educação: novas ferramentas pedagógicas para o professor na atualidade.
9. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Érica, 2012.

Resolução
1. Algumas atribuições do professor nos cursos a distância envolvem atividades que
se diferenciam daquelas desempenhadas no ensino presencial. No decorrer do texto,
foram apresentadas visões de diferentes autores, assim, consideram-se as seguintes
atribuições como as mais relevantes:

• Desenvolvimento de conteúdo e atividades a serem aplicadas.

• Elaboração das atividades acadêmicas a serem realizadas pelos tutores.

• Identificação do perfil do aluno a ser atendido.

• Realização da gestão acadêmica do processo de ensino-aprendizagem.

• Acompanhamento do desenvolvimento do curso.

• Garantia da qualidade do material apresentado.

2. A formação docente que faz uso das tecnologias pode se tornar mais prazerosa e
facilitada por meio de ações que envolvem a integração entre tecnologia e o processo
de ensino-aprendizagem. Assim, destacamos as seguintes ações para que o professor
possa se atualizar no uso das tecnologias:

• Apresentar conceitos básicos de informártica.

• Ter conhecimento pedagógico.

• Buscar a integração de tecnologias com as propostas pedagógicas.

• Gerenciar a sala de aula com os recursos tecnológicos.

• Realizar revisão das práticas adotadas.

• Apresentar uma didática mais interativa.

34 Atuação da tutoria na Educação a Distância


A EaD na formação profissional 2
3. A EaD apresenta características que estimulam a interação entre seus atores (pro-
fessores e alunos), momentos que enriquecem a formação, uma vez que a aprendi-
zagem é construída pelo compartilhamento de informações, de conhecimentos e de
experiências. As reflexões que essas ações proporcionam são importantes fatores que
contribuem para que o ciclo de aprendizagem se torne ainda mais efetivo, em que o
exercício do novo conhecimento permita o planejamento de novas ações, estimulan-
do a busca constante de capacitação e formação.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 35


3
A tutoria na EaD

Na educação a distância, o processo de ensinar e aprender acontece de um modo


diferenciado, em que os principais envolvidos – professores e alunos – estão sepa-
rados física e geograficamente. Para facilitar esse processo de ensino-aprendizagem
que acontece de forma particular, os cursos na modalidade a distância contam com a
presença da tutoria.

Para conhecer como esse profissional desempenha suas atividades e de que forma
contribui para o ensino, este capítulo aborda o tutor. Mas, antes de apresentar suas fun-
ções e atribuições, teremos a oportunidade de refletir sobre essa profissão e os docu-
mentos legais que regem a atividade. Também vamos conhecer um pouco da forma
como a tutoria ocorre no Brasil, as funções e atribuições do tutor e como sua formação
contribui para os processos de ensino-aprendizagem nos cursos a distância.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 37


3 A tutoria na EaD

3.1 Quem é o tutor na EaD

A EaD é uma modalidade educacional que envolve a atuação de diferentes profissio-


nais, especialmente quando consideramos todo o processo, da produção de materiais ao
atendimento ao aluno, que conta com uma equipe multidisciplinar atuando em diversos
momentos nos cursos ofertados a distância. Entre os envolvidos no processo educacional a
distância, estão os seguintes profissionais:
• Professores conteudistas.
• Tutores.
• Designers gráficos.
• Designers educacionais.
• Programadores web.
• Roteiristas de vídeo.
No Capítulo 2, conhecemos um pouco sobre a atuação do professor conteudista nos
cursos de EaD. Vimos que esse profissional desempenha diversas ações e atividades fun-
damentais ao processo de ensino-aprendizagem do aluno. No Capítulo 6, vamos conhecer
mais a respeito do designer gráfico, do designer educacional, do programador web e do rotei-
rista de vídeo e sobre como eles estão envolvidos na EaD, capítulo em que também tratare-
mos do material didático. Já, neste capítulo, o foco será conhecer a respeito da tutoria nos
cursos em EaD.
A equipe de tutoria representa um papel de extrema importância nos cursos a distância,
uma vez que seus profissionais estão diretamente envolvidos no processo de acompanha-
mento da aprendizagem do aluno, atuando de forma ativa na prática pedagógica. Para os
Referenciais de qualidade para educação superior a distância,
o tutor deve ser compreendido como um dos sujeitos que participa ativamente
da prática pedagógica. Suas atividades desenvolvidas a distância e/ou presen-
cialmente devem contribuir para o desenvolvimento dos processos de ensino e
de aprendizagem e para o acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico.
(BRASIL, 2007, p. 21)
Surge, então, o seguinte questionamento: o tutor é professor? Essa é uma reflexão que
faz parte das discussões de diferentes autores que estudam a EaD.
Mattar (2012) apresenta diferentes documentos legais que, ao definirem a atividade
exercida pela tutoria, possibilitam o entendimento da atuação do tutor como professor.
Observe no quadro a seguir os documentos mencionados pelo autor.

38 Atuação da tutoria na Educação a Distância


A tutoria na EaD 3
Quadro 1 – Tutor como professor: documentos legais.

Documento Descrição
Parágrafo único. Para os fins desta Portaria, entende-se que a
tutoria das disciplinas ofertadas na modalidade semipresencial
Portaria n. 4.059, de 10 implica na existência de docentes qualificados em nível compa-
de dezembro de 2004 tível ao previsto no projeto pedagógico do curso, com carga ho-
rária específica para os momentos presenciais e os momentos a
distância. (BRASIL, 2004)
Tutor: profissional selecionado pelas IPES vinculadas ao
Sistema UAB para o exercício das atividades típicas de tutoria,
Resolução n. 26, de sendo exigida formação de nível superior e experiência mínima
5 de junho de 2009 de 1 (um) ano no magistério do ensino básico ou superior, ou
ter formação pós-graduada, ou estar vinculado a programa de
pós-graduação. (BRASIL, 2009a)
Fonte: Elaborado pela autora.

Complementando a discussão proposta por Mattar, Bento (2016, p. 85) ressalta que “o
tutor precisa ser reconhecido formalmente pelo trabalho docente que desempenha. Acima
de tudo, o tutor é considerado um educador, já que ele responde pelas ações educativas dos
alunos na EaD”. Além disso, Mattar destaca o uso do termo tutor, que tem origem no Direito
e é utilizado com frequência na área jurídica, em que a palavra tutor representa a pessoa
que protege alguém mais frágil, que está em situação delicada, que esteja incapacitado de
alguma forma para desempenhar determinado tipo de atividade.
Com base nessa discussão sobre o uso do termo, muitos autores, ao se referirem ao
tutor, utilizam a denominação professor-tutor. Assim, no decorrer deste livro utilizaremos,
então, a terminologia tutor ou professor-tutor para nos referirmos ao profissional da tutoria.
De acordo com Bento (2016), o tutor é um dos profissionais que compõem a equipe
atuante no processo de ensino-aprendizagem do aluno na modalidade a distância. Para o
autor, o tutor “é a figura mais significativa pelo fato de representar a garantia do diálogo
que caracteriza a comunicação, a educação e a produção do conhecimento” (BENTO, 2016,
p. 82). Com base nessa definição, podemos afirmar que o professor-tutor é o profissional res-
ponsável pela intermediação pedagógica realizada nos cursos a distância, ou seja, ele auxilia
o aluno no entendimento do conteúdo apresentado pelo professor, contribuindo para que a
aprendizagem do aluno seja efetiva.
A mediação pedagógica é um fator muito importante nos cursos a distância. Assim,
após conhecer mais sobre o tutor, as atividades desenvolvidas por ele e suas competências,
bem como sobre toda a equipe envolvida nos cursos a distância, você terá a oportunidade,
no Capítulo 5, de aprender a respeito da mediação pedagógica, que tem foco na aprendiza-
gem na EaD.
A tutoria exerce, então, um papel essencial na aquisição do conhecimento pelos alunos,
especialmente por realizar o acompanhamento das atividades e dos estudos. Mas, afinal,
como o tutor desempenha suas funções? A seguir, vamos entender mais sobre as tarefas que
são designadas à tutoria e as funções e atribuições destinadas ao tutor.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 39


3 A tutoria na EaD

Para conhecer quem é o tutor na EaD, Bezerra e Carvalho (2011) destacam algumas
atribuições gerais que fazem parte da atuação desse profissional.

Quadro 2 – Quem é o tutor: atribuições gerais.

Atribuição Descrição
Orienta o processo de aprendizagem dos alunos. A orientação
aqui se refere à indicação de estratégias de estudo para melhor
Tutor/orientador
aproveitamento da aprendizagem e do material disponibiliza-
do, contribuindo, assim, para a construção do conhecimento.
Atribuída ao tutor que é responsável pela aprendizagem e ava-
Tutor/professor liação do aluno. O tutor-professor é o articulador do processo
de ensinar e aprender.
Responsável por motivar o aluno a dar continuidade no estudo,
mesmo diante das dificuldades, especialmente aquelas relacio-
Tutor/motivador
nadas à compreensão do conteúdo. Essa atividade cria um vín-
culo afetivo entre tutor e aluno.
Responsável pela mediação do processo de ensino-aprendiza-
gem. Nessa atividade, o tutor incentiva o aluno a ter um pen-
Tutor/mediador
samento crítico, estimulando a autonomia e o diálogo entre os
alunos.
Fonte: Elaborado pela autora com base em BEZERRA; CARVALHO, 2011.

Compreender o papel da tutoria e como suas atividades estão relacionadas à apren-


dizagem do aluno que frequenta os cursos a distância é de extrema importância para o
entendimento de como a função é desenvolvida e aplicada no sistema de EaD no Brasil.
Assim, para ampliar o conhecimento a respeito da tutoria, no tópico a seguir conheceremos
a organização da tutoria no sistema brasileiro.

3.2 A tutoria no Brasil

Com a expansão cada vez maior da EaD no país, surgem diversas oportunidades de
atuação como tutor. Como vimos no tópico anterior, o ideal é que essa atividade seja reali-
zada por um professor da área, porém essa não é uma realidade que faz parte da prática que
encontramos. Segundo Correia (2016), a regulamentação da tutoria é muito recente no Brasil
e, diante dessa situação, os tutores apresentam formação em diferentes áreas e de diversos
tipos. Assim, torna-se um desafio traçar o perfil desse profissional.
De forma geral, independentemente da formação que o tutor deve apresentar, sua atua-
ção está na essência da atividade a ser desenvolvida. Quanto à função e atribuição do tutor,
que vamos conhecer de forma mais profunda no tópico a seguir, apresentamos aqui como
Correia (2016, p. 61) descreve a atividade da tutoria: “Ao tutor compete o acompanhamento
da vida acadêmica, apresentando soluções para as questões propostas, esclarecendo dúvi-
das e fomentando a interação. Esse profissional é o elo de todo o percurso, unindo os mate-
riais e atividades propostos, os alunos, as equipes de trabalho e os professores”.

40 Atuação da tutoria na Educação a Distância


A tutoria na EaD 3
Considerando o desafio que é definir o perfil necessário ao tutor, destacamos que sua
principal atividade é promover ações pedagógicas que contribuam com a aprendizagem do
aluno, facilitando e potencializando a construção do conhecimento. Assim, Correia (2016)
considera a relevância de proporcionar aos tutores formação específica para a atuação em
cursos de EaD, uma vez que é necessário ter um conhecimento mínimo sobre integração de
estratégias e metodologias utilizadas nessa modalidade, especialmente quanto à interação
entre tutores, professores e alunos. Dessa forma, torna-se relevante o reconhecimento dos
profissionais de tutoria para que sua atuação apresente o máximo de qualidade.
Mas como a atuação da tutoria está relacionada à qualidade do curso? Segundo os
Referenciais de qualidade para educação superior a distância, do MEC, é preciso que se tenha um
sistema de tutoria. Contudo, antes de aprendermos como é o sistema de tutoria no Brasil,
vamos conhecer os modelos e sistemas adotados no mundo.
A essência da tutoria é a mesma em diversos modelos adotados, nos quais o tutor é o
profissional que faz o acompanhamento da aprendizagem do aluno. Esse acompanhamento
envolve desde a orientação de estudos específicos até a verificação do seu comportamen-
to diante das atividades, especialmente com relação àquelas que necessitam de interação,
como os fóruns de discussão e os chats. Esse sistema de tutoria foi adotado pela primeira
vez em 1969, na The Open University, Inglaterra. Com o passar do tempo, outras universi-
dades adotaram o sistema, como a Universidad Nacional de Educación a Distancia (Uned),
da Espanha, em 1971; a University of South Africa (Unisa), da África do Sul, em 1972; e a
Anadolu University, da Turquia, em 1978. Essas universidades pioneiras na implantação do
sistema de tutoria serviram de exemplo para as que vieram posteriormente.
Na Inglaterra, a The Open University foi a primeira universidade a adotar um mode-
lo de tutoria no qual o professor-tutor tinha a responsabilidade de verificar o que o aluno
aprendia por meio dos materiais disponibilizados, orientando-o a argumentar sobre ques-
tões feitas a respeito do tema estudado. A tutoria, além de corrigir as atividades, também
instigava o aluno a realizar ações práticas e a buscar leituras complementares, bem como
orientava na organização do tempo para as tarefas a serem realizadas dentro de um prazo
solicitado (CORREIA, 2016).
Na Espanha, a Uned tem na figura do tutor o profissional que “auxilia os alunos nos
estudos, tirando suas dúvidas, dando explicações ou ajudando na realização das ativida-
des de aprendizagem” (CORREIA, 2016, p. 14). Nesse modelo, o tutor ainda realizava a
avaliação das atividades desenvolvidas pelos alunos no decorrer do curso. Essa tutoria
acontecia semanalmente, quando o tutor atendia os alunos em grupo ou individualmente.
O acompanhamento contínuo era feito por meio de correio, e-mail e telefone e, consideran-
do o período, destacamos o uso das tecnologias na educação. Percebemos, com esse exem-
plo, que o tutor não participa da elaboração do conteúdo, devendo usá-lo paralelamente
com o aluno.
No Canadá, destacamos um modelo diferente do apresentado na Inglaterra e na
Espanha. Nesse modelo, o papel da tutoria “está mais voltado para os aspectos ligados à or-
ganização e à motivação do que ao aspecto cognitivo” (CORREIA, 2016, p. 15). Na Université
Téluc, do Quebec, os tutores desempenham um papel que foca apenas no contato com o

Atuação da tutoria na Educação a Distância 41


3 A tutoria na EaD

aluno, atuando como um guia de sua aprendizagem. Nesse modelo, o tutor orienta sobre
como os alunos podem estudar, resolve as dúvidas sobre conteúdo e até mesmo atua no
esclarecimento de questões administrativas.
Esses são três modelos de tutoria adotados em universidades de países muito distintos
entre si. Na Inglaterra, o tutor está envolvido em todo o processo de aprendizagem do alu-
no, esclarecendo dúvidas de conteúdo e estimulando o raciocínio do que foi apresentado,
além de realizar o acompanhamento pedagógico de frequência. Na Espanha, o tutor está
presente de forma presencial diante do aluno uma vez por semana, além de realizar contato
por meio do uso de tecnologias. No Canadá, o tutor é um motivador do aluno e não desem-
penha atividades relacionadas ao conteúdo.
E no Brasil, como é o sistema de tutoria? Como mencionamos no início deste tópico,
os Referenciais de qualidade para educação superior a distância descrevem o sistema de tutoria
envolvendo a atuação de dois profissionais: o tutor a distância e o tutor presencial. Mas qual
a diferença entre eles? Observe o Quadro 3 a seguir.

Quadro 3 – Tutor a distância e tutor presencial.

Atua na instituição realizando a mediação do processo pedagógico.

Realiza suas atividades geograficamente à distância dos alunos.

Esclarece as dúvidas postadas nos fóruns (sua principal atribuição).

Tutor a Atende os alunos tanto via e-mail/plataforma de ensino-aprendizagem,


distância quanto por telefone.

Promove espaços de construção coletiva do conhecimento.

Seleciona material de apoio para complementação do estudo.

Participa dos processos avaliativos de ensino-aprendizagem.

Atende os alunos nos polos, em horários pré-estabelecidos.

Deve conhecer o projeto pedagógico do curso, o material didático e o con-


teúdo de sua responsabilidade.

Tutor Estimula o hábito da pesquisa entre os alunos.


presencial Desenvolve atividades individuais e em grupo.

Participa de momentos presenciais agendados, como avaliação, aula práti-


ca e estágio supervisionado.

Mantém contato com os alunos e equipe pedagógica do curso.


Fonte: BRASIL, 2007, p. 21. Adaptado.

Observe que, segundo os Referenciais de qualidade para educação superior a distância, o tutor
deve ter conhecimento do conteúdo específico em que atua no curso. O documento conside-
ra essa como uma condição essencial, devendo estar “aliada à necessidade de dinamismo,
visão crítica e global, capacidade para estimular a busca de conhecimento e habilidade com

42 Atuação da tutoria na Educação a Distância


A tutoria na EaD 3
as novas tecnologias de comunicação e informação” (BRASIL, 2007, p. 22). Essa descrição
vem ao encontro do que apresentamos no início deste tópico, quando destacamos a impor-
tância da capacitação e da formação dos tutores. Nesse contexto, a mesma publicação do
MEC sugere um programa de capacitação que envolva três dimensões:
1. Capacitação no domínio específico do conteúdo.
2. Capacitação em mídias de comunicação.
3. Capacitação em fundamentos da EaD e no modelo de tutoria.
Assim, notamos que a atuação da tutoria segue um modelo e um sistema que priorizam
a construção do conhecimento do aluno, em que a presença e atuação do tutor contribui com
esse processo, uma vez que, pela interação e o compartilhamento realizados, está facilitando
a aprendizagem. Mesmo diante dos diferentes modelos e sistemas existentes na EaD, perce-
bemos que a essência está em atender o aluno de forma que o objetivo de aprendizagem seja
atingido. Para conhecer mais especificamente as funções e atribuições do tutor com base nos
conhecimentos e competências necessários, apresentamos o tópico a seguir.

3.3 Funções e atribuições do tutor:


conhecimentos e competências necessários

Sabendo que a essência da atuação do tutor está no atendimento ao aluno, quais seriam,
então, suas funções e atribuições para desempenhar essa atividade? É preciso ter competên-
cias e habilidades específicas? É o que vamos ver no decorrer deste tópico.
Diversos autores da literatura nacional destacam as funções do tutor, mas, antes de
apresentá-las, vamos conhecer um pouco do contexto histórico. Segundo Bento (2016), o
termo tutoria começou a ser usado no século XV, em uma universidade, e significava o pro-
fissional que realizaria uma orientação de caráter religioso aos alunos, para que assim fosse
estimulada a infusão da fé e da conduta moral. Com o passar do tempo, já no século XX, a
tutoria passou a ser realizada do modo que estamos acostumados a vivenciar, ou seja, na
orientação e no acompanhamento de trabalhos relacionados à formação acadêmica.
Uma concepção muito comum na EaD é a de que o tutor sempre foi visto como um pro-
fissional que direciona a aprendizagem do aluno, e não ensina conteúdo específico (BENTO,
2016). Para o autor, o ensino “ficava a cargo dos materiais didáticos, considerados pacotes
autossuficientes que finalizavam com uma avaliação do tipo ‘prova’” (BENTO, 2016, p. 11).
Assim, durante um período, o ensino foi visto como transmissão de informação, ou seja, o
professor era o detentor do conhecimento e o aluno, o ouvinte que absorvia aquela infor-
mação e a transformava em conhecimento; fazendo-se presente o tutor apenas para garantir
que os objetivos do curso fossem atingidos. Nesse modelo, um grande peso era depositado
sobre o material didático (vamos destacar a importância do material didático nos cursos de
EaD no Capítulo 6).
Nesse contexto, Bento contribui com nossa reflexão sobre o papel da tutoria diante do
aprendizado, especialmente quando falamos da transmissão do conhecimento.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 43


3 A tutoria na EaD

A postura de transmissão do conhecimento precisa ser superada por práticas


que realcem a construção do conhecimento do aluno. Tal contexto contempla os
processos de interação entre os alunos-alunos e alunos-professor/tutor e a valo-
rização de diferentes linguagens nas situações pedagógicas, a partir do uso va-
riado de mídias necessárias para o ensino e aprendizagem de cursos a distância.
(BENTO, 2016, p. 11)
Perceba que a tutoria desempenha funções que promovem uma construção contínua
do conhecimento e que o aluno aprende por meio de ações como interação entre colegas e
professores. Essa tarefa de interação é essencial nas atribuições da tutoria, por isso teremos
a oportunidade de aprofundar mais sobre a questão nos capítulos sobre aprendizagem na
EaD, práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD, o ambiente virtual de ensino-
-aprendizagem e os desafios da tutoria.
Mas, afinal, o que o tutor precisa conhecer para desempenhar seu papel nos cursos a
distância? É preciso ter conhecimento e habilidades em diferentes temas e âmbitos. Observe
na figura a seguir os principais fatores que compõem esses conhecimentos.

Figura 1 – Conhecimentos necessários para o tutor.

Educação

Interdisci­pli­ Educação a
naridade ­distância

Conhecimentos
do tutor

Processo de
Teorias da
ensino-­
aprendizagem
-aprendizagem

Fonte: Elaborada pela autora.

Podemos afirmar, assim, que o tutor precisa apresentar conhecimentos básicos sobre
questões relacionadas ao ensinar e aprender. Para de fato contribuir com a aprendizagem do
aluno e o cumprimento do objetivo proposto no curso, o tutor deve possuir, segundo Behar
(2013), as competências destacadas na Figura 2.

44 Atuação da tutoria na Educação a Distância


A tutoria na EaD 3
Figura 2 – Competências necessárias para os tutores.

Planejamento • Baseado no estabelecimento de prioridades, metas e objetivos.

Relacionamento • Fundamentada na empatia, mediação pedagógica, facilitação nos processos


­interpessoal de ensino-aprendizagem e no foco ao ser humano.

• Condições para incentivar e mobilizar as trocas entre alunos, organizar gru-


Mediação
pos, orientar ações, problematizar posicionamentos e entendimentos do con-
pedagógica
teúdo em questão, visando aproximar os alunos.

• Leitura e compreensão do trabalho apresentado presencialmente ou a


Entrega e recebimento distância, de postagens de mensagens nas ferramentas de interação dos recur-
de feedback sos digitais, entre outras possibilidades, dando retorno de forma acolhedora e
respeitosa diante do processo de aprendizagem.

Gestão • Refere-se ao planejamento, adequação e organização de várias etapas do pro-


acadêmica cesso de desenvolvimento do curso.

Fonte: BEHAR, 2013, p. 168-169. Adaptada.

As competências necessárias ao tutor explanadas por Behar se complementam com os


conhecimentos apresentados por Bento, ilustrados na Figura 1. Perceba que as competências
de Behar ressaltam o comportamento do tutor como alguém que está próximo e atuando
diretamente no aprendizado do aluno, ou seja, atuando como um facilitador. Além desses
conhecimentos e competências, Correia (2016) enfatiza algumas dimensões de qualidade
que o tutor precisa ter, conforme a figura a seguir.

Figura 3 – Dimensões para a atuação do tutor.

Qualidades humanas Qualidades científicas Qualidades técnicas

Ter empatia
Conhecimento de Trabalhar
elementos pedagógicos com eficácia
Ter maturidade
intelectual e afetiva

Ter sociabilidade
Conhecimento Trabalhar
sobre didática em equipe
Ter responsabilidade

Fonte: Elaborada pela autora com base em CORREIA, 2016.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 45


3 A tutoria na EaD

Com base nessas informações sobre os conhecimentos, competências e qualidades que o


tutor precisa ter para atuar nos cursos a distância, podemos, então, apresentar suas atribuições
desempenhadas na prática. Segundo a Resolução n. 36/2009, do MEC, são atribuições do tutor
(BRASIL, 2009b):
• exercer as atividades típicas de tutoria a distância ou presencial;
• assistir aos alunos nas atividades do curso;
• mediar a comunicação de conteúdos entre o professor e os cursistas;
• apoiar o professor da disciplina nas atividades do curso;
• acompanhar as atividades do ambiente virtual de aprendizagem (AVA);
• coordenar as atividades presenciais;
• elaborar os relatórios de regularidade dos alunos;
• estabelecer e promover contato permanente com os alunos;
• aplicar avaliações;
• elaborar os relatórios de desempenho dos alunos nas atividades.
As funções e atribuições do tutor são essenciais no curso a distância, especialmente
quando consideramos o perfil dos alunos de EaD, que muitas vezes se sentem isolador por,
na maior parte do tempo, seu estudo acontecer em momentos e lugares distintos, além de
não terem o mesmo tipo de contato com o qual estão acostumados, uma vez que a interação
não é síncrona, instantânea. Assim, para desempenhar um trabalho de qualidade, o tutor
deve possuir as competências, as qualidades e os conhecimentos necessários para que seu
objetivo de contribuir e ser um facilitador na aprendizagem seja um fato real.

Conclusão

Neste capítulo, tivemos a oportunidade de refletir sobre a relevância do tutor no processo


de ensino-aprendizagem na EaD. Saber quem é o tutor e como esse profissional é citado na
legislação nos fez refletir sobre suas atividades, que muitas vezes são comparadas com (e reali-
zadas como) as de um professor. Analisando o contexto histórico, vimos que os tutores apenas
acompanhavam o desempenho de seus alunos e, com o passar do tempo, sua função mudou.
No Brasil, de forma mais específica, há um sistema de EaD que possibilita a atuação da
tutoria de duas formas: tutor presencial e tutor a distância. Ainda que, com características
e possibilidades de atuação distintas, esses dois tipos de tutor são muito importantes para
o aluno que busca auxílio e acompanhamento. Por fim, aprendemos que a atuação do tutor
exige conhecimentos, competências e qualidades específicas para que sua atividade aconte-
ça de forma a garantir a aprendizagem ampla pelo aluno.
Concluímos, assim, que a tutoria é uma função muito importante e relevante nos cursos
de EaD e que, depois de conhecer o que é exigido e necessário para desempenhar essa fun-
ção, é necessário respeitar e valorizar ainda mais esse profissional.

46 Atuação da tutoria na Educação a Distância


A tutoria na EaD 3
Ampliando seus conhecimentos
A tutoria é uma atividade de extrema importância para a EaD, especialmente quando
nos referimos ao processo de ensino-aprendizagem. No estudo deste capítulo, vimos que
a tutoria desempenha inúmeras tarefas que envolvem conhecimento pedagógico, o que
gera uma discussão a respeito da forma como o tutor é reconhecido (ou não) no campo
profissional. É nesse contexto que sugerimos uma reflexão sobre a identificação do tutor
como professor. Um grupo de profissionais envolvidos na EaD lançou um movimento
que fortalece a necessidade de reconhecer o tutor como professor. Assim, convidamos
você a ler o documento que traz as principais preocupações e a proposta do movimento
Tutor é professor.

Tutor é professor: carta de João Pessoa


(MATTAR, 2011)

Este documento é produto dos debates que ocorreram no Encontro de


Professores de EaD realizado em João Pessoa durante o 8º SENAED – Seminário
Nacional ABED de Educação a Distância, em 28 e 29 de abril de 2011, e organi-
zado pela ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância.

Um dos pressupostos que fundamenta este documento é que o exercício da


docência, independente de ser presencial ou à distância, está inserido nos prin-
cípios da educação, segundo a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, n. 9.394/96.

Nesse sentido, o documento expressa as inquietações de um movimento nacio-


nal que vem se desenvolvendo há anos, agora denominado “Tutor é Professor”.

A precarização do trabalho docente em EaD a que assistimos no país está subor-


dinada a projetos político-pedagógicos que proletarizam a função do professor,
caracterizando-o como tutor.

Em nossos debates houve consenso em relação aos problemas da docência na


UAB – Universidade Aberta do Brasil, dentre os quais foram levantados: o
fato de o professor, ao exercer a função hoje denominada tutor, receber uma
remuneração ínfima em relação à remuneração de professores que exercem
a docência na mesma instituição pública; o fato de receber uma bolsa (e não
salário), sem nenhum direito trabalhista; e a transitoriedade e instabilidade de
sua atuação, sem vinculação com a instituição. Em função desses problemas,
consideramos que os professores devem ter voz ativa na reelaboração de novos
modelos de EaD para o país.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 47


3 A tutoria na EaD

É importante ressaltar que a proletarização do trabalho docente na EaD não


ocorre apenas no ambiente acadêmico, mas também no ambiente corporativo e
em cursos livres, por exemplo.

Ressaltamos também a necessidade e importância da formação permanente e


adequada para a docência, em todos os níveis e modalidades.

Consideramos ainda que a docência em todos os âmbitos já está regulamentada


como profissão de professor, por isso é essencial a participação de sindicatos e
outras entidades representativas de professores nesta mobilização.

Sugerimos também uma discussão aprofundada sobre a remuneração do pro-


fessor e a limitação do número de alunos em turmas de EaD.

Atividades
1. A tutoria nos cursos a distância exige do tutor realizar diferentes atividades, que
muitas vezes são atribuídas como de docência. Por esse fato, as instituições descre-
vem o tutor de diferentes formas, de acordo com a função exercida. Nesse contexto,
apresente exemplos de práticas pedagógicas referentes à atuação de cada tipo de
tutoria, como tutor-orientador, tutor-professor, tutor-motivador e tutor-mediador.

2. No sistema de EaD no Brasil, a tutoria pode ser realizada de duas formas: a distância
e presencial. Essas maneiras de atuação estão apresentadas nos Referenciais de qua-
lidade para educação superior a distância, elaborados pelo MEC. Com base no seu co-
nhecimento e experiência, descreva três situações práticas que diferenciam a atuação
dessas duas tutorias (a distância e presencial).

3. Para desempenhar a função de tutor, segundo o que consta na literatura, é preciso


apresentar diferentes conhecimentos, competências e dimensões que compõem a
atuação desse profissional, e o objetivo deve estar sempre em oferecer um ensino de
qualidade e uma aprendizagem significativa para o aluno. Nesse sentido, descreva
as competências necessárias ao tutor para que ele contribua com a construção do
conhecimento do aluno.

Referências
BEHAR, P. A. (Org). Competências em educação a distância. Porto Alegre: Penso, 2013.
BENTO, D. O sistema tutorial para EaD. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
BEZERRA, M. A.; CARVALHO, A. B. G. Tutoria: concepções e práticas na educação a distância. In.:
SOUSA, R. P. de; MOITA, F. M. C. da S. C.; CARVALHO, A. B. G. (Org.). Tecnologias digitais na edu­
cação. Campina Grande: EduePB, 2011.

48 Atuação da tutoria na Educação a Distância


A tutoria na EaD 3
BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Resolução n. 26,
de 5 de junho de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, 8 jun. 2009a. Disponível em: <https://www.
fnde.gov.br/fndelegis/action/UrlPublicasAction.php?acao=getAtoPublico&sgl_tipo=RES&num_
ato=00000026&seq_ato=000&vlr_ano=2009&sgl_orgao=CD/FNDE/MEC>. Acesso em: 25 jan. 2018.
______. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Resolução n. 36,
de 13 de julho de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, 15 jul. 2009b. Disponível em: <https://www.
fnde.gov.br/fndelegis/action/UrlPublicasAction.php?acao=getAtoPublico&sgl_tipo=RES&num_
ato=00000036&seq_ato=000&vlr_ano=2009&sgl_orgao=CD/FNDE/MEC>. Acesso em: 25 jan. 2018.
______. Ministério da Educação. Portaria n. 4.059, de 10 de dezembro de 2004. Diário Oficial da
União, Brasília, 13 dez. 2004. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/nova/acs_
portaria4059.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2018.
______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Referenciais de qualidade para
educação superior a distância: versão preliminar. Brasília: MEC, 2007. Disponível em: <http://portal.
mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/referenciaisead.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2018.
CORREIA, R. A. R. Introdução à educação a distância. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
MATTAR, J. Tutoria e interação em educação a distância. São Paulo: Cengage Learning, 2012. (Série
Educação e Tecnologia).
______. Tutor é professor: carta de João Pessoa. Maio, 2011. Disponível em: <http://joaomattar.com/
blog/2011/05/04/tutor-e-professor-carta-de-joao-pessoa/>. Acesso em: 25 jan. 2018.

Resolução
1. Para essa questão, esperamos que você tenha como base a descrição apresentada no
Quadro 2 e a relacione com práticas da tutoria.

• Tutor-orientador: orienta o processo de aprendizagem dos alunos. A orientação aqui


se refere à indicação de estratégias de estudo para melhor aproveitamento da aprendiza-
gem e do material disponibilizado, contribuindo para a construção do conhecimento.
• Tutor-professor: função atribuída ao tutor que é responsável pela aprendizagem e ava-
liação do aluno. O tutor-professor é o articulador do processo de ensinar e aprender.
• Tutor-motivador: é responsável por motivar o aluno a dar continuidade ao estu-
do, mesmo diante das dificuldades, especialmente as relacionadas à compreensão do
conteúdo. Essa atividade cria um vínculo afetivo entre tutor e aluno.
• Tutor-mediador: responsável pela mediação do processo de ensino-aprendizagem.
Nessa atividade, o tutor incentiva o aluno a ter um pensamento crítico, estimulando
a autonomia e o diálogo entre os alunos.

2. Para essa questão, você pode ter como base o descrito no Quadro 3, e deve relacionar
essa informação com exemplos de ações práticas.

• Tutor a distância
◦◦ Atua na instituição realizando a mediação do processo pedagógico.
◦◦ Realiza suas atividades geograficamente à distância dos alunos.
◦◦ Esclarece dúvidas postadas nos fóruns (sua principal atribuição).

Atuação da tutoria na Educação a Distância 49


3 A tutoria na EaD

◦◦ Atende os alunos tanto via e-mail ou plataforma de ensino-aprendizagem quanto


por telefone.
◦◦ Promove espaços de construção coletiva do conhecimento.
◦◦ Seleciona material de apoio para complementação do estudo.
◦◦ Participa dos processos avaliativos de ensino-aprendizagem.
• Tutor presencial
◦◦ Atende os alunos nos polos, em horários pré-estabelecidos.
◦◦ Deve conhecer o projeto pedagógico do curso, o material didático e conteúdo de
sua responsabilidade.
◦◦ Estimula o hábito da pesquisa entre os alunos.
◦◦ Desenvolve atividades individuais e em grupo.
◦◦ Participa de momentos presenciais agendados, como avaliação, aula prática e
estágio supervisionado.
◦◦ Mantém contato com os alunos e equipe pedagógica do curso.

3. Para essa questão, você precisa ter como base as competências que Behar descreve
como necessárias para o tutor, apresentadas na Figura 2.

• Planejamento: baseado no estabelecimento de prioridades, metas e objetivos.


• Relacionamento interpessoal: fundamentado na empatia, na mediação pedagógica,
na facilitação nos processos de ensino-aprendizagem e no foco ao ser humano.
• Mediação pedagógica: condições para incentivar e mobilizar as trocas entre alunos,
organizar grupos, orientar ações e problematizar posicionamentos e entendimentos
do conteúdo em questão, visando aproximar os alunos.
• Entrega e recebimento de feedback: leitura e compreensão do trabalho apresenta-
do presencialmente ou a distância, de postagens de mensagens nas ferramentas de
interação dos recursos digitais, entre outras possibilidades, dando retorno de forma
acolhedora e respeitosa diante do processo de aprendizagem.
• Gestão acadêmica: refere-se ao planejamento, à adequação e à organização de várias
etapas do processo de desenvolvimento do curso.

50 Atuação da tutoria na Educação a Distância


4
O presencial e o virtual:
o desenvolvimento de novas
competências para ensinar

O processo de ensino-aprendizagem acontece de diversas maneiras. Com a evolu-


ção das tecnologias e mídias digitais e as transformações que elas acarretam na nossa
sociedade, é necessária uma adaptação a esse cenário dinâmico. No processo educa-
cional de ensino-aprendizagem, a modalidade da EaD se destaca, pois possibilita ao
aluno novas formas de aprender por meio do ambiente virtual. Nesse cenário, a neces-
sidade da presença física torna-se um elemento que varia, isto é, pode acontecer, ou
não, com maior ou menor frequência.

Diante dessas transformações, devemos nos questionar: as mudanças no modo


de aprender estão se processando, mas e quanto ao ensinar, também está sofrendo
mudanças? Quais as competências que os profissionais envolvidos nessa importante
tarefa de ensinar no mundo virtual precisam apresentar? Como a construção do conhe-
cimento ocorre no âmbito virtual? E a presença física, ela é essencial? É possível combi-
nar presença física e ambiente virtual na EaD?

Essas são algumas das reflexões a que este capítulo se propõe.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 51


4 O presencial e o virtual: o desenvolvimento
de novas competências para ensinar

4.1 Competências em EaD

A sociedade em que vivemos está em constante transformação, o que fica evidente


quando nos damos conta de como as tecnologias digitais estão presentes nas ações que reali-
zamos no dia a dia. Você já prestou atenção em como esse comportamento interfere naquilo
que fazemos, onde fazemos e como fazemos? Vamos tomar como exemplo a educação, que
é nosso tema central de interesse.
No Capítulo 1, apresentamos o contexto histórico do processo de ensinar e aprender,
no qual consideramos o uso das tecnologias como um importante fator que contribuiu com
as mudanças no ensino-aprendizagem. Levando em consideração a EaD, as atividades eram
desenvolvidas por meio de cartas enviadas pelo correio, o que demandava mais tempo de
retorno e tornava a interação entre os envolvidos mais espaçada e menos frequente. Hoje, a
forma de nos comunicarmos e trocarmos informações se tornou muito mais dinâmica e rápi-
da. Essa forma de interação exige dos envolvidos – professores, tutores e alunos – algumas
competências específicas. Mas o que e quais seriam essas competências?
O termo competência apresenta diferentes significados de acordo com as diversas áreas
do conhecimento, porém vamos sempre nos ater ao significado que está relacionado ao nos-
so foco: a educação.
Vamos adotar a definição de competências apresentada por Behar, que “[...] considera as
competências um conjunto de elementos compostos pelos Conhecimentos, Habilidades e pelas
Atitudes, sintetizados na sigla CHA. Tal conjunto é estruturado em um contexto determinado
com o intuito de solucionar um problema, lidar com uma situação nova” (BEHAR, 2013, p. 23).
Já Litto destaca a fala de Perrenoud, segundo a qual as competências compreendem
ações que envolvem uma ação eficaz diante de uma situação específica, utilizando-se de co-
nhecimentos adquiridos. De forma resumida, temos que “as competências não se reduzem
a conhecimentos, mas os integram e mobilizam na ação” (LITTO, 2012, p. 66).

Figura 1 – Elementos formadores da competência.

Conhecimentos Habilidades

Competências

Atitudes

Fonte: BEHAR, 2013, p. 26.

52 Atuação da tutoria na Educação a Distância


O presencial e o virtual: o desenvolvimento
de novas competências para ensinar 4
Falando ainda de competências na educação, Perrenoud (2000) apresenta dez compe-
tências para ensinar, a saber:
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem.
2. Administrar a progressão das aprendizagens.
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação.
4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho.
5. Trabalhar em equipe.
6. Participar da administração da escola.
7. Informar e envolver os pais.
8. Utilizar novas tecnologias.
9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão.
10. Administrar sua própria formação contínua.
Observe que Perrenoud destaca as competências da educação em geral, sem explicitar
a EaD, mas a maioria dessas competências pode ser considerada também para o ensino na
modalidade a distância, uma vez que o objetivo de ensinar é comum a ambas as modalida-
des; o que as diferencia é como isso ocorre. Outra questão a se levantar é quais competências
devemos considerar para a EaD? Behar (2013, p. 152) apresenta-nos as competências de
acordo com os atores da EaD, que são os professores, os tutores e os alunos. Para a autora, é
importante fazer essa distinção, pois cada perfil dos atores envolve conhecimentos, habilida-
des e atitudes específicas. Em um contexto mais específico, Behar apresenta as competências
necessárias aos professores, tutores e alunos que estão envolvidos em curso na modalidade
EaD, tais como: fluência digital, autonomia, organização, comunicação, reflexão, trabalho
em equipe, administração do tempo e motivação. Essas competências estão interligadas,
conectadas umas às outras, conforme ilustra a figura a seguir.

Figura 2 – Competências necessárias aos professores, tutores e alunos.

Fluência
digital Organização
Autonomia

Reflexão Motivação

Trabalho Comunicação
em equipe
Administração do
tempo

Fonte: BEHAR, 2013. Adaptada/ z_wei/iStockphoto.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 53


4 O presencial e o virtual: o desenvolvimento
de novas competências para ensinar
Para os professores e tutores que atuam diretamente no ensinar, as competências
descritas por Behar (2013) são planejamento, relacionamento interpessoal, feedback, di-
dática, mediação pedagógica e gestão acadêmica. Observe que essas competências estão
diretamente ligadas ao ensino, ao compartilhamento do conhecimento de modo a con-
tribuir com a aprendizagem do aluno. Assim, seguimos a mesma linha de raciocínio que
considera essas competências uma cadeia que se conecta baseada em conhecimentos,
habilidades e atitudes.

Figura 3 – Competências necessárias aos professores e tutores.

Feedback

Planejamento Didática

Mediação
pedagógica Relacionamento
interpessoal

Gestão acadêmica

Fonte: BEHAR, 2013. Adaptada/Guzaliia Filimonova/iStockphoto.

Observe que professores e tutores precisam apresentar, segundo Behar (2013), as mes-
mas competências, demonstrando assim que ambos desenvolvem atividades que contri-
buem para o processo de ensino-aprendizagem. Como nosso foco é a tutoria, importam as
categorias gerais que contemplam a tutoria e fazem dela uma atividade eficaz. Segundo o
Instituto Nacional de Educação a Distância (INED), as competências da tutoria se dividem
em quatro categorias, conforme apresentamos na figura a seguir.

Figura 4 – Categorias de competências do tutor.

Competências Competências Competências Competências


de apoio de orientação de capacitação administrativas

Ajudar os alunos a Ajudar os alunos Ajudar os alunos Servir de ligação


lidar com questões a compreender o a desenvolver e entre os alunos e a
relacionadas ao conteúdo e a sua aplicar processos de administração em
conteúdo e que relação com os aprendizagem com questões burocráticas.
podem afetar sua seus objetivos de eficiência.
aprendizagem. aprendizagem.

Fonte: INED, 2003, p. 41. Adaptada.

54 Atuação da tutoria na Educação a Distância


O presencial e o virtual: o desenvolvimento
de novas competências para ensinar 4
Depois de conhecer as competências dos atores que estão diretamente envolvidos no
processo de ensinar, Litto (2012, p. 69) destaca que ter uma competência representa a con-
centração de distintos saberes de diferentes naturezas, como o saber-conhecer, o saber-fazer,
o saber-conviver e o saber-ser. Nesse contexto, observamos que as competências estão em
constante transformação, especialmente quando consideramos toda novidade que envolve
o nosso dia a dia: novas tecnologias, novos aprendizados, novos saberes, novas convivên-
cias, entre outras coisas.
Nesse processo que envolve a aceitação da “novidade”, apresentamos novos conheci-
mentos referentes à educação virtual. É a partir daí que vamos dar continuidade ao nosso
estudo no tópico a seguir.

4.2 Educação virtual e construção


do conhecimento

Conforme já discutimos no decorrer desta obra, as transformações ocorridas na socie-


dade interferem em diferentes âmbitos e, na educação, isso não é diferente. Moran (2001)
destaca que a inclusão das tecnologias da informação e comunicação (TIC) no cotidiano das
pessoas faz com que reflexões envolvendo as práticas pedagógicas apareçam. Essas refle-
xões suscitam que o modelo de ensino não deve ser mais centrado no professor, e que este
deve solicitar mais participação e envolvimento dos alunos. Coll et al. (2010) complementam
apontando que a realidade da internet ultrapassa a transmissão de informações, permitindo
inclusive a formação de um espaço global que contribui com ações globais, relacionando o
aprendizado e a ação educacional.
As mudanças não acontecem de uma só vez, elas são graduais, especialmente quando
nos referimos ao ensinar e aprender, que apresentam modelos já enraizados, tornando qual-
quer alteração um desafio ainda maior. Nesse sentido, Moran faz uma importante reflexão
sobre as mudanças:
[...] começam a se aproximar metodologias, programas, tecnologias e gerencia-
mento, tanto dos cursos presenciais como dos cursos a distância ou virtuais.
Aos poucos a educação vai-se tornando uma mistura de cursos, de sala de
aula física e também de intercâmbio virtual. Há um processo de aproximação.
(MORAN, 2001, p. 1)
Perceba que, com base no que conhecemos hoje sobre o modo de ensinar e aprender, tan-
to no ensino presencial tradicional quanto na EaD, as metodologias se conectam. Não pode-
mos excluir a tradição e apenas implementar o novo, ambos devem se complementar e, nes-
se contexto, é possível afirmar que “a tecnologia tende a ser cada vez mais em sua totalidade
digital, mas o espaço de disseminação, compartilhamento e construção do conhecimento na
EaD ocorre principalmente em espaços virtuais” (SILVA; DIANA; CATAPAN, 2014, p. 157).
É nessa perspectiva que as TIC vêm para acrescentar e apresentar novas configurações.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 55


4 O presencial e o virtual: o desenvolvimento
de novas competências para ensinar
Assim, as novas formas de se comunicar, que incluem meios audiovisuais diferentes
daqueles tradicionais utilizados, faz com que a educação virtual também apresente mudan-
ças diante da linguagem utilizada. Nesse sentido, Coll et al. (2010) apresentam uma relação
de como a tecnologia está presente na educação virtual. Observe o quadro a seguir.

Quadro 1 – Presença da tecnologia na educação virtual.

Fator Descrição
Tipo de ambiente • Virtual (eletrônico)
• (Re)criação de novos meios de comunicação e desenvolvi-
Origem
mento para responder aos desafios da globalização
• Analógica
Linguagem dominante
• Digital
• Analógica
Etapas • Digital
• Sem fio
• Correio, telefone, TV
Tecnologias de
• Multimídia
comunicação
• Internet
• Representação simbólica dos interlocutores
Características
• Independência espacial e temporal
da interação
• Ações síncronas e assíncronas
• Sociedade audiovisual
Tipo de sociedade
• Sociedade da informação
• Educação a distância e audiovisual
Modalidades
• Ensino apoiado por computador
educacionais
• E-learning
Fonte: COLL et al. 2010, p. 19. Adaptado.

As mudanças não param, e a tecnologia evolui em um ritmo vertiginoso. Assim, a so-


ciedade em que vivemos passa a apresentar novas propostas a fim de se manter atualizada,
aproveitando-se dos benefícios que as tecnologias oferecem e refletindo sobre elas. Essas
ações, por sua vez, motivam os envolvidos na educação a se reorganizarem e a ficarem
sempre abertos às mudanças. No tocante ao aprender, essas mudanças estimulam os alunos
a serem mais participativos e ativos na sua formação, não apenas como receptores da infor-
mação, mas também construtores de novos conhecimentos à medida que as ações propostas
no mundo virtual apresentam fatores que estimulam o raciocínio e a reflexão, valorizando
ainda mais a relevância da interação entre os envolvidos.
A construção do conhecimento passa a ser mais dinâmica, a ter mais mobilidade, já que
se apresenta cada vez mais em formato virtual. Silva, Catapan e Catapan (2014) apontam

56 Atuação da tutoria na Educação a Distância


O presencial e o virtual: o desenvolvimento
de novas competências para ensinar 4
que a EaD contribui com esse processo de construção do conhecimento por se apresentar
como possibilidade de oferta em diferentes níveis de ensino e locais, permitindo, inclusive, o
contato com aqueles que têm acesso limitado a cursos. As autoras concluem destacando que
Esta inclusão [de acesso à construção do conhecimento] é potencializada por di-
ferentes artefatos, ora analógicos, ora digitais, em alguns momentos, pela con-
vergência destes, na perspectiva de ampliar a formação dos indivíduos, o que é
impulsionado pelo uso da tecnologia de comunicação digital, potencializando,
assim, as formas de construção do conhecimento. (SILVA; DIANA; CATAPAN,
2014, p. 159)
Perceba que as diferentes tecnologias, bem como o acesso ao universo digital, torna-se
cada vez mais frequente e relevante no aprendizado. Mas de que modo o aluno pode uti-
lizar melhor todas essas possibilidades? No tópico anterior, destacamos a importância das
competências para professores e tutores. Aqui, complementando a discussão, apresentamos
as competências que os alunos precisam desenvolver para aproveitar os benefícios da EaD e
de tudo o que a educação virtual como um todo possibilita.

Figura 5 – Competências necessárias aos alunos.

Presencialidade
virtual

Autoavaliação Flexibilidade

Fonte: BEHAR, 2013. Adaptado/ Varijanta/iStockphoto.

De acordo com o que foi apresentado na Figura 5, Behar aponta que essas competências
contribuem para que a atuação do aluno nos cursos na modalidade EaD – âmbito em que o
virtual é essencial – torne a construção do conhecimento uma realidade efetiva.
Mas como estar presente na educação virtual? A presença física ainda se torna relevante
e necessária? Essa é a nossa discussão para o tópico a seguir.

4.3 A presença física e a educação virtual


A aprendizagem na educação virtual é um processo que sofreu diversas mudanças de-
vido à evolução tecnológica. Conforme reforçamos no decorrer desta obra, o ensino-apren-
dizagem na modalidade a distância está em constante transformação devido às mudanças

Atuação da tutoria na Educação a Distância 57


4 O presencial e o virtual: o desenvolvimento
de novas competências para ensinar
das tecnologias e mídias digitais, que acabam interferindo e contribuindo muito por conta
das facilidades de acesso à informação. Como vimos no tópico anterior, o aluno precisa
acompanhar essas mudanças, porém essa não é uma transição que ocorre rapidamente, pelo
contrário, necessita de uma fase de adaptação.
Acostumados ao ensino tradicional, em que professores e alunos estão presentes fisica-
mente e o acesso ao professor é simultâneo, deparamo-nos na EaD com um novo modo de
aprender, em que a simultaneidade não é constante. A presença física, quando ocorre, tor-
na-se ainda mais valorizada, especialmente porque somente ocorre em determinados dias e
horários pré-estabelecidos. Tal modalidade, uma das mais comuns na EaD, na qual o aluno
desenvolve seu estudo pelo ambiente virtual de ensino-aprendizagem (Avea) e realiza o
encontro presencial apenas para atividades avaliativas, foi muito difundida no Brasil. E é aí
que está o grande desafio: propor um modelo de educação virtual, no qual ainda permaneça
relevante a presença física.
Para auxiliar nesse processo de adaptação e enfrentamento dos desafios de aprender
em um mundo virtual, temos a figura do tutor. No capítulo anterior, conhecemos como a
tutoria constitui uma parte importante nesse processo de aprendizagem. Para reforçar a
importância da tutoria, destacamos a fala de Behar (2013, p. 161) sobre a atuação desse ato,
que “auxilia o aluno e esclarece dúvidas, monitorando e mediando o processo pedagógico
das atividades a distância. Em conjunto com o professor, utiliza ferramentas para interação
e comunicação com os alunos”. Nesse contexto, o tutor está em contato direto com o aluno,
colocando-o em contato com o mundo virtual.
O tutor, ao auxiliar o aluno, deve sempre considerar o perfil desse aluno. Em sua maio-
ria, os alunos da EaD são adultos que frequentaram o ensino presencial tradicional durante
mais de 10 anos, aumentando ainda mais sua insegurança em relação ao curso na modali-
dade a distância, isso sem contar uma possível dificuldade que ele tem em utilizar as tec-
nologias e mídias digitais (BEHAR, 2013). Nesse sentido, Moore e Kearsley enfatizam que,
para a adaptação do aluno ao mundo virtual, é preciso considerar que “os adultos possuem
muitas preocupações em suas vidas (trabalho, família, vida social), e a educação a distância
precisa incluir essas preocupações como recursos na elaboração e instrução, e também como
fontes potenciais de problemas que podem dificultar o estudo” (MOORE; KEARSLEY, 2008,
p. 197).
Diante dessas características do perfil do aluno da EaD, a presença física e a interação
imediata com os demais colegas de curso tornam-se relevantes. A educação é virtual, mas
os alunos sentem a necessidade da presença física, especialmente diante dos conceitos e
hábitos construídos com o passar do tempo. Na EaD, o mundo virtual torna o aluno o
centro das atenções, tudo é desenvolvido para ele, tudo é pensado para contribuir com sua
formação e para que ele construa seus conhecimentos, agregando valor à sua vida. Assim,
promove-se uma desconstrução dos conceitos arraigados, possibilitando um processo de
mudança. Na figura a seguir, que ele tem Behar ilustra esse processo. Observe como a
aprendizagem que ocorre no modo virtual vai se ampliando e igualando à necessidade que
o estudante sente da presença física.

58 Atuação da tutoria na Educação a Distância


O presencial e o virtual: o desenvolvimento
de novas competências para ensinar 4
Figura 6 – Processo de convergência entre a aprendizagem presencial (AprP) e aprendizagem
­virtual (AV).

AprP AV AprP AV

Fonte: BEHAR, 2013, p. 163.

Refletir sobre a necessidade e importância da presença física diante da educação virtual


é importante para compreender como esse processo ocorre e, nesse sentido, Silva, Diana e
Catapan destacam como a aprendizagem no mundo virtual envolve diferentes fatores.
O cenário atual se compõe em um caleidoscópio em expansão, ressignificação,
inovação, implicando diretamente no cenário educacional. O acesso ao conhe-
cimento pode ser instantâneo, a qualquer hora e lugar. A Educação a Distância
(EaD) se move, basicamente, sustentada pela rede comunicacional digital. Embora
em sua essência não se diferencie da educação desenvolvida no modo presencial,
pois opera nos três planos de gestão: acadêmica, infraestrutura e pedagógica, re-
quer um outro modo de mediação, pois se estende pelos meios comunicacionais
em diferentes linguagens. (SILVA; DIANA; CATAPAN, 2014, p. 155)
Essa reflexão nos permite afirmar que a comunicação se torna o principal recurso no
ensinar e aprender no mundo virtual, ambiente em que são utilizadas diferentes linguagens.
Além disso, a presença física contribui para a formação do aluno ao potencializar a interação
iniciada no virtual diante das ações e práticas pedagógicas apresentadas na EaD.
Moran (2001) complementa essa reflexão apontando que, mesmo diante das inúmeras
transformações tecnológicas e sociais, a comunicação presencial vai ter sempre seu valor,
uma vez que estabelece elos de confiança entre aluno e tutor. É preciso estabelecer um equi-
líbrio entre o presencial e o virtual, pois ambos são importantes e relevantes quando falamos
de educação virtual. A EaD traz flexibilidade de estudo, mas também exige disciplina e com-
promisso do aluno, porém saber da possibilidade do contato físico com os demais alunos e
tutores estimula uma interação que pode ser iniciada no Avea.
Dessa forma, temos que a educação virtual é composta pela convergência de diferen-
tes modos de comunicação, considerando que “um programa de educação deve assumir
um modelo pedagógico dinâmico, sustentado por um programa de ação consistente e con-
gruente” (SILVA; DIANA; CATAPAN, 2014, p. 161).

Atuação da tutoria na Educação a Distância 59


4 O presencial e o virtual: o desenvolvimento
de novas competências para ensinar
Figura 7 – Educação virtual: convergência do presencial, do virtual e das TIC.

Tecnologia de
comunicação
Presencial

Digital

Educação virtual
Fonte: SILVA; DIANA; CATAPAN, 2014, p. 161.

A partir das reflexões apresentadas, é possível constatar que a educação virtual, repre-
sentada pela EaD, não está limitada ao espaço virtual, pois é ampla e dinâmica. A flexibilida-
de da modalidade a distância também contempla uma comunicação digital, potencializada
pela presença física, e contribui para a construção do conhecimento, que constitui uma ne-
cessidade cada vez mais essencial na sociedade em que vivemos.

Conclusão

O processo de ensinar e aprender no mundo virtual exige muita atenção de todos os


envolvidos. Professores, tutores e alunos precisam estar abertos às mudanças e aos desafios
que a modalidade a distância apresenta. Neste capítulo, tratamos especialmente acerca das
competências relacionadas ao ensinar e tivemos a oportunidade de refletir e identificar os
diversos fatores que são relevantes no processo de aprendizagem e na construção do conhe-
cimento do aluno da EaD.
Apresentamos quais competências são consideradas as mais essenciais, e que tanto o
professor quanto o tutor devem apresentar para atuar nessa área. Litto destaca a importân-
cia das competências nos cursos a distância e na aprendizagem virtual.
As competências devem ser compreendidas não como algo definitivo e acaba-
do, mas em constante transformação, estimulando a pesquisa e a construção de
novas formas de produção e de projetos de EaD e das ações de mediação educa-
cional contando com a introdução de novas tecnologias. Essa abordagem, para
a compreensão das competências, fornece parâmetros para qualidade em EaD
e, ao mesmo tempo, por interpretá-la como dinâmica, em constante mutação,
oferece a possibilidade de sua revisão e alteração sempre que a realidade assim
indicar ou determinar. (LITTO, 2012, p. 70)

60 Atuação da tutoria na Educação a Distância


O presencial e o virtual: o desenvolvimento
de novas competências para ensinar 4
Assim, identificar as competências necessárias e desenvolvê-las torna-se de extrema
importância para que o aluno que desenvolve sua aprendizagem em um ambiente virtual
construa seu conhecimento utilizando as ferramentas disponíveis. Além disso, o aluno tam-
bém precisa ter algumas competências que contribuam com seu processo de aprendizagem,
uma vez que a educação virtual pode ser algo novo em sua vida.
Nessa perspectiva do novo, as mudanças também envolvem uma maior aproximação
da aprendizagem virtual, enquanto a presença física nos cursos ofertados na modalidade a
distância torna-se um complemento para a aprendizagem. O virtual e o presencial se com-
plementam tanto no ensinar quanto no aprender.

Ampliando seus conhecimentos


O uso das tecnologias é muito comum nos cursos da modalidade a distância, âmbito
em que elas são essenciais. Mas e no ensino tradicional, presencial, como é o caso dos ní-
veis fundamental e médio? O professor precisa estar atento à evolução das tecnologias e
mídias e, principalmente, que esteja aberto às mudanças de modo a se esforçar por imple-
mentar novas ações pedagógicas. Como os alunos estão cada vez mais integrados ao uso
das tecnologias, é importante que possam vivenciar isso também na escola. Nesse contex-
to, Moran apresenta alguns princípios básicos no que tange à integração das tecnologias
ao cotidiano escolar.

Alguns desafios no uso da internet


(MORAN, 2001, p. 14-15)

• Ligar a internet à vida dos alunos, ver os interesses deles no cotidiano, o


que está acontecendo. Isto sempre os motiva: fazer uma ponte entre o que
a TV mostra e o tema a ser trabalhado em classe.

• Tentar chegar aos alunos por todos os caminhos possíveis, pela experiência,
pela imagem, pelo som, pelo teatro, dramatização, pela multimídia, pela
interação real e virtual. Depois observar onde o aluno está, partir de onde
ele está, ir até ele e ajudá-lo a avançar, a evoluir. [...]

• Integrar as tecnologias com a vida o tempo todo, o real e o virtual. Vocês


percebem que eu não estou excluindo uma coisa ou outra. Algumas pes-
soas se isolarão mais, como hoje o fazem diante do medo que a grande
cidade lhes provoca. Outras equilibrarão o estar conectados e o encontro
físico, o olho no olho. [...] Precisamos aprender a integrar tudo, num olhar
abrangente e afetivo, que relacione todas as dimensões da realidade. [...]

• Tentar manter sempre a atitude aberta, estar de antenas ligadas. Uma das
coisas mais bonitas que aprendi nesses últimos anos é que o processo de

Atuação da tutoria na Educação a Distância 61


4 O presencial e o virtual: o desenvolvimento
de novas competências para ensinar
aprendizagem não se faz só na escola, mas se faz fundamentalmente na
vida. [...]

• Desenvolver processos de comunicação cada vez mais coerentes e autên-


ticos, até onde for possível, principalmente comigo mesmo. Procurar ser
autêntico e compreensivo. Autêntico significa que vou aceitando o que per-
cebo sobre mim mesmo, como o percebo, aceitando meus limites atuais,
apoiando-me e procurando avançar até onde me for possível em cada
momento, no ritmo que me for possível. [...] Somos os profissionais da
aprendizagem, e que exemplo damos se não sabemos aprender o principal,
que é aprender a viver? Todos podemos aprender o tempo todo, podemos
transformar nossa vida em um processo permanente, paciente, confiante e
afetuoso de aprendizagem.

Atividades
1. Na EaD, o ensinar e o aprender acontecem, principalmente, no mundo virtual. Para
que esse processo aconteça de modo que a construção do conhecimento do aluno
seja efetiva, é preciso que os profissionais envolvidos diretamente na aprendizagem
do aluno, como professores e tutores, apresentem algumas competências que valori-
zem esse modo de ensino-aprendizagem. Nesse contexto, descreva as competências
necessárias aos professores e tutores, apresentando exemplos de como essas compe-
tências são aplicadas no cotidiano da função.

2. Na educação virtual, o uso das tecnologias é um fator de extrema relevância. Consi-


derando o contexto histórico, a EaD iniciou de forma analógica, com a comunicação
entre professores e alunos via correio. A evolução das tecnologias e mídias digitais
contribuiu para que essa comunicação passasse a ser digital e virtual. Considerando
esse processo de evolução, descreva os fatores que estão presentes na educação vir-
tual, considerando a presença da tecnologia.

3. A proposta de ensinar e aprender a distância envolve dedicação, disciplina, além de


quebra de paradigmas e preconceitos de todos os envolvidos. O aluno, em especial,
traz consigo uma série de conceitos pré-definidos que foram construídos no decorrer
de sua formação inicial. Nesse contexto, descreva situações que podem auxiliar a
aprendizagem de um aluno que enfrenta desafios no momento de inclusão digital.

Referências
BEHAR, P. A. (Org). Competências em educação a distância. Porto Alegre: Penso, 2013.
COLL, C. et al. Psicologia da educação virtual: aprender e ensinar com as tecnologias da informação
e da comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2010.

62 Atuação da tutoria na Educação a Distância


O presencial e o virtual: o desenvolvimento
de novas competências para ensinar 4
INED – Instituto Nacional de Educação a Distância. Tutoria no EaD: um manual para tutores. The
Commonwealth of Learning, 2003.
LITTO, F. M. (Coord.). Competências para educação a distância: matrizes e referenciais teóricos.
ABED, 2012. Disponível em: <http://www.abed.org.br/documentos/Competencias_Final_Ago2012.
pdf>. Acesso em: 26 jan. 2018.
MORAN, J. M. Novos desafios na educação: a internet na educação presencial e virtual. In.: PORTO,
T. M. E. (Org.). Saberes e linguagens de educação e comunicação. Pelotas, RS: Editora da UFPel, 2001.
Disponível em: <http://www.eca.usp.br/prof/moran/site/textos/tecnologias_eduacacao/novos.pdf>.
Acesso em: 26 jan. 2018.
PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
SILVA, A. R. L.; DIANA, J. B.; CATAPAN, A. H. Do digital ao virtual na EaD. ESUD – Congresso
Brasileiro de Ensino Superior a Distância, 11, Florianópolis, 5-8 nov. 2014. Anais... 2014. Disponível
em: <http://esud2014.nute.ufsc.br/anais-esud2014/files/pdf/126671.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2018.

Resolução
1. Esperamos que na sua resposta sejam apresentadas as competências descritas na
Figura 3 e, somados a essas competências, exemplos de como aplicá-las na prática.

• planejamento: envolve a definição das prioridades, metas e objetivos a serem


cumpridos;
• relacionamento interpessoal: envolve ações de mediação pedagógica, incentivando e
motivando a participação e interação do aluno;
• feedback: envolve o retorno da atividade desenvolvida de modo que a crítica seja
construtiva;
• didática: envolve ações pedagógicas que contribuam com o que foi proposto no pla-
nejamento;
• mediação pedagógica: envolve práticas que estimulem e potencializem a aprendiza-
gem do estudante, promovendo interação e comunicação;
• gestão acadêmica: envolve planejamento, adequação e organização dos processos de
ensino-aprendizagem propostos.

2. Para essa questão, você deve descrever os fatores com base no que foi apresentado no
Quadro 1, que traz o cenário evolutivo do uso das tecnologias na educação virtual.

• Tipo de ambiente: virtual (eletrônico).


• Origem: (Re)criação de novos meios de comunicação e desenvolvimento para res-
ponder aos desafios da globalização.
• Linguagem dominante: analógica e digital.
• Etapas: analógica, digital e sem fio.
• Tecnologias de comunicação: correio, telefone, TV, multimídia e internet.
• Características da interação: representação simbólica dos interlocutores, indepen-
dência espacial e temporal, ações síncronas e assíncronas.
• Tipo de sociedade: sociedade audiovisual e sociedade da informação.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 63


• Modalidades educacionais: educação a distância e audiovisual, ensino apoiado por
computador e e-learning.

3. Esperamos que sua resposta descreva a importância de conhecer o perfil do aluno


que busca aprender no mundo virtual. Identificar e conhecer esse aluno pode ser
considerada uma das competências necessárias aos professores e tutores, para seu
planejamento e mediação pedagógica. Com base nessas competências, pode-se de-
senvolver ações como promover mais interação entre os alunos, ou ainda promover
encontros presenciais, em que o contato e a interação entre alunos pode potencializar
a construção do conhecimento.
5
Aprendizagem na EaD

A aprendizagem na educação a distância ocorre de um modo diferenciado se com-


parado ao ensino presencial tradicional, pois naquela modalidade o uso das tecnologias
e mídias digitais é uma constante, ou seja, consiste no principal meio de comunicação
entre os envolvidos; o mesmo acontece quanto à forma de compartilhar conteúdos e
de realizar as atividades de aprendizagem. Porém, é preciso que o aluno as utilize de
modo a contribuir para a construção do conhecimento.

Considerando esse cenário, iniciamos este capítulo destacando como as tecnolo-


gias contribuem para o processo de ensino-aprendizagem e oportunizam a realização
de atividades colaborativas que estimulam a aprendizagem por meio da convivência e
da troca entre os envolvidos. E, por fim, sublinhamos o papel da mediação pedagógica
e da atuação da tutoria para a aprendizagem do aluno da EaD.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 65


5 Aprendizagem na EaD

5.1 O uso de tecnologias no processo


de ensino-aprendizagem

A EaD proporcionou diversas mudanças no cenário educacional, especialmente ao que


se refere ao processo de ensino-aprendizagem. O avanço das tecnologias e sua variedade
possibilitam a realização de diversas ações pedagógicas que estimulam diferentes modos de
ensinar e aprender. No capítulo anterior, refletimos de forma mais intensa sobre questões
que estão relacionadas ao ensino, entre elas as competências dos professores e tutores para
ensinar. Neste capítulo, vamos dar sequência a esse estudo, agora com foco na aprendiza-
gem e no uso das tecnologias para tal fim.
Autores do mundo todo contribuem com reflexões sobre o uso das tecnologias e sobre
a razão de elas estarem se tornando cada vez mais relevantes para o ensino-aprendizagem.
Moore e Kearsley (2013) – precursores da EaD nos Estados Unidos – são dois autores de
muita relevância nessa área e podem ser considerados uma referência sobre EaD a nível
mundial. Embasados em sua experiência na área, os autores afirmam que o uso das tecnolo-
gias de comunicação vem se tornando cada vez mais essencial na forma de interação entre
os envolvidos no ensinar e aprender que ocorre na modalidade a distância (Figura 1), ou
seja, é o principal meio de comunicação entre professores, tutores e alunos.
José Manuel Moran, professor aposentado da Universidade de São Paulo e importante
pesquisador na área de EaD no Brasil, destaca que “ensinar e aprender exigem hoje muito
mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e proces-
sos mais abertos de pesquisa e de comunicação” (2007, p. 1). Segundo o professor Moran,
esses são desafios que fazem parte da atualidade, principalmente se considerarmos que as
informações estão cada vez mais acessíveis e em um número muito elevado, o que dificulta,
por outro lado, a seleção daquelas que são realmente significativas. Nesse contexto, o autor
ainda destaca que o papel do professor, diante dessas mudanças e desafios, está em auxiliar
o aluno a interpretar esses dados de forma que seja possível relacioná-los e contextualizá-los
com a realidade vivida. É nesse momento que a tecnologia e a interação se conectam com a
aprendizagem e, em certo sentido, a formam.
A interação, que é feita basicamente em uma linguagem digital e realizada, por meio
do uso das tecnologias, potencializa o processo de ensino-aprendizagem. Tal especificidade
passa a ser um dos diferenciais da EaD, pois as tecnologias compõem uma aprendizagem
colaborativa, na qual todos atuam e contribuem com a construção do conhecimento. Ainda
neste capítulo vamos aprofundar nossa reflexão e discussão sobre a aprendizagem colabo-
rativa e a interação. Há muito o que compartilhar sobre o tema!

66 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Aprendizagem na EaD 5
Figura 1 – Tecnologias, interação e aprendizagem na EaD.

Tecnologia

Aprendizagem

Interação

Fonte: Elaborada pela autora.

Com o uso das tecnologias, a EaD se desenvolve com base em um conceito diferente do
qual estamos acostumados a vivenciar no ensino presencial. De acordo com Rosini, quando
existe uma nova abordagem de ensino-aprendizagem, deve-se considerar a necessidade de
“uma nova visão de mundo, uma nova educação e, consequentemente, novos critérios para
a elaboração de currículos e o consequente aprendizado. Já não se pode partir da existên-
cia de certezas, verdades científicas, estabilidade, previsibilidade, controle externo e ordem
como coisas possíveis” (ROSINI, 2007, p. 61).
Assim, podemos verificar que a modalidade a distância exige mudanças na educação,
visto que o aluno não é mais apenas um receptor do conhecimento, mas é construído por
meio da interação proporcionada pelo uso das tecnologias digitais. Tanto a comunicação
torna-se essencial diante do uso dessas tecnologias na aprendizagem quanto fica favorecida
por elas.
Ainda que o professor tenha um papel único na aprendizagem do aluno, ela não depen-
de só do professor, mas também do aluno, que precisa estar pronto para utilizar a tecnologia
de modo que isso contribua para a construção do seu conhecimento. É preciso incorporar o
significado real da informação para poder aprender, comunicar, interagir e desenvolver um
processo de construção integral (MORAN, 2007). Segundo Rosini (2007, p. 60), “o aprendiz
deve estar atento às mudanças naturais da evolução da humanidade, engajando-se etica-
mente no sistema de educação”.
Tomando como base as considerações apresentadas sobre o uso das tecnologias na
aprendizagem, é possível afirmar que as mudanças trouxeram a necessidade de desenvol-
ver diferentes ações e práticas pedagógicas, seja para professor, seja para o aluno, sempre
com foco em uma aprendizagem significativa, na qual a interação e a comunicação se fazem
presentes e são potencializadas pelo uso das tecnologias.
Além desses fatores apresentados, as tecnologias também possibilitam que a aprendi-
zagem aconteça de forma colaborativa. É isso que vamos ver no tópico a seguir.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 67


5 Aprendizagem na EaD

5.2 Aprendizagem colaborativa


por meio das tecnologias disponíveis

O avanço tecnológico oportuniza a realização de diferentes práticas e ações pedagógi-


cas que, acima de tudo, privilegiam “a troca, a comunicação e a negociação entre os sujeitos
participantes” (BEHAR, 2013, p. 113). A comunicação entre os envolvidos pode acontecer
de forma síncrona, isto é, interação se dá em tempo real; ou assíncrona, quando ocorre em
tempo distinto.
Em cursos a distância, a interação entre os atores envolvidos – professores, tutores e
alunos – torna-se essencial, conforme já refletimos no decorrer dos capítulos anteriores.
Considerando os cursos de EaD como um cenário que está em constante movimentação,
podemos inferir que eles permitem, inclusive, o crescimento pessoal do aluno por meio das
atividades propostas. A forma de interação entre os indivíduos torna-se um elemento deci-
sivo no resultado final obtido. Nesse contexto, Behar (2013) destaca que “elementos como o
controle de impulsos agressivos, o grau de adaptação às normas estabelecidas, a superação
do egocentrismo, a relativização progressiva do próprio ponto de vista, a empatia e o nível
de aspiração devem ser considerados no desenvolvimento de cada sujeito” (BEHAR, 2013,
p. 108).
De acordo com Behar, os processos educacionais transformam-se, por meio de ações
e práticas, em atitudes existenciais. As propostas educacionais interativas estimulam o tra-
balho em equipe, a criação de possibilidades de envolvimento, a liberdade de questiona-
mentos, a exposição de posicionamentos e argumentações e as reflexões e discussões acerca
do tema em discussão. Assim, a troca, a interação e a negociação podem ser consideradas
aspectos que envolvem um domínio sociocultural.
Borba, Malheiros e Zulatto (2014) complementam e ampliam nossa discussão sobre o
tema ao destacar os seguintes fatores como fundamentais para que a interação realizada
no mundo virtual atinja seu objetivo de aprendizagem e contribua para a construção do
conhecimento do aluno: participação colaborativa, bidirecionalidade e conexões em rede.
Na Figura 2, descrevemos brevemente cada um desses fatores.

Figura 2 – Fatores essenciais para a aprendizagem on-line.

Participação colaborativa Bidirecionalidade Conexões em rede

Busca a intervenção no Relação dialógica baseada A comunicação supõe


processo de comunicação; em uma comunicação que múltiplas redes que se ar-
cocriação da mensagem se desenvolve de forma ticulam, permitindo trocas,
recebida e transmitida. conjunta. associações e significações.

Fonte: Elaborada pela autora.

68 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Aprendizagem na EaD 5
Considerando as características acima, perceba que a comunicação está presente em
diversos momentos, sendo um dos fatores mais relevantes na aprendizagem tal como ocorre
nos cursos ofertados na modalidade a distância. Borba, Malheiros e Zulatto (2014) destacam
que, por meio das experiências de aprendizagem on-line,
a interação, o diálogo e a colaboração são fatores que condicionam a natureza
da aprendizagem, uma vez que acreditamos que a qualidade da EaD on-line está
diretamente relacionada a eles, os quais resultam na qualidade da participação
dos envolvidos durante o processo de produção do conhecimento. (BORBA;
MALHEIROS; ZULATTO, 2014, p. 29)
Nessa perspectiva de valorização da interação, do diálogo e da colaboração, que con-
tribuem com a aprendizagem realizada no virtual, Behar (2013) destaca que as tecnologias
acrescentam novas possibilidades de estabelecer relações, promover questionamentos e
instigar a reflexão a partir de novos olhares e, assim, propagar conhecimentos. No Avea
estão disponíveis diferentes atividades que podem ser realizadas de forma colaborativa e
que estimulam todos esses aspectos mencionados. Vamos conhecer mais sobre essas ferra-
mentas no Capítulo 8. Já outras ferramentas colaborativas, que não se limitam ao Avea, são
elaboradas de modo a “proporcionar aos sujeitos o desenvolvimento de elementos, como
senso crítico, dinamismo, criatividade, expressão escrita, pessoal e capacidade de trabalhar
em equipe” (BEHAR, 2013, p. 119).
As ferramentas digitais e colaborativas vêm se popularizando cada vez mais, tanto no
âmbito educacional quanto no empresarial, pois assim como a EaD possibilita flexibilida-
de de estudo em tempos e espaços distintos, também uma nova forma de trabalho, o home
office, possibilita ao profissional que sua atuação aconteça fora do espaço físico disponibili-
zado pela empresa. Assim, a tecnologia vem contribuindo com diversos públicos que bus-
cam flexibilidade de tempo e espaço, mas continuam valorizando e reconhecendo a impor-
tância da comunicação, da interação e da colaboração dos pares na obtenção dos resultados
positivos. Vejamos na sequência dois exemplos de ferramentas digitais mais utilizados no
âmbito educacional e que possibilitam o trabalho colaborativo.
O Google Drive, um aplicativo desenvolvido pela Google Inc., disponibiliza diferentes
recursos, todos de uso colaborativo e que podem ser compartilhados com diversas pessoas.
Sua grande vantagem é funcionar totalmente on-line, sendo possível acessar todos os docu-
mentos em qualquer computador, ou até mesmo em um smartphone que esteja conectado à
internet, pois não é preciso baixar nenhum programa, apenas fazer o cadastro inicial.
No Google Drive, é possível criar documento de edição de texto, planilhas, apresenta-
ções, formulários, desenhos e sites utilizando recursos que são populares em outros editores
de texto, por exemplo. Ao criar um documento, o usuário pode compartilhá-lo com um
grupo de pessoas e permitir sua edição, de modo que todos tenham a possibilidade de editar
simultaneamente o mesmo documento. As alterações são instantâneas. Além disso, o aplica-
tivo permite que os usuários conversem entre si por meio de uma ferramenta que possibilita
a interação instantânea.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 69


5 Aprendizagem na EaD

Outro exemplo é a Wikipédia, uma enciclopédia on-line e livre, escrita e construída de


maneira colaborativa, ou seja, qualquer usuário pode criar uma conta e postar ou editar con-
teúdos. A fundação que a administra resume bem sua missão, que é “empoderar e engajar
pessoas pelo mundo para coletar e desenvolver conteúdo educacional sob uma licença livre
ou no domínio público, e para disseminá-lo efetivamente e globalmente” (WIKIMEDIA, 2018).
Esse formato de ferramenta colaborativa é também utilizado nos Aveas, contribuindo
com a interação e a comunicação, tão valorizadas na construção do conhecimento.
Apenas incluir essas ferramentas nas práticas pedagógicas pode não contribuir para
atingir o resultado desejado. Para se alcançar esse objetivo, a utilização das ferramentas
colaborativas exige dos professores, tutores e alunos conhecimentos, habilidades e atitudes
que contribuam para a forma de ensinar e aprender que ocorre no mundo virtual. Assim,
Behar (2013) destaca a relevância em considerar os conhecimentos, as habilidades e atitudes
de cada aluno diante do que é proposto ao grupo. Observe a Figura 3 para compreender
melhor quais são esses conhecimentos, habilidades e atitudes.

Figura 3 – Conhecimentos, habilidades e atitudes para as atividades colaborativas.

Conhecimentos Habilidades Atitudes

Conhecer as Saber negociar Saber ser flexível,


necessidades da equipe. e se comunicar. paciente, afetivo.

Saber adaptar a Ser confiável, saber ser


Conhecer estratégias.
postura diante de um conflito. crítico e saber receber críticas.

Perceber alterações de
Saber colaborar, Ser capaz de se
humor, sentimento,
cooperar, respeitar. adaptar a situações novas.
desejos e expectativas.

Saber analisar o Saber buscar


próprio comportamento. soluções alternativas.

Saber se redimir.

Fonte: Elaborada pela autora com base em BEHAR, 2013.

O uso das ferramentas digitais que possibilitam a colaboração entre os envolvidos


abrange a criação de estratégias pedagógicas de modo a contribuir com o desenvolvimento
do pensamento crítico, bem como estimular o aprender a aprender. A fim de acompanhar
e apoiar as descobertas das ferramentas digitais, bem como a interação entre os alunos,
torna-se necessária a mediação pedagógica, uma importante atividade desempenhada pela
tutoria. É sobre tal mediação que vamos refletir no tópico a seguir.

70 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Aprendizagem na EaD 5
5.3 Mediação pedagógica e tutoria
Neste cenário, em que o desenvolvimento é contínuo e envolve desde o uso das tecno-
logias e mídias digitais até a construção do conhecimento, é preciso identificar e reconhecer
que o público da EaD é cada vez mais amplo e diversificado, compreendendo alunos de
diferentes perfis. A tutoria desempenha, nesse complexo universo, um papel de extrema im-
portância: o de promover a mediação pedagógica de modo que a interação entre os alunos
e deles com os recursos digitais disponíveis seja útil para a aprendizagem. Assim, vamos
adotar a seguinte definição:
A mediação pedagógica compreende a ação educacional enquanto movimento
caracterizado pelas interações entre professores, tutores e estudantes sob os sig-
nos da cooperação e da autonomia. Nesse texto, a mediação é adjetivada como
pedagógica explicitando que é fundamentada pelas intenções e concepções di-
versas que permeiam o processo ensino-aprendizagem. Trata-se da dinâmica
ação-reflexão-ação posta em movimento pelos professores, tutores e estudantes.
(MALLMANN; CATAPAN, 2007, p. 64)
A mediação pedagógica nos cursos a distância exige que os tutores acompanhem,
orientem e estimulem os alunos a buscarem informações para que novas ideias sejam cons-
truídas. Tudo isso é realizado com o suporte das tecnologias disponíveis, favorecendo assim
a aprendizagem colaborativa, conforme discutimos no tópico anterior.
De acordo com Moore e Kearsley (2013), ao orientar e apoiar um aluno da EaD, a tutoria
contribui para que seja formada uma relação direta com o desenvolvimento de competências
desse aluno, uma vez que, pelo estímulo do tutor, o aluno continua seu curso, construindo
novos conhecimentos. É importante lembrar sempre que o aluno da EaD está muitas vezes
sozinho em seu momento de estudo e, especialmente por isso, ele é considerado responsável
por sua aprendizagem. Daí que o acompanhamento e a mediação realizados pela tutoria
sejam tão importantes e relevantes nos cursos a distância.
A mediação pedagógica é movida pela interação e, nessa interação, temos, além do es-
clarecimento de dúvidas relacionadas ao uso dos recursos digitais utilizados nas atividades
de aprendizagem, o aspecto das relações sociais, cujo objetivo é fazer com que o aluno não
se sinta sozinho. A aproximação entre tutor e aluno complementa o aprendizado, apresen-
tando na realidade prática diferentes olhares e experiências. Nesse contexto, Moran (2007)
complementa que a interação promovida pela mediação pedagógica também envolve a co-
laboração e o afeto, mostrando assim a importância da convivência e do contato entre os
alunos e demais envolvidos, como professores e tutores, mesmo no mundo virtual, visto que
contribui para a evolução social e pessoal.
Essa discussão complementa nossa reflexão do tópico anterior, na qual sustentamos
que as atividades colaborativas, mediadas pela tutoria, possibilitam aos alunos vivenciar
uma relação de troca, potencializando o ensino-aprendizagem por meio de suas experiên-
cias. Assim, podemos afirmar que a comunicação, cada vez mais importante na sociedade
em que vivemos, é uma chave que traz oportunidades de crescimento, especialmente quan-
do realizada pela mediação pedagógica da tutoria.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 71


5 Aprendizagem na EaD

Para reforçar ainda mais a importância da mediação, temos a menção dessa prática na
definição da EaD apresentada no Decreto n. 9.057, de 25 de maio de 2017, que trata da regu-
lamentação da modalidade no Brasil.
Art. 1º Para os fins deste Decreto, considera-se educação a distância a modali-
dade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de
ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e tecnologias de in­
formação e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com
acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva atividades
educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e
tempos diversos. (BRASIL, 2017, grifos nossos)
Essa definição mostra a importância da mediação no processo de ensino-aprendiza-
gem, que segundo Bento (2016), deve ser realizada pela tutoria. O autor ainda destaca que
o modo como o material didático está organizado contribui para que a interação realizada
entre os alunos e a mediação da tutoria aconteçam de maneira a contribuir efetivamente
para a formação do aluno. Os materiais didáticos desempenham, portanto, um importante
papel no ensino-aprendizagem, apresentando estrutura e linguagem que estejam de acordo
com o proposto para a EaD. No Capítulo 6, vamos ampliar nossa discussão e reflexão sobre
os materiais didáticos.
Na mediação pedagógica, é importante que o tutor tenha domínio do conteúdo pro-
posto, para que assim os alunos possam construir o conhecimento de forma significativa.
Bento (2016) destaca que a mediação pedagógica pode ser realizada em três fases, que são: o
tratamento com base no tema, o tratamento com base na aprendizagem e o tratamento com
base na forma. No Quadro 1, apresentamos com mais detalhes cada uma dessas fases.

Quadro 1 – Três fases da mediação pedagógica

Fase Descrição
A mediação se inicia no conteúdo desenvolvido pelo professor res-
ponsável (também chamado de professor conteudista). É ele quem
Tratamento com
propõe os recursos pedagógicos que irão organizar as informações a
base no tema
ponto de facilitar a compreensão do aluno, bem como orientar o tutor
a desenvolver a mediação.
Nessa etapa, são realizados os procedimentos mais favoráveis para
que a informação passada ao aluno seja, de fato, transformada em
Tratamento
conhecimento, ou seja, o conteúdo se torna um ato educativo. Essa
com base na
constatação é feita pelas atividades de aprendizagem realizadas. O
aprendizagem
tutor, nessa fase, leva em consideração o contexto vivido pelo aluno
para relacionar a teoria e a prática.
Essa fase representa a mediação quanto ao uso dos recursos, verifi-
cando em que medida os materiais disponibilizados estão contribuin-
Tratamento com
do com a aprendizagem. No que diz respeito à forma, podem ser
base na forma
consideradas ilustrações, organização visual e até mesmo figuras e
quadros com a apresentação de conteúdo.

Fonte: Elaborado pela autora com base em BENTO, 2016, p. 21.

72 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Aprendizagem na EaD 5
Diante das fases que envolvem a mediação pedagógica, é importante ressaltar que o
tutor deve estar envolvido em todos os momentos, não apenas na hora de esclarecer dúvi-
das pontuais de uma atividade específica ou sobre a utilização dos recursos disponíveis no
Avea. Nesse sentido, merece destaque a fala de Bento (2016) sobre o que vem a ser a media-
ção na prática.
[...] para fazer a mediação própria do processo de ensino-aprendizagem na EaD, o
professor/tutor precisa ter condições de compreender as dificuldades dos alunos
em seu processo de aprendizagem para, a partir daí, planejar ações que favore-
çam a interação entre ele e os alunos, de forma que possa lhes oferecer subsídios
que os apoiem, possibilitando que construam conhecimento. (BENTO, 2016, p. 22)
A mediação pedagógica está centrada na interação entre tutoria e aluno. O apoio aos
alunos é essencial e a utilização de técnicas que contribuam com essa interação permite que
o objetivo da mediação seja cumprido. Assim, o apoio dos tutores para os alunos envolve
uma interação mais informal, criando uma relação de proximidade, incentivando o aluno
a buscar novos conhecimentos e ir atrás do objetivo de concluir o curso. No Capítulo 7,
vamos abordar com mais detalhes as práticas e estratégias da tutoria no processo de
ensino-aprendizagem.

Figura 4 – Aprendizagem e interação na mediação pedagógica.

Aprendizagem

gógica
Mediação peda

Interação

Fonte: Elaborada pela autora.

É preciso compreender ainda que a mediação pedagógica realizada pela tutoria vai
além da atuação do tutor como facilitador ou motivador da aprendizagem. A mediação é
mais intensa e exige envolvimento do tutor com o conteúdo, para que assim instigue o aluno
a refletir sobre o tema em estudo, construindo e reconstruindo conhecimentos.

Conclusão

Neste capítulo, tivemos a oportunidade de ampliar nossos conhecimentos sobre a apren-


dizagem do aluno da modalidade a distância e como a mediação pedagógica e a ação da
tutoria contribuem para esse processo. Iniciamos nosso estudo destacando como os avanços

Atuação da tutoria na Educação a Distância 73


5 Aprendizagem na EaD

das tecnologias e mídias digitais estão cada vez mais presentes no processo de ensino-apren-
dizagem, especialmente quando nos referimos à interação que elas proporcionam para os
envolvidos nos cursos na modalidade EaD. A interação entre professores, tutores e alunos é
vista como um importante meio de contribuir para o aprendizado, visto que a troca de infor-
mações estimula a reflexão, bem como possibilita conhecer outras realidades e experiências.
Com base na interação que os cursos a distância proporcionam aos alunos, a realização
de atividades colaborativas é vista como outro fator que contribui para a aprendizagem dos
alunos e, nesse sentido, as tecnologias disponíveis complementam esse quesito. A criação de
estratégias pedagógicas visando à realização de atividades propostas em conjunto torna a
ação da tutoria ainda mais relevante, uma vez que busca o desenvolvimento do pensamento
crítico e o de competências.
Por fim, destacamos como a mediação pedagógica está diretamente relacionada à atua-
ção da tutoria no que diz respeito ao apoio à formação do aluno, indo além da atuação como
motivadora. Na mediação pedagógica, o tutor desempenha seu principal papel: contribuir
para a formação do aluno, de modo que este esteja apto a atuar na sociedade atual que va-
loriza o conhecimento.

Ampliando seus conhecimentos


O uso das tecnologias nos cursos a distância auxilia a interação, a comunicação e a
mediação entre professores, tutores e alunos. Nos cursos presenciais, essa prática nem sem-
pre é tão comum, pois muitos professores são conservadores enquanto outros demonstram
insegurança e até mesmo falta de estratégia para promover um ensino inovador. Para apro-
fundar essa questão, apresentamos na sequência um texto do professor José Moran, que traz
algumas ações para contribuir com a integração das tecnologias no ensino.

Alguns caminhos para integrar as tecnologias


num ensino inovador
(MORAN, 2007, p. 7-8)

Na sociedade da informação, todos estamos reaprendendo a conhecer, a comu-


nicar-nos, a ensinar; reaprendendo a integrar o humano e o tecnológico; a inte-
grar o individual, o grupal e o social.

É importante conectar sempre o ensino com a vida do aluno. Chegar ao aluno


por todos os caminhos possíveis: pela experiência, pela imagem, pelo som, pela
representação (dramatizações, simulações), pela multimídia, pela interação
on-line e off-line.

Partir de onde o aluno está. Ajudá-lo a ir do concreto ao abstrato, do imediato


para o contexto, do vivencial para o intelectual. Os professores, diretores,
administradores terão que estar permanentemente em processo de atualização

74 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Aprendizagem na EaD 5
através de cursos virtuais, de grupos de discussão significativos, participando
de projetos colaborativos dentro e fora das instituições em que trabalham.

Tanto nos cursos convencionais como nos [cursos] a distância teremos que
aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas novas, pesqui-
sando muito e comunicando-nos constantemente. Isso nos fará avançar mais
rapidamente na compreensão integral dos assuntos específicos, integrando-
-os num contexto pessoal, emocional e intelectual mais rico e transformador.
Assim poderemos aprender a mudar nossas ideias, sentimentos e valores onde
se fizer necessário.

Necessitamos de muitas pessoas livres nas escolas que modifiquem as estru-


turas arcaicas, autoritárias do ensino – escolar e gerencial. Só pessoas livres,
autônomas – ou em processo de libertação – podem educar para a liberdade,
podem educar para a autonomia, podem transformar a sociedade. Só pessoas
livres merecem o diploma de educador.

Faremos com as tecnologias mais avançadas o mesmo que fazemos conosco,


com os outros, com a vida. Se somos pessoas abertas, as utilizaremos para
comunicar-nos mais, para interagir melhor. Se somos pessoas fechadas, des-
confiadas, utilizaremos as tecnologias de forma defensiva, superficial. Se somos
pessoas autoritárias, utilizaremos as tecnologias para controlar, para aumentar
o nosso poder. O poder de interação não está fundamentalmente nas tecnolo-
gias, mas nas nossas mentes.

Ensinar com as novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultanea-


mente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes profes-
sores e alunos. Caso contrário, conseguiremos dar um verniz de modernidade,
sem mexer no essencial. A internet é um novo meio de comunicação, ainda
incipiente, mas que pode ajudar-nos a rever, a ampliar e a modificar muitas das
formas atuais de ensinar e de aprender.

Atividades
1. O uso das tecnologias e mídias digitais é cada vez mais comum entre as pessoas,
tanto para o lazer como para a realização da atividade profissional. Na educação,
isso não muda, especialmente quando nos referimos à EaD, na qual as tecnologias
são vistas como uma importante estratégia para que as pessoas se comuniquem e
possam adquirir formação e qualificação profissional. Considerando o uso das tec-
nologias, descreva como a aprendizagem vem provocando mudanças no comporta-
mento do aluno.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 75


5 Aprendizagem na EaD

2. A aprendizagem colaborativa é uma das ações pedagógicas que possibilita aos alunos
a troca de conhecimentos e a comunicação entre si, uma vez que existe a necessidade
de intermediar opiniões diferentes sobre um determinado tema. Alguns fatores são
considerados fundamentais para que a aprendizagem colaborativa realizada no mun-
do virtual seja de fato significativa. Nessa perspectiva, descreva quais são esses fato-
res e apresente um exemplo prático de como a tutoria contribui para esse processo.

3. A mediação pedagógica é considerada uma importante ação realizada pela tutoria


para contribuir com a formação do aluno, estimulando sua participação e seu envol-
vimento no curso de modo que sua aprendizagem seja construída sobre bases sóli-
das. Para esta atividade, considere a seguinte situação e descreva como a mediação
pedagógica do tutor poderá contribuir para o aprendizado deste aluno.

“Olá tutor, estou tentando acompanhar o curso, mas está muito díficil. Não estou conseguin-
do me dedicar aos estudos, pois o conteúdo está muito complexo. Sinto que não vou conseguir
desenvolver as atividades e contribuir com as discussões que estão acontecendo no fórum.” O
que devo fazer?

Referências
BEHAR, P. A. (Org). Competências em educação a distância. Porto Alegre: Penso, 2013.
BENTO, D. O sistema tutorial para EaD. São Paulo: Cengage, 2016.
BORBA, M. C.; MALHEIROS, A. P. S.; ZULATTO, R. B. A. Educação a distância online. 4. ed. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
BRASIL. Decreto n. 9.057, de 25 de maio de 2017. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília,
DF, 30 maio 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/
D9057.htm>. Acesso em: 29 jan. 2018.
MALLMANN, E. M.; CATAPAN, A. H. Materiais didáticos em Educação a Distância: gestão e me-
diação pedagógica. In: Linhas, Florianópolis, v. 8, n. 2, p. 63-75, jul./dez. 2007. Disponível em: <http://
www.periodicos.udesc.br/index.php/linhas/article/viewFile/1360/1166>. Acesso em: 29 jan. 2018.
MOORE, M.; KEARSLEY, G. Educação a distância: sistemas de aprendizagem on-line. São Paulo:
Cengage Learning, 2013.
MORAN, J. M. O uso das novas tecnologias da informação e da comunicação na EaD: uma leitura
crítica dos meios. Distrito Federal: Ministério da Educação, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.
gov.br/seed/arquivos/pdf/T6%20TextoMoran.pdf>. Acesso em: 29 jan. 2018.
ROSINI, A. M. As novas tecnologias da informação e a educação a distância. São Paulo: Cengage
Learning, 2007.
WIKIMEDIA. Disponível em: <https://wikimediafoundation.org/wiki/Miss%C3%A3o>. Acesso em:
5 fev. 2018.

76 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Aprendizagem na EaD 5
Resolução
1. Esperamos que a resposta reflita sobre como a aprendizagem no mundo virtual esti-
mula diferentes ações que antes não eram realizadas nos ensino presencial. Na EaD,
o uso das tecnologias estimula a busca pela informação, uma vez que o conhecimen-
to não é visto mais como domínio apenas do professor. A aprendizagem centrada no
aluno se realiza com a utilização de tecnologias e pela interação que elas proporcio-
nam com vistas à construção do conhecimento.

2. Para essa questão, a proposta é que você identifique os fatores essenciais para a
aprendizagem on-line conforme apresentado por Borba, Malheiros e Zulatto (2014)
e, com base nesses fatores, saiba relacionar e identificar na prática como eles se
fazem presentes.

Quanto à participação colaborativa, a ação da tutoria pode ser a interação com um


grupo que apresenta opiniões diversas, podendo propor novas reflexões que enri-
queçam tais opiniões e a discussão como um todo. Sobre a bidirecionalidade, o tutor
deve valorizar uma linguagem informal com o aluno que apresenta dúvidas de con-
teúdo do material didático apresentado. Por fim, para as conexões em rede, o tutor
pode propor aos alunos que se comuniquem apresentando diferentes significados de
uma mesma situação que estejam relacionados entre si.

3. Para esta questão, esperamos que a resposta possa descrever como a mediação do
tutor pode contribuir para a solução das diferentes situações. No relato apresentado,
o tutor se depara com um aluno desmotivado e com dificuldade de aprendizagem.
Assim, a mediação envolve questões relacionais, de interação e afeto e, para isso, é
preciso que o tutor estabeleça um diálogo com esse aluno, de modo a valorizar sua
atitude de iniciar uma nova formação e de enfrentar os desafios que dela fazem par-
te, tendo sempre em conta que não está sozinho nesse desafio. Em relação à dificul-
dade de aprendizagem, o tutor pode pedir mais detalhes do conteúdo que o aluno
sente dificuldade de compreender para que assim possa pensar em uma estratégia
para explicar e contribuir com o entendimento do aluno.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 77


6
Material didático na EaD

O material didático utilizado nos cursos a distância apresenta características que


refletem as particularidades da EaD, especialmente quando consideramos que o pro-
fessor e o aluno estão distantes em tempo e distância.

Neste capítulo, vamos conhecer como o material didático é um importante recurso


que contribui para o processo de ensino-aprendizagem. Também teremos a oportuni-
dade de aprender sobre a produção do material didático, quem são os envolvidos, seu
fluxo de produção e as mídias que compõem esse recurso.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 79


6 Material didático na EaD

6.1 A produção do material didático na EaD

A educação a distância é uma modalidade educacional que vem se expandindo cada


vez mais, seja pelo número de instituições que oferecem os cursos, seja pela quantidade de
alunos que frequentam os cursos no formato. Diante desse avanço, uma preocupação cons-
tante entre aqueles que utilizam a EaD é a qualidade do material didático que contribuirá
com a formação do aluno.
Nos cursos na modalidade EaD, o material didático representa um importante papel
no processo de ensino-aprendizagem, pois, considerando que professores e alunos estão
separados física e geograficamente, é esse material disponibilizado ao aluno que traz as
informações do conteúdo de estudo. A produção de um material de qualidade exige res-
ponsabilidade e compromisso do professor que o produz, pois sua falta refletirá tanto na
aprendizagem do aluno quanto na credibilidade da instituição que oferece o curso (BENTO,
2016). Uma característica importante que deve ser levada em consideração é a apresentada
por Bento, a seguir: Ӄ fundamental ter em mente que, independente do suporte em que se
encontra, o material didático deve se voltar para a verdade, para o respeito à cultura, ser
marcado pela ética e, acima de tudo, não incitar qualquer tipo de segregação ou preconcei-
to” (BENTO, 2016, p. 10).
Complementando a ideia, os Referenciais de qualidade para educação superior a distância
destacam que o material didático deve atender ao ponto de vista tanto da abordagem do
conteúdo quanto da forma, para que esteja em conformidade com o que foi previamente
definido no projeto pedagógico e com os princípios epistemológicos, metodológicos e po-
líticos, a fim de contribuir com a construção do conhecimento pelo aluno (BRASIL, 2007).
Outra questão importante sobre a elaboração do material didático é que, ao apresentar
um material coeso, também está sendo facilitada a mediação entre aluno e professor.
Lembre-se de que, no capítulo anterior, ressaltamos a importância da mediação para a
aprendizagem e como o tutor é figura importante nesse processo. Aqui, reforçamos essa
importância ao relacionar a mediação com a qualidade do material didático produzido e
apresentado ao aluno.
Nessa perspectiva de interação, a equipe responsável por produzir os materiais didáti-
cos deve estar atenta, de modo que os diferentes atores, como professores, tutores e alunos,
estejam envolvidos. Para isso, apresentamos algumas orientações que demandam atenção
para que o material didático apresentado promova interação entre professor e aluno.

80 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Material didático na EaD 6
Figura 1 – Orientações para desenvolver um material didático interativo.

Apresentar
• Apresentar comunicação informal.
linguagem
• Promover autonomia do aluno no estudo do conteúdo.
dialógica

• Iniciar com uma introdução do tema abordado.


Apresentar uma
• Adotar uma metodologia clara que contribua com o planejamento
organização lógica
do aluno diante da autonomia que precisa ser criada.

Ter claros os
conhecimentos,
• Detalhar o CHA para oferecer a oportunidade de autoavaliação.
habilidades e atitudes
(CHA)

Ter como foco • Indicar referências bibliográficas utilizadas na construção do texto.


a aprendizagem • Incentivar o aprofundamento e complementação do conteúdo.

Fonte: BRASIL, 2007. Adaptada.

Essas orientações podem ser utilizadas nos diferentes recursos disponibilizados aos alu-
nos, pois, nos cursos a distância, os materiais didáticos podem ser apresentados em vários
formatos, como texto impresso ou on-line, vídeos, áudios e apresentações. As tecnologias e
mídias digitais contribuem com essa possibilidade de diversificar os materiais produzidos.
Ainda neste capítulo vamos conhecer mais sobre os formatos das mídias utilizadas.
Independentemente do formato em que o material está, ele representa o acesso do alu-
no ao conteúdo elaborado pelo professor e, para isso, uma orientação importante é utilizar
os recursos tecnológicos disponíveis e criar hyperlinks nos textos ou, ainda, inserir mensa-
gens interativas. Nesse contexto, Bento (2016) aponta que podemos caracterizar os materiais
didáticos como:
• recurso tecnológico;
• apresentação de mensagem que transmite informações;
• conteúdo que se diferencia dos demais meios de comunicação por apresentar pro-
pósito educativo.
Com base nessas informações, podemos perceber que os materiais oferecidos aos alu-
nos dos cursos a distância se diferenciam dos usados nos cursos presenciais especialmente
quanto à sua organização, metodologia e escrita. Nesse contexto, Silva (2013) apresenta
um comparativo das principais diferenças entre o material didático tradicional do curso
presencial e o material didático da EaD. Observe o quadro a seguir e compreenda melhor
essas diferenças.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 81


6 Material didático na EaD

Quadro 1 – Diferenças entre o material didático tradicional e o da EaD.

Material didático tradicional Material didático para EaD


Comunicação unidirecional. Comunicação bidirecional.
Objetivo de aprendizagem oculto. Objetivo de aprendizagem explicitado.
Recepção de informação pelo aluno de ma- Interação ativa do aluno com a informação
neira estática. por meio de iconografias.
Estrutura oculta. Estrutura clara e apresentada ao aluno.
Aprendizagem autodirigida. Aluno guiado.
Diálogo – envolvimento do aluno por meio
Preleção – exposição de conteúdo.
da contextualização do conteúdo.
Impessoal. Dialogado, reflexionante, problematizador.
Prioridade na construção de novos co-
Pouca prática para potencializar a constru-
nhecimentos para o desenvolvimento de
ção do conhecimento.
competências.
Sem atividade ou somente no final do
Atividades ao longo do texto.
capítulo.
Conteúdo em capítulos ou grandes blocos. Conteúdo dividido em pequenas partes.

Fonte: SILVA, 2013, p. 74. Adaptado.

Podemos notar, assim, que o material didático é um elemento essencial no proces-


so de ensino-aprendizagem nos cursos a distância, pois é por meio dele que o professor
tem a possibilidade de compartilhar seu conhecimento e contribuir com a construção do
conhecimento do aluno. É importante ressaltar ainda que, para a tutoria, um material
didático que valoriza a essência da modalidade, no qual os alunos estão distantes dos pro-
fessores, é de extrema importância, pois estimula a interação entre os alunos e discussões
e reflexões que a tutoria pode propor nos encontros presenciais e no ambiente virtual de
ensino-aprendizagem.
Assim, para produzir um material que contribua com a aprendizagem e a construção
do conhecimento do aluno, ter uma equipe especializada é fundamental. Mas quem são os
profissionais dessa equipe? No tópico a seguir, vamos conhecer como esses profissionais
atuam na produção do material didático.

6.2 Os profissionais envolvidos na


produção do material didático

Para que o aluno receba um material didático de qualidade, independentemente do


seu formato, é necessária a atuação de uma equipe de profissionais que estejam envolvidos,

82 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Material didático na EaD 6
desenvolvendo as atividades de maneira conjunta e comprometida. Diante da importân-
cia que o material didático apresenta, especialmente para cursos de EaD, Silva e Spanhol
(2014) destacam que é por meio do material oferecido ao aluno que está sendo possibilitado
um direcionamento da aprendizagem, desde que este seja apresentado de modo dialógico
e contextualizado e com conteúdos específicos disponibilizados organizadamente. Além
disso, tais conteúdos podem ser entregues aos alunos em diferentes mídias, como texto
impresso, vídeo, áudio etc.

Figura 2 – Qualidade do material didático: interação e comprometimento.

Material
Interação didático de Comprometimento
qualidade

Fonte: Elaborada pela autora.

Silva, Diana e Raymundo (2015, p. 4) fazem uma consideração a respeito da importân-
cia do material didático para os cursos de EaD:
O material didático no processo de ensino-aprendizagem destaca-se como ele-
mento que viabiliza a qualidade do ensino e se intensifica quando planejado no
âmbito da EaD, garantindo ao estudante diferentes possibilidades de aprendiza-
gem para a construção efetiva de um novo conhecimento, bem como a reconstru-
ção do conhecimento pré-existente.
Com base nessa reflexão das autoras, retomamos nossa afirmação do início do tópico,
sobre a dedicação e o comprometimento da equipe para produzir um material de qualidade.
Esse processo torna-se, então, complexo pela atenção que se é exigida, especialmente quanto
ao seu papel de contribuir com a construção do conhecimento do aluno da EaD.
De acordo com Silva e Spanhol (2014), recomendamos que a equipe atuante na produ-
ção de material didático apresente uma formação multidisciplinar para que possa atuar de
modo interdisciplinar, ou seja, que sua formação seja ampla a fim de permitir a convergên-
cia de conhecimentos de diferentes áreas. Assim, considerando as várias mídias e recursos
que serão disponibilizados aos alunos, sugerimos que a equipe de produção de material
didático seja composta de gestor de projeto, coordenador de produção, designer educacional,
web designer, designer gráfico, revisor, equipe de vídeo, tutor, professor-autor e gestor educa-
cional (SILVA; DIANA; RAYMUNDO, 2015). No quadro a seguir, apresentamos com mais
detalhes como cada profissional atua na equipe e desenvolve sua atividade.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 83


6 Material didático na EaD

Quadro 2 – Principais atividades desenvolvidas pela equipe de produção do material didático.

Responsável pelo acompanhamento de toda a produção do material


Gestor de
didático, envolvendo desde questões burocráticas até a entrega final
projeto
do material.

Coordenador Responsável pelo acompanhamento da equipe envolvida diretamen-


de produção te na produção do material didático.

Professor-autor Responsável pela escrita do conteúdo específico de estudo do aluno.

Designer Responsável pela adequação de linguagem e estilo do material escrito


educacional pelo professor. Está em contato direto com professor.

Responsável pela programação do ambiente virtual de ensino-apren-


Web designer dizagem, no qual organiza a forma de interação proposta no plano de
ensino.

Responsável pela revisão ortográfica e gramatical de todo o material


Revisor
didático produzido.

Responsável pela diagramação do material didático já adequado pelo


Designer gráfico designer educacional. Realiza a diagramação de modo que o material
apresente o estilo e o padrão gráfico da instituição de ensino.

Responsável pela roteirização e gravação dos vídeos que compõem


Equipe de vídeo os materiais disponibilizados aos alunos (quando previsto no projeto
do curso).

Responsável pelo acompanhamento do aluno no processo de ensino-


Tutoria -aprendizagem. Na produção do material didático, dependendo do
projeto do curso, atua de maneira colaborativa com o professor-autor.

Fonte: Elaborado pela autora.

A interação entre a equipe é fundamental, visto que as atividades realizadas por um


profissional interferem no desenvolvimento das atividades de outros profissionais. Há uma
cadeia de ações interligadas, que devem ser realizadas de maneira linear e interativa. Para
que essa interação ocorra de modo que o material produzido apresente a qualidade espera-
da, é importante ter claro um processo de produção que contribua com o trabalho de toda a
equipe. De acordo com Silva, Diana e Raymundo (2015, p. 7):
O mapeamento do fluxo de produção, realizado junto à equipe de produção de
materiais didáticos, tem como uma de suas principais ações a comunicação e
interação entre a equipe durante todo fluxo de atividades desenvolvidas, bem
como a clareza de todos os atores quanto a sua participação no processo.
Podemos observar que a interação é essencial na produção e, para que isso ocorra, ter
um fluxo definido é ponto-chave para o sucesso. Assim, Silva, Diana e Raymundo (2015)
sugerem um fluxo de produção que tem como objetivo envolver todos os profissionais, con-
forme apresentamos na figura a seguir.

84 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Material didático na EaD 6
Figura 3 – Proposta de fluxo de produção e envolvimento da equipe.

Designer Designer
Coordenação Professor Revisor
educacional educacional

Designer Designer Designer Designer


Revisor
gráfico educacional educacional gráfico

Designer Designer Designer Designer


Professor
educacional educacional gráfico educacional

Roteirista Designer Programador


Web designer Gestor
de vídeo educacional Avea

Fonte: SILVA; DIANA, 2015. Adaptada.

Com a definição do fluxo de produção, esperamos que a equipe responsável pela pro-
dução do material didático esteja integrada e que o resultado de seu trabalho seja um ma-
terial organizado de maneira coerente para o aluno, que busca no material didático o con-
teúdo que irá compor sua base de estudo para construção do conhecimento. Observe que o
papel do designer educacional representa a interação entre a equipe, pois ele realiza a ponte
entre um profissional e outro.
Os profissionais que atuam na produção do material didático compartilham seu conhe-
cimento e, seguindo orientações que visam à interação entre aluno e professor, bem como
entre aluno e material, estão contribuindo com a reflexão e a construção do conhecimento
do estudante.
Até agora, vimos a importância do material didático e conhecemos os responsáveis por
sua produção, além de mencionarmos no decorrer deste capítulo as diferentes formas de
apresentar um material. No tópico a seguir, complementaremos o estudo sobre o tema co-
nhecendo as possíveis mídias que o aluno dos cursos de EaD pode ter disponíveis para sua
aprendizagem.

6.3 As mídias do conhecimento

Os materiais didáticos, conforme vimos no decorrer deste capítulo, são essenciais para
o aluno da EaD, o que exige que sua organização e elaboração sejam diferenciadas de modo
que valorizem a autonomia do aluno, bem como a interação, tanto com o professor quanto
com os demais alunos e tutores. Porém, é importante lembrar que, na EaD, nem sempre a
apresentação do conteúdo em forma de texto é a melhor, pois há hoje disponíveis diferen-
tes mídias que contribuem para a construção do conhecimento. Bahia e Silva (2015, p. 8)

Atuação da tutoria na Educação a Distância 85


6 Material didático na EaD

afirmam que “as mídias utilizadas na EaD como recurso educacional são resultado de uma
parceria entre o professor, o especialista no conteúdo abordado e a equipe multidisciplinar
de produção de materiais didáticos, que é composta por especialistas no uso das linguagens
midiáticas para fins pedagógicos”.
No contexto apresentado pelas autoras, a escolha das mídias é uma importante estra-
tégia que contribui para o processo de ensino-aprendizagem. A mídia em forma de texto é
uma opção muito utilizada, pois possibilita ao professor apresentar o conteúdo de modo
mais completo, porém utilizar os recursos tecnológicos disponíveis com o avanço das tecno-
logias é um ponto positivo e deve ser explorado.
Os Referenciais de qualidade para educação superior a distância fazem uma importante reco-
mendação sobre o uso das mídias e tecnologias disponíveis:
[...] com o avanço e a disseminação das tecnologias da informação e comuni-
cação e o progressivo barateamento dos equipamentos, é recomendável que as
instituições elaborem seus materiais para uso a distância, buscando integrar as
diferentes mídias, explorando a convergência e integração entre materiais im-
pressos, radiofônicos, televisivos, de informática, de videoconferências e telecon-
ferências, dentre outros, sempre na perspectiva da construção do conhecimento e
favorecendo a interação entre os múltiplos atores. (BRASIL, 2007, p. 14)
Seguindo essa linha, Mattar (2011) aponta que o uso de material impresso e texto on-line
continua frequente, porém outras opções passaram a ser utilizadas. A produção e a dispo-
nibilização de vídeos têm se tornado cada vez mais frequente nas instituições que ofertam
cursos de EaD, além do uso de videoaulas via satélite, que atraem um número alto de alu-
nos, especialmente de municípios distantes dos grandes centros, visto que possibilitam um
alcance maior. O smartphone também vem sendo considerado uma mídia para a aprendiza-
gem, o que resulta no aumento da demanda pela produção de vídeos e áudios compatíveis
com seus suportes.

Figura 4 – Mídias utilizadas na EaD.

Videoaula

Videoconferência Áudio

Smartphone Texto

Fonte: Elaborada pela autora.

86 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Material didático na EaD 6
O uso de vídeos gravados tem se tornado mais frequente, pois é recurso de fácil aces-
so para conteúdos em qualquer lugar e, considerando a característica da EaD, essa opção
de mídia é valiosa, pois, por exemplo, um aluno que sai do trabalho e pega um ônibus até
sua casa, no trajeto, tem a possibilidade de assistir a um vídeo de conteúdo proposto pelo
professor. Assim, é possível compreender a aceitação do vídeo como uma das mídias mais
aceitas pelos alunos.
Outro ponto positivo do uso de vídeos é a possibilidade de apresentar ao aluno um ma-
terial mais dinâmico, com som e imagem. A apresentação de uma experiência prática com
esses recursos em determinada disciplina pode complementar o estudo do aluno e auxiliá-lo
no entendimento do conteúdo. Na figura a seguir, veja outros exemplos e situações de como
o vídeo pode ser utilizado como material didático na EaD.

Figura 5 – Exemplos para utilização de vídeos como material didático.

Analisar a dimensão Apresentar depoimentos


Sintetizar um conceito. teórico-empírica de de profissionais com
uma situação concreta. diferentes opiniões.

Explicar processos
Demonstrar passos
de difícil observação a Ilustrar um conceito
de um processo técnico
olho nu (microscópicos com metáfora.
ou comportamental.
ou telescópicos).

Fonte: Elaborada pela autora baseado em BAHIA; SILVA, 2015.

Percebemos, assim, o uso do vídeo como uma mídia complementar no material didá-
tico, o qual se enriquece pela soma de diferentes mídias, como textos, vídeos, áudios e vi-
deoconferências, nos quais a interação entre professor, aluno e tutor é sempre valorizada.
Finalizamos destacando a importância do material didático para a EaD e afirmando que,
independentemente da mídia utilizada, o aluno deve ter a oportunidade de construir seu
conhecimento sobre o tema em estudo.

Conclusão

A produção do material didático nos cursos a distância deve ser considerada pela insti-
tuição de ensino como um dos recursos mais importantes na aprendizagem e construção do
conhecimento do aluno. Por meio do material disponibilizado, a tutoria tem a possibilidade
de promover interação e reflexão relacionadas ao conteúdo, estimulando o raciocínio e a
autonomia do aluno para seu estudo.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 87


6 Material didático na EaD

Nesse contexto, devemos ter em mente que a produção do material didático é um pro-
cesso complexo e envolve uma equipe que deve estar integrada e comprometida para que
esse material seja de qualidade e contribua com a aprendizagem do aluno. A definição de
um fluxo é essencial para, na produção do material, estimular o envolvimento da equipe,
bem como para que seja elaborado um material coerente e alinhado com a proposta da ins-
tituição pela qual o aluno se interessou.
Para finalizar, é preciso lembrar que o uso de diferentes mídias é uma estratégia que
enriquece o curso e, especialmente, a aprendizagem e a construção do conhecimento, visto
que elas possibilitam apresentar o mesmo conteúdo de diferentes perspectivas, bem como
complementar informações.

Ampliando seus conhecimentos


Quando falamos da produção de material didático para cursos ofertados na modalida-
de a distância, temos uma nova discussão a acrescentar nos nossos estudos. Vimos que os
professores são figura essencial na produção, mas quais são seus direitos sobre esse mate-
rial? Como fica a questão dos direitos autorais?
Nesse contexto, Matar (2011, p. 50-51) nos traz alguns questionamentos e informações
importantes sobre o assunto. Leia, na sequência, um trecho da reflexão e dos questionamen-
tos do autor sobre os direitos autorais nos materiais didáticos para a EaD.

Professor e produção de conteúdo


(MATTAR, 2011, p. 50-51)

Tradicionalmente, os professores eram os “donos” do material didático que


organizavam para seus cursos presenciais, tanto que podiam “transportá-lo”
quando mudavam de uma instituição de ensino para outra, e inclusive muitas
vezes chegavam a publicar esse material, recebendo royalties como seus auto-
res. A questão que se apresenta para a EaD é a seguinte: as faculdades e uni-
versidades têm o direito de disponibilizar on-line o material de cursos, organi-
zados por seus professores, e lucrar com esse material sem que os professores
sejam remunerados? Afinal, teria o professor já́ sido pago para desenvolver seu
curso, ou apenas para ministrar as aulas, mantendo nesse sentido os direitos
de propriedade intelectual sobre o material didático? Na internet, essa proprie-
dade tende a ser facilmente perdida. Afinal de contas, quem é o proprietário
intelectual do material dos cursos, os professores ou a instituição? Antes, os
professores não precisavam dividir os royalties de seu trabalho com as institui-
ções, o que parece, agora, estar mudando.

88 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Material didático na EaD 6
Quem é o detentor dos direitos autorais, por exemplo, se o professor é um
funcionário registrado da instituição, e não simplesmente um terceirizado?
A legislação prevê que, caso o trabalho esteja incluído no contrato entre a insti-
tuição e o funcionário, a instituição deteria tais direitos. Mas produzir material
para aulas estaria previsto no contrato entre instituições de ensino e profes-
sores? E no caso de vídeos? E de transmissão por televisão? E pela internet?
Como ficam os casos em que o professor utiliza os equipamentos da instituição
para produzir material, e mesmo o investimento que muitas instituições fazem
na produção de material para EaD?

Supostamente, se não há contrato de trabalho entre instituição e profissional


especificando a produção de material para EaD, o autor deteria os direitos
autorais do que tivesse produzido. Para resolver divergências, devem ser con-
siderados o horário de trabalho, a relação trabalhista entre o empregador e o
empregado, se os materiais e equipamentos são fornecidos pela instituição etc.;
enfim, há uma série de variáveis que torna extremamente complexo dar uma
resposta única e final a essas questões em EaD.

Atividades
1. A produção de material didático para EaD apresenta algumas particularidades, es-
pecialmente quando o comparamos com o material didático apresentado nos cursos
presenciais tradicionais. Para atender às características de um material que será dis-
ponibilizado ao aluno da EaD, sugerimos que você siga algumas orientações. Com
base no seu estudo sobre a produção de material didático, descreva as principais
orientações desse material para EaD, destacando suas características.

2. A elaboração de material didático exige uma equipe integrada e comprometida, a


fim de que a produção seja de qualidade e contribua com a aprendizagem e a cons-
trução do conhecimento. A equipe de produção de material didático deve ser inter-
disciplinar, envolvendo profissionais de diferentes áreas de atuação. Diante desse
contexto e do que foi estudado neste capítulo, descreva os profissionais e suas res-
pectivas atividades na produção de material didático.

3. Na EaD o aluno tem a oportunidade de estudar o tema do curso por meio de di-
ferentes mídias, o que envolve formatos que atendam a diversos públicos e perfis.
Os exemplos mais comuns que podemos citar são os e-books interativos, telas narra-
das e vídeos. Em relação aos vídeos, eles seguem algumas orientações próprias, para
que seja possível transmitir o conteúdo de maneira agradável e não cansativa. Nesse
contexto, descreva como a apresentação dos vídeos pode potencializar o aprendiza-
do do aluno e sua compreensão a respeito do tema em estudo.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 89


6 Material didático na EaD

Referências
BAHIA, A. B.; SILVA, A. R. L. Vídeo didático: um guia para o professor. Florianópolis: IFSC, 2015.
BENTO, D. A produção do material didático para EaD. São Paulo: Cengage Learnig, 2016.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Referenciais de qualidade para
educação superior a distância: versão preliminar. Brasília, DF: MEC, 2007. Disponível em: <http://
portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/referenciaisead.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2018.
MATTAR, J. Guia de educação a distância. São Paulo: Cengage Learning, 2011.
SILVA, A. R. L. da. Diretrizes de design instrucional para elaboração de material didático em EaD:
uma abordagem centrada na construção do conhecimento. 179 f. (Dissertação de mestrado) – Programa
de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento. Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2013. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/103488>. Acesso em:
28 jan. 2018.
SILVA, A. R. L. da.; DIANA, J. B. Produção de materiais didáticos Cerfead. 2015. 1 banner. Projeto
gráfico do banner desenvolvido por Anelise Thaler.
SILVA, A. R. L. da.; DIANA, J. B.; RAYMUNDO, G. M. C. Gestão na produção de material didático para
EaD: um estudo de caso Cerfead/IFSC. In.: CONGRESSO INTERNACIONAL ABED DE EDUCAÇÃO
A DISTÂNCIA, 21., 2015, Bento Gonçalves. Anais... Bento Gonçalves: Abed, 2015. Disponível em:
<http://www.abed.org.br/congresso2015/anais/pdf/BD_30.pdf>. Acesso em: 28 jan. 2018.
SILVA, A. R. L. da; SPANHOL, F. J. Design instrucional e construção do conhecimento na EaD.
Jundiaí: Paco Editorial, 2014.

Resolução
1. Para essa questão, esperamos que você identifique um material didático produzido
para a EaD, principalmente, pela forma como o conteúdo é apresentado, não em
relação ao recurso utilizado, mas à sua apresentação escrita: ter uma linguagem
dialógica, que promova interação entre professor e aluno; apresentar uma orga-
nização lógica para que estimule a autonomia do estudante; desenvolver compe-
tências, ter sempre como foco a aprendizagem, estimulando novas descobertas e
complementando o conteúdo.

2. Para essa questão, esperamos que você identifique e reflita como profissionais de
diferentes áreas de atuação são importantes para que o material apresentado seja
interativo e tenha um design que estimule o estudo. Assim, apresentamos como base
as informações descritas na Figura 3.

3. Esperamos que nessa questão você identifique o vídeo como um recurso comple-
mentar ao processo de ensino-aprendizagem do aluno da EaD, especialmente em
assuntos que a exemplificação de situações práticas é importante. Assim, o vídeo
pode ser utilizado para sintetizar um conceito, analisar a dimensão teórico-empírica
de uma situação concreta, apresentar depoimentos de profissionais com diferentes
opiniões, explicar processos de difícil observação a olho nu (microscópicos ou teles-
cópicos), demonstrar passos de um processo técnico ou comportamental ou ilustrar
um conceito com metáfora. Esses exemplos estão apresentados na Figura 5.

90 Atuação da tutoria na Educação a Distância


7
Práticas da tutoria para
o ensino-aprendizagem na EaD

As ações realizadas pela tutoria em curso ofertado na modalidade EaD estão dire-
tamente relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem. Para que essas ações sejam
efetivas, de modo a contribuir com a aprendizagem do aluno, elas se utilizam das TIC
como o principal meio de interação.

Diante da necessidade constante de comunicação e interação com os alunos, defi-


nir quais práticas pedagógicas podem ser utilizadas e contribuem para a aprendiza-
gem do aluno constitui-se uma das ações iniciais da tutoria. Neste capítulo, vamos
explorar quais são essas práticas e como o uso de recursos didáticos e a definição de
estratégias estão relacionadas com as ações realizadas pela tutoria.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 91


7 Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD

7.1 Teoria e prática na ação da tutoria

Os cursos da modalidade a distância apresentam como principal característica a distân-


cia física e temporal entre professores e alunos, sendo o processo de ensino-aprendizagem
realizado pelo uso de tecnologias e mídias digitais: essa é a essência da EaD. Além do pro-
fessor e do aluno, temos o tutor, um profissional que compõe a equipe atuante na EaD e é
responsável por desempenhar uma atividade extremamente relevante: acompanhar o aluno
e dar suporte ao professor no que diz respeito ao ensinar e aprender.
Neste capítulo, diferentes questões relacionadas à EaD e que contextualizam o pano-
rama de atuação da tutoria serão abordados. Nosso objetivo é enfatizar a ação prática da
tutoria, identificando como ela contribui para o processo de ensino-aprendizagem e para
a construção do conhecimento. Assim, a ação do tutor se reveste de grande importância, já
que precisa desempenhar com excelência as ações pedagógicas, a fim de atingir o resultado,
isto é, a aprendizagem do aluno de modo positivo (BENTO, 2016).
Considerando a importância da tutoria para os cursos na modalidade EaD, Bento (2016,
p. 23) nos traz os seguintes questionamentos: “Quais fatores interferem no trabalho da tuto-
ria de modo que possa refletir nos alunos? Como a tutoria pode se organizar para o enfren-
tamento de situações conflituosas que perpassam sua atuação?”.
É com base nesses desafios que vamos iniciar nossa reflexão sobre a ação e as práticas
da tutoria. Segundo Bento (2016), alguns aspectos que refletem na atuação do tutor devem
ser considerados na elaboração do curso. Antes, precisamos conhecer como esses aspectos
estão relacionados à ação da tutoria, de modo que apresentem resultados positivos e contri-
buam para a aprendizagem.
O Avea é o principal meio de acesso do aluno ao conteúdo elaborado pelo professor,
além de ser um espaço onde são disponibilizados textos, vídeos, atividades, avaliações, fó-
rum de discussão e espaço de interação. É no Avea que o tutor realizará o contato princi-
pal com o aluno, podendo desenvolver ações de auxílio e acompanhamento das atividades
propostas. Segundo Bento (2016), de acordo com o que foi proposto no projeto pedagógico
é que o tutor irá planejar e realizar sua prática, levando em consideração o tipo de prática
tutorial mais adequado para cada situação. No Capítulo 8, vamos abordar com mais deta-
lhes o Avea, por enquanto o assunto será tratado apenas à medida que interfere na prática
da tutoria.
O tipo de tutoria a ser realizado é definido já na proposta de ensino-aprendizagem
apresentada no projeto pedagógico, estando diretamente ligado às tecnologias e mídias pré-
-definidas. Assim, Bento (2016) destaca os seguintes tipos de tutoria: a distância, presencial,
grupal, postal e multimídia. Mais adiante, vamos descrever com mais detalhes os tipos de
tutoria e como cada um molda a prática do tutor.
O material didático, conforme vimos no Capítulo 6, é de extrema importância para o
processo de ensino-aprendizagem. Pela perspectiva da tutoria, é possível perceber que tam-
bém o material influencia a ação do tutor, visto que, dependendo do modo como ele será

92 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD 7
apresentado ao aluno, o tutor deverá organizar e planejar a forma pela qual irá orientar o
aluno em seu processo de aprendizagem (BENTO, 2016).
A organização do tempo e espaço está diretamente relacionada aos demais aspectos
que destacamos até aqui. O tutor precisa saber como o curso está organizado em sua totali-
dade para que possa conduzir sua atuação para estimular e auxiliar o aluno na construção
do conhecimento. Assim, ressaltamos que o tutor deve ter habilidade para administrar seu
tempo e, nesse sentido, o autor nos traz uma importante contribuição a respeito: “O acom-
panhamento pedagógico dos alunos torna-se mais fácil quando o tutor aprende a lidar com
o tempo da EaD, o que exige rever seu próprio tempo em outras atividades” (BENTO, 2016,
p. 24). Ainda neste capítulo vamos falar mais sobre a importância da administração do tem-
po e organização das ações a serem desenvolvidas pela tutoria.
Por fim, o acompanhamento do processo de aprendizagem pela tutoria é a ação que
mais se destaca quando falamos sobre as atividades desenvolvidas pelo tutor. Assim, para
que esse acompanhamento resulte na aprendizagem e construção do conhecimento do alu-
no, ele deve estar integrado com os demais aspectos já citados e deve ser o ponto central da
prática da tutoria.

Figura 1 – Aspectos relevantes para a ação da tutoria.

Acompanhamento
do processo de
aprendizagem

Tipo de
tutoria

Avea

Ação da tutoria

Material
didático

Organização
do tempo
e espaço

Fonte: Elaborada pela autora.

Observe na Figura 1 que os aspectos que mencionamos compõem a ação da tutoria, no


qual o tutor, de acordo com sua prática e experiência, precisa interagir com todos os aspec-
tos para que a aprendizagem do aluno seja o objetivo final (BENTO, 2016).
Considerando que a prática da tutoria esteja relacionada ao acompanhamento e su-
porte ao aluno da EaD, a interação torna-se o principal meio para contribuir para o bom
desempenho desse estudante, pondo em destaque assim a ação da tutoria no mundo virtual.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 93


7 Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD

Lembre-se de que no Capítulo 6 abordamos a mediação pedagógica e seu papel na apren-


dizagem. Nos cursos a distância ofertados on-line, essa interação é realizada principalmente
por meio das tecnologias e mídias digitais. Segundo Bento (2016), além da experiência de-
sejável em docência, é importante que o tutor também tenha conhecimento em informática,
para que assim saiba utilizar as ferramentas disponíveis no Avea e que são essenciais para o
processo de ensino-aprendizagem na modalidade a distância.
A experiência do tutor nos cursos é conquistada com o tempo, à medida que vence
desafios. O tutor, assim como os alunos que são orientados por ele, também passam por
momentos de aprendizagem. Moore e Kearsley (2013) apontam dois grandes desafios que a
tutoria enfrenta em sua prática, são eles:
• Falta de reconhecimento imediato: considerando que o contato com o aluno não é
constante – dependendo do curso, esse contato nem existe pessoalmente –, o tutor
não sabe sobre a aceitação ou não dos materiais disponibilizados e das atividades
propostas.
• Identificação das potencialidades e limitações das tecnologias utilizadas: é preciso
identificar o que pode ser utilizado com os alunos de modo que a aprendizagem
seja eficiente.
Aqui destacamos que, mesmo diante dos desafios da tutoria nos cursos a distância,
as tecnologias contribuem positivamente para a ação dos tutores. O acompanhamento dos
alunos, a sugestão de atividades e a interação ocorrida potencializam a aprendizagem e
estimulam o aluno a construir seu conhecimento. Nesse contexto, Bento nos faz refletir des-
tacando que “a facilidade de acesso aos cursos – consequência de estarem dispostos na inter-
net – contribui para que a tutoria possa também se ampliar, cooperando para que os alunos
façam contato com maior rapidez com seus tutores” (BENTO, 2016, p. 52).
Perceba que a ação da tutoria tem sua essência na interação, que é potencializada pelo
uso das tecnologias e mídias digitais. Assim, para continuar ampliando nossa reflexão e
aprendizado sobre o tema, vamos nos aprofundar no uso dos recursos didáticos na tutoria e
como se relacionam com o ensino-aprendizagem.

7.2 O uso dos recursos didáticos na tutoria

O uso de recursos didáticos nos cursos ofertados a distância é uma estratégia que deve
estar prevista ainda durante a elaboração do curso. Como vimos no Capítulo 6, é na etapa
de elaboração dos materiais didáticos que devem ser pensadas diferentes ações que sir-
vam de apoio ao ensinar e ao aprender, daí a importância de uma equipe multidisciplinar
dedicada à produção do que será disponibilizado para o aluno. Ao dispor de recursos que
complementem o aprendizado, temos na tutoria uma diferente forma de auxiliar e estimular
o estudo e a compressão do tema. Mas como a tutoria pode tirar proveito dos recursos que
estão inseridos nos materiais?

94 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD 7
Para que possamos nos situar sobre quais recursos sejam mais adequados à prática da
tutoria, vamos apresentar na sequência quais são esses recursos e como o tutor pode atuar e
desenvolver suas atividades.

Quadro 1 – Recursos didáticos na EaD e a prática da tutoria.

Recurso
Descrição Prática da tutoria
didático
Com base na definição da palavra apresen-
É a explicação de um
tada ao aluno, o tutor pode começar a inse-
Glossário termo pouco utilizado
ri-la nas discussões e reflexões propostas,
no cotidiano do aluno.
ampliando assim o vocabulário do aluno.
É uma forma de refor- Ao reforçar uma frase, o tutor pode tê-la
çar um trecho especial como ponto de partida para estimular uma
Lembre-se do texto, contribuin- reflexão a respeito do significado que ela
do para a compreen- traz, propondo inclusive situações que
são sobre o tema. contribuam para as discussões realizadas.
A proposta de um texto complemen-
tar pode ser uma estratégia utilizada
Sugestão de texto ou
pela tutoria para propor uma reflexão
vídeo apresentado ao
ou uma nova discussão tendo em vista
Saiba mais aluno para a ampliação
a complementação do que está sendo
do conhecimento a res-
estudado. Pode estabelecer também
peito do tema estudado.
uma relação entre o conteúdo estuda-
do e a realidade do público do curso.
A apresentação de um questionamento
Indica questionamentos acerca do texto não necessariamente faz
relacionados ao tema em com que o aluno reflita a respeito. No
Para refletir estudo, porém não traz entanto, o acompanhamento da tutoria
uma resposta, apenas pode promover essa reflexão, instigan-
instiga a reflexão. do o aluno a desenvolver seu senso
crítico a partir do que foi proposto.
Indicação de um texto
ou vídeo que aborda
de modo mais aprofun-
O texto complementar é uma sugestão do
dado o tema estudado.
professor, o tutor pode selecionar trechos
Distingue-se do Saiba
Leitura com- do texto proposto e relacioná-los com
mais, porque enquan-
plementar situações que fazem parte da vivência do
to este tem um caráter
aluno. Dessa forma, o tutor está estimulan-
mais complementar,
do o aluno a realizar a leitura completa.
a Leitura propõe um
aprofundamento do
tema em questão.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 95


7 Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD

Recurso
Descrição Prática da tutoria
didático
Conhecer mais sobre os importantes
pesquisadores e pensadores da área de
estudo é relevante para que se possa
Apresentação de breves
compreender sua linha de raciocínio.
biografias de pessoas
Quem? Assim, por exemplo, quando o material
relevantes que foram
apresentar mais de um autor, a tutoria
citadas no texto.
pode promover reflexões comparando
as diferentes formas de atuação existen-
tes com a linha dos autores citados.
Ao explicar com outras palavras um
É uma explicação mais conteúdo apresentado, o professor-
Comentário
informal do que aquela -autor contribui para que o tutor tome
do autor
que o professor apresenta. um ponto de partida para novas ex-
plicações, quando necessário.
Apresentação de frases A apresentação de destaques no texto pode
Destaque que merecem destaque e ser utilizada como sugestão de discussões
atenção especial do aluno. e reflexões sobre o assunto abordado.
O uso de imagens ilustrativas faz com que
Recurso que pode ser os alunos possam compreender melhor
uma figura ilustrati- o cenário imaginado pelo professor-
va, representando um -autor diante do contexto apresentado.
Imagem
cenário ou ainda uma O tutor pode estimular a imaginação
figura esquemática que e a criatividade dos alunos, propon-
apresente conteúdo. do que usem uma situação vivida para
ilustrar ou exemplificar o conteúdo.

Fonte: Elaborado pela autora.

Perceba que a tutoria pode se utilizar de cada recurso apresentado no material didático
para estimular o aluno em sua aprendizagem. Nem sempre todos os recursos são apresen-
tados no material didático, porém, com criatividade e conhecimento a respeito do tema em
estudo, o tutor pode sempre propor ações que potencializem a reflexão e a discussão dos
alunos sobre o assunto abordado. Também destacamos que, caso mais de um recurso seja
utilizado no material, o tutor precisa fazer uso dele como fonte de discussão, já que eles se
complementam e podem ser utilizados em diferentes momentos.
Além do acesso aos recursos apresentados nos materiais didáticos, outras inciativas
também contribuem para as ações pedagógicas do tutor. As atividades propostas nos cursos
são exemplos de recursos que estimulam a prática da tutoria e contribuem para a aprendi-
zagem. Nesse contexto, Mattar (2012, p. 117) destaca as atividades síncronas e assíncronas.
As atividades síncronas são aquelas que ocorrem instantaneamente, ou seja, a comunicação
entre os envolvidos acontece em tempo real. Já nas atividades assíncronas, a comunicação é
feita em tempos diferentes, sem a necessidade de interação imediata. Vamos conhecer quais
são essas atividades e como elas são realizadas.

96 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD 7
Figura 2 – Atividades síncronas e assíncronas.

Atividades síncronas

• Chat
• Videoconferência
• Webconferência

Atividades assíncronas

• Fórum de discussão
• Atividades avaliativas
• Realização de projetos

Fonte: Elaborado pela autora com base em MATTAR, 2012, p. 117-134.

Quando nos referimos às atividades síncronas, é importante que o tutor esteja se de-
dicando integralmente àquele momento, visto que a interação e a comunicação acontecem
instantaneamente. Essa interação pode ser tanto pelo mundo virtual quanto pela presença
física nos polos de apoio. Assim, essas atividades tornam-se um importante meio didático
para que a prática da tutoria resulte na aprendizagem do aluno.
Vamos agora entender como os exemplos que apresentamos na Figura 2 se relacionam
com a prática da tutoria. Os chats são as salas de bate-papo que possibilitam a vários alunos
estarem conectados ao mesmo tempo e realizarem uma conversa dinâmica em tempo real.
Para atingir o objetivo da aprendizagem, é importante que o tutor se organize de modo que
esse momento tenha como foco discussões sobre um tema específico e estejam relacionadas
com o que vem sendo estudado.
As videoconferências o e webconferências apresentam a mesma essência, ou seja, um
professor ou tutor conectado, conversando por meio de imagem e áudio, interagindo com
os alunos. O que diferencia a videoconferência da webconferência é a tecnologia utilizada,
a primeira normalmente é realizada via satélite, enquanto a segunda utiliza a internet como
meio de transmitir imagem e som. Ambas as modalidades de conferência normalmente obje-
tivam iniciar a apresentação de um novo conteúdo, mas sem promover discussões como no
chat. No entanto, o aluno tem oportunidade de esclarecer dúvidas imediatamente.
Em relação às atividades assíncronas, o tutor não está disponível para o aluno no mo-
mento da postagem ou da realização da tarefa, mas este irá receber o retorno do tutor em
um momento distinto. A interação e a comunicação acontecem no mundo virtual, no qual
ficam registradas as mensagens. Uma das atividades assíncronas mais comuns é o fórum de
discussão, que é o espaço no qual uma questão central é elaborada e postada pelo profes-
sor-autor e os alunos têm a oportunidade de refletir e discutir sobre o tema com os colegas.
Esse tipo de atividade é mediada pelo tutor, que estimula e instiga os alunos a considerarem
novos pontos de vista.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 97


7 Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD

As atividades avaliativas são realizadas pelos alunos e não têm interação com o tu-
tor. O papel da tutoria, nesse caso, é o de acompanhar a avaliação e conferir as atividades
realizadas, bem como lançar as notas conquistadas. Por fim, podemos contar ainda com a
realização de atividades que se configurem como projetos. Essas atividades propostas pelo
professor podem ser realizadas individualmente ou em grupo, porém contarão sempre com
o suporte da tutoria para esclarecer as possíveis dúvidas.
Observe que as atividades síncronas e assíncronas, assim como os demais recursos
apresentados no material didático (esquematizados no Quadro 1), estão relacionados di-
retamente com as ações práticas da tutoria, contribuindo para a aprendizagem dos alunos,
oferecendo o suporte necessário para que eles alcancem a construção do conhecimento. No
Capítulo 8, você vai conhecer outras ferramentas virtuais que auxiliam a ação da tutoria.
Diante de inúmeras práticas que a tutoria apresenta, é importante ter em mente estraté-
gias que auxiliem no bom desempenho das atividades. No tópico a seguir, vamos conhecer
algumas dessas estratégias e situações que podem ser aplicadas nos cursos de EaD.

7.3 Estratégias em tutoria


No início deste capítulo, citamos os tipos de tutoria e como elas podem interferir na prá-
tica do tutor. Segundo Bento (2016), quando se tem definido o tipo de tutoria a ser realizada,
também temos informações relacionadas às tecnologias e mídias que serão utilizadas como
estratégias de ensino-aprendizagem. No quadro a seguir, apresentamos os diferentes tipos
de tutoria e as tecnologias e mídias utilizadas.

Quadro 2 – Tipos de tutoria: tecnologias e mídias utilizadas e estratégias de atuação.

Tipos de Tecnologias e
Estratégias de atuação
tutoria mídias utilizadas
Atualmente o uso da internet, por meio de aplicativos
- internet
de mensagens instantâneas e de mensagens nas redes
Tutoria a - aplicativos de sociais, é o método mais popular de comunicação,
distância mensagens haja vista sua fácil utilização e retorno. O uso do e-mail
também é frequente, ou ainda do telefone, quando
- e-mail
se faz necessária uma comunicação diferenciada.
Podem ser realizados encontros pré-agendados
Tutoria com definição de local para esclarecimento de dúvi-
- Avea
presencial das e auxílio no uso das ferramentas do Avea. Esse
atendimento pode ser individual ou em grupo.
Utilizada quando as tecnologias de comunicação
Tutoria
- correspondência ainda não eram avançadas. Atualmente, a posta-
postal
gem via correio se limita ao envio de documentos.
- internet Muito semelhante ao tutor a distância, esse tipo
Tutoria de tutoria usa exclusivamente a internet para co-
- Avea
multimídia municação, seja por meio das ferramentas do Avea
- e-mail ou ainda do envio de mensagens via e-mail.

Fonte: Elaborado pela autora baseado em BENTO, 2016.

98 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD 7
Perceba que as tecnologias e mídias estão cada vez mais presentes e se tornaram funda-
mentais para as ações de acompanhamento e apoio ao aluno da EaD. Para que essa atuação
alcance os resultados esperados de aprendizagem, é importante que, independentemente
do tipo de tutoria a ser realizada, o tutor apresente visão crítica para identificar e definir a
melhor estratégia de modo que o processo de ensino-aprendizagem aconteça significativa-
mente. A esse respeito, Bento traz uma importante contribuição: “é preciso sempre consultar
a proposta do curso, buscando identificar sua intencionalidade, a concepção de educação
da instituição, as expectativas de aprendizagem dos alunos etc. Cada instituição de ensino
pode adotar seu modelo de tutoria, desde que faça adequação a cada contexto” (BENTO,
2016, p. 25).
Complementando essa fala, queremos ressaltar também a importância da equipe que
atua nos cursos. Desde a proposta do curso até sua execução, é fundamental que todos
tenham conhecimento das informações que envolvem o curso, especialmente aquelas defi-
nidas no projeto pedagógico. Com base nessas informações, a tutoria tem condições de ela-
borar as estratégias e definir as ações a serem executadas de modo a desenvolver sua prática,
que tem em vista auxiliar o aluno na construção da aprendizagem.
Conhecendo mais sobre o curso, o tutor tem a oportunidade de se organizar nos fatores
de tempo e espaço para realização das atividades propostas.
Segundo Bento (2016), a organização do espaço a ser utilizado para os encontros pre-
senciais é um fator que está diretamente relacionado às suas ações, e pode favorecer muito o
desempenho do aluno. Diante da necessidade de encontros presenciais, é importante que o
espaço físico esteja adequado ao número de alunos previstos e a infraestrutura tecnológica
atenda às necessidades deles, principalmente em relação ao acesso à internet.
A organização do tempo é outro fator que entra na definição das estratégias da tuto-
ria, visto que assim o tutor precisa se organizar de modo a dedicar um período de tempo
do seu dia exclusivamente para atender os alunos. A criação de estratégias para cum-
prir as atribuições da tutoria é fundamental para que assim sejam criados mecanismos de
acompanhamento do aluno a fim de contribuir com o processo de ensino-aprendizagem
(BENTO, 2016).
Com a organização e a administração do tempo e do espaço, a tutoria cria oportunida-
des de realização das atividades a fim de que os alunos desenvolvam suas competências e
cumpram o objetivo de aprendizagem proposto. Mas, mesmo diante dessa organização e da
definição de estratégias, é sempre preciso saber administrar possíveis problemas e mediar as
situações com os alunos a fim de que o foco se mantenha na aprendizagem.
Nesse contexto, sugerimos algumas orientações e dicas para resolução de problemas
que podem surgir no decorrer do curso. Observe no quadro a seguir algumas situações-
-problema possíveis e como a tutoria pode auxiliar os alunos a solucioná-los.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 99


7 Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD

Quadro 3 – Situações enfrentadas pela tutoria: estratégias de atuação.

Situação apresentada
Estratégia da tutoria
pelo aluno
É importante que o tutor conheça o público-alvo do curso. Por
exemplo, se for um curso de graduação, a chance desses alunos
cumprirem carga horária de 8 horas de trabalho é grande, por
isso, é primordial reconhecer os desafios que o aluno apresenta.
“Não consigo acom-
Em situações como essa, o tutor, em um primeiro momento, deve
panhar o curso, estou
motivar o aluno a permanecer no curso e parabenizá-lo por aceitar
com falta de tempo”
o desafio de uma formação. Depois, ele pode propor que o aluno
procure identificar as atividades diárias para que possa definir
um tempo mínimo de estudo por dia, evitando que se acumule
material para estudar e atividades a serem realizadas.
Conhecer os recursos do Avea é essencial para que se possa
“Não tenho conheci-
orientar o aluno diante das dificuldades encontradas. O tutor
mento e habilidade
deve pedir o máximo de informações sobre a dúvida que o aluno
suficientes para de-
está apresentando ao utilizar o Avea. Estimular o aluno a explo-
senvolver as ativi-
rar as ferramentas disponíveis no Avea sem medo é importante
dades no Avea” para que ele crie confiança nas ações que devem ser tomadas.
Essa situação é semelhante às dificuldades relacionadas à tecno-
“O conteúdo do mate-
logia, pois o tutor deve ter conhecimento do assunto e conversar
rial é muito complicado,
com o aluno de modo a estimulá-lo para uma disciplina de estu-
não consigo acompa-
dos. O tutor pode pedir que o aluno apresente os assuntos com
nhar a turma, sinto que
os quais sente mais dificuldade a fim de que seja criada uma
não estou aprendendo” estratégia para auxiliar na compreensão do conteúdo.
“Não consigo falar
A comunicação nos cursos a distância é essencial para que, por
com meu colega de
meio do compartilhamento de conhecimento, a aprendizagem
grupo para resolver
de fato aconteça. Ao relatar a dificuldade de comunicação, o tu-
a atividade que pre-
tor pode interferir e utilizar outras formas de abordagem.
cisa ser entregue”
Esse tipo de problema é muito comum e está relacionado à ad-
“Não vou conseguir
ministração do tempo do aluno. Estimular e parabenizar o aluno
entregar a atividade no
pela participação e dedicação no curso é importante, pois ele se
prazo proposto, acho
sente valorizado e compreendido diante da situação apresentada.
que vou desistir” Nesse caso, é fundamental que o tutor demonstre flexibilidade.
Em alguns cursos, são disponibilizados aos alunos diferentes
formatos de material, sendo que por vezes alguns deles são com-
plementares. Por exemplo, algumas videoaulas gravadas são um
resumo do que foi apresentado no e-book, ou ainda, no material
“O curso tem muito escrito podem estar sugeridas leituras complementares. Ao co-
material a ser estu- nhecer o que os materiais apresentam, o tutor pode sugerir que
dado, não estou con- o aluno tenha foco no estudo dos materiais mais essenciais de
seguindo ler tudo” estudo, por exemplo, a leitura do livro-texto que traz o conteúdo
de modo mais aprofundado, sem a necessidade da leitura com-
plementar. Mas é sempre importante que o tutor ressalte que os
materiais complementares ampliam o conhecimento e a reflexão
a respeito do assunto estudado.
Fonte: Elaborado pela autora.

100 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD 7
Com base nessas orientações, ressaltamos mais uma vez a importância do conhecimento
e da competência do tutor em sua atuação nos cursos a distância. É preciso iniciativa, paciên-
cia e “jogo de cintura” para que essas situações não comprometam a aprendizagem do aluno.

Conclusão

O estudo deste capítulo teve como principal objetivo apresentar quão essenciais são as
práticas da tutoria para o processo de ensino-aprendizagem dos alunos de cursos a distân-
cia. A tutoria é, em muitos casos, considerada como o coração de um curso, uma vez que é
a partir das ações desempenhadas pelo tutor que o aluno se sente motivado e instigado a ir
além do acompanhamento e do suporte às dúvidas e questionamentos apresentados para
chegar à construção de sua própria reflexão.
A prática da tutoria deve ser vista pelo tutor como uma ação que está diretamente re-
lacionada com o sucesso do aluno diante do objetivo de construir novos conhecimentos e
desenvolver competências.
Um curso a distância é desenvolvido com base na ação de diversos profissionais e a par-
ticipação do tutor deve ser valorizada a fim de que este possa ter conhecimento da proposta
que será apresentada ao aluno e possa planejar as possíveis ações e as melhores práticas a
serem adotadas segundo o perfil da turma a ser acompanhada.
Os recursos didáticos apresentados nos materiais são importantes tanto para auxiliar os
alunos em seu estudo pessoal quanto para os tutores utilizarem como base para discussões,
reflexões e até mesmo para compreender a linha de pensamento que o professor-autor ela-
borou, com vistas sempre a contribuir para a formação do aluno.
Por fim, ressaltamos a importância de o tutor atuar sempre como um profissional que
está disposto a auxiliar o aluno nas diversas questões que podem ser apresentadas no decor-
rer do curso, estimulando e motivando a frequência e a participação nas atividades desen-
volvidas. Por outro lado, ter sensibilidade e compreensão em relação à situação apresentada
pelo aluno é uma das práticas que mais são valorizadas pelo estudante na EaD, pois este,
devido à distância física envolvida, é uma pessoa que, por vezes, sente mais necessidade de
atenção.

Ampliando seus conhecimentos


Definir as estratégias que serão utilizadas na prática da tutoria é essencial para que
a atuação deste profissional tão importante contribua efetivamente para a aprendizagem
do aluno. Assim, organizar as atividades a serem realizadas é uma ação que pode auxiliar
nesse processo. Nesse contexto, o Instituto Nacional de Educação a Distância, com base no
documento Tutoria na EaD: um manual para tutores, traz uma sugestão de plano de estudo e
organização das atividades da tutoria.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 101


7 Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD

Tutoria na EaD: um manual para tutores


(INED, 2003, p. 14-17)

As vantagens do EaD

O EAD permite que os alunos estudem quando e onde melhor lhes convier.
Continuam a aprender enquanto cumprem os respectivos compromissos pro-
fissionais, familiares ou comunitários. Os que vivem em áreas remotas ou com
facilidades de transporte limitadas podem estudar cursos que, de outra forma,
estariam inacessíveis.

O EAD pode facultar uma série de oportunidades de estudo (acadêmico, téc-


nico/profissional, desenvolvimento pessoal e profissional, educação básica)
para toda uma gama de alunos (jovens adultos, adultos que regressam à
aprendizagem, pessoas que se preparam para exercer outras atividades ou
profissões, pessoas que pretendem adquirir novas competências profissionais,
profissionais dos ramos da saúde ou do ensino que pretendem obter uma acre-
ditação mais elevada).

Abordagens diferentes ao EaD

As abordagens ao EaD podem ser caracterizadas pelo tipo de recursos de


aprendizagem e pela natureza da interação, ou em termos de gerações (Bates,
1995), mas importa ter em mente que todas as gerações continuam a fazer parte
da prática atual, e que determinados modelos incluem características perten-
centes a mais do que uma geração. Seguem-se as definições de Bates acerca das
três gerações do EAD:

• Os alunos da primeira geração estudam sozinhos, com um contato limi-


tado com o docente.

• Este modelo foi tipicamente utilizado para o estudo por correspondência e


continua a ser utilizado para facultar recursos aos alunos, de tal modo que
possam estudar independentemente para se prepararem para os exames
ministrados por uma entidade de acreditação, como seja uma organização
profissional ou uma universidade.

• A segunda geração do ensino a distância fornece recursos recorrendo a um


ou mais meios, e a comunicações consistentes entre o estudante e o tutor e,
por vezes, a um apoio à aprendizagem adicional pelo docente. Esta aborda-
gem é utilizada em muitas situações em que os alunos à distância estudam
sozinhos e não em grupos.

102 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD 7
• O ensino a distância da terceira geração proporciona recursos de apren-
dizagem em um ou mais meios, e uma interação entre os alunos, assim
como entre o tutor e o aluno. A interação pode ser efetuada através de
tecnologias de conferência (áudio, vídeo, computador), por e-mail ou por
encontros presenciais, e é utilizada quando a aprendizagem em grupo é
conjugada com a aprendizagem individual.

[...]

Um plano de estudo individual

Este é um exemplo de um plano de estudos para desenvolver as suas compe-


tências individuais como tutor. [Ele] descreve atividades a efetuar e a realizar
de acordo com o perfil do curso e dos alunos.

Tópicos e
Semana Unidade Estratégias
atividades
Diário de aprendizagem,
Introdução Atividade
discussões com colegas
1 Diário de aprendiza-
Tutoria na EaD.
1 gem, reflexão, discus-
Atividades sões com colegas
Competências Reflexão, discussão com
3 da tutoria. colegas e/ou alunos,
Atividades diário de aprendizagem
2
O papel de apoio
dos tutores. Diário de aprendizagem,
4
feedback de colegas
Atividades

Atividades
1. A tutoria nos cursos a distância representa um papel de extrema importância para
o bom desempenho do curso como um todo, visto que com o acompanhamento do
tutor os alunos sentem-se estimulados e motivados a desenvolver as atividades, bem
como esclarecer dúvidas e interagir. Nesse sentido, alguns aspectos são considerados
relevantes para que a prática da tutoria contribua na aprendizagem do aluno.

Com base nisso, identifique e descreva quais são esses aspectos e apresente um
exemplo prático de como a tutoria pode desempenhar essas ações.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 103


7 Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD

2. Uma das principais atividades da tutoria é acompanhar o aluno em seu processo de


aprendizagem, oferecendo todo tipo de suporte para que ele atinja seus objetivos.
Considerando que o aluno está iniciando um curso com duração de dois anos, é
importante que ele sinta que o tutor está realmente disposto a ajudá-lo, uma vez
que será o profissional que vai acompanhá-lo de perto nessa formação. Para isso, é
importante um contato inicial, de apresentação. Considerando isso, assumamos a
seguinte situação: o curso tem início dia 1 de fevereiro, porém, uma semana antes, o
Avea já está disponível para os alunos se ambientarem e conhecerem a estrutura do
curso. Em tal situação, descreva que prática e estratégia o tutor deve apresentar para
motivar o aluno a se dedicar e permanecer no curso.

3. As atividades realizadas pelos alunos no Avea são diversas, podendo ser realizadas
de modo síncrono ou assíncrono, ou seja, com interação instantânea ou em tempos
diferentes. Considerando sua atuação na tutoria, reflita sobre ambos os tipos de ati-
vidades e como eles se integram de modo a contribuir com a aprendizagem com base
na ação desempenhada pelo tutor.

Referências
BENTO, D. O sistema tutorial para EaD. São Paulo: Cengage, 2016.
INED – Instituto Nacional de Educação a Distância. Tutoria no EaD: um manual para tu-
tores. The Commonwealth of Learning. 2003. Disponível em: <http://www.abed.org.br/col/
tutoriaead.pdf>. Acesso em: 30 jan. 2018.
MATTAR, J. Tutoria e interação em educação a distância. São Paulo: Cengage Learning, 2012. (Série
Educação a Tecnologia).
MOORE, M. G.; KEARSLEY, G. Educação a Distância: sistemas de aprendizagem on-line. 3. ed. São
Paulo: Cengage Learning, 2013.

Resolução
1. Essa questão propõe a identificação dos aspectos que estão relacionados com a
aprendizagem e são potencializadas pela ação da tutoria. Os aspectos a serem consi-
derados são: uso do Avea, tipo de tutoria, material didático, organização do tempo e
do espaço e acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem.

Depois de identificar esses aspectos, esperamos que você apresente exemplos de como
podem ser realizadas ações que possam resultar na construção do conhecimento.

2. Com essa questão, esperamos que você seja estimulado a imaginar situações que pos-
sam fazer parte da prática da tutoria. Assim, a resposta deve destacar a importância
da comunicação, do processo de aproximação e criação de afeto, para que o aluno se
sinta acolhido e receba todo suporte e apoio necessários no decorrer do curso.

104 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Práticas da tutoria para o ensino-aprendizagem na EaD 7
3. Para essa questão esperamos que você compreenda as características de cada tipo
de atividade (síncrona e assíncrona) e reconheça que a realização de ambos os tipos
é relevante para a aprendizagem. Atividades síncronas estimulam a interação e a
comunicação imediata, como acontece nos chats e videoconferências. Já as atividades
assíncronas valorizam uma reflexão mais profunda sobre o tema, possibilitando tro-
cas mais intensas e consistentes, como é o caso dos fóruns de discussão.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 105


8
Ambiente virtual de
ensino-aprendizagem:
desafios da tutoria

A comunicação na EaD é a chave para uma interação eficaz que resulta em efei-
tos positivos para o aprendizado do aluno. Nesse aprendizado, devemos considerar
a construção do conhecimento e o desenvolvimento de competências como o objetivo
principal dos cursos ministrados a distância. Para desempenhar essa importante inte-
ração, os ambientes virtuais de ensino-aprendizagem (Avea) apresentam ferramentas
que contribuem para a comunicação dos alunos entre si e destes com a tutoria, poten-
cializando o ensinar e o aprender.

Neste capítulo, vamos conhecer com mais detalhes os Avea e como eles constituem
peça fundamental no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, abordaremos de
que modo as ferramentas digitais disponíveis nesses ambientes são relevantes para
que a comunicação e a interação entre aluno e tutor sejam efetivas. Finalizamos apre-
sentando algumas sugestões de comportamento no mundo virtual, de modo a enri-
quecer ainda mais a atuação da tutoria.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 107


8 Ambiente virtual de ensino-aprendizagem:
desafios da tutoria

8.1 As relações interpessoais no ambiente


virtual de ensino-aprendizagem

Na EaD, o processo de ensino-aprendizagem acontece de modo diferenciado, pelo fato


de ele ser mediado pelo uso de tecnologias e mídias digitais para a comunicação entre os
atores envolvidos, como professores, tutores e alunos. Nesse processo, a comunicação é es-
sencial para que o objetivo proposto seja cumprido com qualidade, ou seja, comunicar e
interagir se tornam ações necessárias no decorrer do curso para a formação do aluno e o
desenvolvimento de competências.
No que diz respeito à comunicação, os cursos a distância utilizam o ambiente virtual
de ensino-aprendizagem (Avea) como principal meio de compartilhamento de informações
e de interação. O Avea é o espaço no mundo virtual que se assemelha à sala de aula física
a que nós estamos acostumados no ensino presencial. Ele apresenta diversas ferramentas
e recursos que contribuem para o aprendizado, por meio da comunicação e da interação,
estimulando a criação de relações interpessoais e a troca de experiências, informações e
conhecimentos, cujo foco é a aprendizagem. Ainda neste capítulo, vamos conhecer quais fer-
ramentas são essas, mas, antes, é importante destacar a importância da comunicação nesse
mundo virtual, uma vez que é por meio dela que criamos as relações.
Nesse contexto, é bastante interessante a visão de Behar (2013) ao tratar do letramento
digital. Essa compreensão tem relação direta com a criação das relações que se estabelecem
no Avea.
Ao iniciar os estudos em um curso a distância, o aluno precisa saber que o uso das tec-
nologias e mídias digitais será essencial para sua aprendizagem, pois é por meio da leitura
dos materiais compartilhados e da escrita realizada para interagir com os colegas de curso
e com a tutoria que o conhecimento é construído (BEHAR, 2013). É nesse contexto que a au-
tora destaca a definição de letramento, apresentada por Soares (apud BEHAR, 2013, p. 215):
como aquilo que “compreende o estado ou a condição de quem exerce as práticas sociais de
leitura e de escrita e de quem participa de eventos em que a escrita é parte integrante da
interação entre pessoas”. Observe o papel que o letramento representa para o ensino-apren-
dizagem na EaD, em que a comunicação e a interação são essenciais e acontecem, nessa
modalidade, principalmente pela leitura e escrita.
No cenário em que vivemos, podemos falar em letramento digital, que engloba outras
formas de letramento. E, aplicando o conceito de letramento a outros âmbitos, temos ou-
tros tipos de letramento, que envolvem tanto os aspectos tecnológicos quanto os sociais
(BEHAR, 2013), lembrando que nossa reflexão e discussão neste tópico estão focadas nas re-
lações criadas no Avea. Para melhor visualizar, no quadro a seguir, apresentamos os quatro
tipos de letramento que se ramificam do letramento digital.

108 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Ambiente virtual de ensino-aprendizagem:
desafios da tutoria 8
Quadro 1 – Letramento digital e suas ramificações.

Letramento Descrição
Surgiu nos anos 1980, a partir da difusão do uso do computador pes-
Letramento
soal. Esse tipo de letramento não tem relação com o processo de ensi-
por meio do
no-aprendizagem, mas com o que se refere à utilização dos recursos
computador
básicos disponíveis.
Relacionado à forma de utilização do computador considerando a
Letramento capacidade de selecionar, analisar e avaliar as fontes de informação.
informacional Essas atividades já eram realizadas antes, porém, com o uso frequente
do computador, tornaram-se on-line.
Representa o avanço do uso do computador diante dos inúmeros re-
Letramento
cursos disponíveis. Esse letramento está relacionado à capacidade de
multimídia
combinar texto, imagem, áudio e vídeo para a comunicação.
Letramento
É o tipo de letramento necessário ao processo de ensino-aprendiza-
comunicacional
gem realizado na EaD, fazendo assim referência à comunicação que
mediado por
se realiza por meio das mídias digitais.
computador

Fonte: BEHAR, 2013. Adaptado.

Observe que os diferentes tipos de letramento estão relacionados aos avanços das tec-
nologias e ao modo como as utilizamos no decorrer do tempo. Assim, consideramos que o
letramento comunicacional mediado por computador é aquele necessário para os cursos a
distância. Nesse sentido, Behar aponta que esse letramento: “Diz respeito às regras de com-
portamento na rede, como a netiqueta, e as diferentes formas de escrita nas várias ferramen-
tas que estão disponíveis na internet, como bate-papo, fórum, e-mail, etc.” (BEHAR, 2013,
p. 217). As ferramentas mencionadas pela autora são constantemente utilizadas no Avea,
assunto que vamos explorar ainda mais neste capítulo.
O letramento digital envolve um conjunto de aprendizados e domínios que são essenciais
para a utilização dos recursos disponíveis, de modo a contribuir para a aprendizagem (BEHAR,
2013). Dessa forma, destacamos na figura a seguir os conhecimentos, as habilidades e atitudes
que estão relacionados ao bom uso dos recursos que utilizamos na aprendizagem virtual.

Figura 1 – Conhecimentos, habilidades e atitudes para o letramento digital.

Conhecimentos Habilidades Atitudes

Manusear os recursos Saber administrar as informa-


Conhecer os softwares
computacionais ções que são apresentadas

Utilizar as redes Ter atenção ao


Conhecer netiqueta
para contatar pessoas tema trabalhado

Conhecer diferentes Avaliar as diferentes Ler textos em diferentes


tipos de mídias fontes disponíveis fontes de informação

Fonte: Elaborada pela autora com base em BEHAR, 2013.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 109


8 Ambiente virtual de ensino-aprendizagem:
desafios da tutoria
Agora que já temos consciência da importância da comunicação e do domínio que
devemos desenvolver para interagir no mundo virtual, vamos direcionar nosso estudo
ao Avea, explicitando sua relação com a aprendizagem e como a tutoria deve atuar
nesse ambiente.
O Avea é o espaço virtual que simula as mesmas ações que podem ser realizadas em
uma sala de aula convencional, promovendo discussões, conversas, interações sociais e
compartilhamento de material e conteúdo didático. No Avea, temos ferramentas que re-
presentam esses ambientes e que serão trabalhadas no próximo tópico. Antes disso, vamos
ampliar nosso estudo sobre os Avea e sobre sua contribuição para as relações interpessoais
e, principalmente, para o processo de ensino-aprendizagem.
Os Avea podem receber diferentes nominações, especialmente quando consideramos
que um ambiente virtual que promove o ensino-aprendizagem pode apresentar um sentido
bastante amplo. Atualmente, o uso das redes sociais e a publicação de vídeos é cada vez mais
frequente e, além de questões pessoais, as pessoas passam a compartilhar também informa-
ção que gera conhecimento.
Você já deve ter visto algum professor publicando um vídeo para explicar a resolução
de uma questão de vestibular. Considerando essa variedade, Mattar (2012) afirma que uti-
lizar o nome ambiente virtual de ensino-aprendizagem envolve um cenário bastante diversifi-
cado, uma vez que “inclui também plataformas da Web 2.0, redes sociais, games e mundos
virtuais, entre outros, ou seja, todas as plataformas que o professor de EaD tem hoje a seu
dispor para realizar atividades a distância” (MATTAR, 2012, p. 75).
Diante de tantas possibilidades de se ter um espaço que possibilite o ensinar e apren-
der da perspectiva da EaD – com professores e alunos distantes física e temporalmente,
utilizando as tecnologias e mídias digitais para ensinar e aprender –, é importante defi-
nir o Avea a ser utilizado, especialmente diante de fatores como público-alvo, desenho
pedagógico, atividades propostas e a interação entre os envolvidos, para que assim os
resultados sejam de qualidade e eficientes, de modo que o aluno tenha a oportunidade
de construir novos conhecimentos e de desenvolver competências.
No Brasil, o Avea mais utilizado nos cursos a distância é o Moodle. E, segundo
Mesquita, Piva Júnior e Gara (2014, p. 43), seu desenvolvimento “foi influenciado pela
epistemologia do construcionismo social”, ou seja, seu foco é promover a aprendizagem
por meio de atividades sociais. Assim, temos que o Moodle apresenta forte relação com a
proposta de aprendizagem dos cursos na modalidade, para os quais a interação e a criação
de relação interpessoal são consideradas importantes meios de contribuir com a aprendi-
zagem – e, por esse motivo, reforçamos aqui a importância de retomar, quando necessário,
os outros capítulos que tratam do papel da tutoria. Para que a interação aconteça e tuto-
res e alunos possam trocar informações, esclarecer dúvidas, refletir, discutir e construir
conhecimento, temos as diferentes ferramentas que contribuem para esse processo de co-
municação. É sobre essas ferramentas e sobre as possibilidades que elas apresentam que
vamos tratar no tópico a seguir.

110 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Ambiente virtual de ensino-aprendizagem:
desafios da tutoria 8
8.2 Ferramentas virtuais do ambiente
virtual de ensino-aprendizagem

Depois de já compreender o que é o Avea e como ele atua na aprendizagem e sua rela-
ção com a tutoria, vamos aprofundar nosso estudo apresentando as atividades e ferramen-
tas disponíveis que devem ser acompanhadas pelo tutor.
Segundo Bento (2016, p. 54), podemos destacar a relevância dos Avea, como “ferramentas
que possibilitem a interação e a cooperação”. Porém, eles sozinhos não favorecem a construção
do conhecimento e é aqui que entra a essencial presença e atuação da tutoria para acompanhar
os alunos a fim de que o objetivo desse ambiente seja cumprido. Além disso, Filatro (2008) indica
alguns contextos que devem ser considerados ao escolher o Avea, são eles:
• Contexto institucional: sugere a integração com o sistema de gestão acadêmica da
instituição, como pode ser o caso da biblioteca virtual.
• Contexto imediato: propõe-se uma organização simples e direta, em que o aluno pos-
sa acessar as ferramentas e visualizar o conteúdo de estudo de maneira fácil e direta.
• Contexto individual: a interface deve ser facilmente navegável, com layout consis-
tente, que permita adicionar materiais de estudo complementar, sempre visando
dar suporte ao processo de aprendizagem.
Disponibilizar um ambiente que contribua com o processo de aprendizagem é um pon-
to positivo, mas, como dissemos no início deste tópico, é preciso haver a atuação de profis-
sionais que acompanhem o aluno na jornada do conhecimento, estimulando assim o uso
das ferramentas disponíveis, de modo a potencializar a aprendizagem. É nesse cenário que
o tutor se faz fundamental. De acordo com Bento (2016, p. 55),
o professor/tutor é quem dinamiza o curso, promovendo a interação, a partici-
pação e a cooperação dos alunos. Nesse processo, por mais que o ambiente do
curso seja rico em ferramentas interativas, é preciso haver um compromisso de
toda a equipe de profissionais envolvidos com o processo de aprendizagem dos
alunos, especialmente o professor/tutor, porque os alunos se reportam a ele.
Perceba como o tutor é importante nesse processo, especialmente quando consideramos
que a experiência do tutor, aliada às ferramentas e tecnologias disponíveis para a aprendiza-
gem do aluno, tende a ser cada vez mais significativa, com uma formação de qualidade. Mas
quais ferramentas seriam essas?
As ferramentas de comunicação disponíveis nos Avea proporcionam um momento
de trabalho colaborativo e reflexivo para os alunos, sob a mediação pedagógica da tutoria.
Outro fator positivo no uso desses ambientes nos cursos de modalidade a distância é o regis-
tro que o próprio sistema faz das mensagens trocadas, o que possibilita um estudo posterior,
de acordo com a disponibilidade de tempo do aluno. Nesse mesmo sentido, Behar (2009)
afirma que tais características vêm ao encontro do sujeito como construtor do seu próprio
conhecimento, o qual desenvolve seu intelecto por meio das relações que são valorizadas
nas mediações realizadas pela tutoria.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 111


8 Ambiente virtual de ensino-aprendizagem:
desafios da tutoria
A fim de identificar as ferramentas que contribuem para a construção do conhecimento e o
desenvolvimento de competências, apresentamos, no quadro a seguir, as principais ferramen-
tas disponíveis no Moodle, o Avea utilizado pela maioria das instituições de ensino superior.

Quadro 2 – Ferramentas digitais de interação.

Ferramenta Descrição
Espaço no qual o tutor se comunica de maneira assíncrona com os
alunos. É inserido um questionamento sobre algum tema específico
da aula e, na maioria dos casos, incentiva-se a discussão, que pode,
Fórum de em certas situações, gerar alguma polêmica entre os participantes.
discussão O fórum é uma ferramenta de comunicação assíncrona, pois os alunos
e o tutor postam as respostas em horários diferentes, sem precisar
combinar alguma hora específica para fazê-lo. Essa ferramenta fica
disponível no ambiente e é aberta para que todos visualizem.
É uma ferramenta síncrona que a tutoria utiliza para se comunicar
com os alunos em horários específicos, marcados com antecedência.
Esse espaço é utilizado normalmente para tirar dúvidas que os alunos
Chat possam ter sobre conteúdos específicos da disciplina. Eles são incen-
tivados a perguntar e participar também respondendo aos colegas.
Da mesma forma que o fórum, essa ferramenta fica disponível no am-
biente e é aberta para todos visualizarem.
Ferramenta assíncrona que o tutor utiliza para enviar mensagens aos
Mensagem/
alunos individualmente ou para todo o grupo, sendo que, em ambos
e-mail
os casos, os alunos recebem as mensagens de modo particular.
Ferramenta de edição colaborativa para criar conteúdo, em que os
Wiki alunos participam individualmente, em grupos ou até mesmo, em al-
guns casos, junto ao tutor.

Fonte: Elaborado pela autora.

Podemos considerar essas ferramentas as principais formas de interação entre tutoria


e aluno, mas, além delas, os Avea também apresentam outras ferramentas complementares
ao ensino-aprendizagem e que contribuem para a construção do conhecimento por meio da
realização de atividades que estimulam o raciocínio e a fixação de conteúdo. Algumas delas
são apresentadas no quadro a seguir.

Quadro 3 – Ferramentas digitais complementares.

Ferramenta Descrição
É utilizado para inserir diferentes tipos de dados, (como imagens, tex-
Banco de dados to, arquivos), os quais ficam disponíveis para todos os participantes
da turma.
É utilizada para disponibilizar diferentes tipos de arquivos no am-
Pasta de
biente, agrupados em uma pasta. Os professores a utilizam, por
arquivos
exemplo, para disponibilizar artigos ou material complementar.

112 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Ambiente virtual de ensino-aprendizagem:
desafios da tutoria 8
Ferramenta Descrição
É uma ferramenta que pode ser avaliativa. Entre suas configurações
Questionários há a opção de limitar o tempo para responder as questões, além da
opção de ter respostas predefinidas e com autoavaliação.
Ferramenta utilizada para criar uma lista com a definição dos termos
Glossário
mais utilizados na disciplina, como um pequeno dicionário.

Fonte: Elaborado pela autora.

Observe que são diversas as ferramentas disponíveis em um Avea – podendo ser síncro-
nas ou assíncronas, ou seja, a interação pode ser instantânea ou não –, além de ferramentas
avaliativas, que possibilitam o registro de acompanhamento de desempenho dos alunos.
Destacamos então a importância dos Avea, nos quais as ferramentas disponibilizadas
são um forte instrumento para contribuir com a aprendizagem do aluno da EaD, mas que,
normalmente, somente agregam valor ao aprendizado quando associados a uma boa atua-
ção de acompanhamento da tutoria.
Assim como todo relacionamento humano se pauta em um código de conduta, ainda que
não explícito, para uma boa convivência, o caso das interações virtuais não poderia ser dife-
rente. Sendo tão essencial, a interação no mundo virtual também exige seus “bons modos”.
Você sabia que existe uma etiqueta virtual? É isso o que vamos abordar no próximo tópico.

8.3 Netiqueta
A interação e comunicação entre tutoria e alunos é essencial no desenvolvimento dos
cursos a distância, principalmente quando buscamos promover um ensino de qualidade,
com formação que estimule a construção do conhecimento e o desenvolvimento de compe-
tências, sem dispensar a ética.
A tutoria é o suporte e o contato mais próximo que o aluno tem nos cursos na modalida-
de, pois, por meio das atividades de acompanhamento desenvolvidas pelo tutor, cria-se um
vínculo, uma relação de afeto e também de colaboração, na qual o tutor contribui com o cresci-
mento e aprendizado do aluno. Tudo isso acontece pela comunicação. E como a comunicação
do tutor com o aluno pode contribuir (ou não) com a permanência deste no curso?
Do mesmo modo que o cotidiano em que vivemos nos apresenta algumas regras básicas
de convivência e comunicação, na EaD isso não é diferente, e mais, temos um fator extra:
nem sempre o que escrevemos é interpretado da maneira como gostaríamos, mas depende
da forma como escrevemos. Para minimizar os mal-entendidos e nos guiarmos bem nesse
universo virtual, desenvolveu-se o que chamamos de netiqueta, que nada mais é do que a
junção do termo net (que corresponde à internet, web) com etiqueta. Assim, a netiqueta signi-
fica as regras de comportamento aplicadas ao mundo virtual.
A consciência que temos de que é importante manter uma relação sadia e respeitosa em
nossas relações cotidianas vale também para a comunicação por meio do uso das tecnolo-
gias e mídias digitais. Na tutoria, a forma como nos comunicamos com os alunos pode ser

Atuação da tutoria na Educação a Distância 113


8 Ambiente virtual de ensino-aprendizagem:
desafios da tutoria
considerada delicada, pois, dependendo de como nossa escrita é interpretada pelo aluno,
ele pode se desmotivar a continuar no curso. Para que situações como essa não aconteçam,
é importante considerar a netiqueta como um conjunto de boas práticas e recomendações
para que a relação entre tutor e aluno seja positiva e traga bons resultados para a formação
do aluno.
A comunicação é essencial, conforme destacamos no decorrer deste capítulo, portanto
o tutor deve ser o exemplo a ser seguido nos ambientes em que a troca de mensagens é mais
intensa, como acontece nos fóruns de discussão. Vamos imaginar a seguinte situação: uma
discussão sobre inclusão foi proposta no fórum e o tutor está acompanhando as postagens e
a interação entre os alunos, porém, na visão do tutor, uma mensagem não foi bem elaborada
e ficou agressiva. Considerando que outros alunos também podem ter essa mesma visão, é
importante que o tutor faça a mediação de modo que o aluno responsável pela mensagem
tenha a oportunidade de esclarecer o que foi postado. E, para isso, o tutor pode comentar
aquela mensagem, instigando o responsável a confirmar seu ponto de vista para que todos
possam compreender o real significado da mensagem a ser transmitida.
No mundo virtual, acreditamos que não há regras a serem cumpridas, mas é preci-
so cautela e atenção nas mensagens que escrevemos, primando sempre pela clareza e pela
boa educação. Nesse sentido, algumas ações devem ser valorizadas nesse ambiente e, para
exemplificar isso apresentamos algumas orientações que podem auxiliar a tutoria a desen-
volver um comportamento que seja gentil e que deixe boa impressão para aqueles que a
estiverem acompanhando.

Quadro 4 – Sugestões de comportamento e comunicação na EaD.

Sugestão Descrição
Quando escrevemos com letras em caixa-alta, isso representa que
Fale, não estamos gritando, especialmente quando segue após a mensagem o
GRITE! ponto de exclamação. Caso queira dar ênfase em alguma palavra ou
frase, utilize recursos como sublinhado ou negrito.
Os emoticons são ícones que representam alguma expressão facial e
Utilize
são formados pela junção de diferentes caracteres. São muito utiliza-
emoticons
dos quando queremos deixar claro que aquela mensagem deve ser
moderadamente
compreendida com um tom irônico ou quando se está feliz.
Apresentar o assunto da mensagem parece ser uma ação sem impor-
tância, mas, acredite, ele é muito relevante quando o número de men-
Escreva o assun-
sagens recebidas é muito alto. Por exemplo: um tutor pode receber
to da mensagem
mais de 50 e-mails por dia. Ele pode filtrar as mensagens mais impor-
tantes e que têm urgência apenas selecionando-as pelo título.
Use arqui-
Ao receber uma mensagem com arquivos em anexo, isso pode interfe-
vos em anexo
rir na visualização de outras mensagens, então envie documentos em
somente se
anexo somente em caso de necessidade e quando solicitado.
necessário

114 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Ambiente virtual de ensino-aprendizagem:
desafios da tutoria 8
Sugestão Descrição
Em mensagens mais longas é interessante sempre apresentar uma li-
Use parágrafos nha em branco entre os parágrafos, isso deixa o texto mais organizado
e facilita a leitura.
Quando enviamos uma mensagem, isso representa que estamos con-
Responda às versando com a outra pessoa, por isso é muito importante sempre
mensagens responder às mensagens que recebemos. Não responder é o mesmo
que deixar a outra pessoa falando sozinha.
Ao enviar uma mensagem, envie somente para quem irá realmente
Direcione sua ajudar no que estiver sendo solicitado. Por exemplo: não envie uma
mensagem mensagem para todo o grupo se o seu objetivo é esclarecer uma dú-
vida com o tutor.

Fonte: Elaborado pela autora.

Observe que essas são ações simples, mas que na prática fazem toda diferença. Vale
destacar que a comunicação bem-feita deve ser clara e objetiva, mas sempre demonstrando
gentileza e respeito com aquele que recebe a mensagem. Estamos vivendo cada vez mais no
mundo virtual, o que não representa que estamos sozinhos, muito pelo contrário: estamos
cercados de outras pessoas e, para que essa rede se amplie, a comunicação é o ponto-chave
do sucesso.

Conclusão

O estudo deste capítulo teve como objetivo identificar as ferramentas do Avea como um
recurso que atua como potencializador da aprendizagem, sendo esse um espaço que promo-
ve interação entre os envolvidos nos cursos na modalidade EaD, especialmente entre tutores
e alunos.
Um Avea, conforme vimos no decorrer do estudo deste capítulo, é o espaço no mundo
virtual que representa a sala de aula do ensino presencial tradicional. A troca de conteúdo,
o compartilhamento de informações e de experiências vividas e a interação entre tutores e
alunos são os principais recursos que esse ambiente traz para os cursos a distância. Essas
ações representam, acima de tudo, a interação, que é tão importante nessa modalidade
educacional.
A comunicação realizada nesses ambientes é organizada nas diferentes ferramentas
disponibilizadas, entre as quais merecem destaque os fóruns de discussão e as mensagens.
É por meio dessa interação que os alunos têm a oportunidade de construir seu conhecimen-
to com base em momentos de reflexão e de discussão com os demais colegas, tudo sempre
mediado e instigado pelas ações realizadas pela tutoria.
Destacamos também como essas ações de comunicação podem ser realizadas de modo
que não existam mal-entendidos e que as mensagens realmente transmitam aquilo que
querem transmitir. Assim, finalizamos o estudo deste capítulo apresentando situações e

Atuação da tutoria na Educação a Distância 115


8 Ambiente virtual de ensino-aprendizagem:
desafios da tutoria
exemplo de como as boas práticas de comunicação também são relevantes no mundo vir-
tual, atendendo assim às características próprias.

Ampliando seus conhecimentos


Neste capítulo, tivemos a oportunidade de conhecer as potencialidades dos Avea e das
ferramentas virtuais que estão disponíveis para estimular a interação entre os alunos e des-
tes com a tutoria. Buscando ampliar seu conhecimento sobre o uso da tecnologia na educa-
ção, apresentamos uma breve reflexão sobre o uso de tecnologias emergentes na aprendiza-
gem on-line. Aproveite a leitura!

Tecnologias emergentes: inovação e


impacto na aprendizagem on-line
(KUNTZ, V. et al., 2015, p. 205-206)

A tecnologia está em constante mudança para atender as demandas de necessida-


des informacionais. Esse avanço tem impacto direto na área educacional, princi-
palmente quando se trata de aprendizagem on-line, sendo essencial inovar e criar.
Na medida em que a tecnologia digital foi se desenvolvendo e estabelecendo um
“novo padrão de interações sociais, a área da educação passou a se mover, quase
que por completo, em direção a essa promissora vertente de geração de conheci-
mentos que se instaurou na sociedade da informação” (NICOLAU, NICOLAU,
2014, p. 1). Nessa linha, Francisco (2012, p. 14) afirma que a tecnologia de apren-
dizagem, devido a sua ubiquidade, que corresponde à capacidade estar presente
em diversos lugares no mesmo instante, apresenta, além das oportunidades, ris-
cos que denunciam a real necessidade de ser estudada e compreendida.

Francisco (2012) acrescenta que:

A compreensão das caraterísticas do e-learning permite que esta moda-


lidade seja assumida como um modelo de revolução no processo de
transação de conhecimento em contextos de ensino-aprendizagem. Por
ser considerado um sistema aberto suportado pelo acesso da Internet, o
processo de ensino-aprendizagem está exposto a grandes quantidades
de informação facilmente acedida e que nem sempre será a recomendá-
vel para atingir os objetivos propostos devido ao aspeto qualitativo dos
conteúdos selecionados. (FRANCISCO, 2012, p. 14).

Assim, com iniciativas relacionadas à investigação no campo educacional,


alguns programas têm por objetivo identificar as tecnologias mais relevan-
tes que têm impactado e vão impactar a educação em um futuro próximo.

116 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Ambiente virtual de ensino-aprendizagem:
desafios da tutoria 8
O Horizon Report (NMC, 2014) foi criado em 2002 e hoje já é reconhecido inter-
nacionalmente por manter o alinhamento com as novas tecnologias. Essa publi-
cação identifica e descreve as tecnologias emergentes que apresentam poten-
cial para ter um grande impacto sobre os próximos cinco anos na educação
mundial. Trata também da forma de utilizar no ensino e na aprendizagem a
investigação criativa, principalmente dentro o ambiente da educação superior
(JOHNSON et al., 2013-2014).

Atividades
1. Os ambientes virtuais de ensino-aprendizagem possibilitam aos tutores e alunos criar
relações que estimulem a aprendizagem pelo compartilhamento de informações, de
conhecimentos e de experiências vividas. No estudo deste capítulo, foram apresenta-
das competências, habilidades e atitudes que estão relacionadas ao letramento digital,
ou seja, ao domínio do uso dos recursos disponíveis no mundo virtual. Nesse contexto,
descreva como os conhecimentos, as habilidades e as atitudes desempenhadas pela
tutoria podem interferir no aprendizado do aluno dos cursos a distância.

2. No Avea são disponibilizadas diferentes ferramentas que contribuem para a intera-


ção da tutoria com os alunos. Descreva aquelas que contribuem diretamente para a
interação entre tutor e aluno, bem como dos alunos entre si. Complemente apresen-
tando exemplos de interação que podem ocorrer com o uso dessas ferramentas.

3. A comunicação nos cursos a distância é um fator de extrema importância para a


formação do aluno, especialmente por estimular a interação e a reflexão dos assun-
tos apresentados. Para que essa comunicação seja efetiva e traga bons resultados, é
preciso que a escrita seja clara e objetiva. Para que a mensagem a ser transmitida não
seja interpretada erroneamente, são sugeridos alguns comportamentos específicos.
Nesse contexto, descreva quais são esses comportamentos e apresente um exemplo
de uma mensagem que pode ser interpretada de maneira grosseira e como ela pode-
ria ser transmitida de maneira clara, objetiva e gentil.

Referências
BEHAR, P. A. (org.). Competências em educação a distância. Porto Alegre: Penso, 2013.
_____. (org.). Modelos pedagógicos em educação a distância. Porto Alegre: Artmed, 2009.
BENTO, D. O sistema tutorial para EaD. São Paulo: Cengage, 2016.
FILATRO A. Design instrucional na prática. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2008.
KUNTZ, V. et al. Técnicas criativas aplicáveis em cursos online aberto massivos (MOOCS). In:
VANZIN, T.; ULBRICHT, V. R. BATISTA, C. R. (orgs.). Criatividade e inovação na educação. São
Paulo: Pimenta Cultural, 2015.

Atuação da tutoria na Educação a Distância 117


8 Ambiente virtual de ensino-aprendizagem:
desafios da tutoria
MATTAR, J. Tutoria e interação em educação a distância. São Paulo: Cengage Learning, 2012 (Série
Educação a Tecnologia).
MESQUITA, D.; PIVA JÚNIOR, D.; GARA, E. B. M. Ambiente virtual de aprendizagem: conceitos,
normas, procedimentos e práticas pedagógicas no ensino a distância. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014.

Resolução
1. O objetivo desta questão é identificar o necessário para que a atuação da tutoria
desempenhe ações que contribuam para a formação do aluno e não desestimule sua
participação no curso. Para isso, devem ser consideradas as informações da Figura 1
que descrevem possíveis situações que podem surgir na prática.

Seguem alguns exemplos:

• Conhecer os softwares: ao utilizar os softwares mais frequentes nos cursos, o tutor


pode auxiliar o aluno diante de alguma dúvida apresentada.
• Utilizar as redes para contatar pessoas: ao utilizar as redes sociais, por exemplo, o
tutor amplia a forma de abordar o aluno. Outro exemplo: um aluno pode não estar
acessando o Avea por dificuldade, mas sabe como se comunicar pela rede social; as-
sim, o tutor pode iniciar o contato na rede social e agendar um encontro (virtual ou
presencial) para ensiná-lo a utilizar o Avea.
• Saber administrar as informações que são apresentadas: ao receber inúmeras mensa-
gens, é preciso que o tutor se organize de modo a selecionar e utilizar as mensagens
compartilhadas.

2. Esperamos que a resposta identifique as ferramentas do Avea que mais se relacio-


nam à ação de promover comunicação, interação, reflexão e compartilhamento de
conhecimento. Essas ferramentas são: fórum de discussão, chat e e-mail.

3. A resposta esperada para essa questão deve reconhecer os comportamentos dese-


jáveis ao se comunicar e interagir nos Avea. Para isso, podemos tomar como base
o Quadro 4, que aponta as seguintes sugestões: fale, não GRITE!; utilizar emoticons
com parcimônia; apresentar o assunto da mensagem a ser enviada; enviar anexos
somente se necessário; organizar o texto a ser enviado; responder as mensagens re-
cebidas; e direcionar a mensagem somente ao interessado.

118 Atuação da tutoria na Educação a Distância


Atuação da tutoria na Educação a Distância
Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6418-2

57289 9 788538 764182

Juliana Bordinhão Diana

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