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— “(...) Eu afirmo com todo o vigor que a religião cósmica é o móvel mais poderoso e
mais generoso da pesquisa científica. Somente aquele que pode avaliar os gigantescos
esforços e, antes de tudo, a paixão sem os quais as criações intelectuais científicas
inovadoras não existiriam pode pesar a força do sentimento, único a criar um trabalho
totalmente desligado da vida prática. Que confiança profunda na inteligibilidade da
arquitetura do mundo e que vontade de compreender, nem que seja uma parcela
minúscula da inteligência a se desvendar no mundo, deviam animar Kepler e Newton
para que tenham podido explicar os mecanismos da mecânica celeste, por um trabalho
solitário de muitos anos. Aquele que só conhece a pesquisa científica por seus efeitos
práticos vê depressa demais e incompletamente a mentalidade de homens que, rodeados
de contemporâneos céticos, indicaram caminhos aos indivíduos que pensavam como
eles. Ora, eles estão dispersos no tempo e no espaço. Aquele que devotou sua vida a
idênticas finalidades é o único a possuir uma imaginação compreensiva destes homens,
daquilo que os anima, insufla-lhes a força de conservar seu ideal, apesar de inúmeros
malogros. A religiosidade cósmica prodigaliza tais forças. Um contemporâneo
declarava, não sem razão, que em nossa época, instalada no materialismo, reconhecem-
se nos sábios escrupulosamente honestos os únicos espíritos profundamente religiosos”.
Desse sentido de religião cósmica aspirada pelo brilhante físico certamente aproximou-
se um dos maiores abolicionistas brasileiros: Joaquim Nabuco (1849-1910). O ilustre
diplomata, a quem, em 1901, foi confiada a missão de embaixador da República do
Brasil em Londres e, a partir de 1905, em Washington, escreveu: “A religião não é um
obstáculo à alegria e à liberdade. A fé é um pássaro que pousa no alto da folhagem e
canta nas horas em que Deus escuta (...)”.
Com certeza, Nabuco percebera a realidade de uma crença universal, que pode ser
sentida e vivenciada pelo coração do Ser Humano, de inteligência modesta à mais
erudita.
Diz antigo ditado: “Aqui se faz e aqui se paga”. No entanto, a origem dos benefícios e
dos males que afetam o Ser Humano encontra-se primeiro no âmbito espiritual. É
preciso, pois, conhecer as carências da Alma, a sua visão religiosa, política, econômica,
pública e coletiva, de forma que não vivamos eternamente iludidos pelo que apenas
vemos e tocamos, enquanto o Espírito, nossa verdadeira procedência e destinação,
continua sendo o grande esquecido.
Como a morte não existe mesmo, os que nela pensam alcançar sossego, surpreendidos
serão, do Outro Lado, com as questões de que fugiam, acrescidas de novas implicações.
Trata-se de trágica realidade, que não devemos provocar.
Lei Pietro