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Sumário: 1 Conteúdo do Direito intelectual 2 Teoria Geral do Direito autoral 3 Obras intelectuais e
mídias digitais 4 Direito de acesso às obras digitais na sociedade da informação. 5 Considerações
finais; Referências.
Resumo: O trabalho tem o objetivo de delinear o estudo do Direito intelectual que compreende a
criação do espírito humano que se rege pelos interesses materiais do indivíduo como modo de
exteriorização de pensamentos, sensações, sentimentos, conhecimentos. Estes são essenciais para o
exercício do direito autoral enquanto emanação da paternidade da obra intelectual, tendo em vista a
nova ordem jurídica do Estado Democrático de Direito que corrobora com a tutela autoral em
questão. A regulamentação da atividade criadora das produções artísticas, científicas e literárias
proporciona ao próprio criador intelectual enquanto objeto de propriedade de ordem material e
moral reconhecido socialmente o exercício de um monopólio que deve ser compatibilizado com o
interesse público ante os objetivos de índole cultural da humanidade. Nesse passo, o presente estudo
tem por fito deslindar a temática acerca dos aspectos gerais relativos aos direitos de autor a partir da
interação entre os dispositivos da Lei de Direitos Autorais e os mandamentos constitucionais que
erigem os direitos autorais à condição de direitos humanos fundamentais. Portanto, o propósito é
buscar uma interpretação dos conflitos entre o Direito autoral e o direito de acesso à informação e à
cultura no sentido da relativização dos direitos de autor a fim de estabelecer o equilíbrio entre os
direitos do criador e o conjunto da sociedade que deve ter assegurado o direito de acesso à
informação, à educação, à ciência, à tecnologia e ao domínio público.
Riassunto: Questo lavoro ha come obiettivo delineare lo studio del diritto intelettuale che ingloba
la creazione dello spirito umano che se regola per l´interessi materiali dello individuo come modo di
dire i pensieri, sensazioni, sentimenti, conoscimenti. Questi sono abbastanza importanti per
l’esercizio del diritto d’autore come frutto della paternità della opera intelettuale, poichè la nuova
ordine giuridica dello Stato Democratico del Diritto in esame in questo lavoro. La regulamentazione
della attività di creazione di produzione di valore artistico, scientifico e letterario proporziona per
creatore intellettuale mentre oggetto di proprietà di ordine materiale e morale socialmente
conosciuto l’esercizio di un monopolio che deve essere armonizzato con l´interesse pubblico
davanti obiettivi di carattere culturale della umanità. Perciò questo studio ha come obiettivo vedere
aspetti generali su diritti d´autore mediante interazione tra Legge di Diritti d´autore e norme
costituzionale che fa il diritto d´autore come diritto umano fondamentale. Pertanto, l’obiettivo è
cercare un’interpretazione dei conflitti tra diritto d’autore e diritto di accesso alla informazione e
cultura nel senso di relativizazione del diritto d’ autore con il fine di fare l’equilibrio tra diritti del
creatore e la società che deve avere sicuro il diritto di accesso alla informazione, educazione,
scienza, tecnologia e anche al dominio pubblico.
Estes Direitos do homem enquanto criador intelectual afiguram-se nas criações do espírito,
de cunho estético e/ou utilitário, conforme o caso, tendo em vista a possibilidade de exploração
econômica pela elevada diversidade de usos das obras intelectuais na sociedade moderna em
decorrência da valoração promovida pela ideologia liberal burguesa, com relevo para os
movimentos políticos do liberalismo e do capitalismo, de que são também manifestações jurídicas
as declarações políticas dos direitos do homem e do cidadão.
O Direito intelectual foi concebido em 1877 quando o jurista belga Edmond Picard
preconizou a tese de inserção dessa nova categoria jurídica, em vista da insuficiência da clássica
divisão tripartite dos direitos (direitos pessoais, direitos obrigacionais e direitos reais), sendo
intitulada teoria dos direitos intelectuais, tendo sido adotada para elaboração da lei belga de 1886
que importou na sua aceitação por meio de convenções internacionais e, posteriormente, nas leis
internas de vários países.
A posição mais usual reputa-o como o direito de propriedade, dotado de exclusividade como
incentivo, que recai sobre as mais variadas e intangíveis formas de criação da mente humana
resultante do esforço intelectual. (LEITE, 2004).
Bittar (2004, p.3) sustenta que os direitos intelectuais em espécie cumprem finalidades
estéticas (de deleite, de sensibilização, de aperfeiçoamento intelectual, como nas obras de literatura,
de arte e de ciência), bem como atende a objetivos práticos (de uso econômico ou doméstico, de
bens finais resultantes da criação como móveis, máquinas etc), incorporando-se ao mundo do
Direito em razão da diferenciação em dois sistemas jurídicos especiais quanto ao Direito de Autor e
ao Direito de Propriedade Industrial.
O Direito de Autor em sentido objetivo é o ramo que regula as relações jurídicas decorrentes
da criação intelectual e a utilização das obras protegíveis, desde que pertencentes ao campo da
literatura, das artes e das ciências. O Direito Industrial aplica-se às criações de feitio utilitário,
voltadas para a satisfação das necessidades humanas imediatas, sendo dotadas de uso empresarial,
afigurando-se nas patentes (invenção, modelo de utilidade, modelo industrial e desenho industrial),
marcas (de indústria, de comércio, ou de serviço e de expressão ou sinal de propaganda), indicações
geográficas e cultivares (para as variedades vegetais).
Vale dizer, o Prof. Dr. Leonardo Poli (2006a) propõe a ressistematização com a tripartição da
propriedade intelectual em três ramos, quais sejam, propriedade industrial, direito autoral e
propriedade tecnodigital, que comungariam das mesmas normas fundamentais na direção de
conceber uma Teoria Geral da Propriedade intelectual e a partir disso oportunizar a reaproximação
ao Direito civil às normas constitucionais fundamentais. De modo que, essa nova categoria jurídica
versaria sobre a aplicação do direito autoral em vista da tecnologia digital que tem ocasionado
mudanças cruciais na seara da propriedade intelectual.
Esse ramo do Direito intelectual em comento seria responsável pela tutela das novas formas
de utilização das obras, ante o desenvolvimento tecnológico, com base na possibilidade de fixação
das obras em suporte digital, da codificação de qualquer modalidade de obra em representação
digital (armazenamento digital), da rapidez no fluxo das informações (compartilhamento pela rede
mundial de computadores) e divulgação das obras, assim como no aparecimento de novas
categorias de obras intelectuais etc.
A razão de ser dos Direitos do Intelecto funda-se na tutela jurídica que se exige nos tratados
e convenções internacionais, assim como nas legislações internas da maioria dos países integrantes
da Organização Mundial do Comércio (OMC), entidade supranacional criada em 1995, cujos
Estados-membros em sua totalidade são signatários da Convenção da União de Paris (CUP) alusiva
aos direitos industriais de 1883, bem como da Convenção de Berna relativa aos Direitos Autorais
datada de 1886, com suas respectivas revisões posteriores.
A proposta de uma Teoria Geral busca fixar os contornos desse microssistema jurídico a
partir do exame da relação jurídica autoral no âmbito existencial e patrimonial, de seus elementos
estruturais, natureza jurídica e de sua principiologia.
Além da análise dos direitos conexos, dos negócios jurídicos autorais, das relações de
trabalho intelectual e titularidade das criações, da responsabilidade civil, penal e administrativa por
violação aos direitos de autor (ilícito autoral), como também das questões relativas à propriedade
tecnodigital, na dimensão da nova realidade tecnológica e as mudanças paradigmáticas nos
institutos de Direito autoral.
A Lei de Direitos autorais (LDA), Lei Federal nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998, assenta-
se como a lei básica do microssistema autoral dotada de regras e princípios destinados a regular os
casos concretos. No entanto, as regras de Direito autoral devem ser interpretadas com o escopo de
preservar a unidade hermenêutica e coerência do ordenamento jurídico, isto é, do direito positivo.
Leonardo Poli (2006a) pontifica que o Direito autoral contemporâneo deve ser voltado à
tutela das relações jurídicas decorrentes da criação, de modo que a obra intelectual deixa de ser o
centro gravitacional do Direito autoral. Evidencia-se a constitucionalização do Direito autoral na
expressão cunhada de Direito autoral-constitucional que considera o direito subjetivo em razão de
suas plúrimas funções, quais sejam, econômica, social, cultural, pedagógica, política, normativa etc,
superando a tutela individualista do criador.
Demais disso, os princípios da socialidade, eticidade e operabilidade que foram erigidos pela
codificação de 2002 ao patamar de postulados fundamentais devem ser suficientes para a
implementação dos valores constitucionais com o intuito de lograr a paz social e o pleno
desenvolvimento econômico-social.
Os microssistemas, embora sejam munidos de vida própria, giram em torno do Código Civil
ante o caráter interdisciplinar e do ponto de vista interpretativo na disciplina de casos não regulados
por normas especiais.
Nessa linha de intelecção, Mattietto (2000) aduz que cabe ao intérprete e construtor do
sistema a formação de uma mentalidade constitucionalística com a adoção das normas contidas na
Constituição cujas direções hermenêuticas, de efetivo caráter de direito substancial, devem estar
presentes na regulação das situações jurídicas, bem como empreendendo uma civilística mais
sensível aos problemas e às exigências da sociedade.
Assim, o Direito autoral apresenta-se sob a égide de uma lógica própria que se robusteceu
com a evolução social e tecnológica em constante renovação o que exige da legislação autoral uma
dinâmica específica com o escopo de adaptar seus institutos, resultando na supramencionada
ressistematização.
A teoria jurídica do Direito autoral outrora fundada nos dogmas da autonomia da vontade, na
liberdade econômica, na dualidade público e privado, no formalismo e positivismo, sendo bastante
arragaida à ideologia liberal burguesa transmuda-se ao corporificar os fundamentos da dignidade da
pessoa humana e da funcionalidade do direito subjetivo autoral.
O Direito de autor reveste-se de uma razão especial na tutela da pessoa humana enquanto
criadora da obra intelectual, sendo dotado de norma de ordem pública e por isso é qualificado como
direito fundamental da pessoa humana que independe do Estado e se manifesta pela criação
intelectual.
Por seu turno, o Direito autoral constitui ramo da Ciência do Direito que agrega as situações
jurídicas vislumbradas nas faculdades e prerrogativas atinentes aos sujeitos de direito de autoria
(autor e titular de direito autoral), destinando-se a salvaguardar os respectivos titulares, na defesa da
paternidade e integridade das obras intelectuais, em observância ao caráter bifronte, no tocante ao
aspecto da manifestação direta da personalidade intangível do autor da própria essência da atividade
criadora e, igualmente, na qualidade de propriedade móvel ante a natureza de direito real pela
índole econômica viável no exercício do jus utendi, fruendi et abutendi (direito de usar, fruir e
dispor) de sua criação, por força do fixado no diploma autoral. (SOARES, 2006, p.87).[2]
A digitalização é reputada como fundamento técnico da nova face do mundo virtual, tendo o
ciberespaço como meio de comunicação que emana da interconexão mundial dos computadores
cujo significado representa não somente a infra-estrutura material da comunicação digital, mas
inclusive o universo de informações por ele compiladas e a multiplicidade das sociedades humanas
com ele relacionadas. (LÉVY, 1999).
Isto é, a digitalização das obras tuteladas pelo Direito de autor demanda um tratamento legal
específico que seja suficiente ao equacionamento dos interesses dos criadores intelectuais e dos
usuários das obras disponibilizadas no meio virtual.
Nesse passo, entende-se a tecnologia da informática (em que a internet desempenha papel de
destaque) como meio de comunicação revolucionário responsável pela superveniência da
cibercultura e do fenômeno da digitalização.
Os efeitos jurídicos da virtualização são identificados por meio das obras digitais que têm
relação com a liberdade intelectual (enquanto prerrogativa individual do criador limitada
constitucionalmente) em que se visualiza o confronto com os demais direitos fundamentais em tela.
Em relação à obra multimídia caracterizada como obra que reúne vários tipos de expressão
de obras (texto, som e imagem) num único suporte informático é importante ponderar sobre a
autorização de uso por parte da pluralidade de titulares de direitos autorais e a respectiva
remuneração pelo emprego dessas obras com a superveniência do fenômeno da digitalização.
Logo, na Era Digital (também chamada de Era das Redes) a obra multimídia passa por uma
releitura, pois com a digitalização dos dados e da desnecessidade de um suporte material tangível
para se considerar a obra existente ou para a sua divulgação no ciberespaço, cria-se a possibilidade
de reprodução de obras intelectuais em questão de segundos, permitindo com mais facilidade a
violação dos direitos autorais.
Manuel Castells citado por Marcos Wachowicz (2007, p.89) entende que o termo sociedade
da informação enfatiza o papel da informação na sociedade enquanto “atributo de uma forma
específica de organização social em que a geração, o processamento e a transmissão da informação
tornam-se as fontes vitais de produtividade e poder, devido às novas condições tecnológicas
surgidas nesse período histórico.”
Em particular, no tocante à obra multimídia acima aludida convém fazer mais algumas
ponderações. Essa obra intelectual pode ser entendida combinação de duas ou mais formas
digitalizadas de expressão artística (texto, imagens ou sons), transmitidas pelo computador por
intermédio de um programa de computador, sendo caracterizado pela conjugação de arte (os textos,
as imagens e os sons digitalizados) e técnica (o software que faz o sistema funcionar) (CARBONI,
2003, p.14).
Há iniciativas que permitem o acesso às obras intelectuais digitais ao público sob condições
mais flexíveis com base em projetos colaborativos ou de criação integrada de desenvolvimento e
disponibilização de licenças públicas em que a coletividade de usuários tem acesso dentro dos
limites das licenças.
No ambiente virtual o modelo cooperativo de uso de obras sucede por meio do sistema
creative commons que consiste numa licença de uso (como um contrato atípico) pelo qual o titular
do direito de autor e conexo autoriza que as obras disponíveis ou não no formato digital sejam
identificadas em vários níveis de autorização (BRANCO JÚNIOR, 2007).
Nesse acesso condicionado as restrições ou travas tecnológicas (medidas tecnológicas de
proteção) correspondem a chaves criptográficas (dispositivos de codificação) inseridas nos bens
culturais digitais, atuando no reconhecimento de características tecnológicas programadas de
fábrica.
No tocante às licenças públicas são outorgadas pelos legítimos titulares de direitos autorais
para que as obras intelectuais possam ser utilizadas (distribuídas, copiadas etc) por qualquer
interessado em arquivos públicos na Internet, em redes de compartilhamento de arquivos etc.
Com o crescimento do acesso à internet em altas velocidades o modo de pensar com relação
aos Direitos autorais exige uma reflexão sobre a fluidez dos padrões estabelecidos e conhecidos e as
soluções possíveis tanto jurídicas quanto tecnológicas a curto, médio e longo prazo.
No entendimento ora propugnado devem ser consideradas livres as atividades que não
tiverem nenhuma incidência negativa na exploração econômica da obra, bem como noutros casos
que envolvam qualquer ato incapaz de prejudicar a referida exploração da obra (ASCENSÃO,
1997).
Depreende-se, em verdade, que o problema consiste na interpretação dos conflitos entre o
Direito autoral e o direito de acesso à informação e à cultura no sentido da relativização dos direitos
de autor a fim de estabelecer o equilíbrio (balanceamento) entre os direitos do criador que deve
lograr uma justa compensação pela sua atividade intelectual e o conjunto da sociedade que deve ter
assegurado o direito de acesso à informação, à educação, à ciência, à tecnologia e ao domínio
público (inclusive no que diz respeito à utilização do patrimônio cultural comum) como um todo na
qualidade de categórico direito imanente ao exercício da cidadania.
5 Considerações finais
Na seara das obras multimídia e da tecnologia digital é válido o tipo de gestão coletiva que
compreenda a concessão de licenças ou autorizações centralizadas para várias espécies de obras
intelectuais.
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito autoral. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1997. 754p.
BITTAR, Carlos Alberto. Direito de autor. 4. ed. São Paulo: Forense Universitária, 2004.
BRANCO JÚNIOR, Sérgio Vieira. Direitos autorais na internet e o uso de obras alheias. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2007.
BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Diário Oficial da União, Brasília, 20 fev. 1998.
CARBONI, Guilherme Capinzaiki. Função social do direito de autor. Curitiba: Juruá, 2006.
FIUZA, César. Direito civil: curso completo. 9. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.
GERVAIS, Daniel. Em busca de uma nova norma internacional para os direitos de autor: o “teste
dos três passos” reversos. In: POLIDO, Fabrício; JR., Edson Beas Rodrigues (Org.) Propriedade
intelectual: novos paradigmas internacionais, conflitos e desafios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
LORENZETTI, Ricardo Luis. Fundamentos do direito privado. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1998.
MATTIETTO, Leonardo. O direito civil constitucional e a nova teoria dos contratos. IN:
TEPEDINO, Gustavo (Coord.) Problemas de direito civil –constitucional. Rio de Janeiro:
Renovar, 2000. p.163-186.
POLI, Leonardo Macedo. A tripartição da propriedade intelectual e o princípio da
funcionalidade como pressuposto de sua legitimidade. 2006a. 167f. Tese (Doutorado) -
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Direito, Belo Horizonte.
SOARES, Sávio de Aguiar. Direitos autorais morais e sua tutela no estado democrático de direito
brasileiro. Revista da Ordem dos Advogados do Brasil, Brasília, ano XXXVI, nº 82, p.84-99,
jan./jun. 2006.