Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Artigo Original
recebido: 18/03/2002 e aceito em 30/07/2002
Controlador automático da
ventilação pulmonar mecânica:
projeto e simulação
Resumo
Automated control of the mechanical Um controlador em malha fechada da ventilação pulmo-
nar mecânica foi projetado, para (a) controlar a pressão
pulmonary ventilation: design and parcial de CO2 no fim da expiração (PetCO2), e (b) varrer a
simulation pressão positiva de fim de expiração (PEEP) em busca da
mínima elastância estimada do sistema respiratório ( Ê ).
O algoritmo incluiu um controlador proporcional mais in-
tegral (PI) para a meta (a) e descida de gradiente usando o
método dos mínimos quadrados recursivo (MQR) para a
meta (b). Uma função objetivo afim à proteção pulmonar
inseriu uma restrição ao controlador PI, forçando uma ra-
zão fixa entre pressão alveolar e pressão resistiva de pico
(P alv /P res. ). Um simulador numérico do controlador foi
implementado para testar seu desempenho em um mode-
lo animal. Os ganhos do controlador foram otimizados
pela minimização da integral do sinal de erro quadrático
da medida da P etCO 2 . A simulação mostrou que o
controlador atinge os objetivos, sem oscilações sustenta-
Frederico C. Jandre das e com erro nulo na PEEP e na PetCO2.
Programa de Engenharia Biomédica, COPPE Palavras-chave: controle automático, ventilação mecâni-
Universidade Federal do Rio de Janeiro ca, sistema respiratório, lesão pulmonar, simulação.
Rio de Janeiro-RJ, Brasil
e-mail: jandre@peb.ufrj.br
exemplificado por regras fuzzy (Nemoto, Hatzakis et onadas com lesão pulmonar: a máxima pressão
al., 1999; Schaublin, Derighetti et al., 1996). Cada alveolar (Palv), associada à hiperdistensão alveolar
algoritmo de controle envolve um conjunto de obje- ([Anon], 1999; Dreyfuss and Saumon, 1998) e a máxi-
tivos explícitos ou implícitos e um conjunto de ajustes ma pressão resistiva inspiratória (Pres), ligada à tensão
ventilatórios, além de um modelo que une estes con- dinâmica dos elementos viscoelásticos ou à hiperinsu-
juntos. flação transitória no pulmão multicompartimental
Este trabalho relata o projeto e simulações de um (Rudowski, Skreta et al., 1990).
controlador automático da VMP, baseado em critérios Estendendo o conceito acima, postulou-se que, a
objetivos relacionados com a proteção pulmonar con- qualquer mudança de ventilação, a manutenção da
tra a VILI, cujo alvo foi atingir uma pressão parcial de razão P alv/P res constante seria interessante porque
CO2 no fim da expiração (PetCO2) determinada pelo ambas teriam o mesmo peso no cômputo final dos
operador. Modelos animais foram sujeitos à lei de con- riscos de lesão. Formalmente:
trole projetada, com o intuito de avaliar seu desempe-
nho. O objetivo final foi qualificar esse controlador para Palv P + ∆Palv ∆P
o uso experimental e desse modo testar sua eficácia na = α = alv ⇒ alv = α (3)
Pres Pres + ∆Pres ∆Pres
redução dos efeitos deletérios da VMP.
onde ∆Palv e ∆Pres são as variações das respectivas pres-
Métodos sões em caso de mudança de ventilação. Um objetivo
pode ser, então, regular a relação definida na equação 3.
Conceitos de projeto Deseja-se que essa relação seja válida em regime
Foram implementados dois laços de controle, o de permanente. Um modo de impor essa condição é
CO2 (CO2L) e o de mínima elastância (EL). O CO2L é vinculá-la à saída do bloco PI (PIout(t)), que se supõe
responsável por manter a PetCO2 em um patamar es- constante no estado estacionário do controle. Uma
colhido pelo operador enquanto o EL deve encontrar formulação possível para isso é:
uma PEEP que minimize a Ers. O CO2L deve ser capaz
de operar sozinho ou em conjunto com o EL. O modo Palv k alv P P
ventilatório selecionado foi o volume controlado, com = = α ⇔ alv = res = PI out (∞) (4)
Pres k res k alv kres
fluxo inspiratório constante.
A malha de controle da PetCO2 tem seu erro defini- ajustando-se convenientemente as constantes kalv e kres.
do como: PIout(∞) é a saída do bloco PI em estado estacionário.
No estado estacionário valem, por conseguinte, as
eCO2 (t ) = Pet CO2 (t ) − PdesCO2 (t ) (1) igualdades:
onde kVT e kRR são constantes positivas, que juntamen- tido apropriado para as mudanças da PEEP em busca
te com os ganhos do PI determinarão a dinâmica do da Ers mínima.
sistema.
Na prática clínica, Palv e Pres não podem ser medi- Simulação
dos diretamente, mas calculados instante a instante a A simulação do sistema de controle foi implementada
partir de outras grandezas, como visto nas equações em Simulink 2.1 para o MatLab 5.1 (MathWorks, USA)
7 e 8, por exemplo: a fim de estabelecer a dinâmica do processo e as cons-
tantes pertinentes ao sistema de controle (ganhos do
Palv = PEEP + VT .Ers (7) PI, kVT e kRR). Para o sistema respiratório foi utilizado
um modelo unicompartimental homogêneo compos-
VT
Pres = V&insp .Rrs = .Rrs to por uma resistência e uma elastância em série. A
60
− Texp (8) resistência foi modelada pela equação 10 como uma
RR função linear do fluxo inspiratório (Peslin, Felicio da
onde Rrs é a resistência do sistema respiratório, Texp é Silva et al., 1992), e a elastância, pela equação 11 que
o tempo expiratório, RR é dado em ciclos por minuto mede a inclinação da reta que une os pontos de fim de
e V&insp é o fluxo inspiratório (constante, devido ao inspiração e expiração da curva PxV alveolar. Por sua
modo ventilatório selecionado). Ademais, os parâme- vez, a curva PxV alveolar foi modelada por uma equa-
tros da mecânica ventilatória utilizados para o cálculo ção polinomial de 3o grau (equação 12) que bem re-
de Palv e Pres não são conhecidos e devem ser estima- presenta o padrão sigmoidal característico do sistema
dos a partir dos sinais medidos. respiratório (Hickling, 1998).
Partindo-se da premissa de que o tempo expirató-
rio (Texp) oferecido ao sistema respiratório deve ser
Rrs = R1 + R2 .V&insp (10)
suficiente para evitar a geração de PEEP inadvertida,
Palv − PEEP
obtém-se indiretamente uma restrição quanto ao tem- E rs = (11)
po inspiratório (Tinsp) e também quanto à relação VT
Tinsp:Texp. Uma possível restrição, considerando-se o
modelo de primeira ordem do sistema respiratório, P(V ) = θ1.V + θ2 .V 2 + θ3 .V 3 (12)
seria permitir Texp muito maior que a constante de
tempo t do sistema respiratório. Optou-se pelo em- onde R1, R2 e q1-3 são constantes e P é a pressão
prego de Texp igual a 8 constantes de tempo: manométrica alveolar gerada pela aplicação do volu-
me V acima da capacidade residual funcional relaxada
R rs com PEEP igual a zero. Para uma determinada PEEP, o
Texp = 8τ = 8 (9) volume acrescido ao sistema foi encontrado pela bus-
E rs
ca iterativa da raiz real da equação 12. Para o fim da
Apesar de aparentemente alto, tal valor de Texp pos- inspiração (P = Palv), somou-se, ao volume acrescido
sibilita a operação com uma resistência adicional, im- pela PEEP, o volume corrente VT, e calculou-se a pres-
posta pelo circuito expiratório, de valor próximo ao do são alveolar correspondente. Com os dois pares de
sistema respiratório, condição comum na prática. Pro- pontos (P,V) foi determinada a Ers, empregando-se a
cura-se garantir assim a ausência de PEEP inadvertido, equação 11.
causado pela insuficiência de tempo expiratório. A equação 2 foi utilizada para modelar a PetCO2,
Com relação ao EL, não existe um modelo global sendo V&CO2 e Vd assumidos como conhecidos. A di-
que descreva o comportamento da Ers em função da nâmica da PetCO2, devida à mistura do gás alveolar ao
PEEP (Hickling, 1998; Lichtwarck-Aschoff, Mols et al., proveniente do sangue venoso misto, foi simplesmen-
2000). Outro fator complicador é que o CO2L pode te modelada pela filtragem passa-baixas (filtro de pri-
afetar a Ers como conseqüência das modificações em meira ordem, constante de tempo de 20 s) com filtro
RR, VT e/ou Texp. Para contornar este problema, o EL discreto de período de amostragem de 1 s. Um
obedeceu uma lei de gradiente descendente. Para isto, quantizador de 1 mmHg foi utilizado para simular a
a derivada local da Ers com relação à PEEP foi estima- resolução comumente encontrada nos capnógrafos
da numericamente e sua estimativa foi obtida pela comerciais.
monitorização das variações simultâneas das duas Para a identificação dos parâmetros da mecânica
102 variáveis. Portanto, tornou-se possível impor um sen- respiratória (elastância, resistência e PEEP), foi conce-
bida a utilização do método de mínimos quadrados onde ε representa a derivada de Ers em relação à PEEP
recursivo (RLS), conforme proposto por alguns auto- no instante t e foi calculada por RLS; sgn(.) retorna o
res (Avanzolini, Barbini et al., 1995; Avanzolini, Barbini sinal do argumento, min{.,.} retorna o menor elemento
et al., 1997; Lauzon and Bates; 1991) que mostraram do conjunto e a constante β foi fixada em 1/120. Por-
sua aplicabilidade experimental. A característica do tanto, a máxima taxa de variação da PEEP aplicada foi
método é a introdução de um decaimento exponencial limitada em 1 cmH 2 O a cada 12 segundos ou
do peso das medidas para a estimativa dos parâmetros 5 cmH2O/min.
da mecânica ventilatória. Na simulação, para aproxi- As equações 6a, 6b, bem como o bloco PI, repre-
mar a dinâmica do RLS, os valores dos parâmetros da sentam processos contínuos e foram simuladas dis-
mecânica ventilatória fornecidos pelo modelo a cada cretamente usando um período de amostragem e atu-
instante passaram por filtros passa-baixas de primei- alização dos controladores de 1 s e integradores
ra ordem com constantes de tempo igual à proposta “forward Euler”. A equação 13, sendo intrinsicamente
para o uso experimental do algoritmo RLS. Com o discreta, também foi implemantada com integrador
intuito de estabelecer um balanço entre a capacidade “forward Euler”.
de rastreamento das não-estacionariedades da mecâ- Todos os parâmetros do modelo (tabela 1) foram
nica ventilatória e a redução da incerteza dos parâme- selecionados para aproximar dados de experimentos-
tros estimados, a constante de tempo do algoritmo piloto in vivo com suínos. A equação da curva PxV foi
RLS simulado foi fixada em 20 s. obtida de curvas inspiratórias de alto volume e baixa
As variáveis de entrada VT, RR, Texp e PEEP passa- vazão (VT de 600 a 1000 ml e RR de 6, aproximada-
ram por retentores (“zero-order holds”) para repro- mente). Nas simulações os valores de VT estiveram
duzir a atualização discreta que ocorre num ventila- limitados entre 110 e 600 ml e os valores de RR limita-
dor. Como a freqüência respiratória esperada estava dos entre 6 e 50 ciclos/min. A figura 1 mostra o dia-
em torno de 20 ciclos/min, os retentores tiveram tem- grama em blocos do simulador implementado.
po de retenção de 3 s. Experimentos com o simulador foram executados
A simulação do laço LE seguiu a proposta de gra- para a obtenção do conjunto apropriado de ganhos para
diente descendente descrita acima, usando o algoritmo o CO2L. Inicialmente, os ganhos kalv e kres foram ajusta-
RLS sobre as estimativas de elastância e PEEP para dos para rastrear, no estado estacionário, os valores
estimar a derivada, e um integrador discreto para normais da relação Palv/Pres conforme a tabela 1. Com os
implementar a equação 13: ganhos PI, kVT e kRR fixados em valores muito baixos,
para garantir a convergência do controlador, a PEEP
PEEP(t + ∆t ) = PEEP(t ) − β. sgn (ε(t ) ). min{ε(t ) ,10} (13) aplicada fixada em 12 cmH2O e a PetCO2 desejada fixada
Tabela 1. Valores normais dos parâmetros fisiológicos utilizados nas simulações. Dados referentes a suínos de 20 kg,
12 semanas com fisiologia normal. Table 1. Normal values of the physiological parameters as used in the simulations.
Data refers to 12-week old, 20 kg normal swines.
103
Revista Brasileira de Engenharia Biomédica / v. 18 / n. 2
Brazilian Journal of Biomedical Enginnering / v. 18 / n. 2
Controlador automático da ventilação pulmonar mecânica
F.C. Jandre, A.V. Pino, F. Ascoli, A. Giannella-Neto
em 40 mmHg, o simulador foi rodado e os ganhos kalv e totais, portanto) apenas para observação visual da
kres foram modificados manualmente para que o saída convergência e de possíveis oscilações sustentadas.
do controlador PI convergisse para um valor próximo O erro quadrático integrado foi computado du-
da unidade, ao mesmo tempo em que VT e RR atingis- rante todo a seqüência. Para sintonizar os ganhos,
sem valores próximos aos normais (tabela 1). Esses va- uma rotina foi escrita em MatLab a qual utilizava um
lores foram usados nas simulações subseqüentes. Os método simplex de busca (função FMINS (MatLab,
valores de estado estacionário dos integradores de VT e 1993) para minimizar o erro quadrático integrado.
RR, da PEEP aplicada, do controlador PI e de todos os Na busca dos melhores ganhos do controlador, o sis-
filtros do modelo foram usados como valores iniciais tema foi inicializado com vários conjuntos de ganhos.
para as rodadas de ajuste dos outros ganhos. Foram encontrados diversos mínimos locais tendo
Para sintonizar o controlador PI e os ganhos kVT e sido selecionados os ganhos que resultaram num des-
kRR, o sinal simulado de erro (equação 1) foi elevado ao ses mínimos. Esses ganhos foram aproximados a nú-
quadrado e integrado ao longo do tempo com integra- meros racionais.
dor discreto de intervalo de amostragem de 1 s. O sis- O controle foi testado, adicionalmente, submeten-
tema simulado rodou então a seqüência de passos: do-se-o a degraus de PetCO2. A simulação foi feita até
1- Com os integradores inicializados, PEEP em 12 os 500 s conforme o procedimento de otimização dos
cmH2O e PetCO2 desejada de 40 mmHg, foram li- ganhos. Então, com o LE ainda atuante, aos 600 s a
gados os dois laços CO2L e EL por 500 s; PetCO2 desejada foi alterada para 45 mmHg, aos 1000
2- EL desligado após esse período, PetCO2 desejada foi s para 35 mmHg e daí em diante, a cada 500 s, alterna-
trocada para 43 mmHg e a simulação foi mantida da entre os dois valores. Avaliou-se qualitativamente
por mais 100 s (apenas os sinais até esse instante o comportamento da PetCO2 medida em termos de
foram utilizados para os cálculos realizados). tempo de subida, “overshoot”, tempo de assentamen-
104 3- A simulação foi mantida por mais 400 s (até 1000 s to e oscilações sustentadas.
Tabela 2. Valores ótimos e valores utilizados dos ganhos do controlador . Table 2. Optimal and actually used gain
values of the controller.
44 45
PetCO2 (mmHg)
42 40
40
35
38
0 200 400 600 800 1000
30
55
Pressã o (cmH2O)
25
50
Ê (cmH2O/l)
45 20
40
0 200 400 600 800 1000 15
12
PEEP aplicada(cmH2O)
10
10
5
8
6 0
0 200 400 600 800 1000 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
tempo (s) Volume (ml)
Figura 2. Resultados da simulação com os ganhos ótimos. Esquerda: PetCO2, elastância estimada ( Ê ) e PEEP aplicada
durante a simulação. O trecho de tempo utilizado para a minimização do erro quadrático está mostrado em linha mais
grossa. O trecho restante foi utilizado apenas para observação visual da convergência e de possíveis oscilações
sustentadas. Direita: curvas das pressões inspiratórias e expiratórias finais versus volume (PxV) durante a simulação. O
segmento mais espesso representa a excursão das pressões extremas dos ciclos respiratórios (Palv e PEEP aplicada).
Círculos maiores: início da simulação; Sinal +: fim da simulação; pontos vazados: curva PxV polinomial completa.
Note-se o “undershoot” da PEEP. O pequeno triângulo marca a Palv no fim do controle da PEEP, com PetCO2 desejada
de 40 mmHg. Figure 2. Results of the simulations with optimal gains. Left: PetCO2, estimated elastance ( Ê ) and applied
PEEP during the simulation. The time period used in the minimization of the squared error is shown with a thicker line.
The remaining time was used only to the visual inspection of the convergence and of possible sustained oscillations.
Right: inspiratory and expiratory pressure versus volume (PxV) curves during the simulation. The thicker segment
represents the excursion of the extreme pressures of the respiratory cycles (Palv and applied PEEP). Larger circles:
beginning of the simulation; + mark: end of simulation; hollow dots: full polynomial PxV curve. Note the undershoot
of the PEEP. The small triangle marks Palv at the end of the PEEP control, with a desired PetCO2 of 40 mmHg. 105
Revista Brasileira de Engenharia Biomédica / v. 18 / n. 2
Brazilian Journal of Biomedical Enginnering / v. 18 / n. 2
Controlador automático da ventilação pulmonar mecânica
F.C. Jandre, A.V. Pino, F. Ascoli, A. Giannella-Neto
Discussão
50
Os resultados da simulação apoiaram os conceitos de
48
projeto. Os ganhos permitiram a convergência para
ventilações similares às observadas na prática. Não 46
PetCO2 (mmHg)
42
do a testes extremos, já que na prática é desnecessária
40
a exigência de degraus de PetCO2 e a variação em ram-
38
pa é satisfatória. Observe-se ainda que, de acordo com
a literatura (Artigas, Bernard et al., 1998), é recomendá- 36
0 0 0 0
0,9 1 1,1 1,2
10 10 10 10
0 0 0 0
1,3 1,4 1,5 1,6
10 10 10 10
0 0 0 0
1,7 1,8 1,9 2
10 10 10 10
0 0 0 0
0 1000 0 1000 0 1000 0 1000
tempo (s)
Figura 4. Resultados das simulações com varredura do fator multiplicativo da elastância e da resistência (f = 0,5 a 2).
Sobre cada gráfico está indicado o fator utilizado, e dentro do gráfico, além da curva de erro quadrático instantâneo
ao longo da simulação, o valor da integral desse erro no período simulado. O tempo de simulação foi de 1000 s.
Figure 4. Results of the simulations while sweeping the multiplier factor of elastance and resistance (f = 0,5 to 2). The
factor is indicated above each graph. The instantaneous squared error is plotted in the graphic. The value of the
integral of this error in the simulated period is indicated. Simulation time was of 1000 s.
0 0 0 0
0,9 1 1,1 1,2
10 10 10 10
0 0 0 0
1,3 1,4 1,5 1,6
10 10 10 10
0 0 0 0
1,7 1,8 1,9 2
10 10 10 10
0 0 0 0
0 1000 0 1000 0 1000 0 1000
tempo (s)
Figura 5. Resultados das simulações com varredura do fator multiplicativo da elastância e da resistência (f = 0,5 a 2),
após otimização dos ganhos para f = 0,5. Sobre cada gráfico está indicado o fator utilizado, e dentro do gráfico, além
da curva de erro quadrático instantâneo ao longo da simulação, o valor da integral desse erro no período simulado.
O tempo de simulação foi de 1000 s. Figure 5. Results of the simulations while sweeping the multiplier factor of
elastance and resistance (f = 0,5 to 2), after optimization to f = 0,5. The factor is indicated above each graph. The
instantaneous squared error is plotted in the graphic. The value of the integral of this error in the simulated period is
indicated. Simulation time was of 1000 s. 107
Revista Brasileira de Engenharia Biomédica / v. 18 / n. 2
Brazilian Journal of Biomedical Enginnering / v. 18 / n. 2
Controlador automático da ventilação pulmonar mecânica
F.C. Jandre, A.V. Pino, F. Ascoli, A. Giannella-Neto
trada subtrativa dependente da PEEP aplicada, quan- respiratória de pico (Rudowski, Skreta et al., 1990) ou a
do esta última decresce transitoriamente, VT aumenta já utilizada lei de Otis (Laubscher, Heinrichs et al., 1994).
independentemente da PetCO2 medida. Portanto, a A resistência é relacionada com o trabalho dissipativo e
PetCO2 cai brevemente até que o controlador PI atue em função dos modelos matemáticos empregados,
nos parâmetros ventilatórios. Se a PEEP atinge regime uma das contribuições da resistência total medida vem
permanente, o CO2L vai encontrar um novo conjunto da histerese da curva PxV. Assim sendo, a histerese
de parâmetros que atendam ao ajuste de PetCO2. Por pode estar relacionada a trabalho plastoelástico e a for-
outro lado, se a PEEP continuar variando, VT e portan- ças de recrutamento e derecrutamento ([Anon], 1999;
to PetCO2 não vão convergir para os valores corretos. Dreyfuss and Saumon, 1998). Porém neste trabalho,
Em condições reais este comportamento também po- estes elementos não foram simulados.
derá ser influenciado por distúrbios hemodinâmicos, No que diz respeito ao LE, a melhor PEEP foi de-
variações na capacidade residual funcional e na relação terminada como a menor PEEP que mantém as uni-
ventilação/perfusão dos pulmões. dades pulmonares abertas no fim da inspiração. Isto
No teste dos degraus de PetCO2, a figura 3 mostra deve ser capaz de evitar reabertura dos alvéolos a
que os “overshoots” e “undershoots” máximos são cada ciclo respiratório, minimizando o trauma nestes
pequenos, menores que 5 mmHg, mesmo com o LE tecidos. A abordagem do controlador foi a de encon-
ainda ligado. Também as oscilações são baixas e de trar uma combinação de PEEP e VT para posicionar o
curta duração, em torno de 100 a 200 segundos. Nota- sistema respiratório no ponto de mínima elastância.
se que o erro de quantização faz com que haja uma Apesar disto, este ponto de mínima elastância só é
oscilação sustentada de 1 mmHg, o que não compro- válido se as pressões de fim de expiração e inspiração
mete, no caso prático, o controle. Convém ressaltar se mantiverem na região mais linear da curva PxV,
que a estimativa da derivada da elastância pela PEEP, onde não haja recrutamento nem hiperdistensão de
usada no LE, na prática pode ser corrompida por per- alvéolos. Alguns autores questionam a validade da
turbações presentes nos parâmetros de entrada. Esse curva PxV como um critério de escolha para a PEEP. A
efeito deve ser avaliado com cautela. Entretanto, o curva só deve ser válida na situação estática ou quase
tempo de esquecimento utilizado neste trabalho para estática e não reflete o que ocorre na ventilação (Harris,
o cálculo do gradiente da elastância pelo RLS, de 20 s, Hess et al., 2000). Observações diretas (Carney,
por fazer com que amostras anteriores ainda sejam Bredenberg et al., 1999) e matemáticas (Hickling, 1998)
ponderadas no valor instantâneo da estimativa da sugerem que há alvéolos sendo recrutados e hiperdis-
derivada, sugere que essas possíveis perturbações tendidos mesmo na região mais linear da curva. As-
sejam atenuadas. sim não há um consenso sobre o ponto de ótima
A presente função objetivo, que se restringe a ser elastância como uma combinação da PEEP e do VT e
um exemplo de possíveis funções a serem implemen- outras propostas podem ser incorporadas como fun-
tadas como integrantes de controladores automáti- ção objetivo para a busca da PEEP ótima. Na figura 6,
cos de ventilação, não reflete integralmente as atuais observa-se o comportamento da elastância ao longo
propostas terapêuticas para evitar ou minimizar a do teste com degraus de PetCO2. Percebe-se a presen-
VILI. Limitar VT tem sido sugerido como manobra de ça de mínimos de elastância em diferentes valores de
proteção por diversos autores (Dreyfuss and Saumon, PEEP, dependendo da PetCO2 desejada. Essas relações
1998) apesar das dúvidas existentes sobre sua real efi- entre os critérios do controlador, parâmetros mecâni-
ciência (Brochard, Roudot-Thoraval et al., 1998). Por cos e ajustes ventilatórios podem ser complexas, no
outro lado, há evidências de que a RR pode influir na caso real, e necessitam de atenção.
VILI (Hotchkiss, Blanch et al., 2000), mas seus meca- Concluindo, um algoritmo de controle em malha
nismos ainda não são totalmente entendidos. Outras fechada foi proposto e simulado no qual uma função
funções poderiam ser incorporadas levando-se em objetivo explícita fez parte da definição de ótima
conta, por exemplo, a hipercapnia permissiva que tem regulagem para a ventilação. Consequentemente, a
sido mencionada como uma forma de minimizar os importância da dinâmica e do relacionamento entre
riscos de VILI através da redução da ventilação total , as muitas variáveis do projeto tornam-se claros. O
mesmo que isto não seja muito utilizado na prática sistema resultante pode ser usado para implementar
(Esteban, Anzueto et al., 2000). e avaliar outras funções objetivo relacionadas com
Possíveis relações outras que não a definida pela redução da VILI. Os resultados encorajam a avaliação
108 razão Palv/Pres considerariam, por exemplo, a energia do controlador em montagem experimental in vivo.
respiratory system predicts effects of PEEP in ARDS: computer-based system”, Comput.Methods Programs
“Occlusion” versus “Constant flow” technique”, Am Biomed., v. 31, n. 1, p. 33-42
J Respir Crit Care Med, v. 149, n. 1, p. 19-27 Schaublin, J., Derighetti, M., Feigenwinter, P., Petersen-
Rudowski, R., Skreta, L., Baehrendtz, S., Bokliden, A., Felix, S., Zbinden, A.M. (1996), “Fuzzy logic control
Matell, G. (1990), “Lung function analysis and of mechanical ventilation during anaesthesia”,
optimization during artificial ventilation. A personal Brit.J.Anaesth., v. 77, n. 5, p. 636-641
110
Revista Brasileira de Engenharia Biomédica / v. 18 / n. 2
Brazilian Journal of Biomedical Enginnering / v. 18 / n. 2