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O livro comporta três propostas: 1) uma crítica às principais contribuições das ciências
sociais ao estudo da urbanização, 2) a construção de um esquema teórico capaz de
entender os processos sociais subjacentes à problemática urbana, com base na teoria
marxista codificada em sua versão althusseriana, 3) investigações empíricas sobre
política urbana, tentando provar a eficácia dos novos instrumentos. Dessas três, a
primeira segue sendo a mais válida. Já o esquema teórico-formal proposto revelou-se
muito uma combinatória lógica, vazia de conteúdo intelectual, tanto pelo seu excessivo
formalismo como pela sua dependência geral do falido edifício althusseriano, intento
de reconstrução de um marxismo dogmático. Quanto às investigações teóricas, são tanto
mais validas quanto menos fiéis forem às premissas teóricas de que partiram.
No fim, o livro não diz mais que o seguinte: 1) a problemática urbana e fundamental em
nossa sociedade, 2) ela foi tratada de forma ideológica pelas ciências sociais, 3) o
marxismo não proporcionou as categorias necessárias porque a maior parte dos
problemas urbanos formam parte da esfera da reprodução, uma área que a
contribuição do marxismo é limitada, 4) no entanto, o papel do Estado em todo o
processo de urbanização exige uma teoria capaz de integrar a análise do espaço com a
das lutas sociais e dos processos políticos, por isso à referência ao marxismo é
obrigatória [o Estado assume um papel central na discussão sobre o urbano].
Voltando a pergunta inicial: existe ou não especificidade das realidades conotadas pela
ideologia do urbano no caso das sociedades dependentes? Sim e Não. Não, na medida
em que a articulação do modo de produção capitalista em escala mundial faz com que
os setores produtivos destas economias, integrados ao aparato produtivo internacional,
tenham semelhantes exigências em relação à reprodução da força de trabalho e, por
conseguinte, em relação à concentração, distribuição e gestão dos meios de tal
reprodução. Mas, essencialmente, sim, na medida em que as concentrações de
populações e atividades correspondem parcialmente a outra lógica, onde as exigências
de reprodução da força de trabalho para uma grande parte da população não são as
mesmas e onde a ideologia urbana é desviada pelos objetivos específicos do
imperialismo nestas sociedades.
Assim, a questão urbana nas sociedades dependentes parece contar de uma só vez com
três grandes fenômenos: 1) uma especificidade da estrutura de classes, derivada da
dinâmica do desenvolvimento desigual e combinado, sobretudo no processo de
superpopulação relativa, articulado estreitamente à expansão do setor monopolista
hegemônico ligado à lógica do capital internacional. Tal é a problemática da
“marginalidade”; 2) uma especificidade do processo coletivo da força de trabalho, que
determina a não exigência estrutural da reprodução de uma parte dessa força do ponto
de vista estrito da acumulação do capital. A consequência é a “urbanização selvagem”
subjacente à problemática da marginalidade “ecológica”; 3) a assistência pública, ao
nível de consumo, para as massas populares, em termos de uma estratégia populista de
mobilização social.
MODO DE UTILIZAÇÀO, OU, SE PREFERIRMOS, ADVERTÊNCIA
EPISTEMOLÓGICA