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CASTELLS, Manuel. A questão urbana. São Paulo: Paz e terra, 2000.

PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA (1981)

O livro comporta três propostas: 1) uma crítica às principais contribuições das ciências
sociais ao estudo da urbanização, 2) a construção de um esquema teórico capaz de
entender os processos sociais subjacentes à problemática urbana, com base na teoria
marxista codificada em sua versão althusseriana, 3) investigações empíricas sobre
política urbana, tentando provar a eficácia dos novos instrumentos. Dessas três, a
primeira segue sendo a mais válida. Já o esquema teórico-formal proposto revelou-se
muito uma combinatória lógica, vazia de conteúdo intelectual, tanto pelo seu excessivo
formalismo como pela sua dependência geral do falido edifício althusseriano, intento
de reconstrução de um marxismo dogmático. Quanto às investigações teóricas, são tanto
mais validas quanto menos fiéis forem às premissas teóricas de que partiram.

No fim, o livro não diz mais que o seguinte: 1) a problemática urbana e fundamental em
nossa sociedade, 2) ela foi tratada de forma ideológica pelas ciências sociais, 3) o
marxismo não proporcionou as categorias necessárias porque a maior parte dos
problemas urbanos formam parte da esfera da reprodução, uma área que a
contribuição do marxismo é limitada, 4) no entanto, o papel do Estado em todo o
processo de urbanização exige uma teoria capaz de integrar a análise do espaço com a
das lutas sociais e dos processos políticos, por isso à referência ao marxismo é
obrigatória [o Estado assume um papel central na discussão sobre o urbano].

PRÓLOGO DA EDIÇAO PARA A AMÉRICA LATINA: A QUESTÃO URBANA


NAS SOCIEDADES DEPENDENTES

Tentamos demonstrar que a problemática urbana conotava no modo de produção


capitalista e, em particular, em seu estágio mais avançado, os processos e as unidades de
reprodução socializada da força de trabalho. Mas, o que ocorre com a problemática
apresentada quando se trata de analisar formações sociais dependentes no âmbito do
modo de produção capitalista? Por um lado, está claro que existe uma especificidade
histórico-estrutural dessas situações. Como o livro foi desenvolvido a partir do referente
histórico dos países capitalistas dominantes, fica a pergunta: pode-se ou não transpor a
perspectiva aqui desenvolvida em todas as situações que o modo de produção capitalista
é dominante? O problema é complicado à medida em que nos deparamos, ao mesmo
tempo, ante uma especificidade do urbano, mas dentro do modo de produção capitalista.
É preciso pensar em termos de situações particulares interdependentes, articuladas num
processo global. Qual é, então, o sentido da “questão urbana” nas sociedades capitalistas
caracterizadas pela inserção no polo “dependente” das relações articuladas em escala
mundial? Antes de tudo, partiremos da não identidade dos três elementos principais, que
encontramos como característicos da problemática urbana nas sociedades capitalistas
dominantes: as formas espaciais, o processo de reprodução da força de trabalho e sua
articulação com a reprodução do urbano.

Do ponto de vista das ideologias urbanas, destaca-se o neomalthusianismo. Do ponto


de vista das formas espaciais, é preciso desvendar o que tais características espaciais
significam em termos de relações sociais a partir do desenvolvimento de uma análise de
seu papel na acumulação do capital, na reprodução da ordem social, do
desenvolvimento da luta de classes e da dinâmica do sistema político-ideológico.
Assim, a análise das formas de organização do espaço nas sociedades dependentes não
podem ser o ponto inicial da análise, mas sua fase final mediante a reconstituição das
relações sociais que organizam e dão conteúdo histórico preciso às distintas formas
espaciais. Do ponto de vista dos processos de reprodução coletiva da força de trabalho,
tem-se uma parcela importante da população desconsiderada pelo capital no processo de
reprodução da força de trabalho, criando uma força de trabalho potencial fora da
dinâmica reprodutiva.

Voltando a pergunta inicial: existe ou não especificidade das realidades conotadas pela
ideologia do urbano no caso das sociedades dependentes? Sim e Não. Não, na medida
em que a articulação do modo de produção capitalista em escala mundial faz com que
os setores produtivos destas economias, integrados ao aparato produtivo internacional,
tenham semelhantes exigências em relação à reprodução da força de trabalho e, por
conseguinte, em relação à concentração, distribuição e gestão dos meios de tal
reprodução. Mas, essencialmente, sim, na medida em que as concentrações de
populações e atividades correspondem parcialmente a outra lógica, onde as exigências
de reprodução da força de trabalho para uma grande parte da população não são as
mesmas e onde a ideologia urbana é desviada pelos objetivos específicos do
imperialismo nestas sociedades.

Assim, a questão urbana nas sociedades dependentes parece contar de uma só vez com
três grandes fenômenos: 1) uma especificidade da estrutura de classes, derivada da
dinâmica do desenvolvimento desigual e combinado, sobretudo no processo de
superpopulação relativa, articulado estreitamente à expansão do setor monopolista
hegemônico ligado à lógica do capital internacional. Tal é a problemática da
“marginalidade”; 2) uma especificidade do processo coletivo da força de trabalho, que
determina a não exigência estrutural da reprodução de uma parte dessa força do ponto
de vista estrito da acumulação do capital. A consequência é a “urbanização selvagem”
subjacente à problemática da marginalidade “ecológica”; 3) a assistência pública, ao
nível de consumo, para as massas populares, em termos de uma estratégia populista de
mobilização social.
MODO DE UTILIZAÇÀO, OU, SE PREFERIRMOS, ADVERTÊNCIA
EPISTEMOLÓGICA

Não há possibilidade puramente teórica de resolver (ou ultrapassar) as contradições que


estão na base da questão urbana; esta ultrapassagem só pode provir da prática social,
quer dizer, da prática política. Mas, para que uma prática destas seja justa e não cega, é
necessário explicitar teoricamente as questões abordadas desta maneira, desenvolvendo
e especificando as perspectivas do materialismo histórico. As condições sociais de
emergência desta reformulação são extremamente complexas, mas, em todo caso,
podemos estar certos de que elas exigem um ponto de partida ligado historicamente ao
movimento operário e à sua pratica.

I – O PROCESSO HISÞÓRICO DE URBANIZAÇÃO

I – O fenômeno urbano: delimitações conceituais e realidades


históricas

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