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OS ESTUDOS HISTÓRICOS1.
WILLIANS ALVES DA SILVA2
RESUMO
O objetivo deste artigo é perceber a importância do Meio Ambiente para a História. Tendo em vista as
novas pesquisas e os intensos diálogos com outras disciplinas, percebemos o quanto a relação
homem/natureza enriquece as discussões no campo historiográfico. Diante disso, elencamos estudos em
História que articularam e perceberam tais nuances, corroborando para a defesa, ampliação e visibilidade,
cada vez mais necessárias, dos estudos de História e Meio Ambiente.
RESUME
The purpose of this article is to understand the importance of the Environment for History. In view of new
research and intense dialogues with other disciplines, we realize how much the relationship between man
and nature enriches discussions in the historiographic field. Therefore, we list studies in History that
articulated and perceived such nuances, corroborating the increasingly necessary defense, expansion and
visibility of History and Environment studies.
1
Artigo feito para a disciplina História e Meio Ambiente, ministrada pelo professor Agostinho Júnior
Holanda Coe. Turno: Noite, 2020.1.
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Discente do curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.
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temas cada vez mais urgentes e necessários. Estar consciente do espaço em que se vive,
das suas interrelações e conexões com as diversas manifestações da natureza/homem,
assim como estar atento aos seus recursos e, principalmente às formas de preservação e
manutenção, são projetos de conscientização que precisam de fomento e investimento
cada vez maiores, uma vez que o meio natural está em intenso diálogo com mais diversas
esferas e formas de vida; em outras palavras, o meio ambiente faz parte das conivências,
relações sociais, pessoais e culturais.
3
BITTERNCOURT, Circe Maria Fernandes. Meio Ambiente e ensino de história. História & Ensino,
Londrina, v. 09, out. 2003, p. 38. Disponível em:
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/view/12076.
4
BLOCH, Marc. Apologia da história, ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
5
DRUMMOND, José Augusto. A história Ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 8, 1991, p. 01. Disponível em:
http://www.nuredam.com.br/files/divulgacao/artigos/Hist%F3ria%20Ambiental%20Drumond.pdf.
6
PÁDUA, José Augusto. As bases teóricas da história ambiental. Estudos avançados 24 (68), 2010, p.82.
Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ea/v24n68/09.pdf.
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7
PÁDUA, José Augusto. As bases teóricas da história ambiental. Estudos avançados 24 (68), 2010, p.82.
8
Esse termo usado nas Ciências Humanas é fruto do diálogo com as Ciências Naturais, sendo a palavra
“híbrido” ou “hibridismo” emprestada da botânica.
9
Café História, matéria História Ambiental: historiografia comprometida com a vida, por Gil Karlos
Ferri, em 05 de abril de 2017. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/historia-ambiental-
historiografia-comprometida-com-a-vida/.
10
DRUMMOND, José Augusto. A história Ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 8, 1991, p. 06.
4
11
SOFFIATI, Arthur. Algumas palavras sobre uma teoria da eco-história. Desenvolvimento e Meio
Ambiente, n. 18, jul./dez. 2008. Editora UFPR, p. 18. Disponível em:
https://revistas.ufpr.br/made/article/view/13420/9046.
5
de culturas e dos mais diversos sistemas de relações. A historiadora Rosalie David (2011)
aponta a importância das inundações Nilo:
12
DAVID, Rosalie. Religião e magia no Antigo Egito. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p. 31 e 31.
13
DUBY, Georges. O ano mil. Lisboa: Edições 70, 1967, p. 111.
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14
A obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, foi mencionada devido a sua grande importância histórica
nos estudos sobre o Brasil.
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Vale lembrar que muitas dessas discussões - as novas perspectivas de estudos e abordagens, na História
- foram possíveis pela revista historiográfica dos Annales (1929), que ampliou os novos métodos e fontes
do fazer historiográfico.
16
LADURIE, Emmanuel Le Roy. O clima: a história da chuva e do bom tempo. In: LE GOFF, Jacques.
NORA, Pierre (orgs.). História: novos objetos. Rio de Janeiro: F. Alves, 1976, p. 13.
7
dos provérbios, mas também por duas advertências paralelas”17; estas podem ser
sinalizadas como uma expressão do discurso poético e pelos relatos das viagens.
17
DELUMEAU, Jean. História do medo no ocidente 1300-1800: uma cidade sitiada. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009, p. 55.
18
BITTERNCOURT, Circe Maria Fernandes. Meio Ambiente e ensino de história. História & Ensino,
Londrina, v. 09, out. 2003, p. 43.
19
BRAUDEL, Fernand; O Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo na época de Filipe II. Vol. 01, São
Paulo: EDUSP, 2016, p. 32.
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natureza que os colonizadores extraíram de nossas terras, sem dó. Toda uma estrutura de
extração e comércio, além de inúmeras relações conectadas a essas camadas e texturas,
foram desenvolvidas com base nessa relação de exploração com o meio natural. José
Augusto Drummond (2002), no seu ensaio temático “Por que estudar a história do
Brasil”, elenca sete razões para incluir história e meio ambiente nos estudos brasileiros,
afirmando ser o Brasil um objeto privilegiado para a história ambiental; as razões são:
grandeza territorial, tropicalidade, variedade de biomas e ecossistemas, pré-história curta,
a longa experiência da comunidade primitiva, a colonização mista e “imperialismo
ecológico” e os tesouros naturais do Brasil20.
20
DRUMMOND, José Augusto. Por que estudar a história ambiental no Brasil? Varia História, nº 26,
2002, p. 16-18. Disponível em:
https://static1.squarespace.com/static/561937b1e4b0ae8c3b97a702/t/572b555f4c2f8564c3833c55/146245
7695947/01_Drummond%2C+Jose+Augusto.pdf.
21
DE CARAVALHO, Ely Bergo. A história natural e a “crise ambiental” contemporânea: um desafio
político para o historiador. Revista Esboço, v.11 n.11, UFSC, 2004, p. 106. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/309233179_Historia_Ambiental_e_a_crise_ambiental_contemp
oranea_um_desafio_politico_para_o_historiador.
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Sobre a História Agrária, Maria Yedda Linhares (1997) discute que esse
campo de estudo é um encontro feliz com a geografia humana, tendo, de um lado, o
historiador – “preocupado em explicar as mudanças operadas pela ação do homem através
dos tempos – e do outro, o geógrafo – dedicado ao estudo da relação do homem com seu
meio físico”23. Donald Worster (2003) afirma que esta nova história (a história
ambiental) rejeita a suposição comum de que a experiência humana tem sido isenta de
constrangimentos naturais, que as pessoas são uma espécie separada e singularmente
especial e que as consequências ecológicas de nossos feitos passados podem ser
ignoradas24. Reafirmando, rejeita. As relações entre o homem e o seu meio estão
desenvolvendo pesquisas cada vez mais profícuas, elaborando muitos estudos que
comprovam a importância de tais associações. História Agrária, Eco-História, relações
climáticas, o meio ambiente e as doenças, o estudo do meio ambiente nas salas de aulas,
etc. O campo temático tem ganhado cada vez mais espaços, sublinhando, mais uma vez,
que a História é o estudo do homem no tempo, no espaço e nas suas significativas relações
com o meio.
3. CONCLUSÃO
22
FROEHLICH, José Marcos. Gilberto Freyre, a história ambiental e a ‘rurbanização’. História, ciência
e saúde. Manguinhos vol.7 no.2 Rio de Janeiro July/out. 2000.
23
LINHARES, Maria Yedda. História agrária. In: CARDOSO, Ciro Flamarion. VAINFAS, Ronaldo.
(orgs.). Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997, p. 165.
24
WORSTER, Donald. Transformações da terra: para uma perspectiva agroecológica na história.
Ambiente & Sociedade - Vol. V - no 2 - ago./dez. 2002 - Vol. VI - no 1 - jan./jul. 2003, p. 24. Disponível
em: https://orgprints.org/20347/1/Worster_transforma%C3%A7%C3%B5es.pdf.
25
WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 8,
1991, p. 02. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2324/1463.
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que a História ganhou, e muito, quando entendeu que a natureza e o meio ambiente são
partes fundamentais na compreensão dos sujeitos históricos e das suas inúmeras práticas.
Como foi visto, a História respondeu, ainda que muitas vezes de forma indireta, a esses
novos problemas, sendo muito os trabalhos e pesquisas que se inclinam às temáticas
homem/meio/natureza. A história ambiental é fruto de diferentes diálogos e muitas
pesquisas sérias. Percebeu-se o quanto muitas flutuações e encontros são possíveis e
ricos; a interdisciplinaridade e os empréstimos a outras ciências, por exemplo, têm dado
ao campo historiográfico novas chaves de análises, assim como diferentes articulações
sobre muitas temáticas históricas. História e Meio Ambiente é necessária, é importante e
precisa ganhar cada vez mais novos espaços. História é isso. É diálogo e encontros; o
homem está no tempo, nos lugares, no meio. Perceber a importância da natureza na
explicação de muitos contextos só prova que os pesquisadores, felizmente, seguem o
conselho de Marc Bloch (2001), quando afirma que é preciso farejar a carne humana.
Continuemos, assim, sendo esse ogro que busca o homem, seja onde ele estiver.
REFERÊNCIAS