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Ana Paula – Finanças Públicas

Curso Completo de Finanças Públicas

O MANUAL DO FEITICEIRO

PIERO SIERRA

“Um velho feiticeiro, especializado em economia, desenvolveu, há muito tempo, uma fórmula mágica
para países terem sucesso em obter bom desenvolvimento econômico, melhoria do teor de vida e
inflação contida.

Um dia, cansado, ele se aposentou e deixou seu laboratório nas mãos dos jovens alunos, tendo o
cuidado de lhes confiar um manual de ingredientes intitulado Livro Mágico da Economia.

Foi sorte nossa encontrar uma antiga cópia do manual, que diz o seguinte:

Caros aprendizes de feiticeiro,

A fórmula mágica para se obter uma economia sadia varia de momento e de país a país, mas é sempre
composta pelos mesmos ingredientes. A arte consiste em saber dosá-los nas quantidades certas e
aplicá-los no momento oportuno.

Memorize bem as proporções ótimas dos principais reagentes.

1. Despesa pública

Este ingrediente é a base da fórmula. Em geral, quanto menor a dose mais saudável a economia. Mas
cuidado! Existem várias quantidades desta erva. A de melhor qualidade se chama infra-estrutura
(escolas, estradas, energia, comunicações, portos...). Esta variedade, se misturada com boas doses de
eficiência, pode fazer milagres. A segunda variedade, reconhecida por forte cheiro de enxofre, é
constituída de subsídios, funcionários inúteis, de participação artificial na economia e outras ervas
daninhas. Fiquem longe desta variedade. Há casos em que ela conseguiu matar todas as galinhas dos
ovos de ouro em menos de dez anos.

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2. Impostos

Não há como evitar este ingrediente, mas a regra da dosagem é milenar. Ela não permite invenções
criativas. O aprendiz sofrerá a tentação de aumentar a dosagem como forma de compensar a
ineficiência do seu governo, mas este será um recurso de desespero. Além do ponto crítico, o imposto
vira veneno. O feiticeiro será o primeiro a sentir os efeitos desse mal e, a seguir, a economia será
atingida. Perdi muitos colegas assim.

3. Câmbio

A chamada política cambial controla os níveis de um ingrediente importado, a disputada erva ‘verde’.
Ela é bastante eficaz quando utilizada em minidosagens. A falta de adequação mata as exportações, cria
alucinações coletivas. No sentido contrário, doses cavalares mata a economia toda. A arte do alquimista
é não deixar de aplicar a técnica, mas sempre em doses homeopáticas. O erro mais comum dos
aprendizes é achar que o câmbio seja efetivamente controlável pelo feiticeiro. Na verdade, ele produz
um fungo de cor escura chamado black, que prolifera espontaneamente quando se desequilibra a
adequação da erva ‘oficial’. O fungo black é um bom indicador da saúde do paciente, sendo sua
manifestação inversamente proporcional à confiança pública. Ele não reage a ameaças. É sensível à taxa
de juros, mas não por muito tempo.

4. Proteções

Assim chamados os amuletos que, segundo crenças locais, têm o poder de proteger e estimular o
investimento na economia nacional. São as ‘barreiras alfandegárias’, as ‘reservas de mercado’, os
‘contingenciamentos’, as ‘discriminações’ e outras superstições. O aprendiz pode querer utilizar-se
desses amuletos para atingir metas específicas, mas eles podem, comprovadamente, agir no sentido
contrário. De fato, proteções exageradas fazem com que boa parte da economia, acreditando em
poderes sobrenaturais, distraia-se dos mecanismos das leis de mercado e perca o seu poder de
competição, causando inflação e atraso tecnológico. O feiticeiro deve exorcizar as proteções, antes que
seu próprio país seja exorcizado.

5. Juros

Aí está, caros aprendizes de feiticeiro, uma erva mágica, poderosa e difícil. O juro é o contrapeso da
economia. Quando ele desce, o investimento sobe. O aprendiz sentirá, portanto, a tentação de baixá-lo,
mas, infelizmente, esta erva traz consigo uma antiga maldição: juros baixos demais afugentam os
investidores financeiros, quebram bancos e fazem disparar o paralelo. Nenhum alquimista da história
chegou a acertar perfeitamente a dosagem. Vocês também vão experimentar e errar. Muitas vezes, na
dúvida, os colegas aumentam a dose de juros, achando que será bom contra a inflação, favorável ao
recolhimento de aplicações, bom para os banqueiros e ruim para o paralelo. Isso aumenta bastante o
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risco de ‘calotagem’ no sistema mas, afinal, como quem vai pagar a conta é o próprio feiticeiro, o
ingrediente juros altos goza de grande popularidade. Fique sempre com níveis razoáveis, sem pulos
bruscos.

6. Salários

Ingrediente misterioso que tem a propriedade de crescer por fora enquanto diminui por dentro. Tome
cuidado com ele. Há casos até recentes em que uma overdose de salário real levou a excesso de
demanda, escassez, inflação e até a conseqüências políticas extravagantes. Por outro lado, é fácil deixar
que o nível desça abaixo da linha da fome, caracterizada por agitações e grevismos (...).

7. Preços

Como a febre, o preço alto é resultante da má saúde econômica e não um agente independente. Mas a
tentação de mexer com este ingrediente é grande, como se fosse ele a causa e não conseqüência.
Desde a Idade Média, inúmeros feiticeiros repetiram o erro básico de injetar doses maciças do chamado
‘controle de preços’ (...). Nem sabiam que a maior parte da economia ignora tranqüilamente qualquer
controle, outra parte tem meios para contorná-lo oficialmente e, o restante, vítima de toda possível
arbitrariedade, entra na dança diabólica do flagelamento em turnos. O medo de entrar neste rodízio
infernal faz com que cada um alimente ainda mais a inflação para se proteger. Chegaram até a criar uma
categoria de feiticeiros especializados para administrar esta bagunça organizada. Amigo aprendiz, fique
fora disto. Você vai provocar distorções, redistribuições de febre, desconfiança, mais inflação e outras
calamidades. Nem o ‘Grande Espírito’ conseguiria controlar um processo feito de bilhões de decisões
individuais. Imagine você tentar (...).

8. Investimento

Este ingrediente milagroso é o verdadeiro carvão da locomotiva da recuperação. Infelizmente, como o


preço, o investimento (especialmente a variedade estrangeira), não se deixa comandar. Ele é de difícil
canalização. Como a água, segue o caminho mais fácil e acaba parando nas áreas mais receptivas.
Portanto, não perca tempo com estudos de dosagem. Crie um recipiente bem grande, chamado
‘confiança’ e derrube as barragens existentes, tais como hostilidade à livre empresa, reservas de
mercado, interferências burocráticas, discriminação e outras. Gota a gota, o investimento vai encher o
recipiente, nele permanecer e alimentar a nova economia.

Enfim, não esqueçam que, dosados os ingredientes, permanece a maior dificuldade: misturá-los. Nessa
fase do processo, o feiticeiro não ficará sozinho. Estará cercado de conselheiros e grupos clamantes,
cada qual tentando mudar a mistura segundo os interesses das classes que representam. É o momento
do grande perigo, porque a fórmula final, às vezes chamada de pacote (não use a palavra, dá azar),
pode ficar esvaziada e estragar tudo. Não se deixe desviar.
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Assim, termina o manual do velho feiticeiro, coberto de teias de aranha. Será que alguém se dará conta
de limpá-lo e aplicar-lhe a mágica?”

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