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Nesta obra, as características do espaço físico são muito importantes uma vez
que nos levam a concluir o modo de vida e as características das próprias
personagens.
Santa Olávia:
Esta é o símbolo de vida, ligada à água que contrasta com Lisboa, “a cidade
degradada”.
“ (…) que o prendera mais a Santa Olávia fora a sua grande riqueza de águas
vivas, nascentes, repuxos, tranquilo espelhar de águas paradas, fresco murmuro
de águas regantes… E a esta viva tonificação de água atribuía ele o ter vindo
assim, desde o começo do século, sem uma dor e sem uma doença, mantendo a
rica tradição de saúde da sua família, duro, resistente aos desgostos e anos –
que passavam por ele, tão em vão, como passavam em vão, pelos seus robles
de Santa Olávia, anos e vendavais”. (capitulo I)
Lisboa
Ramalhete:
O Ramalhete localizava-se em Lisboa, Bairro das Janelas Verdes, Rua de S.
Francisco de Paula
Fachada:
A fachada do Ramalhete foi a única secção da casa que ainda se manteve intacta
depois das obras.
Jardim:
As obras:
Após as obras
O pátio:
O Corredor:
O Salão Nobre:
“ (…) Todo em brocados de veludo cor de musgo de Outono, havia uma bela tela
de Constable, o retrato da sogra de Afonso, a condessa de Runa, de tricorne de
plumas e vestido escarlate de caçadora inglesa, sobre um fundo de paisagem
enevoada”.
“Defronte era o bilhar, forrado de um couro moderno trazido por Jones Bule,
onde, por entre a desordem de ramagens verde-garrafa, esvoaçavam cegonhas
prateadas”.
O “fumoir”:
O escritório de Afonso:
No segundo andar:
Outros Aspectos
O luxo:
“De resto, não desgostava do Ramalhete, apesar de Carlos, com o seu fervor
pelo luxo dos climas frios, ter prodigalizado de mais as tapeçarias, os pesados
reposteiros e os veludos”.
O Quintal:
A vista do terraço:
“ (…) Donde outrora, decerto, se abrangia até ao mar. Mas as casas edificadas
em redor, nos últimos anos, tinham tapado esse horizonte esplêndido. Agora,
uma estreita tira de água e monte que se avistava entre dois prédios de cinco
andares, separados por um corte de rua, formava toda a paisagem defronte do
Ramalhete”.
A Cascata:
Consultório de Carlos
“Carlos não decidira fazer «exclusivamente» clínica: mas desejava decerto dar
consultas, mesmo gratuitas, como caridade e como prática. Então Vilaça sugeriu
que o consultório estivesse separado do laboratório”.
- E o consultório, meu senhor, não é aqui, nem acolá; é no Rossio, ali em pleno
Rossio!”
“E tanto se agitou, que daí a dois dias tinha alugado um primeiro andar de
esquina.
“O gabinete de Carlos ao lado era mais simples, quase austero, todo em veludo
verde-negro, com estantes de pau-preto. Alguns amigos que começavam a
cercar Carlos, Taveira, seu contemporâneo e agora vizinho do Ramalhete, o
Cruges, o marquês de Souselas, com quem percorrera a Itália — vieram ver
estas maravilhas”.
“Ocupava-se então mais do laboratório, que decidira instalar no armazém, às
Necessidades. (...) Entrava-se por um grande pátio, onde uma bela sombra
cobria um poço, e uma trepadeira se mirrava nos ganchos de ferro que a
prendiam ao muro. Carlos já decidira transformar aquele espaço em fresco
jardinete inglês; e a porta do casarão encantava-o, ogival e nobre, resto de
fachada de ermida, fazendo um acesso vulnerável para o seu santuário de
ciência”. (capitulo IV)
É a partir dos espaços onde Maria Eduarda esteve, nomeadamente nesta casa,
que Carlos vai tentando adivinhar a personalidade que a caracteriza.
Na primeira vez que Carlos vai à casa de Maria, quando da visita a Rosa, este
apreende neste espaço uma atmosfera de intimidade, sensualidade e luxo.
Na segunda vez, Carlos considera a casa acolhedora, que por sua vez lhe
transmite várias sensações: o bom gosto e o requinte de algumas peças, onde
se destacam o Manual de Interpretação de Sonhos e uma caixa de pó de arroz
ornamentada como se fosse uma coccote. Estes são um presságio da dualidade
de Maria, já que se ligam a Afrodite (deusa do amor e elemento perverso do ser
feminino) e revelam o meio cultural distante do de Carlos, evidência a que este
é sensível.
Mas o que atraiu Carlos foi um bonito biombo de linho cru, com ramalhetes
bordados, desdobrado ao pé da janela, fazendo um recanto mais resguardado e
mais íntimo. Havia lá uma cadeirinha baixa de cetim escarlate, uma grande
almofada para os pés, uma mesa de costura com todo o trabalho de mulher
interrompido, números de jornais de modas, um bordado enrolado, molhos de lã
de cores transbordando de um açafate. E, confortavelmente enroscada no macio
da cadeira, achava-se aí, nesse momento, a famosa cadelinha escocesa, que
tantas vezes passara nos sonhos de Carlos, trotando ligeiramente atrás de uma
radiante figura pelo Aterro fora, ou aninhada e adormecida num doce regaço...”
(capitulo XI)
Os vários espaços onde Maria Eduarda viveu durante a sua vida estão
relacionados com os altos e baixos da sua vida.
Após ter saído de Portugal com a sua mãe, Maria Monforte, foi para um convento
onde adquiriu hábitos saudáveis. Este espaço também está relacionado com a
pureza, religião e paz, que, no entanto, muda quando vai viver com a sua mãe
no Parque Monceaux. Esta era uma casa de jogo, mas sofisticada e luxuosa.
Agora, em vez de hábitos saudáveis exemplares que verificava e praticava no
convento, de manhã deparava-se com paletós de homens por cima dos sofás, ou
seja, algo completamente diferente.
E partira com ele, sem precipitação, como sua esposa, levando todas as suas
malas”.
“Alugaram então, no bairro pobre de Soho, três quartos mal mobilados. Era o
lodging de Londres em toda a sua suja, solitária tristeza; uma criadita única,
enfarruscada como um trapo; alguns carvões húmidos fumegando mal na
chaminé; e para jantar um pouco de carneiro frio e cerveja da esquina”.
(capitulo XV)
Vila Balsac:
Ega passa grande parte do seu tempo no quarto. Este tem cor vermelha
relacionada com a vida e a morte; e um espelho que enfatiza o carácter
narcisista e ocioso de Ega.
Na sala não existe qualquer tipo de decoração, é uma espécie de espaço de um
“intelectual”, o que faz a oposição entre as ideias que manifesta e aquilo que é,
uma vez que a sua sensualidade sobrepõe-se à sua faceta intelectual.
Toca:
Toca é o nome dado à habitação de certos animais, apontando desde logo para o
carácter canibalesco do relacionamento amoroso entre Carlos e Maria Eduarda.
Este é o recanto idílico, nos Olivais, onde Maria Eduarda e Carlos partilham as
curtas juras de Amor. Propriedade de Craft arrendada por Carlos para preservar
a sua privacidade amorosa, representa simbolicamente o “território” de Carlos e
Maria Eduarda.
“Logo depois do portão, penetrava-se numa fresca rua de acácias, onde cheirava
bem. A um lado, por entre a ramagem, aparecia o quiosque, com tecto de
madeira, pintado de vermelho, que fora o capricho de Craft, e que ele mobilara à
japonesa. E ao fundo era a casa, caiada de novo, com janelas de peitoril,
persianas verdes, e a portinha ao centro sobre três degraus, flanqueados por
vasos de louça azul cheios de cravos.”
“Maria Eduarda resvalara sobre uma cadeira, junto da porta, num cansaço
delicioso, deixando calmar o alvoroço do seu coração.
“Começaram pelo segundo andar. A escada era escura e feia: mas os quartos
em cima, alegres, esteirados de novo, forrados de papéis claros, abriam sobre o
rio e sobre os campos.(...)”
(…) O melhor é baptizá-la definitivamente com o nome que nós lhe dávamos.
Nós chamávamos-lhe a Toca.”
(…) Para desfazer essa impressão desconsolada levou-a ao salão nobre, onde
Craft concentrara as suas preciosidades. Maria Eduarda, porém, ainda
descontente, achou-lhe um ar atulhado e frio de museu.
Era ao centro, sobre uma larga peanha, um ídolo japonês de bronze, um deus
bestial, nu, pelado, obeso, de papeira, faceto e banhado de riso, com o ventre
ovante, distendido na indigestão de todo um universo — e as duas perninhas
bambas, moles e flácidas como as peles mortas de um feto. E este monstro
triunfava, enganchado sobre um animal fabuloso, de pés humanos, que dobra
vapara a terra o pescoço submisso, mostrando no focinho e no olho oblíquo todo
o surdo ressentimento da sua humilhação...
“Os banhos eram ao lado, com um pavimento de azulejo, avivado por um velho
tapete vermelho da Caramânia”. (capitulo XIII)
Ao princípio este esplendor tornou Carlos venerado dos fidalgotes, mas suspeito
aos democratas; quando se soube, porém, que o dono destes confortos lia
Proudhon, Augusto Comte, Herbert Spencer, e considerava também o país uma
choldra ignóbil — os mais rígidos revolucionários começaram a vir aos Paços de
Celas tão familiarmente como ao quarto do Trovão, o poeta boémio, o duro
socialista, que tinha apenas por mobília uma enxerga e uma Bíblia.” (capitulo IV)
Estrangeiro
- Pedro e Maria Monforte vão viver para Itália e Paris devido à recusa do seu
casamento pelo pai de Pedro;
- Maria Eduarda ao descobrir o seu parentesco com Carlos, vai vier para Paris;
- Carlos da Maia vai viver para Paris apões se ter apercebido que falhara na sua
vida.