Uma Ferramenta para Construção de Aplicações
Telejornalísticas em TV Digital Interativa
Marcelo Fernandes, Ed Porto, Tatiana Aires,
Jacqueline Lima, Edviges Lima
Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital
Departamento de Informática - UFPB
Campus I – Cidade Universitária
João Pessoa/PB – 58059-900
marcelo@lavid.ufpb.br, edporto@di.ufpb.br,
tatiana@lavid.ufpb.br, jkklima@gmail.com,
edviges@lavid.ufpb.br
Resumo — No contexto do telejornalismo percebe-se,
diariamente, um volume exacerbado de informações. Isto
exige um alto grau de desdobramento das equipes dos
telejornais, uma vez que o intervalo de tempo entre a
cobertura da matéria e a veiculação desta se minimiza a cada
dia. Atualmente, para a criação de aplicações interativas, os
jornalistas carecem do suporte da equipe de informática e isso
pode atrasar o processo de elaboração de matéria interativa.
É proposta a criação de uma ferramenta, chamada
iTVnews, para construção de aplicações telejornalísticas em
TVDI (TV Digital Interativa). Essa ferramenta usa um
repositório com aplicações configuráveis que serão
parametrizadas pelos jornalistas, diminuindo assim o suporte
da equipe de informática.
(Palavras-Chave) telejornalismo; iTVnews; TVDI; repositório;
I. INTRODUÇÃO
Diante do expressivo déficit de leitores de jornal no país,
pode-se dizer que atualmente o telejornal é um dos
principais meios através do qual a população brasileira se
informa. Os telejornais são os produtos de informação de
maior impacto na sociedade contemporânea [1].
Nos últimos anos aumentou-se a quantidade de edições
telejornalísticas e os avanços técnicos proporcionaram uma
maior flexibilidade à transmissão informativa. Isso aplicado
às telecomunicações e à melhoria das redações de imprensa
favorece a imediaticidade na informação, uma vez que o
intervalo de tempo entre a cobertura da matéria e a
veiculação desta se minimiza a cada dia.
Com a implantação da TVDI, as emissoras de TV estão
passando por importantes transições em suas diversas áreas,
inclusive a área de telejornalismo. Pode-se assegurar que o
cenário do telejornalismo, tal qual se conhece atualmente,
está prestes a sofrer profundas modificações.
O middleware brasileiro, o Ginga [2][3], possui muitos
recursos e inovações. Isso nos faz imaginar a riqueza de
aplicações interativas que podem ser apresentados na
plataforma digital da televisão e, em especial, nos
telejornais. No entanto, uma aplicação interativa para TVDI
Lívia Cirne
Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Departamento de Comunicação – UFPE
Centro de Artes e Comunicação
Cidade Universitária
Recife/PE - 50670-901
liviacirne@gmail.com.br
é um software como outro qualquer e, por isso, necessita de
tempo para ser totalmente especificado, implementado e
testado. Notadamente, tempo é um recurso escasso dentro
do contexto telejornalístico.
Tendo em vista essa problemática, este trabalho propõe
uma ferramenta de criação de aplicações interativas, focada
no contexto telejornalístico, chamada iTVnews. Ela tem sido
desenvolvida através de um estudo comparativo sobre
ferramentas similares já existentes (capítulo III) e a
experiência adquirida ao longo da criação de aplicações
interativas para a TV Cabo Branco (capítulo V), afiliada da
Rede Globo de Televisão na Paraíba.
O presente artigo foi estruturado da seguinte maneira: na
seção II apresentamos exemplos de aplicações
telejornalísticas na TVDI; na seção III discutimos sobre
trabalhos relacionados; na seção IV descrevemos a
ferramenta iTVnews (modelo conceitual, arquitetura,
interface e detalhes de implementação); na seção V
abordamos a parceria com a TV Cabo Branco; na seção VI,
são descritas as considerações finais.
II. INTERATIVIDADE
É um erro pensar que o conceito de interatividade só
passou a ser debatido no contexto da TV com o advento da
TVDI. Pelo contrário, essa discussão não é novidade,
existindo várias visões e distintas opiniões. Alguns
entendem que a interatividade é um sinônimo de interação,
outros discordam e até mesmo diferentes conceitos, como
reatividade surgem. Esta seria uma reação aos estímulos a
partir de alternativas oferecidas, havendo assim uma
limitação[4]. Já para outros, interatividade é um caso
específico de interação, a interatividade digital,
compreendida como um tipo de relação tecno-social, ou
seja, como um diálogo entre homem e máquina, através de
interfaces gráficas, em tempo real [5].
Ainda sobre interatividade, adotando um viés
computacional, tendo como parâmetro o canal de retorno,
podemos classificá-la como: interatividade local,
interatividade intermitente e interatividade permanente [6].
 A interatividade local acontece sem o uso do canal de
retorno, são exemplos dela: o uso de múltiplas câmeras,
jogos residentes, extras vinculados aos programas, EPG
(Guia Eletrônico de Programação), etc. Em todos esses
exemplos, os dados são transmitidos no fluxo e quando o
usuário solicita uma informação, ela já está previamente
armazenada no STB (Set-Top Box).
Na interatividade intermitente, o canal de retorno é
utilizado de forma assíncrona, ou seja, o telespectador
apenas envia informação para a estação emissora. Portanto,
a comunicação se dá de forma unidirecional e as
informações podem ser processadas posteriormente sem
causar prejuízo algum à aplicação. São exemplos dela: quiz,
SMS (Short Message Service), etc.
Por fim, a interatividade permanente consiste no uso do
canal de retorno de forma síncrona, dedicada e bi-direcional.
Dessa forma, o usuário permanece continuamente usando o
canal de retorno, podendo enviar dados em qualquer
momento. São exemplos dela: acesso a caixa de e-mails,
jogos em tempo real, internet aberta, etc.
Um antigo programa infantil chamado Winky Dink and
You é um dos ícones de interatividade na TV. As crianças
americanas, na década de 50, ajudavam o personagem
animado a sair de situações difíceis desenhando na tela do
televisor. Para isso, usavam papéis transparentes especiais
que eram comprados em shoppings ou pelo correio.
Situações como desenhar uma ponte para que o personagem
pudesse se locomover, ou ainda desenhar um para quedas
para que Winky Dinky não caísse no chão eram comuns.
Dessa forma, as crianças estavam sempre interagindo e
raciocinando para ajudá-lo.
Outro recurso amplamente utilizado pelas emissoras de
TV como ponte para interatividade são os telefones,
utilizados para realizar promoções, enquetes, vendas ou até
mesmo buscar a opinião do público sobre determinados
assuntos e assim conseguir um feedback por parte da
audiência.Um exemplo de programa que conquistou a
simpatia do público, em 1992, foi o “Você Decide” da Rede
Globo. Nesse programa, os telespectadores tinham o poder
de decidir o final da história apresentada no programa. A
participação era feita pelo telefone e a audiência escolhia
um entre dois finais possíveis para história.
Mais recentemente, o celular e as mensagens SMS
também passaram a ser uma forma de interagir mais
diretamente com a emissora, assim como a Internet através
das salas de bate-papo, blogs, sites de programas com
informações adicionais, etc.
Levando em consideração o que foi mencionado, TV
Interativa é definida como qualquer tipo de programação
que promova um diálogo entre a emissora e a audiência [7].
Ou seja, mais precisamente, ela leva os telespectadores além
da passividade e os permite fazer escolhas e tomar atitudes,
mesmo que seja apenas pular e dançar em frente à TV,
escrever uma carta, fazer uma ligação ou escrever um email.
O que muda com a TVDI é que com essa nova
tecnologia as possibilidades de interação tornaram-se
diversas. Uma mudança de paradigma que favorecerá a
participação do público numa direção totalmente distinta da
que se tem hoje, moldando a cultura e o cotidiano dos
telespectadores, estimulando assim o desenvolvimento de
uma postura mais ativa por parte da audiência.
A. Interatividade no telejornalismo antes da TVDI
Como foi abordada anteriormente, a preocupação em
oferecer algum tipo de participação aos telespectadores
sempre existiu antes mesmo da TVDI. No telejornalismo
não foi diferente, os produtores sempre buscaram formas de
tornar a audiência mais ativa. Um exemplo disso pode ser
observado na Figura 1, onde uma pergunta sobre o dia das
mulheres foi lançada e a participação dos telespectadores,
por meio de ligações telefônicas, foi aberta para que eles
expressem suas opiniões.
Esse tipo de interação é bastante comum, mas ainda
muito limitado. Com o advento da Internet, os telejornais
passaram a incentivar os seus telespectadores a participarem
de uma maneira bastante direta, interagindo por meio de
seus sites. Através deles é possível enviar mensagens, fazer
perguntas, responder uma enquete ou um quiz, conversar
através de um chat com entrevistados ou pessoas da equipe
do telejornal, e até mesmo sugerir temas de reportagens,
como observamos na seção “Você faz a notícia”, do Jornal
Hoje da Rede Globo. Além disso, podem-se enviar registros
de naturezas diversas como vídeos, fotos e áudios para
serem veiculados às matérias.
Figura 1. Tela do Eu no SBT
Dessa forma, fica notório que os telespectadores passam
a ser co-autores da produção telejornalística, pois suas
opiniões são levadas em consideração pela equipe que faz as
matérias, sendo até mesmo crucial nas decisões tomadas.
B. Interatividade no telejornalismo com a TVDI
Com a TVDI, todas as situações mencionadas no tópico
anterior em que o telespectador interage de alguma forma
com a TV, enviando dados para a emissora, podem ser
realizadas diretamente pelo próprio televisor. Assim, não é
necessário requisitar aos usuários que migrem para seus
computadores a fim de acessar sites ou recorrerem a
telefones.
Na Figura 2, temos a imagem de uma versão interativa de
noticiário intitulado de Sky News Active – news on demand.
Dentre as várias possibilidades de interação existentes nele,
é possível participar de enquetes e, por meio delas, mostrar
sua opinião, influenciando a opinião pública sobre
acontecimentos do dia e quaisquer outros assuntos. Para
votar, basta usar as teclas coloridas do controle remoto. Por
fim, o resultado da enquete é exibido na tela.
Figura 2. Tela da Sky News Active com resultado de enquete do dia
Além do Sky News Active, há aplicações que permitem a
troca de informações entre usuários e também entre um
usuário e a emissora de TV. O Sky News Chat é uma
aplicação que estimula a comunicação simultânea entre
usuários de diversos locais. Além dos participantes, o chat
conta com a presença de um moderador (chat host) que
administra o bate-papo, como podemos observar na Figura
3.
Figura 3. Tela Sky News Chat
III. TRABALHOS RELACIONADOS
Neste tópico serão apresentados alguns trabalhos que
possuem características afins ao tema abordado neste
trabalho.
A. Cardinal Studio Professional 4
A Cardinal Systems [8] fornece soluções de software
inovadoras baseadas em radiodifusão digital, com foco na
criação, gestão e disseminação de conteúdo para o DVB [9]
(Digital Video Broadcasting).
Cardinal Studio™ é uma ferramenta de autoria que
roda em ambiente desktop de forma gráfica destinada aos
criadores de conteúdo de TVDI para o padrão Europeu
DVB-MHP. Sua operação contempla não-especialistas e,
mesmo assim, inclui todas as funcionalidades exigidas por
designers gráficos de TVDI. Possui uma interface de
usuário intuitiva e os serviços interativos podem ser criados
a partir do zero ou ainda usando templates pré-concebidos.
Dessa forma, usuários avançados podem desenvolver
componentes e integrá-los à ferramenta a fim de estender
suas funcionalidades ao passo que não-programadores
investem seu tempo apenas no processo de criação. A
ferramenta também permite a concepção integral do ciclo
de teste: após a criação, um aplicativo pode ser testado no
Studio emulator e um STB com rapidez e facilidade.
B. Icareus iTV Suite Author
Icareus Thechnologies [10], uma empresa de TV digital
interativa localizada em Helsinque, Finlândia, assumiu
Cardinal Studio™ em 3 de Setembro de 2008. Este último
deixou de receber suporte e foi substituído por um produto
similar chamado Icarus iTV Suite Author. Ela é uma
intuitiva e versátil ferramenta de autoria para a criação de
conteúdo de forma visual que permite o desenvolvimento
de aplicações nos padrões/plataformas MHP, True2Way,
IDway-J e Blu-ray, e outros padrões JAVA [11] por
qualquer pessoa, eliminando a necessidade de manutenção
de uma cara equipe de desenvolvimento.
Com apenas alguns clicks do mouse, pode-se construir a
estrutura e o leiaute de uma aplicação. Depois, adicionar o
conteúdo e gráficos para imediatamente testar a mesma
usando o emulador Icareus ITV Suite Emulator. A
ferramenta também possui uma peculiaridade em sua
arquitetura que aperfeiçoa todos os componentes de
software para usar o mínimo possível da largura da banda,
ou seja, ter o menor tamanho possível.
C. Alti™Composer
A Alticast™ [12], oferece softwares para a criação,
distribuição e recepção de conteúdo para TV interativa
baseado nos padrões abertos DVB-MHP e tru2way.
O Alti™Composer é uma ferramenta baseada em JAVA
que suporta o padrão de transmissão digital DVB-MHP que
foi concebida com o intuito de ser útil tanto a usuários
programadores JAVA quanto a não-programadores. Para
contemplar ambos, a ferramenta possui uma interface
intuitiva e bastante funcional em que se pode interagir por
meio de clicks do mouse. Dessa forma, operá-la se torna
uma tarefa simples. Já para programadores mais
experientes, de forma semelhante ao Cardinal Studio™, é
possível criar componentes personalizados e estender a API
(Application Programming Interface) CDK (Component
Development Kit) da ferramenta. O ambiente possui um
emulador MHP que permite a depuração à medida que os
aplicativos estão sendo desenvolvidos.
D. Composer
O Composer [13] é um ambiente de autoria de
documentos NCL (Nested Context Language) para TVDI
desenvolvido pelos pesquisadores do laboratório TeleMídia
da PUC-Rio. Ele adota uma abordagem em que se trabalha
com diferentes tipos de abstrações, em que cada uma delas
apresenta vantagens e desvantagens. Dessa forma,
dependendo das funcionalidades almejadas, será necessário
usar mais de um tipo de abstração.
Além de uma visão textual, com recursos que
favorecem a especificação direta de programas na
linguagem NCL, padronizada para a especificação de
aplicações no ambiente declarativo do SBTVD-T (Sistema
Brasileiro de Televisão Digital Terrestre), o Composer
oferece uma visão gráfica estrutural, uma visão gráfica de
leiaute e uma visão gráfica temporal.
A visão estrutural usa uma representação gráfica, para
abstrair as principais entidades definidas em NCL. Nela o
autor pode criar, editar e apagar objetos de mídia que
compõem um documento, composições (conjuntos de
objetos e seus relacionamentos), e elos. Os elos são
relacionamentos entre objetos por meio dos quais são
sincronizados os possíveis eventos em um programa NCL,
por exemplo, iniciar a execução de uma mídia
simultaneamente a outra, finalizar uma mídia
imediatamente após o término de outra, etc. A visão de
leiaute abstrai a disposição espacial dos objetos de mídia
nos dispositivos de exibição. Através dessa visão o autor
pode criar, editar e apagar regiões espaciais associadas à
exibição inicial dos objetos.
Por fim, a visão temporal abstrai os relacionamentos
temporais entre os objetos de mídia, permitindo que a
especificação temporal dos programas seja realizada
através da distribuição gráfica dos objetos em relação a um
eixo temporal.
No Composer, com o intuito de oferecer um ambiente
integrado aos autores, as visões existentes funcionam de
forma síncrona. Como as outras ferramentas apresentadas,
ele também dispõe de um simulador para, a qualquer
momento, disparar a exibição de um documento NCL.
E. Análise Comparativa
Todas as ferramentas aqui mencionadas apresentam
características bastante semelhantes. Dentre elas, pode-se
destacar o fato de oferecerem uma forma de interação
visual por meio de clicks do mouse, arrastando ícones e
construindo a disposição espacial dos componentes que
formarão a aplicação interativa.
Percebemos, também, que elas possuem uma interface
que busca contemplar tanto usuários ditos especialistas
como não-especialistas. Ou seja, tanto é possível criar e
inovar em nível de linha de código, como também é
possível apenas fazer uso de componentes prontos,
reusando-os a fim de construir uma aplicação do interesse
do usuário.
Cada uma delas também possui suas peculiaridades,
como o modelo de dados em que cada uma se baseia. No
entanto, ao compará-las com a ferramenta iTVnews,
proposta neste trabalho, destaca-se o enfoque aos
telejornalístas como os únicos que manusearão a
ferramenta. A intenção é diminuição da dependência da
equipe de informática no processo de criação de aplicações
a fim de acelerar o processo. Para conseguir isso, a
iTVnews foi desenvolvida com o acompanhamento dos
profissionais de comunicação, investindo-se em interfaces e
modelos com os quais eles já estão familiarizados. A
iTVnews não constrói aplicações por meio de componentes
que são arrastados e dispostos na tela, montando assim,
passo a passo, uma aplicação. Ela usa um repositório de
aplicações configuráveis, ou seja, aplicações construídas
por programadores de tal forma que possam ser
parametrizadas de forma simples pelos próprios jornalistas.
Como isso ocorre é explanado adiante.
IV. ITVNEWS
Aplicações configuráveis são aquelas que possuem um
código-base que pode ser reutilizado na construção de uma
nova aplicação. Para tanto, é necessária uma mudança
apenas no leiaute e/ou na base de dados.
Existem certas aplicações muito úteis em telejornalismo
(enquetes, quiz, chats etc.). Por exemplo, uma nova enquete
requer mudanças apenas no leiaute e na base de dados de
uma enquete já existente. Assim, é razoável pensar que
existirá um leiaute de enquete para o telejornal A e outro
para o telejornal B. Da mesma forma, os questionamentos
das enquetes contemplarão temas diferentes.
Figura 4. (a) Enquete Rede NGT (b) Enquete TV Gazeta
Ao se observar as aplicações interativas que estão
disponíveis em São Paulo, poderemos observar que duas
das seis emissoras utilizam a mesma aplicação, apenas
modificando o leiaute da mesma. É o caso das aplicações
da Rede NGT (canal 48) e da TV Gazeta (canal 11)
conforme a Figura 4. Verificamos então que os
questionamentos das enquetes contemplam temas
diferentes, mas o funcionamento global se mantém o
mesmo.
A. Modelo Conceitual
Com a finalidade de oferecer um melhor entendimento
das funcionalidades oferecidas pela ferramenta iTVnews, a
figura 5 apresenta o seu diagrama de casos de uso.
 Publicar Aplicação no Repositório: este é o início
do processo em que ocorre a participação do
engenheiro de software. Sempre que os jornalistas
desejarem um novo tipo de aplicação, o engenheiro
de software colherá dos jornalistas os requisitos
necessários, e criará a aplicação de maneira que
seus parâmetros sejam futuramente preenchidos
depois pelos jornalistas. No caso de uma enquete,
seu questionamento, suas alternativas e sua interface
serão os dados a serem definidos pelos jornalistas.
Estando a aplicação preparada para receber os
parâmetros dos jornalistas, ela é guardada em um
repositório até ser buscada e usada;
 Gerar Aplicação: logo após a etapa de configuração
da aplicação, o jornalista deve gerar a aplicação
final. Ela estará pronta para ser multiplexada com os
fluxos de vídeo e áudio e, finalmente, testada. Esse
processo se dá, basicamente, através da cópia de
arquivos. A aplicação configurável está à espera das
informações que serão dadas pelo jornalista. Feito
isso a ferramenta reescreverá a aplicação com esses
dados, fazendo os devidos tratamentos.
B. Arquitetura de Software
A Figura 6 apresenta o diagrama de implantação da
ferramenta iTVnews com sua arquitetura distribuída. Nela
observamos os protocolos por meio dos quais se dará a
comunicação. Também observamos que a ferramenta
acessa o repositório de aplicações interativas de forma
remota através do protocolo TCP/IP.
Tendo recuperado a aplicação do servidor para o PC (1), o
jornalista irá configurá-la de acordo com a finalidade para a
qual ela será construída. Em seguida, a aplicação é enviada
ao ambiente de execução (2). Este é apresentado no
diagrama como uma caixa preta em que, na verdade, estão
algumas ferramentas que realizarão a multiplexação da
aplicação com os fluxos de vídeo e áudio. Logo depois, os
dados multiplexados seguem para o servidor de middleware
(3) que possui o OpenGinga, usado para testar a aplicação,
exibindo o resultado em uma TV (4) como acontece em um
ambiente real.

Figura 5. Diagrama de Casos de Uso da Ferramenta iTVnews

 Consultar Repositório: inicialmente, para se criar
uma aplicação, faz-se necessário buscar no
repositório uma aplicação configurável que atenda
aos requisitos desejados. A aplicação é identificada
por meio de um arquivo XML. É importante deixar
claro que o repositório não é o enfoque principal da
proposta. Tê-lo é necessário, pois será onde as
aplicações configuráveis estarão armazenadas.
Contudo, existem bons repositórios disponíveis para
serem utilizados e a melhor estratégia está sendo
analisada;
 Configurar Aplicação Interativa: após consultar o
repositório e recuperar uma aplicação configurável
desejada, o jornalista deverá configurá-la através da
ferramenta iTVnews. Essa configuração consistirá
na manipulação das camadas de apresentação e Figura 6. Diagrama de Implantação da Ferramenta iTVnews
dados. No caso da enquete, preencher o C. Interface e Implementação
questionamento, suas alternativas e definir sua
interface; A iTVnews possui uma interface gráfica baseada em
uma ferramenta usada atualmente por jornalistas do Portal
Paraíba1, pertencente ao mesmo grupo da TV Cabo
Branco. Dessa forma, seus futuros usuários encontrarão
semelhanças na nova ferramenta de trabalho, fato que
ajudará na adaptação.
A Figura 7 apresenta a tela de criação de enquete da
ferramenta iTVnews, desenvolvida em JAVA. Através dela,
o jornalista insere as informações sobre uma enquete, por
exemplo, preenchendo o seu nome, a sua pergunta e as suas
alternativas. Depois, é possível ir para a etapa seguinte em
que a interface da aplicação é configurada por meio do
botão “próximo” ou voltar para a tela inicial com
“anterior”.
Figura 7. Interface da Ferramenta iTVnews
Sobre a implementação, o desenvolvimento de uma
enquete configurável, por exemplo, foi realizado da
seguinte maneira: inicialmente, a aplicação foi
desenvolvida em NCL-Lua[14] sem se preocupar com a
parametrização. Depois, buscou-se pensar em como fazê-la;
e assim, vários trechos do seu código foram modificados e
novas funções foram criadas. Por exemplo, na Figura 8
temos o código da função exibeAlternativas() que, de
acordo com a quantidade, escreve as alternativas da
enquete na tela da Televisão. Da mesma forma, existe a
função que lida com a interface e várias outras funções e
detalhes de implementação no código que foram alterados
para tornar a aplicação flexível.
Figura 8 - Código da Função exibeAlternativas()
Com a aplicação configurável pronta e recuperada do
repositório, segue-se a etapa de configuração realizada
pelos jornalistas. Os dados que os jornalistas digitam na
interface são passados como parâmetros dos métodos da
classe Main da versão atual da ferramenta iTVnews
apresentada na Figura 9. Nele observamos os objetos
dados e layout e seus respectivos métodos de configuração.
O método configuraEnquete() é sobrecarregado de acordo
com a quantidade de parâmetros passada; ou seja, existem
vários métodos de mesmo nome, porém com assinaturas
divergentes no que diz respeito a quantidade de
argumentos. Ficará a cargo de o interpretador escolher, de
acordo com as listas de argumentos, o método a ser
executado. O método configurainterface() define qual será
a interface usada na aplicação.
Figura 9 - Código do método main() da Ferramenta iTVnews
V. ESTUDO DE CASO: TV CABO BRANCO
Num projeto de ação cidadã da TV Cabo Branco em
parceria com a rádio 101.7 FM, montou-se um stand do
LAVID (Laboratório de Aplicações de Vídeos Digitais), no
maior bairro populacional de João Pessoa-PB, com uma
televisão digital e um STB (Set-Top Box) da Proview,
modelo XPS-1000 com uma versão do middleware Ginga
distribuída pela RCASOFT instalado. A equipe de
Comunicação do LAVID e a diretoria de jornalismo da TV
Cabo Branco pensaram em alguns serviços do bairro e
elaboraram as opções da enquete do quadro “O bairro que
eu quero”, a qual consistia em saber quais eram o melhor e
o pior serviço público daquele lugar, figura 10. Em seguida,
os programadores e designers desenvolveram a aplicação
em NCL-Lua que foi executada de forma local, ou seja, os
votos eram salvos em um pen-drive. Um número total de
250 pessoas interagiram com esta aplicação.
Figura 10. (a) Tela correspondente às opções “melhor serviço” (b) Tela
referente ao resultado parcial da enquete
Com o intuito de provocar motivação na população e
fazer com que a aplicação pudesse ter utilidade no
telejornal, o vínculo garantiu que o material coletado
proveria contribuições para a pauta das próximas edições.
Assim, ficou estabelecido que o resultado do pior serviço
renderia matéria para a edição seguinte (28 de setembro) e
o correspondente ao melhor serviço público, para o dia 29
de setembro. Nas duas reportagens, ouviu-se a população e
autoridades competentes do município.
Enquanto pesquisa, a experiência foi válida, pois não só
divulgou as atividades do LAVID, como também incutiu o
desejo de participação na audiência, que, por sua vez, teve o
primeiro contato com os recursos da nova TV. Somado a
isso, os 250 participantes cooperaram, inconscientemente,
com dicas de usabilidade, a partir de algumas dificuldades
de manuseio, constatadas pelos pesquisadores. Ainda que
não tenha sido testada efetivamente nos lares de João
Pessoa, a aplicação interativa serviu como proposta
sinalizadora, favorecendo mudanças no contexto da
produção telejornalística e de comportamento dos próprios
telespectadores.
A. Oficina de Interatividade
No dia 19 de Abril de 2010 foi realizada, pelo LAVID
na UFPB, a Oficina de Interatividade para Telejornalismo.
Com o intuito de discutir tecnologias para TVDI no Brasil,
com foco na interatividade para telejornalismo, contamos
com a presença de diversos profissionais da área de
comunicação, dentre os quais, alguns representantes da TV
Cabo Branco e TV Paraíba, afiliadas da Rede Globo na
Paraíba e da TV UFPB. Também estiveram presentes
doutores, mestres e graduandos da área, totalizando 41
participantes, fato este que tornou o encontro rico em
opiniões tanto da academia quanto dos profissionais que
atuam no mercado.
A fim de abrir a mente dos presentes em relação às
novas possibilidades de interatividade que surgem com o
advento da TVDI, foi apresentada uma série de aplicações
explorando recursos interativos diversos. Após esse
momento, foi passado um questionário para que os
participantes pudessem expor suas opiniões e sugestões por
escrito, bem como eleger três recursos interativos, dentre os
sugeridos, como os mais interessantes para serem
explorados. As opções de interatividade propostas estão
enumeradas a seguir:
1. Visualização de informações adicionais (fotos ou
textos);
2. Visualização de informações sobre o tempo;
3. Visualização de informações sobre a bolsa;
4. Tele texto;
5. Votação;
6. Enquete;
7. Enviar vídeo para emissora pela TV;
8. Enviar foto para emissora pela TV;
9. Receber informações;
10. Personalizar jornal com as preferências do
telespectador;
11. Questionário com respostas do tipo "certo ou
errado" – Quiz.
Figura 11 - Resultado do Questionário
Na opinião dos participantes – figura 11 –, o anseio por
uma programação personalizada, atendendo as preferências
do telespectador será a maior atração em termos de
interatividade para os usuários da TVDI, ficando com 23%
dos votos. Empatados em segundo lugar, com 18%, estão
enquetes interativas e o envio de vídeos para a emissora por
meio da própria TV. Por fim, em terceiro lugar, com 17%,
ficou a visualização de informações adicionais.
Tomando por base os resultados obtidos na oficina e as
experiências com a TV Cabo Branco, buscamos, a priori,
explorar o desenvolvimento do componente enquete para a
ferramenta proposta; pois percebemos sua relevância e vasta
aplicabilidade social. Dessa forma, justificamos o porquê da
escolha, baseando-a em opiniões contundentes de
profissionais da área.
B. Processo de Criação de Enquetes
Com a finalidade de conferir como funciona uma
estação de TV atualmente no Brasil, uma equipe do LAVID
realizou algumas visitas a TV Cabo Branco. Nelas,
conversamos com profissionais dos diversos setores da
emissora, colhendo informações e discutindo sobre a
proposta, pois temos por finalidade criar uma ferramenta à
maneira dos seus futuros usuários e, para isso, eles
precisam fazer parte do levantamento dos requisitos que a
conceberá.
Um serviço interativo oferecido atualmente pela
emissora é a realização de enquetes por meio da rede de
telefonia. Acompanhamos todo o processo, desde a
elaboração até a apresentação do resultado para os
telespectadores no telejornal. Esse processo, como ocorre
atualmente, é descrito em detalhes no tópico adiante e no
seguinte apresentamos o novo processo realizado com a
ferramenta iTVnews.
1) Processo Atual: hoje, o processo de criação de uma
enquete – acompanhe no infográfico da figura 12 – na TV
Cabo Branco se inicia na definição do tema. A equipe de
telejornalismo elabora uma pergunta e as alternativas a
serem escolhidas pelo público, tendo por base algum
acontecimento relevante e recente. Em seguida, a enquete é
colocada na pauta do jornal por meio da ferramenta
Easynews [15] que é um sistema de automação para
redação de telejornalismo (1). Depois de colocada na pauta,
um e-mail é enviado para a equipe de informática da
emissora informando sobre a enquete (2).
Figura 12 - Processo atual de realização de enquetes
Por meio de uma aplicação PHP (Hypertext Preprocessor),
criada pelo próprio pessoal da emissora, chamada F5PLUS,
a enquete é criada. Essa aplicação é o lugar no qual são
inseridas a pergunta e as suas alternativas. Feito isso, ela
associa cada alternativa a um número de telefone que
posteriormente será apresentado aos telespectadores. Ela
também gerencia os servidores que estão interligados a
modems computando, dessa forma, cada ligação realizada.
Ao término de cada ligação, a aplicação apresenta uma
mensagem em áudio para os participantes informando-os
sobre o sucesso do recebimento do voto. Após criar a
enquete, basta ativá-la para que os participantes possam
começar a votar (3). Para que a comunidade saiba da
existência da enquete, menciona-se sobre a sua existência
nos intervalos da programação da emissora antes do
telejornal, provocando os telespectadores a ligarem e
participarem (4). Assim, os telespectadores telefonarão e
terão seus votos computados (5). Vale salientar que ao
realizar a ligação e ter seu voto registrado, os participantes
ainda não têm nenhuma ideia do resultado parcial da
enquete. Já no fim do processo, as ligações são registradas
nos servidores da emissora (6) e chega o momento de
apresentar o resultado final da enquete no telejornal. Para
isso, uma mensagem é encaminhada ao operador de
caracteres (7) que coloca na tela da TV o resultado ao passo
que o apresentador comenta sobre ele (8).
2) Processo com a Ferramenta iTVnews: em breve,
quando a TV Cabo Branco adquirir os demais
equipamentos para colocar interatividade na casa da
população, o processo demonstrado, tal como acontece
hoje, mudará drasticamente. Desde os papéis
desempenhados até o grau de comunicação que existem
entre os setores da TV.
Inicialmente, a enquete – acompanhe no infográfico da
figura 13 – é colocada na pauta do telejornal de forma
similar ao processo anterior (1). Contudo, de agora em
diante, são rumos totalmente novos. Levando em
consideração que o componente enquete já tenha sido
previamente desenvolvido pela equipe de informática, o
próprio jornalista, por meio da ferramenta iTVnews, criará a
enquete interativa. Ele buscará a enquete no repositório,
recuperando-a. Depois, digitará a pergunta e suas respostas
e escolherá uma das interfaces pré-definidas de acordo com
o telejornal para o qual a enquete será desenvolvida (2).
Tendo terminado a configuração da sua enquete, ela será
multiplexada juntamente com a programação – o áudio e o
vídeo – por meio de um equipamento chamado
multiplexador (3). Agora o fluxo multiplexado será
preparado para ser transmitido pelo canal de difusão –
cabo, satélite, radiodifusão – até o receptor na casa dos
telespectadores (4). Nesse momento – por meio da TV com
STB ou dispositivo móvel – um ícone indicando a
existência da enquete aparecerá e ela poderá ser carregada e
finalmente votada pelo usuário (5). Através do canal de
retorno (6), o voto é registrado no servidor de aplicação que
pode estar na própria emissora ou em outro ambiente (7).
Um grande diferencial da enquete na TVDI é a
possibilidade de acompanhar seu resultado parcial, não
sendo necessário esperar até a exibição do telejornal para
ter um feedback do andamento da enquete. No fim do
processo, o resultado final poderá ser apresentado no
telejornal.
Figura 13 - Processo com a ferramenta iTVnews
VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos uma ferramenta – iTVnews – que
constrói aplicações telejornalísticas para TVDI. Seu
objetivo principal é a eficiência no processo de criação de
aplicações interativas. Tal eficiência é decorrente do ganho
de tempo proporcionado pela diminuição da necessidade da
presença da equipe de informática no processo de criação.
Este profissional será necessário apenas em casos em que
novas aplicações sejam requisitadas pelos jornalistas.
Como trabalhos futuros, sugerimos a implementação de
novas aplicações configuráveis (quiz, chat etc.).
 VII. AGRADECIMENTOS
Gostaríamos de agradecer ao Programa RH-TVD
CAPES pelo apoio neste projeto.
REFERÊNCIAS
[1] Becker, B. A Linguagem do Telejornal: um estudo da cobertura dos
500 anos do Descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro, E-papers,
2005.
[2] Filho, G. L.S., Leite, L. E. C., e Batista, C. E. C. F. “Ginga-J: The
Procedural Middleware for the Brazilian Digital TV System”. In:
Journal of the Brazilian Computer Society. No. 4, Vol. 13. p.47-56.
ISSN: 0104-6500. Porto Alegre, RS, 2007.
[3] Soares, L. F. G., Rodrigues, R. F., e Moreno, M. F. “Ginga-NCL:
The Declarative Environment od the Brazilian Digital TV System”.
In: Journal of the Brazilian Computer Society. No. 4, Vol. 13, page
37-46. ISSN: 0104-6500. Porto Alegre, RS, 2007.
[4] Machado, A. Anamorfoses Cronotópicas ou a Quarta Dimensão da
Imgem. In: Imagem Máquina: a era das tecnologias do virtual. Rio
de Janeiro: Editora 34, 1996. André Parente (org)
[5] Lemos, A. Anjos interativos e retribalização do mundo. Sobre
interatividade e interfaces digitais. [on line] Disponível:
<http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/lemos/interac.html.>. Último
acesso em Maio de 2010.
[6] Waisman, T. 2006. Usabilidade em serviços educacionais em
ambiente de TV Digital. São Paulo: s.n., 2006. Tese (doutorado) -
Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo.
[7] Gawlinski, M. Interactive Television: Production. Oxford: Focal
Express, 2003.
[8] Cardinal Systems Home Page. Disponível em:
<http://www.cardinal.fi:38080/cardinal/index.jsp?page=index.html>.
Último acesso em Maio de 2010
[9] DVB - Digital Video Broadcasting Project. Disponível em:
<www.dvb.org>. Último acesso em Maio de 2010.
[10] Icareus Thechnologies TV Home Page. Disponível em:
<http://www.icareus.com>. Último acesso em Maio de 2010.
[11] JAVA Home Page. Disponível em: < http://java.sun.com>. Último
acesso em Maio de 2010.
[12] Alticast Home Page. Disponível em: <http://www.alticast.com/>.
Último acesso em Maio de 2010.
[13] Guimarães, R. L., Costa, R. M. R., Soares, L. F. G. Composer:
Ambiente de Autoria de Aplicações Declarativas para TV Digital
Interativa. In: XIII Brazilian Symposium on Multimedia and the
Web (WebMedia), 2007, Gramado - RS. Anais do XIII Simpósio
Brasileiro de Sistemas Multimídia e Hipermídia, 2007. p. 57-64.
[14] Sant’Anna, F., Cerqueira, R., Soares, L.F.G. “NCLua - Objetos
Imperativos Lua na Linguagem Declarativa NCL”. In: XIV Brazilian
Symposium on Multimedia and the Web (WebMedia), 2008, Vila
Velha – ES. Anais do XIV Simpósio Brasileiro de Sistemas
Multimídia e Hipermídia, p. 83-90. ISSN: 978-1-60558-170-5
[15] Easynews Home Page. Disponível em:
<http://easynews.syb.com.br>. Último acesso em Maio de 2010.