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Como explicar a vigência do artigo 191 CC em face da nova redação do artigo 219,

parágrafo 5º CPC?
Moisés Bueno Lopes Neto

Em todas as épocas e culturas, a passagem do tempo foi um tema importante. Em


algumas, foi elevada à condição de divindade, como no caso da mitologia grega, em que o
tempo é representado pelo Deus Cronos (que devorava seus filhos, para não lhes permitir
cumprir a profecia de que algum deles o mataria)1. E, assim como Cronos devorava seus
filhos, a passagem do tempo devora a pretensão dos credores na “mitologia” do direito. É a
chamada Prescrição.
A prescrição é, portanto, o instituto jurídico segundo o qual extingue-se “uma
pretensão de direito subjetivo, em razão do decurso do prazo fixado em lei para exercício do
direito de ação”2. Importante diferenciar referido instituto de um seu similar, a decadência,
pois aquele extingue apenas a pretensão, enquanto este extingue o próprio direito material 3.
No caso da prescrição, o direito segue existindo, embora apenas como obrigação natural, isto
é, sem direito à cobrança (ou exigência) em sede de ação judicial, como são, por exemplo, as
dívidas de jogo, apostas, etc4.
Assim, parece claro que o escopo da prescrição, ao impedir, por exemplo, a
exigência de dívidas antigas, não é atingir o valor justiça, mas sim, os valores segurança
jurídica e harmonia social. Dessa forma, do ponto de vista moral, como argumenta Marcelo
Rodrigues Prata, seria, de fato, questionável a legitimidade da prescrição, pois “se alguém
deve a outrem, deve cumprir para com sua obrigação, sob pena de enriquecimento sem
causa”5. Por outro lado, como ele mesmo pondera, diante da indefinida possibilidade de

1
PRATA, Marcelo Rodrigues. A prescrição intercorrente declara de ofício no processo de
execução trabalhista. Revista LTR – Vol. 71, 02/142, fevereiro de 2007. Material da 2ª
aula da Disciplina Reflexos da Reforma do CPC e da EC 45, ministrada no Curso de Pós-
Graduação Lato Sensu TeleVirtual em Direito e Processo do Trabalho – Anhanguera-
Uniderp / REDE LFG.
2
PIRES, Eduardo Rockenbach. O pronunciamento de ofício da prescrição e o processo do
trabalho. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 1783, 19 maio 2008. Disponível em:
http://jus.uol.com.br/revista/texto/11280. Acesso em: 17 jan. 2011. Material da 2ª aula da
Disciplina Reflexos da Reforma do CPC e da EC 45, ministrada no Curso de Pós-
Graduação Lato Sensu TeleVirtual em Direito e Processo do Trabalho – Anhanguera-
Uniderp / REDE LFG. E, ainda, Código Civil, art. 189.
3
Idem.
4
Idem.
5
PRATA, Marcelo Rodrigues. Op. cit. P. 3.
cobrança, devedor e sucessores seriam obrigados a guardar “ad eternum” todos seus
comprovantes de pagamento, o que seria totalmente inviável6!
Justa ou não, a prescrição é fato, e como tal, sofre alterações, sendo a última, que
muitos debates suscitou, a alteração do artigo 219, § 5º do Código de Processo Civil (através
da Lei 11.280/2006), que determina ao juiz pronunciá-la de ofício7.
Um desses debates é extremamente relevante: como explicar que a Lei 11.280/2006
não tenha revogado o artigo 191 do Código Civil, isto é, como explicar a vigência do art. 191
CC, em face da nova redação do artigo 219, § 5º?
Bem, trazendo dos números às palavras, significa perguntar: se o juiz deve
pronunciar de ofício a prescrição, como pode a parte beneficiária renunciar à referida
prescrição8?
Previamente à Lei 11.280/2006, entendia-se a prescrição como uma exceção, isto é,
era matéria de defesa; o réu (beneficiário da prescrição) deveria alegá-la e não poderia o juiz
declará-la de ofício. Após o advento da referida lei, passou a ser uma objeção, algo de que o
juiz deva conhecer de ofício, por ser matéria de ordem pública 9 (com efeitos de ordem
privada10).
No entanto, em nenhum momento a lei determina que o juiz pronuncie a prescrição
antes da oitiva das partes. Ele deve pronunciar, mas não necessariamente de maneira
imediata, no momento em que a inicial é protocolada! Ele pode, e deve, abrir prazo para as
partes se manifestarem a respeito, uma vez que o autor pode apresentar razões de
impedimento, interrupção ou suspensão da aparente prescrição (prática que estaria
perfeitamente de acordo com o amplo princípio do contraditório11), bem como o réu pode

6
Idem.
7
Código Civil: Artigo 219 - A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e
faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o
devedor e interrompe a prescrição.
§5º O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição.
8
Código Civil, art. 191: “A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só
valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita
é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a
prescrição”.
9
PIRES, Eduardo Rockenbach. Op. cit. P. 3.
10
Antônio Luiz da Câmara Leal. Da prescrição e da decadência. pp. 93-94. Apud CÂMARA,
Alexandre Freitas. Reconhecimento de Ofício da Prescrição: Uma Reforma Descabeçada e
Inócua. P. 2.
11
E aqui trago o artigo 3o. , item 3, do CPC português, apenas para ilustrar uma aplicação
ampla do princípio do contraditório: “O juiz deve observar e fazer cumprir, ao longo de
todo o processo, o princípio do contraditório, não lhe sendo lícito, salvo caso de
manifesta desnecessidade, decidir questões de direito ou de facto, mesmo que de
conhecimento oficioso, sem que as partes tenham tido a possibilidade de sobre elas se
pronunciarem”.
renunciar a seu benefício12. Uma possibilidade seria em audiência, momento em que as partes
podem, ainda, celebrar alguma forma de acordo, que deve ser homologada, mesmo se
ocorrida a prescrição (seria o caso de renúncia tácita do réu a seu benefício, pois estaria
praticando atos contrários a ela).
Dessa forma, a prescrição deve ser aplicada de ofício pelo juiz (até porque o artigo
219 do CPC está vigente), mas apenas após ouvidas as partes a esse respeito. Uma sugestão
de leitura do artigo seria que o juiz pronunciará de ofício a prescrição, salvo se a parte
beneficiária renunciar a esse direito.

Bibliografia

CÂMARA, Alexandre Freitas. Reconhecimento de Ofício da Prescrição: Uma


Reforma Descabeçada e Inócua. Disponível em:
http://www.nucleotrabalhistacalvet.com.br/artigos/Críticas%20ao
%20Reconhecimento%20de%20Ofício%20da%20Prescrição%20-0Alexandre
%20Câmara.pdf. Acesso em: 17 jan. 2011. Material da 2ª aula da Disciplina
Reflexos da Reforma do CPC e da EC 45, ministrada no Curso de Pós-
Graduação Lato Sensu TeleVirtual em Direito e Processo do Trabalho –
Anhanguera-Uniderp / REDE LFG.
FELICIANO, Guilherme Guimaraes. “O “Novissimo” Processo Civil e o Processo
do Trabalho — Uma Outra Visao”. Revista LTr 71- 03/283. Material da 3a aula
da Disciplina Reflexos da Reforma do CPC e da EC 45, ministrada no Curso de
Pos-Graduacao Lato Sensu TeleVirtual em Direito e Processo do Trabalho –
Anhanguera-Uniderp / REDE LFG.
PIRES, Eduardo Rockenbach. O pronunciamento de ofício da prescrição e o
processo do trabalho. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 1783, 19 maio 2008.
Disponível em: http://jus.uol.com.br/revista/texto/11280. Acesso em: 17 jan.
2011. Material da 2ª aula da Disciplina Reflexos da Reforma do CPC e da EC
45, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu TeleVirtual em Direito e
Processo do Trabalho – Anhanguera-Uniderp / REDE LFG.
PRATA, Marcelo Rodrigues. A prescrição intercorrente declara de ofício no
processo de execução trabalhista. Revista LTR – Vol. 71, 02/142, fevereiro de
2007. Material da 2ª aula da Disciplina Reflexos da Reforma do CPC e da EC
12
PIRES, Eduardo Rockenbach. Op. cit. P. 6.
45, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu TeleVirtual em Direito e
Processo do Trabalho – Anhanguera-Uniderp / REDE LFG.

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