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O SISTEMA SOCIAL E O IDOSO

Como fenômeno universal, o envelhecimento populacional levou a Organização das Nações


Unidas - ONU promover em Viena no ano de 1982 uma Assembléia Mundial para discutir a
cerca de questões voltadas para o envelhecimento, analisando o indivíduo inserido no contexto
social e abordando aspectos fisiológicos do seu desenvolvimento. Nesse encontro reuniram-se
especialistas de diversas áreas científicas e de vários países, entre os quais o Brasil,
reconhecendo, então, a importância de um estudo direcionado à população idosa, que durante
muito tempo ficou relegada ao esquecimento.

Segundo a ONU, os estudos epidemiológicos, realizados por Luiz Roberto Ramos do


Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina; por Renato Veras, do
Instituto de Medicina Social da Universidade do Rio de Janeiro e por Alexandre Kalache da
London School of Hygiene end Tropical Medicine, publicado na Revista de saúde pública, USP
(1987,1988 e 1989) mostram que o mundo está em profunda transição demográfica. Esses
estudos indicam que os países do Terceiro Mundo serão aqueles que sentirão mais
drasticamente estas transformações de ordem sócio-econômica, política e cultural, pois os
idosos deixarão de ser uma minoria e passarão a representar um número bastante expressivo
na população mundial, com o conseqüente aumento da população inativa, que ultrapassará em
número a população economicamente ativa.

Dados projetados pela World Helath Statistics Annvals no ano de 1982 indicam que o Brasil
que era considerado em 1950, o 16º país do mundo em população de idosos, no ano de 2025
será a 6ª nação com maior número de idosos em todo mundo, pois terá aproximadamente 32
milhões de pessoas com 60 ou mais anos de idade.

Um dos fatores para que o crescimento populacional atinja idade mais avançada é decorrente
das conquistas tecnológicas e da medicina moderna, que conduziram ao longo dos últimos 50
anos, meios que tornaram possível diagnosticar, prevenir e curar muitas doenças fatais do
passado, aumentando assim a expectativa de vida e, consequentemente, reduziram a taxa de
mortalidade verificada na maioria dos países, principalmente daqueles considerados
subdesenvolvidos. Aliado a esse fator temos a redução das taxas de natalidade e a queda da
mortalidade infantil, fazendo com que a proporção de adultos aumente.

No intuito de buscar melhoria das condições de saúde e de vida dos idosos e de se conhecer os
diversos aspectos biopsicossociais que envolvem o processo de envelhecimento, algumas
ciências vêm se desenvolvendo, a exemplo da Gerontologia e Geriatria. Assim, como diz
REBOUL (1992), enquanto a gerontologia estuda o envelhecimento, do ponto de vista médico
social; a geriatria é a ciência que cuida das pessoas idosas com uma noção unicamente médica
e se aplica ao domínio da patologia.

Consideramos importante ressaltar que estudos da velhice encontram-se divididos entre a


Geriatria e Gerontologia desde as suas origens. Embora estivessem inicialmente vinculados à
biologia do envelhecimento, mais precisamente à medicina, foi na década de 1940 que
começou-se a fazer distinção entre a área médica e a área não médica, tendo como fundamento
de estudo e de prática clínica a faixa etária.

Vemos, portanto, que profissionais de todas as especialidades ligados ao estudo da velhice


começaram a se organizar em sociedades científicas. No Brasil, por exemplo, temos a
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (S.B.G.G.), fundada em maio de 1961 no Rio
de Janeiro. A S.B.G.G. é um organismo científico, vinculado à Associação Médica Brasileira,
que opera em nível nacional. Sua contribuição tem sido apreciável na capacitação de
profissionais para ambas as áreas, levando a questão da velhice para debate aberto, em
diferentes oportunidades, a partir de cursos, seminários, jornadas e congressos.
Para a S.B.G.G., a saúde dos idosos merece a mesma atenção que recebem as crianças,
consideradas como um público especial e prioritário. A S.B.G.G. também concorda que a
atenção dedicada à velhice deve ir além do enfoque puramente patológico e deve abarcar a
totalidade do bem-estar do idoso levando em conta a interdependência dos fatores físicos,
mentais, sociais e ambientais, porque considera que a evolução biológica do ser humano é
afetada decisivamente por estes fatores que podem encurtar ou promover o prolongando a
vida.

Sabemos que biologicamente os seres vivos percorrem o ciclo de vida do nascimento até a
morte; quando somos crianças ou jovens tendemos a considerar velhos nossos pais de 30 ou 40
anos; entretanto, o conceito que tínhamos de um indivíduo de 50 anos mudou, pois, hoje,
tendemos a considerar adultos e velhos, indivíduos de 60, 70 ou mais anos de idade. Portanto,
devemos diferenciar idade biológica, da idade cronológica e da idade social, para que
possamos compreender o significado de ser idoso nos dias atuais.

Sendo assim, com base em diversos autores que retratam os estudos do envelhecimento,
ressaltamos a opinião de Marcelo Salgado (1988), que afirma que o envelhecimento inicia-se
após a fecundação, pois no organismo de um indivíduo inúmeras células envelhecem, morrem e
são substituídas antes dele nascer.

Apesar de toda essa discussão, a Organização Mundial de Saúde considera a idade de sessenta
e cinco anos, como limite inicial, caracterizador da velhice, enquanto a ONU a considera a
partir dos 60 anos de idade.

Mediante estas considerações da OMS e ONU surgem apreciações e imagens negativas para
esta etapa do ciclo da vida. Na antigüidade, por exemplo, o ciclo da vida humana já esteve
comparado com as estações do ano, e a velhice era descrita como inverno sombrio, frio e
improdutivo, insinuando incapacidade para esse tempo de vida.

A velhice deve ser entendida por um conceito abstrato, muito embora assuma características
comuns originadas das condições físicas e dos próprios limites impostos pela sociedade. De
qualquer forma, entendemos que:

"Envelhecer é uma propriedade particular, com vivências e expectativas específicas que não
reduzem a responsabilidade de vida e participação ativa no processo social, pois, mesmo velho
o indivíduo continua membro da humanidade"(SALGADO, 1988:4)

Neste século, envelhecer tem sido para o homem um processo extremamente desagradável,
porque o indivíduo começa a sentir que em muitos aspectos biológicos e sociais não é mais o
que costumava ser; por conta disso, muitos chegam a pensar que a velhice é sinônimo de
doença, fraqueza e inutilidade. Logo, a velhice é considerada má pela maioria das pessoas
idosas, porque pensam não poder mais ser criativas e, em conseqüência, se privam de muitas
atividades normais, por medo de fracasso ou censura. É esse medo que faz com que algumas
pessoas procurem negar o seu envelhecimento, gerando "o envelhecimento social que é o
resultado de uma série de ocorrências por vezes alheias à vontade dos que nelas estão
envolvidos, acarretando freqüentes e desfavoráveis mudanças".(MOTTA, 1996:25)

Toda essa ideologia, que é internalizada pelas pessoas idosas, é fruto da política de
desenvolvimento das sociedades capitalistas industrializadas e urbanizadas, que sempre
tiveram mais interesse pela população jovem, economicamente produtiva, do que pela
população idosa, a quem consideram incapaz e economicamente inativa.

Se por um lado o crescimento proporcional de idosos numa população é um elemento de alto


significado para elaboração de políticas sociais, por outro, a idade mais avançada, tem um
custo social elevado, na medida em que determina por mais tempo a manutenção do salário-
aposentadoria e a necessidade de equipamentos institucionais específicos. Além disso, o
investimento numa criança tem um retorno potencial de 60 anos ou mais de vida útil,
produtiva, enquanto que os amplos cuidados médico-sociais na tentativa de manutenção do
idoso com uma vida saudável não podem ser encarados como um investimento.

Sabendo que a Organização Internacional do Trabalho - OIT acusa para o ano 2020, nos
países industrializados, a existência de cerca de 270 milhões de pessoas inativas, com mais de
55 anos, significando portanto 38 idosos aposentados para cada 100 cidadãos ativos, nasce a
necessidade de profundas transformações sócio-econômicas, visando possibilitar melhor
qualidade de vida aos idosos e àqueles que se encontram em processo de envelhecimento.
Porém, devemos salientar que os países do Terceiro Mundo estão longe de alcançar esse
objetivo, pois, além de serem política e economicamente dependentes de outras nações,
possuem uma política protecionista que privilegia os indivíduos economicamente favorecidos
em detrimento da maioria.

A inatividade profissional dos indivíduos considerados idosos acarreta uma profunda mudança
em relação a um estilo e ritmo de vida, exigindo grande esforço de adaptação, visto que parar
de trabalhar significa a perda do papel profissional, a perda de papéis junto à família e à
sociedade. A interiorização emocional dessas perdas, socialmente significativas para todos os
homens, na maioria das vezes determina um certo afastamento destes da sociedade. Por outro
lado, o distanciamento do aposentado da convivência com diversos grupos,
concomitantemente, faz com que a sociedade também se distancie do aposentado, não o
convocando para participar, e não reconhecendo a sua existência social. Em decorrência
desses fatores e das exigências do mundo moderno, vem, quase sempre, como conseqüência
natural, o isolamento social do velho. Sem dúvida este processo provocará o impacto da
sociedade que terá que enfrentar este desafio com muita agilidade.

Sabemos que ao longo de nossa existência somos submetidos a um processo educativo, que nos
induz a um engajamento contínuo, seja pela atividade profissional ou pelos grupos sociais aos
quais pertencemos. Nos responsabilizamos com a sociedade, adquirindo papéis voltados para o
trabalho e para a família; entretanto, com o decorrer do tempo, aos poucos perderemos essa
autonomia social, principalmente com o advento da aposentadoria. A partir desse momento
geralmente nos sentimos limitados em formular novos projetos de vida, porque não nos
preocupamos ou não fomos estimulados a descobrir ou investir em novos papéis. Como diz
Guillermard:

"Para se encontrar novos papéis e se desenvolver atividades durante a aposentadoria é preciso


estar ativo e poder mobilizar recursos (...) Quem não acumula recursos encontra a morte social
na aposentadoria, sendo uma espécie de marginalizado, não descobrindo fórmulas de
transformar o tempo livre em projetos sociais".(GUILLERMARD apud SALGADO, 1996:11)

Sem dúvida acreditamos que a interrupção da vida do trabalho pela aposentadoria resulta na
desorganização individual e pessoal, porque o excesso de tempo livre, aliado à pobreza das
tarefas e ocupações cotidianas, sem a presença das funções da atividade profissional, levam o
indivíduo a sentir-se em desigualdade perante aqueles que ainda trabalham, sem falar das
dificuldades para a manutenção de relacionamentos sociais construídos naquele ambiente.
Com isto o aposentado se sente isolado, favorecendo a perda de suas capacidades intelectuais
e conseqüente desatualização em relação ao próprio mundo.

Estas observações nos levam a concluir que a aposentadoria representa um perigo para todos
aqueles que não encontram-se preparados para o afastamento das atividades produtivas,
ameaçando o equilíbrio emocional e a continuidade harmônica da própria existência desses
indivíduos. Sem que percebam ao tornarem-se inúteis esses indivíduos acabam reforçando a
consciência negativa que a sociedade tem a respeito da aposentadoria e do próprio
envelhecimento. Isto nos obriga a considerar a necessidade de ações educativas ou de
propostas que ajudem os indivíduos a se preparem, para que possam valorizar o tempo livre
decorrente da aposentadoria, pois, como diz Ferrari:

"Para se descobrir a capacidade de enfrentamento desta dimensão de tempo é preciso


inicialmente redistribuí-lo e reorganizá-lo, continuando os projetos de vida com criatividade,
energia, iniciativa, com projetos que dêem ritmos e significado à vida para não cair no vazio,
no rotineiro". (FERRARI apud NERI, 1996: 100).

Esse processo de redefinição da vida a partir do próprio envelhecimento ou da aposentadoria


resulta no despertar das pessoas idosas para os valores do lazer, com dimensões socialmente
produtivas, capazes de reagrupar as diversas funções sociais que ao longo da vida ativa se
distribuíam entre o trabalho, a sociedade e a família. Por outro lado, preparar-se para o
envelhecimento significa conhecer o processo natural da velhice, seus limites reais, rompendo
os preconceitos, no sentido de se reduzir o processo de perda da auto-estima que acomete a
todos aqueles que vêem no envelhecimento um tempo exclusivo de perdas e improdutividade,
que vêem a velhice apenas como última etapa da vida.

Diante das questões analisadas frente à problemática social, econômica, política e cultural da
população idosa em nossa sociedade, vimos a necessidade de também analisarmos a posição
real do Estado brasileiro e das políticas sociais que visam garantir os direitos sociais dos
idosos, as medidas até então adotadas e as alternativas propostas. Para tanto, iniciaremos esta
questão com uma afirmação de Simone de Beauvoir (1990), que em seu ensaio sobre a velhice
conclui: "embora a velhice tenha sido sempre evitada, a situação dos idosos em alguns
momentos da história em determinadas culturas foi mais favorável. Todavia prevalece em
nossos dias uma visão profundamente negativa em relação à velhice. Desprovidos de suas
funções sociais, como conseqüência da aposentadoria, os velhos são considerados inúteis,
improdutivos e um peso para a sociedade".

Diante disto podemos verificar as contradições existentes nas sociedades atuais, porque se por
um lado constatamos o acelerado crescimento da população de idosos, por outro observamos
que essa mesma sociedade se omite ou adota atitudes preconceituosas sobre a velhice,
protelando portanto a implementação de medidas que visem atenuar a problemática daqueles
que ingressam na Terceira idade.

Apesar da existência dessas contradições, o idoso, como cidadão de direitos, está inserido na
Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988, define
que em seu artigo 6º, capítulo 12º Direitos Sociais da seguinte forma:

"São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência


social, a proteção à maturidade e `a infância, assistência aos desamparados na forma desta
constituição".

Desta forma foi editada a Política Nacional do Idoso, sob a lei n.º 8.842 de 04.01.94:

Capítulo I

Da Finalidade:

Art. 1º A política nacional do idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso,
criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na
sociedade.
Art. 2º Considera-se o idoso para todos os efeitos desta Lei a pessoa maior dos sessenta anos
de idade."

Mediante esta Lei é que o governo deve adotar medidas efetivas voltadas para a política de
atenção ao idoso, envolvendo a sociedade como um todo, em parceria com os Ministérios da
Cultura, da Educação, da Justiça, da Saúde, do Trabalho e do Planejamento e orçamento por
intermédio da Secretaria Urbana e do Instituto Nacional do Desenvolvimento do Desporto.

De acordo com a Lei n.º 8.742, de 07 de dezembro de 1993 - Lei Orgânica de Assistência
Social compete a MPAS/ SAS - Ministério de Assistência e Previdência Social - Secretaria de
Assistência Social, priorizar o atendimento não asilar aos idosos e deverá efetivar de forma
descentralizada as seguintes ações:

- Benefício de Prestação Continuada:

Garante um salário mínimo mensal à pessoa idosa de 70 anos ou mais que não tenha condições
de prover sua subsistência, nem tê-la provida pela sua família, cuja renda mensal per capita
não ultrapasse a ¼ do salário mínimo.

- Centros de Convivência:

Locais destinados a permanência diurna do idoso, onde são desenvolvidas atividades físicas,
laborativas, recreativas, culturais, associativas e de educação para cidadania.

- Centros de cuidados diurnos:

Local destinado a permanência diurna do idoso dependente ou que possua deficiência


temporária e necessite de assistência médica ou multiprofissional.

- Casa Lar:

Residência, em sistema participativo, cedida por instituições públicas ou privadas, destinada a


idosos detentores de renda insuficiente para sua manutenção e sem família.

- Atendimento Domiciliar:

É o serviço prestado ao idoso que vive só e seja dependente, a fim de suprir suas necessidades
de vida diária.

- Atendimento Asilar:

Consiste no atendimento integral prestado aos idosos que não possuam condições que
garantam sua própria sobrevivência.

- Oficinas Abrigadas de Trabalho:

Local destinado ao desenvolvimento, pelo idoso, de atividades produtivas, proporcionando aos


idosos oportunidades de elevar sua renda.

- Prorendas:

São iniciativas que objetivam o aumento da renda familiar, por intermédio de micro-unidades
produtivas.

- Formas Alternativas de Atendimento:


São iniciativas surgidas na própria comunidade, que visam a promoção e integração da pessoa
idosa na família e na comunidade.

Se analisarmos a realidade do idoso no Brasil, comparada a esta política de ação do Estado,


certamente constataremos a carência de efetivação destes programas. A isto atribuímos, o
desinteresse do Estado no sentido de destinar recursos à melhoria das condições de vida de um
seguimento populacional inativo e, ainda, ao desconhecimento deste seguimento populacional
no que diz respeito aos seus direitos adquiridos. Sem dúvida esses dois fatores são os maiores
responsáveis por muitas injustiças que são cometidas, como por exemplo, a falta do apoio
governamental às instituições sociais que se propõem assistir os idosos carentes acentuando
assim a situação de marginalização social desses indivíduos, agravando portanto as imagens
negativas que se tem sobre a velhice.

Pelo exposto podemos então concluir que ainda existe um longo percurso a ser cumprido, para
que haja um conhecimento da legislação existente e das formas de fazermos valer esses
direitos. Consideramos necessário ressaltar, que a concepção de direitos a que nos referimos
não pode ser entendida como concessões, benesses ou doações de caráter assistencialista, mas
sim uma assistência social digna, que seja capaz de assegurar a satisfação das diversas
necessidades básicas dos idosos com habitação, saúde, alimentação, etc. e, principalmente, que
seja capaz de possibilitar a integração dos idosos no contexto social em que vivem.

Texto extraído do trabalho de monografia de conclusão de curso de Bacharel em Serviço Social


conferido pela Escola de Serviço Social da Universidade Católica do Salvador, elaborado
pelas alunas Andrea Leite Lisbôa de Souza e Bárbara dos Santos Pimentel, em novembro de
1997.
 
O IDOSO NA FAMÍLIA

No ano de 1987, em Conferência realizada em Roma , por ocasião do Congresso Internacional


da Família, o professor Pedro Juan Villadrich se manifestou a respeito do tema da seguinte
forma:

"a família era imprescindível em sociedades do passado porque cumpria nelas importantes
funções políticas, econômicas, religiosas, educativas, sendo a única unidade reprodutora da
espécie com caráter estável e institucional. Os laços familiares foram suporte para alianças
políticas, econômicas e culturais; a maioria dos serviços sanitários, de segurança social e
assistenciais que hoje assume o Estado foram em alguma época executados pela família".
(VILLADRICH apud NERI, 1996: 92)

A família, como vimos, representava no passado um significativo papel. Era uma instituição
fundamental na vida das diferentes sociedades, sendo ela a transmissora de uma ideologia
dominante, como centro de abertura do ser humano para o mundo, desempenhando portanto o
importante papel de agente socializador.

Este diagnóstico tem um verdadeiro sentido, se considerarmos que o ser humano tem a família
como sendo o seu primeiro habitat natural e, portanto, é nesta que se processam seus primeiros
contatos; é conhecido integralmente e adquiri os seus primeiros conhecimentos a respeito de si
mesmo, da vida e, em conseqüência, se conscientiza sobre os papéis e funções familiares e
sociais que tem a desempenhar ao longo de sua existência.

Embora reconheçamos a importância da família na formação, desenvolvimento e equilíbrio


biopsicossocial do ser humano, devemos igualmente admitir, que o somatório vivencial,
representado pela história de vida, assim como as possibilidades de viabilização do intelecto
cultural e espiritual em família vêm ao longo do tempo perdendo o seu significado para a
maioria das sociedades, especialmente para aquelas que orientam-se pelo regime capitalista.
Sem dúvida a perda de significados dos papéis e funções concernentes à família tem
desencadeado alterações biopsicossociais significativas nos indivíduos, sobretudo nos idosos,
porque ao se afastarem da vida produtiva, além de perderem seu poder econômico, político e
social, os idosos sofrem, em conseqüência, o desprestígio no seio da própria família.

Diante de sucessivas perdas, o idoso pode chegar ao isolamento, quer por vontade própria ou
por imposição familiar, pois, o fato de ter menos ocupações para com a sociedade, ou ser
menos solicitado pela família, o faz sentir-se um indivíduo improdutivo, induzindo-o, por
conseguinte à perda do seu próprio poder de decisão. Partindo desta análise, verificamos que a
família exerce grande influência na perda de autonomia do idoso, levando-o a sentir-se
dependente. Além disso a própria família se acha no direito de lhe ditar ordens e de fazer
exigências como: deixar de sair sozinho, deixar de trabalhar e de praticar diversas atividades.

No texto Envelhecimento Social, Motta analisa que:

"a infância e a juventude são períodos de aprendizagem de diferentes papéis, quando estes
papéis começam a diminuir ou a perder importância, o status alcançado é diretamente
atingido, o indivíduo que desempenha tarefas progressivamente começa a ser valorizado pelo
que foi. Os jovens dizem "meu avô foi...", os adultos também se utilizam dos verbos no passado,
e os idosos começam a lembrar "eu era...", "eu fazia...". ( MOTTA, 1989: 25)

Esses dizeres traduzem a tristeza que sentem alguns idosos de não mais serem alguém, não
mais realizarem alguma atividade, não mais poderem contar com a companhia de antigos
parceiros. Para alguns estudiosos o viver no passado pode significar tentativas feitas pelos
idosos no sentido de amenizarem angústias que a realidade do presente lhes provocam, pois ao
se sentirem excluídos do meio social, começam a se afastar das atividades grupais, sendo este
um dos fatores que levam a família assumirem tarefas dos seus cuidados.

Ao refletir sobre as condições dos idosos que residem com suas famílias, muitas vezes
verificamos que esses geralmente não encontram espaço para a sua acomodação, requerendo
dos seus familiares esforço de compreensão e um desejo de colaboração nem sempre
compatíveis com as suas reais possibilidades, porque os que vivem sob o mesmo teto quase
sempre se vêem constantemente pressionados a renunciar a legítimos anseios de conforto e
privacidade. O contínuo mal estar entre idosos e familiares, pode levar a revolta e a outras
reações inadequadas, porque na maioria dos casos o idoso que reside com a família, divide o
quarto com neto (s), sem desfrutar de um ambiente onde consiga relaxar, assistir TV, ler, etc.,
tendo sempre que se adaptar aos horários dos companheiros de quarto. Em geral esse fator
ocasiona profundos conflitos familiares, pois a privacidade embora não seja ou não possa ser
respeitada, na realidade trata-se de uma necessidade natural dos indivíduos, especialmente da
maioria dos idosos que almejam tranqüilidade.

Por outro lado, quando os idosos moram sozinhos, com freqüência emergem atitudes negativas
frente à velhice atribuídas aos sentimentos de solidão e abandono em que vivem levando-os ao
processo de morte social, pelo total afastamento da vida em sociedade.

Assim sendo, podemos verificar que na maioria dos casos a velhice acarreta uma diminuição
da capacidade de adaptação e aceitação dos indivíduos e isto cria-lhes dificuldades para que
possam administrar novas situações, como a viuvez, a presença de problemas financeiros, etc.
até a total incapacidade adaptativa, mesmo a situações simples como o sair de casa para um
passeio. Essa diminuição progressiva da capacidade adaptativa do idoso à novas situações ou
às variações sociais aumentam sua dependência do ambiente familiar, caracterizado pelo
idoso, como um local seguro, que proporciona-lhe estabilidade e proteção.
Apesar do ambiente familiar representar um porto seguro para os idosos constatamos que, pelo
fato de atualmente as famílias tenderem a ser nucleares, constituída apenas por pais e filhos, já
não há mais espaço para os avós idosos ou colaterais. É evidente que nestas condições, a
assistência ao idoso pode se tornar difícil, podendo chegar à sua institucionalização, gerando
portanto o desequilíbrio biopsicossocial deste indivíduo, pois como diz Barroso:

"O tipo de acolhimento, de atenção, de segurança oferecida, de participação nas decisões


familiares, resultam em equilíbrio (...) a convivência intergeracional, as relações de amizade,
de vizinhança de grupos sociais, são fontes energizantes para o longevo" (BARROSO, Maria
José in Revista A Terceira Idade, 1996:15)

A inadequação do acolhimento a idosos em instituições asilares pode ser melhor compreendida


se atentarmos para a colocação feita pelo articulista Marc Lesson, que em uma matéria
publicada no jornal Le Monde (1986), descreveu os asilos não somente como um local de
amontoamento dos velhos, como também, um campo de tortura regulamentada, limpa e
silenciosa. A denominação "tortura", diz o autor, deve chocar a muita gente, porém é
necessário que se saiba que a vida de muitos idosos asilados é um estado completo de solidão.
Instalados numa enfermaria, cujos leitos são separados por cortinas, ou num boxe de alguns
metros quadrados, com uma pequena vasile e um armário, tem aí fechado a cadeado todo o seu
passado. Não recebem ninguém e não têm personalidade, exceto os apelidos de "vovó" ou
"vovô".

No que tange à realidade brasileira, o asilamento pode ser um instrumento aceitável para
casos de total dependência do idoso, principalmente para aqueles que não possuem familiares
e apresentam poucas chances de recuperação. Deve ser um serviço restrito a uma população
especial, cuja carência biopsicossocial determine-o como último ou único recurso de
assistência. Porém, por falta de recursos financeiros no meio em que vivemos, muitos idosos
independentes têm recorrido aos asilos, em busca de assistência ou visando combater o
isolamento.

Concluímos então, defendendo a permanência do idoso na família e, ainda, que este não deve
ser tratado como um ser diferente dos demais, porque apesar das suas limitações, é um ser
como outro qualquer, devendo portanto ter plenos direitos para o exercício de sua humanidade
de acordo com as suas potencialidades. Se considerarmos que o futuro do mundo depende de
todos os grupos humanos, devemos portanto admitir que através do contato intergeracional
todos aprendem, produzem e somam realizações. Além disso, também acreditamos que os que
são idosos podem continuar o processo, apoiando as realizações de todos os grupos em muitos
setores da sociedade, pois como afirma Lesson:

"Se a sociedade inventou a velhice, devem os idosos reinventar a sociedade". (LESSON apud
SALGADO, 1996:08)

Acreditamos portanto que o apoio familiar é imprescindível ao equilíbrio biopsicossocial do


idoso, porque favorece um envelhecimento útil e participativo, cabendo à sociedade a
responsabilidade de redefinir, sócio e culturalmente o significado da velhice, possibilitando a
restauração da dignidade para que esse grupo etário se sinta apoiado no sentido de lutar pelos
seus direitos.

Texto extraído do trabalho de monografia de conclusão de curso de Bacharel em Serviço Social


conferido pela Escola de Serviço Social da Universidade Católica do Salvador, elaborado
pelas alunas Andrea Leite Lisbôa de Souza e Bárbara dos Santos Pimentel, em novembro de
1997.
 
APOSENTADORIA

"Pela legislação brasileira, a aposentadoria só chega após os 60 anos, o que vale dizer que
antes desta idade os homens e mulheres ainda estão no mercado de trabalho. Pesquisa
realizada em 11 países pelo "Instituto Sodhexho" para o Desenvolvimento da Qualidade de
Vida no Cotidiano, incluindo o Brasil, prevê que os maiores de 50 anos, que deveriam estar
entrando na chamada Terceira Idade, estão realmente vivendo uma nova fase da vida,
considerada ‘idade do poder’." - Ivana Braga

A aposentadoria como o próprio nome diz: "aposentar" parar de produzir no mercado de


trabalho ou melhor dizendo recomeçar a viver. Aposentar-se pode ser sem dúvida a melhor
fase da vida de qualquer cidadão, primeiro, porque, não tem mais tantas responsabilidades
com horário, tem o seu tempo disponível para desfruta-lo da melhor maneira possível, apesar
do despreparo da sociedade que encara a "maior, melhor ou terceira idade", qualquer que seja
a denominação dada aos maiores de 50 anos, como uma fase decadente, na qual nada se
produz e a vida deixa de existir. Apesar de estarem aptos para assumir novas tarefas na vida,
os cinqüentões ou sessentões encontram dificuldades para se reintegrarem ao mercado de
trabalho e retomarem atividades profissionais que desenvolveram durante toda a vida
economicamente ativa.

A aposentadoria é um direito de todo cidadão regularizado na Previdência Social, nas suas


diversas categorias: por idade, por tempo de contribuição, por invalidez e aposentadoria
especial. Para obter maiores informações a cerca desses benefícios, existe uma página na
internet que trata exclusivamente desse assunto. Trata-se do site da Previdência Social . Vale a
pena conferir!
 
ENVELHECER

Envelhecer não é caducar. Não é julgar-se perto da cova, perto do fim, perto da morte. Nem é
simplesmente perder a memória, esquecer as boas lembranças e as doces recordações. Nem as
estripulias de criança, os passos da adolescência, as aventuras do passado. Pelo contrário,
conservam-se essas reminiscências sem pranto e sem dor, sem tristeza e sem angústia; o
percurso da idade não faz ficar velho. Mas conservar-se intimamente moço, psicologicamente
jovem, forte e feliz recordando os sonhos e as aventuras, as amizades e os amores, os
problemas que enfrentou e as esperanças que lhe davam asas de beija-flor.

E então pensava no futuro, na expectativa de ser um vencedor contra as dificuldades e nas


perspectivas de garantir uma boa vida, uma vida tranqüila e vitoriosa, uma vida sem sustos e
sem pesadelos, uma vida sem amarguras. Uma vida, enfim, mesmo difícil paradoxalmente,
porém fácil de ser vencida, fácil de superada, fácil de ser resolvida nos problemas que se
apresentassem. Recordando a mocidade perene que há dentro de cada figura humana,
qualquer que seja a sua idade: "Tem cada idade a sua juventude".

Envelhecer é uma forma de viver permanentemente jovem, mesmo que os anos e os fatos abram
rugas na face e amor e apego à existência.

Eis aí a sábia e filosófica lição poética: "Entre pela velhice com cuidado,/ pé ante pé, sem
provocar rumores,/ que despertem lembranças do passado,/ sonhos de glória ou ilusões de
amores./ Do que houveres no pomar plantado,/ apanha os frutos e recolhe as flores./ Mas,
lavra ainda e cuida o teu eirado,/ outros virão colher quando te fores./ Não faças da velhice
enfermidade,/ alimenta o espírito na saúde/ luta contra as tibiezas da vontade,/ Que a neve
caia, que o andar não mude,/ mantém-te jovem, não importa a idade,/ tem cada idade a sua
juventude".
JUNOT SILVEIRA
Professor, jornalista e editor geral do jornal "A TARDE".
 
ORAÇÃO DO IDOSO
Bem-aventurados aqueles que compreendem meus passos vacilantes e minhas mãos trêmulas.
Bem-aventurados os que levam em conta que meus ouvidos captam as palavras com
dificuldades, por isso procuram falar mais alto e pausadamente.
Bem-aventurados os que percebem que meus olhos já estão nublados e minhas reações são
lentas.
Bem-aventurados os que desviam o olhar, simulando não ter visto o café, que por vezes
derramado sobre a mesa.
Bem-aventurados os que nunca dizem "você já contou isso tantas vezes".
Bem-aventurados os que sabem dirigir a conversa e as recordações às coisas dos tempos
passados.
Bem-aventurados os que me ajudam a atravessar a rua e não lamentam o tempo que me
dedicaram.
Bem-aventurados os que compreendem quanto me custa encontrar forças para carregar minha
cruz.
Bem-aventurados os que amenizam os meus últimos anos sobre a terra.
Bem-aventurados todos aqueles que me dedicam afeto e carinho, fazendo-me assim pensar em
Deus. Quando entrar na Eternidade, lembrai-me-ei deles, junto ao Senhor.
COMEÇAR DE NOVO
* Angela Oliveira

Mais do que os homens, mulheres acima de 60 renovam suas vidas com muito entusiasmo e
alegria.

Mesmo com os filhos adultos, sem um companheiro ou um trabalho, as mulheres reagem mais
rápido à viuvez e à aposentadoria. Elas vão à luta, em busca da felicidade, com muita
determinação. Os homens, por sua vez, geralmente ficam apáticos, quase perdidos. Não raro,
depois de deixar de trabalhar, eles se sentem inúteis, perdem horas em frente à tevê ou jogando
dominó. A geriatra Anita Néri, da Universidade de Campinas (Unicamp) acredita que os
homens passam a vida como provedores do lar e não se preparam para a aposentadoria. Não
cultivaram hobbies, esportes ou outro tipo de atividade. As mulheres, ao contrário, são menos
acomodadas. "Vários estudos indicam que elas vivem mais do que os homens justamente por
esse motivo" diz Anita. "O importante é não perder o ânimo, investir na saúde, no futuro,
acreditar que o melhor ainda está por vir. Eis um dos grandes segredos da longevidade",
ensina ela.

A experiência da empresária Florinilda dos Santos, a Flor, 52 anos, endossa a teoria de Anita.
Proprietária da "Flor da Idade", agência e escola de modelos para terceira idade, ela afirma
que, ao se aposentarem, os homens ficam mais desanimados. "Eles se entregam fácil à tristeza.
Por isso, não só no meu grupo, mas em muitos outros, as mulheres são maioria", conta Flor.
Muitas mulheres são reprimidas pelo marido ou mesmo pelo pai durante décadas e, quando
chegam aqui, soltam a franga!", brinca ela. Elas não se intimidam com a idade. Dançam,
arranjam algum trabalho, procuram amigos. Prova disso é que muitas dessas mulheres
desistem de esperar o marido e saem para se divertir sozinhas. Um bom exemplo é a dona de
casa Beti Curi, 73 anos. Há alguns meses, ela ganhou o concurso de Miss Simpatia em um
baile realizado no Centro Cultural de Santo Amaro, em São Paulo. Com altíssimo astral, Beti
faz shows vestida de palhaço em festas infantis e espetáculos em clubes. "Meu marido morre de
rir comigo, mas só sai da frente da televisão para andar de bicicleta. Esses homens são muito
desanimados", brinca.
Outra mulher que nunca perde a piada - e o ânimo - é a atriz Nair Belo, 68 anos. Além de
abraçar a sua quarentona personagem Santinha, do programa Zorra Total na Rede Globo,
participa da nova novela das 7, Uga Uga. Mais ainda: estuda um texto de teatro para estrelar
ao lado de Lolita Rodrigues, 67 anos, e Hebe Camargo, 70 - as três, amigas desde a
adolescência. "Sem dúvida vai ser uma comédia", explica a atriz. "Só não sei quem vai pagar
para nos ver cair na gargalhada. A gente ri até em velório!", brinca.

CORAGEM - Algumas mulheres, muitas vezes, resistem em assumir uma profissão. Optam
primeiro pela casa e pelos filhos. Mas, quando surge uma oportunidade, enfrentam
corajosamente o novo desafio. É o caso de Marilene Barbosa, 61 anos, mulher do autor de
novelas Benedito Ruy Barbosa, 67. Ela arregaçou as mangas, largou o avental e foi atrás de
um sonho antigo: tornar-se atriz. "Durante 42 anos criei meus quatro filhos, fui motorista,
secretária, office-boy, enfim, cuidava da casa, marido e ainda dos netos", conta ela. Agora,
Marilene brilha no palco do Teatro Imprensa, em São Paulo, na peça "Socorro, mamãe foi
embora", de autoria do próprio Ruy Barbosa. "Escrevi essa peça como um pedido de desculpa
para ela", revela o pai da novela Terra Nostra. "É uma mistura de ficção com realidade". Há
oito anos Marilene foi fazer produções de peças teatrais e a casa virou uma bagunça. Sem a
administração da mulher, até Ruy soltou cheques sem fundo. "De uma certa maneira, esqueci
dela e só percebi meu erro quando a casa ficou sem a sua direção. Por egoísmo, não
acreditava em seu potencial como atriz", confessa ele.

A expectativa de vida mudou muito. Há 20 anos, quem tinha 80 anos era um velho. Hoje a
visão e a postura mudaram. O geriatra Clineu Almada, 39 anos, professor da Universidade
Federal de São Paulo também acredita que a prevenção é o melhor remédio: "Quanto mais
cedo a pessoa cuidar da saúde, melhor". Para ele, um dos fatores dessa guinada foi a mudança
de hábitos. Muita gente aceitou parar de beber, de fumar, cuidar da alimentação e praticar
exercícios físicos. "Depois dos 35 anos, a manutenção deve ser rigorosa. Prevenir doenças é o
grande caminho para uma velhice saudável e feliz. Até a libido melhora", diz Almada.

Sexualidade também deixou de ser tabu para essas mulheres. Elas vivem o desejo sexual com
toda a sua plenitude - como Nair Cardoso, 85 anos. Viúva há 12 anos de um "marido muito
fogoso", Nair já está em sua terceira paixão. Todos os namorados são homens mais jovens, por
volta dos 60 anos. "Os mais velhos não estão com nada. Não dançam e vivem tristes". Os
namorados de Nair acabam sempre pelo mesmo motivo: "Eles querem casar. Mas casamento
nem pensar!". Dança, teatro, modelo de publicidade. Vale tudo e o mercado para os maduros
está crescendo cada vez mais. Daí o sucesso da campanha da cerveja Kaiser, exibida
recentemente, que mostrava quatro velhinhas num bar tomando uma gelada e cantando rock.
"A idéia foi feliz demais e fez a gente abrir o olho para um mercado pouco explorado", afirma
Cecília Novaes, 40 anos, diretora de planejamento da agência FNazca. A mesma surpresa
sentiu o publicitário Luiz Lara, presidente da Lew, Lara Comunicações. O cliente Banco Real
resolveu fazer um concurso de artes para maiores de 60 anos e o resultado foi um estouro.
"Tivemos mais de sete mil inscritos", afirma Lara. "O prêmio foi um divisor de águas. Existe
um mercado incrível para os madurões e só agora o Brasil começa a acordar para esse nicho".

COMPUTADOR - Um nicho descoberto quase sem querer por Fernando Saldanha, 31 anos,
dono da escola de computador "Site 1". Das 14 turmas, nove são ocupadas pelo pessoal acima
dos 60 anos. "Todos querem se reciclar, estar plugado no mundo pela Internet", confirma. A
aluna Maria Júlia Lopes, 80 anos, pretende escrever um livro de culinária apenas com receitas
de nomes estranhos e conta com a ajuda da informática. "A minha pesquisa não acaba
nunca!", surpreende-se. "O computador é uma ótima ferramenta. Se antes já não tinha medo da
velhice, agora acho uma beleza! Até fisicamente me sinto bem e nem fiz plástica".

No fundo, fazer o possível e o impossível para ser feliz é o desejo de todo o ser humano, em
qualquer idade. O essencial é não perder o entusiasmo e a determinação de viver em alto-
astral. A estudante de teatro Luiza Kiyomura Abe, 68 anos, fez uma promessa: não morrer sem
participar de um programa de televisão. "Eu ainda vou ser atriz de novela! Tenho certeza
disso!". Com tanta certeza, ela é mesmo capaz de realizar seu sonho.

* A autora é jornalista da revista ISTO É (nº 1598, de 17/5/2000 - seção "Comportamento")


A HORA E A VEZ DOS IDOSOS

Quem pensa que lugar idoso é em casa, descansando, pode começar a mudar de idéia. Pessoas
acima dos 60 anos estão cada vez mais ativas e recebem a cada dia mais atenção do poder
público, que antes limitava atenção aos jovens e adultos. No próximo mês, por exemplo,
começa a ser desenvolvido em Belo Horizonte um projeto para geração de renda, com a
finalidade de capacitar pessoas da terceira idade a trabalharem sozinhas ou participando de
micro-unidades, na fabricação de produtos, como doces cristalizados, tomates secos, granola e
picles.

Atitudes como essas provam que o Brasil está envelhecendo. Estima-se que daqui a 50 anos
ocorrerá o maior incremento na proporção de idosos. Hoje, o país possui 9,1% da população
acima de 60 anos. Dados estatísticos apontam que o país vai chegar em 2025 com uma
população próxima a 34 milhões de pessoas acima de 60 anos. Nunca se falou tanto em idoso
em BH. No Dia Nacional do Idoso, comemorado amanhã, haverá diversas atividades para a
terceira idade. A programação se estende por toda a semana (veja quadro nesta página).

Ações destinadas a esse público elegeram a capital mineira como vitrine para o resto do país _
conforme atesta a coordenadora da Política Nacional do Idoso, do Ministério da Previdência
Social, Jurilza Mendonça. "É preciso que estados e municípios desenvolvam políticas públicas
para que o idoso envelheça com qualidade de vida", ressalta Jurilza.

A diretora do Departamento de Assistência ao Idoso da Secretaria Municipal de


Desenvolvimento Social (SMDS), Vilma de Araújo Ribeiro, afirma que, em BH, o idoso passou
a ser considerado prioridade de Governo há três anos. Mas a aprovação da Política Municipal
do Idoso, em dezembro passado, através da Lei 7.930, representou um passo para a
concretização dos anseios desse segmento. "É básico e fundamental darmos atenção agora,
pois assim estaremos nos preparando para o futuro. Se deixarmos para depois, a carência vai
ser grande demais", observa.

Essa percepção obrigou a SMDS a identificar as atividades destinadas à terceira idade em BH.

Aproximadamente 830 pessoas já se inscreveram no Projeto Geração de Renda. "Vamos criar


grupos multiplicadores para que todos possam receber informações em cursos sobre doces
cristalizados, tomates secos, granola e picles", disse Vilma.

Ainda nos planos da SMDS, constam a criação de um Centro Geriátrico, para reunir estudos
sobre reabilitação e pesquisas epidemiológicas sobre envelhecimento, além de um Centro de
Capacitação para Cuidadores de Idosos. Hoje já são desenvolvidos na capital o programa de
alfabetização de idosos - através do Manual Dedo de Prosa - único no país destinado ao idoso,
desenvolvido pelo método Paulo Freire, com formação de mais de 2 mil pessoas; e o serviço
Disque Idoso (31 277-4646), com informação atualizada em diversas áreas, desde atendimento
geriátrico a orientação jurídica.

O retorno foi tão satisfatório, que o serviço deverá ser implantado até 2003 na metade das
capitais brasileiras. Mais de 70% das consultas recebem resposta na hora; o restante, num
prazo de 72 horas. Também já estão em funcionamento os Grupos de Apoio Psicológico Social
ao Idoso (Gapsi's); Casa Transitória, espaço para acolher o idoso convalescente por um
período máximo de seis semanas; além de diversos centros de convivência públicos e
particulare que garantem lazer, formação e diversão aos idosos.

Delegacia incentiva auto-estima

Ao mesmo tempo que as portas começam a se abrir para o idoso, muitos encontram dentro da
própria casa a origem da depressão. O delegado-adjunto da Delegacia Especializada de
Proteção ao Idoso, Marco Aurélio Lopes dos Santos, afirma que, em 80% dos casos de
violência contra a pessoa mais velha, o agressor é algum parente ou conhecido. A Delegacia
Especializada de Proteção ao Idoso atende uma média de oito casos por dia, sendo 6,14% por
abandono material; 31,66% de ameaças; 4,66% de apropriação indébita; 8,38% de lesão
corporal; 30% de maus- tratos; 7,28% de vias de fato; e 40,6% de perturbação da
tranqüilidade, trabalho e sossego alheio.

"Ainda não temos como afirmar se estão aumentando ou não os casos de violência contra o
idoso. Mas é certo que está havendo maior procura à delegacia, talvez pela maior consciência
das pessoas", ressaltou, lembrando que a delegacia tem dois anos. Minas Gerais é o quarto
estado a ter uma delegacia especializada. Além de aplicar a lei, a delegacia oferece um
trabalho multidisciplinar de assistências social, psicológica, médica e jurídica.

"Esses atendimentos possibilitam que as pessoas extravasem suas emoções e queixas.


Profissionais especializados procuram orientá-las de forma a não haver reincidência", disse. A
delegacia ainda oferece reuniões com Grupo de Apoio à Terceira Idade, todas as quartas-
feiras, às 15 horas, na Avenida Afonso Pena, 984, no Centro de BH. Orientadas por psicólogos,
as ex-vítimas desenvolvem atividades manuais e artísticas.

Esses trabalhos estão expostos no térreo da delegacia, dentro das comemorações da Semana
do Idoso. O espaçõ é aberto ao público, das 8h30 às 18 horas, até sexta-feira. "As pessoas
sentem confiança na delegacia por ela ser especializada e ter profissionais preparados para
atendê-las. Aqui elas percebem que o mundo não acabou, mesmo tendo sido agredida, pois
encontram apoio e orientação", afirma o delegado.

A psicóloga e consultora organizacional Maria Lúcia Rodrigues Costa afirma que a sociedade
e o mercado estão se abrindo para as pessoas que carregam as rugas do tempo e a experiência
da maturidade. Ela acredita, no entanto, que o próprio idoso não está habituado à essa
abertura. "Ainda é uma minoria que se considera capaz e que acredita valer à pena competir
com os jovens, evidentemente dentro de suas peculiaridades. Ainda é pequena a parcela de
idosos que encaram a vida com naturalidade", considera.

Maria Lúcia acha os programas destinados à terceira idade "bons", mas acredita que deveriam
agregar valor a eles. "As pessoas não querem nada que remeta à pena, mas algo saudável.
Acho que os programas não devem ser apenas paliativos, mas que sejam de alguma forma úteis
para a sociedade", afirma. "Se o homem trabalhou a vida toda como consultor financeiro, por
que ele não pode desenvolver um trabalho desse tipo para uma creche, por exemplo?". A
psicóloga também sugere mudar a nomenclatura "idoso", que julga ser inadequada, para
algum termo como "replanejamento de vida". "Talvez dessa forma atrairia mais homens aos
programas", imagina.

'Quero viver, pelo menos, até os 100 anos'

Quando era mocinha, em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, Maria Deoclécia Pimentel de
Oliveira, 72 anos, teve que adiar o sonho de ser assistente social para ajudar os pais a cuidar
dos outros quatro irmãos. Mais de meio século depois, dona Maria emociona-se ao contar que
seu desejo de juventude torna-se realidade. Hoje ela é assistente social voluntária das creches
da Administração Regional Leste, da PBH. Com a voz calma, mas segura, dona Maria, conta
que visita as creches, verifica o estoque de remédio e alimento, além de observar o bem-estar
das crianças.

Nem mesmo a pressão alta e as varizes impedem que dona Maria saia de seu apartamento no
Bairro Pompéia, Leste de BH, para ir de ônibus até as creches. "Sempre me preocupei com a
vida das pessoas carentes. Estou adorando esse trabalho", afirma. Funcionária pública
estadual aposentada, dona Maria conta que insistiu em trabalhar cinco anos a mais, depois que
tinha direito ao descanso, com medo de ficar à toa em casa. "Sempre falo com os médicos da
Previdência que eles têm que rebolar para descobrir remédios e tratamentos, porque quero
viver, pelo menos, até os 100 anos".

(Maria Deoclécia Pimentel de Oliveira, 72 anos, funcionária pública aposentada)

Em dia com a saúde

- É normal pessoas idosas engasgarem com freqüência? Por que isso acontece?
- Existe como prevenir?

(M.H.S., 63 anos / BH)

Não é normal engasgar, mas comum, quando a pessoa tem alguma patologia esôfago-gástrica
(digestiva) ou neurológica (seqüela por Acidente Vascular Cerebral, demência). O engasgo
pode acontecer em função de estreitamento do esôfago, quando há dificuldades digestivas, ou
devido a problemas de coordenação motora no ato da deglutição e na contração do esôfago,
devido às causas neurológicas. O idoso saudável não engasga com freqüência. Para evitar, é
preciso prevenir as doenças que podem causar esse problema, já que o engasgo é um fator
secundário.

(Luiz Carlos Moreira - clínico geral e geriatra do Hospital Paulo de Tarso)

(Envie sua pergunta para a coluna "Em dia com a saúde", através do fax: (31) 236-8010; e-
mail: minas@hojeemdia.com.br ou por correspondência: Rua Padre Rolim, 652, Santa
Efigênia, CEP: 31130-916)

Hoje em Dia - http://www.hojeemdia.com.br/ - Belo Horizonte, 26/09/2000


 
 

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