História como emissário a Lisboa, para afirmar a fidelida-
de ao rei e reforçar as acusações contra a Com- panhia de Jesus pelo descumprimento do con- Professor Francisco MELO de Souza trato e várias outras irregularidades. A reação metropolitana foi violenta: um novo go- vernador, Gomes Freire de Andrade, foi nomeado Aula 52 e enviado para o Maranhão, bem como tropas As rebeliões coloniais para combater os revoltosos. O movimento foi e o Iluminismo vencido, e seus principais líderes, Manuel Beck- man e Jorge Sampaio, foram enforcados. Desde a posse oficial do Brasil pelos portugue- ses até a proclamação da Independência (1500– 2. A Guerra dos Emboabas (Minas, 1708-09) 01. A Revolta de Beckman, ocorrida no Mara- 1822), ocorreram muitos conflitos na colônia. An- A descoberta de ouro em Minas Gerais pelos nhão em 1684, esteve diretamente ligada: tes mesmo do início do processo de colonização, bandeirantes paulistas, em fins do século XVII, a- a) À exploração da pesca no Rio Amazonas. a extração do pau-brasil gerava conflito entre por- traiu para a região milhares de colonos de outras tugueses e índios ou entre portugueses e trafi- províncias, além de um grande número de euro- b) À utilização da mão-de-obra indígena e à co- cantes de outras nacionalidades européias. Cer- peus. Julgando-se com direito exclusivo de ex- mercialização das drogas do sertão. tamente não temos registro de todos os distúr- ploração das minas, os paulistas hostilizavam os c) À formação de um grande número de qui- bios ocorridos durante praticamente três séculos forasteiros, aos quais apelidaram de emboabas lombos na periferia de São Luís, que gerou de colonização, mas, daquilo que ficou registra- (em tupi, amo-aba significa estrangeiro). clima de tensão entre os donos de escravos e do historicamente, vamos estudar as principais Sob a liderança de Manuel Nunes Viana, alcu- os quilombolas. rebeliões nativistas causadas pelos impostos a- nhado de “governador das minas”, os emboabas busivos e por privilégios concedidos aos nasci- enfrentaram os paulistas em vários combates. O d) Ao interesse dos franceses na exploração e dos em Portugal, em detrimento dos nascidos no marcante ocorreu no chamado Capão da Trai- comercialização das drogas do sertão, o que Brasil. ção, no qual 300 paulistas foram cercados pelos era de interesse dos maranhenses, que viam emboabas. Diante da promessa de que ninguém no comércio com a França a possibilidade de 1. A Revolta de Beckman (Maranhão, 1684) seria morto, os paulistas se renderam e entrega- Uma das principais atividades econômicas da romper o Pacto Colonial. ram as armas. O comandante dos emboabas, Região Norte era a extração das drogas do ser- Bento de Amaral Coutinho, entretanto, ordenou o e) À defesa que os jesuítas faziam dos índios, tão. Por drogas, compreendia-se uma série de massacre dos paulistas. que, segundo os padres, não deviam traba- plantas, entre as quais a baunilha, o cacau, o ta- Em 1708, o governo português interveio e, a fim lhar para ninguém, uma vez que isso contrari- baco e o pau-cravo. Os colonos usavam a mão- de pacificar e melhor administrar a região, sepa- ava sua natureza. de-obra indígena porque os índios conheciam rou a capitania de São Paulo e de Minas Gerais florestas onde era feita coleta. As drogas tinham da capitania do Rio de Janeiro. Poucos anos de- 02. A chamada Guerra dos Mascates, ocorrida um comércio lucrativo na Europa, por isso a re- pois, os bandeirantes paulistas partiram em bus- em Pernambuco, em 1710, deveu-se: belião ocorrida no Maranhão estava diretamente ca de ouro em Goiás e Mato Grosso, abandonan- ligada à utilização da mão-de-obra indígena e à do a região das Minas Gerais. a) Ao surgimento de um sentimento nativista comercialização das drogas do sertão. brasileiro, em oposição aos colonizadores 3. A Guerra dos Mascates (Pernamuco, A escravidão indígena tinha dois fortes oposito- portugueses. 1710–11) res: o governo português e os jesuítas. A Coroa b) Ao orgulho ferido dos habitantes da Vila de O- proibia essa prática porque contrariava os inte- Olinda passava dificuldades econômicas desde a expulsão dos holandeses de Pernambuco, o que linda, menosprezados pelos portugueses. resses envolvidos no tráfico negreiro. Os jesuítas estavam empenhados em manter os índios em gerou a decadência da atividade açucareira. En- c) Ao choque entre comerciantes portugueses suas missões, onde eram catequizados e traba- tretanto Olinda continuava controlando politica- do Recife e a aristocracia rural de Olinda pelo lhavam para a Companhia de Jesus. Os jesuítas mente a capitania, através de sua Câmara Muni- controle da mão-de-obra escrava. formavam um dos mais atuantes grupos que ex- cipal, à qual estava submetido o povoado de Re- d) Ao choque entre comerciantes portugueses ploravam as drogas do sertão com uso do traba- cife. Enquanto Olinda decaía economicamente, Recife do Recife e a aristocracia rural de Olinda, cu- lho indígena. Teoricamente, os índios não eram escravos dos religiosos, mas apenas trabalha- prosperava graças ao intenso comércio exercido jas relações comerciais eram, respectivamen- vam para as missões. O fato é que os padres e os pelos portugueses, apelidados de mascates. te, de credores e devedores. colonos que viviam no Maranhão eram concor- Além dos grandes lucros obtidos com a venda de e) À uma disputa interna entre grupos de comer- rentes na exploração das riquezas florestais. mercadorias, os comerciantes passaram a em- ciantes, que eram chamados depreciativa- Devido aos constantes atritos entre colonos e prestar dinheiro aos olindenses a juros altos. As- sim, Recife se transformava no principal centro e- mente de mascates. religiosos, a metrópole criou, em 1682, Compa- nhia Geral de Comércio do Maranhão, a fim de conômico de Pernambuco, ao passo que Olinda 03. Os primitivos habitantes do Brasil foram víti- monopolizar o comércio da região por vinte anos. mantinha o predomínio político. Em 1709, os comerciantes de Recife consegui- mas do processo colonizador. O europeu, Com isso, Portugal procurava incentivar a coloni- ram da Coroa sua emancipação, deixando de ser com visão de mundo calcada em precon- zação da região e o trabalho dos colonos. Sua função seria vender produtos europeus aos habi- um simples povoado e obtendo o estatuto de vila ceitos, menosprezou o indígena e sua cul- tantes do Maranhão e do Grão-Pará, como baca- independente, com condições de vir a ser o cen- tura. Ao acreditar nos viajantes e missioná- lhau, azeite, vinho, tecidos, farinha de trigo, e tro político de Pernambuco. Os olindenses, en- rios, a partir de meados do século XVI, há deles comprar o que produziam, como algodão, tão, sentindo-se prejudicados, invadiram Recife, um decréscimo da população indígena, açúcar, madeira e as drogas do sertão. A compa- iniciando a Guerra dos Mascates. Os conflitos terminaram no ano seguinte, quando que se agrava nos séculos seguintes. nhia também se responsabilizava por fornecer à região 500 escravos por ano, num total de 10 mil Portugal nomeou Félix José Machado governa- Os fatores que mais contribuíram para o ao longo dos vinte anos, para resolver o proble- dor de Pernambuco. Este prendeu os principais citado decréscimo foram: ma de mão-de-obra. envolvidos no conflito e manteve a autonomia de Recife. No ano seguinte, todos os revoltosos fo- a) A captura e a venda do índio para o trabalho Por usufruir da exclusividade comercial, porém, a companhia vendia seus produtos a preços muito ram anistiados, e Recife passou a ser a sede ad- nas minas de prata do Potosi. elevados e oferecia muito pouco pelos artigos ministrativa de Pernambuco. b) As guerras permanentes entre as tribos indí- adquiridos dos colonos, além de não cumprir o a- 4. A Revolta de Filipe dos Santos (Vila Rica – genas e entre os índios e brancos. cordo de fornecimento de escravos, gerando um MG, 1720) c) O canibalismo, o sentido mítico das práticas descontentamento por parte dos colonos. Assim Ocorreu como conseqüência dos crescentes tri- rituais, o espírito sanguinário, cruel e vingati- o descontentamento da população local não di- butos aplicados por Portugal em Minas Gerais. A vo dos naturais. minuiu, mas, pelo contrário, ampliou-se, levando rebelião começou quando o governo português os colonos à revolta. d) As missões jesuíticas do Vale Amazônico e a proibiu a circulação de ouro em pó, exigindo que Sob o comando do fazendeiro Manuel Beckman, todo o ouro extraído fosse entregue às casa de exploração do trabalho indígena na extração os revoltosos ocuparam a cidade de São Luís, de fundição, onde seria transformado em barras e da borracha. onde expulsaram os representantes da Compa- quintado. Mais de 2 mil mineradores se rebela- e) As epidemias introduzidas pelo invasor euro- nhia e os jesuítas que se opunham à escraviza- ram contra a medida e dirigiram-se ao governa- peu e a escravidão dos índios. ção indígena, governando o Maranhão por quase dor, o conde de Assumar. Este, porém, não con-