Na sua retaguarda, organizam-se linhas esgotos domésticos, lixo e resíduos de produtos
de instabilidade associadas a chuvas, que po- químicos utilizados na mineração. dem prosseguir durante vários dias. Nas vertentes Estima-se que, em alguns estados das regiões orientais dos planaltos, voltadas para o mar, regis- Sudeste e Sul – caso de São Paulo, Paraná e Rio tram-se também chuvas orográficas. Grande do Sul –, cerca de 80% das cidades se- Os recursos hídricos jam abastecidas por águas subterrâneas. O Aqüí- fero Guarani, principal reserva subterrânea de O Brasil detém cerca de 15% da água superficial água doce da América do Sul, está-se tornando que existe no planeta. Essa riqueza excepcional uma das principais fontes de abastecimento ur- ocorre devido à combinação de fatores climáti- cos e geológicos favoráveis na maior parte do bano do Centro-Sul brasileiro. O reservatório território brasileiro. ocupa uma área total de 1,2 milhão de km2 na Ba- cia do Paraná, estendendo-se pelos territórios do 01. (Puccamp–SP) A forma da Terra, sua po- Do ponto de vista climático, a predominância de Brasil, do Paraguai, do Uruguai e da Argentina. sição e seus movimentos são determinan- climas úmidos e semi-úmidos garante a renova- ção cíclica dos recursos de água doce e alimenta Assim como os rios, também as reservas de tes de várias características de nosso pla- uma das redes mais densas e caudalosas de rios águas subterrâneas correm o risco de serem neta. Pode-se afirmar, corretamente, que: perenes do mundo. Como vimos, a pluviosidade contaminadas pelas mais variadas formas de po- a) a distribuição da vegetação depende somen- varia entre 1.000 e 3.000mm por ano em cerca de luição e de se tornarem impróprias para o consu- 90% do território nacional, atingindo picos supe- mo humano. Afinal os depósitos subterrâneos te do clima; riores a 4.000mm em diversos pontos. são alimentados pela infiltração das águas de b) as regiões de maior latitude recebem mais A estrutura geológica, por seu turno, é formada chuva e voltam para a superfície na forma de nas- energia solar; centes ou fontes, alimentando lagoas, pantanais predominantemente por terrenos cristalinos reco- c) os climas não dependem da forma do Plane- bertos por um manto de materiais permeáveis, e rios. O gerenciamento integrado dos recursos ta, mas a vegetação sim; resultante da alteração química das rochas, e por hídricos – considerando as águas atmosféricas, d) as estações do ano são determinadas so- terrenos sedimentares também porosos, que superficiais e subterrâneas – parece ser a única mente pela translação da Terra; possibilitam a existência de imensas reservas de alternativa de preservação da qualidade e porta- águas subterrâneas. Apenas na mancha semi- bilidade dos mananciais brasileiros. e) a inclinação do eixo do Planeta influi no clima árida nordestina, marcada pela irregularidade e na vegetação. das precipitações e pelo afloramento de rochas A gestão das águas 02. (Puccamp–SP) O Rio São Francisco, co- cristalinas praticamente impermeáveis, vigora um Na esfera governamental, as competências acer- padrão de drenagem de tipo intermitente, e os nhecido como o “Rio da Integração Nacio- ca da gestão dos recursos hídricos espelham as potenciais de água subterrânea são limitados, nal”, de sua nascente à foz, percorre a se- prioridades atribuídas à matéria em cada mo- tanto em quantidade quanto em qualidade. guinte seqüência de biomas: mento histórico. Na década de 1930, quando o Apesar da abundância das reservas hídricas, a essencial da economia brasileira girava em torno a) Cerrado, caatinga e mata atlântica. escassez de água potável já é uma realidade em das atividades agrícolas, o Ministério da Agricul- b) Floresta amazônica, pampas e caatinga. diversos estados brasileiros, devido, principal- tura era o responsável pelo controle do uso das mente, às elevadas taxas de desperdício, ao au- c) Caatinga, cerrado e mata de araucária. águas em território brasileiro. Na década de mento acelerado do consumo que acompanhou d) Pantanal, cerrado e mata atlântica. 1960, em pleno processo de industrialização, a o processo de urbanização e à poluição dos ma- e) Mata atlântica, pantanal e manguezal. geração de energia hidrelétrica transformou-se nanciais por esgotos domésticos e efluentes industriais. Nas áreas mais densamente povoa- em prioridade nacional, e as atribuições governa- 03. (UFMS) A partir da década de 1960, na Re- das e nas grandes cidades brasileiras, nas quais mentais sobre recursos hídricos passaram para o gião Norte do Brasil, houve uma forte inter- ocorre concentração da demanda e a contamina- DNAEE, vinculado ao Ministério de Minas e venção do governo federal com o objetivo ção tende a ser maior, a água limpa é um recurso Energia. de integrar essa Região ao Centro-Sul do cada vez mais raro. Em 1997, quando a escassez de água potável País. Como manifestação desse processo, Águas superficiais e subterrâneas havia-se tornado um dos grandes temas da é correto afirmar que: agenda ambiental internacional, foi criada a Considerados em conjunto, os rios que drenam o Agência Nacional de Águas (ANA), que integra o a) houve a criação da Suframa (Superintendên- território brasileiro são responsáveis pela maior Ministério do Meio Ambiente. No novo arranjo cia da Zona Franca de Manaus), que tinha descarga fluvial de água doce do mundo: pouco institucional proposto para o setor, as bacias hi- menos do que 180 mil m3/s. O Departamento Na- como objetivo criar um centro industrial e drográficas funcionam como unidades básicas cional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE) con- agropecuário com estímulo fiscal através de sidera a existência de oito grandes unidades hi- de gestão dos recursos hídricos, a fim de des- isenção de impostos como IPI (Imposto so- drográficas no Brasil. centralizar os processos decisórios. bre Produtos Industrializados), ICM (Imposto Devido à riqueza dos rios amazônicos, a Região A legislação prevê a formação de Comitês de Ba- sobre Circulação de Mercadorias) e impos- Norte, que abriga pouco menos do que 7% da cia, compostos por representantes dos governos tos de importação e exportação; população brasileira, dispõe de cerca de 70% federal, estadual e municipal, por usuários da á- dos recursos hídricos superficiais do País. Em gua e por organizações civis. Esses comitês de- b) houve a implantação de projetos de explora- contraste, a Região Nordeste, onde vivem pouco vem traçar as estratégias de preservação da qua- ção mineral como o Grande Carajás, que in- menos de 30% dos brasileiros, conta com cerca lidade das águas ou de recuperação dos rios, cluiu a construção da Estrada de Ferro dos de 3% das reservas de água, concentradas na bem como administrar possíveis conflitos pelo Carajás, ligando Carajás ao Porto de ltaqui, Bacia do Rio São Francisco. uso das águas das bacias. em São Luís (MA); A distribuição irregular dos recursos hídricos pelo Também está previsto que os grandes usuários – c) houve a construção da usina hidrelétrica de território brasileiro certamente ajuda a entender o tais como indústrias, companhias de saneamen- Tucuruí, no Rio Tocantins, para suprir a de- cenário de escassez, principalmente nos estados to e de irrigação – que captam água ou nela des- manda provocada pela expansão urbana e nordestinos. De acordo com critérios interna- pejam poluentes paguem pelo uso da água, para cionais, a disponibilidade hídrica per capita é financiar os projetos de sustentabilidade e gestão industrial e para atender, principalmente, ao apenas regular no Rio Grande do Norte, Paraíba, racional dos recursos hídricos em cada uma das “projeto pólos de alumínio”, pois são gran- Pernambuco, Alagoas e Sergipe. A expansão das bacias hidrográficas. O Comitê do Rio Paraíba do des consumidores de energia elétrica; atividades agrícolas e a urbanização contribuem Sul, que envolve os estados de São Paulo, Minas d) projetos industriais foram implementados em para a retirada da cobertura vegetal, acelerando Gerais e Rio de Janeiro, foi o primeiro a implantar Belém, no Pará, pela Sudene (Superinten- o processo de assoreamento dos cursos de água a cobrança: desde 2002, estão em vigor tarifas e trazendo a ameaça de escassez em futuro pró- dência para o Desenvolvimento do Nordes- pela utilização das águas da bacia. Pela lei, quem ximo. te); polui mais também é obrigado a pagar mais. Na maior parte dos casos, o problema não é a e) foram construídas as rodovias Transamazô- falta de água, mas o mau uso desse recurso. Rio O gerenciamento efetivo das bacias hidrográficas nica e Cuiabá-Santarém como medidas efeti- Branco, no Acre, é um bom exemplo dessa situa- brasileiras, porém, ainda está longe de ser uma vadas pelo PIN (Programa de Integração Na- ção: situada em plena região amazônica, a cida- realidade. Pelo menos por enquanto, os comitês cional), criado durante o governo militar. de vive graves problemas de abastecimento de estão em funcionamento em parcela muito restri- água, já que os mananciais próximos apresen- ta das bacias, e o desperdício e a contaminação tam alarmantes taxas de contaminação por dos recursos hídricos continuam sendo a regra.