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ano 2, n.o 4 junho 2004 www.cib.org.

br PARA MÉDICOS

INFORMAÇÃO CIENTÍFICA SOBRE BIOTECNOLOGIA

MEIO AMBIENTE E SAÚDE PÚBLICA

Biotecnologia pode contribuir


para a recuperação de áreas poluídas
Técnicas de fitorremediação e biorremediação removem e absorvem metais pesados do solo

A
DIVULGAÇÃO / UNICAMP

quantidade de poluentes que Fitopatologia e


afetam a saúde pública no Brasil pesquisador da
vem alcançando níveis Universidade Federal
alarmantes. Só no Estado de São Paulo do Rio Grande do Sul
o total das áreas contaminadas (UFRGS), Marcelo
identificadas saltou de 255, em maio Gravina de Moraes.
de 2002, para 727, em outubro de O professor Ricardo
2003. O levantamento, feito pela Antunes de Azevedo, do
Companhia de Tecnologia de Laboratório de Genética
Saneamento Ambiental (Cetesb), e Bioquímica de Plantas
envolveu a contaminação ocasionada da Escola Superior de
por atividade industrial e comercial, Agricultura Luiz de
por depósitos de resíduos e por postos Queiroz (Esalq/USP),
de gasolina. dá um exemplo.
Apesar do panorama preocupante, a Pesquisadora da Unicamp prepara cultivo do Segundo ele, o Rio
biotecnologia está desenvolvendo duas fungo Pleurotus em compostos para determinar Piracicaba, no interior de São Paulo,
novas ferramentas que podem ajudar a biodegradação e toxicidade enfrentou por muitos anos a
modificá-lo: a fitorremediação e a contaminação com cádmio e chumbo
biorremediação. Em resumo, trata-se a saúde pública, entre os quais o cobre, provenientes de esgotos e indústrias.
de plantas e microrganismos – o ferro, o manganês, o molibdênio, o Os peixes pescados na região
geneticamente alterados ou não – zinco, o cobalto, o níquel, o vanádio, o apresentaram níveis desses metais dez
capazes de absorver poluentes do solo alumínio, a prata, o cádmio, o cromo, vezes acima do tolerável pelos padrões
ou de metabolizar as substâncias nas o chumbo e o mercúrio. Todos eles já internacionais, tendo prejudicado a
suas variações menos tóxicas para, existem naturalmente no solo, mas, saúde dos consumidores.
assim, diminuir os riscos de quando somados aos efeitos da ação Para impedir que a poluição chegue
intoxicação da população. “É uma humana, causam diversos problemas a esse ponto, a fitorremediação procura
excelente alternativa porque tem muita de saúde (veja quadro na página 3). “Os entender os mecanismos de defesa e
gente vivendo em áreas contaminantes sujam o solo, a água e tolerância das plantas, seja por exclusão
contaminadas”, comemora o médico as plantas, fazendo com que as pessoas do metal, para evitar ou diminuir sua
patologista Paulo Saldiva, do fiquem sujeitas a diferentes níveis de entrada no vegetal, seja pela produção
Laboratório de Poluição da exposição tóxica”, explica o Ph.D. em de proteínas – denominadas
Universidade de São Paulo (USP). fitoquelatinas – que eliminam os metais,
A grande meta é o combate aos seja pela transformação do resíduo
chamados metais pesados, que, apesar VEJA MAIS tóxico em vertentes menos intoxicantes.
PAULO SOARES / ESALQ

do nome, também reúnem semimetais Confira, nas Pesquisas da Esalq com a influência do
e até não-metais, caso do selênio. A páginas seguintes, cádmio no tabaco já revelaram enzimas
expressão passou a designar os como a biotecnologia antioxidantes que respondem ao
poluentes ambientais que mais abalam pode beneficiar a estresse da planta ao metal.
saúde pública.
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FITORREMEDIAÇÃO
BREVES
Universidades brasileiras já testam
Contra chumbo e cádmio
plantas no combate aos metais pesados Pesquisadores do Laboratório Nacional

PAULO SOARES / ESALQ


Tabaco, cana-de-açúcar, rabanete, de Pesquisa em Fitorremediação, da
soja e até uma espécie de eucalipto Coréia, transferiram um gene da
levedura Saccharomyces cerevisiae para
vêm sendo usados nos ensaios
o DNA da Arabidopsis thaliana, planta-
modelo em pesquisas genéticas. O

E mbora a fitorremediação seja uma gene deu a essa espécie vegetal a


técnica nova, alguns dos capacidade de tolerar metais pesados,
principais centros de pesquisa no como o chumbo e o cádmio. O
Brasil já começaram a corrida por resultado é uma planta transgênica
capaz de absorver esses poluentes da
resultados. Na
terra e de prevenir a contaminação de
Universidade Federal do
humanos, principalmente em regiões
Paraná (UFPR), uma industriais.
equipe do Departamento de http://www.cib.org.br/em_dia.php?id=477
Botânica está aplicando,
numa espécie de eucalipto, Arabidopsis de novo
um gene que codifica uma
Na Universidade da Geórgia, nos
proteína chamada
Estados Unidos, cientistas modificaram
metalotioneína e que foi
geneticamente a Arabidopsis thaliana,
isolado de plantas de só que com dois genes da bactéria
casuarina, árvore da família Escherichia coli. Com isso, a nova
do eucalipto. Os rins e fígado humanos Esalq pesquisa ação do cádmio em tabaco variedade da planta consegue retirar
têm tal proteína, mas não conseguem do solo o arsênio, que pode causar
produzi-la quando há acúmulo maneira a oferecer alimentos mais câncer ou afetar o sistema nervoso
excessivo de cádmio. seguros ou que sejam agentes de central. A contaminação com esse
“Vamos verificar primeiro se o gene limpeza do solo”, prossegue. semimetal, usado na fabricação de
se expressa nos tecidos do eucalipto, Segundo a pesquisadora, a vidros, cristais, inseticidas e tintas,
entre outros, é comum sobretudo em
checar se confere resistência a metais contaminação com cádmio ocorre
áreas populosas. Na Índia, estima-se
pesados – geralmente cádmio, muito por inalação, pela alimentação e
que 250 mil pessoas consumam água
mercúrio, cobre e chumbo – e expressá- pela água, causando pneumonites
com arsênio. Além do ensaio com a
lo na madeira”, explica a pesquisadora agudas, edema pulmonar, náuseas, Arabidopsis, a universidade norte-
Marguerite Germaine Ghislaine vômitos e cãibras. Nos casos sérios de americana também desenvolveu
Quoirin, que coordena os estudos na intoxicação, o metal provoca danos no algodoeiros transgênicos para limpar
UFPR, ainda em fase inicial e previstos fígado e problemas renais. O problema áreas contaminadas por mercúrio.
para durar seis anos. é que a vida desse poluente no http://www.cib.org.br/em_dia.php?id=478
O Laboratório de Genética e organismo pode chegar a dez anos,
Bioquímica de Plantas da Escola razão por que os sintomas por acúmulo Agricultura sem selênio
Superior de Agricultura Luiz de podem aparecer bem depois que o Cientistas do Center for Plant
Queiroz (Esalq/USP) também se dedica indivíduo foi contaminado. Environmental Stress, da Purdue
a projetos semelhantes. A pesquisadora A Esalq ainda pesquisa a ação de University, nos Estados Unidos, criaram
Priscila Lupino Gratão trabalha níquel, selênio e alumínio em cana-de- plantas geneticamente modificadas
atualmente com o cádmio, um metal açúcar, rabanete, café e soja. Existem capazes de remover o excesso de
altamente tóxico para o meio ambiente testes com diferentes níveis de selênio em campos cultiváveis. Embora
e para a saúde humana, que é usado na concentração de poluentes. De acordo seja uma substância natural do solo e
indústria de galvanoplastia, na com Priscila, espera-se que as análises essencial ao organismo humano, o
manufatura de baterias e em alguns levem ao desenvolvimento de outra selênio se torna tóxico e cancerígeno se
consumido em quantidades elevadas.
biocidas. “Nosso trabalho serve para forma de tratamento ambiental: as
http://www.cib.org.br/em_dia.php?id=479
critérios de avaliação e identificação de plantas bioindicadoras. “Ou seja,
melhoramento genético”, resume poderemos usar plantas mais sensíveis
Priscila. “Com o conhecimento dos para cada tipo de substância, que Leia mais sobre estes assuntos:
genes, será possível manipular indicarão a presença de poluentes www.cib.org.br
geneticamente outras plantas de naquele ambiente”, esclarece.
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POLUENTES

Efeitos dos metais pesados sobre a saúde humana


que a biotecnologia pode ajudar a reduzir
METAL APLICAÇÃO / LOCAL SINTOMAS
DA CONTAMINAÇÃO
Alumínio Nas áreas urbanas • A principal via de exposição é a ingestão de alimentos. Observa-se osteomalacia em
e industrializadas humanos expostos, com evidência de neurotoxicidade. O acúmulo de alumínio no
organismo está associado ao aumento de casos de demência senil do tipo Alzheimer.
Arsênio Usado na fabricação de inseticidas, • Efeitos agudos envolvem os sistemas respiratório, gastrointestinal, cardiovascular e nervoso,
rodenticidas, dissecantes de plantas além da pele, na qual pode causar câncer. O envenenamento por arsênio leva ao coma e à
e detergentes, assim como nas morte. Intoxicações crônicas resultam em desordens neurológicas, fraqueza muscular,
indústrias farmacêutica e têxtil perda de apetite, náuseas, hiperpigmentação e queratoses. Trabalhadores de fundições
sofreram lesões nas membranas mucosas do sistema respiratório.
Bário Aplicado como fluido • Mesmo a baixa ingestão por água e alimentos produz náuseas, vômitos e diarréias.
de perfuração Podem ocorrer gastroenterites e paralisia muscular.
Cádmio Usado na galvanoplastia, na • A intoxicação provoca pneumonites agudas com edema pulmonar letal, náuseas, vômitos,
produção de ligas para proteção salivação e cãibras. Casos sérios levam a danos no fígado, convulsões, choques, problemas
contra corrosão, na manufatura renais e depressões cardiopulmonares.
de baterias e de cerâmicas de
vidro e em alguns biocidas
Chumbo Aplicado na fabricação de baterias, • Os primeiros sintomas são fadiga, anemia e desordens neurológicas. Dependendo do nível
pigmentos e produtos químicos e da duração da exposição, resulta em mau funcionamento geral do corpo, de inibição de
enzimas a mudanças morfológicas e morte. O adulto absorve 10% do chumbo que passa
pelo corpo, enquanto as crianças retêm 50%. Os efeitos produzem perda de apetite,
constipação, fraqueza, cólicas, dores musculares, hipertensão, disfunção renal e danos ao
sistema nervoso.
Cobalto Empregado na manufatura de • A exposição aguda em trabalhadores causou anorexia, náuseas, vômitos e diarréia,
ligas e na indústria de petróleo perda do olfato, problemas gastrointestinais, dilatação do coração, trombose e diminuição
da absorção de iodo.
Cobre Utilizado na indústria de fiação • A alimentação contribui com 78% do total de cobre ingerido pelo corpo, mas existem
elétrica, na galvanização, na poucos casos de efeitos agudos. O principal sintoma é a queimação gástrica, seguida de
produção de ligas e de tubulações vômitos e diarréia.
hidráulicas e também como
conservante de pinturas
Cromo Usado na fabricação de ligas, • A exposição aguda produz náuseas, diarréia, danos ao fígado e aos rins, hemorragias
em incineradoras municipais internas, dermatites, bronquite, rinite e pneumonia. Há evidências de que o cromo seja
e em lodo de esgoto carcinogênico para trabalhadores da produção de cromados.
Manganês Adotado na produção de ligas • Os efeitos crônicos encontrados em trabalhadores de mineração e fundição foram insônia,
alucinações, anorexia, rigidez muscular e doenças respiratórias.
Mercúrio Tem aplicação em biocidas, • Os sintomas incluem dores no peito, dispnéia, tosse, falta de ar, faringite, dores
na indústria farmacêutica e na abdominais, náuseas, diarréias sanguinolentas, lesões renais e intestinais e atrofia cerebral
manufatura de polímeros sintéticos nos casos graves.
Níquel Nas áreas industrializadas • Já está presente em tecidos humanos, mas a exposição exagerada provoca irritação
de pele, rinite e sinusite.
Selênio Usado na produção de vidro, • A intoxicação causa queda de cabelos, enfraquecimento dos dentes e irritações nos olhos.
de retíficas, de ligas metálicas Os efeitos crônicos são raros.
e de borracha
Fonte: Cetesb

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BIORREMEDIAÇÃO

Nova tecnologia limpa o meio ambiente de forma natural

DIVULGAÇÃO / UNICAMP
O custo da técnica pode ser
até 85% mais baixo que o
dos modelos tradicionais de
descontaminação

N unca a discussão sobre as


conseqüências da degradação do meio
ambiente esteve tão em pauta como
nos últimos anos. Na busca de alternativas
acessíveis economicamente e mais efetivas
para reverter os danos causados, uma
tecnologia que utiliza microrganismos no
tratamento de resíduos por meio da
decomposição aeróbia ou anaeróbia surge
como uma nova ferramenta da biotecnologia Pesquisadora da Unicamp usa sementes de Cultivo de fungo do tipo
ambiental – falamos da biorremediação. alface para determinar toxicidade de compostos Pleurotus para aplicação em
A novidade tem se mostrado bastante tóxicos tratados com o fungo Pleurotus processos de biorremediação
eficiente no combate à poluição do solo.
“Esses fungos e bactérias degradam os da Faculdade de Engenharia de Alimentos da potencialmente cancerígenos. Entre eles se
poluentes, tornando-os menos solúveis e, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). destaca o benzopireno.
portanto, menos perigosos e impactantes”, Segundo a professora, a técnica chega a ser Outra frente das pesquisas se dedica à análise
explica a pesquisadora Julieta Ueta, da entre 65% e 85% mais barata que os modelos de compostos aromáticos clorados, como as
Faculdade de Ciências Farmacêuticas da convencionais de descontaminação e dioxinas produzidas em processos de incineração
Universidade de São Paulo (USP). Julieta tratamento de resíduos industriais. Só para dar e os bifenilos policlorados (PCBs), estes últimos
coordena uma pesquisa que estuda maneiras uma idéia, o custo para incinerar uma tonelada empregados em capacitores e transformadores
de degradar biologicamente os resíduos da desses detritos varia entre US$ 250 e US$ 300, elétricos. Pesticidas e corantes industriais
atrazina, principal componente dos herbicidas enquanto o tratamento biológico exige gastos utilizados pela indústria têxtil também estão
mais empregados no mundo. da ordem de US$ 40 a US$ 70. incluídos nesse grupo. “Cogumelos
A biorremediação parece promissora “Experimentos laboratoriais têm comestíveis do tipo Pleurotus têm
justamente em locais contaminados pelo uso demonstrado que os sido aplicados com sucesso na
de agroquímicos e metais pesados. Na prática, microrganismos são capazes de degradação de dioxinas, de
a terra deve ser inoculada com microrganismos deteriorar entre 50% e 100% pesticidas como o diuron e
capazes de metabolizar os restos tóxicos dos poluentes”, revela Lucia. de corantes têxteis do tipo
presentes no ambiente e de transformá-los em Atualmente, os esforços azo”, enumera Lucia.
substâncias com pouca ou nenhuma dos pesquisadores O mecanismo é semelhante
toxicidade, principalmente dióxido de carbono coordenados pela docente em todos os ensaios.
e água. Depois de desgastar combustíveis, estão concentrados em três Os cogumelos produzem
solventes e petróleo, entre outros frentes. A primeira diz enzimas que degradam o
contaminantes, a população de respeito aos hidrocarbonetos produto tóxico quando postos
microrganismos volta aos níveis normais, uma aromáticos policíclicos (HAPs), diretamente em contato com ele.
vez que sua fonte de alimentos se esgota. resultantes da combustão de
“O grande desafio é descobrir quais derivados de petróleo, da queima do lixo Fungo Pleurotus é utilizado em
microrganismos podem degradar uma e de resíduos agrícolas, como a colheita da processos de biorremediação, descoloração
determinada substância poluente”, diz a cana-de-açúcar, e também da emissão e degradação de corantes têxteis por bactéria
pesquisadora Lucia Regina Durrant, professora industrial, alguns dos quais são tóxicos e isolada de efluente da indústria têxtil

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