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Introdução
Nas três últimas décadas Mikhail Bakhtin passou a ser bem conhecido no Brasil
e suas idéias exerceram um impacto apreciável na Crítica Literária, na Antropologia,
etc. Entretanto, a recepção das idéias bakhtinianas no país não foi acompanhada de uma
avaliação mais abrangente do complexo pensamento deste autor, o que somente parece
estar acontecendo agora.
Entretanto Bakhtin julgou que Cohen tinha ido longe demais na lição que
extraia da idéia do mundo como criação da mente. “Cohen queria tirar Kant do mundo
da vida cotidiana, enquanto Bakhtin desejava invocá-lo para uma compreensão mais
plena da experiência vivida” (Clark e Holquist, 1998). A questão tornou-se então, para
Bakhtin, a seguinte: como era possível refletir sobre a nossa vivência prática, em
conjunto com a vivência dos outros, a partir das categorias kantianas? Isto tomou a
forma de uma reflexão sobre a dualidade eu/outro.
Uma das fontes de onde origina o pensamento bakhtiniano é, portanto, a
problemática kantiana tal como foi discutida pela escola de Marburgo. Pode-se concluir
que Bakhtin rejeita uma saída puramente idealista do modo de interpretação das
categorias kantianas, procurando inseri-las no mundo da ‘experiência vivida’. Talvez
por isso, vários autores classifiquem sua reflexão essencialmente como uma Filosofia
Antropológica.
Clark e Holquist (1998) sustentam que Bakhtin estava mais próximo de Kant do
que dos neokantianos uma vez que aceitava a formulação de Kant da relação mente
mundo. No entanto, ele acompanhou também a Cohen na caracterização deste último do
caráter “não-dado” da experiência.
Bakhtin entende que nem Kant nem seus seguidores da Escola de Marburgo
haviam resolvido a questão da separação de Deus como idéia e Deus como experiência.
Assim, procurou Deus no “espaço entre os homens transponível pela palavra, pela
elocução (...) buscou-O na energia e na comunicação (Idem, 1998)”.
Para Bakhtin, a fala é o ato que distingue o ser humano (uma idéia incrível que o
levará, inclusive, a propor a redefinição da metodologia das ciências humanas). Como
cada ato/fala ocorre em resposta a outro ato/fala, o discurso é entendido como uma
forma de comunicação que une, articula o self e o outro (Idem. p. 90 et seq.).
1
Selves performadores. Selves, em inglês, é plural de self. O Novo Dicionário Webster’s assim designa:
self, a própria pessoa, eu. Performadores, por seu lado, combina performance – atuação, desempenho,
como é registrado no Novo Dicionário Aurélio, e performer, aquele que cria seu próprio papel - diferente
do ator que interpreta um papel já dado.
2
O termo russo é otviétstvienost, traduzido como responsabilidade – portanto com um conteúdo ético
evidente. A tradução para o português seguiu a tradução inglesa e considerou o seu sentido etimológico,
julgando ser o empregado por Bakhtin, traduzindo-o por respondibilidade, um neologismo no qual se
mistura a idéia de resposta com a idéia de responsabilidade. Assim, deve-se ter presente pelo termo
respondibilidade o seu aspecto ético e comunicativo, isto é, a resposta seria um imperativo ético dos
homens envolvidos no processo de comunicação. Esta nota baseia-se na obra de Clarqk e Holquist, citada,
p. 90.
autônomos nessa interação comunicativa. A reflexão sobre a criação de textos literários,
assim, torna-se paradigmática da reflexão sobre a existência humana (Clark e Holquist,
1998).
Conclusão
Na visão bakhtiniana, o dialogismo é um conceito que instaura uma comunhão
ética entre os homens. Resulta tanto da aplicação de categorias kantianas à experiência
cotidiana quanto da busca pelo sagrado nos atos de criação humanos.
Bibliografia
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. Martins Fontes: São Paulo, 2000.