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CIENTÍFICO
memória científica
Rubén Urbizagástegui Alvarado*
E
studando a lei de Lotka tem-se cultural”, “campo” e “teoria da prática”,
encontrado que a elite dessa sub-área desenvolvidos por Pierre Bourdieu. Portanto, é
da bibliometria esta composta por 17 necessário começar delineando as características
autores (Urbizagástegui, 2009a). Igualmente do modo de análise Bourdiano; porém, como seus
tem-se encontrado que a frente de pesquisa esta trabalhos sobre o campo cultural e a produção
formada por 15 autores (Urbizagastegui, 2009b). intelectual são inseparáveis de suas preocupações
Usando os dados dessas pesquisas mencionadas, sociológicas e teóricas, tentaremos contextualizar
o objetivo deste artigo é explorar a possibilidade seu trabalho em relação a suas obras.
de que tanto os autores da elite1 quanto àqueles Os estudos sobre a cultura como um
que constituem a frente de pesquisa2 sejam dos fenômenos centrais das Ciências Sociais
conseqüência da posição que ocupam no campo podem ser divididos em três correntes teóricas:
fenomenologia, estruturalismo e materialismo
1 Autores com alta produtividade e identificados como a raiz quadrada da
população dos autores produtores de documentos publicados. histórico. Essas correntes estão baseadas nas
2 Autores com alta citação e identificados como a raiz quadrada da população proposições teóricas de Max Weber, Emil
citada.
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Durkheim e Karl Marx. Não obstante, ao como é percebida pelos indivíduos situados
fazerem as conexões entre teoria e realidade nessa realidade social; pressupõe a possibilidade
social, mostram deficiências metodológicas. Para de alguma forma de apreensão imediata da
enfrentar essa situação, Pierre Bourdieu faz outra experiência vivida pelos outros e assume que
proposição metodológica chamada de Teoria da esta forma de conhecimento é mais ou menos
Prática. Nesta teoria, Bourdieu toma os aspectos adequada ao mundo social. Bourdieu inclui aqui
positivos das três correntes metodológicas certas correntes sociológicas e antropológicas
mencionadas e constrói a teoria da prática, influenciadas pela Sociologia fenomenológica
que tem a habilidade de revelar as condições desenvolvida por Alfred Schutz: a teoria da
materiais e institucionais preexistentes à criação ação racional, a análise lingüística etc. Mas este
e transformação do aparelho de produção subjetivismo não apreende a base social que
simbólica, quer dizer, cultura e ideologia. Nesta molda a consciência.
teoria, os bens culturais são vistos não somente O objetivismo representa uma forma de
como veículos de conhecimento e comunicação conhecimento sobre o mundo social que busca
senão também como justificadores de uma ordem construir as relações objetivas que estruturam as
social arbitrária que é produzido e reproduzido práticas e relações sociais. Supõe uma ruptura
pelos intelectuais e o sistema educativo. Quando com a experiência primária, colocando ênfase
nos referimos a intelectuais, os entendemos no nas estruturas que geram a experiência primária,
sentido Gramsciano de protagonistas estratégicos tenta explicar o mundo social enfatizando
da produção e reprodução da consciência crítica as condições objetivas que estruturam as
da sociedade, um organizador, um dirigente, práticas independentes da consciência humana.
um “especialista” na elaboração conceptual e Bourdieu inclui aqui a Semiologia Saussuriana
filosófica do conhecer. a antropologia estrutural de Levi-Strauss, e o
Bourdieu escreveu numerosos livros e marxismo Althusseriano. Mas este objetivismo
muitos artigos que têm tido grande impacto fracassaria em reconhecer que a realidade social
no estudo da Sociologia do Conhecimento, da é de alguma forma moldada pelas concepções e
Sociologia da Educação, e Sociologia da Ciência. representações que os indivíduos têm do mundo
Seus trabalhos sobre a forma de estruturação social. Assim como o subjetivismo predispõe a
de certos campos científicos são especialmente reduzir as estruturas às interações, o objetivismo
significativos. Algumas revisões de seus tende a deduzir as ações e interações da estrutura.
trabalhos e aportes para a Sociologia podem Nas suas próprias palavras:
ser vistos em Nogueira & Catani (1998), Catani
(2002), Wacquant (1990, 2002), Lahire (2002), Eu queria reintroduzir, de algum modo,
os agentes que Levi-Strauss e os
Vasconcellos (2002)
estruturalistas, especialmente Althusser,
tendiam a abolir, transformando-os em
simples epifenômenos da estrutura. Falo
1.1 A teoria do conhecimento e o modo de de agentes não de sujeitos. A ação não
conhecimento do social é a simples execução de uma regra. Os
agentes sociais, tanto em sociedades
Bourdieu reatualiza a problemática da arcaicas como em nossas sociedades, não
mediação entre o agente social e a sociedade são somente autômatos regulados como
e considera que os métodos de análises relógios, segundo leis mecânicas. Nos
jogos mais complexos, eles investem os
epistemológicas que têm tratado de dar conta
princípios incorporados de um habitus
desta relação (agente social-sociedade) têm gerador (BOURDIEU, 1990, p.21)
oscilado entre dois tipos de conhecimentos
antagônicos: subjetivismo e objetivismo. Portanto, Bourdieu postula que um dos principais
a polêmica subjetivismo versus objetivismo obstáculos para a construção de uma teoria do
emerge como eixo central na sua reflexão teórica. conhecimento e uma sociologia científica é o uso
O subjetivismo representa uma forma de desses pares de conceitos que “construídos pela
conhecimento sobre o mundo social que se baseia realidade social são impensadamente usados para
nas percepções primárias dos indivíduos, nas construir a realidade social”. Do ponto de vista
experiências iniciais dos agentes. Uma orientação objetivista os agentes podem ser tratados como
social que busca apreender a realidade social coisas e classificados como objetos. Do ponto de
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única lógica subjacente, perfeitamente “racional”, isso ela é real só até certo ponto, grosso modo.
que se expressaria em todas as práticas sociais e Os atores sociais que agem, segundo essa lógica
produtos simbólicos de uma mesma sociedade. aparente, não tem nenhum “compromisso” com
Somente depois de muito resistir e tentar é que essa lógica, eles não são dirigidos por essa lógica,
finalmente rendeu-se às evidências que sua eles a produzem sem nenhuma intenção de
própria pesquisa lhe mostrava e abandonou fazê-lo e a reproduzem sem nenhuma intenção
então a esperança de construir, com os elementos de conservá-la. Essa não é a lógica que de fato,
reais da prática social, sistemas rigidamente originariamente, preside as práticas; pelo
lógicos e passou a assumir, como dado a ser contrário, ela resulta das práticas e só uma vez
explicado, a incoerência e a contradição presentes estabelecida pela prática repetida é que aparece
nessas práticas, a questionar principalmente as como constante.
teses antropológicas subjacentes às convicções de A situação, as técnicas e instrumentos de
Lévi-Strauss, e a formular críticas e alternativas objetivação do observador (registros, diagramas,
à Antropologia Estrutural, que dariam origem à etc.), necessariamente fora da prática observada,
sua “teoria da prática”. Bourdieu explica assim é que permitem perceber como um só conjunto,
seus descobrimentos sobre a prática: regido por uma só lógica, num mesmo tempo e
espaço, práticas ou elementos da prática que,
Às pessoas envolvidas com o trabalho na realidade, se desenrolam em momentos e
intelectual lhes custa trabalho entender
espaços diferentes. A aparência de que as práticas
a prática como tal, ainda a mais banal
como a de um jogador de futebol, a de sociais seguem, ou são as aplicações práticas de
uma mulher kabyla que executa um rito, um modelo lógico externo ou anterior a essas
ou de uma família beranesa que casa seus práticas, vem da repetição ou da aplicação por
filhos (BOURDIEU, 1981, p.109). milhares de anos e em diferentes domínios dos
mesmos esquemas de percepção e resposta ativa.
Nos poderíamos agregar do leitor que Assim, as regularidades e coerências encontradas
freqüenta uma biblioteca, da dona de casa que pelo pesquisador não são falsas, elas existem, mas
procura informação, do intelectual que escreve ele explica sua gênese servindo-se do conceito de
um artigo científico etc. Na teoria da prática ou a habitus. Portanto:
teoria do sentido prático Bourdieu afirma que:
Tudo se passaria como se as diversas
a ação não é uma resposta cujos segredos práticas sociais se estabelecessem à
estariam no estímulo detonador. A maneira pela qual se estabelecem os
ação tem como princípio um sistema caminhos num determinado território:
de disposições, que chamo de habitus, o próprio fato de alguém percorrer
que é o produto de toda a experiência uma extensão qualquer de campo
biográfica (o que faz que, como não deixa traços que o induzirão a tomar
existem dois histórias individuais iguais, o mesmo caminho numa próxima vez,
não existam dois habitus idênticos, abrindo assim cada vez mais a trilha, o
ainda que existam [diferentes] classes que induzirá outros a seguí-la também.
de experiências e daí [diferentes] classes Assim, é o caminhar que abre o caminho,
de habitus: os habitus de classes). Estes mas, por outro lado, a existência da
habitus, espécies de programas (no trilha já aberta leva a que habitualmente
sentido da informática), construídos se ande por ela. Nada impede, porém,
historicamente, de certa forma estão que, na medida em que tenha interesse
na origem da eficácia dos estímulos que nisso, o caminhante possa desviar-se do
os detonam, posto que estes estímulos caminho já feito e nem que, em seguida,
convencionais e condicionados só por comodidade, digamos, volte a ele.
podem ser exercidos sobre organismos A tendência “natural” é de sempre
dispostos a percebê-los (BOURDIEU, trilhar os caminhos já abertos. Assim, as
1981, p.114). práticas, ou melhor, o modo das práticas
tende a ser repetido, transposto a novos
A lógica aparente que o pesquisador campos de atividade, criando rotinas que,
estruturalista encontra é uma construção do utilizando o vocabulário da informática,
poderíamos chamar “default”, isto é,
observador que vê uma determinada realidade que são utilizadas “automaticamente”
social e seus diversos sistemas de “linguagem”, cada vez que não há um “comando”
de fora da prática e de fora do tempo, e por em contrário. Cabe sempre, porém,
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pessoa na cultivação do seu capital cultural. São Apresentam-se como espaços estruturados de
expressões duradouras do organismo ou corpo, posições, com propriedades que dependem da
quer dizer, como habitus. O capital em estado posição que os agentes ocupam nesses espaços
institucionalizado se apresenta na forma de uma estruturados. Portanto, os campos podem ser
objetivação muito particular, porque como se analisados independentemente das características
pode ver com o diploma escolar, confere ao capital que apresentam os agentes individuais que
cultural propriedades totalmente originais. Aqui ocupam esses espaços estruturados.
se localiza o capital escolar que faz referência
aos conhecimentos e formação adquiridos em Um campo pode ser definido como uma
rede ou uma configuração de relações
todos e cada um dos níveis e formas de ensino,
objetivas entre posições [ocupadas
desde os mais elementares até os mais elevados, pelos agentes]. Essas posições estão
desde os mais teóricos até os mais práticos. Este objetivamente definidas, na sua existência
capital escolar se mede pelos títulos obtidos e e nas determinações que impõem a seus
pelo nível de instrução adquirido. Logicamente, ocupantes, agentes ou instituições, por sua
situação atual e por sua situação potencial
esse nível de instrução adquirido e, portanto,
(situs), tanto na estrutura da distribuição
o tipo de capital cultural adquirido variará das espécies de poder (o capital), cuja
em relação à posição de classe de cada agente possessão comanda o acesso aos benefícios
social. Como bem afirma Gramsci, embora todos específicos pelos quais se luta no campo,
sejamos intelectuais (o não intelectual não existe) quanto por suas relações objetivas às outras
posições (de dominação, de subordinação,
nem todos desempenham a função de intelectual
de homologia etc.) (BOURDIEU, 1992,
numa determinada formação social. De igual p.97).
forma e parodiando Gramsci, poderíamos dizer
que embora de alguma maneira todos sejamos Portanto, é possível pensar que existe uma
cientistas, nem todos desempenham a função de mediação entre o campo cultural e o trabalho
cientista numa determinada formação social. intelectual produzido. Mas esse campo cultural
Os conceitos de capital cultural, habitus tem seus vínculos próprios, suas próprias leis de
e sentido prático são os conceitos chaves com funcionamento, suas próprias leis de êxito. Assim,
os quais Bourdieu tenta explicar os princípios para entender um campo de produção intelectual
generativos que subjacem as práticas, as se têm que entender a posição dos autores dentro
percepções e apreciações, isto é, a teoria do desse campo. Num momento social histórico há
conhecimento. Mas quando os indivíduos atuam, correspondência entre as obras produzidas e o
quer dizer, exercem uma prática, praticam alguma espaço dos autores e as instituições existentes
coisa, o fazem num contexto social específico, num que as produzem. Um campo é um universo
campo social determinado. Neste campo a prática
no qual as características dos produtores
deve ser entendida como a relação dialética entre
são definidas por seu lugar nas relações
o habitus do agente e o contexto social específico
no qual o agente atua. Para dar conta de por em de produção, pelo lugar que eles ocupam
prática o habitus e o capital cultural, Bourdieu num certo espaço de relações objetivas”
desenvolve sua noção de campo. Este é o tópico (BOURDIEU, 1981, p.65).
que analisaremos a seguir. Não obstante, da mesma forma que
no mercado econômico existem monopólios,
relações objetivas de poder, que fazem com
1.5 A noção de campo que os produtores e seus produtos não sejam
Como os agentes não atuam no vácuo, iguais desde a entrada inicial na circulação das
senão em situações sociais concretas governadas mercancias, no mercado da produção intelectual
por um conjunto de relações sociais objetivas, e científica também existem relações de poder.
para dar conta dessas situações sem cair no Portanto, o mercado da produção intelectual
determinismo da análise objetivista, Bourdieu possui suas próprias leis de formação de preços
desenvolve o conceito de campo. O campo que fazem com que nem todos os produtores de
é definido como o lugar de lutas no qual os produtos culturais ou científicos sejam iguais.
agentes buscam manter ou alterar a distribuição Então, a produção de uns vale menos que a
das formas de capital específicas do campo. dos outros. Essas relações de força que tornam
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possíveis certas produções terem privilégios campos, isto é, os agentes estruturados no campo
desde o começo, supõem uma relativa unificação da Ciência da informação e Biblioteconomia
do mercado de produção cultural. Então, em não serão atraídos pelos interesses em jogo no
qualquer campo há luta. O recém chegado campo da Química, por exemplo. Para que um
trata de forçar sua entrada e ganhar o direito campo funcione é necessário que exista alguma
de entrada no campo. O dominante no campo coisa em jogo e que existam pessoas dispostas
(aquele que está no campo e que logrou seu a jogar o jogo. Mas para que essas pessoas
direito de entrada muito tempo atrás) tratará de joguem o jogo é necessário que estejam dotadas
defender sua posição dominante e de excluir os do habitus implícito no campo. Este habitus
outros da competência. Para Wacquant (1993, significa o conhecimento e reconhecimento
p. 134), a análises do campo compreende três das leis e mecanismos relacionados ao jogo e
momentos necessários: o que está em jogo no campo. Um habitus de
Primeiro momento: deve-se localizar o Cientista da Informação e Bibliotecário implica
campo cultural dentro da esfera do campo do um acúmulo de técnicas e teorias, um conjunto
poder, ou o espaço de posições sobre o qual de crenças imanentes à Ciência da Informação
as classes dominantes buscam estabelecer seu e Biblioteconomia, um acúmulo de referências,
monopólio. Deste modo pode-se afirmar que vivências e propriedades que dependem da
o campo da produção cultural ocupa o pólo história nacional e internacional da Ciência da
dominado do campo do poder, e está situado no Informação e a Biblioteconomia. Este “habitus” é a
pólo dominante do campo das relações de classes. condição para que o campo funcione e ao mesmo
Este campo da produção cultural é o lugar de tempo é o produto do funcionamento do campo.
luta entre dois princípios de hierarquização: um Dessa maneira, a estrutura do campo é um estado
critério heterônimo que favorece aqueles que da distribuição do capital específico acumulado
dominam econômica e politicamente o campo; e nas lutas anteriores. Este capital acumulado
um critério autônomo que constrói suas próprias orientará as lutas e estratégias posteriores. A
regras de funcionamento e avaliação. própria estrutura do campo sempre está em jogo,
Segundo momento: deve-se mapear a porque as lutas que ocorrem no campo põem
estrutura interna do campo, isto é, desvelar as em movimento as estratégias de conservação ou
estruturas objetivas das relações entre indivíduos subversão da estrutura do campo. Desta maneira,
e instituições que competem pela legitimidade pois, o capital cultural que circula no campo
cultural. Isto permite revelar a hierarquia de tem valor somente dentro dos limites do campo
produtos e produtores sobre a base de uma e não pode ser transferido a outro campo sem
oposição entre o campo da “produção restringida” o risco da perda de seu valor. Por exemplo, o
(produção por e para os especialistas mais capital cultural acumulado no campo da Ciência
legítimos e avaliados de acordo com os critérios da Informação e Biblioteconomia não pode ser
estritamente internos do campo) e o campo da transferido para o campo da Química, e, se esta
“produção generalizada” (no qual os produtos é transferida, perderá seu valor de circulação e
têm como objetivo audiências mais gerais e o de intercâmbio - não terá demanda. No geral, o
êxito é medido por sucessos comerciais). campo tem duas propriedades:
Terceiro momento: as análises do campo
devem incluir análises detalhadas das disposições a) Os monopolizadores do capital específico
e trajetórias dos produtores que competem dentro do campo: tendem à estratégia de
do campo. Em particular deve-se estabelecer a conservação. Defendem a ortodoxia. Os
forma pela qual os participantes entraram no monopolizados à estratégia de subversão e
campo e a forma pela qual valorizam as posições defendem a heterodoxia.
e recompensas oferecidas pelo campo. Estas b) Todos os agentes comprometidos com um
premissas geram a crença coletiva do valor da campo têm uma quantidade de interesses
luta e os benefícios que produzem no campo. comuns vinculados à existência do campo.
Um campo se define por aquilo que está Esses interesses comuns são os que geram
em jogo no campo e os interesses específicos uma cumplicidade objetiva, subjacente nos
do campo. Estes interesses específicos são antagonismos da luta. Há que lembrar que
irredutíveis ao que está em jogo em outros a luta pressupõe um acordo sobre aquilo
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pelo qual merece a pena lutar. Aqueles que específica num momento determinado
participam desta luta, contribuem com sua de tempo (BOURDIEU, 1973, p.135).
luta para reprodução do jogo e para crença
do valor do jogo. Os recém chegados têm que Cada um dos agentes está determinado por
pagar um direito de admissão que consiste seu pertencimento a esse campo, que se deve à
em reconhecer o valor do jogo e em conhecer posição particular que ocupa no campo, propriedades
os princípios de funcionamento do jogo. de posição irredutíveis às propriedades intrínsecas
do campo. Deve-se também a um tipo determinado
de participação no campo cultural, como sistema de
Um dos indícios mais claros da constituição relações entre os temas e os problemas ali colocados
de um campo é a aparição de um corpo de e discutidos. Deve-se, assim mesmo, a um tipo
conservadores de vidas (os biógrafos) e das obras determinado de inconsciente cultural, ao mesmo
(os filólogos, os historiadores do campo) que tempo está intrinsecamente dotado de um peso
começam a arquivar os esboços, as provas de funcional gerado e outorgado pelo campo, porque
imprensa, os manuscritos, a correção e a decifração seu próprio poder no campo, sua autoridade, não
dos trabalhos ocorridos no campo. Esta gente pode definir-se independentemente da posição que
está comprometida com a conservação do que se já ocupa no campo.
produz no campo e tem interesses específicos em
Este enfoque só tem fundamento na
conservar-se conservando as obras inerentes ao medida em que o campo cultural ... este
campo, isto é, conservar-se, conservando. dotado de uma autonomia relativa, que
Outro indício da constituição de um campo permita a autonomização metodológica
é a história do campo na obra produzida no campo, que pratica o método estrutural ao
quer dizer, a história da produção no campo: tratar o campo intelectual como um
sistema regido por suas próprias leis
os exegetas, os comentadores, os resenhadores (BOURDIEU, 199, p.136).
críticos, os intérpretes, os historiadores do
campo, que justificam sua existência como os Um campo intelectual deve sua constituição
únicos com capacidade de explicar a obra e o a um processo de autonomização progressiva
valor de reconhecimento da obra para o campo. do sistema de relações de produção, circulação
De modo que um problema científico legítimo e consumo de bens simbólicos inerentes a esse
é aquele em que os cientistas reconhecem como campo. De fato, na medida em que se constitui
legítimo e que tem grandes possibilidades de ser um campo intelectual (e ao mesmo tempo o corpo
reconhecido como legítimo. Portanto, ser cientista de agentes correspondentes), este se define em
da informação e bibliotecário significa dominar o oposição a todos os outros campos, econômico,
necessário da história da Ciência da Informação político, religioso, isto é, a todas as esferas com
e Bibiblioteconomia, bem como saber conduzir-se pretensão de legislar nessa esfera intelectual. O
como bibliotecário dentro do campo da Ciência da processo de autonomização se produz através de:
Informação e Biblioteconomia. O princípio destas
estratégias não é um cálculo cínico, mas uma 1) A constituição de um público de
relação inconsciente entre um habitus, um capital consumidores virtuais cada vez mais
cultural específico, e um campo, isto é, o campo extenso, socialmente mas diversificado,
da Ciência da Informação e Biblioteconomia. e capaz de propiciar aos produtores de
A relação que um cientista mantém com sua bens simbólicos não somente as condições
obra (artigo, tese, livro) e a obra mesma, encontra- mínimas de independência econômica mas
se afetados pelo sistema de relações sociais nas também lhes concedendo paralelamente
quais se realiza o ato de criação em si, como ato um princípio de legitimação;
de comunicação, quer dizer, pela posição que o 2) A constituição de um corpo cada vez mais
cientista ocupa na estrutura do campo científico. numeroso e diferenciado de produtores
O campo intelectual ... constitui um e empresários de bens simbólicos cuja
sistema de forças, isto é, os agentes ... profissionalização faz com que passem a
podem descrever-se como forças que reconhecer exclusivamente um certo tipo
se opõem e agregam, conferindo-lhe de determinações como, por exemplo,
[ao campo intelectual] sua estrutura
os imperativos técnicos e as normas que
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da literatura sobre a lei de Lotka. O esquema do O Habitus do agente é uma variável exógena
modelo probabilístico recursivo proposto nesta independente e se refere à formação acadêmica
tese está explicitado na Figura 1. do cientista da informação ou bibliotecário.
Para atingir os objetivos desta parte da Para produzir artigos sobre a lei de Lotka em
pesquisa, as variáveis envolvidas no modelo quantidades significativas, este agente deverá ter
teórico são definidas da maneira seguinte: tido um tipo de formação estatística, matemática
ou de alguma área ligada às ciências “hard”
Frente de pesquisa e Elite de produtores são que facilitem sua compreensão estatística
variáveis dependentes e se referem aos autores ou matemática, ou ter sido exposto a uma
identificados mediante a contagem dos trabalhos experiência prévia na área da Bibliometria (por
publicados e das citações recebidas pelos seus exemplo, ter produzido uma tese sobre a lei de
artigos publicados, referentes à lei de Lotka. Lotka ou Bibliometria), que de uma forma ou
outra teria reforçado o interesse e familiaridade
A posição do agente no campo da Bibliometria com a área. Daqui se pode elaborar a segunda
é uma variável exógena independente e se hipótese da forma seguinte:
refere à condição do agente como membro do
comitê editorial de uma revista, como professor
numa escola de Ciência da Informação ou Ho: Não há associação significativa entre a
Biblioteconomia, como diretor de um centro de frente de pesquisa e a elite dos produtores com o
informação ou biblioteca, ou como dirigente de habitus do agente no campo da Bibliometria
alguma organização ou associação profissional do Ha: Há associação significativa entre a
campo da Ciencia da Informação. Daqui se pode frente de pesquisa e a elite dos produtores com o
elaborar a primeira hipótese da forma seguinte: habitus do agente no campo da Bibliometria
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usado o teste qui-quadrado ao 0.001 nível de Tabela 1: Autores na elite e na frente de pesquisa
significância. Os dados foram controlados e
analisados usando o pacote estatístico SSPS 15.0,
Autores na Elite Autores na Frente de pesquisa
na versão para Windows.
(17 autores) (15 autores)
Egghe, Leo Egghe, Leo
3 RESULTADOS Vlachy, J. Vlachy, J
Bookstein, A Bookstein, A
Observou-se que, dos 17 autores que Pao, ML Pao, ML
fazem parte da elite de produtores, somente seis Nicholls, PT Nicholls, PT
deles (35.3%) também fazem parte da frente de Coile, RC Coile, RC
pesquisa, isto é, esses seis autores, são altamente Rousseau, R Lotka, A J
produtivos e também são frequentemente Huber, JC Price, J D S
citados e reconhecidos como importantes para a Gupta, BM Schorr, A E
subárea da lei de Lotka; no entanto, os 11 autores Wagner-Dobler, R Simon, H A
(64.7%) restantes, embora sejam altamente Gupta, DK Sichel, H S
produtivos não são citados, significando que Schubert, A Potter, W G
não são suficientemente reconhecidos como Urbizagástegui, R Allison, P D
tal para serem colocados na frente de pesquisa Chung, KH Murphy, L
desta subárea da bibliometria. Por outro lado, Kumar, S Voos, H
9 autores (60%) dos 15 que compõem a frente Cox, RAK
de pesquisa, mas que foram classificados Kalyane, VL
como autores transeuntes ou aspirantes e que
não fizeram parte da elite de produtores, são Fonte: Pesquisa direta
freqüentemente citados e reconhecidos como
importantes para a subárea da Lei de Lotka, até
o ponto de estarem constituindo parte da frente John C. Huber entrou nesta área em
de pesquisa. Essas discrepâncias podem ser 1998, e dos dez artigos por ele produzidos,
observadas na Tabela 1, criada especificamente somente cinco foram citados 15 vezes no período
com as modificações pertinentes, para mostrar pesquisado. Todos eles foram publicados em
justamente essas discrepâncias. O que esses 11 inglês e em periódicos pertencentes à corrente
autores têm em comum que, sendo grandes e principal, porém do campo da psicologia. Outra
moderados produtores, e formando parte da elite característica destacável é que este autor, embora
dos autores, não são citados e não conformam a possua o grau de doutor, não é professor e não
frente de pesquisa? exerce a docência universitária. Esses fatores
No caso de Ronald Rousseau, que podem ter influído na baixa citação deste autor,
produziu 18 artigos, todos eles publicados ainda que dois de seus artigos mais citados
no idioma inglês, com 13 deles publicados tenham sido publicados em periódicos da corrente
em periódicos da corrente principal, e principal, da área da ciência da informação. Este
somente com cinco deles em periódicos mesmo comportamento observa-se com relação
não pertencentes a essa corrente principal, aos trabalhos publicados por B. M. Gupta.
nenhuma explicação foi encontrada. Por que Embora todos eles tivessem sido publicados no
este autor, que produziu 18 artigos nesta área, idioma inglês, dos nove trabalhos publicados, seis
não é suficientemente citado como para ser foram em periódicos da corrente principal e três
colocado na frente de pesquisa? Para encontrar artigos em periódicos marginais a essa corrente.
respostas, seria necessária uma pesquisa B. M. Gupta vem colaborando assiduamente neste
mais detalhada. Dos 18 artigos escritos por campo desde 1996, entretanto suas publicações
ele, somente nove foram citados, atingindo, atingiram somente um total de 14 citações. O
conjuntamente, um total de 24 citações no mesmo ocorre com Roland Wagner-Dobler,
período pesquisado. Tendo entrado na área que vem colaborando neste campo desde 1994,
em 1986, desde então tem estado ativamente mas a maioria de suas colaborações tem sido
participando e publicando artigos sobre este publicada em periódicos da corrente principal,
assunto, e é um dos animadores deste campo. porém pertencentes às áreas da matemática e da
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sociologia da ciência. Idêntico é o caso de Andras dados com n = 3.5. Seu segundo trabalho, com
Schubert, cuja colaboração no campo começou apenas seis citações, oferece uma descrição
em 1984, mas a metade de suas publicações dos problemas relacionados à construção
foram em periódicos não pertencentes à corrente da teoria em bibliometria. Ambos os artigos
principal e a outra metade nos periódicos do foram publicados em inglês e em periódicos da
campo da ciência da informação. No caso dos corrente principal.
autores Chung; Kumar; Cox; e Kalyane, estes Como pode-se ver no modelo probabilístico
têm publicado em inglês e em periódicos não (Figura 1), para a formação da frente de pesquisa
pertencentes à corrente principal, e no caso e da elite de produtores sobre a Lei de Lotka
de Urbizagástegui, nos idiomas espanhol e postula-se uma associação da posição dos autores
português, o que explicaria essa baixa freqüência no campo da ciência da informação, bem como o
de citação a seus trabalhos sobre a Lei de Lotka. seu habitus pessoal, como determinantes para a
Além do mais, nenhum destes autores exerce sua inclusão na frente de pesquisa, assim como
a docência universitária no campo da ciência na elite de produtores. A Tabela 2 expressa esta
da informação, ainda que Chung e Cox sejam relação, segundo a posição que esses 26 autores
professores no campo das finanças econômicas. ocupam no campo da ciência da informação.
Por outro lado, o que têm em comum os
nove autores que, sendo produtores aspirantes
ou transeuntes, não fazem parte da elite de Tabela 2: Posição no campo dos autores que formam
produtores, mas sim da frente de pesquisa? Nos a elite e a frente de pesquisa
casos de Lotka (um artigo) e de Price (quatro
trabalhos), porque foram os introdutores do Professores Comitê Diretor Dirigente
modelo do quadrado inverso, até o ponto de Editorial Centro Associação
tornarem-se “clássicos” da literatura da Lei de 23 16 19 10
Lotka. No caso de Larry J. Murphy (um artigo) e 88.5% 61.5% 73.1% 38.5%
Alan Edward Schorr (dois artigos e duas cartas 3 10 7 16
11.5% 38.5% 26.9% 61.5%
ao editor), animadores e reativadores da pesquisa
Total 26 26 26 26
neste campo, tiveram seus artigos publicados
100.0% 100.0% 100.0% 100.0%
em inglês, em periódicos da corrente principal, e
eram bastante conhecidos na sua época. Herbert Fonte: Pesquisa direta
A. Simon (dois artigos), por ter introduzido e
proposto a distribuição de Yule como a mais Um número muito alto desses autores
adequada para medir a produtividade dos é, ou tem sido, de professores universitários
autores, como conseqüência de um processo (88.5%), os quais participam ou têm participado
estocástico. Este modelo está sendo testado em de comitês editoriais de revistas acadêmicas
diferentes áreas com resultados eficazes. Herbert publicadas no campo da ciência da informação
S. Sichel (quatro artigos), por ter introduzido a ou nas áreas de atuação dos autores (61.5%).
distribuição Gauss Poisson inversa generalizada Também é, ou tem sido, de diretores de centros
e binomial negativa, além de ter tido todos de informação (73.1%), embora uma elevada
os seus artigos publicados em inglês e em proporção deles não seja ou tenha sido de
periódicos da corrente principal do campo da dirigentes de associações profissionais do campo
ciência da informação, portanto visíveis para a da ciência da informação (61.5%). Portanto, esta
comunidade desse campo. William G. Potter (três última variável parece ter pouca importância
artigos) realizou a primeira revisão da literatura para estes produtores de literatura. As variáveis
sobre a Lei de Lotka, publicada em periódico que proporcionam maior visibilidade, ajudam
da corrente principal e no idioma inglês. Paul na produtividade científica, e na citação dos
D. Allison (quatro trabalhos), por ter publicado artigos produzidos, parecem ser as categorias de
um trabalho em parceria com John Derek de se dedicar ao ensino, na qualidade de professor
Solla Price e John A. Stewart, um animador da universitário, assim como de participar do
distribuição Poisson lognormal. E Voos (dois comitê editorial de revistas especializadas do
artigos), com um deles citado 35 vezes, no qual campo, e o fato de ser diretor de centros de
propõe que a lei de Lotka se ajusta melhor aos informação ou documentação.
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Quando se analisa a posição ocupada muito maior do que o valor crítico de 3.84146,
pelos 190 autores observa-se que as chances de rejeitando a hipótese nula de não existência de
um professor se colocar na elite são 12.5% mais covariação entre a posição ocupada como membro
elevadas do que um autor que não é professor. do comitê editorial de uma revista pelos autores
Essa percentagem aponta a mesma chance da lei de Lotka e a possibilidade de se colocar na
que tem um autor que, não sendo professor elite e na frente de pesquisa. Conclui-se, portanto,
não poderá se colocar na elite dos produtores que ambas as variáveis são dependentes. Em
ou na frente de pesquisa. Isso está claramente outras palavras, se um autor é membro do comitê
demonstrada na Tabela 3. O teste qui-quadrado editorial de uma revista acadêmica da área terá
dos valores observados e esperados desta tabela maiores chances de produzir mais artigos, ser
de contingência, a um nível de significância de mais citado e de se colocar na frente de pesquisa
0.05 e com 1 grau de liberdade, produziu um ou na elite de produtores.
valor igual a 4.700, maior do que o valor crítico
de 3.84146, rejeitando a hipótese nula de não Tabela 4: Relação entre as variáveis Comitê editorial e
existência de covariação entre a posição ocupada Elite ou frente de pesquisa
como professor pelos autores da lei de Lotka, e a
possibilidade de se colocar na elite ou na frente Comitê editorial de revistas
de pesquisa. Conclui-se, portanto, que ambas as Sim Não Total
variáveis são dependentes. Em outras palavras, Sim 16 10 26
se um autor ocupa a posição de professor Elite/FP (33.3) (7.0) (13.7)
universitário terá maiores chances de produzir Não 32 132 164
mais trabalhos, de ser mais visível, e por isso (66.7) (93.0) (86.3)
mais citado, e de se colocar na frente de pesquisa Total 48 142 190
ou na elite de produtores. (100.0) (100.0) (100.0)
Fonte: Pesquisa direta
Tabela 3: Relação entre as variáveis Professor e Elite
ou Frente de pesquisa
Igualmente, as chances dos autores
Professor que são diretores de centros de informação se
Sim Não Total colocar na frente de pesquisa ou na elite são
Sim 24 2 26 22% mais elevadas do que daqueles que não
Elite/FP (16.8) (4.3) (13.7) ocupam essa posição. Por outro lado, as chances
Não 119 45 164 de um autor que não seja diretor de um centro
(83.2) (95.7) (86.3) de informação ou de documentação se colocar
Total 143 47 190 na elite ou na frente de pesquisa desta área são
(100.0) (100.0) (100.0) as mesmas. Essa probabilidade está claramente
Fonte: Pesquisa direta demonstrada na Tabela 5. O teste qui-quadrado
desta tabela de contingência, a um nível de
Similarmente, as chances dos autores que significância de 0.05 e com 1 grau de liberdade,
fazem parte ou integram o comitê editorial de produziu um valor igual a 18.224, muito maior
uma revista acadêmica se colocarem na frente do que o valor crítico de 3.84146, rejeitando a
de pesquisa ou na elite são 40% mais elevadas hipótese nula de não existência de covariação
do que daqueles que não ocupam essa posição. entre a posição ocupada como diretor de um
Por outro lado, as chances de um autor que não centro de informação ou documentação e a
seja membro do comitê editorial de uma revista possibilidade de se colocar na elite e na frente
se colocar na elite ou na frente de pesquisa desta de pesquisa. Conclui-se, portanto, que ambas as
área são 26% mais baixas do que daqueles que variáveis são dependentes. Em outras palavras,
são membros desse comitê. Essa probabilidade se um autor ocupa a posição de diretor de um
está claramente demonstrada na Tabela 4. O centro de documentação ou de informação, terá
teste qui-quadrado desta tabela de contingência, maiores chances de produzir mais artigos, ser
a um nível de significância de 0.05 e com 1 grau mais citado e se colocar na frente de pesquisa ou
de liberdade, produziu um valor igual a 20.993, na elite de produtores.
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A cientometria como um campo científico
Tabela 5: Relação entre as variáveis Diretor de centro Tabela 7: Estimados logística multivariada da máxima
de informação e Elite ou Frente de pesquisa probabilidade
Standard
Diretor de centro de informação
Sim Não Total Parameter DF Estimate Error C h i - Pr>ChiSq
Sim 19 7 26 Square
Elite/FP (27.9) (5.7) (13.7) Intercepto 1 -0.6028 0.5134 1.3786 0.2403
Não 49 115 164 Professor 1 0.7744 0.7998 0.9374 0.3330
(72.1) (94.3) (86.3) Comié Editorial 1 1.2301 0.5032 5.9748 0.0145
Total 68 122 190 Diretor 1 1.0831 0.5437 3.9688 0.0464
(100.0) (100.0) (100.0) Dirigente 1 1.2639 0.6012 4.4188 0.0355
Fonte: Pesquisa direta Fonte: Pesquisa direta
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Tabela 8: Habitus dos autores que formam a elite e a Tabela 9: Relação entre as variáveis Grau acadêmico
frente de pesquisa de doutor e Elite ou Frente de pesquisa
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A cientometria como um campo científico
Como geralmente aqueles autores Tabela 12: Estimados logística multivariada da máxima
treinados nos segredos estatísticos e matemáticos probabilidade
procedem das ciências hard, essa hipótese Standard
também foi testada. As chances dos autores que
Parameter DF Estimate Error C h i - Pr>ChiSq
procedem das ciências hard produzirem mais
Square
artigos nesta área e se colocarem na frente de
Intercepto 1 1.3979 0.2994 21.7976 < 0.0001
pesquisa ou na elite, são mais elevadas do que
Doutor 1 0.4904 0.7169 0.4680 0.4939
daqueles que não procedem desta área. Essa Métodos 1 4.1156 1.1915 11.9315 0.0006
probabilidade está claramente demonstrada na Hard Science 1 -3.0073 1.1356 7.0128 0.0081
Tabela 11. O teste qui-quadrado desta tabela de
contingência, a um nível de significância de 0.05 Fonte: Pesquisa direta
e com 1 grau de liberdade, produziu um valor
igual a 3.257, menor do que o valor crítico de
Optou-se, portanto, realizar novamente
3.84146, aceitando a hipótese nula de existência
uma analise logística multivariada porem sem
de covariação. Conclui-se, portanto, que ambas as
incluir a variável “ter obtido o grau de doutor”
variáveis são independentes. Em outras palavras,
nessa analise logística. Os resultados estão
o fato de um autor proceder das ciências hard
mostrados na Tabela 13. Os valores estimados
não tem maior efeito na produção de artigos
convergiram satisfatoriamente a um nível de
bibliométricos, assim como o fato de ser mais ou
significância de 0.001 e com 1 grau de liberdade.
menos citado e se colocar na frente de pesquisa
ou na elite dos produtores.
Tabela 13: Estimado logística multivariada da máxima
probabilidade
Tabela 11: Relação entre as variáveis Procedência das
Standard
ciências hard e Elite ou Frente de pesquisa
Parameter DF Estimate Error C h i - Pr>ChiSq
Square
Sim Não Total
Intercepto 1 1.4214 0.2978 22.7849 < 0.0001
Sim 14 12 26
Metodos 1 4.3175 1.1629 13.7836 0.0002
Elite/FP (19.4) (10.2) (13.7)
Hard Science 1 -3.0308 1.1352 7.1282 0.0076
Não 58 106 164
(80.5) (89.8) (86.3) Fonte: Pesquisa direta
Total 72 118 190
(100.0) (100.0) (100.0) Conseqüentemente, a probabilidade de
que um autor integre a elite de produtores ou
Fonte: Pesquisa direta a frente de pesquisa sobre a Lei de Lotka, dado
que tenha sido treinado nos segredos estatísticos,
Para reafirmar essas relações de não bibliométricos, informétricos ou cienciométricos,
existência de covariação entre o habitus dos e/ou proceda das ciencias hard, pode ser
autores e as variáveis estudadas, realizou-se expressada na forma da seguinte equação:
uma analise logística multivariada pelo método
da máxima probabilidade, cujos critérios não
convergiram satisfatoriamente a um nível de
significância de 0.001 e com 1 grau de liberdade. e b o b1 x1 b 2 x 2
Os valores estimados estão mostrados na Tabela
P ( E | 1,0)
1 e b o b1 x1 b 2 x 2
12. Nessa tabela pode se observar que, na coluna
referida à variável doutor (ter obtido o grau de donde,
doutor), essa variável não é significativa, já que o
qui-quadrado estimado (0.468) é menor do que o
qui-quadrado do valor critico (0.4939), significando
b o 1.4214
que o fato de ter o grau de doutor ou não, não
afeta significativamente a produtividade de um b1 4.3175
autor ou dele se colocar na frente de pesquisa. b 2 3.0308
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Abstract It explores the possibility that both the elite of authors and those who are at research front, in the
area of authors’ productivity or Lotka’s law, are the consequence of their position in the field of
Bibliometrics. To achieve this purpose, we adopted the concepts of “habitus”, “cultural capital”,
“field”, and “practice theory”, developed by Pierre Bourdieu. When analyzing the formation of the
elite and the research front from the perspective of the position occupied by authors, it appears
that explanatory variables are the fact that authors devote themselves to teaching as university
professors. In addition, taking part in the editorial board of an academic journal, being director
of a information center, or leader in an association or professional organization are variables that
grant visibility, prestige and authority in the researched area, thence, likely to be cited. From the
perspective of the habitus of the authors in the field of Bibliometrics, it was found that having
obtained the academic degree of doctor, which somehow ensures the mastery of matrices that
make it possible to have familiarity with the doxa of the area, as well as being trained in the
statistical, mathematical and scientometric secrets are the variables with the greatest explicative
chances.
Keywords: Habitus. Cultural capital. Field. Lotka’s Law. Authors’ productivity. Scientometrics. Bibliometrics.
Infometrics.
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A cientometria como um campo científico
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Rubén Urbizagástegui Alvarado
____ Elitismo na literatura sobre a produtividade WACQUANT, Loic J. Fields of knowledge: French
dos autores. Ciência da Informação, Rio de academic culture in comparative perspective,
Janeiro, Brasil, v. 32, n. 2, p. 69-79, maio-ago., 1890-1920. Contemporary Sociology, v. 22, n. 4,
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_____. A frente de pesquisa na literatura sobre _____. Sociology as socioanalysis: tales of Homo
a produtividade dos autores. Encontros BIBLI, Academicus. Sociological Fórum, v. 5, n. 4, p.
Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, v. 14, n. 28, 677-689, dec. 1990.
p. 38-56, 2009b.
_____. O legado sociológico de Pierre Bourdieu:
VASCONCELLOS, Maria Drosila. Pierre duas dimensões e uma nota pessoal. Revista
Bourdieu: a herança sociológica. Educação & de Sociologia e Política, n. 19, p. 95-110, nov.
Sociedade, v. 33, n. 78, p. 77-87, abr. 2002. 2002.
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