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Construindo a confiança mútua

A Unasul se apresenta como uma ferramenta importante para superar

desconfianças do passado e aprofundar o processo de diálogo e

cooperação entre os paísesa da América do Sul

Por Beatriz Bissio (*)

A crescente presença do Brasil no plano internacional tem alimentado o interesse

da opinião pública de outras regiões do mundo em conhecer melhor as iniciativas

de integração em curso na América Latina e, em particular, na América do Sul,

cenário onde esse país continental exerce a sua maior influência política,

econômica e diplomática.

Membro fundador e principal protagonista do chamado Mercado Comum do Sul –

Mercosul – formado em 1981 por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, e

contando hoje com membros “associados” que ampliam a sua área de influência

– o Brasil também esteve envolvido ativamente no lançamento de um projeto mais

recente, a União de Nações da América do Sul, UNASUL.

O projeto de creação de uma comunidade sul-americana de nações surgiu em 8

de dezembro de 2004 através da Declaração de Cusco, assinada por Argentina,


Bolivia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname,

Uruguai e Venezuela. Mais tarde, em 2007, numa reunião presidencial na Ilha

Margarita, Venezuela, ficou decidido que o nome da nova comunidade seria União

de Nações Sul-americanas (Unasul), definindo-se a cidade de Quito, capital do

Equador, como sede da Secretaria Geral. Finalmente, em maio de 2008, foi

assinado em Brasília o Tratado Constitutivo da UNASUL, fato qualificado na

ocasião pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva como "motivo de

orgulho para todos os governantes da região". Entre os "princípios reitores" da

organização estão a "democracia" e o "irrestrito respeito à soberania, integridade e

inviolabilidade territorial dos estados".

Em recente reunião realizada em San Juan, República Argentina, os presidentes

do Mercosul recomendaram a convocatória de uma reunião extraordinaria dos

mandatarios da Unasul para tratar o tema da crise diplomática entre Colombia e

Venezuela. As tensões crecientes entre os dois países constituem um desafío à

própria Unasul. Nesse contexto, foi oportuno o debate que aconteceu em Brasília

entre académicos e militares sul-americanos, durante o Quarto Encontro da

Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED), com o tema “Defesa e

segurança na América do Sul”.

“A Unasul permite o diálogo entre países com propostas políticas e económicas

diferentes. Diz o ditado que é falando que a gente se entende, e a iniciativa é


perfeita nesse sentido; antes não havia espaços adequados de discusão para

problemas que necessitam de diálogo”, declarou a África21 Gabriel Gaspar Tapia,

Director da “Fundación Chile 21”, ex vice-ministro da Defesa do Governo da

Concertación, de Chile. Para Tapia, outro mérito da proposta da Unasul é

establecer que toda resolução deve ser fruto de um consenso, “importante

salvaguarda que impede todo tipo de hegemonia”.

Com ele coincide o economista José Luiz Mieles Nevárez, do Ministério da Defesa

do Equador: “A construção de consensos é um processo que exige duas

condições, o respeito entre as partes e a actitude positiva parao próprio

consenso”. Segundo Nevárez, “podemos não saber com clareza para onde

vamos, porém, devemos ter clareza em relação a um tema: o caminho deverá ser

escolhido por consenso”.

“Unasul é um projeto de diálogo político e representa a grande diversidade da

América do Sul, onde há governos com estratégias muito diferentes de

desenvolvimento e com diversas orientações políticas”, disse o ex vice ministro da

Defesa do Chile. “O mais importante da iniciativa reside em explorar a ampla

coincidência democrática que existe entre as nossas nações. Ao refletir essa

diversidade política e propiciar um diálogo democrático, a Unasul já mostrou que é

um mecanismo apto para apresentar soluções concretas para as crises”. Tapia

cita o caso da Bolívia, em 2008, durante o conflito que ficou conhecido como “da
Meia Lua (región da Bolívia governada por opositores do presidente Morales, que

ameaçavam com a secessão.) “A postura unánime da Unasul permitiu solucionar

o problema”, afirmou.

Tanto os civis quanto os militares reunidos em Brasília coincidiram em considerar

que o principal desafío que hoje enfrentam os países sul-americanos é superar a

herança de desconfianças do passado. Para construir a confiança mutua será

necessário discutir abertamente temas como segurança, defesa, relações cívico-

militares, todos eles problemas vinculados à governabilidade democrática e à

cooperação regional.

A cientista política argentina Marcela Donadio, pesquisadora da Resdal (Rede de

Segurança e Defesa da América Latina, fundada em 2001), a confiança mutua

está sendo construida por dois caminhos: esforços bilaterais e iniciativas em

marcos multilaterais. O primeiro caminho tem avançado, “porém, não por meio de

acordos bilaterais institucionais e sim por medidas ad-hoc”; o segundo, nem

tanto. Para a politóloga, “os interesses comuns e não os perigos comuns serão

os que definirão o modelo de integração. Devemos definir quais são nossos

interesses comuns.”

“Unasul é o resultado de um processo de identificação de interesses comuns”,

assinala o economista brasileiro Theotonio Dos Santos, professor titular da

universidade Federal Fluminense e Coordenador da Cátedra UNESCO – da ONU


sobre Economia Global e Desenvolvimento Sustentável. “Não existiría a Unasul

se antes não tivesse havido um processo de interação cresciente entre as varias

economías da região, que foram establecendo um intercâmbio comercial cada vez

mais importante entre si nos últimos anos”, declarou.

Para Dos Santos, a novidade é o fato de agora se definir como área privilegiada a

América do Sul, deixando-se em segundo plano o resto da América Latina. “Uma

das impulsionadoras dessa opção é a chancelaria brasileira, para a qual a primeira

prioridade da política externa é a América do Sur. O Brasil necessita se projetar a

nivel regional para ocupar um lugar mais importante no terreno internacional e

necessita mercados regionais para sua produção industrial mais sofisticada, que

só é viável se conta com mercados de maior escala. Como para o Brasil é muito

dificil ampliar o seu mercado interno de forma horizontal - um processo lento e

dificil, que exige mudanças profundas – prefere integrar mercados já existentes.”

“Naturalmente, esse não é um projeto de esquerda”, adverte o professor. “Porém,

conta com apoio da esquerda porque gera uma base geopolítica forte, de extrema

importância para fazer frente a práticas imperialistas. No entanto, o capital

brasileño e também o capital regional estão também comprometidos com este

projeto.” Um bom exemplo é a indústria automobilística. “Daí resultar estranho

que setores da oposição ao governo Lula tenham se oposto à Unasul e também à


integração; esas postura va contra os interesses económicos que esses grupos

políticos apoiam.”

Para o advogado Luis Tibiletti, Professor da Escola de Defesa Nacional da

Argentina, o processo de criacão da Unasul e, posteriormente, do Conselho de

Defesa Sul-americano - “cuja meta última é a integração estratégica dos países

sul-americanos, incluindo o aparato militar” - tem antecedentes na atuação

conjunta no Haití. “Esas experiência gerou a prática de um trabalho conjunto entre

as chancelarias e entre os Ministérios da Defesa que permitiu dar o passo

seguiente, com a criação da Unasul, do Conselho de Defesa e, mais

recentemente, do Centro de Estudos Estratégicos, com sede em Buenos Aires,”

afirmou.

“Agora o desafio é pensar quais são os elementos comuns a todos para definir a

identidade estratégica sul-americana. Cabe perguntar: quál é o nosso inimigo? Eu

respondo: o conflito. O Conselho de Defesa deve evitar que a América do Sul

entre em conflito por problemas históricos ou presentes e também evitar que seja

vitima de conflictos de outras latitudes, como aconteceu com os atentados sofridos

pela Argentina”.

Sem desconhecer os desafíos, Eurico Figueiredo, que presidiu a Associação

Brasileira de Estudos da Defesa no último período, não duvida em afirmar que “a

Unasul representa o primeiro ato expressivo na história sul-americana de um


entendimento conjunto”. Em declarações a Africa21, Figueiredo assinalou que “a

elaboração de políticas de defesa comum levará anos para sua implementação,

mas, o que hoje importa é que foi posto em marcha um processo generoso de

integração”. Figueiredo defende a idéia da criação de instâncias de trabalho

conjunto, como um Conselho de Innovación a nivel continental que ajuda na

formação de redes de pesquisadores em todos os campos. “temos que formar

massa crítica, capaz de desenvolver um pensamento estratégico próprio”,

afirmou. Figueiredo coordena na Universidade Federal Fluminense (UFF) o Núcleo

de Estudos Estratégicos da Pós-Graduação em Ciência Política, que actúa em

colaboração com a Escola de Comando da Aeronáutica, a Escola Superior de

Guerra e a Escola de Guerra Naval. “São experiências pioneras, um começo,

assinala.

“A presença brasileira na Unasul e no Conselh de Defesa exige algumas

delicadezas da nossa parte: é necessário deixar claro que o Brasil não aspira a

nnenhum tipo de hegemonia e defende a tese de que o trabalho deve ser pautado

em função do mérito de cada um”, destaca Figueiredo, alertando sobre os

desafíos colocados pelo tema das asimetrías entre o Brasil e os seus vizinhos.

O Capitão de Fragata André Panno Beirão coincide com a prudência

recomendada por Figueiredo. “Para não despertar temores de aspirações

hegemónicas, o Brasil deve ser prudente, tanto na Unasul como no Conselho de


Defesa. Devemos contribuir para que os avanços sejam a passo lento, porém

firmes”, afirmou. Para Panno Beirão, que também é Professor de Direito

Internacional na Escola de Guerra Naval, o papel de maior responsabilidade recai

na Unasul: “É no plano político que vão ser criadas as condições para aprofundar

a la confiança mutua. Sem isso, pouco poderá ser feito a nivel do Conselho de

Defesa”.

Gabriel Tapia adverte: “Temos que ver a Unasul com mais realismo e menos

ideología. Para além das diferenças, ella já provou que foi capaz de unir todos os

países da região em defesa da democracia. Unasul é uma ferramenta política.

Sería irrealista colocar para ella metas de integração. A integração não pode ser

transformada em uma ideologia.”

Jornalista e Doutora em História. Professora da Universidade do Estado do Rio de

Janeiro.

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