Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola,
de um modo ou dce muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, ensinar, aprender e ensinar. Para saber, fazer, ser ou conviver, todos dos dias misturamos a vida com a educação com uma ou com várias: educação/educações. Ora, como as promessas e os símbolos da educação sempre foram muitos adequados a momentos solenes! Não há uma forma única nem um único modelo de educação. Existe educação de cada categoria de sujeitos de um povo, ela existe em cada povo, ou entre povos que se encontram. Da família á comunidade, ela existe difusa em todos os mundos sociais, entre as incontáveis práticas dos mistérios do aprender, primeiro, sem classe de alunos, sem livros e sem professores especialistas, mias com escolas, salas, professores e métodos pedagógicos. A educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sociedade. Formas de educação que produzem e praticam, para que elas produzam, entre todos que ensinam e aprendem o saber que atravessa ás palavras da tribo, os códigos sociais de conduta, as regras de trabalho, os segredos da arte ou da religião, do artesanato ou da tecnologia que qualquer povo precisa para reinventar, todos os dias, a vista do grupo e homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a própria educação habita, e ajuda a explicar, ás vezes ocular, ás vezes a inculcar de geração em geração, a da existência de sua ordem. Por isso mesmo, e os índios sabiam, a educação do colonizador, que contém o saber de seu modo de vida e ajuda a confirmar a aparente legalidade de seus atos de domínio, na verdade não serve para ser a educação do colonizado. Não serve e existe contra uma educação que ele, não obstante dominado, também possui como um dos seus recursos, em seu mundo dentro de sua cultura. Mais ainda a educação participa do processo de produção de crenças de idéias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades. Vista em seu vôo mais livre, a educação é uma fração da experiência endoculturativa. O ensino formal é o momento para o seu exercício, produz os métodos, estabelece suas regras e tempos, e constitui executores especializados. Meninas são isoladas do resto da tribo, em todos os cantos do mundo, primeiro a educação existe como um inventário amplo de relações interpessoais diretas no âmbito familiar. Depois, a educação pode existir entre mesma cidade, gente de uma mesma linguagem semi especializado ou especialista do saber de algum ofício mais amplo ou mais restrito. Em todo o tipo de comunidade desigual, e onde o exercício social do poder ainda não foi centralizado por uma classe como um estado, existe a educação sem haver a escola e existe a aprendizagem sem haver o ensino especializado e formal, como um tipo de prática social separada das outras e da vida. A educação escolar que ajuda a separar o nobre do plebeu parece ser um ponto terminal na escala de invenção dos recursos humanos de transferência do saber de uma geração a outra. A primeira educação que houve em Atenas e Esparta foi praticada entre todos, nos exercícios coletivos da vida, em todos os cantos onde as pessoas conviviam na comunidade. Os sofistas transformam a educação superior em um tempo de formação do orador, onde a qualidade da retórica tem mais valor do que a busca desinteressada da verdade, exercício dos nobres dos períodos anteriores. A educação do homem existe por toda parte e, muito mais do que a escola, é o resultado da ação de todo o meio sócio-cultural sobre os seus participantes. Ao pretenderem estabelecer os fins da educação do país, nossos legisladores, pelo menos em teoria, garantem para todos, o melhor a seu respeito. Não há liberdade no país e a educação não tem tido papel algum nos últimos anos para a sua conquista, não há igualdade entre os brasileiros e a educação consolida a escritura classista que pesa sobre nós, não há nela nem a consciência nem o fortalecimento dos nossos verdadeiros valores culturais. A educação constitui dever da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios, das empresas, da família e da comunidade em geral, que entrosaram recursos e esforços para promovê-la e incentivá-la. Não há apenas idéias opostas ou idéias diferentes a respeito da Educação, sua essência e seus fins. Há interesses econômicos, políticos que se projetam também sobre a Educação. Não erraram que aqui, como em toda parte, a fala que idealiza a educação esconda, no acordo com as idéias de alguns filósofos e educadores, a educação é um meio pelo qual o homem forma suas potencialidades biopsiquicas inatas, mas que não atingiram a sua perfeição sem a aprendizagem realizada através da educação. A idéia de que a educação não serve apenas á sociedade, ou á pessoa na sociedade, mas á mudança social e á formação conseqüente de sujeitos e agentes da mudança social, pode não estar escrita de maneira direta nas “leis do ensino”, afinal, as leis quase sempre são escritas por quem pensam que nem elas nem o mundo vão mudar um dia. Nada se faz entre os homens sem a consciência e o trabalho dos homens, e tudo o que tem poder de alterar a qualidade da consciência e do trabalho, tem o poder de participar de sua práxis e de ser parte dela. A educação vale como um bem de mercado, e por isso é paga e ás vezes custa caro. A educação que chega á favela chega pronta na escola, no livro e na lição. A imensa massa dos próprios educadores da linha de frente do trabalho pedagógico tem o poder do exercício da reprodução das idéias prontas sobre a educação. Mas não tem o direito e o poder de participarem das decisões político- pedagógicas sobre a educação que praticam. Referências Bibliográficas
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. (O que é educação). 41ª reimpr. - São Paulo: