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Tá na hora do café
UCIRI, Março 2002 México - Mercado Justo e Novos Reacção de Reina Foppen, marketing do café na
Mercados. FLO.
Depois de mais de dez anos do mercado Max Havelaar/Transfair, Apesar da observação dos companheiros da UCIRI, de ter em
estão a surgir novos mercados, alguns incipientes, outros já mais conta os desafios do mercado, com a qual posso estar plenamente
avançados, sob as mesmas, ou semelhantes, condições da FLO. de acordo, penso que sim, temos de estar conscientes da realidade
No geral não estão a utilizar selos ou referências ao sistema FLO. É do risco de engano do consumidor e do produtor. Empresas
um desenvolvimento novo, mas relacionado com a história dos grandes, fazendo as suas próprias regras de jogo, entrando num
participantes (produtores, indústria e distribuidores) da FLO. tipo de comércio justo sem selo, podem criar uma situação
Antes de tudo temos que relembrar um pouco a história do Mercado sumamente difícil dentro de mercado onde o selo do Comércio
'FLO'. Quando em 1987, os membros da UCIRI delinearam, numa Justo ainda não chegou a ter uma presença nacional importante ou
visita à Holanda, a necessidade de propor o mercado alternativo uma autoridade reconhecida. Existe aqui um risco real de que os
(SOS, GEPA, EZA, etc.), mais directo ao consumidor que visitasse abutres, que têm estado à espera de uma oportunidade há já
qualquer loja, haviam de facto, três possibilidades: algum tempo, aproveitem o momento oportuno de ataque. Por
muito bem intencionada que possa ser uma iniciativa de uma certa
- Uma empresa própria dos produtores que iria importar, empresa grande, entenderão que outras empresas muito
processar e pôr no mercado europeu o seu café. Este projecto rapidamente irão buscar a publicidade meramente em defesa da
necessitava de fundos consideráveis para conquistar o seu lugar no sua imagem, expondo a sua suposta "ética" de comércio sem
mercado. Não tínhamos um centavo! nenhuma verificação externa.
- Uma discussão franca com a indústria do café para os Terão o seu próprio programa com plantações e talvez os seus
convidar a comprar pelo menos 12% do seu café directamente de próprios pequenos projectos de desenvolvimento, mas, em muitos
pequenos produtores sob condições que incorporam ou interiorizam casos, os seus programas, são débeis e pouco consistentes. É um
no preço, não só os custos de produção, mas também custos comércio justo tipo "Light". Não obstante, a garantia independente
sociais e, no caso do orgânico, os custos ambientais. Foram longas, e reconhecida internacionalmente se existe é o selo do Comércio
intensivas e acessas discussões, que não levaram a lado nenhum. Justo, com os seus padrões e condições de compra que podem ser
- O terceiro intento, paralelo aos anteriores, foi o auditados e certificados.
desenvolvimento do modelo com selo de garantia que resultou na Bem, é a verdade que, depois de uma dezena de anos, o êxito
Max Havelaar, na Holanda, e depois com nomes diferentes, em comercial de produtos com selo no mercado "mainstream" (os
vários países. A Max Havelaar iria controlar a custódia do produto grandes supermercados), está, todavia, bastante modesto. É uma
com selo, preços, quantidades e, sobretudo, a origem dos autocrítica que há já algum tempo estamos a analisar, como
pequenos produtores organizados. Este sistema funciona agora, melhorar o desempenho da FLO e das iniciativas nacionais a este
com diferentes graus de êxito, em 17 países, coordenados na FLO. respeito. Já a FLO, na sua nova estrutura, se focaliza mais que
nunca sobre o marketing. É minha convicção que os doze anos de
No entanto, os desenvolvimentos no mercado do café durante os luta, pelo Comércio Justo e os preços desastrosos no mercado
últimos anos demonstram que o segundo modelo está a ressuscitar internacional, são as razões pelas quais agora, finalmente, as
sob um esquema diferente. Grandes empresas compram café, grandes empresas procuram caminhos para um comércio mais
sobretudo orgânico, mais ou menos nas mesmas condições do ético. E justamente agora não é o momento para aceitar menos do
sistema FLO. Não é apenas uma discussão em grêmios da FAO, que todas a condições respeitantes ao Comércio Justo e ao
mas, sobretudo o IFOAM, tomou a liderança para criar verdadeiros sistema independente de monitoramento e de protecção dos
critérios para condições e condicionantes do mercado orgânico para interesses das organizações de produtores.
incorporar custos sociais e ambientais no preço final do produto Penso que sim, temos de fazer o possível para apoiar e
orgânico. Foi um longo caminho. Novos códigos de conduta laboral assegurar que o selo de garantia mantém e incrementa a sua
e comercial estão a sair. Companhias estão a fazer as suas autoridade, não só por motivos comerciais mas também por
próprias regras. motivos políticos, os de não permitir que qualquer um possa
São desafios que não podemos negar, e muito menos atacar como pretender padrões justos tipo código de conduta (unilateral),
invenções enganosas dos grandes. É de uma grande importância abusando facilmente da posição de negociação das muitas
que as organizações de pequenos produtores estejam inteiradas cooperativas de cafeicultores que, defrontando-se com uma
destes desenvolvimentos e iniciem um diálogo saudável e franco situação de mercado em crise, estão entre a espada e a parede.
nestas novas correntes de mercado. Não as podemos entender,
independentemente do trabalho de todos os participantes da FLO.
Os frutos do Mercado Justo são mais amplos do que apenas a Editorial: a.theunissen@fairtrade.net
defesa do selo, ainda que esta seja muito importante neste FLO International, Kaiser Friedrichstraße 13,
momento. 53113 Bonn, Germany. www.fairtrade.net
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