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DA PROIBIÇÃO DO CANDIDATO CASSADO EM DISPUTAR

A RENOVAÇÃO DO PLEITO

Sumário: 1 -Abordagem Inicial; 2 – Princípio da Razoabilidade; 3 – Interpretação Sistêmica e


Teleológica do Ordenamento Jurídico; 4 – Proveito da Parte que deu Causa à Nulidade; 5 –
Outras Razões Relevantes; 6 – Considerações Finais; 7 – Referências.

*Jairo Jamil de Souza Pessoa

1 Abordagem Inicial

Faz-se necessário, inicialmente, consignar as razões que levaram a sustentar o


entendimento de se haver o obstáculo ao candidato cassado e responsável pela nulidade do
prélio eleitoral em disputar a sua renovação.

Vale registrar, ainda, que a jurisprudência do TSE não compartilha desta tese, o que
não significa que seja matéria pacífica e consolidada naquela corte, haja vista se tratar de
assunto tão polêmico e discutível que ora ela – a jurisprudência – aponta para um norte, ora
adota outro sentido em seu posicionamento.

O certo é que atualmente a iterativa jurisprudencial está trilhando caminho contrário


àquele esposado nesta ocasião, sustentando para tanto que o art. 41-A da Lei 9.504/97 não
enseja pena de inelegibilidade bem como a renovação do pleito se faz com abertura plena do
processo eleitoral, configurando, assim, outra eleição.

No entanto, a divergência em relação à posição do TSE ocorre justamente por se estar


em discussão tema, que por sua própria natureza, tem provocado a oscilação da própria
jurisprudência assim como despertado o interesse de grande parte dos doutrinadores em
dissentir da tese acolhida por aquela Corte Eleitoral.

Outrossim, observa-se que a tese daquele colegiado se contrapõe a uma série de


fundamentos, os quais estão consubstanciados nos seguintes pontos: princípio da
razoabilidade; interpretação sistêmica e teleológica do ordenamento jurídico eleitoral; preceito
normativo de que ninguém pode se beneficiar da nulidade a que deu causa, contido no art. 219
do Código Eleitoral; respeito à lógica jurídica; proteção da moralidade e da credibilidade da
justiça eleitoral.

A maior base de apoio do posicionamento aqui esposado está exposta na


argumentação constante nos Acórdãos TSE nº 19.825 e 19.878, cujas relatorias foram
incumbidas aos Ministros Fernando Neves da Silva e Luiz Carlos Lopes Madeira.

A seguir, fez-se uma análise individual de cada um dos fundamentos acima


delineados, na conformidade com a relação e a contribuição de cada qual com a tese aqui
defendida.

1
2 Princípio da Razoabilidade

O aludido postulado possui guarida de natureza constitucional, embora não esteja


expressamente previsto no corpo daquelas normas, pois se torna possível extrair o seu
conteúdo a partir do histórico da elaboração da Carta Política de 1988 bem como a sua
veracidade, de forma implícita, a partir de alguns dispositivos daquela lei.

Pode se verificar implicitamente que o princípio da razoabilidade está presente nos


dispositivos constitucionais a seguir: o princípio republicano (art. 1º), o direito de resposta
proporcional ao agravo (inciso V, art. 5º); a individualização das penas (inciso LXVI, do art.
5º); a norma que impede a tributação com efeito de confisco (art. 150, inciso IV); entre outros.

Em seu artigo doutrinário, Ricardo da Silva Gama afirma que “reza o princípio da
razoabilidade que a interpretação do texto constitucional não pode levar o hermeneuta a uma
posição absurda, insustentável logicamente”1.

É este o sentido que deve ser encarada a situação ora sob exame na medida em que se
permite a participação do candidato que cometeu grave irregularidade no pleito anulado
exatamente em razão daquelas práticas escusas e vedadas pela lei eleitoral, causando-lhe em
face disto, a sua nulidade e, por conseguinte, sua renovação.

A participação daquele candidato no novo certame não se coaduna com o princípio da


razoabilidade haja vista que não adiantaria de nada ele – o candidato corruptor – ter sofrido a
penalidade de cassação do registro ou do diploma, se o mesmo pudesse disputar as eleições
extraordinárias.

Na mesma linha, segue o entendimento de Fátima Aparecida de Souza Borghi, em seu


artigo doutrinário, quando afirma:

Além disso, me parece mais razoável e coerente proibir o candidato que deu causa à
anulação da eleição anterior em virtude de corrupção eleitoral (art. 41-A), de se
candidatar quando sobrevierem novas eleições. Oras, aceitar que este tipo de
candidato concorra a novo pleito logo após ter sido condenado à captação ilegal de
votos teria a mesma conotação que perdoá-lo ou presenteá-lo justamente com aquilo
porque pagou ou comprou.2

Vale destacar o seguinte excerto colhido do Acórdão nº 19.825, de relatoria do


Ministro Fernando Neves da Silva:

Afronta o princípio da razoabilidade, consagrado na Constituição da República, e


mesmo ao bom senso que deve prevalecer na aplicação do direito, permitir-se que a
nova eleição, determinada em razão de abuso de poder econômico, seja disputada e,
hipoteticamente, ganha pela mesma pessoa que deu causa à nova eleição. Uma tal
situação daria ensejo a que, pelos mesmos motivos que determinaram a cassação do
mandato do ora recorrente, seja o mandato a ser conferido pela nova eleição, mais

1
GAMA, Ricardo da Silva. Aspectos relevantes acerca da interpretação do texto constitucional.
Disponível em: <http://www.escritorioonline.com/webnews/noticia.php?id_noticia=3667&>. Acesso em: 09
abr. 2006.
2
BORGHI, Fátima Aparecida de Souza. Captação ilegal de sufrágio. Disponível em:
<http://www.presp.mpf.gov.br/artigos_temas/artigos_temas_pdf1.pdf>. Acesso em: 28 set. 2005.

2
uma vez cassado, num círculo vicioso que abalaria a credibilidade da Justiça
Eleitoral e do próprio trato democrático da res publica.3

O que se depreende do texto em evidência não deixa dúvidas quanto à ofensa ao


princípio da razoabilidade decorrente da situação ilógica e não razoável advinda da
permissividade ora em estudo.

Observa-se, desta forma, uma inutilidade da função repressiva da lei eleitoral em punir
os infratores, haja vista que o responsável pelo cometimento de abusos no período eleitoral e
pela nulidade e renovação do pleito poderá perfeitamente concorrer às novas eleições
determinadas justamente em função da torpeza e do comportamento ardil e escuso que se
utilizou.

A hipótese estampada no parágrafo anterior deve ser repudiada a todo custo, com
fulcro no princípio da razoabilidade que veda a solução da lide por meio de situações
insustentáveis pela lógica e pelas máximas do direito.

3 Interpretação Sistêmica e Teleológica do Ordenamento Jurídico

No âmbito deste tópico, deve ser focalizado o sentido de interpretação sistêmica do


ordenamento jurídico bem como o propósito teleológico do mesmo, de forma a embasar e
consolidar a posição ora defendida.

É cediço que o direito não é composto de normas isoladas.

Direito deve ser visto como sistema, como um conjunto. É um complexo não apenas
de normas positivadas, mas também de valores e princípios jurídicos. Por isso, é
recomendável a prudência, pois nenhuma lei ou artigo de lei deve ser analisado ou
interpretado isoladamente, sem a devida atenção e harmonia com o ordenamento jurídico
como um todo.

A respeito deste tema, torna-se pertinente a transcrição de trecho da lavra de Elaine


Garcia Ferreira:

A idéia de sistema tem ligação com a aplicação no âmbito da hermenêutica


constitucional. Nos estudos de Savigny quanto a metodologia da interpretação o
sistema serviu da base a um dos métodos da hermenêutica clássica a chamada
interpretação sistêmica fundamentada sobre as bases racionais e lógicas que compõe
o método ou instrumento lógico sistemático da interpretação. Graças a esse meio
hermenêutico é possível inquirir a norma em sua essência lógica em harmonia e
conexão com as demais normas em importantíssimo ponto da metodologia
empregada para a fixação do sentido e alcance dessas normas4

3
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso especial nº 19.825. Relator Ministro Fernando Neves da Silva.
Ivinhema-MS. 06/08/2002. p. 9. Disponível em:
<http://www.tse.gov.br/servicos/inteiroTeor/actionGetBinary.do?
tribunal=TSE&processoNumero=19825&processoClasse=RESPE&decisaoData=20020806&decisaoNumero=
19825&noCache=0.9901983716055767>. Acesso em: 14 abr. 2006.
4
FERREIRA, Elaine Garcia. A Interpretação de lei tributária e a jurisprudência dos conceitos.
Disponível em: <http://jusvi.com/doutrinas_e_pecas/ver/2431>. Acesso em: 14 abr. 2006.

3
Assim, a interpretação sistêmica é aquela em que o exegeta procura extrair da norma o
sentido que esteja em sintonia ou conexão com todo o conjunto de normas, ou seja, para a
interpretação de determinada norma deve considerar a maneira como está posto o objetivo e o
sentido do ordenamento jurídico.

Na legislação eleitoral, o escopo maior destina-se a evitar, reprimir e punir todo e


qualquer ato que deturpe as liberdades de escolha do eleitor e possa abalar a normalidade e
credibilidade das eleições por meio do abuso de poder econômico e político, ou através de
outra prática vedada pela lei.

O fim colimado pelo ordenamento jurídico eleitoral vigente, no tocante às condutas


ilícitas, da forma como acima restou evidenciada, pode ser colhida tanto do corpo da Lei
9.504/97 e da LC nº 64/90, como da própria Constituição Federal de 1988.

Os dispositivos relacionados com o objetivo r. mencionado podem ser listados, a título


de exemplo, da seguinte forma: art. 41-A, 73, 74, 75, 76, e 77, todos da Lei das Eleições; art.
19 e 23, caput, da LC n. 64/90; e §§ 9º e 10º do art. 14 da CF/88.

Como amostra, vale trazer à colação, respectivamente, o teor do artigo 19 da citada


Lei Complementar e aqueles pertencentes à Lei Maior:

Art. 19. As transgressões pertinentes à origem de valores pecuniários, abuso do


poder econômico ou político, em detrimento da liberdade de voto, serão apuradas
mediante investigações jurisdicionais realizadas pelo Corregedor-Geral e
Corregedores Regionais Eleitorais.
Parágrafo único. A apuração e a punição das transgressões mencionadas no caput
deste artigo terão o objetivo de proteger a normalidade e legitimidade das
eleições contra a influência do poder econômico ou do abuso do exercício de
função, cargo ou emprego na administração direta, indireta e fundacional da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.5 (Grifo-nosso)

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de


sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para
exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a
normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico
ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta
ou indireta.
§ 10 - O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de
quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do
poder econômico, corrupção ou fraude.6 (Grifo nosso)

Da simples leitura dos r. comandos legais, nota-se que os bens protegidos pela lei são
a liberdade do voto, a normalidade e legitimidade do pleito, estando esse intimamente
relacionado com a lisura das eleições.

5
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução nº 21.608/2004. In: TRE. Compêndio de legislação eleitoral:
eleição 2004. João Pessoa: Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, 2004.
6
Ibid., p. 16.

4
A interpretação teleológica consiste no instrumento de compreensão da norma a partir
da adaptação de sua finalidade com as exigências do bem comum e dos anseios sociais,
segundo uma inserção nas necessidades práticas provenientes da realidade social.

Não se pode olvidar que a interpretação teleológica, em busca da solução justa ao caso
concreto, pode utilizar como parâmetros os ditames do art. 5º da Lei de Introdução ao Código
Civil, in verbis: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum”7.

No que diz respeito a esta maneira de interpretar, mister trazer à baila os ensinamentos
de Anderson Sant’Ana Pedra:

O processo teleológico procura o fim, a ratio do preceito normativo, para a partir


dele determinar o seu sentido, ou seja, o resultado que ela precisa alcançar com sua
aplicação.
Nesse diapasão deverá o intérprete e aplicador atender as mudanças
socioeconômicas e valorativas, examinando a influência do meio social e as
exigências da época, o desenvolvimento cultural do povo e os valores vigentes na
sociedade, concluindo-se assim que as expressões "fins sociais" e "bem comum" do
artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil devem ser entendidas como sínteses
éticas da vida em sociedade, pressupondo uma unidade de objetivos na conduta
social do homem.8

Forçoso registrar que os “fins sociais” e o “bem comum” estão, no âmbito deste
estudo, patentes no objetivo precípuo da lei eleitoral em resguardar a liberdade de sufrágio do
eleitor e em assegurar a normalidade e a legitimidade das eleições, de forma a preservar o
interesse público da lisura do pleito.

Neste contexto, vê-se que se encontra em sintonia com conteúdo do mencionado


Acórdão do TSE, oportunidade em que faz alusão ao método de interpretação sistêmico e
teleológico:

Estou convencido, entretanto, de que o caso de renovação do pleito, por se tratar de


situação excepcional, merece tratamento específico e diferenciado dos demais
processos de registro, interpretando-se de forma sistêmica as normas eleitorais,
levando-se em conta o princípio da razoabilidade.9

Logo, pode se constatar que há uma relação de consideração com o princípio da


razoabilidade no caso em exame bem como também se observa uma ênfase na
excepcionalidade desta situação peculiar, o que atrai a aplicação da interpretação sistêmica
das normas eleitorais a fim de poder solucionar as lacunas presentes na legislação da maneira
mais coerente com os ideais de justiça.

Neste diapasão, sobreleva-se a fundamental relevância das interpretações sistêmica e


teleológica como meios eficazes de se determinar o impedimento do candidato corruptor e
causador direto da nulidade do pleito, em disputar a renovação das eleições, haja vista que a

7
ANGHER, Anne Joyce (Org.). Código civil. 9. ed. São Paulo: Rideel, 2003.
8
PEDRA, Anderson Sant’Ana. Os Fins sociais da norma e os princípios sociais de direito. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3762>. Acesso em: 14 abr. 2006.
9
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso especial nº 19.825. op. cit., p. 12, nota 3.

5
sua participação não estaria em conformidade com o espírito constante no conjunto de normas
eleitorais.

4 Proveito da Parte que deu Causa à Nulidade

Neste tópico, o enfoque estará direcionado para os benefícios trazidos pela nulidade à
parte que lhe deu causa, ocasionando, assim, total afronta ao disposto no parágrafo único do
art. 219 do CE.

O aduzido preceito legal possui a seguinte redação:

Art. 219. Na aplicação da lei eleitoral o juiz atenderá sempre aos fins e resultados a
que ela se dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades sem demonstração de
prejuízo.
Parágrafo único. A declaração de nulidade não poderá ser requerida pela parte que
lhe deu causa nem a ela aproveitar.10 (Grifo nosso)

O grifo foi proposital para chamar a atenção de que existe a vedação legal de que a
nulidade seja aproveitada pelo responsável pela sua ocorrência, de forma que, no caso em
exame, o candidato corruptor terá indubitavelmente provocado alguma repercussão, que lhe é
favorável, nas eleições designadas na forma do art. 224 do CE em razão da compra ilegal de
votos.

A expressão “nem a ela aproveitar”, presente na parte final do parágrafo único daquele
dispositivo legal, exprime bem o sentido que a norma desejou revelar, qual seja, a parte
responsável pela nulidade não pode tirar nenhum proveito dela.

Curial acostar trecho do Acórdão nº 19.825, de relatoria do Ministro Fernando Neves


da Silva, ocasião em que tece comentários acerca do tema ora em análise:

Nos casos em que a anulação do pleito decorrer da caracterização de algum tipo de


abuso ou de captação vedada de votos – práticas graves, que a Justiça Eleitoral tem
grande preocupação em combater -, especialmente quando já existe decisão deste
Tribunal declarando o desvirtuamento da vontade do eleitor, deve-se agir com muita
cautela, mormente porque os efeitos e a influência das práticas ilegais se
estendem à eleição que será renovada.11 (Grifo nosso)

Assim, percebe-se que fatalmente as irregularidades cometidas no pleito anulado irão


respingar nas eleições seguintes, designadas com o fito de renovar aquele, de maneira que os
eleitores, alvos da compra de voto, estarão, de certa forma, propensos a se deixarem
influenciar pelo abuso do poder econômico, representado na compra vedada de sufrágio,
cometido no primeiro momento a ponto de tolher ou deturpar liberdade de voto daqueles.

Os benefícios podem ser facilmente constatados na proporção em que a


permissividade ora em discussão, como bem pontua Fátima Aparecida de Souza Borghi, teria
a mesma conotação que perdoar o candidato por compra ilegal de votos ou presenteá-lo
justamente por aquilo que ele pagou ou comprou12.
10
BRASIL. Compêndio de legislação eleitoral. op. cit., p. 152, nota 5.
11
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso especial nº 19.825. op. cit., p. 12-13, nota 3.
12
BORGHI, op. cit., nota 2.

6
Em outras palavras, percebe-se que o candidato desembolsou quantias para poder
pagar o voto dos eleitores, e, em seqüência, ser premiado com a sua participação no novo
certame, angariando a simpatia e a escolha daqueles que foram favorecidos com a benesse
fornecida pelo candidato.

Segundo o escólio de Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira, os reflexos das
condutas ilícitas estariam presentes da seguinte forma:

Assim é que, aberto o certame, o candidato cujo registro foi cassado (art. 41-A)
requereu novo registro, negado em primeiro e segundo graus no Estado de Goiás.
Mas, o TSE concedeu-lhe o direito de registro, sob o argumento de a convocação
para a nova votação correspondia a outra eleição, eis que suportada na previsão do
artigo 224 do Código Eleitoral. Logo, o mencionado candidato, beneficiado pelos
reflexos das condutas que desequilibraram a isonomia do certame, nessa
segundo chamada logrou sagrar-se vencedor nas eleições das eleições. Neste
sentido: (...)13 (Grifo nosso)

Desta forma, resta, inequivocamente, demonstrada e firmada a idéia de que,


efetivamente, ocorrerão efeitos benignos para o autor dos atos ilícitos eleitorais que forçaram
a nulidade e designação de novas eleições, na proporção em que, nesta segunda oportunidade,
aquele candidato cassado e corruptor efetivamente estará colhendo os bons frutos semeados
no primeiro pleito, que certamente podem lhe trazer nova vitória nas urnas.

5 Outras Razões Relevantes

Vale salientar que a moralidade e a credibilidade da Justiça Eleitoral estariam


comprometidas e arranhadas na medida em que se permite a participação do candidato
corruptor e responsável pela nulidade do pleito na renovação deste.

Outrossim, a referida solução não estaria cominando nenhuma punição àquele que
empregou meios de captação de voto escusos e vedados pelo Direito Eleitoral, haja vista que
poderia disputar o novo pleito bem como, em relação ao anterior, nenhuma validade teve no
mundo jurídico pois restou nula, de forma que o sentido da cassação do candidato,
praticamente, se perdeu, se esvaziou.

Nestes termos, em defesa da respeitabilidade daquela justiça especializada não se pode


conceber que haja tamanho desvirtuamento tanto da vontade do eleitor quanto do
ordenamento jurídico eleitoral, evitando-se, assim, premiar aquele que se valeu de práticas
escusas para macular o pleito e obter mandato eletivo.

Na esteira desta linha de raciocínio, pertinente trazer à baila o pensamento de Fátima


Aparecida de Souza Borghi: “atitude diversa da Justiça Eleitoral poderia estar pondo à prova a
sua credibilidade, na medida em que ‘acolhe’ infrator legal permitindo que ele novamente
participe de eleições quando acabou de ser condenado por corrupção eleitoral”14.

13
CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua. Direito eleitoral brasileiro. 3. ed. Belo Horizonte: Delrey,
2004.
14
BORGHI, op. cit., nota 2.

7
Da mesma forma, torna-se inadmissível na compreensão de qualquer cidadão ou
julgador que quem cometesse prática tão reprovável, quanto esta de compra de voto, estivesse
com o caminho livre para participar da renovação do pleito, sendo ainda o culpado direto
deste novo certame, justamente porque a sua conduta irregular foi levada a efeito em larga
escala, segundo se depreende do seguinte excerto haurido do multicitado Acórdão nº 19.825:

Quando se alterou a Lei nº 9.504/97, com a inclusão desse art. 41-A, a intenção era
afastar imediatamente do processo eleitoral pessoa que praticasse o tipo descrito.
Daí o cumprimento imediato da decisão.
Veja-se o paradoxo: se comprar um voto e não obtiver cinqüenta por cento da
votação, ele sai da eleição. Agora, se ele comprar mais de cinqüenta por cento dos
votos, a eleição se refaz com sua participação. Isso é que me traz grande
perplexidade.15

A conseqüência disso é que estaria diante de uma incongruência ou até mesmo um


paradoxo posto que se privilegia aquele que perpetrou abuso em grandes proporções, o que
traz a conclusão óbvia de que ordenamento jurídico eleitoral apresenta uma fenda prejudicial
a sua coerência e lógica, devendo ser combatida e evitada pelos doutos julgadores.

A partir de outro fundamento, mas caminhando no mesmo sentido, encontra-se o


pensamento de Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira, para quem, ao ousar dissentir
da interpretação do TSE, considera a situação ora em estudo como um uso anormal do direito
posto que a própria torpeza seria utilizada como instrumento para favorecer o infrator da lei
eleitoral. Em razão disto, segundo o mesmo doutrinador, isso poderia ser usado para obstruir
o direito daquele infrator em concorrer ao novo pleito16.

Merece frisar, ainda, que, como forma de refutar a tese de que se trataria, in casu, de
aplicação da pena de inelegibilidade, o que implicaria na inconstitucionalidade do art. 41-A da
Lei 9.504/97, a eleição renovada seria, em verdade, um pleito realizado em substituição ao
anterior, o qual foi decretada a sua nulidade.

Desta forma, nota-se que não apresenta consistência o argumento de que seria outra
eleição no caso em exame porquanto o pleito tornado nulo não apresentaria mais nenhum
efeito no mundo jurídico, restando, assim, imperioso atingir a conclusão de que o certame
eleitoral realmente válido seria o segundo. Esta interpretação se enluva perfeitamente naquela
em que se defende a prevalência do efeito imediato do aludido dispositivo legal, pois retirar o
candidato cassado do pleito anulado e permitir sua participação na renovação daquele,
praticamente, resulta no esvaziamento da efetividade imediata do citado art. 41-A.

A perda do sentido presente naquela interpretação está patente na medida em que seria
mais conveniente e vantajoso para o candidato cometer a captação ilícita de sufrágio de modo
a provocar a nulidade das eleições haja vista que no pleito inicial lhe será amputado o direito
de continuar na campanha eleitoral, enquanto nas novas eleições este direito estará
amplamente assegurado.

Então, observa-se que, efetivamente, não estaria vingando a imposição do afastamento


imediato, inerente à decisão judicial que reconhece a prática da mencionada mazela eleitoral,

15
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso especial nº 19.825. op. cit., p. 11, nota 3.
16
CERQUEIRA, op. cit., p. 1175, nota 13.

8
porquanto ao candidato corruptor não haveria nenhum impedimento em disputar a renovação
do processo eleitora. Logo, como forma de fazer prevalecer a executividade imediata daquela
decisão judicial, urge a consolidação desta tese no sentido de se vedar a participação daquele
candidato na nova campanha eleitoral.

Sendo assim, buscando a sólida sustentação para a tese ora sob abrigo, torna-se cabível
consignar que o bom julgador deve sempre almejar as soluções que estejam em harmonia com
os ditames e ideais de justiça, mesmo que para isso deixe de atuar ou evite a forma mecânica
ou automática, típica de alguns julgadores excessivamente condicionados ao texto da lei, em
detrimento aos efeitos nocivos que decorrem de decisões contrárias ao bom senso e às
máximas do direito.

Em face do que foi exposto, vislumbra-se necessário acostar a lição de Ronald


Dworkin, o qual pode corroborar o entendimento esposado:

Algumas pessoas sustentam o ponto de vista contrário, de que os juízes devem tentar
melhorar a lei sempre que possível, que devem ser sempre políticos, no sentido
deplorado pela primeira resposta. Na opinião da minoria, o mau juiz é o juiz rígido e
‘mecânico’, que faz cumprir a lei pela lei, sem se preocupar com o sofrimento, a
injustiça ou a ineficiência que se seguem. O bom juiz prefere a justiça à lei.17
(Grifo nosso)

Como pode ser visto, deve-se enfocar a valoração dos ideais de justiça, amparada nos
postulados mais sólidos do direito, sempre que a decisão judicial sinalizar para uma solução
inviável e divorciada do norte presente na finalidade precípua de uma legislação, consistente
no repúdio ao perfil ilógico e insustentável de posicionamentos que privilegiam a impunidade
de atos ilícitos cometidos no direito eleitoral.

Outrossim, não se pode olvidar que a solução apregoada neste trabalho se deve muito
ao caráter excepcional assim como à peculiaridade da situação examinada, implicando em
interpretar os fatos de forma distinta do que normalmente se faz, pois o que se está em risco é
a validade e o respeito aos preceitos jurídicos fundamentais até agora expostos e analisados.

Como arremate, deve-se salientar que já existe uma perspectiva de que, retornando ao
posicionamento anterior, a jurisprudência possa seguir e consolidar a linha de entendimento
esposada neste trabalho, conforme pode se verificar na recentíssima decisão no Mandado de
Segurança nº 3413, em que a colenda Corte Superior Eleitoral adota o pensamento aqui
defendido.

6 Considerações Finais

Ao longo deste trabalho, a temática central, em termos gerais, cingiu-se a maior


mazela existente numa eleição, que é a corrupção eleitoral, conduta esta que avilta a
dignidade do cidadão eleitor pois visa a frustração da vontade popular no seu direito de
escolher seus representantes.

17
DWORKIN, Ronald. O Império do direito. Trad. Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes,
1999. p. 11.

9
A abordagem específica circunscreveu-se em fazer o estudo da problemática
consistente na renovação do pleito decorrente da corrupção eleitoral levada a efeito por um
candidato cujo registro ou diploma tenha sido cassado pela justiça eleitoral.

É consabido a maneira tão nobre e louvável da sociedade em se mobilizar com o fito


de fazer nascer dispositivo que possa representar muito bem a vontade popular de repúdio a
prática tão vil e escusa como a compra ilegal de votos. Daí surgiu o art. 41-A da Lei nº
9.504/97, dotado de espetacular anseio popular.

Em um país assolado em sua maior parte da população pela miséria e privações, o


político corruptor encontra terreno fértil para se beneficiar com a carência do povo quando, ao
chegar o período eleitoral, ele procura captar ilegalmente os votos dos eleitores através do
abuso de poder econômico que se consubstancia em cada ponto desta nação através da
infração ao comando legal supracitado.

Assim, exsurge o candidato corruptor que, por ter cometido intensamente o ilícito
eleitoral acima mencionado, provoca a nulidade do pleito eleitoral, e, numa clara
demonstração de impunidade e descrédito da justiça eleitoral, a renovação das eleições se
refaz com a sua participação.

Tal solução agride em muito os princípios da razoabilidade, da vedação do uso


anormal do direito, da proibição de que a nulidade seja decretada em benefício ao seu
causador, além do que resta patente o descompasso com as interpretações sistêmica e
teleológica do ordenamento jurídico constitucional e eleitoral.

Ademais, não se pode olvidar que aos olhos da sociedade, repleto de cidadãos
esperançosos por uma lei e um Poder Judiciário eficaz e acima de tudo justo, não se admite
ou, por assim dizer, não se compreende o motivo pelo qual um candidato que tenha contra si
uma decisão judicial de que cometeu atos reprováveis e ilegais de compra de voto possa,
como se não houvesse nenhuma decisão neste sentido, concorrer a um mandato eletivo nas
novas eleições designadas em razão da nulidade da anterior, sendo que estas providências
foram decorrências diretas do seu comportamento vedado por lei, na campanha eleitoral.

Por outro lado, o caráter inconcebível da permissividade ora atacada ecoa de forma
grandiosa no meio da doutrina, pois a incongruência detectada deve ser rejeitada ou, pelo
menos equacionada, na forma como restou demonstrada pelos inúmeros autores citados neste
trabalho.

Em virtude disso é que abrigamos a tese abraçada pelos Acórdãos nºs. 19.825 e
19.878, ambos do TSE, pois a proibição ao candidato corruptor, e responsável direto pela
nulidade do prélio eleitoral, de disputar a sua renovação emerge como um remédio lógico e
em consonância com os ideais de justiça e aos preceitos acima tratados, sem deixar de
mencionar que pode significar uma tendência inicial marchando rumo a um processo de
reestruturação das leis eleitorais, as quais necessitam serem mais severas e revitalizadas.

10
7 Referências

ANGHER, Anne Joyce (Org.). Código civil. 9. ed. São Paulo: Rideel, 2003.

BORGHI, Fátima Aparecida de Souza. Captação ilegal de sufrágio. Disponível em:


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* O autor é Bacharel em Direito pelo Centro Universitário


de João Pessoa (UNIPÊ), servidor do TRE/PB e assessor do
Procurador Regional Eleitoral da Paraíba desde que ingressou nos
quadros desta jutiça especializada.

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