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Robson Bastos da Silva, Francisco de Assis,
Isabela Rosemback, Kelma de Queiroz Jucá de Souza Rocha
e Paulo Daniel Gonçalves Gannam∗
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As Teorias do Jornalismo na imprensa brasileira 3
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4 Robson Silva, Francisco de Assis, Isabela Rosemback, Kelma Rocha e Paulo Gannam
ção de um novo Papa foram deixadas em se- Um dos pontos a ser ressaltado é a decla-
gundo plano e pouco apareceram. ração dos profissionais da Folha de S.Paulo
Além do material publicado nas primei- que, ao serem questionados sobre o critério
ras páginas, a Folha publicou vários cader- de seleção para fotos publicadas na primeira
nos “Folha Mundo”, previamente prepara- página, responderam sucintamente: beleza e
dos para o acontecimento, de acordo com as informação. Essa afirmação comprova a hi-
informações cedidas pelo secretário adjunto pótese de que a edição dos jornalistas é sub-
de redação, Vaguinaldo Marinheiro, e pelo jetiva e arbitrária.
editor do caderno “Mundo”, Vinicius Mota. Outro fato a ser lembrado é referente ao
Além disso, uma equipe trabalhou exclusi- caráter de parcialidade apresentado em al-
vamente para a divulgação inédita dos acon- guns momentos pela Folha. A explicação
tecimentos daquela semana, diariamente das para essa tendência é a de o Brasil se tratar
8h às 0h. Quanto ao esquema de cobertura, de um país eminentemente católico e o as-
eles afirmam: sunto em pauta é de interesse da maior parte
da população. Assim, cumpre-se o que des-
Foi elaborado com base em um caderno creve Medina (1988), que percebe que uma
especial cuja estrutura estava preparada das ênfases das notícias diárias é o conteúdo
havia anos. Foi uma decisão conjunta da que desperte emoção.
chefia da redação e da editoria adquirir
material adicional ao que já dispúnhamos
e enviar três repórteres (sendo um foto-
4 Subjetividade nas capas da
gráfico) a Roma.2 Revista Veja
A segunda pesquisa discute como a subje-
Os editores esclarecem que a seleção das
tividade se faz presente no meio impresso.
manchetes foi baseada no “critério jornalís-
Como embasamento teórico é utilizada tam-
tico”, ou seja, os assuntos mais importantes
bém a teoria do gatekeeper, a qual destaca a
no dia. Realmente, as análises apontam uma
ação pessoal do jornalista. O objeto de es-
divulgação fiel dos fatos diários de maior in-
tudo é a Revista Veja.
teresse e acompanham certa ordem cronoló-
O objetivo deste segundo trabalho é ana-
gica (a doença, a morte, os rituais).
lisar a subjetividade das manchetes de capa
Partindo do pressuposto que o gatekeeper
de Veja, as quais possui uma convergência
é o exemplo da teoria que valoriza a ação
entre publicidade e informação, o que acaba
pessoal, conforme define Pena (2005), é pos-
por exercer um poder de sedução sobre o pú-
sível compreender que as decisões de divul-
blico consumidor. Veja é a revista semanal
gação dos fatos que são notícias, e como são
de maior tiragem no país, com a média de
divulgados, partem, muitas vezes, de valores
1.250.000 exemplares, conforme informação
pessoais, como pôde ser observado no decor-
fornecida pela revista3 . É natural, portanto,
rer desta pesquisa.
que uma revista com essa repercussão naci-
2
Depoimento concedido via e-mail em 3
Depoimento concedido pelo representante da
06/06/2005.
Veja, G. Garcia, em 05/11/ 2004.
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onal tenha importância no que diz respeito à mortos”, observa-se a presença da frase no-
formação de opinião de seus leitores. minal (identificada pela ausência de verbo),
Desse modo, é pertinente a análise das ca- o que caracteriza um texto opinativo. Nesse
pas de Veja no período de janeiro a abril de tipo de estrutura frasal, cria-se um impacto
2005. A pesquisa diz respeito a três edições: para o leitor, diferentemente de uma frase
5 de janeiro de 2005, 26 de fevereiro de 2005 verbal que, por possuir todas as informações
e 23 de fevereiro de 2005. É válido salientar (sujeito + verbo + predicado), gera menos
que os critérios que levam uma mensagem a expectativa.
ser notícia de jornal são: No destaque da página, é possível perce-
ber a perífrase, que é uma figura de lingua-
...fatores como a oportunidade, a proxi- gem que “exprime, por um grupo de pala-
midade, a importância , o impacto ou a vras, o que poderia ser expresso por uma só
conseqüência, o interesse, o conflito ou a palavra”. (VANOYE, 1993, p. 49). Na ver-
controvérsia, a negatividade, a freqüên- dade, não existe um mar composto por mor-
cia, a dramatização, a crise, o desvio, tos, o que ocorreu foi que um maremoto atin-
o sensacionalismo, a proeminência das giu um grande número de pessoas que esta-
pessoas envolvidas, a novidade, a excen- vam no litoral asiático; como as ondas eram
tricidade e a singularidade... (SOUSA, muito altas (chegando a medir 12 metros de
2002, p. 96) altura), os turistas e nativos do lugar não con-
seguiram escapar das águas que ultrapassa-
Sob esse prisma, pode-se observar como a ram o limite da praia (houve correntezas de
mídia impressa utiliza esses critérios de no- até 40 quilômetros por hora).
ticialibidade para destacar matérias de capa. Naturalmente, temas catastróficos tocam o
Além disso, tenciona-se examinar quais são emocional das pessoas em geral. Sob esse
os elementos de caráter subjetivo (teoria do prisma, então, a revista amplia essa possibi-
gatekeeper) que ampliam a notoriedade dos lidade quando coloca na capa a foto de um
fatos expostos na primeira página de uma re- homem chorando ao segurar uma pequenina
vista. mão de criança. A imagem por si só fala,
A primeira Veja de 2005 abre o ano com mas Veja destaca a dor na seguinte legenda:
uma notícia de repercussão internacional. “Um homem chora a morte do filho de 8 anos
No dia 5 de janeiro, a manchete era: “O mar em Cuddalare, na Índia”. Contudo, é vá-
dos mortos – A catástrofe no Oceano Índico lido ressaltar que “A tarefa da notícia não é
que matou 100 000 pessoas é uma advertên- chocar, mas informar” (MCLEISH, 1996, p.
cia sobre a fragilidade do homem diante da 74).
natureza”. É conveniente relatar que o editorial da re-
Os valores da notícia são definidos pelo vista, intitulado “Não, não e não!”, trata da
que é de interesse do público e o aspecto matéria secundária da capa (“Especial: uma
dramático é um dos elementos que influen- lista do que não fazer em 2005”). O que sig-
ciam na publicação de determinada notícia, nifica que o tsunami asiático roubou o pa-
como é o caso da primeira edição de Veja de pel de destaque da lista de orientações de co-
2005. Em relação à manchete “O mar dos meço de ano, ou seja, o editor (gatekeeper)
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6 Robson Silva, Francisco de Assis, Isabela Rosemback, Kelma Rocha e Paulo Gannam
julgou ser de maior interesse público a tra- divulga que o país e o PT, representado pela
gédia do tsunami de Sumatra do que uma re- figura do presidente da República, são “bur-
lação de coisas que não devem ser feitas no ros”, isto é, ignorantes, sem conhecimento
decorrer do ano. Segundo o editorial, a re- erudito. O PT, porque faz reformas prejudi-
portagem de destaque secundário durou três ciais para a nação. O povo, porque elegeu o
meses para ser concluída. E, ainda, a matéria candidato do partido para o cargo do Execu-
sobre a tragédia asiática tem 12 páginas, en- tivo.
quanto a matéria de destaque secundário tem É importante salientar que o editorial
22. dessa edição não diz respeito nem à man-
A revista de 26 de janeiro de 2005 traz chete principal, nem à manchete secundária
como manchete: “O PT deixou o Brasil mais da capa. O título “Os juros e a inflação” já dá
burro? – O obscurantismo oficial condena o indícios de que não há ligação entre o edito-
inglês, quer tirar a liberdade das universida- rial da semana e as chamadas da capa. Po-
des e mandar na cultura”. A matéria se re- rém, no conteúdo interno da revista também
fere à reforma universitária no país, a qual não existe nenhuma matéria que trate aberta-
causou polêmica por, entre outros fatores, li- mente o assunto. Ou seja, o editor analisou
mitar o mérito acadêmico, diminuir o valor uma questão que não foi pautada pela equipe
do idioma inglês e reservar metade das va- de reportagem para a revista do dia 26 de ja-
gas de universidades públicas para negros, neiro de 2005. Em outras palavras, o editor
índios e estudantes advindos de escolas pú- preferiu não falar, de modo opinativo, a res-
blicas. Entretanto, esse entendimento só é peito da reforma universitária.
possível após a leitura da matéria, porque as A manchete da revista de 23 de janeiro de
frases da chamada não são objetivas e drama- 2005 é: “O susto Severino – A eleição do ‘rei
tizam uma situação de âmbito político e so- do baixo clero’ para presidir a Câmara dos
cial. Além disso, a linguagem imagética traz Deputados é uma derrota do PT, de Lula e
duas orelhas de burro enquadrando a man- um golpe na imagem do Parlamento”. O as-
chete. Este fato, totalmente imbuído de sig- sunto se refere à surpresa causada pela vitó-
nificado conotativo, vai contra a questão da ria de Severino Cavalcanti (PP) nas eleições
objetividade do jornalismo. para a presidência da Câmara.
No quesito valor da notícia, a matéria se Veja, também nessa edição, usa o título ca-
enquadra em importante (acontecimento de racterizado por uma frase nominal que, con-
repercussão nacional) e imediata (fato real). forme já mencionado, é uma característica
Importante destacar que a forma como a no- de texto opinativo. Portanto, há um descom-
tícia é repassada faz com que qualquer leitor passo nessa manchete, visto que o título se
seja contrário à reforma universitária, pois a refere a uma reportagem. Assim, fica evi-
revista apresenta apenas o lado negativo. No dente o efeito surpresa com a vitória de Se-
aspecto gráfico, a foto das orelhas de burro verino. Quanto ao subtítulo, percebe-se o
fornecem um quê grotesco e vulgar à revista, uso da linguagem conotativa com a expres-
conseqüentemente, a primeira página acaba são “rei do baixo clero”, a qual não foi cri-
por adquirir uma natureza sensacionalista. ada pela revista porque já existia, signifi-
Implicitamente, a imagem aliada à manchete cando o representante dos deputados federais
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com pouco espaço na mídia, os desconheci- (2000), pode-se afirmar que as capas de re-
dos pelo grande povo. vistas de informação estão hoje cada vez
Na chamada secundária, observa-se a se- mais com apelo publicitário já que utilizam
guinte colocação: “A mártir da floresta recursos próprios da linguagem da propa-
– Junto com a irmã Dorothy morre outra ganda que, por sua vez, serve-se da lingua-
chance de um destino menos trágico para a gem literária com o fim de vender algo. En-
Amazônia”. Nesse destaque, também é no- tre esses recursos encontram-se: os adjeti-
tória a linguagem figurada quando Veja re- vos, as letras maiúsculas para chamar aten-
trata a freira assassinada como a “mártir da ção, as frases nominais para provocar inte-
floresta”. resse e criar impacto. Além disso, semanti-
No aspecto estético, Veja é bastante irô- camente, a publicidade vale-se da denotação
nica. Provavelmente, a revista não ficou e da conotação, da metáfora, da metonímia,
muito feliz com o resultado das eleições na da prosopopéia, da antonomásia etc.
Câmara, porque o comum seria colocar a Sob essa perspectiva, as chamadas da re-
foto do deputado com uma postura de ven- vista se apresentam com uma natureza sub-
cedor, uma vez que ele é o candidato eleito jetiva, através do uso de adjetivos, figuras de
para presidir a Câmara. Todavia, a foto es- linguagem e ausência de imparcialidade, esta
colhida do deputado Severino para ilustrar a própria da informação. Não existe objetivi-
capa mostra um homem com um olhar mor- dade total nas capas da revista; o leitor pre-
daz e um rosto maquiavélico. Somado a isso, cisa comprar o produto editorial para enten-
há uma coroa sobre a cabeça de Severino, co- der o assunto de destaque.
roa esta que pende para um lado, fornecendo No caso das revistas, a capa é o primeiro
a impressão de que irá cair. Ou seja, o rei- contato que o leitor tem com o produto.
nado do deputado parece incerto. Desse modo, ela tem de causar impacto, des-
Quanto ao editorial da semana “Tentações pertar interesse, gerar expectativa. A capa
Populistas”, o tema é economia, ou seja, é, pois, a propaganda da revista, uma em-
ocorre mais uma divergência entre as man- balagem sedutora irá promover mais venda.
chetes de capa e a “Carta ao leitor”. É Uma capa atrativa será moldada de acordo
conveniente ressaltar que a matéria sobre a com as escolhas e gostos pessoais do jorna-
eleição da presidência da Câmara tem quase lista que a elabora. O uso de determinado
sete páginas completas, enquanto a reporta- adjetivo, a conotação de uma informação etc.
gem sobre o assassinato da missionária tem são alguns exemplos de subjetividade que se
quase oito páginas completas. O que sig- fazem presentes na primeira página. À me-
nifica que a matéria a respeito de Dorothy, dida que o jornalista opta por usar um re-
provavelmente, seria o destaque da semana. curso para realçar um fato, ele está sendo
No entanto, a vitória inesperada de Severino parcial.
ganhou mais repercussão dentro da revista; Uma análise mais criteriosa deixa evi-
fazendo com que o gatekeeper optasse por dente, portanto, os preconceitos mais arrai-
colocar a reportagem da freira em segundo gados e a ideologia que guia o gatekeeper da
plano. revista. Porque, como a apresentação da no-
De acordo com Andrade e Medeiros tícia se mostra de modo subjetivo, ela acaba
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milhões de alunos atendidos pelo novo fundo por divulgar, tendo em vista a interdependên-
de desenvolvimento educacional, o número cia econômica entre as nações do globo.
passaria para 47 milhões. O terceiro e último editorial da edição do
Basicamente, a opinião do jornal é uma dia 2 de maio é uma crítica ao “Caos Publi-
refutação à proposta do governo, apontando citário”, no qual a prefeitura de São Paulo
inúmeros fatores impeditivos para que a pro- estaria sendo altamente condescendente com
posta fosse aceita no congresso. E, assim, a situação, graças às receitas proporcionadas
encerra com severa crítica às propostas con- pelos descontrolados anúncios em locais pú-
sideradas mirabolantes do governo, como era blicos, em detrimento dos pedestres. Mas,
de se esperar da Folha. Neste caso, a teo- por que a Folha decidiu discutir um fato
ria sobressalente seria o organizacional, se- que há tempos vinha ocorrendo na cidade de
gundo a qual existiria toda uma hierarquia São Paulo? Possivelmente, a política edito-
de controle sobre a informação. O gateke- rial do veículo possui algumas diretrizes que,
eper, nessas circunstâncias, abre e fecha os de alguma forma, poderiam estar entrando
portões de acordo com o chefe do estabele- em choque com os interesses da prefeitura
cimento, perdendo, em parte, o seu poder de de São Paulo. Entretanto, o que se propõe
decisão sobre a informação. com essa discussão é estimular as diversas
A idéia central do editorial “O Ritmo dos interpretações acerca da divulgação da notí-
EUA” é a de que indicadores parecem corro- cia em discussão. Mostra-se, neste caso, e,
borar as expectativas dos investidores e ana- mais uma vez, que a teoria do espelho4 pode
listas de que a principal locomotiva econô- ser contestada, uma vez que a Folha pode-
mica do mundo está perdendo fôlego, com ria divulgar esta mesma informação positi-
uma moderada taxa de inflação. Ao cabo vamente, afirmando, por exemplo, que a pu-
da informação, se diz que analistas econômi- blicidade nas locações públicas é salutar por
cos reduziriam as projeções de crescimento proporcionar altas receitas à prefeitura e, em
da economia americana, apontando as não decorrência disso, fazer com que a responsa-
muito brandas conseqüências do cenário in- bilidade fiscal de Marta parecesse algo exis-
ternacional no Brasil. Apesar de contextua- tente.
lizar o fato, as informações de nada contri- Com relação aos editoriais do dia 4 de
buem para alguma atitude da sociedade em maio, o primeiro deles se refere à ques-
relação a isso. Parte-se do pressuposto de tão da volatilidade das cotações cambiais e
que as coisas são como são e de que cabe 4
Essa teoria é explicada no intuito de conceber o
apenas ao veículo informar que o Brasil só jornalismo como um contra poder de maneira mais
tende a piorar, em vez de estimular algum objetiva. “A metáfora presente nessa teoria é auto-
tipo de mobilização na sociedade que possa explicativa. Ela foi a primeira metodologia utilizada
contribuir para que a questão seja atenuada. na tentativa de compreender porque as notícias são
como são, ainda no século XIX. Sua base é idéia de
A teoria que pode ser aplicada à notícia seria
que o jornalismo reflete a realidade. Ou seja, as no-
tanto a organizacional quanto a do gatekee- tícias são do jeito que as conhecemos porque a reali-
per, por se tratar de um fato de interesse pú- dade assim as determina. A imprensa funciona como
blico (mas não da forma como foi concebida um espelho do real, apresentando um reflexo claro dos
a informação), que editor e diretoria optaram acontecimentos do cotidiano.” (PENA, 2005, p. 125)
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10 Robson Silva, Francisco de Assis, Isabela Rosemback, Kelma Rocha e Paulo Gannam
que estas seriam um fator de incerteza “re- O terceiro e último editorial dessa edição
gulatória” para empreendimentos exportado- diz respeito ao retrocesso do ato que concede
res, tanto quanto as lacunas freqüentemente aos presidentes de comissões permanentes e
apontadas em outros setores. Esta concep- provisórias da Câmara dos Deputados total
ção foi manifestada pelo jornal em resposta poder de nomeação para cargos de confiança.
aos, segundo ele, inúteis esforços retóricos A medida libera os presidentes dessas co-
do presidente Lula para tentar convencer o missões para indicar funcionários de confi-
meio empresarial de que a expressiva queda ança não apenas sem concurso, mas também
da cotação do dólar no Brasil seria apenas sem a necessidade de ratificação por alguma
um reflexo de um movimento externo. Neste outra instância. A iniciativa do compadrio
terreno, é importante destacar que um veí- e do empreguismo sai, por sua vez, fortale-
culo muitas vezes não se apresenta como um cida, em prejuízo dos critérios de mérito que
meio a favor do Estado, mas a serviço do em- precisariam sempre abalizar a contratação de
presariado. Nesse contexto, a teoria organi- funcionários pagos com o dinheiro público.
zacional mostra-se manifestar. Nesta óptica, também se demonstra que
O segundo editorial opina que não existe não haveria necessidade de se aplicar ne-
acordo internacional mais desigual do que o nhuma das teorias para dirimir o porquê de
Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNT). tal informação, tendo em vista a ressonân-
E que a existência de duas categorias de paí- cia que este acontecimento provoca na soci-
ses (os que estão e os que não estão auto- edade. O simples fato que comporta seria o
rizados a manter arsenais) pode ser admi- suficiente para que se divulgasse o conteúdo.
tida como excepcional e transitória, mas ja- Entretanto, olhando impassivelmente a
mais como definitiva. A pertinência desta in- questão, pode-se dizer que as teorias apli-
formação não precisaria de nenhuma teoria cáveis à veiculação da informação seria a
para ser publicada, em virtude de sua rele- organizacional, em conjunto com o agenda
vância para o mundo. Não obstante, a es- setting6 . No primeiro caso porque, em úl-
colha desse fato e o enfoque oferecido são 6
Conhecida como a “teoria do agendamento”, su-
elementos vinculados à teoria do gatekeeper gere que o mundo gira ao redor dos meios de comu-
e à teoria organizacional.5 nicação e que as discussões da sociedade são pauta-
5
das de acordo com o que está presente na mídia. “O
Essa teoria partiu dos estudos de Warren Breed, agenda setting, como é chamado nos Estados Unidos,
conforme aponta Traquina. “Esta teoria alarga a pers- surgiu no começo da década de 1970 como uma re-
pectiva teórica – do âmbito individual a um nível ação a uma outra teoria: a dos efeitos limitados, que
mais vasto, a organização jornalística. No seu estudo, teve seu auge entre os anos 40 e 60. [...] Nas pala-
igualmente um clássico dos estudos do jornalismo in- vras de Mauro Wolf, a passagem dos efeitos limitados
titulado Controle social da redação: Uma análise para os efeitos acumulativos implica a substituição do
funcional, Breed insere o jornalismo no seu contexto modelo transmissivo da comunicação por um modelo
mais imediato, a organização onde trabalha. [...] As- centrado no processo de significação. ‘A influência
sim, na teoria organizacional, a ênfase está num pro- da mídia é admitida na medida em que ajuda a estru-
cesso de socialização organizacional em que é subli- turar a imagem da realidade social, a longo prazo, a
nhada a importância duma cultura organizacional, e organizar novos elementos dessa mesma imagem, a
não uma cultura profissional. (TRAQUINA, 2004, p. formar opiniões e crenças novas.”’ (PENA, 2005, p.
152-153) 144-145)
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12 Robson Silva, Francisco de Assis, Isabela Rosemback, Kelma Rocha e Paulo Gannam
pessoas, a notícia, por si só, deveria ser di- É certo que o jornalista, a todo o mo-
vulgada. mento, devido a várias circunstancias, acaba
Do ponto de vista das Teorias do Jorna- se tornando subjetivo e arbitrário. A deci-
lismo, tanto a organizacional quanto a do ga- são de escolher uma palavra em detrimento
tekeeper poderiam ser inseridas nesse con- de outra, já é uma seleção da notícia que
texto. O porteiro, já consciente da repercus- irá ser repassada para o público. No en-
são que poderia gerar tal informação, prova- tanto, a estrada que desemboca na objetivi-
velmente teve acentuada participação na sua dade do Jornalismo parece não ter fim, mas
escolha, convencendo seus superiores da sua o seu caminho deve ser eternamente perse-
relevância. guido. Quanto mais o jornalista for consci-
O fato de o editorial representar a opinião ente de sua limitação, mais ele irá se esforçar
do veículo em relação a um acontecimento para se aproximar da verdade do fato.
não significa, portanto, que a publicação da Nesse contexto, vale ressaltar que a pos-
informação não tenha passado pelos olhos e tura dos editores frente ao que é ou não notí-
pelas mãos do editor, para a feitura do texto. cia e à definição de manchetes e fotos acaba
Assim, ambas as teorias poderiam permear sendo influenciada pela linha editorial e pelo
este gênero jornalístico. perfil do veículo em que trabalha. No caso da
Folha de S. Paulo, a prática de uma pesquisa
diária com um grupo selecionado de leito-
6 Considerações finais
res funciona como um “termômetro” sobre o
Conscientes de que o papel da universidade que pensa a opinião pública, ou mais preci-
vai além de formar um profissional com samente o seu público-alvo, sobre o enfoque
conhecimentos técnicos e preparado para o de suas matérias.
mercado, os alunos da Unitau puderam ad- Dessas observações, os alunos-
quirir novas visões da imprensa brasileira, pesquisadores puderam concluir que o
ao estudar as teorias que contemplam o uni- jornalismo impresso é uma atividade per-
verso do Jornalismo. meada por uma série de fatores, dentre os
Este trabalho também partiu do princípio quais, as Teorias do Jornalismo esclarecem,
de que ler é muito mais do que decodificar em boa medida, a existência de conteúdos
sinais e que texto e imagem têm variados ní- e formas de transmissão da informação.
veis de significação, indo muito mais além Assim, foi cumprido o objetivo central da
do que está explícito. “Além da significa- disciplina ministrada no curso da Unitau,
ção explícita, existe toda uma gama de sig- que é o de formar profissionais com senso
nificações implícitas, muito mais sutis, dire- crítico aguçado e conscientes da função do
tamente ligadas à intencionalidade do pro- Jornalismo na sociedade.
dutor” (KOCH, 2002, p. 159). Por meio
dessas pesquisas, houve a possibilidade de
se demonstrar que as definições teóricas do
jornalismo podem ter direto aproveitamento
quando da análise de um veículo impresso.
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