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SNC: Breve reflexão sobre o seu impacto na Análise Financeira

O normativo contabilístico internacional e nacional tem sofrido grandes alterações nos


últimos anos. Em Portugal, o Sistema de Normalização Contabilística (SNC) foi
aprovado pelo Decreto-Lei nº 158/2009, de 13 de Julho, e veio substituir, a partir do
exercício de 2010, o Plano Oficial de Contabilidade. Esta alteração, por certo, virá/veio
a ter um impacto crucial ao nível do relato da informação financeira, que afecta todos
aqueles que trabalham em ou para empresas. Nesse sentido será importante avaliar
desde já o efeito destas mudanças e, mais do que isso, reflectir sobre a influência que
o (novo) modelo irá ter ao nível dos conceitos básicos de contabilidade e da análise
financeira à luz deste novo enquadramento.

A ordem contabilística vigente em Portugal até ao final de 2009, e os modelos de


demonstrações financeiras que lhe estavam associadas, há muito que careciam de
uma reforma profunda. É certo que, por diversas ocasiões, aquele normativo foi
revisto e alvo de alterações visando a sua aproximação aos normativos internacionais
de referência, designadamente, aos de tradição anglo-saxónica. Porém, as adaptações
operadas nem sempre se traduziram em melhorias ao nível do relato financeiro. As
empresas portuguesas necessitavam de adoptar um sistema de relato financeiro
similar ao já utilizado pela generalidade dos seus concorrentes no espaço europeu.
Manter o Plano Oficial de Contabilidade (POC) colocaria em risco, a breve prazo, a
capacidade competitiva das empresas nacionais, quer no acesso ao crédito quer na
internacionalização do seu negócio, podendo condicionar, inclusivamente, o
desenvolvimento da economia portuguesa. A Comissão de Normalização Contabilística
(CNC) foi sensível a estas e outras questões, tendo tomado a decisão de substituir o
POC como principal normativo contabilístico nacional mediante a adopção do SNC,
cujas Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF) que o compõem se
encontram muito próximas das Normas Internacionais de Contabilidade e Relato
Financeiro (IAS/IFRS). Portugal está, aliás, indelevelmente ligado à adopção, em 2005,
das IAS/IFRS por todas as entidades cotadas na União Europeia (UE). Recorde-se que
foi no Conselho Europeu de Lisboa, em 2002, que se deu o passo decisivo no reforço
da comparabilidade das Demonstrações Financeiras das sociedades cotadas, criando
assim condições para um aumento da competitividade da União Europeia. Como se
refere no preambulo do Decreto-Lei nº 158/2009, que aprovou o SNC, “a normalização
contabilística nacional deverá aproximar-se, tanto quanto possível, dos novos padrões
comunitários, por forma a proporcionar ao nosso país o alinhamento com as directivas
e regulamentos em matéria contabilística da UE, sem ignorar, porém, as características
e necessidades específicas do tecido empresarial português”.

O SNC implica a alteração de paradigmas que têm vindo a ser aplicados durante os
últimos 30 anos com o POC, e veio colocar novas e diferentes exigências e desafios,
designadamente, a todos os profissionais da contabilidade e a quadros superiores que
necessitem de instrumentos de apoio à decisão na análise e avaliação económico-
financeira das empresas. O SNC representa uma mudança profunda e, por isso, as
empresas devem entender o processo de conversão do POC para o SNC como um
projecto integral de gestão da empresa. As alterações decorrentes do SNC não são
apenas de cariz contabilístico, reflectindo-se também no planeamento, nos sistemas
de informação e nas operações. Tratando-se de um projecto que envolve toda a
empresa compete, por consequência, à gestão de topo estar altamente envolvida no
processo de supervisão desta mudança para evitar consequências de dimensão
imprevista que, inclusivamente, podem vir a afectar as previsões e desempenho futuro
da organização.

Na avaliação dos impactos de um projecto de conversão de normativo contabilístico,


existem vários aspectos, muitos deles interdependentes, a ter em consideração. O
mais consensual é o de avaliar as diferenças entre as políticas contabilísticas actuais e
as políticas contabilísticas e de relato financeiro a adoptar e a quantificação da sua
adopção nas Demonstrações Financeiras, identificando as divulgações a efectuar em
cada período de relato

Para que a conversão seja correctamente assimilada na empresa, é necessária a


alteração de mentalidades, designadamente a forma como as pessoas percepcionam o
relato financeiro, com impacto não apenas nos colaboradores que integram a função
financeira, mas também em todos os que são stakeholders da função financeira. O
processo de integração passa essencialmente pela comunicação da gestão de topo e
formação específica.
As implicações nos processos decorrem essencialmente das diferenças de normativo
identificadas e da necessidade de proceder ao re-desenho de alguns processos para
tornar a obtenção da nova informação rápida e fiável. Estas alterações poderão ter
impactos, designadamente, sobre os procedimentos de controlo em vigor.

Também ao nível dos sistemas informáticos deverão existir alterações consideráveis.


Tais alterações estão essencialmente relacionadas com a avaliação dos impactos das
alterações contabilísticas, quer na arquitectura física, quer na arquitectura lógica dos
sistemas informáticos. Poderá haver a necessidade de acomodar mais do que um
normativo de relato financeiro, criar condições de arquivo histórico de dados ou fazer
o realinhamento com as aplicações que gerem a informação de gestão.

Por último, o negócio. Se o negócio operacional não sofre impactos significativos com
a alteração de normativo, o mesmo não acontece com os rácios de avaliação de
performance do negócio que passam a estar afectados pela adopção de métodos de
valorização diferentes, a forma do reconhecimento de réditos, entre outros. Também
as divulgações adicionais exigidas podem condicionar a avaliação do negócio por
terceiros.

Neste âmbito, era na vigência do POC, por demais conhecido o intenso e complexo
trabalho de estabelecimento de juízos de valor, avaliação de activos e de preparação
da informação financeira tendente à elaboração de uma adequada/cuidada análise
económico-financeira de uma empresa. Acresce o facto de que se o analista fosse
externo, o esforço para avaliar a aderência da informação financeira divulgada à
realidade económico-financeira da empresa era substancialmente maior, apenas
atenuado, algumas vezes, pelas relações que estabelecem com as empresas e pelo
poder de intervenção que tendem a deter junto destas no que concerne à obtenção de
informação suplementar.
Reconhece-se que as demonstrações financeiras elaboradas na observância do SNC
vêm minimizar e, em alguns casos, mesmo suprimir algumas destas tarefas, reduzindo
assim, naquele âmbito, o trabalho do analista financeiro. Procedeu-se com a entrada
em vigor do SNC e das NCRF, a divulgar relato financeiro muito mais próximo daquilo
que eram as demonstrações económico-financeiras POC preparadas para a análise
financeira.

Atendendo à proximidade conceptual entre as NCRF e as IFRS, poderão, desde logo,


esperar-se variações significativas aquando da adopção das normas do SNC. Atente-se
que em Portugal, quando as empresas cotadas em bolsa passaram a estar sujeitas à
obrigatoriedade de elaboração das contas consolidadas de acordo com as IAS/ IFRS, tal
facto traduziu-se, entre outros aspectos, numa redução nos seus Capitais Próprios,
como resultado de alterações significativas no valor dos seus activos e passivos. Da
leitura efectuada sobre os principais aspectos do SNC, salientam-se alguns dos
impactos entendidos como mais relevantes no que concerne à conversão para o SNC.

Activos intangíveis
Redução ou eliminação total do goodwill, despesas de instalação e despesas de
investigação e desenvolvimento.

Activos tangíveis
Redução por imparidade do valor líquido de alguns activos. Possibilidade de alterações
de vidas úteis e a adopção da amortização por componentes. Opção pela mensuração
ao custo histórico ou valor revalorizado.

Propriedades de investimentos
Aumento do valor dos activos, se adoptada a política de mensuração ao justo valor

Acréscimos e Diferimentos
Anulação de custos plurianuais diferidos que não qualifiquem como activo

Instrumentos financeiros
Registo dos ganhos e perdas obtidas com a contratação de instrumentos financeiros
derivados e separação entre instrumentos de capital próprio e passivos financeiros.

Benefícios aos empregados


Alteração das responsabilidades reconhecidas com pensões por possibilidade de
aplicação do método do “corredor” no reconhecimento dos desvios actuariais.

Rédito
Redução dos réditos suportados por contratos condicionais ou revogáveis.
Reconhecimento da actividade de “comissionista” pelo líquido.

Provisões
Redução do valor de provisões genéricas e para reestruturações constituídas.
Aumento da divulgação de passivos contingentes.
Possível desconto do valor das provisões.

Subsídios
Eventual reclassificação de subsídios

Impostos
Activos e passivos por impostos diferidos, em resultado da manutenção do critério do
custo histórico e de outras regras fiscais em vigor

A maior ou menor relevância dos factores acima referidos, a forma como se


encontram reconhecidos ou valorizados bem como a substância económica das
transacções ou eventos que lhes são subjacentes, poderão determinar o maior ou
menor impacto na transição.

O relato financeiro é o resultado de todo um processo que terá de ser revisto e


alterado para assegurar a qualidade do mesmo, traduzindo-se no reflexo da empresa
para o exterior. Dele pode muito bem depender o financiamento e a credibilidade do
seu negócio. A adopção do SNC visa proporcionar às empresas uma qualidade de
relato financeiro que já não estava ao alcance do POC, atendendo à diversidade e
complexidade das operações.
A necessidade que as empresas têm de obter financiamento ou desenvolver parcerias
com entidades estrangeiras e o desejo de a UE se constituir como um pólo de
desenvolvimento alternativo aos Estados Unidos, motivou a necessidade de normalizar
o relato financeiro num espaço económico que já é comum. Mas, num processo de
convergência internacional que conta com um número cada vez mais alargado de
países, as consequências da convergência são bem mais abrangentes. Os principais
objectivos radicam na comparabilidade das demonstrações financeiras, na maior
transparência das informações relatadas e em uma maior eficiência e eficácia no
relacionamento com o mercado de capitais e seus agentes. A adopção do SNC traduzir-
se-á, por certo, em vantagens notórias que terão o seu reflexo numa clara
aproximação à harmonização contabilística internacional, numa melhor qualidade da
informação e na redução das diferenças de princípios contabilísticos geralmente
aceites para empresas que reportem a entidades estrangeiras. A vantagem maior será,
muito provavelmente, dotar as empresas de um instrumento global de relato
financeiro.

Existirão contudo, pelo menos nesta fase inicial, algumas dificuldades a contornar,
designadamente, diferenças significativas para o POC, a valorização e contabilização de
instrumentos financeiros, a informação comparativa para exercícios anteriores, as
divulgações adicionais e o impacto nos resultados e nos capitais próprios que a
adopção do SNC possa promover. Podem ainda ser obstáculos consideráveis a
resistência à mudança, a capacidade técnica e a disponibilidade dos recursos, as
implicações fiscais e regulatórias e os custos externos associados a determinadas
opções contabilísticas (p.ex. Avaliações).

Assim, o SNC deve ser entendido como um instrumento essencial para garantir a
comparabilidade nas decisões de investimento em diferentes mercados, sendo essa
comparabilidade sustentada por normas de reconhecimento, mensuração,
apresentação e de relato comuns a todas as empresas. O próprio diploma que o
aprovou define este novo sistema como “um modelo de normalização assente mais em
princípios do que em regras explícitas e que se pretende em sintonia com as normas
internacionais de contabilidade emitidas pelo IASB e adoptadas na União Europeia
(UE), bem como coerente com a Quarta Directiva 78/660/CEE do Conselho, de 25 de
Julho de 1978, e a Sétima Directiva 83/349/CEE do Conselho, de 13 de Junho de 1983,
que constituem os principais instrumentos de harmonização no domínio contabilístico
na UE”.

Conclui-se pois, que o modelo de normalização contabilística nacional se caracteriza


pela afinidade com o normativo contabilístico da UE, associada com as normas
internacionais de contabilidade – Internacional Acounting Standart (IAS) e com as
International Financial Reporting Standards (IFRS) emitidas pelo Internacional
Accounting Standards Board (IASB). As vantagens decorrentes da sua adopção
afiguram-se claramente inegáveis pesem embora alguns obstáculos que por certo se
irão diluir no tempo. O analista financeiro daí retirará igualmente benefícios. Como se
referiu, estes profissionais viram reduzido o trabalho preparatório da informação
financeira, mas sempre restará a necessidade de avaliação da adequabilidade dos
juízos de valor subjacentes à elaboração da informação financeira. Salienta-se
igualmente o necessário esforço de adaptação à interpretação dos indicadores e rácio
económicos e financeiros à luz da (nova) estrutura conceptual introduzida pela
adopção do SNC.

Maio de 2010

Joaquim Alberto Neiva dos Santos

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