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Este artigo é uma síntese das reflexões geradas durante um breve período de participação em um projeto
global de planejamento urbano em Kimberley e Porto Elizabeth (África do Sul) em 1998 e 1999. Todos os
dados estatísticos usados neste artigo provêm do Primeiro Plano Urbano Global (minuta) de Porto Elizabeth
(maio de 1999).
O conceito ocidental de
planejamento urbano, tal
como é usado hoje em
dia, foi desenvolvido para
uma sociedade onde o
emprego se baseia na
mão-de-obra formalmente
contratada. Em muitas
cidades em crescimento
no Terceiro Mundo,
entretanto, a grande
maioria dos habitantes
está desempregada ou
tem que sobreviver de
outras diferentes formas.
Existe uma necessidade de um conceito de planejamento mais flexível que permita outros
meios de se garantir a sobrevivência, tais como a agricultura urbana. Tanto os políticos
como os planejadores defendem a idéia de um estilo de vida consumista ocidental como o
modelo para o desenvolvimento, ainda que ele seja pouco realista para a maioria dos
habitantes urbanos dos países em desenvolvimento.
É do conhecimento geral que o objetivo do planejamento físico deve ser organizar o sistema
de manutenção de uma sociedade em seu espaço disponível. A sociedade agrícola tem suas
próprias características, que são diferentes das da sociedade industrial. O significado e a
função do trabalho e do lazer, da moradia e do local de trabalho, do produtor e do consumidor,
diferem entre uma e outra forma de sociedade. Entretanto, as cidades da África do Sul não
representam a nenhum desses dois tipos de sociedade. Não são sociedades agrícolas, já que
a maioria dos habitantes não possui nem tem acesso a nenhum meio de produção agrícola,
como terra ou animais; tampouco são industriais, já que a maioria não está empregada como
mão-de-obra manufatureira, não dispõe de renda alguma, ou quase nenhuma, e seu
consumo é muito limitado. Essas cidades são atípicas e portanto devem ser manejadas
especificamente pelos planejadores urbanos.
Porém os planejadores parecem não estar conscientes desse fato, e seu objetivo segue sendo
desenvolver essas cidades como se cidades industriais fossem, com uma separação funcional
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A discussão sobre empregos no setor informal e nas pequenas indústrias e artesanato ainda
se dá conforme os conceitos da sociedade industrial. A agricultura urbana é mencionada, mas
na prática não lhe é dada a necessária atenção no planejamento. A horticultura urbana pode
ser implementada em loteamentos onde houver áreas livres, mas normalmente os lotes
residenciais são planejados para serem bem pequenos, permitindo maior densidade
populacional.
Os sistemas de
manutenção mais
adequados para as
cidades da África do
Sul, assim como para
outras partes do
mundo em
desenvolvimento,
devem ser sistemas
que admitam não
somente os
empresários e os que
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Mudar o conceito de planejamento dominante certamente não será nada fácil. Tampouco será
suficiente, por que o desenvolvimento das sociedades não obedece às teorias. As forças que o
impulsionam são mesclas complexas de fatores culturais e econômicos. Muitas forças
poderosas impulsionam o conceito do planejamento conforme o modelo industrial. As atitudes
das pessoas comuns hoje em dia se vêem consideravelmente afetadas pelas influências
globais através da televisão. O estilo de vida ocidental é considerado o ideal por muitas
pessoas no mundo em desenvolvimento. Esse ideal do consumo é apoiado por poderosas
forças comerciais. Porém é evidente que esse estilo de vida nunca será alcançado pela
maioria. Isso é ainda mais claro nos países em desenvolvimento, onde as condições
continuarão sendo muito rudimentares ou continuarão se deteriorando caso o planejamento
físico das cidades continue baseado em princípios desenvolvidos para um sistema de
manutenção totalmente diferente. Os políticos freqüentemente assumem o papel de otimistas,
estimulando as populações. A principal crítica contra os planos gerais de Port Elizabeth e de
Kimberley é seu otimismo infundado, e as ilusões que criam, incluindo aquela de que as
pessoas se converterão todas em membros adequadamente integrados da sociedade de
consumo.
Além disso, para garantir um futuro global sustentável, os habitantes do mundo mais rico
devem renunciar a seu estilo de vida consumista e adotar um estilo que se preocupe mais em
cuidar da natureza, dos recursos e de nossos vizinhos que vivem nas áreas mais pobres do
planeta. Todas essas variáveis impactam (direta e indiretamente) no modelo de planejamento
dominante e nas possíveis opções para modelos alternativos.
Referência
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Prefeitura de Port Elizabeth. 1999. Primeiro Plano Urbano Geral (minuta). Port Elizabeth.
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