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CAPÍTULO II
UMA TEORIA DA ORGANIZAÇÃO

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... ........................................................................................ 110


1. DISTINÇÕES CONCEITUAIS
1.1. Organização......................................................... ......... 111
a) Terminologia.................................................................... 111
b) Concepção.............................................................. ......... 112
c) Taxionomia...................................................................... 113
1.2. Complexificação.......................................................... 115
1.3. Elemento e componente................................................ 117
1.4. Variedade e critério de pertinência...... ........................ 118
1.5. Teoria......................................................... ................... 120
1.6. Técnicas............................................. ........................... 121
2. A GÊNESE E A TELESE............................................................................ 122
3. A TOTALIDADE DIALÉTICA......................... ......................................... 125
4. A TOMADA DECISÃO................................. ............................................. 134
5. O PLANEJAMENTO E O CONTROLE................................................... 140
5.1. O planejamento.............................................................140
5.2. O controle. .... ....................................... ................... 148
6. A ORGANIZAÇÃO E A COERÇÃO....................... .................................. 153
7. A MANIFESTAÇÃO DA COERÇÃO NOS MOVIMENTOS DE
REDUÇÃO E PROLIFERAÇÃO................................................................ 158
7.1. Um exemplo do movimento de redução ....................... 164
7.2. Um exemplo do movimento de proliferação ................ 173
8. CARACTERIZAÇÃO DAS TEORIAS DA ORGANIZAÇÃO COMO
109

CIÊNCIA OU ARTE....................................................................................177
9. TAXIONOMIAS DAS ORGANIZAÇÕES DE ENTIDADES...... ............. ..181
9.1. Taxionomia segundo os objetivos....... ......................... ..183
9.2. Taxionomia segundo os papéis...... ............................... ..188
9.3. Taxionomia segundo as mantenedoras... ...................... ..190
10. A ORGANIZAÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA....... ............................... ..197
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... ..198
Anexo 8.A pirâmide de proliferação das organizações,segundo
as entidades mantenedoras...................................................................200
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INTRODUÇÃO

Se no capítulo anterior a preocupação foi com a fundamentações


da metodológica e teórica com que a tese será orientada, neste busca-se uma
definição dos termos que irão permear todo os demais capítulos e a formulação de
uma teoria para balizar comentários, perguntas e/ou temas. Inicia com distinções
conceituais para fechar os significados de mais alguns deles, de modo que sejam
sempre entendidos com o mesmo sentido para evitar eventuais ambigüidades nas
percepções da teoria como um todo. Adentra pelas gênese e telese da totalidade
dialética como é entendida neste trabalho a organização geral de um sistema
sociocultural para chegar à tomada de decisão como resultado da reflexão
subsidiada pela retroinformação cibernética. O binômio planejamento/controle é
minudenciado como uma preparação para a descrição da coerção na
interdependência interativa das partes de um todo.
A parte complicada está nos movimentos de redução e
proliferação da variedade, tendo, inclusive, exigido recorrência a teorias da
evolução das espécies, alguns exemplos do cotidiano e de uma técnica de
avaliação aplicada pelo próprio autor em sala de aulas. Polemiza, em seguida, as
teorias da organização em sua caracterização como ciência e arte, procurando
demonstrar a sua evolução do plano teórico para o prático. Elabora taxionomias
das entidades jurídicas com base em alguns autores renomados e coloca a sua
própria pela experiência adquirida como ex-dirigente de órgãos centrais do
governo estadual. Finaliza com a organização da infra-estrutura existente em todas
entidades jurídicas.
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1. DISTINÇÕES CONCEITUAIS
1.1. Organização

a) Terminologia
Com muita freqüência é encontrada na bibliografia sobre
administração e organização a palavra organização como sinônima de sistema,
escola, empresa, repartição, totalidade. Aqui essa sinonímia não será considerada,
pois com o sentido que lhe é dado, o termo organização se confunde com os
processos de realização e estes se configuram sob um enquadramento
geneanômico e teleonômico para a composição de sua forma. Será entendido
como a organização de um sistema sociocultural que se manifesta, em sua
abrangência genérica, sob a forma de escola, empresa, repartição, família, clubes,
sindicatos etc. Com essa concepção é possível a coexistência de mais de uma
organização em uma só entidade em razão da multifinalidade desta e dos critérios
definidos pelo observador. Assim sendo, não serão observadas as expressões
organização formal e organização informal, indicando aquela a forma
burocrática e esta a social do sistema. Se na segunda há um paradoxo, pois não se
compreende organização sem forma, na primeira há uma redundância para os
pressupostos teóricos deste estudo para o qual organização se manifesta sob uma
forma com pontos redundantes e harmônicos entre si, seja ela burocrática ou
social, com ou sem estrutura física mas, certamente, com uma interdependência
interativa das partes. Dão, sim, relevância às correntes de informação no processo
de comunicação interpessoal, intermáquina ou pessoal/máquina, admitindo-se,
assim, a informação
como o elemento essencial da organização, como se verá no
capítulo seguinte. Neste estudo serão substituídas por entidades jurídicas e não
jurídicas. Significará a primeira a existência de uma organização sociocultural
instituída com bases legal-burocráticas e como tal reconhecida. A segunda uma
organização que se forma contingencialmente, no interior das jurídicas ou,
independentemente destas, no meio social. Para economia de esforços será
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utilizada a expressão sociocultural na sua concepção geral, ficando entidade


jurídica apenas para as oportunidades em que se der o seu confinamento.
b) Concepção
Para Epstein a desordem ou a entropia é máxima em uma
quantidade de eventos (ou de sinais ou de pontos) quando eles são independentes
entre si, ou seja, não apresentam articulação ou coerção mútua. Isto significa que a
sua distribuição é aleatória e a sua variedade máxima somente será reduzida com a
emergência de alguma forma ou gestalt. As formas, por sua vez, somente
emergem quando há coerções (regras ou leis) entre os sinais elementares. A partir
das formas é que os elementos deixam o estado caótico da entropia máxima e
possibilitam a percepção, justamente porque contém menos variedade e, portanto,
menos informação. Assim, a forma equivale a uma diminuição da variedade ou da
informação contida no estado desordenado. Os exemplos são a loteria em que os
números são aleatórios (um não depende do outro para ser sorteado) e o das
tabelas da função logarítmica (que obedecem a uma fórmula). Assim, "o estado
entrópico ou desordenado é aquele cuja descrição não pode, de modo algum, ser
comprimida, i.é, não apresenta nenhuma forma ou estrutura" como, por exemplo,
apresenta-se uma equação matemática. Aceitando a afirmação de Carnap de que o
grau de uniformidade do mundo é alto, deduz que a própria existência de leis
científicas, pressupondo coerções entre os fenômenos naturais, os quais pretende
desvendar, "configura um mundo no qual a variedade ou a informação (no sentido
da teoria da Informação) é menor do que aquela que existiria num mundo caótico,
em que todo fenômeno fosse igualmente provável e que nenhuma lei estabelecesse
qualquer coerção entre duas classes de fenômenos" (Epstein, 1986, p.9-10,
passim.)
A forma ou gestalt é fruto da redundância, entendida esta como
o "excesso de sinais sobre o mínimo estritamente necessário para transmitir-se
uma determinada quantidade de variedade" e a sua manifestação mais óbvia é a
simetria ( que é repetição de pontos) em que há menos variedade ou informação
do que numa figura assimétrica, mesmo ambas tendo igual número de pontos.
113

Contudo, "todo reconhecimento de uma forma (...) ocorre pela redundância".


Todas as linguagens naturais contém redundância e é por aí que se dá o seu
reconhecimento, o qual é possível pela existência de coerções que configuram
padrões. "Assim, percebemos ou entendemos o mundo, ou seja, num certo sentido
temos informação a respeito dele a partir da redundância, que é uma redução dessa
informação ou variedade" (Epstein, p.11-2, passim.)
"A emergência da ordem a partir da desordem, i.é, o movimento
do indiferenciado para o diferenciado é uma idéia recorrente em vários mitos
relativos à criação". Assim é com Hesíodo e no Gênesis. "A própria palavra
cosmo, cujo significado inicial era o de ordem ou arranjo de algo, passou
posteriormente a significar a ordem do mundo, depois, o mundo como ordem e,
finalmente, veio a expressar o próprio mundo"(Guthric). A ordem, porém, pode
ser uma organização subjetiva determinada por parâmetros exclusivamente
individuais como a "arrumação" da mesa de trabalho. Assim, "estabelecer
diferenças e semelhanças para classificar e ordenar os objetos sensíveis ou
inteligíveis é algo que pode ser realizado com os mais diversos critérios. (...) A
interdependência dos parâmetros que definem os objetos ou variáveis configura
estados menos entrópicos, prevendo coerções, leis, regras etc.". Um questionário
que não prevê interdependência entre suas questões, por exemplo, não define um
estado de organização, pois cada questão definiria um aspecto do conjunto de
opiniões, apenas, mas que pode passar por alguma definição de organização pela
pessoa que interpretar o conjunto em sua constitutividade. (Epstein, p.105)
Portanto, forma e redução de incerteza pela informação referem-
se ao mesmo objeto: a Organização.

c) Taxionomia
Na taxionomia se admite a proliferação dos objetivos com
conseqüente diferenciação dos papéis à medida em que as entidades vão se
situando concretamente mais próximas do nível de realização, em razão do que se
dá a especialização em ramos e a diversificação como conseqüência do
114

desenvolvimento socioeconômico, político e cultural. Portanto, as organizações


específicas são localizáveis nas três dimensões da geometria:
a) na dimensão vertical, a proliferação com a especialização em
direção ao nível de realização;
b) na dimensão horizontal, a proliferação com a ramificação
pelas diferenciação dos objetivos e papéis; e
c) na dimensão da perspectiva, a partir da confluência das duas
ordenadas anteriores projetam-se em diversificação determinada pelas coerções do
nível de realização; esta dimensão, portanto, parte do nível em que se localizam as
entidades mais especializadas, em dado lugar e tempo.
Assim, na dimensão vertical, os níveis de organização das
entidades são divididos, após a Organização Geral, pelo grau de especialização,
em Organizações Semi-Especializada, Especializada e Superespecializada. Na
horizontal, a partir do segundo nível, a proliferação, obedecendo a diferenciação
dos objetivos e papéis, tem-se a Pública, a Confessional e a Privada. Na de
perspectiva a diversificação a partir da especializada. A Figura 8. Pirâmide da
Proliferação da Organização de Entidades, Segundo as Mantenedoras, em anexo
ao capítulo, procura dar uma visualização das mesmas. Nessa figura, a linha
descendente Gênero --> Espécie é a sinalização da proliferação. É boa, porque
deixa clara a filogenia da pirâmide, a descendência da geral para a semi e desta
para a especializada e superespecializada.
No nível mais alto da pirâmide, está a Organização Geral, cujas
características básicas estão no poder de decisão a ser exercido e no planejamento
e controle, - sob o enquadramento de uma geneanomia e uma teleonomia próprias,
fruto da reflexão. Essas características permeiam toda a dimensão vertical até a
organização da infra-estrutura e são invariantes. Em qualquer sistema
sociocultural estarão sinalizando a Organização. Não cabe em seu contexto, o
estudo da liderança, da racionalização do trabalho, do processo de comunicação
que são atividades passíveis de influências muito fortes dos meios interno e
externo integradas pelas interações. Enquanto aí, na concepção geral de
115

Organização não se aplica nenhum preceito ético, ideológico ou prático. Deve ser
estudada, essencialmente, como ciência. Todavia, à medida em que se ramifica em
direção à prática, sua concretitude irá tendo acrescentadas características outras e
o poder aí exercido se espalha num "continuum" cujos extremos opostos políticos
são a democracia (governo do povo) e a oligarquia (governo de poucos), passando
pela monarquia (governo de monarcas) ou se se quiser repetir Montesquieu
(1962), o governo republicano (soberania do povo), o monárquico (soberania das
leis com um monarca) e despótico (sem leis com um ditador).
A Organização Geral, em razão mesmo do seu não
comprometimento com a realização repete-se, polimericamente, em todo e
qualquer sistema com essas mesmas características, com as quais serão estudadas
neste capítulo, sem a enfadonha repetição de geral . Tal repetição polimérica
também ocorre nas diversas organizações contidas em um sistema, razão pela qual
é possível tratá-las no singular, como se fez no titulo.

1.2. Complexificação
O consenso utiliza-se do termo complexificação para designar a
evolução de uma organização no aprofundamento da especialização pela
proliferação de variedade dos componentes. A complexificação caminharia, então,
no mesmo sentido e na mesma velocidade da proliferação da organização. Como é
impossível substituir o seu significado sem confundi-lo com o de caos, aqui será
utilizada a expressão complexidade, com sua acepção traduzindo um estado com
variedade muito grande de componentes. Tal estado enseja a origem de
organizações em inércia, no qual permanecerá se não houver uma intervenção. Em
desordenamento máximo o sistema apresenta-se em complexidade caótica que
sinaliza a saturação - um estado máximo de proliferação no limiar da mutação.
Significa uma quantidade muito grande de complexões, tão grande que suas
inúmeras e variadas formas não são percebidas nem mesmo por observadores que
melhor conheçam as suas conexões, senão parcialmente. Como o grande número
de complexões aproxima o sistema da entropia máxima, disso resulta a
116

necessidade de se delimitar a proliferação de sua complexidade, sob pena de


chegar à saturação - a complexidade caótica. Portanto, a complexidade torna
menos perceptível a organização, em razão do que o ser humano procura reduzir a
variedade dos componentes dos sistemas para melhor entendê-la.
A complexificação parece aceitar, por isomorfia, a distinção
entre diversidade e disparidade feita por Gould para quem o termo diversidade
tem o sentido de diferença entre as espécies, restringindo, portanto, a sua acepção
ao número de espécies. Disparidade é empregado para designar a diferença entre
os traçados ou "designs" anatômicos, portanto, à genealogia. "Utilizando esta
terminologia, podemos reconhecer um fato fundamental e surpreendente na
história da vida - acentuada dizimação da disparidade seguida de um notável
aumento de diversidade entre os poucos "designs" sobreviventes:"(Gould, 1990,
p.44), diz ele. Refere-se, em outras palavras, à dizimação do número de traçados
anatômicos e não do número de espécies, do que se conclui que o crescimento do
número de espécies deve ter ocorrido no âmbito de um número reduzido de
"designs" anatômicos. Afirma, outrossim, que "a estereotipia ou concentração da
maioria das espécies nuns poucos planos anatômicos é uma característica
fundamental das atuais formas de vida..." (Gould, 1990, p.50) e conseqüência da
dizimação, entendida esta como "extinção aleatória", i.é, ao acaso, em que pese a
complexidade anatômica e a capacidade competitiva dos sobreviventes.
Estabelece como regra geral, como propriedade dos sistemas, a
disparidade seguida de dizimação e contrapõe-se às iconografias do cone da
complexidade crescente e dos mais competentes da escada para o progresso. Para
ele a seleção natural de Darwin "apenas explica como os organismos respondem
de forma adaptativa às mudanças nos ambientes locais e vão se modificando ao
longo do tempo"(Gould p.49), não se referindo ao aperfeiçoamento das formas de
vida. Afirma, ainda, que "a evolução é uma dialética do interior com o exterior e
não um quadro em que a ecologia empurra uma estrutura maleável em direção a
um conjunto de posições adaptativas num mundo bem azeitado". (Gould, 1990,
p.297)
117

Anteriormente, Darwin já afirmara que a seleção natural traz


certas extinções. "Devido à progressão da multiplicação de todos os seres
organizados, cada região contém já tantos habitantes quantos pode nutrir; resulta
daí que, à medida que as formas favorecidas aumentam em número, as formas
menos favorecidas diminuem e tornam-se raras." A raridade antecede a extinção e
as formas mais antigas, por sua vez, devem desaparecer à medida que as formas
novas se produzem, pois o número das formas específicas não aumenta
indefinidamente, por força da regra "disparidade seguida da dizimação" e do
princípio da competição. Das espécies que se tornam mais raras, as que sofrem
mais extinção, são as que se encontram em concorrência imediata com as espécies
que se modificam e se aperfeiçoam (Gould, 1990, 264).
Além de serem princípios que se aplicam à limitação da
complexificação, também servem para fundamentar a finidade da proliferação, o
que será feito no momento oportuno.

1.3. Elemento e componente


O uso da palavra elemento será para designar algo que ainda não
faz parte de um sistema, não sendo, portanto, distinguível. Somente se torna
distinguível quando compõe-se em um sistema e aí será enunciado como
componente. Componente, assim, é algo distinguível que se submete à
organização de um sistema, seja ele de que natureza for. O componente pode ser
uma pessoa, um vegetal, um mineral, um objeto material, uma letra ou número de
um conjunto etc. Seja, por exemplo, o conjunto "a,a,b,c,c,c". A quantidade de
componentes é de seis, mas os distinguíveis são apenas três: "a,b,c": a expressão
de sua variedade. Se, por exemplo, numa série existirem 200 alunos com a idade
de 7 anos, 300 com 8 anos e 150 com 9 anos, a variedade dessa série pelo critério
das idades será de 3 componentes: de 7 anos, de 8 anos e de 9 anos.
118

1.4. Variedade e critério de pertinência


Variedade é entendida como o número de componentes
distinguíveis em um conjunto de acordo com o critério definido pelo observador.
Assim, se em uma sala existirem 25 pessoas em interdependência e interação,
estas formam um sistema sociocultural. Se um observador definir, como critério
de pertinência para segmentar os seus componentes, os assuntos das conversas e
nesse conjunto houver, simultaneamente, três assuntos sendo ventilados - política,
economia e educação - por exemplo, tais componentes serão distribuídos em três
subsistemas, havendo, portanto, apenas três componentes distinguíveis. O critério
de pertinência "assuntos ventilados" pelos grupos definiu os graus de liberdade da
repartição, com repercussão na organização do sistema. O mesmo procedimento
será adotado se se quiser distribuir os componentes pelo critério de idades. Se
cada uma daquelas pessoas possuir uma idade diferente das demais, ter-se-á 25
subconjuntos, mas se puderem ser reunidas em apenas cinco idades, haverá, então,
cinco subconjuntos (ou componentes distinguíveis), independentemente da
quantidade de indivíduos em cada um deles, como em seguida:
Subconjunto A para os de 24 anos = 07 indivíduos;
" B " " " 23 " = 08 "
" C " " " 22 " = 05 "
" D " " " 21 " = 03 "
" E " " " 20 " = 02 "
Está claro que os critérios de pertinência acima aludidos foram
definidos aleatoriamente. Na prática, contudo, os critérios são definidos tendo em
vista as finalidades para as quais está sendo organizado ou organizando-se o
sistema. Assim, um grupo de pessoas pode se formar a partir do chamamento para
participar de uma campanha qualquer, caso em que somente se integrarão a esse
grupo os que se identificam com seus propósitos. Será uma adesão espontânea e o
grupo, por conseguinte, terá uma organização também espontânea. Por outro lado,
num processo de seleção para ingresso em uma carreira em uma dada entidade
jurídica há uma certa quantidade de pré-requisitos que os pretensos ingressantes
têm que satisfazer, tais como: estar de posse do diploma correspondente; ter uma
119

idade mínima; estar quites com os deveres civis; possuir um mínimo de


conhecimento exigido para o desempenho eficaz das funções da carreira etc. Tais
pré-requisitos formam o critério de pertinência que repartirá os candidatos entre os
que podem ser aceitos e os que não podem ser aceitos. Sejam esses dois mil, três
mil, "n" mil candidatos, pouco importa para a definição de componentes
distinguíveis. Nesta etapa são apenas dois: os que podem e os que não podem ser
aceitos. No prosseguimento do processo, os aceitos passam por uma classificação
de notas numa escala de, por exemplo, 0 a 10. Se em cada uma dessas notas existir
um ou mais candidatos, então, os componentes distinguíveis serão 10. Fosse a
escala de 0 a 100 seriam 100 e assim, por diante. Em outros termos: o critério de
pertinência organiza o conjunto, dá-lhe a forma desejada conforme a finalidade
projetada. Em cibernética é denominado de algoritmo e se diz que é um coator a
serviço de uma organização definida previamente e um operador no processo de
transformação. Na teoria dos sistemas é o parâmetro restrição, como se verá no
capítulo III.
Deslocando-se a atenção para o sistema escolar brasileiro, este
dispõe, pela Lei Federal n. 9394/96 (Brasil,1996), que a educação básica regular
seleciona as crianças para ingresso em seu processo pela idade, podendo no ensino
fundamental matricularem-se crianças com idade mínima de 7 anos ou menos, de
acordo com normas de cada subsistema, sendo obrigatório dos 7 aos 14 anos e
com uma duração de 8 anos letivos correspondendo cada ano letivo a uma série.
Atendesse o sistema escolar à população dessa faixa etária na variedade requerida
com a velocidade adequada, seria máximo o coeficiente de neguentropia (= 1),
com a seguinte correspondência entre séries e idades:
1a.série : 7 anos e menos;
2a. " : 8 " " "
3a. " : 9 " " "
4a. " :10 " " "
5a. " :11 " " "
6a. " :12 " " "
7a. " :13 " " "
8a. " :14 " " "
120

Essa correspondência revela que haveria, pelo critério da idade,


2 componentes distinguíveis para cada série e uma variedade de 16 para o ensino
fundamental com 8 séries. Apesar da utopia que isso representa, serve como
parâmetro para indicação do grau de organização/desorganização do ensino
fundamental por esse critério.

1.5. Teoria
A delimitação do objeto, do campo, dos métodos e das hipóteses,
com a aceitação da provisoriedade de suas inferências, bem assim as recorrências
que exigem a reflexão, são os componentes de uma teoria, entendida como:
a) um sistema de enunciados, definidos ou explicados, por
dedução, segundo Maser (1975, p.26);
b)"...um conjunto de regras (que) referem quantidades ao
modelo de observações que se tenha escolhido" e que "existe apenas em nosso
raciocínio e não apresenta qualquer outra realidade", sendo boa quando descreve
com precisão uma grande categoria de observações que contenha poucos
elementos arbitrários (abertos quanto ao significado) e faz previsões quanto aos
resultados das futuras observações, para Hawking (1988, p.26);
c) deduzida de modelos de pensamento ou "escolas", para
Otaviano Pereira(1988, p.62);
d)"um conjunto de pressuposições de que pode ser derivado, por
procedimentos puramente lógico-matemáticos, um conjunto maior de leis
empíricas (princípios)", para Feigl (1971, p.29).
São suas características, segundo Griffiths (1971, p.29 e 30):
a) objetividade para poder ser entendida pelos especialistas;
b) precisão para que as conclusões possam ser verificadas pelas
pessoas especializadas; e
c) coerência interna (estrutura sistemática) no ordenamento dos
fatos.
121

A essas características Maser (1975, p.26) acrescenta:


a) ausência de contradição (paradoxos) - não podem ser
deduzidos dois enunciados em que um seja negação do outro;
b) completude - qualquer enunciado só deve ser deduzível da
própria teoria;
c) independência - redução ao mínimo dos pressupostos não
conhecidos; e
d) evidência - como uma "forma fraca" de demonstração.

1.6. Técnicas
Para Arnold Gehlen, citado por Habermas (1968), que
desenvolve a teoria do círculo funcional da ação racional dirigida a fins
(teleologia) e controlada pela êxito, o gênero humano projeta técnicas a partir das
funções do seu organismo para reforçá-las ou substituí-las, na seguinte ordem: do
aparelho locomotor (mãos e pernas), da produção de energia (corpo), do aparelho
dos sentidos (olhos, ouvidos, pele) e, por último, as funções do centro de controle
(cérebro). As técnicas na organização, indubitavelmente, se encaixam entre estas
últimas, isto é, são uma extensão do cérebro e como tal apresentam duas
interfaces: uma voltada para o interior dos sistemas e a outra para o meio externo
que os sistemas criam para si mesmos ao atuar nele. Ocorre, como afirma o
próprio Gehlen (apud Habermas, 1968), que a lógica imanente da evolução técnica
se funda em que o círculo funcional da ação racional teleológica se dissocia
progressivamente do substrato do organismo humano e se transfere para o nível
das máquinas, criando o sistema homem-máquina. Em razão disso, pode-se prever
que, num estágio mais avançado, as funções humanas estarão ligadas às máquinas
que as reforçam ou substituem, não escapando a isso, o cérebro, cujo protótipo, no
momento, é o computador.
A tecnologia oportuniza o surgimento de novos sistemas
socioculturais, inclusive do tipo homem-máquina e influencia na reorganização
dos
122

existentes, forçando adaptações ao meio externo que transforma, constantemente.

2. A GÊNESE E A TELESE
As ações humanas conscientes, das mais simples às mais
complexas, envolvem fatores autônomos e heterônomos. Os primeiros são do livre
arbítrio exercido por reflexão seguida de decisão tendo em vista finalidades
previamente definidas. São, presumivelmente, libertadores. Os heterônomos são
determinados pela natureza humana, condições socioculturais e meio-ambiente.
Funcionam como coações fixas. A dinâmica das ações humanas, assim, é uma
síntese em que a tese é a autonomia e a antítese a heteronomia, ou se se quiser, as
determinantes do passado e as previsões para o futuro. Com isso, às relações
causais tradicionais, com uma seqüência temporal unidirecional do passado para o
presente, acrescentam-se as causas no futuro e as relações se tornam bidirecionais.
Admite-se, então, que as ações do sujeito no presente são um encontro de
seqüências bidirecionais com origens inversas: no passado e no futuro. Nelas,
portanto, os acontecimentos do passado relacionam-se com os do futuro, em
função dos propósitos ou finalidades que são traduzidos por intencionalidade,
teleologia ou causa final. Estas, com o mesmo significado, oportunizam que à
gênese dos fenômenos naturais, Buckley (1976, p.105) acrescente a telese dos
fatos socioculturais que exigem planejamento das estruturas e reconhecimento do
seu valor na manutenção da sociedade. A teleologia, assim, como expressão de
intencionalidade, está presente no fato e não metafisicamente colocada num
futuro, às vezes, remoto e inatingível.
As ações humanas conscientes, com isso, têm uma organização
que carrega as normas dadas pela gênese - a geneanomia, e assume, na sua
dinâmica, as normas da telese - a teleonomia. Ambas, sob a égide da teleologia,
são reciprocamente determinantes, pois, se certas normas se estruturam ou são
estruturadas para certos fins, outros fins que se queira impor a elas, não sendo
admitidos pela gênese do sistema sociocultural, são rejeitados e a organização não
123

se compõe e vice-versa. A geneanomia de uma escola, por exemplo, traz em si


normas que possibilitam a escolarização, daí que os fins que assumirá pela
teleonomia somente podem ter essa natureza, embora se diferenciem na
manifestação da variedade. Se se impor a escola finalidades assistenciais e/ou de
combate à violência, a sua geneanomia vai repeli-las o mesmo acontecendo pela
teleonomia se se impor a ela normas de uma entidade assistencial e/ou policial. Há
o risco, senão a certeza, da dissolução se tais finalidades não se adequarem à
natureza do sistema escolar.
Se assim é, está admitido que a organização dos sistemas
socioculturais é produto de sua gênese e de sua telese, originadas de sua
teleologia. Admite-se, ainda, que na definição de uma organização, o ser humano
usa a reflexão para tomar decisão, significando isso que planeja e controla suas
ações, relacionando meios e fins. No planejamento decide pelo "sim ou não" na
previsão dos seus fins e meios, em conformidade com o diagnóstico e a previsão
de suas necessidades e no mapeamento de suas coações fixas. No controle decide
pelo "sim ou não" na manutenção ou nos reajustes dos meios e fins (assimilação,
alteração, substituição e/ou eliminação de componentes). Como se vê, a
organização de que se está tratando é inconstante, mas como o ser humano reflete
e decide sobre ela, ele dirige a sua evolução na transição para uma ordem mais
complexa até o limite de sua saturação, pela ação dirigida a fins e controlada pelo
êxito, através da ciência e da técnica, segundo a lei de Arnold Gehlen, citada no
item anterior, a qual Habermas (1968) acrescenta: com um comportamento
adaptativo. A este comportamento é preciso aditar o termo "transformador" que
parece apropriado ao contexto. Em resumo: o ser humano evolui, adaptando-se
e/ou promovendo transformações autonomamente, por sua reflexão e decisão,
assumindo patamares cada vez mais complexos, nos quais a definição dos fins e a
adequação dos meios a estes fins sofrem a coação de uma gama de fatores
heterônomos. A grandeza de sua capacidade para dirigir a sua evolução é indicada
pela neguentropia.
124

O diagrama da Figura 1 procura visualizar essa evolução


dirigida.

Figura 1. Diagrama da evolução dirigida

CONTROLA <-----| CONTROLA <--|


| | | |
PLANEJA____|_____>REALIZA PLANEJA ____|____>REALIZA PLANEJA
| ^ | ^
| | | |
v | v |
REFLETE E DECIDE-----------> REFLETE E DECIDE------->
T1 T2 Tn
A evolução do tempo T1 para o tempo T2 e deste para os
seguintes Tn parte da reflexão e da decisão do tempo no presente e segue para o
planejamento das ações para o tempo futuro. Caso não ocorra essa progressão
estará desenhada a circularidade da organização, denunciando inércia e
estabilidade, consequentemente previsibilidade com probabilidade máxima, ou
seja, a interrupção da evolução dirigida.
Para se compreender a interrupção da evolução dirigida, nessas
circunstâncias, além de se recorrer ao conceito de entropia do capítulo IV, é
preciso admitir a teoria das probabilidades de Gibbs, em que ele sustenta que não
são mais defensáveis os postulados deterministas, substituídos que foram, na
ciência contemporânea, pelos probabilísticos, em que as respostas que possam vir
a ser dadas acerca de um grupo de mundos são prováveis em meio a um grupo
maior de mundos. Acrescenta, ainda, que as probabilidades tendem, naturalmente,
a aumentar conforme o universo envelheça, sendo a medida de tal aumento a
entropia. Esta teoria reflete em Wiener: "Conforme aumenta a entropia, o
universo, e todos os sistemas fechados do universo, tendem naturalmente a se
deteriorar e a perder nitidez, a passar de uma estado de mínima a outro de máxima
probabilidade; de um estado de organização e diferenciação, em que existem
125

formas e distinções, a um estado de caos e mesmice. No universo de Gibbs, a


ordem é o menos provável e o caos o mais provável" (Wiener, 1970,p.28 e ss.). A
entropia, identificada como a máxima probabilidade, é, portanto, a medida da
desorganização e ela pode ser minimizada ou vencida pela retroinformação,
segundo o referido autor.
Com isso, à evolução dirigida de uma organização sociocultural
há que se parear a evolução natural. Se a primeira é conseqüência da reflexão e da
decisão do ser humano à vista de uma teleologia assumida e leva à organização, a
segunda é tendência natural para a desorganização, para a morte térmica do
universo, segundo Lord Kelvin. No mundo objetivo sociocultural há um imenso
gládio entre elas, a partir do momento em que os sistemas se isolam, deixando de
se alimentarem de fluxos externos.

3. A TOTALIDADE DIALÉTICA
Embora sejam utilizadas isomorfias homólogas e análogas, não
se buscará os pressupostos básicos para este constructo, por extrapolação
simplista, de outras teorias, como o fazem muitos estudiosos das ciências sociais
emergentes de paradigmas tradicionais que, ignorando MacIver (1942, p.20-1),
segundo o qual, a maioria dos padrões sociais é um produto complexo e
emergente de conseqüências tanto intencionais quanto não intencionais que parte
de diversas atividades dirigidas para finalidades menos latas e mais imediatas,
justificam a sobrevivência das estruturas sociais, como conseqüência de sua
disposição para atender às necessidades do sistema social maior. É uma questão de
serem necessárias ou rejeitadas, até a extinção, razão pela qual, cientistas há que,
em suas lucubrações, reduzem os sistemas socioculturais à condição de terem que
se acomodar à evolução geral na velocidade em que esta se dá, como se não
fossem eles próprios os geradores de si mesmos e das forças aceleradoras ou
desaceleradoras dessa velocidade. Simplesmente, eliminam seu potencial de
intervenção na realidade, isto é, sua autonomia em relação ao cenário em que se
compõem, eliminação que, se ocorrida, inviabilizaria a evolução humana.
126

Ao processo seletivo natural, mais próprio de organismos


vinculados a limitações físicas e orgânicas, Buckley contrapõe a tomada de
decisão como processo psicossocial que "conjunta acontecimentos ou condições
não relacionados, por meio da ação e da transação sociais, a fim de produzir a
estrutura sociocultural corrente" e conclui que, dessa maneira, "encara-se a tomada
de decisão como o modelo, no sistema sociocultural, do processo seletivo geral
que ocorre em todo sistema adaptativo, por cujo intermédio a variedade é
seletivamente organizada e utilizada para a auto-regulação e para a autodireção"
(Buckley, 1976, p.121-2), inclusive das pessoas, acrescente-se. Caracteriza-se a
autodireção, por sua vez, com o que Bertalanffy chama de a "teleologia dinâmica
dos processos", em que o comportamento real do sistema é função da previsão do
fim, pressupondo que a "futura meta já esteja presente no pensamento e dirija a
ação atual" (Bertalanffy, 1975, p.13), atuando como causa teleológica, embora não
rejeite a possibilidade de mudança de meta(s) por decisão do sujeito ou grupo
deles e admita que uma mesma meta possa ser alcançada por diferentes caminhos
e a partir de condições iniciais diferentes, o que nada mais é do que a
equifinalidade, à qual se acrescenta a multifinalidade, derivada da finalidade
básica. Hegel, anteriormente, já se referira à teleologia:

Donde se percibe una finalidad, se admite un intelecto como su autor; por lo


tanto se requiere para el fin, una verdadera y propia libre existencia del concepto. La
teleologia se contrapone, sobre todo, al mecanismo, donde la determinación, puesta en el
objeto, es essencialmente, como extrínseca, una determinación tal que en ella no se
manifiesta ninguna autodeterminación.
La oposición entre causae efficientes y causae finales, es decir entre las
causas que actúan meramente y la causas finales, se refiere a aquella diferencia, a la cual,
considerada en forma concreta, se reduce también la indagación acerca del problema de si
la esencia absoluta del mundo tenga que entenderse como un ciego mecanismo natural, o
bien como un intelecto que se determina según fines. La antinomia entre el fatalismo con su
determinismo, y la libertad, se refiere igualmente a la oposición del mecanismo y la
teleologia; (...) (Hegel, 1956, p.455).
127

A auto-regulação (autodireção, autogoverno, ou


autodeterminação) possibilitada pela retroalimentação, ou retroinformação,
positiva ou negativa e a reflexão, propulsora de processos cognitivos da tomada de
decisão, resulta, desta forma, em práxis criadora, no que reside a
indissociabilidade entre o subjetivo e o objetivo, o pensamento e a ação, a criação
e a realização, o planejado e o alcançado. Assim concebida a organização, é
pequena a iteratividade nos seus processos, o que torna as metas apenas muito
prováveis (e não certeza) como foram previstas. Neste caso, uma descrição
estática de seus processos estará bastante empobrecida para indicar com
apreciável fidedignidade as variáveis interagentes. As regulações autodirigidas
pela cibernética e dialética, ressalte-se, embora seja óbvio, dão-se tão somente nas
totalidades.
Em complementação, e até mesmo em substituição à descrição
estática pelos organogramas burocráticos, contrapõe-se a Dialética com as leis
estabelecidas por Hegel, aplicadas à Natureza e à história por Engels (1979, p.44)
e desenvolvidas pelos filósofos e cientistas sociais em sua concepção materialista
e transformadora, cuja metodologia dá a visão de organização permanentemente
em situação de transição de um conjunto de interatividade, de um estadofase para
o seguinte, isto é, em movimento, em processo autodirigido.
A transformação da quantidade em qualidade por acréscimos e
decréscimos, a primeira das leis da Dialética, demonstrada a cada passo "na
biologia, da mesma forma que na história da sociedade humana" (Engels, p.39) ao
lado da segunda delas - da interpenetração dos contrários, sobre a qual Leandro
Konder "nos lembra que tudo tem a ver com tudo (...) de modo que as coisas não
podem ser compreendidas isoladamente, uma por uma, sem levarmos em conta a
conexão que cada uma delas mantém com coisas diferentes"(Konder, 1985, p.58),
juntamente com a lei da negação da negação (a terceira), formando a clássica
síntese da tese e da antítese ou das contradições, caracterizam o aspecto dinâmico
da organização de um sistema sociocultural - a sua adaptação e a sua
transformação.
128

Como os sistemas socioculturais são causa e efeito da história, a


muitos dos estudos realizados sobre eles se aplicam as críticas que Gould faz aos
métodos científicos, constantes no capítulo I.
À uma sala de aula, quando se desenvolve o processo
ensino/aprendizagem, o professor e os alunos formando um binômio antitético (o
que sabe e os que não sabem), naquele espaço e em dado tempo, sob uma
totalidade sociocultural, aplicam-se as palavras de Kosik: "a compreensão
dialética da totalidade significa não só que as partes se encontram em relação de
interna interação e conexão entre si e com o todo, mas também que o todo não
pode ser petrificado na abstração situada por cima das partes, visto que o todo se
cria a si mesmo na interação das partes". Para que esse conceito de totalidade seja
bem entendido é preciso, mais uma vez, recorrer ao mesmo autor e ampliá-lo. "Na
realidade, totalidade não significa todos os fatos. Totalidade significa: realidade
como um todo estruturado, dialético, no qual ou do qual um fato qualquer (classe
de fatos, conjuntos de fatos) pode vir a ser racionalmente compreendido". Por uma
medida de cautela, quanto a eventuais reações dos igualitaristas contra a
hierarquização a que se recorrerá mais à frente para montar fórmulas de medidas
de organização, é bom ficar um pouco mais com Kosik. "A hierarquização da
realidade em função de um princípio não teológico só é possível com base nos
graus de complexidade das estruturas e das formas do movimento da realidade
mesma" afirma, esclarecendo que a concepção de tal hierarquização dos sistemas
se deve ao Iluminismo e a Hegel (1956, p,35-8, passim.).
Piaget, por sua vez, compondo-se com outros pensadores, na
teoria operatória da inteligência confirma a hierarquização ao escrever que "a
realidade psicológica consiste em sistemas operatórios de conjunto e não em
operações isoladas..." e que a seriação é a realidade primeira. Ao referir-se aos
principais agrupamentos, o primeiro deles, "formado pelas operações ditas lógicas,
isto é, por aquelas que partem dos elementos individuais, considerados como
constantes, e limitam-se a classificá-los, seriá-los etc.", subdivide-o, do que foram
retirados os seguintes itens:
129

1- o agrupamento pela classificação ou encaixamento


hierárquico das classes por equivalência; e 2- "o do agrupamento elementar que
põe em prática a operação, que consiste não mais em reunir entre si os indivíduos
considerados como equivalentes mas em ligar as relações assimétricas que
expressam suas diferenças. A reunião dessas diferenças supõe, então, por
conseqüência, uma seriação qualitativa" (Piaget, 1961, p.63 e 71). Em outras
palavras, a quantificação pelo encaixamento nas classes e a qualificação pelo
ordenamento das diferenças são simultâneas e reversíveis e formam os sistemas de
operações mentais de que este autor se valeu em experiências com alunos de
classes unidocentes, na década de 70 (Barbieri, 1971, p.70-90, passim).
Assim sendo, nas classes de aulas, enquanto totalidades
hierarquizadas, sempre existirão patamares em função dos critérios determinados
pela finalidade básica de cuja clareza depende a sua existência. É essa finalidade,
enfim, que reúne e ordena os componentes e as ações do processo sob as
condições espácio-temporais e de sua própria história. É a teleologia. No caso
presente, a finalidade básica é a escolarização e o processo é
ensino/aprendizagem. Num segundo plano de aprofundamento da
intencionalidade, os critérios que definem as estruturas e as funções nos
movimentos da organização professor/alunos são o conhecimento que se pretende
passar e os padrões da formação ou qualificação que se pretende realizar. Como,
em princípio, é o professor que detém o conhecimento e os padrões de formação
ou qualificação pretendidos, é ele que exerce o poder (a dominância) e o fará até o
momento em que os alunos a ele se nivelarem, quando, então, a hierarquia se
desfaz e com ela se esvai a organização do sistema. Esse fenômeno é a
padronização ou a manifestação da simetria de Hermann Weyl (1997) e a
convergência neguentrópica das ciências humanas conforme será demonstrado no
capítulo IV. É útil ressaltar para a melhor inteligibilidade que tal nivelamento
inclui as estruturas e o funcionamento dos processos da organização, uma vez que
estes existem em correspondência com as finalidades.
130

Seriam a generalização e a convergência neguentrópicas


fenômenos desejáveis, indiferentes ou indesejáveis à organização?
Esta resposta somente pode ser dada com maior grau de
credibilidade pelos componentes humanos do processo. Contudo, a título de
contribuição para fundamentar tal resposta, ousa-se liberar algumas ilações
intercaladas e reforçadas pelas idéias de alguns pensadores.
Para Engels a interpenetração dos contrários se dá na dicotomia
atração/repulsão - a forma fundamental de todo movimento (ou
aproximação/afastamento, contenção/expansão). Na aproximação pela atração a
organização adquire densidade e no afastamento pela repulsão perde densidade.
No entretanto, em dialética não se pode falar em equilíbrio final se não com o
conseqüente desaparecimento do movimento, em que "toda a atração se
transferisse definitivamente para uma parte da matéria e toda repulsão para outra
parte". Ao contrário, há um jogo alternante entre as partes opostas em que "a
separação e oposição de ambos os polos, só existe dentro de sua correspondência e
união (e inversamente, sua união é condicionada por sua separação, sua
correspondência, por sua oposição)". Mais adiante confirma: "Dois polos cujas
ações não se compensassem mútua e inteiramente, não seriam exatamente polos"
(Engels, 1979, p.42-7, passim.). Como se percebe, o equilíbrio aqui referido,
portanto, é provisório e instável, encontrado em um momento, em uma variável de
estado do movimento.
Contra-argumentariam alguns que, nessas citações, fica claro
que Engels se refere à dialética da natureza e somente pela isomorfia homóloga da
teoria geral dos sistemas de Bertalanffy e da analogia da paleontologia de Gould,
bem como pelo conceito da essência das ciências de Kosik pode-se aplicá-las às
organizações de sistemas socioculturais. Sim, admite-se a homologia, a analogia e
o conceito da essência das ciências, por isso procurar-se-á as generalizações em
cada um dos polos do processo ensino/aprendizagem e as convergências entre eles
para indicar-lhes as suas variáveis de estado, mas submeter-se-á à reflexão
coletiva dos componentes humanos esse novo pensar por homologias e analogias
131

na aplicação do princípio da coesão/dispersão ou atração/repulsão. A reflexão


torna-se, assim, indispensável para a consistência da totalidade, uma vez que
somente os envolvidos, como se disse antes, é que poderão responder se as
padronizações e as convergências indicadas, respectivamente, pelos coeficientes
de neguentropia e de convergência neguentrópica, são ou não desejáveis ou
indiferentes ao processo e até quanto e quando. A legitimação das isomorfias
estará, assim, conectada à reflexão coletiva do todo observado, subdividido ou não
em segmentos de menor abrangência.
Uma entidade, como todo estruturado, um sistema ou conjunto
sociocultural tem duas características básicas: suas partes são interagentes e para
serem interagentes precisam estar em interdependência (ou em conexão como
querem outros). Uma moeda, em sua especificidade física apresenta duas faces: a
cara e a coroa. Sem uma delas, deixa de ser moeda. Portanto, a cara e a coroa são
interdependentes para o objeto moeda. Mas isto não configura a organização de
um sistema sociocultural, pois suas duas faces não interagem. Um casamento, em
sua especificidade física (pela interdependência) exige, no geral, um homem e
uma mulher, mas a sua concreticidade como entidade sociocultural depende da
interação entre ambos, dado que o seu todo dialético forma-se na interpenetração
dos contrários (ou dos diferentes) que se realiza objetivamente na interação entre
suas partes. É uma síntese. Se assim é, os sistemas escolares públicos federal,
estaduais e municipais nos vários níveis de ensino, como se encontram hoje, não
se caracterizam como uma totalidade em toda a sua plenitude, senão em alguns
setores. São um aglomerado de sistemas menos abrangentes do que é sugerido
pelas suas estruturas legal-burocráticas. Esses sistemas menos abrangentes
estariam, possivelmente, nos órgãos regionais (intermediários) de ensino ou nas
unidades escolares que, também elas, só em dados setores, por sua vez, formam
por si mesmas uma totalidade. Nem por isso, no entretanto, os órgãos regionais de
ensino e as unidades escolares devem ser observadas como se não compusesse
cada uma delas uma totalidade. O problema está em que à complexidade de seus
movimentos deve-se juntar mais um elemento ordenador, que os divide em duas
132

categorias iniciais de movimento, as quais por serem iniciais têm um poder de


repercussão muito forte, que são: a)- a que advém do sistema escolar com uma
organização mais abrangente (nos setores em que suas atividades caracterizam
uma totalidade); e b)- a que se origina nos próprios órgãos regionais de ensino ou
unidades escolares com organizações menos abrangentes, independente da
primeira. A aceitação da imbricação dessas duas categorias remete à necessidade
de observações diferenciadas de tendências, ums da organização mais abrangente
e outras das menos abrangentes, se se pretender uma leitura mais clara da
realidade.
É preciso concordar com Chardin (1970), em sua cosmogênese,
quanto à "granulação" e à "personalização" que antecedem à "totalização" plena
do social, isto é, a formação de sistemas socioculturais. Sim, em ritmo cuja
velocidade irá aumentando em conformidade com os avanços de sua evolução, o
que hoje se classifica como aglomerado somativo, em dado momento poderá se
tornar um todo constitutivo. Aí, sim, poder-se-ia falar em uma organização geral
característica na referência a um dado sistema escolar. Este momento, porém, não
é agora, o que impele a estudos separados de suas organizações menos
abrangentes, embora já se tenha detectado, para certos setores, organizações mais
abrangentes, viabilizadas pelos modernos meios de comunicação e pela
informática. Percebe-se neste pensamento que não há alusão à proximidade
geográfica das partes como condição sine qua non para a constituição da
totalidade, pois, para esta concepção teórica, a maior ou menor proximidade não
impede a manifestação do princípio da continuidade, o que implica em afirmar
que mesmo cada unidade escolar pode não se compor em uma totalidade, se
houver ausência dos fatores principais para a sua organização - as contradições, na
interdependência interativa das partes.
Um outro pressuposto para o qual se faz necessária alguma
atenção é o enfoque teórico como são tratadas as dimensões quantitativas e
qualitativas como se não pertencessem a uma mesma organização, em razão do
que os dados estatísticos são abominados pelos que, tratando de padrão de uma
133

dada organização, acreditam estar indicando o nível de sua qualidade em um


gradiente arbitrariamente determinado. Qualidade, no entendimento teórico mais
acurado de filósofos e cientistas, refere-se ao estado da organização e o nível de
seu padrão é determinado pelos componentes humanos e físicos, bem assim pela
matéria-prima sob as coações fixas do cenário em que se insere. Assim, em
conformidade com a velocidade de sua transformação, ela mudará de estado, o que
faz com que apresente uma nova qualidade (padrão), compatível com os
componentes e cenário desse novo estado, o que só é possível, segundo o
pensamento contemporâneo, por acréscimos ou decréscimos de quantidades, em
uma dada velocidade, de seus componentes. Com isso, após o desequilíbrio
próprio da transição, terá um novo ordenamento, agora inferior ou superior e
menos ou mais complexo pela assimilação, alteração, substituição e/ou eliminação
de componentes. Esse novo ordenamento supõe uma outra hierarquização,
traduzindo a reversibilidade da hierarquia, o que é confirmado por Piaget. Se uma
evolução de estado contraria o processo entrópico (nivelamento, desordenamento
etc.) até mesmo da energia gerada pela matéria bruta, na organização de sistemas
socioculturais, enquanto reflexivos, tal evolução pode ser estimulada e assim
minimizada ou revertida, a tendência entrópica, pelo processo decisório de que
estes são dotados. Com efeito, o desenvolvimento do processo decisório é o meio
pelo qual, o ser humano, em sociedade, ordena neguentropicamente, com muita
probabilidade de êxito, o seu futuro, orientando a sua evolução pela sua
capacidade de planejar e controlar. Para tanto, a Estatística é um valioso
instrumento científico a ser utilizado pela reflexão, porque possibilita o desenho
das perspectivas que se projetam, embora não possam ser interpretadas
mecanicamente como as referentes a um sistema fechado, imutável e
impermeável. Daí que, sem a leitura das tendências que os dados estatísticos
oferecem decorrentes de um tratamento inteligente, o desordenamento poderá
levar ao caos que, ainda que haja quem confirme como Prigogine (1988) a
presença no mesmo de "estruturas dissipadoras" da desordem e relate como Gleick
(1987) a existência de "atratores" que condicionam os seus aparentes movimentos
134

desordenados, são ainda muito recentes seus estudos para que possam ser
aproveitados na projeção do futuro, cuja complexidade, cada vez maior, expulsa
de seu campo o impulso instintivo, despreza os atos mecânicos e dá lugar à
retroinformação consciente para subsidiar a reflexão.

4. A TOMADA DE DECISÃO
Até este ponto fica evidente que na organização de um sistema
sociocultural:
a) a seleção natural de desbastamento de características e a
entropia nos sistemas abertos podem ser substituídas pela tomada de decisão,
quando necessário;
b) a tomada de decisão se dá pela reflexão sob coação de um
dado cenário e coerção de uma dada genealogia e de uma dada teleologia
subsidiadas pela retroinformação; e
c) a sua evolução dirigida não é efeito puro e simples de uma
causalidade determinista unidirecional, mas também do indeterminismo ou
probabilismo, admitido nestes, o acaso.
São três pressupostos que orientarão as inferências desta parte.
Um sistema sociocultural pode ter uma organização espontânea.
Quando, no entretanto, assume um formato para atender à uma burocracia
qualquer, como esta é entendida por Max Weber, a sua organização é
artificialmente elaborada, em razão do que apresenta uma certa rigidez estrutural.
Especifica-se como uma entidade jurídica e como tal apresenta um organograma
usualmente encontrado na literatura especializada com patamares hierárquicos
permanentes que, em verdade, não caracterizam o processo decisório. Este releva
as estruturas interacionais: o conjunto de interações que ocorre para se chegar ao
"sim ou não". A sua hierarquia, portanto, é temporária e reversível. Dura,
enquanto durarem as ações desencadeadas pela decisão tomada, pois a
135

concretização de uma outra decisão conduz a um novo organograma. Essas


configurações temporárias e reversíveis, independentes dos patamares
hierárquicos institucionais, são os organogramas interacionais, que, na prática,
substituem os burocráticos. Fica aceito, ainda, que a tomada de decisão implica a
assunção do poder existente em quaisquer sistemas socioculturais e que o poder é
exercido para que a transformação dos insumos, através de processos eficientes,
alcance eficazmente, sob certas condições, um determinado produto conforme os
objetivos previamente fixados como desdobramento e operacionalização da
multifinalidade dos sistemas. A exigência de eficiência e eficácia para que os
objetivos predeterminados sejam alcançados implica na existência de planos e
esquemas de controle para realizá-los, o que será desenvolvido no item seguinte.
O processo de tomada de decisão não existe apenas em sua
manifestação configurada num esquema de poder institucional. Ele também é
difuso. Uma professora, por exemplo, desempenhando o seu papel de docente,
enquanto planeja e controla o processo ensino/aprendizagem, ela decide sobre o
seu próprio trabalho e controla o seu desenvolvimento, o mesmo ocorrendo com
um artista que pinta um quadro ou um marceneiro que constrói um armário.
Nestes casos as decisões e o controle são autônomos em relação à parte dirigente
institucional, propriamente dita.
Apesar de sua disseminação, configurada ou difusa, tem
limitações impostas pelas coerções organizacionais. Para Barnard, que usa o termo
organização como sinônimo de sistema, existem, na teia de organizações formais
que se sobrepõem ou se encaixam no complexo de organizações informais, "uns
poucos fios de organização formal que são claramente dominantes, estando a eles
direta ou indiretamente ligadas e subordinadas todas as outras organizações
formais". São de dois tipos: as Igrejas e os Estados. A subordinação é direta
quando a organização superior prescreve as normas para a subordinada e é indireta
quando há permissão para a existência da subordinada sob certas condições. Na
subordinação direta ao Estado estão as repartições públicas e na indireta as
empresas privadas. "O efeito da subordinação de organizações é limitar seus
136

propósitos ou os caminhos pelos quais elas podem operar; e, às vezes, também


limitar o número, o caráter ou o ´status´ das pessoas que podem ´pertencer´ a elas.
É por essa razão que todas as organizações subordinadas podem ser consideradas
como incompletas e dependentes" (Barnard, 1979, p.113-4) e com seus
respectivos processos decisórios sendo limitados por patamares ou esferas
institucionais. No caso do Poder Público brasileiro: a federal, as estaduais e as
municipais. O risco está na sua centralização excessiva com as decisões sendo
tomadas na esfera federal, deixando umas poucas para as esferas estaduais e raras
para as municipais, o que torna menor, ou quase nulo, o potencial de adaptação à
realidade para transformá-la. É o desenho de um sistema autoritário, bastante
propenso à entropia.
Além da subordinação às esferas institucionais oficiais há os
níveis definidos pelo critério espacial: central, regional e local que apresentam ou
não uma correspondência com aquela, uma vez que também existem nas entidades
jurídicas privadas que se distribuem por um território.
Uma terceira limitação é a imposta pela categorização dos
órgãos de governo em legislativo, executivo e judicativo. O legislativo define as
diretrizes mais amplas e a estrutura legal, possibilitando a participação direta ou
delegada das pessoas. Eventualmente assume as prerrogativas de órgão normativo
para complementar a legislação superior e adequá-la à realidade. O executivo
incumbe-se da realização de obras, prestação de serviços e implementação de
políticas com muito condicionamento do órgão legislativo, ao passo que o
judicativo resolve os conflitos e as pendências que se dão no interior dos órgãos
ou entre si, valendo-se, inclusive, de interpretações ocorridas em si mesmo e nos
outros dois. Também esta entre as atribuições do judicativo zelar pelo
cumprimento da estrutura normativa legal. Nos mais complexos, uma outra
categoria de órgãos: os de assessoramento que dificilmente são encontrados,
configuradamente, em sistemas mais simples. Tais órgãos produzem, quando
necessário, subsídios aos demais para uma decisão eficiente e eficaz. São
137

consultivos na essência e, no geral, subdividem-se para atender à especialização


das atividades.
A importância de cada um tem uma oscilação alternante bastante
acentuada. A do assessoramento, por exemplo, cresce na proporção direta da
desvalorização do legislativo, no autoritarismo, ocorrendo o contrário na
democracia. O autoritarismo faz da finalidade de seus dirigentes, a teleologia da
entidade dirigida e, consequentemente, tem que implantar um esquema repressivo
pois, naturalmente, o sistema sociocultural procurará desviar-se dos rumos que ele
não traçou e por isso não os busca. Por outro lado, com o processo decisório sendo
exercido democraticamente há uma maior participação dos componentes que
possibilita informações sobre outros processos em desenvolvimento, já com as
finalidades do sistema adaptadas pela população a si mesma, o que dá mais
liberdade de curso à genealogia e à teleologia, valorizando o legislativo. Tenderá,
com isso, a diminuir a necessidade de repressão e aumentará a livre circulação de
idéias como insumo para a sua sobrevivência. A retroinformação positiva, com
isso, supera a negativa.
A tomada de decisão precisa estar o mais próxima possível das
bases da realização porque a organização de um sistema sociocultural, enquanto
democrático, jamais permanece em sua forma original. É morfogênica. Na busca
do cumprimento de suas finalidades o sistema promove, em si mesmo, o
surgimento de novas formas determinadas ora por seu próprio meio interno na
medida em que aumenta o número de seus componentes, a sua população, ora pelo
seu meio externo que oferece resistência à sua adaptação e às transformações que
propõe. Sem a morfogenia de sua organização, o sistema se isola e se torna
autoritário, o que o aproxima da inoperância, portanto, do desaparecimento. As
novas formas, contudo, obviamente, atendem ao genoma do sistema.
Sob o ponto de vista da teoria da comunicação, o processo
decisório estará democratizado em seu grau máximo, se a valência
comunicacional, como medida de intensidade de comunicação entre pessoas, for
simétrica. Nas trocas dissimétricas, em que uma ou algumas pessoas emitem mais
138

mensagens do que recebem, há o surgimento do par antitético senhor/escravo. As


relações numa hierarquização fixa são, em sua maioria, dissimétricas, e por isso
suas estruturas tendem a conservar a situação de dominação existente (Moles,
1973).
É equivocada a referência à pessoas autoritárias ou democráticas
na direção de um dado sistema. O que existe são sistemas com organização
democrática ou autoritária, os quais rejeitam dirigentes que não se adequam ao seu
regime de funcionamento. Até pode ocorrer que, em situação de emergência, um
sistema democrático se torne autoritário e admita uma direção sem uma maior
participação de sua população. Desaparecida, porém, a situação de exceção, volta
à sua normalidade democrática. Outro equívoco é a identificação de hierarquia
com dominação. Todo e qualquer sistema sociocultural tem uma hierarquia. Esta,
porém, obrigatoriamente, não é fixa, sob pena de sua própria imobilização. Num
sistema democrático variará conforme as necessidades, tendo em vista a
transitoriedade de situações. É contingencial. Precisa existir sim, mas não com a
mesma configuração permanente e com sua linha de poder sendo ocupada pelas
mesmas pessoas indiferentes às transformações internas e externas. Uma
hierarquia que não se confunda com o organograma burocrático das entidades
jurídicas embasado na divisão do trabalho e na verticalidade das competências,
mas que possa ser configurada em um organograma interacional, inconstante,
portanto. Nessa descrição se enquadra a "ad-hocracia" de Alvin Toffler (1972,
p.42-47, passim) que é um grupo de trabalho para uma determinada tarefa, onde as
pessoas se organizam conforme essa tarefa. Exemplificam-na a organização por
objetivos e, mais recentemente, a organização matricial que a literatura
especializada teima em continuar chamando de administração. É certo, contudo,
que uma entidade jurídica, mais complexa que um grupo de trabalho, tem uma
burocracia que define uma hierarquia fixa, embora seja essa violentada pelas
interações dos sujeitos. Nesse caso, o mais conveniente é o rodízio de sujeitos nos
diferentes patamares dessa linha com o cuidado de a escolha recair nos mais
competentes para a consecução das finalidades numa dada situação contingencial
139

que está a exigir adaptação e/ou transformação. Por outro lado, não há como não
admitir que o processo de tomada de decisão seja exercido em conjunto, em
reflexão coletiva, ficando para a realização o respeito à linha da hierarquia. Isto
não implica em que uma vez assumida uma decisão, está eliminada a necessidade
de novas decisões durante o curso das ações deflagradas. Na realidade, há uma
sequência binária se aprofundando em cadeia de decisões probabilísticas, na qual,
em cada nó dessa rede haverá necessidade de nova opção pelo "sim ou não" (um
bit) por uma das alternativas que se apresentam como o caminho para se
concretizar o propósito, em prejuízo das demais. A Figura 2 procura retratar
graficamente tais assertivas.
Figura 2. A cadeia de decisões probabilísticas binárias

________ ________ _________


|SIM A´1| /-->|SIM A"1| /->|SIM A"'1 |
> |NÃO | / |NÃO | / |NÃO | ...
/ / /
/ / /
/ ________ / ________ / _________
/ |SIM A´2|_ _ _ _ _ _>|SIM A"2| / ->|SIM A"'2 |
/ >|NÃO |\ |NÃO | / / |NÃO | ...
__/___ / \ \ / / /
| |/ \ \ / /
A1 \ _________ \ \ ________ / / _________
|______| >|SIM A´3| \ \__>|SIM A"3|/_ _ _ _ _ >|SIM A"'3 |
\ |NÃO | \ |NÃO |\ |NÃO | ...
\ \ \
\ ... \ ... \
\ ________ \ ________ \ _________
>|SIM A´n| \___>|SIM A"n| \->|SIM A"'n |
|NÃO | |NÃO | |NÃO | ...
T1 T2 T3 Tn

O ponto inicial A é uma abstração, porque uma decisão será


sempre parte de uma seqüência. Após a posição de A surgem as alternativas
A´1,2,3,..., An. A opção pelo "sim" em uma delas elimina não apenas o seu "não"
correspondente, mas também todos os demais "sim". Se no tempo T1 for
escolhida a A´2, como no exemplo da figura, as demais deixam de existir e a
cadeia ressurge dessa alternativa, no tempo T2, agora com alternativas
140

A"1,2,3,...,An e assim por diante, até que sejam atingidas as metas buscadas. Está
implícito que tais alternativas foram postas aos dirigentes do sistema por canais de
retroinformação para a indispensável reflexão coletiva. Nelas se aplicam, em cada
nível, a disparidade seguida de dizimação de alternativas, dada por Gould como
uma das propriedades dos sistemas e o desbastamento do processo decisório pela
seleção artificial praticada pelo homem em seu próprio proveito, como o afirma
Darwin (s.d., p.73) .
A tomada de decisão subsidiada pela retroinformação e
elaborada pela reflexão leva ao planejamento e ao controle das ações conscientes
de uma organização sociocultural.

5. O PLANEJAMENTO E O CONTROLE
Sob as condicionantes da gênese e da telese, o planejamento e o
controle conseqüência da decisão pela reflexão, dirigem a evolução humana. Nesta
parte, planejamento e controle, como atividades inerentes às ações humanas
conscientes, serão especificados na organização de uma entidade sociocultural
jurídica subordinada a macrossistemas que lhes dão normas e condições, com
burocracia e formato impostos de fora para dentro. Portanto, não se tratará do
planejamento e controle difusos, mas dos configurados.

5.1. O Planejamento
Planejamento é o processo de planejar ou planificar tendo em
vista as coerções internas e externas, as coações do meio-ambiente físico e social,
bem assim a multifinalidade da entidade jurídica onde será inserido. As coerções
internas envolvem as estruturas física, normativa, financeira e, sobretudo, a
interacional com seus valores éticos. As externas são coerções impostas pelas
demais entidades em relação metassistêmica e as coações advém de seu meio-
ambiente, lembrando que é ela que cria esse meio-ambiente a partir do momento
em que marca a sua existência para atingir os fins a que se propõe.
141

Os objetivos postos em plano são a operacionalização da


teleologia. As metas são tais objetivos em etapas para serem vencidas. Projetos
são planificações de metas específicas e podem ser subdivididos em subprojetos.
Os planos são autônomos (auto = por si próprio, de si mesmo
mais nomos - normas) ou heterônomos (hetero = outro, diferente, externo mais
nomos).
Nos autônomos a sua elaboração é realizada internamente no
nível da sua operacionalização, com a participação parcial ou total dos agentes
humanos. São elaborados próximos ao desenrolar dos processos e afetam o grau
de heteronomia das decisões tomadas pelos órgãos centrais. Sofrem constantes
acréscimos, alterações, substituições e/ou eliminações na previsão dos seus meios
e fins, pelo contato íntimo com as coerções e coações que lhe são próprias.
Heterônomos são os planos elaborados externamente ao nível
da operacionalização. São distantes ao desenrolar dos processos e afetam o grau
de autonomia das decisões com origem em órgãos locais. Acréscimos, alterações,
substituições e/ou eliminações na previsão de meios e fins são muito dificilmente
propostos, dada a distância que guardam do meio-ambiente. Por isso não devem
conter mais do que diretrizes gerais.
Os planos autônomos e heterônomos convivem na organização
de uma mesma entidade, em razão do que são conflitantes. É uma questão de
método dialético encontrar o ponto ótimo de suas respectivas amplitudes para que
se dêem os movimentos planejados. Prevêem canais de retroinformação com
variedade ampla, mas não muito longos, para minimizar a interferência de ruídos,
sob pena de se tornarem entrópicos.
A organização de uma entidade jurídica, com uma complexidade
mais ou menos desenvolvida e/ou com distribuição de seus componentes por um
espaço mais ou menos extenso, apresenta-se com três níveis. O central da cúpula
dirigente, o nível local, no qual se dá a realização e o intermediário que faz a
conexão entre ambos. No mais das vezes os níveis central e intermediário contam
com assessoria de planejamento e controle. O intermediário pode se subdividir em
142

patamares. Com esses patamares o esqueleto burocrático é desenhado, pelo qual


passam o processo decisório, bem assim o plano em que as diretrizes gerais,
priorizadas no órgão central, elaboradas ou não pela assessoria, mas, de qualquer
forma, submetidas à decisão dos dirigentes do órgão central, são encaminhadas ao
órgão intermediário que têm alguma autonomia para interpretá-las no sentido de
engendrar planos com dois diferentes conteúdos: um para o seu uso interno no que
for pertinente e o outro para seguir linha abaixo da hierarquia burocrática até o
órgão local. Assim, no órgão local, no caso do sistema escolar - a escola, há uma
superposição de planos: do órgão central e do intermediário. Sob essa heteronomia
e as condições contingenciais, o órgão local elabora o seu próprio que também, no
mais das vezes, vai entrar em conflito com aqueles.
Com essa superposição, o planejamento passa por três níveis de
decisão e remete à necessidade de se considerar a cadeia de decisões
probabilísticas que atende, em seu desenrolar, à teleologia com seu modelo de
equifinalidade e não o da causalidade clássica das ciências naturais. Com a
equifinalidade há maiores dificuldades na previsão de estratégias para a
consecução das diretrizes. Ademais, como em cada nível se constitui uma sub-
organização, os objetivos que consubstanciam as diretrizes podem se chocar com
os objetivos derivados descritos por Cyert e March, citados por Perrow (1981,
p167 e ss) assumidos em cada um deles. A minudência com que as ações dos
planos que vêm de cima são tratadas é a definição de seu grau de centralização,
pois, no direcionamento das ações para o nível hierárquico inferior, os
componentes do nível intermediário além de serem considerados como
comutadores de planos exercendo as funções de transferência de informações,
também eles elaboram os seus. A participação, todavia, é possibilitada pelo
trânsito bidirecional com reajustes praticados nos planos originais, ou seja, o
plano do nível central é reajustado no intermediário e este retorna o plano
reajustado para o central que aprovaria total ou parcialmente os acréscimos,
alterações, substituições e/ou eliminações. O mesmo se daria do nível local para o
intermediário. Demanda mais tempo? Sim, bem mais do que o planejamento
143

absolutamente centralizado. No entretanto, estará garantida boa parte de sua


exeqüibilidade e possibilitado um envolvimento maior de sua população. A
bidirecionalidade, graficamente, está representada na Figura 3.

Fiigura 3. A bidirecionalidade de um planejamento

______________
| |
R _____> NÍVEL CENTRAL -----------> R
E ^ | |<-------^ | E
A | | (ASSESSORIA) | | | T
J | R | | | R
U | | | | | O
S | ____V___V_____ | | I
T |<_____| NÍVEL |------->| | N
A INTERMEDIÁRIO <-------|--| F
M _____>| | | | O
E ^ | (ASSESSORIA) | | | R
N | R | | M
T | | | | | A
O | ____V___V____ | | Ç
S | | |-------->| | Ã
|<_____ NÍVEL LOCAL <-----------v O

No centro da figura, as linhas à esquerda, indicam o envio dos


planos em sua forma original de um nível para outro de cima para baixo. As
mesmas linhas retornam no lado esquerdo da figura com sugestões de reajustes de
baixo para cima. As linhas à direita no centro da figura, indicam o reenvio dos
planos, reajustados ou não. No lado direito da figura, as linhas de retroinformação
bidirecionais. A interna que alimenta o nível central quanto às adequações e
144

inadequações dos planos na aplicação nos demais níveis e a externa que alimenta
estes quanto à manutenção ou reajustes de ações. A retroinformação, como se verá
no capítulo seguinte, contém duas funções: uma estimuladora (positiva) e outra
inibidora (negativa) conforme devam os desvios serem mantidos ou impedidos e
os reajustes promovidos ou não. As assessorias estão ligadas aos níveis central e
intermediário porque incumbe a elas apenas sugerirem ou subsidiarem sem
decidirem sobre a manutenção do plano ou de seus reajustes, o que é feito no nível
local pelos próprios componentes.
É preciso ter presente que um plano é apenas a ação intentada e
que só no nível operacional se dá a ação realizada. Entre ambas há uma
defasagem, uma discrepância, que precisa ser avaliada para servir de insumo para
reajustes nos processos presentes e para futuros planos. A mensagem da ação
intentada contém a primeira informação, a de entrada do sistema, cuja recepção
depende da interpretação do nível operacional. Não é recebida, portanto, no estado
em que é emitida. Do mesmo jeito, a informação de saída no nível operacional da
ação realizada não é recebida em seu inteiro teor e entendimento pelos órgãos
superiores: intermediário e central. Além do mais, na trajetória entre a emissão e a
recepção de informações, a entropia se fará sentir na perda de conteúdo, tanto
mais acentuadamente quanto maior for o tempo gasto e o espaço percorrido, bem
assim pelo aparecimento de ruídos tendo em vista a qualidade dos canais. Os
ruídos aqui ditos, não são apenas físicos. Derivam de fatores, segundo Berlo
(1960, p.44 e ss) que afetam os integrantes nos espaços dos três níveis, no
processo de tramitação do plano, os quais sejam:
a) a posição dos componentes humanos na escala hierárquica e
as suas próprias origens socioculturais com seus papéis sociais e suas ideologias;
b) as habilidades de comunicação com clareza e coerência na
redação do texto;
c) as atitudes favoráveis ou desfavoráveis dos elaboradores para
consigo mesmo, para com os receptores e para com o próprio plano; e
d) o nível de conhecimento do que se planeja e como se planeja.
145

Em contrapartida, se os planos forem elaborados


descentralizadamente com a participação maior possível dos integrantes humanos,
o seu entendimento será favorecido, os ruidos serão minimizados e é atendida a lei
da variedade requerida de Ashby, pela qual o número distinguíveis de
componentes do plano é o mesmo para todos de cada nível, ou seja, os integrantes
dos respectivos níveis têm a mesma capacidade para entender consensualmente os
planos e para reconhecer a necessidade ou não de reajustes, uma vez que
distinguem o mesmo número de componentes.
A recepção desfavorável de planos que se configura pelas
reclamações contra as mudanças por eles intentadas se, por um lado, é indicativa
de que a entidade está em estabilidade, fragmentada, portanto isolada, por outro,
pode denotar vida, organização e diferenciação nas suas estruturas porque não foi
dada a resposta mais provável que seria de aceitação. Ao contrário, houve
demonstração de que os planos estão sendo sentidos e percebidos pela sua
totalidade. Não houve passividade frente às propostas, mas pode ter havido falta
de entendimento dos verdadeiros propósitos ou uma natural repulsa pela alienação
provocada pela separação entre o trabalho intelectual na elaboração dos mesmos e
o da realização. Estes dois últimos fatores são minimizados com um trabalho
participativo viabilizado pela descentralização ou, em menor extensão, pela
bidirecionalidade da retroinformação. Isso aumentaria a interdependência,
potencializaria a interação, tornaria as ações intentadas suscetíveis de realização
na velocidade conveniente. Na verdade, a participação traz em si mesma a
reciprocidade de informações, o que dificulta a alienação e fortalece a
retroinformação para a reflexão e conseqüente tomada de decisão. Nessa situação,
o estado de máxima probabilidade da teoria de Gibbs seria de nula ocorrência
porque um sistema cooperativo é de difícil envelhecimento, o que é explicável
pelo aumento dos canais de comunicação e pela diminuição de seus
comprimentos. Com isso, as correntes de retroinformação, estimuladora ou
inibidora, na manutenção de seu estado, mas, sobretudo nas adaptações e/ou
transformações, tornam-se mais ágeis e impedem que as mensagens se dissolvam
146

no impacto com a quantidade de outras que não lhe dizem respeito. Enfim, a
participação afasta a entropia e aproxima os procedimentos de planejamento e de
realização, ou seja, da neguentropia. Basta para tanto a definição de linhas de
retroinformação entre ambos em dois momentos: a) pelo microcontrole, durante o
processo para garantir as organizações da entidade coerentemente com as suas
finalidades, com eficiência; e b) pelo macrocontrole após o processo para avaliar
a eficácia do produto. No caso das entidades menores essas correntes de
informação se dão naturalmente sem necessidade de intermediação, mas nas
sistemas maiores, necessariamente, haverá um esquema de micro e
macrocontroles internos e de metacontrole na conexão com os demais de seu
universo particular.
Na elaboração de planos, o diagnóstico da realidade e a previsão
dos fins são simultâneos devendo trazer, no mínimo, dados sobre:
- objetivos: originados das finalidades precisam de um
delineamento em bases exeqüíveis com metas e, se for o caso, com etapas, tendo
em vista a disponibilidade de espaços, tempo e recursos; juntamente com as
condições de realização fundamentam o gradiente da restrição pelo qual a
eficiência e a eficácia do processo são avaliadas;
- elementos espaciais: caracterização da área de abrangência que
se pretende atingir e descrição dos locais para as diferentes atividades
especializadas ou não;
- elementos temporais: elaboração de cronograma das atividades,
inclusive, se for o caso, para as etapas;
- recursos humanos: alocação dos necessários para as diferentes
atividades, relevando as qualificações técnicas exigidas; em caso de estrutura
matricial, definir as relações e as recorrências a órgãos técnicos;
- recursos materiais: definição em função dos elementos
espaciais e temporais, dos recursos humanos e dos prédios, mobiliários, máquinas,
veículos, papéis etc.;
147

-recursos financeiros: destinação para remuneração do trabalho


dos recursos humanos, aquisição e manutenção de materiais e para comunicação e
transporte para cobrir os elementos espaciais; nestes se incluem, ainda, as
necessidades de construção, locação, reforma, manutenção de prédios e aquisição
de áreas geográficas;
- definição do organograma interacional: as qualificações e as
interações devem definir o organograma, e não os cargos e repartições existentes,
caso o permita a estrutura burocrática; fotografa apenas um momento da
organização; ademais, o fluxograma da matéria em elaboração pelos subprocessos,
com base nas estratégias de realização, poderá exigir um organograma para cada
um dos subprocessos;
- distribuição de competências e atribuições: a distribuição em
conformidade com o seu organograma e as estratégias de realização configura o
processo decisório da ação intentada, entendida competência como a detenção do
poder de decidir sobre o que fazer e normatizar e atribuição como o dever de
cumprir o que está planejado;
- esquema de controle: montagem de linhas internas de
comunicação para o trânsito da retroinformação de micro e macrocontrole para
avaliar, respectivamente, o desenrolar do processo e o seu produto final frente ao
gradiente da restrição, bem assim de linhas de reinformação para os reajustes
quando necessários com origem na reflexão; paralelamente fazem-se necessárias
as linhas externas para o metacontrole; e
- divulgação: significando que todos os participantes tenham
conhecimento do teor inicial do plano, de seus reajustes, dos resultados parciais e
finais, bem como para oferecer informações para que a entidade tenha consciência
e ciência de si mesma, tornando-se, assim, transparente.
A simultaneidade do diagnóstico da realidade e da previsão dos
fins não impede que o conjunto desses dados possa ser visto em duas partes: a
primeira antes dos objetivos e a outra após os mesmos, pois estes consideram as
disponibilidades de espaço, tempo e recursos. É a partir dos objetivos que se inicia
148

a parte dinâmica das atividades propriamente ditas. Em função dos objetivos, que
representam a operacionalização da multifinalidade, é montada a organização que
irá tentar alcançá-los, com observância das expectativas da comunidade e dos
recursos humanos do sistema, enfim, das condições contingênciais. É a
geneanomia a impor normas coerentes e a teleonomia a proclamar que a definição
dos objetivos, como operacionalização das finalidades, é a base para a organização
de um sistema e elaboração de seus planos. A identificação destes, todavia, não é
fácil como se verá nas taxionomias das organizações das entidades jurídicas.
Realmente, são muitos dados para uma ação planejada, mas
todos são importantes quer para as micros como para as macroorganizações.
Porém, as ações que serão desencadeadas pelas decisões são muito abrangentes e
com conseqüências muito importantes para que tudo não seja pensado antes da
deflagração do processo, ou seja "o pensamento total antes do fato", princípio
utilizado no lançamento dos foguetes espaciais.. E mais, os canais de
retroinformação devem ser ágeis o suficiente para detectarem, em tempo hábil, os
desvios das ações rumo aos objetivos ou a necessidade de reajustes em termos
quantitativos e qualitativos, mormente em tempos de mudanças no meio-
ambiente. O mesmo se aplica aos canais de reinformação ou reenvio de planos.

5.2. O Controle
O controle se manifesta no exercício da retroinformação da
organização de sistemas com natureza cibernético-dialética, oferecendo subsídios
à reflexão para que as decisões sejam tomadas com adequação dos meios para que
os fins sejam alcançados com um mínimo de discrepância entre o planejado e o
realizado, em situações de preservação, adaptação e/ou transformação de seu
estado característico.
O controle na organização de sistemas de natureza cibernético-
dialéticas, entendido como retroinformação, não tem suas competências e
atribuições atreladas àquelas da realização, caso em que adquire um sentido
policial e judicativo, seja de um casal ou grupo de pessoas, seja de uma escola ou
149

de uma nação. O controle moderno, tem o sentido de assegurar à organização


condições necessárias e suficientes para que o sistema:
a) tenha consciência de si mesmo, i.é, do que ocorre na
interdependência e interação de seus componentes;

b) tenha sensibilidade (ciência) para interagir com seu meio-


ambiente e reagir às intervenções deste, favorável ou desfavoravelmente, bem
como, e principalmente, intervir no mesmo para provocar-lhe alterações que
julgue vantajosas;
c) mantenha a sua unidade até os limites da descentralização
máxima possível na continuidade dos seus subprocessos;
d) capture informações para que, na reflexão, preferencialmente
coletiva, a busca de decisões resulte na elaboração e/ou reelaboração de planos
realísticos condicionados às suas finalidades que podem sofrer acréscimos,
alterações, substituições e/ou eliminações; e
e) seja adaptativo e/ou transformador, sofrendo e provocando
mudanças em seus diferentes patamares hierárquicos sob as coerções de seus
meios interno e externo impostas pelas outras organizações com que se relaciona,
como integrante de metassistemas.
f) possa superar as coações fixas do meio-ambiente físico e
social ou com elas conviver.
Ademais, o controle se manifesta onde e quando houver uma
ação planejada, portanto pensada pelas pessoas envolvidas no processo
diretamente ou por representação, que deflagre ações subsequentes na realização
do pretendido, diferentes da ação instintiva, natural e determinada, que é cega. As
ações planejadas se dão numa situação contingencial em que o controle se faz
necessário na orientação e direção do processo e seus subprocessos para as
finalidades, com suas condições e objetivos. É óbvio que, formando o
planejamento e o controle um binômio indissociável, é indispensável a existência
de planos, codificados em linguagem escrita ou oral ou, no mínimo, representados
mentalmente.
150

Na organização de um todo sociocultural, decisões são tomadas


no momento do planejamento, pois o ser humano pensa por projetos e ordena
esses projetos em planos escritos ou não. "No pensamento científico, a meditação
do objeto por parte do sujeito assume sempre a forma de projeto", afirma
Bachelard (1986, p.15), autor em que se pode buscar reforço para estender os
"esquemas antecipadores" de Jean Piaget (1961) a todas as situações de reflexão.
São os planos, resultado desse comportamento reflexivo, que servirão de base para
o processo de realização. O nível de realização, com maior ou menor autonomia,
mas sempre com alguma, e com bastante heteronomia, também planeja, portanto
aí também se repete o controle.
No exercício eficiente e eficaz do controle retroinformativo, este
é subdividido, não pelo critério de especialização de competências e atribuições,
tão a gosto da burocracia em obediência ao princípio da proliferação, e sim por
exigência da estrutura do todo, da interdependência e interação de seu meio
interno e desse com os demais todos que, na sua expressão metassistêmica, chega
ao Universo.
Com a aceitação do princípio da indissociabilidade do binômio
planejamento/controle podem ser delineados três níveis de controle de ações
planejadas.
I- O microcontrole que ocorre durante a seqüência de
subprocessos da realização ou operacionalização do insumo e da preservação da
natureza do sistema. Efetua-se pelas decisões na adoção, implementação e
reajustes de estratégias para a consecução dos planos. É aí que se localiza o
conflito entre a autonomia e a heteronomia subjacentes aos planos. Planos
heterônomos muito minudenciados resultam em dificuldades bastante fortes para
o microcontrole promover a adaptação do sistema às contingências das situações e
implementar as transformações necessárias. Em contrapartida, planos autônomos
muito abertos prejudicam a unidade da organização e conduzem os sistemas a uma
segmentação exagerada que pode vir a se transformar em segregação.
151

II- O macrocontrole, que se dá ao final do processo total de


realização, captura informações sobre os efeitos das estratégias adotadas pelo
microcontrole, cotejando o previsto com o conseguido para dimensionar a
discrepância entre ambos que servirá como informação para a parte dirigente
refletir, coletivamente, sobre os reajustes a serem feitos nas estruturas que definem
a organização do sistema, na eliminação ou estimulação dos desvios ocorridos,
visando a eficiência (quanto à economia interna) e a eficácia (quanto à
minimização da discrepância). Tais informações são utilizadas, ainda, na
priorização das diretrizes dos novos planos, com seus programas e projetos.
III- O metacontrole decorre da aceitação de que cada sistema
interage com um número muito grande de outros em interdependência. Tal
interdependência interativa entre sistemas tem como conseqüência a formação de
um metassistema, que está além de todos os seus componentes. A extensão do
metassistema é arbitrariamente delimitada pelo observador em função do grau das
coerções que impõe aos seus componentes, no caso os sistemas. Assim, nos
limites arbitrários de um metassistema, se o sistema A apresentar, em sua
evolução, uma variedade de pontos em correspondência biunívoca com os pontos
dos demais sistemas B, havendo proliferação de outros pontos nestes últimos no
campo comum das relações, a interdependência e a interação exigirão a criação no
sistema A desses pontos ou o esforço do mesmo para trazer aqueles dos sistemas
B para a direção de sua evolução. Esta ocorrência é a manifestação do
metacontrole. Como a referência está no nível de metassistema, a recíproca
também é verdadeira: se o sistema A criar uma nova variedade, leva o
metassistema ao desequilíbrio e este, buscando a reequilibração entre seus
componentes, procura levar os demais a corresponderem com a nova variedade.
Na transição de um estado para outro, em razão das resistências à novidade
originadas na inércia, há oscilações que podem implodir o metassistema, do que
decorre a necessidade do metacontrole para proceder às regulações. O
metacontrole, portanto, preocupa-se em estabelecer um equilíbrio, instável que
seja, entre a variedade dos movimentos de evolução dos sistemas em relação e diz
152

respeito à adequação do produto ao meio, à vista do que exige informações


provindas de um acompanhamento pós-produção.
O metassistema e o metacontrole estão detalhados no capítulo V,
em que é descrita a relação entre o sistema escolar e o sistema social compondo o
que se convencionou chamar de metassistema socioescolar.
A respeito dos níveis de controle é conveniente salientar dois
pontos:
a) os três níveis de controle são retroinformativos, ou seja,
funcionam como "feedbacks" (retroalimentação, retroação), enquanto observado
sob a ótica da circuito cibernético de N.Wiener (1970 b), cuja descrição pode ser
vista no capítulo III; e
b) não há correlação de micro, macro e metacontroles com
micro, macro e metassistemas; fisicamente, estes referem-se aos seus tamanhos, a
sua menor ou maior multiplicidade de componentes, enquanto os primeiros dizem
respeito aos movimentos dos processos de realização.
Surge, então, a questão do que trata o presente estudo: do
sistema escolar ou do metassistema socioescolar?
Por uma metodologia que contempla a muldisciplinaridade,
consequentemente, isomórfica e holística, busca a formulação de uma teoria das
organizações e de medidas dessas mesma no sistema escolar em sua consistência
interna e em sua interface com o sistema social maior, não se estendendo, porém,
à pós-produção. Em sua consistência interna procura dimensionar a interação entre
seus componentes e sua ação sobre os mesmos, além de tentar diagnosticar sobre
sua evolução ou involução. Na interface propõe medidas para o pareamento entre
a Variedade Requerida (VR) pelo social e a Variedade Adquirida (VA) pelo
escolar, cujo resultado último é o equilíbrio do metassistema socioescolar. A
precariedade desse equilíbrio, descontando a sua instabilidade inerente a sua
condição de sociocultural, é reportada ao sistema escolar, pois incumbe a esse
cumprir a sua finalidade mais ampla: a escolarização da população escolarizável
na velocidade adequada. Não ocorrendo tal, diz-se que lhe falta organização para
153

corresponder à VR, sem, no entanto, desprezar os fatores interferentes do seu


meio-ambiente. Disso decorre que os enfoques conceituais, os comentários e/ou
análises, as perguntas e/ou temas para reflexão limitam-se ao estado de
organização em que se encontra o sistema escolar dentro do seu próprio
metassistema socioescolar, ou seja, o grau em que as variáveis de sua trajetória
correspondem, biunivocamente, com as variáveis da trajetória do sistema social,
sem incluir as informações da pós-produção, embora pudesse fazê-lo pelo
metacontrole.
A resposta, portanto, é: trata do sistema escolar e do
metassistema socioescolar.

6. A ORGANIZAÇÃO E A COERÇÃO
A organização é produto da coerção.
Ashby, procurando em sua obra definir conceitos básicos,
explica coerção como uma relação entre dois conjuntos que ocorre quando a
variedade que existe sob uma condição é menos do que a variedade que existe
sobre outra. "Assim, a variedade nos sexos humanos é de 1 bit; se uma certa
escola admite apenas meninos, a variedade nos sexos dentro da escola é zero;
como 0 é menos do que 1, existe coerção. Uma coerção pode ser tênue ou severa,
i.é, pode diferir em grau de intensidade. Na formação de uma fila de soldados,
exemplifica o citado autor, será tênue se for ordenado que nenhum homem se
coloque próximo de outro cujos aniversários sejam no mesmo dia; será severa se a
ordem for por altura. Na tênue, dos possíveis arranjos, poucos seriam escolhidos e
na severa haveria uma ordem única de colocação. "A intensidade da coerção é
assim apresentada pela redução que provoca no número de possíveis arranjos"
(Ashby, 1970, p.147). As coerções englobam todos os casos nos quais um
conjunto, por qualquer razão, é menos do que poderia ser.

A coerção em vetores, definidos estes com um número finito de componentes,


sucede se o número real de vetores que ocorre sob condições é menor que o número total
154

de vetores possíveis sem condições. No caso das luzes do semáforo, quando acesas ao
mesmo tempo o Vermelho e o Amarelo, só o Verde pode estar apagado, estando ausente o
vetor com Verde. Os componentes são independentes quando a variedade no todo de algum
dado conjunto de vetores é igual à soma (logarítmica) das variedades nos componentes
individuais.

Em outras palavras: graus de liberdade do conjunto de vetores é


o número de componentes que proporcionam a variedade nas combinações
possíveis. Se todas as combinações são possíveis, então os graus de liberdade
serão iguais ao número de componentes. Se apenas uma combinação for possível,
o grau de liberdade será zero.
A existência de qualquer invariante sobre um conjunto de
fenômenos implica uma coerção, portanto toda lei da natureza é uma coerção. "A
ciência procura leis; está, portanto, muito interessada em procurar coerções. (No
caso, o maior conjunto compõe-se do que poderia acontecer se o comportamento
fosse livre e caótico, e o conjunto menor compõe-se do que realmente ocorre)".
Veja-se uma cadeira como uma "coisa", um "objeto". Porque tem coerência, é uma
coleção de partes. Qualquer objeto livre no mundo tridimensional possui seis
graus de liberdade para o movimento. Se as partes da cadeira fossem desconexas,
cada qual teria seus seis graus de liberdade. Montadas, porém, ficam restritas aos
graus de liberdade do todo, i.é, sofrem uma coerção e de tal forma que, sendo
conhecidas as posições de três de suas pernas, a da quarta decorre naturalmente. A
essência do fato de ser a cadeira uma "coisa", uma unidade, corresponde à
presença de coerção (Ashby, 1970, p.149-150, passim.).
O mundo é extremamente rico em coerções. Sem coerções seria
caótico e o organismo pode adaptar-se a ele exatamente na medida em que sofre
coerções. Ademais, a previsibilidade implica a existência de uma coerção ou
várias. Um avião, por exemplo, está sujeito a coerções que se devem à
continuidade (não pode saltar de súbito de uma para outra posição, velocidade ou
direção), à particularidade de seu projeto, à individualidade do piloto e assim por
diante. Em verdade, o protocolo das máquinas exibe coerção. Uma coerção
155

comum e muito poderosa é esta da continuidade, pois embora a função que varia
arbitrariamente possa sofrer qualquer variação, a função contínua pode variar, a
cada passo, apenas para valor vizinho.
Na aprendizagem por associação é mais facilmente
demonstrável a coerção, pois sem ela o paciente seria incapaz de formar quaisquer
associações específicas, como por exemplo, nos condicionamentos em que são
conectados dois elementos não idênticos, em seqüência. "Assim, a aprendizagem é
possível apenas na extensão em que a seqüência apresenta coerção" e "a
aprendizagem vale a pena, apenas quando o meio ambiente exibe coerção"
(Ashby, 1970, p.153).
Nas transformações univalentes a variedade nunca pode
aumentar e comumente cai, do que resulta que todas as transformadas são
diferentes entre si. Apenas quando a transformação é um-um fica inalterada.
Segue exemplo de transformação univalente, em que Z é o "operador":

Z | A B C 1a.Transformação | B B A C C A B A -> 3 variedades


| B C | C C B C C B C B -> 2 variedades
v C 2a.Transformação v C C C C C C C C -> 1 variedade.

Por uma destas razões pode-se prever que, à medida que o


tempo progride, a variedade no conjunto não pode crescer e usualmente diminuirá.
É o decaimento de variedade, o que pode ser considerado sobre muitos pontos de
vista. Em primeiro lugar dá precisão à observação feita amiúde segundo a qual
qualquer sistema, entregue a si próprio, caminha para o equilíbrio. "Em segundo
lugar, mostra que, se um observador tem um sistema absoluto, cuja transformação
ele conhece mas cujos estados não podem por alguma razão ser observados, então,
à medida que o tempo avança, sua incerteza sobre o seu estado pode apenas
diminuir.(...) A diminuição é visível ainda de outro ângulo. Se a variedade nos
estados possíveis está associada com informação, de modo que o fato da máquina
estar em algum estado particular veicula alguma mensagem particular, então à
medida que o tempo avança a quantidade de informação que armazena pode
156

apenas diminuir". Assim uma das três mensagens que pode ser levada a um
prisioneiro dependendo do café estar quente, morno ou frio (operando), mas como
após algum tempo (operador) o café estará tépido ou frio e com mais tempo
decorrido estará frio (transformada) não haverá mensagem. "Assim, quanto mais
longo o tempo entre o despacho e o recebimento, menor a capacidade do sistema
de transportar informação, na medida em que esta dependa do fator de estar em
um dado estado" (Ashby, 1970, p.151).
No item anterior admitiu-se uma máquina isolada de modo que
suas mudanças de estado se deviam somente às suas atividades internas.
Considere-se, agora, um conjunto de réplicas com entrada e com um parâmetro P
no mesmo valor em todas, enquanto as máquinas mudam passo a passo: a
variedade no estado sobre o conjunto de réplicas cai para algum mínimo. Quando
a variedade alcançar o seu mínimo sob este valor de entrada (P1), mudando-se P
para novo valor (P2), o gráfico da máquina muda, mas não pode aumentar a
variedade do conjunto, podendo cair para um mínimo mais baixo, o que
possibilita a afirmação de que "uma variação uniforme nas entradas de um
conjunto de transdutores tende a baixar a variedade do conjunto. À medida que a
variedade cai, muda o conjunto de modo que, a cada momento, todos os seus
membros tendem a estar no mesmo estado. Em outros termos, as mudanças na
entrada de um transdutor tendem a tornar o estado do sistema (em dado momento)
menos dependente do estado inicial individual do transdutor e mais dependente da
seqüência particular de valores paramétricos utilizados como entrada" (Ashby,
1970, p.160).
O teorema é mais apropriado se se estivesse estudando algum
transdutor muito complexo, pois não depende do tamanho do sistema e pode ser
aplicado com utilidade ao cérebro e aos sistemas sociais e econômicos. É o que se
verifica, por exemplo, quando um certo número de rapazes de individualidade
marcante, ao passarem todos pela mesma escola, desenvolvem maneiras mais
características da escola do que de suas individualidades originais. É uma
tendência para a uniformidade no comportamento que será chamado de lei da
157

experiência, cujo fenômeno pode ser descrito da seguinte maneira: "a informação
que entra por mudança em um parâmetro tende a destruir e substituir a informação
sobre o estado inicial do sistema".
Ashby, nesta parte de sua obra conclui que:
- a informação não pode ser transmitida numa quantidade maior do que a
permissível pela variedade;
- a coerção pode diminuir alguma quantidade potencial de variedade"; e
- uma fonte, tal como uma cadeia de Markov, tem coerção zero quando todas
as suas transições são igualmente prováveis (Ashby,1970, p.162-3, passim).

É a condição de "coerção zero" e o comportamento como cadeia


de Markov que impossibilita a transmissão de informação.
Veja-se que, o processo avaliatório, pelo qual o alunado é
classificado ao final do ciclo ou da série, reproduz um vetor com três graus de
liberdade: Aprovação(A), Retenção(R) e Evasão (E); é um vetor com três graus de
liberdade porque são possíveis todas as combinações entre os seus componentes.
Seja X a presença e 0 a ausência do componente, as 7 combinações possíveis em

cada grau, série ou intervalo entre os períodos de avaliação formal são as


constantes da seguinte matriz:

| 1 2 3 4 5 6 7 |
____|_____|____|____|____|____|____|____|
GRAUS A| X 0 0 X 0 X X |
DE | |
LIBER- R| 0 X 0 X X 0 X |
DADE | |
E| 0 0 X 0 X X X |

São transformações fechadas univalentes. Na prática as


combinações 1, 2 e 3 são as mais improváveis e a mais provável é a 7, ficando as
4, 5 e 6 com mais probabilidade de ocorrência do que as 1, 2 e 3, mas com menos
probabilidade do que a 7.
158

Com a implantação do Ciclo Básico no sistema estadual


paulista, como unidade pedagógica que engloba as duas primeiras séries do ensino
fundamental, são eliminados os graus de liberdade A e R. Com isso o sistema
operaria, na passagem da 1a. para a 2a.série, com outro vetor, agora com dois
outros graus de liberdade: Evasão(E) e Não Evasão(NE). Ocorre, porém, que, pela
lógica, somente haverá NE se houver E e vice-versa, portanto o sistema tem, na
realidade, grau zero de liberdade, ficando apenas com uma combinação: a X em E
ou em EN, excludentemente.

7. A MANIFESTAÇÃO DA COERÇÃO NOS


MOVIMENTOS DE REDUÇÃO E PROLIFERAÇÃO
A coerção, função da geneanomia e da teleonomia, na
organização manifesta-se por dois movimentos: o de redução e o de proliferação.
O primeiro movimento da evolução dirigida é o da redução no
sentido da elaboração de uma forma, de uma organização, promovendo o
decaimento da variedade (diversidade ou disparidade) dos elementos em que se
realiza, enquadrando-os em uma harmonia ou redundância de pontos, atributos ou
características, em função de finalidades previamente definidas, sob os caracteres
genotípicos. Nesse primeiro movimento sua tendência é evoluir do gênero para a
espécie, do genótipo para o fenótipo, do genérico para o específico, do geral para o
particular, do caos para a ordem, do complexo para o simples. É um trabalho que,
ao se completar, atingindo a neguentropia máxima, ou seja, a forma desejada com
geneanomia própria, inicia o segundo movimento, o da proliferação, com a ação
exploratória dos atributos dessa forma pela multifinalidade da teleologia,
retomando a tendência do primeiro, numa segunda fase, em que a forma alcançada
passa a ser o gênero. Isto ocorre seja para a construção do conhecimento de seres e
objetos intelectuais ou concretos, seja de instituições ou entidades jurídicas ou de
ações humanas. As linhas de proliferação apresentam-se com tantas organizações
159

quantas forem as finalidades buscadas. Um exemplo servirá para melhor


esclarecer a conceituação acima.
O alunado de um dado curso é submetido a uma padronização de
comportamento com alguns atributos próprios. Esse comportamento é a forma
específica do alunado desse curso. Atingido o seu grau máximo, pela ação
neguentrópica, o alunado apresenta alguma uniformidade de comportamento, mas
com uma diversidade de atributos redundantes que o distingue dos demais de
outros cursos. Adquirem, também, nessa forma atributos diferenciados derivados
da multiplicidade das finalidades do curso, de sua teleologia própria multifinal,
que não se apresenta com o mesmo grau de intensidade em cada um dos
comportamentos do alunado. Uma ação explorátória sobre essa diversidade
mostrará uma variedade de comportamentos distinguíveis. É essa investigação
mais aprofundada que detona o movimento de proliferação entrópica por natureza.
Com isso o conjunto apresenta-se com vários subconjuntos ou complexões. Numa
segunda fase, como os subconjuntos foram formados por equivalência de
atributos, tomando, cada um deles, uma forma específica, fica evidente que
sofreram a ação do movimento de redução e retomam a tendência para a
proliferação. Se um movimento retorna ao anterior decorrido algum tempo, infere-
se que há causação contínua entre eles.
Compreende a evolução para a organização, portanto, dois
movimentos sucessivos: o primeiro de redução e o segundo de proliferação e em
causação contínua.
Tanto a redução como a proliferação são coercitivas, i.é,
compelem a organização, sob a limitação da liberdade de escolha em razão da
definição de critério pertinente à teleologia da própria organização, atendendo a
sua genealogia. Ou seja, a coerção torna dependentes de uma harmonia ou
coerência de pontos definidos, o pensamento, os seres, as entidades, as ações,
fatos e as coisas, distinguindo cada um dos demais. Assim sendo, uma dada
forma, em conseqüência da coerção, é sempre menor do que o conjunto de
elementos intelectuais, sociais ou naturais do qual se originou, pois a coerção é
160

fator que torna os graus de liberdade do conjunto global em menor número do que
a soma dos graus das partes quando ainda autônomas. Em seguida, todavia, a
organização assume a proliferação, no limiar da harmonia ou coerência dos pontos
que têm a amplitude da pertinência do seu critério, pelos subconjuntos de
atributos. Classifica-se, então, como determinista, produto dos seus códigos
genético e telético. Mais à frente, neste estudo, todavia, esse poder de
determinação sofrerá um abrandamento.
Por fim, se organização é, conceitualmente, a antinomia do caos
e se é a coerção que preside a organização, tem-se que coerção é dissipação do
caos, portanto, é neguentropia. Nos parágrafos seguintes estarão exemplos que
comprovarão tais assertivas.
Recorrendo aos conceitos de entropia (H) e neguentropia (NH),
observa-se, pela figura abaixo, que a evolução dirigida dos movimentos,
afunilando-se, sai da entropia máxima (Hmax) para a neguentropia máxima
(NHmax) na redução para compor a forma desejada e, após definida esta,
retomando a mesma tendência com a proliferação, abre-se em um novo leque da
NHmax para a Hmax. Essa retomada assim se esquematiza:

Figura 4. A retomada dos movimentos

REDUÇÃO PROLIFERAÇÃO
X" X"
\ /
X´ X´
/ \ RETOMADA / \
X" \ / X"
X -------- X ...
X" / \ X"
\ / \ /
X´ X´
/ \
X" X"
H max.--->NH max. NH max.--->H max.
161

Na redução, os X" são um pedaço da natureza, ou da sociedade


humana, composto por alguns componentes que reúnem características
harmônicas sob uma dada restrição pertinente à finalidade desejada. (Entenda-se a
Hmax limitada a esse pedaço.) Submetidos à coerção tais componentes são
reduzidos à duas categorias, os X´ que, sob nova coerção, chegam a X : algo com
organização singular. Um exemplo concreto, pode ser tomado às flores: X" são
todas as flores da natureza com características genéricas invariantes; uma primeira
ação neguentrópica afunila suas características para duas categorias X´, sob o
critério das que se abrem durante o dia e as que se abrem durante a noite, com
ambas, no entretanto, mantendo características comuns (cor, perfume etc.) que
denominam o gênero a que pertencem; uma segunda ação neguentrópica, sob o
critério da cor das pétalas, por exemplo, as reduz para apenas uma categoria, X, as
flores que se distinguem das demais pela sua cor amarela: as flores com um
atributo específico invariante - a sua cor amarela, que estará sempre presente seja
qual for a sua diversidade morfológica. Alcançada a forma desejada, esta é
revertida à condição de gênero e é iniciada a fase exploratória de suas
características, pela qual se dá a proliferação. O X, as flores especificamente
amarelas, característica não muito significante em sua morfologia, é classificada
em as dos campos e as dos jardins urbanos, os X´. Na seqüência evolutiva surgem
os X" com as dos campos distribuídas pelas suas muitas manifestações, o mesmo
acontecendo com as dos jardins e assim por diante, no avanço do processo de
proliferação de seu conhecimento. Essa progressão não ocorre infindavelmente
devido a complexidade caótica.
A redução e a proliferação por coerção também podem ter sua
iconografia representada por um cone invertido. Na sua tendência, parte do
conjunto de entidades com características harmônicas genéricas (próprias e
exclusivas do gênero) passando aos subconjuntos com características harmônicas
semelhantes na forma intermediária e chega ao subconjunto com características
162

harmônicas idênticas, com um perfil que representa a espécie. A representação de


tal tendência, assim se expressa:

Figura 5. A tendência da redução e proliferação


______________________________________
\ /
\ Conjunto de entidades com ca- /
\ racterísticas genéricas /
\______________________________/ GÊNERO
\ / NH baixa
\ Subconjuntos de entidades/ |
\ com características / |
\ semelhantes / V
\ Subconjunto de / |
\ entidades com/ |
\ caracterís-/ V
\ ticas i- / |
\ dênti- / |
\ cas / V
\ /
\ / ESPÉCIES
\/ NH alta
_________________________\/_________________________
/\
/ \
/ \ ESPÉCIES
/ \ NH alta
/Subcon \ |
/juntos \ |
/de entida- \ V
/des com ca- \ |
/racterísticas \ |
/ idênticas \ V
/ \ |
/ Subconjuntos de enti- \ |
163

/ dades com caracterís- \ V


/ ticas semelhantes \ GÊNERO
/ \ NH baixa
/ Conjunto de entidades com \
/ características genéricas \
_____________________________________

Na redução fica clara a coerção. Na proliferação, contudo, pode


surgir um equívoco de interpretação pois, aparentemente, essa evolução é
acumulativa-somatória, i.é, as categorias, em que a ação exploratória vai
decompondo a forma genérica, iriam se acumulando umas sobre as outras. Isto
não ocorre. Como a própria designação indica, tais categorias são proliferantes-
constitutivas pois, enquanto não se dá a mutação, as categorias seguintes guardam
o genótipo da original embora com fenótipos diferenciados como se viu no
exemplo das flores e se verá no alunado e nos níveis de educação e ensino do
sistema escolar brasileiro. Todavia, a proliferação, tal qual a redução, não é
infinita. A condição de finidade lhe é dada pela fato de ao proliferar,
acompanhando a especialização natural de suas finalidades, chega a um estado de
complexidade caótica. Aí ela tem seus componentes novamente nivelados,
desierarquizados - em entropia máxima. Na complexidade caótica, sendo possível
um máximo de complexões, pois seus elementos são livres para se comporem,
iniciam-se novas organizações, sob a coerção da redução, agora em outro plano
com outros atributos e, no mais das vezes, com outras finalidades ou finalidades
acrescidas. Portanto, não têm o mesmo estado característico anterior: são
organizações mutantes. A mutação se dá em razão de uma proliferação superior á
tolerância da própria organização. É o caso de mudança de estados da água com
que Engels ilustra a lei da dialética que enuncia a transformação da quantidade em
qualidade. No exemplo da avaliação do processo ensino-aprendizagem, seria a
passagem para outro item do programa da série e nos níveis seria da educação
básica para a educação superior.
Disso resulta que, na organização de um sistema sociocultural
do tipo escolar ou empresarial, as correntes de "feedback" devem conduzir
164

informações sobre a aproximação de seu limite de tolerância, limite em que se dá


a mutação, na qual, perdendo a sua especificidade, terá manifestações
diferenciadas, em conseqüência do determinismo temporal, pelo qual diz-se que
os sistemas vão se fechando e com isso produzindo, cada vez mais, entropia (Esse
fenômeno será estudado no capítulo VIII, com detalhes.)

7.1. Um exemplo do movimento de redução


A redução pode ser evidenciada com detalhes de realidade na
utilização de uma seqüência de técnicas de avaliação de aprendizagem ou
filtragem, como a que segue.
O movimento do processo ensino-aprendizagem se desenvolve
sob planejamento e controle, portanto é dirigido, compelido pela neguentropia e
orientado pela teleologia, obedecida a genealogia. O planejamento antecede as
ações e o controle, em forma de avaliação com caráter de "feedback", se dá
durante a realização (o micro) e após a conclusão (o macro) do processo. Está,
assim, montada a seqüência triádica da didática: planejamento, realização e
avaliação.
O professor planeja, em conjunto ou não com a classe, as
técnicas e a matéria a ser ensinada por ele e aprendida pelos alunos, i.é, coloca
finalidades à ação pedagógica, em razão das quais as estruturas físicas e
interacionais encadeiam-se. As suas finalidades, portanto, são enquadrantes e, na
verdade, o planejamento, ao delinear os objetivos e as metas delas derivados,
elabora, concomitantemente, uma organização coercitiva, a partir de um estado
caótico, em que os alunos não são distinguíveis um dos outros. Estes, com outros
insumos, constituem a entrada do sistema.
Na realização do processo ensino-aprendizagem, o professor
procura nivelar ao seu conhecimento, o conhecimento dos alunos sobre a matéria
planejada. Forma-se com isso uma interdependência interativa de comunicação
entre ambos os componentes (professor/alunos), que chega à ENTROPIA (H):
nivelamento, desordenamento, indiferenciação entre os pólos conduzida pela
165

NEGUENTROPIA (NH). Nesse trabalho podem ocorrer as seguintes situações


protótipas:
SITUAÇÃO A- o sistema ainda não existe = H zero;
SITUAÇÃO B- todos os alunos aprendem o que foi ensinado =
H máxima: e.
SITUAÇÃO C- os alunos aprendem parte do que foi ensinado=
H relativa.

Uma quarta situação pode surgir no caso de não se concretizar a


interdependência interativa da comunicação professor/alunos:
SITUAÇÃO D- nenhum dos alunos aprende o que foi ensinado=
H zero.

Em termos matemáticos idealizados: se se der ao professor,


antes do início do processo, o valor 1 (P=1), afinal era ele, em tese, o único que
dominava o conhecimento a ser ministrado, tem que se dar aos alunos zero (A=0),
pois eles ignoravam o conhecimento.

Assim, na situação A, com a aplicação da fórmula de cálculo do


coeficiente de entropia (CH) a equação seria:
(P 1.log P 1) + (A 0.log A 0) --> CH = 0 + 0--> CH = 0,
pois o logaritmo de 1 é zero e o sistema ainda não existe.

A situação B pode assim ser descrita: o professor e os alunos no


processo ensino-aprendizagem constituem-se em um só sistema que se torna
isolado por algumas horas na ausência de nova entrada (input). Portanto, não
existe conhecimento diferente (energia), além do planejado. Nessa situação, com
todos os alunos aprendendo o que foi ensinado pela ação naguentrópica, a entropia
aumentou até o seu coeficiente máximo que, para dois componentes, é de 0,3010,
o que levou o sistema ao desaparecimento por falta de um desnivelamento. Ao
166

final como se atribuiu, no início, ao professor o valor 1 porque dominava o


conhecimento tem-se que dar também aos alunos 1 para se estabelecer a
equivalência, pois eles terminaram por dominar toda a matéria estudada e a
distribuição das probabilidades será

P 1 + A 1 = StPA = 2 -> P/PA 1/2 =


0,5 + A/PA 1/2 = 0,5 e a equação assim formulada:
(0,5.log 0,5) + (0,5.log 0,5) = 0,1505 + 0,1505 --> CH = 0,3010
que é o CH máximo, o que provoca o desaparecimento do
sistema por saturação, na padronização total.

Na situação C, a mais provável, os alunos aprendem parte do


que foi ensinado. Admita-se que aprenderam 0,6 do total. A distribuição das
probabilidades de
P 1 + A 0,6 seria P 0,625 + A 0,375 = St 1,6 e a equação assim
formulada:
(0,625.log 0,625) + (0,375.log 0,375) = 0,1276 + 0,1597 ->
CH = 0,2873, que não é o CH máximo, o que preservou a
permanência do sistema, pois CH / CHmax = 0,2873 / 0,3010 =
0,9545 e este é menor do que 1.

Na situação D os alunos não aprendem nada, então


P 1 + A 0 = St 1 e a equação seria:
(P 1.log P 1) + (A 0.log A 0) = (0.0) + (0.0) -> CH = 0
e o sistema não chegou a existir, pois, se ao final o CH foi de 0,
não houve entropização do conhecimento entre os pólos, por
força da neguentropia.

Atente-se para a diferença entre o CH = 0 na Situação A e o CH


= 0 na Situação D. Na A o sistema não existia uma vez que não se iniciara
167

processo algum sobre ele, ao passo que na D apesar dos esforços que se
concretizaram, estes foram inócuos e ele não se constituiu, pois não se realizou o
processo ensino-aprendizagem,
A avaliação da aprendizagem dos alunos é concretizada pela
comparação entre o que se pretendeu na entrada com o planejamento
(1a.informação) com o que se conseguiu na saída pela realização (2a.informação)
mediante o que se obtém, no parâmetro Restrição, a discrepância entre o planejado
e o conseguido (3a.informação). É o arco cibernético. De posse do resultado pelo
"feedback", os alunos são distribuídos, pelo critério de notas, em um gradiente. As
notas alcançadas, assim, dão uma organização à classe, ou seja, nela passa a existir
um ordenamento: os alunos com nota 10 estão numa plano superior aos alunos
com nota 7, estes acima dos com nota 5 e assim por diante. Esse trabalho de
organização pela avaliação é a NEGUENTROPIA (NH): desnivelamento,
ordenamento, diferenciação etc.
Extrapolando para as protótipas acima: se se der a situação D o
domínio é da entropia e como não chegou a haver sistema, NH é nula. Se se der a
situação C, em que a NH é relativa (NHrel), o que antes parecia tudo igual, com a
avaliação se diferencia. Se se der a situação B, o nivelamento pleno, a Hmax leva
o sistema a uma mudança de estado, em razão do trabalho neguentrópico com
NHmax. Nessa situação B, a Hmax foi alcançada pela NHmax e ambas se anulam,
mutuamente. Dá-se, então, a mudança de estado porque houve saturação do
processo. Na saturação nada mais há a fazer com a matéria planejada, com a ação
intentada.
O trabalho neguentrópico praticado pelo professor, coercitivo
por excelência, que conduz o processo ensino-aprendizagem à ordem, à
diferenciação, às formas e chega ao seu final pela saturação com a indiferenciação
entrópica etc., pode se dar pela seqüência de três técnicas:
1a.) pela avaliação individual: cada aluno é avaliado
individualmente e o Coeficiente de Neguentropia (CNH) é nulo, pois houve uma
equirrepartição dos alunos pelas notas, caso em que para o professor, a classe tem
168

uma organização bastante complexa ou até mesmo caótica. Essa situação é


possível porque é possível a distribuição dos alunos pela escala de notas de 0 a 10,
apelando-se para as notas fracionárias, com cada um ocupando, individualmente,
uma posição. Nessa possibilidade como a NHmax coincide com Hmax não há
redução da diversidade de alunos, motivo pelo qual anulam-se, mutuamente. O
operador Professor, utilizando-se de instrumental avaliatório, não transforma o
operando Alunos em uma classe com menor quantidade de componentes
distinguíveis.
No entretanto, embora possível, essa distribuição não é muito provável.
Na grande maioria das vezes, ocorre coincidência de alunos em alguns graus da
escala, caso em que há redução de variedade com a organização perdendo
complexidade e sinalizando mais coerção do que na forma do parágrafo anterior.
2a.) pela avaliação em grupos: pelo princípio da individuação
estatística em que um aluno pertencendo a um conjunto não representa a si mesmo
mas ao seu conjunto, sendo esse o componente distinguível, as provas podem ser
realizadas por grupos. Nessa forma a coerção pode ser abrandada se for permitida
a formação natural dos subgrupos, com os alunos escolhendo os seus
componentes. Então, admita-se uma classe com 50 alunos que se distribuem
espontaneamente em grupos G-1, G-2, ..., G-10. Há aí, como se percebe, mesmo
antes da aplicação do instrumento de avaliação, um trabalho neguentrópico por
parte do professor em cima dos 50 alunos, ou dos próprios alunos em si mesmos,
que ficam reduzidos a uma variedade de 10 componentes distinguíveis - os 10 Gs.
Ao se reunirem nesses grupos tendo como finalidade a aprendizagem e discussão
da matéria para fins de nota, à medida em que interagem uns com os outros,
provocam, em cada grupo, o nivelamento interno do conhecimento sobre a matéria
estudada - é a manifestação da entropia entre os próprios alunos em seus
subconjuntos. Ao final, cada grupo recebe uma nota, o que representa um outro
trabalho neguentrópico por parte do professor, ordenando os grupos pelas notas
atribuídas. Admitindo-se apenas 8 notas diferentes entre eles, a classe estará
organizada em 8 segmentos.
169

Suponha-se, ainda, que o professor, pelo mesmo princípio da


individuação estatística, resolva avançar no processo de entropização do
conhecimento entre os alunos e que a atribuição de notas para os grupos foi apenas
um "feedback" para que eles conhecessem seus desempenhos. Ele os organiza,
então,
3a.) pela avaliação em grupo geral: cada subgrupo SG elege um
seu representante e esses, em número de 5 (A,B,C,D,E), formando tão-somente
um grupo geral (GG), reúnem-se e produzem um único relatório, do qual será
dada ciência à classe. O professor atribuirá uma só nota a esse relatório que valerá
para toda a classe e esta, presumindo-se possuidora do conhecimento da matéria
planejada e efetivamente ensinada e aprendida, para o professor, retorna ao estado
de entropia inicial, de nivelamento, desordenamento e indiferenciação dos alunos.
Em outras palavras: ele não sabe quem é quem na classe como não sabia antes de
dar entrada nas aulas da matéria planejada. Resta-lhe a satisfação de ter
viabilizado uma reflexão envolvente.
Em suma, a classe estará, novamente, em organização complexa
pelo critério de notas porque ocorreu a saturação do conhecimento desejado, mas
agora padronizada em um estado superior, se o aproveitamento for total ou
próximo disso. Tal redução, com vetor de dois elementos, um pela coerção para os
agrupamentos e outro com a distribuição de notas, assume as formas da figura que
segue.
170

Figura 6. Redução de formas pela neguentropia com vetor de 2 elementos:


o professor e as notas de avaliação
SEM FORMA: ALUNOS ANTES DO INÍCIO DO PROCESSO:
VARIEDADE DE 50 COMPONENTES SEM ORGANIZAÇÃO,
PORTANTO EM NIVELAMENTO, SEM NOTAS.
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
CHnula Hmax
1a.FORMA: COM A AVALIAÇÃO INDIVIDUAL DISTRIBUINDO
CADA UM DOS ALUNOS COM UMA NOTA, SEM COINCIDÊNCIA,
A ORGANIZAÇÃO É BASTANTE COMPLEXA.
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Chnula Hmax
2a.FORMA: COM AVALIAÇÃO INDIVIDUAL DOS ALUNOS, PELO
CRITÉRIO DE COINCIDÊNCIA DE NOTAS,A ORGANIZAÇÃO
TERÁ
VARIEDADE DE 8 COMPONENTES, POIS FORAM 8, AS NOTAS
CONSEGUIDAS PELOS ALUNOS.
G-1 G-2 G-3 G-4
NOTA 10(3ALs) NOTA 9(4ALs) NOTA 8(4ALs) NOTA 7(5ALs)
O OO OO OO
OO OO OO OOO
G-5 G-6 G-7 G-8
NOTA 6(11ALs) NOTA 5(11ALs) NOTA 4(7ALs) NOTA 3(5ALs)
OOOOO OOOOO OOO OO
OOOOOO OOOOOO OOOO OOO
CNH = 0,1782 CH = 0,8678 Chmax = 0,9031 CH/CHmax = 0,9498
FORMA PLENA: COM AVALIAÇÃO DO GRUPO GERAL,
COMPOSTO ESTE,COMO OS DEMAIS, PELAS AÇÕES
NEGUENTRÓPICAS DO PROFESSOR-AVALIADOR E
PELO CRITÉRIO DE REPRESENTAÇÃO.
A PADRONIZAÇÃO TORNA A ORGANIZAÇÃO PLENA,MAS
COMPLEXA, COM REDUNDÂNCIA DE NOTAS, POIS, FOI UMA
SÓ, A NOTA AOS 50 ALUNOS.

GG
NOTA 8(50 ALS)
A B C D E
CNH = 1,0000(saturado) CH = MÁXIMO CH/CHmax = UM
171

Na 1a. forma com a avaliação que se dá no parâmetro Restrição,


o professor não é excluído do sistema e não se torna um operador porque as
questões de avaliação surgiram obrigatoriamente da matéria planejada e os alunos,
por conta da competência de cada um, se distribuíram, eles próprios, pelas notas
alcançadas. Na 2a. forma ele deixa de ser componente e passa à condição de
operador porque impõe a transformação da classe em grupos, ou seja, pratica a
neguentropia. Com isso torna-se uma coerção da organização, contra a qual os
alunos nada podem fazer. Em conseqüência, os alunos formam um sistema pelo
critério de notas, no qual o professor volta a fazer parte. Está aí um vetor de
transformação com dois componentes: formação de grupos por coação do
professor e formação de grupo pelas notas. Ocorreu o seguinte: Na 2a. forma
coexistem dois processos de organização: um pelo critério de agrupamentos e
outro pelo de notas, sendo o operador do primeiro o professor e do segundo os
próprios alunos mais o professor. Nessa forma o professor antes dirige a
organização dos alunos para 8 grupos pela coincidência de notas que conseguem.
Na Forma Plena há somente a coerção do professor, uma vez que os alunos-
representantes formam apenas o grupo geral ao qual foi atribuída tão somente uma
nota e a classe volta à situação inicial de organização complexa.
Observa-se por essa técnica, claramente, que:
a) a organização é redução no sentido da elaboração de uma
forma, em razão do que decai a variedade ou diversidade das individualidades dos
alunos, enquadrando-os em uma harmonia ou redundância de pontos: parte do
geral - os 50 alunos, e chega ao particular - 1 grupo único de alunos;
b) a coerção torna-se cada vez mais severa à medida em que se
progrediu pelas diferentes técnicas de avaliação pois cada uma delas, a partir da
segunda, exigiu uma organização anterior:
c) com a severidade da coerção é aumentada a organização da
classe;
d) o trabalho neguentrópico máximo acaba por resultar em
padronização máxima para o fim planejado, o que fica claro na FORMA PLENA,
172

em que tanto o CH com o CNH, são máximos; diz-se, então que se anularam
mutuamente e que se chegou à saturação da redução com a forma singular.
Em uma classe, contudo, vive-se o processo ensino-
aprendizagem seccionado em subprocessos e, pela coerência da continuidade, o
produto de um sub-processo anterior é a entrada do sub-processo posterior, até um
ponto determinado, porque o professor e os alunos (a classe) têm suas ações
reguladas por uma organização superior àquela que formam. As normas desta, em
muitos itens, determinam o trabalho docente/discente, por exemplo, pela duração
da hora-aula, pelo semestre e ano letivo, pelas disciplinas e seus respectivos
créditos etc. o que é padronizante, enquadrante, coercitivo;
Uma outra observação é a manifestação isomórfica da segunda
lei da Termodinâmica em três pontos:
1o.) Os alunos e o professor da classe por algum tempo ficaram
isolados e sofreram uma redução de variedade (ou diversidade), evoluindo de 50
componentes distinguíveis para 8, 4 e finalmente para apenas 1. Embora essa
redução tenha sido operada a partir da 2a. forma pelo professor através de uma
técnica (e toda técnica é mecânica, por mais humana que possa parecer), isto
ocorre naturalmente também, pois em "um sistema isolado a entropia tende a
aumentar", uma vez que nele não há produção de matéria e energia, permanecendo
estas constantes, como reza a segunda lei da Termodinâmica. Isto também pode
ser observado empiricamente nos "grupinhos" que se formam em todo e qualquer
meio sociocultural, seja em um salão de bailes seja numa classe de aulas; se se
abrissem no "algum tempo" isso não ocorreria, pois um sistema aberto se alimenta
constantemente dos fluxos de pessoas e informação do meio externo o que
aumenta a sua variedade e instabilidade, corroendo, simultaneamente, a sua
entropia.
2o.) Os componentes da 1a. forma experimentaram, quando se
sentaram juntos pela primeira vez para o início das discussões, um certo
desconforto emocional que, paulatinamente ao aumento de consistência interna do
grupo G respectivo e, em seguida do GG, por força da interdependência interativa
173

da comunicação, foi desaparecendo. Deu-se a transição de um estado de


desequilíbrio emocional inicial para um estado de equilíbrio final, no que houve
um esquecimento do estado inicial de dissimetria. Isto é a descrição do princípio
de evolução para o estado mais provável que é sempre o de equilíbrio, da
indiferenciação, do isolamento a outras influências que se definiu pelo
consentimento coletivo de um dado produto coadunante com o respectivo nível
em que se encontra o desenvolvimento cultural do grupo. Não ocorrendo esse
princípio, o grupo não se forma.
3o.) Nessa evolução, muito provavelmente, houve uma perda de
substância do conteúdo que cada representante levou para discussão - é a
dissipação de energia (informação) também descrita pela segunda lei da
Termodinâmica.
Uma terceira observação é que tanto os CHs como os CNHs têm
a propriedade de descrever a seqüência de estados de um sistema aberto, mesmo
sem se acompanhar os movimentos de sua transformação, na comparação entre
dois de seus estados, X e Y. Se X se apresenta, na evolução dirigida, com CH
maior do que o do Y, é antecedente a este, devendo, em conseqüência, o CNH de
Y ser maior. Apresentando-se X com CH = 0,2375 e CNH = 0,5274 e Y com CH
= 0,1727 e CNH = 0,7280, tem-se a certeza da seqüência, o que pode ser
comprovado com uma vista d´olhos nas .trajetórias da Tabela Matricial C-Geral-1,
dos Anexos 1, do Capitulo V. Nos sistemas fechados ou isolados só a entropia
aumenta como uma "flecha do tempo" valendo-se da expressão utilizada por
Prigogine.

7.2. Um exemplo do movimento de proliferação


Uma das formas de representação da proliferação mais utilizada
é por código numérico como o exemplo a seguir da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional de n.9394/96.
174

Figura 7. A proliferação dos níveis e das modalidades de educação e ensino


1. EDUCAÇÃO BÁSICA.
1.1.EDUCAÇÃO INFANTIL
1.1.1.CRECHES: PARA CRIANÇAS ATÉ 3 ANOS DE IDADE
1.1.2.PRÉ-ESCOLAS: PARA CRIANÇAS DE 4 A 6 ANOS DE
IDADE
1.2.ENSINO FUNDAMENTAL COM DURAÇÃO MÍNIMA DE 8 ANOS
LETIVOS,SENDO FACULTATIVO O DESDOBRAMENTO EM
1.2.1.PRIMEIRO CICLO: COM DOCENTES PARA A
TOTALIDADE OU MAIORIA DOS COMPONENTES
CURRICULARES
1.2.2.SEGUNDO CICLO: COM DOCENTES ESPECIALIZADOS
POR COMPONENTE CURRICULAR
1.3.ENSINO MÉDIO COM DURAÇÃO MÍNIMA DE TRÊS ANOS
1.3.1.FORMAÇÃO GERAL
1.3.2.FORMAÇÃO PROFISSIONAL (FACULTATIVO)
1.4.EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS QUE NÃO TIVERAM O
FUNDAMENTAL E O MÉDIO NA IDADE PRÓPRIA OU
REGULAR
1.4.1.CURSOS SUPLETIVOS
1.4.2.EXAMES SUPLETIVOS
2. EDUCAÇÃO SUPERIOR
2.1.CURSOS SEQUENCIAIS POR CAMPO DE SABER, DE
DIFERENTES NÍVEIS DE ABRANGÊNCIA
2,2.GRADUAÇÃO
2.3.PÓS-GRADUAÇÃO
2.3.1.PROGRAMAS DE MESTRADO
2.3.2.PROGRAMAS DE DOUTORADO
2.3.3.CURSOS DE ESPECIALIZAÇÃO
2.3.4.CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO
2.3.5.OUTROS
2.4.EXTENSÃO
3.EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
3.1.CURSOS REGULARES PARA EGRESSOS DO FUNDAMENTAL,
MÉDIO E SUPERIOR
3.2.CURSOS ESPECIAIS ABERTOS À COMUNIDADE
4.EDUCAÇÃO ESPECIAL PARA PORTADORES DE NECESSIDADES
ESPECIAIS.
Do genérico----->----->----->------>----->Para o específico
NH baixa NH alta
175

Os componentes dos códigos 1, 2 e 3 têm sua significância


confinada nos códigos com dois dígitos e alcançam a variedade máxima nos com
três dígitos que têm, cada um deles, mais especificidade, consequentemente mais
inflexibilidade na organização e menos permeabilidade nas interfaces com o meio
externo. Considere-se, contudo, que são apenas diretrizes fixadas por uma lei geral
de âmbito nacional, as quais, nas posteriores regulamentações, passarão por um
processo de proliferação. A expressão maior de sua generalidade está no código 4.
Educação Especial que se refere apenas a necessidades especiais, sem discriminá-
las.
Observa-se finalmente: que:
a) a educação e o ensino à medida que proliferam, diminuem a
sua flexibilidade e aumentam a sua organização, indo do genérico para o
específico; e
b) a iconografia do cone da diversificação e dizimação sugerida
por Gould (1990,p.297) aí está representada, ou seja, a diversificação não é
indefinidamente crescente para todos os ramos da educação e do ensino.
Como pode ser diagnosticado o limite de tolerância da
proliferação da organização de um sistema sociocultural, aquém da saturação do
seu processo?
Basicamente os indicadores são dois: a) o aumento da entropia,
o que já foi demonstrado, anteriormente; e b) a perda paulatina dos "feedbacks" de
micro e macro-controles. Com o enfraquecimento e posterior desaparecimento dos
"feedbacks" a organização de um sistema perde sensibilidade da interdependência
de suas partes e de suas estruturas interacionais, quer internamente quer nas
interfaces com o meio, i. é, deixa de ter consciência de seu todo e ciência das
perturbações originadas em seu meio externo. Sua estabilidade se desfaz e surgem
oscilações cada vez mais fortes e freqüentes, deixando de produzir o que a
restrição de seu processo impõe. Em desequilíbrio, o controle do seu meio interno
implode e o metacontrole com o meio externo se desfaz.
176

O enfraquecimento e posterior perda dos "feedbacks" são


provocados pela dificultação ou impossibilitação dos canais de comunicação em
transmitirem, com um mínimo de distorções ou ruídos, as informações necessárias
para a fundamentação de reflexões que orientem as decisões dos componentes do
sistema, quando assumem o papel de dirigentes do mesmo. Nessa situação, as
regulações primárias do microcontrole prevalecem sobre as secundárias do
macrocontrole e a autonomia dos subsistemas passa à preponderância, destruindo
o estado unitário do seu conjunto, num estágio mais avançado. Formam-se cadeias
causais independentes, o que antes apresentava uma constitutividade passa à
somatividade fragmentária. Entre os subprocessos instala-se a competição na
partilha dos insumos e na colocação de seus produtos com a conformação de cada
um deles, ou de parte deles, em sistemas autônomos. Os que não assumem
conformação própria desaparecem. É a fragmentação entrópica. Para prevenir-se,
o sistema precisa praticar a segmentação que nada mais é do que a proliferação de
seus componentes, sob controle ou seja, a descentralização.
A diferença fundamental entre segmentação e fragmentação está
no fato de que no primeiro fenômeno é mantida a especificidade da organização
do sistema, enquanto no segundo tal especificidade passa a ser outra em função
mesmo da mudança de finalidades. A segmentação é o antídoto à fragmentação.
Necessariamente a segmentação de um sistema é alguma coisa
prejudicial a ele próprio? Não. Em verdade, para todo e qualquer sistema há um
tamanho ótimo, cuja grandeza depende das finalidades e do meio em que ele se
concretiza. Atingido esse tamanho ótimo, faz-se necessária a sua segmentação
para que a sua proliferação assuma novas direções, sem os obstáculos criados
pelas coerções da organização da forma original (a geneanomia) que se apresenta
com os sintomas do enfraquecimento pela perda de "feedbacks". Nele não mais
existe controle. Aparenta existir por força de uma mecanização algorítmica que
lhe retira as características de sociocultural. Com a segmentação evita-se a
fragmentação, gerando-se outras organizações, enquanto que com a fragmentação
destrói-se a organização original corroendo-lhe a consistência interna em prejuízo
177

de sua teleologia. No nível da realização prática, segmentação significa


descentralização que é a devolução do poder decisório subtraído aos subsistemas.
Em outras palavras: em todo sistema, seja de uma entidade jurídica ou uma ação
humana em conjunto, há um poder decisório que é exercido pelos componentes do
controle, democraticamente ou não. O seu exercício é função dos "feedbacks".
Obstruídos ou destruídos estes pelas dimensões além do tamanho ótimo do
sistema, a regulabilidade é inviabilizada e, por conseqüência, o exercício do poder
decisório que lhe garante a unidade. Pressupõe essa assertiva, pelo princípio do
movimento de redução, que todo poder decisório centralizado foi, em algum
momento anterior da evolução do sistema, participado por todos os componentes
ou, no mínimo, por núcleos distribuídos pela usa extensão total. A esse respeito
consulte-se o ensaio do autor "Descentralização do ensino público: aspectos
conceituais, administrativos e constitucionais"(Barbieri, 1992)
Retomando a Figura 7. Na proliferação o item 4. Educação
Especial é ponto final de chegada que anuncia a partir dele uma proliferação de
especializações de classes para os portadores de necessidades especiais:
deficiência mental, física, surdos-mudos, desajustados sociais etc.

8. CARACTERIZAÇÃO DAS TEORIAS DA


ORGANIZAÇÃO COMO CIÊNCIA OU ARTE
Cabe, nesta altura, mais uma pergunta: as teorias da
Organização, como parte das ciências sociais, perdem objetividade, neutralidade e
universalidade à medida que seus objetos proliferam em direção ao nível de
operacionalização?
Estão implícitos nesta pergunta dois pressupostos. O primeiro é
de que objetividade, neutralidade e universalidade caracterizam a ciência em geral.
O segundo é de que as ciências sociais diferem das demais pela dificuldade na
configuração da relação causa/efeito de seus objetos, tendo em vista, entre outros
fatores, a variabilidade de seus fenômenos frente à ação do meio externo e a
interação no meio interno e deste com o externo, aprofundada com a
178

irreversibilidade do tempo. Dessa variabilidade decorre o indeterminismo na


referida relação, o que é tratado no capítulo 1. Por outro lado, isolar uma variável
num sistema sociocultural requer o diagnóstico global de todas as outras e das
antecedentes, bem como a interdependência interativa do objeto que se pretende
pesquisar que também gera causas próprias de totalidade, o que é impossível num
comportamento científico holístico. O máximo que se consegue são interpretações
com dosagens doutrinárias, quando não se remete toda a responsabilidade à obra
do acaso e/ou do caos.
O descontentamento do magistério oficial em relação à política
salarial é um bom fenômeno para se discutir. A causa principal é óbvia:
remuneração não condigna. Essa obviedade, no entanto, exige complementos que
a confinem para dar-lhe significância. Não condígna com os hábitos de seu nível
social? de sua origem familiar? com a posição da profissão no contexto das
demais? com a posição de seus integrantes na sociedade? com o que pretendem as
entidades de classe? com o que o magistério ganhava no passado? ou todas essas
variáveis no seu conjunto? É impossível isolar uma das outras ou diagnosticar o
valor da intensidade de atuação de cada uma delas em meios diferentes, em
cadeias diferentes de interdependência interativa como totalidade e em tempos
diferentes, uma vez que o ser humano é imprevisível e tem uma unidade de ação
dentro de uma situação com multiplicidade de influências. É múltiplo como
paciente e uno como agente. Suponha-se, porém, que o pesquisador enumere toda
a multiplicidade de variáveis presentes. Passa, então, para as antecedentes, ou seja,
as causas anteriores. Tomando-se apenas a remuneração condígna reivindicada
pelas entidades de classe e virão outras indagações: em que bases raciocinam as
entidades de classe? que influências sofrem? que tipos de comando existem em
cada uma delas? em contextos sociais diferentes suas pretensões são também
diferentes? os objetivos reais coincidem com os declarados nas reivindicações?
etc. Este exemplo é bastante eloquente para fundamentar o indeterminismo das
ciências sociais a diferenciá-las da exatidão do demonstrativismo das formais e
aproximá-las do probabilismo das naturais. Diferenciadas porque se,
179

tradicionalmente, a ciência em geral, sob o paradigma newtoniano, coloca,


linearmente, uma causa no passado para um efeito no presente com repercussão no
futuro, o mesmo não ocorre hodiernamente, em especial na observação dos fatos
socioculturais, nos quais se admite a interpenetração de causas, em que uma se
confunde com o(s)efeito(s) de outra(s) e produzem um fenômeno único em
causação recíproca e, às vezes, espiralada. Ademais, há a teleologia que orienta o
processo seletivo do poder de decisão do ser humano, impondo os seus vetores e
contingenciando ocorrências que têm a ver com a condição de totalidade de um
sistema. Por fim, há a multidisciplinaridade da qual são legítimas representantes
as teorias da Informação, e da Cibernética e dos Sistemas..
Por outro lado, a objetividade é incompatível com o julgamento.
Para ser neutra uma observação deve ser única em qualquer contexto, sem
engajamento a ideologias, i.é, ser universal, implicando a sua universalidade na
generalização de seus princípios, independentemente de tempo e espaço. Em
verdade, não se acredita na objetividade, neutralidade e universalidade das
ciências sociais, senão no plano da abstração e com muita cautela. Nenhum
cientista descompromissado de qualquer doutrina, linha de pensamento ou
ideologia discorda de que, no plano do concreto, as ciências sociais vão
assimilando novas características por força da coação dos condicionantes externos
e internos, tanto mais intensamente quanto mais se aprofundam no espectro de sua
complexificação em direção à prática, quando é adjetivada e se operacionaliza
como tecnologia.
Está claro que, entendendo a tecnologia como o resultado prático
dos princípios da ciência, admite-se a tecnologia como ciência aplicada. Sim, mas
uma tecnologia não é produto exclusivo de uma dada ciência. É resultante de uma
certa quantidade delas. A Didática, por exemplo, traz embutidos princípios de
Psicologia, de Biologia, de Sociologia, de Organização, de Cibernética etc.
Mesmo assim, não perde sua vinculação com a ciência, ao articular os princípios
de diferentes ciências que lhe são necessários para se viabilizar.
180

Sendo as teorias da Organização catalogadas nas ciências


sociais, indubitavelmente que, por essa vinculação e carência de objetividade,
neutralidade e universalidade, o grau de preditibilidade da eficácia das ações
decisórias será tanto menor quanto mais complexa for a organização do sistema.
Dentro de uma família, uma decisão tomada pode ter uma cadeia de eventos
delineada com minudência e poucos riscos de desvios por um tempo relativamente
longo. Numa unidade escolar esse delineamento têm aumentados os seus riscos
prenunciando as decisões probabilísticas. No sistema escolar, por sua vez, tal
cadeia será tão extensa que, a partir do segundo ou terceiro níveis, é impossível
ser desenhada, senão com riscos de erros muito grandes, mesmo no curto prazo.
Esse alto grau de impreditibilidade anula as suas características de objetividade e
universabilidade no nível de realização, o que é agravado com o avanço do
sistema para a complexidade caótica, quando o planejamento e o controle perdem
eficiência e eficácia com os fatores internos e externos aumentando a força de suas
influências em prejuízo da variedade. Assim, o que é aplicado em uma entidade,
em quase nada pode ser aplicado em outras sem adaptações e até mesmo com
estas. Um exemplo é o Conselho de Escola no Estado de São Paulo. Criado para
propiciar ao magistério e à comunidade uma função deliberativa e,
subjacentemente, supervisora, era previsível que funcionasse como tal. Acredita-
se que assim tenha ocorrido em umas poucas escolas e que não se concretizou na
grande maioria delas, apesar de constituído, legalmente, em todas.
A neutralidade das teorias da Organização, por sua vez, desfaz-
se diante da ideologia particular de um dado segmento social. Basta buscar uma
comparação entre o entendimento que se dá às finalidades nas empresas privadas
e nas repartições públicas. Se nas primeiras são direcionadas para o lucro, as
segundas objetivam-se na prestação de serviço, embora as una uma função maior
,prevalecente que é a preservação do seu estado característico até a saturação. No
privativismo o produto final é privilegiado em relação ao processo do sistema,
enquanto que no público a manutenção do processo é privilegiada em relação ao
181

produto final. Naquele os fins justificam os meios e nesse são os meios que
justificam os fins. Portanto, as finalidades e os privilegiamentos se distinguem.
O exercício do poder, entendido como a habilidade de uma
pessoa conseguir que outras aceitem e executem suas ordens, segundo Myrtes
Alonso (1978), inspirada em Weber, também pode ser utilizado para se colocar
dúvidas sobre a neutralidade das organizações. Para Vitor Paro (1986), por
exemplo, na empresa capitalista instala-se, através da gerência, todo um sistema
de dominação e controle do trabalhador para a reprodução ampliada do capital,
por isso que para ele as atividades de coordenação assumem a condição de
gerência e não a disposição de homens de forma a alcançar objetivos previamente
conhecidos e assumidos conscientemente por todos os sujeitos envolvidos no
processo.
Infere-se, então, que as teorias da Organização, categorizadas
nas ciências sociais, à medida em que fixam seus objetos acompanhando a sua
proliferação, como conseqüência da especificação de suas finalidades em direção à
prática, perdem objetividade, neutralidade e universalidade, situando-se entre o
crepúsculo do campo da ciência e a aurora do da arte.

9. TAXIONOMIAS DAS ORGANIZAÇÕES DAS


ENTIDADES
Definida a especificidade da organização dos sistemas
socioculturais com gênese, planejamento, controle e processo decisório sob
reflexão, por isso que também com telese, bem assim como redutora e
proliferadora de variedade por critérios pertinentes à multifinalidade dos sistemas;
aceito que essa é operacionalizável por objetivos e esses também proliferantes, é
possível a elaboração de taxionomias de entidades jurídicas sob os mais variados
ângulos. Para este estudo foram escolhidos três critérios: segundo os objetivos
com Perrow e Etzioni, os papéis com Katz e Khan e segundo as entidades
mantenedoras pelo próprio autor .
182

Há que se ressalvar, no entanto, que para a montagem da


taxionomia, segundo os objetivos, foram considerados os objetivos e as atividades
mais evidentes e que, em virtude da descontextualização com que são tratados
nesta pesquisa, existe a admissão implícita de que os objetivos enunciados por
uma dada entidade jurídica são os realmente buscados por ela, i.é, o ordenamento
dos meios é feito em função dos fins e as atividades que se desenvolvem sob sua
responsabilidade correspondem exatamente às necessárias e suficientes para
chegar ao produto com que é legalizada e aceita publicamente. Na prática, todavia,
não é bem assim. Além das "puras" podem ser encontradas as "híbridas", em que
objetivos díspares dos enunciados também são buscados, com ou sem prevalência
de uma categoria sobre a outra. Em casos mais extremos há as "de fachada":
registram um objetivo e praticam outro, este escuso. C.W.Churchman (1972,
p.52) aconselha a aplicação do teste do objetivo que consiste em saber se o
sistema sacrificaria conscientemente outros objetivos para atingir os declarados.
Um outro teste para se diagnosticar os objetivos reais de um sistema é procurar
saber para que servem os seus objetivos declarados, pois na utilização prática dos
mesmos é que estão os reais - o que entra na medida de seu rendimento. Os
estudos que as escolas privadas do ensino médio ou "cursinhos" proporcionam,
por exemplo, servem para os alunos vencerem a batalha dos vestibulares e não
pretendem contribuir para a sua formação de cidadão. A medida de rendimento
deles é o número de vestibulandos classificados e não a qualidade de cidadão que
eles poderiam vir a ser: não têm por objetivo formar o cidadão, mas preparar o
indivíduo para os vestibulares. Assim, é preciso saber o que o sistema realmente
faz e não o que declara que faz.
Em que pese no início deste capítulo ter sido afirmado que o
termo organização não se confunde com o de instituições ou entidades jurídicas e
tampouco com o de organização formal ou informal, será respeitada nas citações a
terminologia dos estudiosos, cujos trabalhos serão citados nos próximos dois
itens.
183

9.1. Taxionomia segundo os objetivos


Antes do adentramento pelo estudo dos objetivos propriamente
ditos, impõem-se os tipos de teleologias distinguidos por Ludwig von Bertalanffy
(1975).

1)- Teleologia estática ou adequação, significando que um arranjo parece ser


útil para certo 'fim". Assim, um casaco de lã é adequado para conservar o
corpo quente e o mesmo se dá com os pelos, penas, ou camadas de
gordura nos animais. (...)
2)- Teleologia dinâmica, significando o caráter direcional dos processos.
Podemos distinguir neste caso diferentes fenômenos que são muitas vezes
confundidos:
I) Direção dos acontecimentos no sentido de um estado final
que pode ser expresso como se o comportamento atual fosse dependente deste
estado final (...), o que ocorre quando não se considera o tempo;
II) Caráter direcional baseado na estrutura, significando que um
arranjo de estruturas dirige o processo de tal maneira que é alcançado um
certo resultado.

Em larga extensão essas regulações para manterem a direção do


processo são governadas pela retroinformação: nos organismos pela homeostase
(que mantém constante a situação material e energética dos mesmos), nas
máquinas pelos servomecanismos (reguladores de temperatura das geladeiras, dos
fornos, de rumo ou direção nos mísseis, pilotos-automáticos etc.) e, nas entidades
jurídicas, pelas normas burocráticas. Continuando com Bertalanffy:
III) Há contudo ainda outra base para as regulações orgânicas. É a
equifinalidade, isto é, o fato de que o mesmo estado final pode ser Alcançado partindo de
diferentes condições iniciais e por diferentes maneiras. É o que acontece nos sistemas abertos, na
medida em que chegam a um estado estável. Parece que a equifinalidade é responsável pela
regulabilidade primária dos sistemas orgânicos, isto é, por todas aquelas regulações que não podem
basear-se em estruturas ou mecanismos predeterminados. (...)
IV) Finalmente, há a verdadeira finalidade ou propósito, significando que o
comportamento real é determinado pela previsão do fim. Este é o conceito aristotélico original.
184

Pressupõe que a futura meta já esteja presente no pensamento e dirija a ação atual. A verdadeira
finalidade é característica do comportamento humano, estando ligada à evolução do simbolismo
da linguagem e dos conceitos (Bertalanffy, 1975, p.112-3, passim.).

Como se vê, não se restringem aos objetivos, entendidos estes


como uma categoria localizada no nível da operacionalização de finalidades e que
induzem à proliferação de características próprias. Integram, isto sim, a
Organização Geral, consubstanciando os sustentáculos da ação humana consciente
pelo planejamento e pelo controle.
Assim sendo, com graus crescentes de proliferação, elas vão
assumindo características distintas em conformidade com a operacionalização de
suas finalidades em objetivos sem perder aquelas derivadas de sua situação de
sistema com natureza característica invariante.
Perrow ao justificar os objetivos como componentes da restrição
dos sistemas, assim se expressa: "As organizações são criadas para fazer alguma
coisa, seu trabalho visa diretamente a algum fim. Devemos examinar esse fim ou
objetivo, se quisermos analisar o comportamento da organização” (Perrow, 1981,
p 165). Lança dúvidas sobre a conceituação dos objetivos e sua identificação, até
mesmo na distinção entre os meios e os fins. Toma a Cyert e March as cinco
categorias de objetivos: da sociedade, de produção, de sistemas, de produtos e
derivados (Perrow, 1981, p.167).
Os objetivos da sociedade que têm como referência os tipos de
grandes instituições que preenchem as necessidades da sociedade na produção de
bens e serviços, manutenção da ordem, criação e manutenção de valores culturais,
não foram detalhados pelo autor. As quatros seguintes são:
1) Objetivos de produção. O ponto de referência das entidades
que se organizam em função de tais objetivos é o público a que pretendem chegar:
o público alvo. Tratam de tipos de produção de bens de consumo e duráveis e de
serviços em termos das funções do consumidor, entre os quais se incluem a saúde
e a educação. Referem-se ao setor geral da sociedade dos consumidores, ao qual se
185

destinam os produtos. Há tendência cada vez mais forte entre as grandes


instituições, afirma o autor, de incluir em sua produção itens anteriormente
tratados por outras totalmente separadas, ou de acrescentar funções nunca antes
executadas por elas. Incluir programas de treinamento para o pessoal interno, por
exemplo, é acrescentar-lhes um novo objetivo de produção, ou como a Ford que,
originariamente produtora de autoveículos, incluiu a produção de aparelhos
eletrodomésticos em seus objetivos de produção para dilatar os limites de seu
alvo.
É rara a mudança de objetivos de produção, mas muitas áreas
que estão sob o controle de repartições públicas, atualmente, sofrem a intervenção
de empresas privadas como da educação, da produção de energia, das
comunicações etc. O problema, então, "consiste em restringir as organizações a
certos objetivos de produção, no interesse de uma sociedade pluralista" (Perrow,
1981, p.172).
2) Objetivos de sistema. O estado ou maneira de funcionar das
entidades, independentemente dos bens e serviços que produzem, ou dos objetivos
daí resultantes, são os pontos de referência dos objetivos de sistema. A definição
dos objetivos de sistema está na prioridade assumida pelas entidades. Para umas
seria a estabilidade, para outras a mudança rápida ou inovação de produtos.
Assim, pode ser dito que "referem-se às condições da organização como tal, mais
do que aos bens e serviços que esta produz". A ênfase das entidades com
finalidade econômica, em geral, são os objetivos de estabilidade, política fiscal,
tamanho e expansão, método de operação interna e relacionamento com o
ambiente. Um exemplo são as empresas da ponte área São Paulo/Rio que buscam
objetivos de sistema na operação com baixos custos e objetivos com
características de produto oferecendo um mínimo de serviços à bordo, para
barateamento do transporte. A informatização e a automação seriam outras táticas
de operação interna, bem como a regionalização de relacionamento com o meio
como fazem as emissores de televisão e assim por diante.
186

Na análise de objetivos de sistema encontra-se, ainda, empresas


que dão enorme valor às operações estáveis, com poucos riscos e mudanças
gradualmente introduzidas, enquanto outras necessitam de objetivos de sistema
que levam a mudanças, inovações e riscos. Nestas últimas os que não tomam
decisões erradas são considerados inoperantes porque não sabem correr riscos.
Naquelas primeiras são despedidos. As segundas, sem dúvida, são mais produtivas
do que as primeiras e perseguem a qualidade total, tão em moda atualmente.
3) Objetivos de produto (ou objetivos caracterizados pelos
produtos).São originados das características dos bens e serviços produzidos, com
ênfase sobre a qualidade ou quantidade, variedade, estilo, disponibilidade,
originalidade ou inovação dos produtos. Denotam um certo grau de diferenciação
na especialização e na habilidade. "A diferença entre 'produzir' jovens que,
segundo se espera, aprendam a obedecer os mais velhos e outros que (também de
acordo com a previsão) desenvolvam ponto de vista a respeito de seus próprios
caracteres e maneiras de encarar as coisas, constitui uma diferença de objetivo de
produto" (Perrow, 1981, p.194) . Embora se possa dizer que os objetivos de
produto não existem em todas as entidades jurídicas, "duas organizações podem
ter objetivos de produção idênticos, como por exemplo, fabricar aço, mas ainda
assim diferem em termos de objetivos de produtos, ou, mais claramente, nos
objetivos relacionados com as características dos produtos" (Perrow, 1981, p.193),
como por exemplo, aço fino para carrocerias de carros e aço em barras para a
construção de pontes.
São características que diferenciam os objetivos de produto:
qualidade, tipo, custo, modelo, disponibilidade etc.
4) Objetivos derivados. Centram-se no uso que as entidades
fazem do poder originado na consecução de seus objetivos específicos. É o poder
de pressão que têm sobre a sociedade em geral e sobre comunidades específicas na
definição de metas políticas, de serviços comunitários, de política de investimento
e localização das instalações, de modo a afetar a sua economia e o seu futuro. A
tendência do público é esquecer ou negligenciar o fato de que as instituições têm
187

um enorme efeito potencial sobre as vidas dos que estão em contato com elas.
Controlam ou podem por em atividade inúmeros recursos, não apenas na
maquinária, terra e empregados, mas na polícia, no governo, nas comunicações, na
arte, no esporte e em outros campos de atividade.
Para Perrow “os objetivos são múltiplos, conflitantes e podem
ser colocados em seqüência ou concomitantemente” (Perrow, 1981, p.219).
Afirma, contudo, que:
Tanto para o cientista social como para o estagiário em administração, o
entendimento complexo da organização só virá através da análise de seus objetivos e das
táticas básicas que a mesma emprega", (...). "Dediquei toda atenção e tantas páginas do
livro ao campo desprezado dos objetivos organizacionais, porque acredito que nele (em
nenhum outro lugar) reside a chave para a descoberta do 'caráter' da organização, e,
consequentemente, de seu comportamento. O conceito de tecnologia revela-nos bastante, e
o exame da estrutura ainda mais, mas os objetivos são, até um certo ponto, desconhecidos,
porém supostamente avançados, independentemente desses fatores. Fornecem, pelo menos,
uma abordagem conceptual da organização e, o que é mais importante, refletem mais
prontamente a singularidade das organizações e o papel das influências específicas dentro
das categorias tecnológicas e estruturais de caráter mais geral. Pois os objetivos são produto
de várias influências, algumas duradouras e outras transitórias. Vamos enumerar algumas: a
personalidade dos executivos de alto nível, a história da organização, o ambiente da
comunidade em que vive, as normas e valores de outras organizações com as quais entra em
contato (a mentalidade da 'indústria do aço', por exemplo), a tecnologia e a estrutura da
organização e, por último, o ambiente cultural" (Perrow, 1981,p.208).

Etzioni (1978,p.62) define três objetivos e estabelece


correspondência com o exercício do poder nas entidades jurídicas em virtude do
que se configuram três tipos delas:
1) Objetivos de ordem. Relacionam-se com o poder coercitivo
das entidades que se servem de recursos ou sanções físicas e segregam pessoas
para impedi-las de comportamentos indesejáveis. São exemplificadas com as
penitenciárias e certas seitas religiosas que são organizações coercitivas.
2) Objetivos econômicos. Relacionam-se com o poder
remunerativo das instituições que têm como finalidade a produção de bens e
188

serviços e se utilizam de recursos materiais. São organizações utilitárias, servindo


de exemplos as empresas capitalistas que fabricam sapatos e as que prestam
assistência médica etc.
3) Objetivos culturais. Relacionam-se com o poder normativo
procurando a criação e a preservação de objetivos simbólicos, valendo-se de
recompensas também simbólicas como a estima, o prestígio. Os centros culturais,
as instituições socializantes - escolas, grêmios, clubes - são exemplos de
organizações normativas.

9.2. Taxionomia segundo os papéis


Após colocarem algumas questões sobre os critérios para
definição de uma taxionomia de entidades jurídicas e a impossibilidade de uma
taxionomia ser satisfatoriamente lógica, Katz e Khan promovem uma distinção
entre fatores de primeira ordem, que descrevem a função genotípica da
Organização e fatores de segunda ordem que, em geral, se relacionam a tais
funções básicas.
Entendendo a função genotípica como "o tipo de atividade em
que a organização se acha empenhada, como um subsistema do todo maior que é a
sociedade", justificam-nas com os papéis que elas assumem na sociedade: de
produção, manutenção, adaptação e administração. São, portanto, quatro tipos de
primeira ordem, com subtipos.
1) Organizações produtivas ou econômicas. São as que se
dedicam à criação de riqueza, à manufatura de bens e à prestação de serviços para
o público em geral, ou para segmentos específicos de tal público.

Subtipos:
- de atividades primárias: agricultura, pecuária e mineração;
- de atividades secundárias: manufatura e processamento; e
- de atividades terciárias: serviços e comunicação.
189

Proporcionam o produto para as mais básicas necessidades


humanas, bem assim recompensas que induzem a manterem a ordem coletiva.
2) Organizações de manutenção. Dedicam-se à socialização das
pessoas para seus papéis em outras entidades e no todo maior constituído pela
sociedade.
Subtipos:
- função de manutenção: educação, doutrinamento e treinamento; e
- função de restauração: atividades de saúde e bem estar,
instituições de reabilitação.
Ajudam a evitar que a sociedade se desarticule e são
responsáveis por sua integração normativa.

3) Organizações (estruturas) adaptativas. Criam conhecimento,


desenvolvem e testam teorias e, até certo ponto, aplicam as informações
disponíveis nos problemas existentes.
Subtipos:
- atividades de pesquisa: universidades e outros institutos; e
- atividades artísticas: conservatórios, centros culturais etc.

4) Organizações com função gerencial ou política. São


organizações que englobam as atividades organizacionais que se dedicam à
adjudicação, coordenação e controle de recursos, pessoas e subsistemas. O Estado
é a principal estrutura de autoridade da sociedade.
Subtipos:
- subsistemas governamentais: ministérios, secretarias; e
- estruturas políticas adjuntas: partidos políticos, grupos de
pressão, sindicatos e entidades que defendem interesses
cooperativistas etc.
190

“O Estado proporciona uma forma de legitimação em seus estatutos legais e


detém um monopólio teórico sobre o uso organizado da força física para a mobilização da
sociedade contra os inimigos externos e os rebeldes internos" (Katz & Kahn, 1968, p.135-
36, passim.).

Fica admitido, assim, que tais taxionomias não apresentam


divergências relevantes no que concerne à validade dos objetivos enquanto
operacionalização de finalidades como critérios pertinentes de uma categorização,
mas enriquecem a significância de suas especificidade com novas características,
diferentes entre si, no avanço pela proliferação, geratriz de diferenciação e
diversificação. O mesmo acontece com a dos papéis deles derivados. Assim
sendo, com graus crescentes de difusão na evolução de seus estados, as entidades
jurídicas vão assumindo características distintas em conformidade com os
objetivos e os papéis, sem perder a singularidade de sistema sociocultural.

9.3. Taxionomia segundo as mantenedoras


Nesta taxionomia o critério das mantenedoras antecede as
demais categorias por ser mais abrangente. Ela apresenta níveis em conformidade
com a especialização, partindo da Organização Geral, no primeiro.
No segundo nível, da semi-especialização, a Organização se
subdivide em três ramos, tendo em vista uma primeira transformação da teleologia
em objetivos e estes configurando papéis, mostrando esses algumas diferenças
entre si o que já possibilita uma discriminação. São elas:
1) Organização Pública que se configura nas repartições públicas
e tem como objetivo a prestação de serviços;
2) Organização Confessional que se realiza nos templos e tem
como objetivo a difusão de uma crença religiosa; e
3) Organização Privada, das empresas que visam lucro,
produzindo bens de consumo, bens duráveis ou serviços à comunidade.
Na dimensão da perspectiva há que se considerar as coações das
condições locais que promovem a diversificação. A Propaganda, por exemplo, só
191

pode ser feita pela televisão para os locais onde chegam seus sinais. Isso não
ocorrendo, talvez seja possível o rádio, o serviço de alto-falantes, o jornal, o
folhetim, o que indica variáveis de um mesmo nível de especialização. A
utilização de imagem, de som e de escrita, portanto, são alternativas da
diversificação da comunicação e, na prática, a opção por uma ou mais dessas
alternativas depende do desenvolvimento circunstancial do contexto.
A organização pública. Numa primeira abordagem pode-se
pensar que os campos funcionais de suas repartições não apresentam uma
unicidade de objetivos suficiente para que todas sejam enquadradas numa mesma
categoria que tenha por fim a prestação de serviços. Na realidade elas não podem
visar lucro por pertencerem a uma esfera administrativa oficial e nem pregar uma
doutrina religiosa ou mesmo adotar uma religião oficial, sob pena de se deixarem
influenciar pelo lucro ou pela doutrina das crenças. Isto, é o que elas não podem
ser.
No terceiro nível da pirâmide encontra-se o seu objeto - para o
que são dirigidos os serviços:
a) repartições para prestação de serviços ao próprio Estado: da
Fazenda, da Economia, do Planejamento, da Administração e outras;
b) repartições para prestação de serviços à população: da
Educação, da Saúde, da Justiça, de Obras, de Segurança, de Transportes etc.; e
c) repartições para prestação de serviços aos setores da
produtividade: da Agricultura, da Indústria e do Comércio.
Nenhuma delas concorre com as empresas privadas. Mesmo
aquelas que servem aos setores de produção têm seu campo funcional
exclusivamente voltado para o incremento e execução de políticas do Governo,
produção de pesquisas científicas e tecnológicas, assistência técnica e financeira,
estímulo e incentivos à iniciativa privada e outras ações congêneres. Este
direcionamento de seus objetivos, por si só, justifica a sua categorização. Mas, há
um derivativo: as empresas estatais que se confundem com as privadas e que
trazem, embutido em sua própria denominação, o seu caráter misto. Como estatais
192

não podem visar o lucro mas como empresas podem. Para solucionar o dilema, o
lucro das estatais, quando existem, são reinvestidos em seus respectivos setores de
produção, após a remuneração das ações em poder de particulares como o fazem a
Telesp, o Banco do Brasil, a Petrobrás etc. Há duas escapatórias legais: as
entidades de servidores que organizam e registram institutos como entidades
jurídicas e as fundações. Ambas têm seus serviços remunerados.
As categorias de objetivos de Cyert e March, citados por Perrow,
aplicam-se às entidades da Organização Pública. Os objetivos de produção são os
serviços, muitos dos quais assumem os parâmetros de assistencialismo, o que é
mais próprio das nações em desenvolvimento ou subdesenvolvidas. Os objetivos
de sistema tendem para a estabilidade, poucos riscos e mudanças pouco
expressivas. A expansão também tem uma certa prioridade, mais na disputa de
espaços entre as repartições congêneres do que na abertura de novos serviços. No
geral, a disputa limita-se à vinculação de estatais às repartições. Os objetivos
caracterizados pelos produtos enfatizam a quantidade, por conseqüência de uma
defasagem entre a demanda e a oferta. Os objetivos derivados são inerentes a sua
natureza. Como exemplo, pode-se citar as campanhas de "esclarecimentos", de
valorização deste ou daquele serviço ou obra. É fato inconteste, ainda, que uma
repartição de Planejamento pode interferir com grande força na política de
investimentos, mas também a da Fazenda. Contudo, as pessoas que exercem o seu
poder é que concretizam o aproveitamento de seu potencial de influência.
Não são utilitárias ou econômicas na conceituação de Etzioni ou
produtivas como Katz e Khan dividem os papéis, mas seguramente buscam, as
repartições públicas, objetivos de ordem e culturais, bem como de manutenção, de
adaptação e políticos nas classificações respectivas dos autores citados acima.
No exame da pirâmide pode ter havido uma pergunta: onde está
a organização militar? Bem, a militar não chega a ser um tipo de organização, na
amplitude com que a organização está sendo tratada aqui. Ela é uma aplicação até
os últimos detalhes da burocracia weberiana com a agravante determinada pela
rigidez da ordem disciplinar e respeito pleno pela hierarquia fixa. É o protótipo da
193

organização de sistema que pode suportar a ação do desenvolvimento de pesquisas


sem grandes alterações. Neste ponto chega a se isolar. Enquadra-se como
repartição prestadora de serviços tanto ao Estado, enquanto Forças Armadas,
quanto à população, enquanto Polícia Militar. Localiza-se no terceiro nível da
dimensão vertical do ramo da Organização Pública.
A organização confessional O seu objetivo é bastante
característico: pregação de crença religiosa que, buscado a partir dos templos,
alcança também as calçadas das ruas. Embora com fortes nuances morais, o que a
conduz para os meandros da socialização, o seu fator de sustentação mais forte é a
imagem de um ser supremo, profetas ou ungidos pelos céus que capitalizam a fé
de grande número de pessoas que acabam por se reunirem sob a égide de um credo
ou seita. Não é, em sua essência, prestadora de serviços materiais, mas pode sê-lo
eventualmente como meio de sua sobrevivência. Em razão disso, pratica
assistência psicológica e social, defende direitos humanos, prega justiça social,
mas o seu fim primeiro e último é a prática de dogmas da fé religiosa. Nos tempos
modernos, é rara a sua inclusão como elemento do Estado, porém, quando isto
acontece, faz prevalecer os seus dogmas sobre as normas sociais de
responsabilidade oficial, como alguns países do Oriente Médio.
No terceiro nível, numa análise mais voltada para o Ocidente,
pode-se subdividi-la em Católica e Evangélica e outras crenças. O modelo
organizacional da Evangélica tem um processo decisório bastante descentralizado
e com um clero que envolve a participação popular com mais facilidade,
diferentemente da Católica que é extremamente centralizada mundialmente e que,
somente a partir do II Concílio Ecumênico de 1962, volta-se para a necessidade da
participação popular tanto no seu ritual quanto na sua pregação de campo e na
ação assistencial. O rigor à obediência aos dogmas chega a levar até mesmo à
expulsão dos sujeitos que integram o clero e à excomunhão dos praticantes civis, o
que não ocorre na Evangélica que, inclusive, tem muitas subdivisões pela
interação mais acentuada com o seu meio-ambiente próximo. É a que mais se
diversifica no nível da especialização da dimensão vertical.
194

A produção das entidades da Organização Confessional é a


crença religiosa, por conseguinte, os sujeitos crentes em sua fé e obedientes às
suas normas e dogmas. No entretanto, tanto as evangélicas como a católica
acrescentam às preexistentes, novas funções como de assistência, de formação de
mão-de-obra e de politização. Essas novas funções, às vezes, confundem a
população sobre seus verdadeiros objetivos. Talvez seja nelas onde haja mais
dificuldades para se separar os fins dos meios. Por exemplo, a opção pelos pobres
e pelos sem-terra da Igreja Católica no Brasil é objetivo ou meio para pregação da
sua crença? Ou, ao contrário, a pregação da crença é meio para se denunciar as
injustiças sociais?
Os objetivos de sistema das entidades religiosas estão em
conflito no mundo moderno, pois há um verdadeiro gládio entre a corrente dos
clérigos progressistas e conservadores que pode influir até mesmo nos objetivos
de produto, com a formação de fiéis com características bem diferentes daquelas
na primeira metade do século. Os objetivos derivados são praticados com muita
intensidade. Ninguém ousa duvidar da força da religião num pleito político ou
dentro de uma entidade laica qualquer. Não são poucos os empresários que
mandam celebrar missas ou realizar cultos em datas especiais. A história mundial
e a brasileira registram muitos casos em que clérigos exerceram papéis
preponderantes em convulsões sociais e nos governos.
Na classificação de Etzioni podem ser localizadas como
protótipos de estruturas coercivas, sem objetivos econômicos aparentes, mas com
objetivos culturais socializantes. Katz e Khan, possivelmente, as enquadrariam
como de manutenção e, na medida em que mantenham escolas, assumiriam a
condição de adaptativas.
A organização privada. Não se tratará aqui sobre a migração
do poder decisório da organização privada das famílias proprietárias das empresas
para às mãos de profissionais, tampouco da passagem das propriedades rurais
herdadas para as de personalidade jurídica. Buscar-se-á apenas a sua
caracterização pelo objetivo que orienta a sua organização: a obtenção de lucro.
195

Própria das economias capitalistas, seja qual for o objetivo


declarado para consumo externo, o fim último será sempre a reprodução do capital
investido, através da produção de bens ou de serviços. Às vezes esse lucro é
disfarçado, total ou parcialmente, pela remuneração dada ou mordomias gozadas
pelos integrantes da diretoria como é muito comum nas associações de ensino, ou
remuneração de seus profissionais especialistas, como é o caso dos hospitais.
Algumas vezes são montadas para darem prejuízo em seus balanços cujo reflexo
será convertido na diminuição de imposto de renda a ser pago pelo conglomerado
a que pertencem, o que aumenta a renda líquida do todo. Recorrem até ao subsídio
oficial para sua manutenção, mas sem perder de vista o lucro. Sem este, ela
deixará de existir, sejam quais forem as circunstâncias, salvo no caso de prejuízo
de uma refletindo no rebaixamento do montante fiscal do conglomerado, como se
disse linhas atrás.
No terceiro nível buscou-se uma subdivisão à luz dos setores de
produção e dos serviços. Com esse critério a orientar a categorização tem-se a
Empresa Agrícola, a Empresa Industrial, a Empresa Comercial e a Empresa
Prestadora de Serviços.
Em torno do objetivo lucro, giram todas as atividades, estejam
elas nas instalações de creches, de postos de assistência médica, de lazer, de
treinamento para consumo interno, sejam para consumo externo de propaganda,
patrocínio de exposições, eventos artísticos, equipes esportivas etc. O que vale é o
"superávit" no balanço final. Os objetivos de produção, assim, se multiplicam.
Nos objetivos de sistema a maior parte das atividades são orientadas para a
expansão dos negócios, conquista de espaços no mercado, no que admitem riscos,
mas nem sempre a inovação, senão nas grandes empresas dirigidas por
profissionais substituíveis. Em verdade, um diagnóstico das empresas sob o
critério dos objetivos de sistema é temerário, porque o cruzamento deles é bastante
complexo e a intensidade está estreitamente ligada às variações de mercado, que
pretendem neoliberal, com pequena intervenção do Estado, i.é, diminuição do
tamanho do Estado em favor da iniciativa particular.
196

Os objetivos de produto estão ligados às exigências dos


consumidores que exercem controle sobre a produção. Para evitar as influências
de tal controle, as empresas procuram, de sua parte, controlar as necessidades dos
consumidores pela mídia escrita, falada e televisada e outros veículos.
Ampliam os seus recursos com objetivos derivados, mormente
através de suas respectivas associações rurais, industriais, comerciais e de classes
que vão até às federações de âmbito nacional, sem menosprezar as ações mais
modernas sobre a população e os poderes oficiais da comunidade e a eleição de
representantes para o Poder Legislativo em suas três esferas.
Predominantemente econômicas ou produtoras na classificação
de Etzioni e Katz e Khan, valem-se dos objetivos culturais para a sua manutenção.
Eventualmente criam organizações adaptativas agregadas ao seu objetivo de
produto. Das três categorias da semi-especialização são as mais flexíveis e
propícias às mudanças, bem como as mais proliferantes na especialização e na
diversificação, na ultrapassagem do terceiro nível.
Contudo, como no capitalismo a livre iniciativa é estimulada e
até mesmo subvencionada em alguns casos, se não é impossível, pelo menos é
extraordinariamente difícil, estabelecer um perfil da organização privada, tantas
são as nuances que as empresas apresentam no seu afã de sobreviver num regime
de concorrência de mercado. Longe delas, a entropia. Por outro lado, está na
organização privada o risco maior no diagnóstico de seus objetivos reais.
No quarto nível, da superespecialização, a proliferação de cada uma
das especializações do terceiro nível é tão grande que seria muito difícil de catalogar seus
espécimens, que até se torna dispensável pela facilidade com que são observados,
empiricamente. A título de orientação para a fluência do raciocínio, contudo, pode-se
promover algum delineamento. Se se pode encontrar algum aprofundamento na
subdivisão da Agrícola, por causa da diferenciação desse ramo na produção de alimentos
de plantio perene ou anual, produção de fibras, assim por diante, será maior na Industrial
e maior ainda na Comercial que englobará a compra e venda, tanto do setor agrícola
como do industrial. Já a Organização de Empresa de Serviços, como escritórios de
197

contabilidade, de auditoria, de advocacia, consultórios médicos e de dentistas, agências


bancárias, a especialização, então, será muito maior e incessante.
Figura 8. A pirâmide de proliferação das organizações, segundo as
entidades mantenedoras, em anexo ao capítulo.

10. A ORGANIZAÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA


Dando sustentação à pirâmide, não na base, mas no pedestal da
pirâmide, tem-se a Organização da Infra-Estrutura. Não se trata de mais um nível de
proliferação na fluência do raciocínio que vem sendo utilizado ou uma outra categoria. É,
sim, o conjunto de serviços encontrado em toda e qualquer entidade jurídica e utilizável
por qualquer de suas especializações ou diversificações.
Para identificar a sua composição partiu-se do módulo básico dos
sistemas abertos. No "input" está a organização de pessoal, de finanças, de material e de
matéria-prima. No "troughput" a organização de produção e no "output" a de vendas e
oferta de outros serviços. A partir desse nível de classificação, a exemplo do que ocorre
com a Organização Geral, há especialização, como por exemplo a Organização de
Pessoal das Repartições Públicas, dos Templos Religiosos, das Empresas Privadas e
assim por diante; cada uma delas mantendo características próprias geneanômicas e
teleonômicas, originadas do tronco comum que lhes dá especificidade. Suas atividades
colocam-se num plano hierárquico inferior nas entidades jurídicas, embora também elas
tenham sob seu comando uma certa quantidade de pessoal hierarquizado e variável em
conformidade com as necessidades dos serviços. Não têm a visão do todo em que se
localizam, todavia, muitas vezes, funcionam como assessoria para as decisões da parte
dirigente.

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200

Anexo 8. A pirâmide de proliferação das organizações, segundo as entidades


mantenedoras

gênero

espécie
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