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Copyright, 2002
I E F P
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida, por qualquer forma ou acesso sem o consentimento prévio, por escrito, do IEFP ou da UA.
Produção apoiada pelo Programa Operacional Formação Profissional e Emprego, co-financiado pelo Estado Português e pela União Europeia, através do Fundo Social Europeu
Índice
Objectivos Globais 7
Introdução 9
Unidadade Didáctica 1
Fontes do Direito do Trabalho 11
Fontes internas 13
Fontes externas 22
do Direito do Trabalho 24
Unidadade Didáctica 2
Contrato Individual de Trabalho 27
Noção legal 29
Unidadade Didáctica 3
O Trabalhador 55
Categoria 58
Legislação Laboral 3
Ius Variandi 66
Antiguidade 68
Direitos do Trabalhador 76
Unidadade Didáctica 4
A Entidade Contratante 79
Dever Principal 83
Poderes Patronais 85
Limites processuais 87
Limites temporais 88
Unidadade Didáctica 5
A Relação Individual do Trabalho 93
Termo e Condição 96
Feriados 107
Férias 108
4 Legislação Laboral
Retribuição 111
de Trabalho 115
Unidadade Didáctica 6
As Relações Colectivas de Trabalho 129
Unidadade Didáctica 7
Regime Geral da Segurança Social 183
Bibliografia 209
Abreviaturas 213
Legislação Laboral 5
Objectivos Globais
Fontes do Direito do Trabalho
O Trabalhador
A Entidade Contratante
Legislação Laboral 7
tiva de trabalho – sua importância na área do direito laboral;
caracterizar os conflitos laborais colectivos – a greve e o “lock-out”.
Regime Geral da Segurança Social
8 Legislação Laboral
Introdução
No presente manual, sob a epígrafe “Legislação Laboral”, pretende-se fazer um
enquadramento global da disciplina normativa usualmente designada como
“Direito do Trabalho”.
Na altura em que surge a realização deste estudo deparamo-nos com a
aprovação de um novo Código do Trabalho, cuja entrada em vigor ocorreu em
1 de Dezembro de 2003, e cujo principal intuito foi o de aglutinar num único
diploma o cerne de toda a legislação laboral.
Ao longo deste trabalho, procurámos apresentar as várias temáticas da área
laboral mediante um enquadramento sistemático e frequentes remissões para
o novo Código do Trabalho. Também as inovações relativamente à anterior
legislação, são brevemente referenciadas em sede própria, leia-se nos locais
em que é tratada a matéria em causa.
Nas matérias em que as alterações são significativas, é apresentado um
resumo da forma como então o tema em causa era regulado pela legislação
aplicável.
A defesa dos interesses do trabalhador, enquanto a parte “mais fraca” na
relação laboral, continua a presidir às opções legislativas, notando-se contudo
um certo fortalecimento da posição do empregador numa perspectiva de defe-
sa da lógica empresarial.
O novo Código do Trabalho remete para legislação complementar a regulação
de uma grande parte das matérias neste tratadas sumariamente, o que em
nosso entender poderá representar um revés no cumprimento do objectivo
aglutinador a que este se propôs inicialmente.
A aprovação da Lei n.º 35/2004, de 29 de Julho, vem concretizar, pelo menos
numa parte significativa, o objectivo pretendido, ao estabelecer, num único
diploma, a regulamentação da grande maioria das matérias constantes do
Código do Trabalho.
Importa referir, porém, que as normas revogatórias quer da lei Preambular ao
Código do Trabalho (Lei n.º 99/2003, de 23 de Agosto), quer da Lei n.º 35/2004,
de 29 de Julho, não extinguiram toda a legislação laboral existente.
Legislação Laboral 9
.
Unidade Didáctica 1
Fontes do Direito do Trabalho
Legislação Laboral 11
Fontes do Direito do Trabalho
Nas fontes de Direito do Trabalho há a considerar as internas e as externas.
Fontes internas
Estamos perante uma norma programática que não poderá ser aplicada direc-
tamente aos empregadores. Ninguém poderá exigir a um empregador, com
base nesta norma, que lhe arranje trabalho.
Legislação Laboral 13
Não obstante a existência de algumas regras que têm aplicação directa, em ter-
mos práticos é muito difícil a sua aplicação, excepto quando complementadas
por leis concretas que as regulamentam, permitindo a sua concretização.
Relativamente a grande parte destas normas, encontramos já concretizações a
nível legislativo - ex. art. 57º (Direito à greve) - concretizado através das dis-
posições constantes dos art.s 591º e ss. do novo Código do Trabalho (matéria
anteriormente regulada na Lei da Greve - Lei 65/77 de 26/8).
Nestes artigos, em especial nos 54º a 57º, verificamos que houve uma grande
preocupação com os problemas laborais ao nível das relações colectivas.
Apenas o art. 53º, relativo à segurança no emprego se aplica às relações indi-
viduais.
Tal facto resulta do contexto em que foi elaborada a CRP de 1976. Em 1969
havia surgido a LCT, que tinha em conta relação individual de trabalho e a pro-
tecção do trabalhador no âmbito da mesma. Em 1976, os problemas laborais
suscitavam-se essencialmente a nível colectivo, o que se veio a reflectir na
actuação do legislador constitucional.
Leis Ordinárias
No âmbito das leis ordinárias há uma questão prévia a ter em conta e que se
traduz no imperativo constitucional que determina que os sindicatos e as comis-
sões de trabalhadores sejam ouvidos aquando da realização/ feitura destas
leis.
14 Legislação Laboral
Tal facto tem repercussões ao nível da interpretação das leis, porque, muitas
vezes essas leis são feitas através de concertação social em que são chama-
dos os sindicatos e as associações patronais – apesar de não haver obrigato-
riedade quanto à intervenção destas últimas. São então tidos em conta
posições/ pareceres tanto das associações sindicais, como das patronais, e
tais pareceres e tentativas de alteração acabam por distorcer a redacção inicial
dos preceitos criando sérios obstáculos à sua interpretação.
[Um caso claro que denotava tal situação, eram as dúvidas interpretativas no
âmbito da chamada Lei das 40 horas - Lei 21/96 de 23/7 - revogada pelo art.
21º n.º 1 al. t) CT.]
Nos termos da Lei que regulava tal intervenção – Lei 16/79 de 26 de Maio, o
Governo estava obrigado a ouvir os sindicatos. No entanto, tal parecer é mera-
mente consultivo e não vinculativo. Esta Lei foi revogada pelo art. 21º n.º 1 al.
f) da Lei 99/2003 de 27/08 que aprova o Código do Trabalho. Tal matéria surge
então regulada pelos arts. 524º e ss. do CT. O art. 525º do CT, sob a epígrafe
“Precedência de discussão” estabelece que:
Costumes/ Usos
A LCT foi revogada pelo art. 21º n.º 1 al. a) da Lei que aprova o Código do
Trabalho (CT). O art. 1º do CT reproduz, de forma clara o teor do anterior art.
12º da LCT.
O costume, enquanto prática reiterada com convicção de obrigatoriedade, num
ordenamento jurídico como o português já não têm grande relevo, uma vez que
se legisla muito. Sucede frequentemente este ser recebido pela própria lei, ou
ser afastado por ela – deixando, em qualquer dos casos, de ter aplicação práti-
ca de “per si”.
Legislação Laboral 15
que, desde que não contrariem as normas legais e os instrumentos de regula-
mentação colectiva e não sejam contrários aos princípios da boa fé, “serão
atendíveis os usos da profissão do trabalhador e das empresas, salvo se outra
coisa for convencionada por escrito”.
Esta norma é reproduzida pelo art. 1º do CT, que faz expressa referência aos
“usos laborais que não contrariem o princípio da boa fé”.
Surge contudo uma dificuldade que consiste em saber em que medida tais usos
podem ou não funcionar e se vinculam ou não em determinadas circunstâncias.
E como distingui-los de meras liberalidades. Não é uma questão pacífica.
Ex. a situação de saber se, o facto de, durante vários anos os trabalhadores de
determinada empresa saírem 2 horas mais cedo na véspera de um feriado
constitui um uso, foi levantada perante os tribunais, tendo o Tribunal da
Relação decidido, em sede de recurso, que estaria em causa uma mera libe-
ralidade que, a qualquer momento poderia ser retirada.
Além destas normas que são comuns a todos os trabalhadores, em certos tipos
contratuais, até porque a especificidade do regime o justifica, o legislador
remete para os usos. É o caso da agricultura, do trabalho portuário e a bordo.
Assentos
16 Legislação Laboral
Jurisprudência e Doutrina
Qualquer uma destas fontes não tem especificidades ao nível do Direito do
Trabalho.
Regulamentos internos
São elaborados pelo empregador, dentro dos limites decorrentes do contrato e
das normas que o regem e no âmbito da sua competência (art.s 150º e 153º
CT ? 39º LCT).
Legislação Laboral 17
Fontes colectivas
Convenção colectiva
A própria lei a consagra como fonte de direito – art. 1º CT (ref.ª aos “instrumen-
tos de regulamentação colectiva de trabalho”).
Tendo por base uma convenção colectiva padrão, são depois celebrados diver-
sos contratos de trabalho. Esta convenção colectiva aplicar-se-á a estes con-
tratos de trabalho na medida em que, tanto o trabalhador como o empregador
sejam filiados nas respectivas associações que outorgaram a convenção.
Estamos perante o princípio da filiação – não estando filiados em tais associ-
ações não lhes é aplicável a convenção.
18 Legislação Laboral
Nas convenções colectivas existe a parte obrigacional, que abrange diversas
situações concernentes às próprias partes que outorgam a convenção, e a
parte regulamentar, aplicável não às partes que a negoceiam mas a terceiros
(trabalhadores e empresas filiados nas associações que outorgam a con-
venção).
Acordo de Adesão
art. 563º CT
Surge numa situação em que existe uma convenção colectiva e em que deter-
minado sindicato ou empresa não filiada na associação outorgante, pretende
que tal convenção lhe seja aplicável. Ou é o próprio ministério responsável pela
área laboral que pretende que tal convenção se aplique àquele sindicato ou
empresa, fazendo publicar um aviso no Boletim de Trabalho e Emprego. No
caso do sindicato, ou da empresa, não recorrerem ao acordo de adesão, o min-
istério manda aplicar-lhes a convenção através de uma portaria de extensão.
Legislação Laboral 19
ctiva. Celebram então um acordo arbitral para que o consenso se consiga
através de uma arbitragem. Nomeiam 2 árbitros e estes nomeiam um terceiro
– e este Tribunal arbitral vai então decidir – é o próprio Tribunal que cria as
regras que acha convenientes para resolver aqueles problemas próprios das
relações colectivas. É da decisão que vai sair o instrumento de regulamentação
colectiva. Esta decisão vincula as partes.
A origem é convencional – só há arbitragem na medida em que as partes qui-
serem. No entanto, no momento em que fazem o acordo, colocam nas mãos
dos árbitros o estabelecimento das regras, sua criação e discussão. Regras
essas que vão ser imperativas para as partes.
Esta figura prevê uma situação similar à supra referida, mas em que as partes
não pretendem recorrer à arbitragem voluntária. Perante esta situação é o
próprio ministério a escolher os árbitros.
Regulamento de Extensão
art.s 574º, 575º e 576º CT (anteriormente designado como portaria de exten-
são prevista no art. 29º LRCT)
Ao ser celebrada uma convenção colectiva, sabe-se à partida que esta só será
aplicável aos outorgantes e respectivos filiados. Não se aplicará a tra-
balhadores de uma empresa não filiada na associação patronal outorgante,
bem como a trabalhadores não filiados o sindicato outorgante.
20 Legislação Laboral
valer no domínio dos contratos das empresas não filiadas na associação
patronal.
Tem aplicação apenas para empresas do mesmo ramo.
Legislação Laboral 21
Fontes externas
Convenções internacionais
(OIT – Organização Internacional de Trabalho)
Desde o momento em que Portugal ratifique uma convenção da OIT, esta passa
a valer imediatamente na ordem jurídica portuguesa, podendo ser invocada por
qualquer trabalhador ou empregador - princípio da recepção automática - art. 8º
n.º 2 da CRP.
Direito Comunitário
Regulamentos comunitários – são directamente aplicáveis a todas as pessoas
singulares ou colectivas no âmbito territorial dos Estados membros, vigorando
directamente na nossa ordem interna – art. 8º n.º 3 da CRP.
Directivas comunitárias – não se impõem directamente às pessoas, mas aos
Estados membros, que devem procurar atingir os resultados nelas previstos,
escolhendo os processos, a forma e os meios de as aplicar.
22 Legislação Laboral
Hierarquia das Fontes em Direito do Trabalho
Em termos gerais de estrutura hierárquica, a mesma apresenta-se da seguinte
forma:
2º - Direito Internacional;
7º - Regulamentos internos.
Os art.s 4º e 5º do CT (anterior art. 13º LCT) parecem permitir que uma norma
inferior estabelecendo um tratamento mais favorável para o trabalhador,
prevaleça sobre uma norma superior. Mas isto não se verifica, dada a exigên-
cia verificada na expressão - “salvo quando delas resultar o contrário”.
Os arts. 531º, 533º e 536º do CT (arts. 6º e 14º da LRCT), vêm admitir que
instrumentos de regulamentação colectiva prevaleçam sobre a lei, quando
estabeleçam situações mais favoráveis para o trabalhador, com os limites pre-
vistos nestas normas.
Legislação Laboral 23
Interpretação, integração e aplicação
das normas do Direito do Trabalho
O Direito do Trabalho surge pelo facto de haver uma distorção fáctica entre a
posição do trabalhador e a do empregador. O trabalhador está dependente,
pelo que não pode negociar em igualdade de circunstâncias as condições do
contrato de trabalho, com o empregador. O Direito do Trabalho terá surgido
para o proteger – ideia do “favor laboratoris”.
24 Legislação Laboral
Aplicação da Lei do Trabalho no tempo
O art. 12º do Código Civil estabelece o princípio geral da não retroactividade
das leis. Tem-se entendido que as leis de trabalho são de aplicação imediata.
Contudo, não existe aqui uma verdadeira retroactividade, porque as situações
constituídas não são postas em causa por novas leis. O que se verifica é que,
dados os contratos de trabalho se prolongarem no tempo, vão-lhes ser
aplicáveis leis, que não existiam à data da sua celebração.
Aplicação da Lei do Trabalho no espaço
Legislação Laboral 25
Unidade Didáctica 2
Contrato Individual de Trabalho
Legislação Laboral 27
Contrato Individual de Trabalho
Noção legal
O Direito do Trabalho tem o seu campo de actuação delimitado pela situação
de trabalho subordinado.
Legislação Laboral 29
Elementos estruturantes do contrato de trabalho
subordinado
Os elementos fundamentais do contrato de trabalho subordinado são quatro:
a)Objecto do contrato;
b)Sujeitos do contrato;
c)Retribuição
d)Subordinação jurídica
Objecto do contrato
Este elemento tem sido utilizado para diferenciar o contrato de trabalho subor-
dinado do contrato de prestação de serviços.
O primeiro tem por objectivo uma actividade, de tal modo que os resultados a
que essa actividade possa conduzir são inteiramente alheios ao objecto do con-
trato.
A distinção entre estas duas obrigações é pouco nítida, dada a relação intrínse-
ca entre uma actividade e os resultados a que essa actividade possa conduzir.
30 Legislação Laboral
O objecto do contrato de trabalho é uma actividade. Contudo, podem surgir
situações de inactividade do trabalhador, sem que exista incumprimento do
contrato por parte deste.
Ex. – por factos ligados à empresa – quando numa loja, durante todo o dia
ninguém aparece para comprar – a situação do trabalhador não estar ocupado
não lhe pode ser tributável, porque resulta de factos ligados à própria empresa.
Outros exemplos surgem em contratos cujo objectivo não é definido por refe-
rência a uma actividade concreta, ou em contratos de trabalho subordinado de
pessoas incumbidas de fazer a vigilância de locais – nada têm que fazer, salvo
quando surjam situações anormais.
Legislação Laboral 31
Sujeitos do contrato
Sujeitos do contrato de trabalho são o trabalhador e a entidade patronal.
O trabalhador é aquele que, por um contrato de trabalho subordinado coloca a
sua força de trabalho na disposição de outrem, mediante uma retribuição.
Retribuição
Subordinação jurídica
32 Legislação Laboral
regras ou orientações ditadas pelo empregador, dentro dos limites do mesmo
contrato e das normas que o regem.
não tem de transparecer em cada momento do contrato. Para que ela exista
basta que o seu titular tenha o direito de fiscalizar e de orientar a conduta do
trabalhador. Basta que exista o estado de dependência potencial do tra-
balhador face ao empregador.
o facto de aquele que exerce a sua actividade a favor de outrem ver na ret-
ribuição o principal meio de subsistência;
Legislação Laboral 33
Há admissibilidade legalmente expressa, da existência de um poder de desobe-
diência legítima, sempre que o empregador dê ordens que vão além do objecto
do contrato ou das normas que o regem. Isto é, sempre que o trabalhador dê
ordens que são contrárias aos direitos e garantias dos trabalhadores, estes têm
o direito ou o poder supra mencionado
34 Legislação Laboral
Diferenças entre Contrato de Trabalho
subordinado e figuras afins
1) Contrato de trabalho (trabalho subordinado) – art. 1152º CC
Contrato de prestação de serviços (trabalho autónomo) – art. 1154º CC
Nota: quando estamos perante um contrato de trabalho que tenha por objecto
a prática de actos jurídicos, deve atender-se ao facto de tais actos serem ou
não praticados ao abrigo da existência de uma relação de subordinação jurídi-
ca. Não o sendo estaremos perante um contrato de prestação de serviços.
Legislação Laboral 35
O critério básico que diferencia o trabalho subordinado do trabalho autónomo é
a existência, ou não, de subordinação jurídica que se manifesta pela existência
de uma série de indícios:
Existem duas teses que procuram esclarecer a que regime ficam sujeitos estes
contratos.
A primeira, defendida pelos Profs. Menezes Cordeiro e Monteiro Fernandes,
entende que até ao surgimento de regulamentação especial, o legislador visa
expressamente afastar a aplicabilidade do Direito do Trabalho. Não faz sentido
aplicar o Direito do Trabalho a estes contratos dado que o CT visa o direito de
trabalho como um ordenamento todo ele dominado em torno da ideia de sub-
36 Legislação Laboral
ordinação jurídica, que nestes contratos não existe de todo porque são con-
tratos de prestação de serviços.
A segunda, preconizada pelos Drs. Barros Moura e Lobo Xavier, defende que
até ao surgimento da regulamentação especial, estes contratos ficam sujeitos
ao Direito do Trabalho, porque só assim seria possível atribuir um sentido útil à
referência do art. 13º do CT feita aos princípios, por forma a permitir a inte-
gração da lacuna que existe neste momento no nosso ordenamento.
Já o Prof. Pedro Romano Martinez, entendia que todo o regime estava regula-
mentado pelo DL 440/91 de 14/11, apesar deste apenas falar no trabalho exer-
cido no domicílio.
Este diploma veio a ser revogado pelo art. 10º n.º 1 al. c) da Lei 35/2004, de 29
de Julho. No entanto, o Capítulo III desta Lei, sob a epígrafe “Trabalho no
domicílio” regulamenta actualmente esta matéria, estabelecendo o art. 14º n.º
1 que “O presente capítulo regula o art. 13º do Código do Trabalho”, onde
surgem previstos os contratos ora em análise, facto que veio fazer prevalecer
a tese defendida pelo Prof. Pedro Romano Martinez.
Parece não existir qualquer possibilidade de confundir estes dois tipos de con-
trato. Sucede porém que a noção de sociedade admite a possibilidade do sócio
entrar com capital ou com trabalho (sócios de indústria) – caso em que podem
surgir algumas situações de conflito. Ex. alguém entra para uma sociedade e a
sua prestação vai ser o seu trabalho como gerente. Poderá aqui falar-se de
contrato de trabalho? Entende o Prof. Pedro Romano Martinez que não, porque
o sócio gerente não pode dar ordens a si próprio nem estar sujeito a um poder
de direcção que também lhe pertence.
Legislação Laboral 37
hadores da protecção conferida pela existência de um contrato de trabalho.
Porque considerá-los meros sócios, deixá-los-ia sujeitos aos mecanismos de
exclusão de sócios previstos no Código das Sociedades Comerciais, em que a
protecção é muito menor.
Tais situações devem contudo ser analisadas caso a caso, partindo do pressu-
posto que não existe qualquer incompatibilidade em cumular as duas situações
–sócio de indústria e trabalhador da mesma empresa.
Existe actualmente uma tendência para ser dada aos trabalhadores partici-
pação social nas empresas (? sócios de indústria). Tal transformação dos tra-
balhadores em sócios não implica uma cessação do contrato de trabalho, nem
tem qualquer efeito a este nível.
A actuação do agente deverá ser autónoma, não obstante poder ser-lhe atribuí-
da determinada zona ou determinado círculo de clientes.
Tem sido usado como uma fuga ao contrato de trabalho relativamente à cate-
goria anteriormente designada como “trabalhador externo da empresa”.
Actualmente foi substituída pela figura dos agentes, que não representa para a
empresa os mesmos encargos laborais que um trabalhador, sendo a melhor
forma de promoção empresarial.
No contrato de agência a remuneração é determinada em função dos negócios
que tenham sido celebrados. Situação semelhante se verifica com um vende-
dor de uma empresa em que, parte da sua retribuição é flexível, em função das
comissões de vendas que lhe são atribuídas. A forma de distinguir estas duas
figuras assenta na existência ou não de subordinação jurídica. Não existindo,
estaremos perante a figura do agente. No caso contrário será um verdadeiro
trabalhador da empresa.
38 Legislação Laboral
mento, porque estamos perante um contrato em que pode haver cessação livre
por qualquer das partes com pré-aviso;
Outro dos aspectos que tem preocupado o Direito do Trabalho é a situação dos
trabalhadores contratados pelo franqueado. A responsabilidade por eles não é
da empresa franqueadora. A relação laboral é estabelecida com o franqueado
que abre o estabelecimento.
Muitas vezes estas lojas podem mudar de franqueado, por motivos de falência
ou de denúncia. O que sucede nestes casos com os trabalhadores? A ideia da
franquia é de autonomia e de separação da responsabilidade da empresa fran-
queadora, da responsabilidade por trabalhadores do franqueado. Extinguindo-
se o contrato de franquia, os contratos de trabalho podem não se extinguir por
via da caducidade.
Legislação Laboral 39
Existe um problema prático relacionado com o facto da loja, do estabelecimen-
to ser da propriedade da empresa franqueadora. Se esta celebrar um novo con-
trato com novo franqueado, o que sucede aos trabalhadores contratados pelo
primeiro?
A LCT admitia a transmissão do contrato de trabalho no art. 37º - situações de
transmissão de estabelecimento. Haverá razões para interpretar extensivamente
este artigo no sentido de enquadrar não só as típicas situações de transmissão
de estabelecimento, mas também as situações em que, não sendo uma ver-
dadeira transmissão de estabelecimento, há mudança na titularidade de quem
desenvolve o negócio? Estamos perante uma situação que é muito discutível.
O CT regula a matéria referente à transmissão de estabelecimento, nos arts.
318º e ss. numa secção designada por “Transmissão da empresa ou
Estabelecimento”, não se registando mudanças de regime significativas.
40 Legislação Laboral
Caracterização Jurídica do Contrato de Trabalho
Subordinado
é um contrato de direito privado, seguindo os parâmetros normais das
relações de direito privado, com autonomia privada. A liberdade de celebração
é total
Noutros ainda, a lei impõe que determinado tipo de contrato seja reduzido a
Legislação Laboral 41
escrito sob pena de nulidade total do contrato. Ex. um médico que pretenda ce-
lebrar um contrato de trabalho com uma determinada entidade para o exercício
da sua profissão de medicina.
é um contrato típico porque encontra regulamentação em diversa legislação
é um negócio causal porque não é abstracto – depende de uma causa para
a obrigatoriedade de cumprimento das suas prestações.
é um negócio puramente obrigacional, porque não tem qualquer efeito real,
nem no que respeita à sua constituição e efeitos, mas há que ter em conta uma
particularidade que pode ser importante para efeitos de responsabilidade no
domínio da relação laboral – é o facto de ser uma relação obrigacional com-
plexa em que é claramente possível encontrar deveres principais, deveres
secundários e deveres acessórios de conduta.
deveres principais são o de prestar a actividade e o de pagar a remuneração;
deveres secundários: o trabalhador zelar pela boa conservação dos materiais
que lhe sejam entregues pela entidade patronal (121º n.º 1 al. f) CT); o empre-
gador facilitar a vida do trabalhador no que respeita por ex. à sua participação
em sindicatos;
deveres acessórios: estão normalmente relacionados com a boa fé (ex. o tra-
balhador não divulgar informações que obtenha no exercício da sua actividade
na empresa).
é um contrato oneroso, pois pressupõe necessariamente vantagens para
ambas as partes. O legislador determinou que a actividade a prestar pelo tra-
balhador tem de ser sempre mediante retribuição. A entidade patronal tem a
vantagem da actividade e o trabalhador a da retribuição.
42 Legislação Laboral
fase dada às partes para aferirem os seus interesses na manutenção da
relação de trabalho – (matéria anteriormente regulada no art. 44º LCT / art. 55º
n.º 2 da LCCT - Lei da cessação do contrato de trabalho – Dec. Lei 64-A/89 de
27/2). Esta matéria surge actualmente regulada nos artigos 104º e ss. do
Código do Trabalho.
O período experimental tem uma duração que varia consoante o tipo de con-
trato em causa. O CT no art. 107º al. a) estabelece a duração de 90 dias (con-
trato por tempo indeterminado). Pode no entanto ser reduzido por um contrato
individual de trabalho ou por uma convenção colectiva. (art. 110º n.º 1 CT). O
CT prevê inclusive a possibilidade deste ser excluído por acordo escrito das
partes – art. 110º n.º 2 CT.
Legislação Laboral 43
Todavia, atendendo ao desenvolvimento da relação laboral, principalmente no
que respeita aos contratos de trabalho em grandes empresas em que o anoni-
mato do trabalhador leva a que tal relação de confiança não possa subsistir,
entende o Prof. Menezes Cordeiro que hoje não existe qualquer relação pes-
soal.
44 Legislação Laboral
Formação do contrato de trabalho
Há alguns princípio que devem ser tidos em consideração:
A proposta deve:
ser completa, contendo todos os elementos essenciais do negócio que vai ser
celebrado (identificação do proponente, da actividade a realizar, determinação
do montante da retribuição ou indicação de critérios que permitam a sua deter-
minação);
Nesta fase contratual valem todos os parâmetros gerais do direito civil, em par-
ticular o regime da culpa in contrahendo – obrigação de agir com boa fé, com
lealdade (art. 227º CC).
Este regime surge concretizado numa obrigação que impende sobre o empre-
gador – obrigação de informar - arts. 97º e ss. do CT. O art. 98º deste diploma
refere as informações que devem ser prestadas, por escrito (art. 99º) ao trabal-
hador, reduzindo assim a indeterminação quanto a vários aspectos do contrato
de trabalho.
Legislação Laboral 45
O legislador considerou que os sindicatos têm legitimidade activa para intentar
uma acção inibitória contra determinada empresa que aplique cláusulas con-
tratuais gerais não admissíveis nos termos legais.
Ainda no que concerne ao contrato de adesão, o art. 95º do CT não tem em
vista a aplicação do regime das cláusulas contratuais gerais, mas uma situação
que se relaciona com o poder regulamentar das empresas (art. 153º do CT).
Tais regulamentos emitidos pela entidade patronal podem conter regras que se
destinam à concretização da actividade laboral, repercutindo-se no próprio con-
trato de trabalho a celebrar, conformando o seu conteúdo.
46 Legislação Laboral
Pressupostos do contrato de trabalho
Capacidade – art. 14º do CT – regras gerais de capacidade – arts. 122º e ss.
do Código Civil. Exprime a medida de direitos e deveres susceptíveis de serem
imputados a um determinado sujeito.
Legislação Laboral 47
Legitimidade – exprime a coincidência numa mesma pessoa de existir a per-
missão genérica de contratar e uma permissão específica de dispor do bem em
causa – força de trabalho.
Tal nulidade, que o legislador estabelece no art. 113º do CT, explica-se por três
razões: protecção do trabalhador, evitando acidentes; protecção das empresas,
evitando eventuais danos e protecção de terceiros. Está em causa o regime
das carteiras profissionais, cuja falta pode determinar a nulidade do contrato de
trabalho e a aplicação de coimas ao empregador.
48 Legislação Laboral
Objecto do contrato (pressupostos objectivos)
Aplicam-se os preceitos gerais dos arts. 280º e 400º do CC, embora existam
algumas particularidades.
Legislação Laboral 49
Situações jurídicas preliminares ao contrato
de trabalho
Importa referir alguns aspectos relacionados com o concurso público e o con-
trato promessa.
Art. 94º CT – remete para as regras gerais sobre contrato promessa – 410º e
ss., 442º CC. O art. 830º não tem aplicabilidade nesta área, aliás, a sua apli-
cação é expressamente excluída, no CT – 94º n.º 3.
50 Legislação Laboral
Forma do contrato de trabalho
O princípio geral, nos termos dos artigos 219º CC e 102º CT é o da liberdade
de forma. Contudo este princípio pode ficar prejudicado pala obrigação de
prestar certas informações por escrito – que implica a redução a escrito do
próprio contrato.
Nos termos gerais, a falta de forma implica a nulidade do contrato (art. 220º
CC). Não é o que se verifica no Direito do Trabalho. Aqui a forma é exigida com
o intuito de dar uma maior protecção ao trabalhador e, por via de regra, é uma
exigência de contratos com regime especial, por isso, entende o legislador que
a falta de forma não implica a nulidade, mas antes uma conversão em contra-
to de regime comum.
Quanto aos efeitos, há que comparar o art. 289º do CC. e o art. 115º CT. Nos
Legislação Laboral 51
termos do primeiro, a consequência, seja perante a nulidade ou a anulabili-
dade, é a não produção de efeitos do negócio jurídico, com eficácia retroactiva.
Já nos termos do art. 115º, o negócio vai produzir efeitos, como se fosse váli-
do durante o período em que foi executado. Em Direito do Trabalho a regra é a
da não retroactividade dos efeitos da invalidade, com o intuito de proteger o tra-
balhador.
No entanto o art. 115º apenas poderá ser aplicado se tiver havido execução do
contrato. Se não se tiver iniciado a relação laboral, aplica-se a regra geral do
art. 289º CC.
O artigo 116º n.º 2 CT remete a fixação da indemnização a que haja lugar para
os artigos referentes a despedimento ilícito e/ou denúncia sem aviso prévio; O
art. 116º n.º 3 traduz uma concretização do princípio da boa fé – a cuja violação
serão aplicadas as consequências do despedimento ilícito.
Convalidação
No Direito Civil não se prevê, salvo situações excepcionais – art. 895º CC, a
convalidação de negócios nulos, mas apenas de negócios anuláveis. Em
Direito do Trabalho ambas as situações podem ser convalidadas.
Excepções à convalidação
O art. 118º n.º 2 CT vem dizer que a convalidação não valerá relativamente às
situações previstas no art. 117º CT. Se de facto o contrato prossegue um fim
contrário à lei, ordem pública, ou ofensivo dos bons costumes, a consequência
da nulidade vem já dos arts. 280º e 281º do CC. que não permitem a convali-
dação. Acresce que, a regra aplicável a estas situações é que as vantagens
52 Legislação Laboral
auferidas irão reverter para o fundo nacional de pensões – esta obrigação apli-
ca-se tão só à parte que conhecia a ilicitude. Aqui os direitos do trabalhador não
são protegidos.
Redução do contrato
O n.º 2 deste artigo vem prever a situação da existência de cláusulas que vão
contra regras imperativas de Direito do Trabalho – aquelas serão substituídas
por estas, não tendo qualquer validade. Dá-se a substituição das regras ilegais
– que traduz um princípio que vigora não só ao nível do Direito do Trabalho.
Legislação Laboral 53
.
Unidadade Didáctica 3
O Trabalhador
Legislação Laboral 55
.
O Trabalhador
Surge no âmbito do contrato de trabalho como alguém que se encontra adstri-
to a desenvolver uma determinada actividade intelectual ou manual, sob as
ordens e instruções de outrem.
a)à categoria
bà polivalência funcional e ao jus variandi
c)à antiguidade
d)aos deveres acessórios
Legislação Laboral 57
Categoria
Quanto à Categoria, esta pode ser mencionada em vários sentidos:
É muito vulgar existir nas convenções colectivas de trabalho (CCT) uma regra
em que se obriga a entidade patronal a reclassificar o trabalhador que tenha ao
seu serviço, de modo a adequar as categorias ao elenco das presentes no
instrumento de regulamentação colectiva.
Este poder não é discricionário, mas vinculado – a entidade patronal não pode
incluir o trabalhador em qualquer categoria, deve fazê-lo na categoria normati-
va que tenha como conteúdo aquilo que o trabalhador se obrigou a fazer em
virtude do contrato individual de trabalho.
58 Legislação Laboral
A categoria função pode ser entendida em dois sentidos:
a)categoria função normativa – resulta do contrato e exprime o conjunto de
funções que ao abrigo deste podem ser exigidas ao trabalhador;
É esta a ideia aflorada pelo legislador no art.º 151º n.º 5 do CT quando diz que
a entidade patronal deve procurar atribuir a cada trabalhador, dentro do género
de trabalho para que foi contratado, a função mais adequada às suas aptidões
e preparação profissional.
Legislação Laboral 59
Modificações do objecto do contrato
Não constituem modificações do objecto do contrato as simples alterações de
categoria profissional que não importem uma alteração das funções. Acontece
por vezes que, os contraentes, seja num plano individual ou colectivo, consid-
eram que o facto de se exercerem as mesmas funções com maior experiência,
com maior antiguidade, permite ao trabalhador exercê-las melhor. É frequente
que o trabalhador, no exercício das mesmas funções vá percorrendo diferentes
degraus de uma mesma carreira, vá sendo titular de diferentes categorias – é
o que se designou como promoção automática. Não há verdadeira modificação
do objecto do contrato.
Além dos artigos 313º e 122º al. e) CT, relativos à tutela da categoria, existe o
art. 406º do CC, que consagra o princípio do pontual cumprimento dos con-
tratos, que vai ter importância no que respeita às subidas de categoria, que não
são contempladas pela legislação laboral. Também estas mudanças implicam
alteração do objecto do contrato, pelo que só podem ocorrer mediante o acor-
do das partes, sob pena da tal subida estar ferida de invalidade por violação do
art. 406º CC.
Tal acordo pode ser tácito. O simples facto do trabalhador começar a exercer
funções pertencentes a uma categoria diferente, em princípio, é suficiente para
configurar uma modificação contratual.
Esta regra seria válida, tanto para as modificações que importassem um trata-
mento mais favorável do trabalhador, i. é, que o levassem a exercer funções
que lhe atribuíssem uma melhor retribuição, como para aquelas modificações
que o levassem a exercer funções a que correspondesse um estatuto inferior.
O CT, no seu art. 122º al. e) vem proibir ao empregador a descida de categoria
do trabalhador. Esta tutela não tem contudo carácter absoluto, dado que exis-
tem excepções que admitem a descida de categoria, nos termos do art. 313º
CT.
Tal descida de categoria tem de obedecer a determinados requisitos que con-
sistem em:
60 Legislação Laboral
contrato com a categoria em que está se torna impossível ex. – telefonista que
perde a audição;
Havendo dois trabalhadores que exerçam funções idênticas, mas aos quais
são atribuídas categorias diversas, e consequentemente auferindo retribuições
diferentes, tal facto será violador do princípio constitucional consagrado no art.
59º n.º 1 al. a) “para trabalho igual salário igual”. Por força deste princípio, uma
idêntica remuneração deve ser atribuída a trabalhadores que exerçam funções
idênticas, em qualidade e quantidade.
Legislação Laboral 61
De facto existem duas figuras que constituem verdadeiras excepções ao princí-
pio da invariabilidade da prestação e ao princípio da pontualidade no cumprimen-
to do contrato.
A segunda surge imposta pelo art. 151º do CT, e é usualmente designada como
polivalência funcional. No CT está prevista sob a epígrafe “Funções desempen-
hadas”.
62 Legislação Laboral
Pressupostos para o recurso à Polivalência
Funcional:
afinidade ou ligação funcional entre as funções normais e as funções a
exercer ao abrigo do n.º 2 do art. 151º CT. O trabalhador tem as suas funções
normais, aquelas que constituem o objecto do contrato e é chamado a exercer
funções afins ou com ligação funcional às primeiras.
Legislação Laboral 63
balho que propiciem a sua realização profissional e melhorem a qualidade do
seu trabalho;
as novas funções podem não estar compreendidas na definição da categoria
do trabalhador; Parece estar em causa o conceito de categoria normativa – cat-
egorias que vêm previstas nos instrumentos de regulamentação colectiva de
trabalho.
Se a entidade patronal exige mais, no sentido de que exige para além do objec-
to do contrato, mas exige também funções com retribuição superior, cujo grau
de dificuldade exige um pagamento adicional, deve ser obrigada a efectuar tal
pagamento.
64 Legislação Laboral
que a título acessório. A exigência do acordo do trabalhador para tal reclassifi-
cação, leva-nos a concluir que a categoria aqui em causa será a contratual-
mente estabelecida.
Nada impede que haja uma substituição do objecto contratual – este direito de
reclassificação, em vez de ter como efeito uma dilatação de tal objecto pode
implicar uma verdadeira substituição – dependerá da vontade das partes.
Legislação Laboral 65
Ius Variandi
O Ius Variandi, também chamado direito de variação, é uma faculdade anormal,
pois consubstancia uma excepção ao princípio do pontual cumprimento do con-
trato (406º CC). Traduz um poder de modificação unilateral do objecto do con-
trato, um direito potestativo do empregador em alterar as funções do tra-
balhador. A sua utilização exige o cumprimento cumulativo dos requisitos indi-
cados no art. 314º CT.
3) Tem de ter carácter temporário, transitório – a sua duração tem de ser deter-
minada. Se a prestação da função não tiver carácter temporário, estaremos
perante uma mudança de categoria no sentido de descida. Este requisito visa
impedir que o empregador possa alterar definitivamente as condições de trabal-
ho do empregado; visa impedir que haja uma alteração unilateral do objecto do
contrato. Algumas convenções colectivas de trabalho têm estabelecido um lim-
ite temporal para o exercício desta faculdade. (314º n.º 1 CT)
66 Legislação Laboral
6) Quando às funções temporariamente exercidas corresponde um tratamento
mais favorável, o trabalhador que está temporariamente a exercê-las, terá dire-
ito a esse tratamento mais favorável (Ex. retribuição superior e /ou mais
regalias). (314º n.º 3 CT).
As figuras supra analisadas são exigências que vão para além do contrato;
ambas são exigências temporárias, implicam o melhor tratamento, proíbem a
diminuição de retribuição, proíbem a diminuição do estatuto do trabalhador e
estão limitadas pelo estatuto profissional do trabalhador. Se sobrepusermos
estas duas figuras, verificamos que nenhuma delas tem um espaço autónomo
relativamente à outra.
Legislação Laboral 67
Antiguidade
A Antiguidade é a qualidade que exprime a vocação para durar do contrato de
trabalho subordinado. A relação de trabalho é uma relação duradoura e envolve
por isso uma disposição global e contínua do devedor. O tratamento jurídico da
antiguidade permite afirmar que o trabalhador tem, em determinado momento
e em cada momento de execução da sua prestação de trabalho, uma antigui-
dade que lhe é reconhecida pela lei ou por instrumento de regulamentação
colectiva, e donde decorrem determinados direitos, determinados efeitos que
ajudam a configurar o estatuto jus-laboral do trabalhador.
Desde logo, tem um efeito típico ao nível do próprio estatuto funcional do tra-
balhador - projecção directa nas supra mencionadas promoções automáticas,
entendidas como subidas de categoria pelo mero decurso do tempo;
Tem também uma projecção directa a nível salarial – mesmo sem qualquer
alteração na actividade exercida pelo trabalhador, mesmo sem qualquer alter-
ação na sua categoria e muitas vezes porque esta não se verifica, surge o dire-
ito a diuturnidades. Estas são parcelas que acrescem à remuneração do trabal-
68 Legislação Laboral
hador como consequência do número de anos de serviço; visam compensar
uma dificuldade ou impossibilidade material de progressão na carreira – ex.
situação em que o trabalhador atingiu o topo da carreira.
A lei consagra no art. 122º al. j) do CT um mecanismo pelo qual se visa tutelar
a antiguidade do trabalhador – por este mecanismo é proibido ao empregador
despedir e readmitir o trabalhador se houver o propósito de o prejudicar em
direitos ou garantias decorrentes da antiguidade.
A lei protege a antiguidade de tal forma que chega a admitir que, em determi-
nadas circunstâncias a antiguidade do trabalhador seja superior à duração do
contrato de trabalho. É o que resulta do art. 221º n.º 2 CT, que regula os efeitos
da cessação do contrato de trabalho no direito a férias do trabalhador.
Legislação Laboral 69
O trabalhador tem um direito a férias que se vence no início de cada ano civil.
Pode suceder que o contrato termine num momento posterior a tal vencimento
mas anterior ao gozo das referidas férias pelo trabalhador. O legislador obriga
a entidade patronal ao pagamento da retribuição (221º n.º 1 CT), mas vai mais
longe ao estabelecer que à antiguidade do trabalhador será somado esse
período de férias não gozado.
70 Legislação Laboral
Deveres Acessórios do Trabalhador
A)dever de lealdade;
B)dever de custódia;
C)dever de assiduidade;
D)dever de empenhamento;
E)dever de zelo e diligência;
F)dever de respeito e urbanidade;
G)dever de obediência.
O dever de lealdade vem consagrado no art. 121º n.º 1 al. e) CT, e traduz-se
na obrigação que recai sobre o trabalhador de conformar a sua conduta com o
princípio da boa fé no cumprimento dos contratos. Mediante isto, o trabalhador
não pode negociar, por conta própria ou alheia, em concorrência com a enti-
dade patronal, nem divulgar informações referentes à organização, métodos de
produção ou negociais.
uma faceta negativa, por força da qual o trabalhador deve abster-se de todos
os comportamentos que possam traduzir uma lesão dos interesses do empre-
gador;
uma faceta subjectiva, por via da qual o trabalhador deve desenvolver todas
as condutas necessárias à manutenção da confiança que o empregador nele
depositou.
As duas especificações em que o dever de lealdade se pode concretizar são o
dever de não concorrência e o dever de sigilo.
Legislação Laboral 71
necessidade do trabalhador não utilizar em proveito próprio, conhecimento e
técnicas profissionais que lhe foram fornecidas pelo empregador;
A actividade concorrencial pode não ser exercida pelo próprio trabalhador, mas
por interpostas pessoas, continuando a haver violação do dever de não concor-
rência.
Este dever não implica que o trabalhador não possa ter outro posto de trabalho,
não envolve uma obrigação de exclusividade – a menos que o objecto do outro
contrato de trabalho envolva a realização de uma actividade concorrencial.
c)a violação deste dever faz incorrer o trabalhador em infracção disciplinar, com
todas as legais consequências daí advenientes;
e)este dever apenas vigora enquanto vigorar o contrato. No entanto a nossa lei
admite, no art. 146º CT, que, depois de preenchidos cumulativamente, os req-
uisitos consagrados neste artigo, as partes possam celebrar pactos de não con-
corrência.
72 Legislação Laboral
estarem em causa actividades que possam efectivamente causar prejuízo ao
empregador;
tem de ser acordado o pagamento de uma retribuição durante o período de
limitação da actividade.
O dever de custódia está previsto no art. 121º n.º 1 al. f) do CT, e por força
deste, o trabalhado está obrigado a tratar com muito cuidado todas as ferra-
mentas de trabalho que lhe sejam confiadas pelo empregador. Traduz-se não
apenas na obrigação de cuidar dos bens que o empregador lhe entregou, ma
também num dever de evitar danos relativamente a bens que lhe foram direc-
tamente entregues, mas que pertencem à empresa, podendo estar em risco
ainda que por causas que nada tenham a ver com o trabalhador.
O dever de assiduidade surge no art. 121º n.º 1 al. b) do CT e traduz a obri-
gação que sobre o trabalhador recai de cumprir exaustivamente, na medida em
que o seja socialmente exigível, o programa temporal da sua prestação. Este
dever encontra-se intimamente ligado ao regime jurídico das faltas.
Legislação Laboral 73
dever teria como reflexo o mero não pagamento da retribuição correspondente ao
período de ausência. Só que tal violação representa também a frustração das
expectativas do credor – a entidade empregadora quando se depara com a
ausência do trabalhador deixa de poder contar legitimamente com o cumprimen-
to futuro da prestação. Acaba por estar em causa a quebra da relação de confi-
ança traduzida no facto do empregador poder deixar de contar com um cumpri-
mento pontual no futuro – toda a relação laboral é posta em causa.
Por isso o legislador estabelece a aplicação de sanções disciplinares para a
violação deste dever – art. 231º CT e 396º n.º 3 al. g) do CT. A articulação
destes dois preceitos exige que o trabalhador não seja despedido se der ape-
nas três faltas seguidas, ainda que ao seu comportamento seja aplicável uma
outra sanção disciplinar adequada à infracção.
O legislador considera porém que uma única falta, que tenha como consequên-
cia prejuízos ou riscos sérios para a empresa, de tal forma graves, pode con-
stituir fundamento de justa causa de despedimento.
O dever de empenhamento está consagrado no art. 121º n.º 1 al. g) CT. Por
força deste dever o trabalhador deve realizar o seu trabalho com zelo e diligên-
cia, por forma a possibilitar um aumento da produtividade. O trabalhador tem
que realizar a sua prestação tendo em vista o fim, o interesse que visa satisfaz-
er. Estamos perante uma actividade ligada ao dever de zelo e diligência.
O dever de zelo e diligência (art. 121º n.º 1 al. c) CT) exprime o grau de esforço
74 Legislação Laboral
exigido com vista a executar uma conduta que constitui o cumprimento de um
dever. Tal grau é variável em função da aptidão do trabalhador e em função do
tipo de trabalho, assim como em função dos resultados derivados do trabalho
prestado.
A ideia de realizar uma actividade com zelo está ligada à ideia de diligência na
realização da prestação. O trabalhador tem de olhar a sua prestação como algo
finalisticamente dirigido, enquanto uma peça de um todo e não como algo que
acaba na sua realização.
O dever de obediência vem referido no art. 121º n.º 1 al. d) CT. Por força deste
o trabalhador encontra-se adstrito a respeitar todas as ordens e instruções ou
recomendações que lhe sejam dadas pelo empregador nos termos do contrato
e das normas que o regem. É o reflexo do poder de direcção que cabe ao
empregador.
Fora destes limites, as ordens são ilegítimas e consequentemente o trabal-
hador terá um direito de desobediência legítimo.
Legislação Laboral 75
Direitos do Trabalhador
Decorrem por um lado das chamadas garantias do trabalhador previstas no art.
122º CT, e por outro como contraponto dos deveres do empregador previstos
no art. 120º CT.
O principal consiste no direito à retribuição, reforçado no art. 122º al. d) CT pela
proibição do empregador diminuir a retribuição. A definição das compensações
pecuniárias ou não que se inserem no conceito de retribuição, é desenvolvida
no âmbito do tema da relação laboral.
Há quem filie este direito na aplicação conjunta do art. 59º n.º 1 al. b) da CRP, e
dos artigos 123º e ss. e 151º n.º 5 CT. A norma constitucional corresponde à
organização do trabalho em condições socialmente dignificantes, de forma a fac-
ultar a realização pessoal e profissional do trabalhador.
76 Legislação Laboral
na realização a sua prestação.
De referir que o CT dá uma especial atenção à área da formação profissional,
dedicando-lhe os artigos 123º a 126º, e remetendo a regulamentação de tal
secção para legislação a aprovar.
Legislação Laboral 77
.
Unidadade Didáctica 4
A Entidade Contratante
Legislação Laboral 79
.
A Entidade Contratante
A posição jurídica da entidade contratante no âmbito da relação jurídica de tra-
balho subordinado, caracteriza-se por uma posição de poder que tem como
contrapartida a subordinação jurídica do trabalhador, sendo o empregador a
pessoa a favor da qual é transmitida, alienada a disponibilidade da força de tra-
balho.
Tal disponibilidade ou poder de disposição surge necessariamente acompanha-
da, ao longo do contrato de trabalho pela presença e manifestação de vontade
do próprio trabalhador. Só se pode dispor da força de trabalho de alguém que
conforme a sua actuação no sentido de a adequar às ordens e instruções que
recebe do credor da prestação.
Esta posição de poder pode ser exercida pela própria titular do interesse na
prestação - entidade patronal - como por outros trabalhadores, nos quais tenha
havido uma delegação do poder patronal.
A nossa lei em diversas normas reconhece a licitude de tal delegação adequan-
do as suas estatuições como se os actos praticados ao abrigo da mesma fos-
sem do próprio empregador. Quer o art. 365º, quer o 372º do CT, quando reg-
ulam a matéria do poder disciplinar, identificam claramente que tal poder tanto
pode ser exercido pelo empregador como por trabalhador no qual tenha sido
delegado.
A determinação de quem ocupa a posição de empregador na relação jurídica
laboral, não é isenta de dificuldades.
Isto porque há relações jurídicas de trabalho subordinado, relativamente às
quais o próprio legislador admite um concurso de poderes patronais – é o caso
da relação jurídica estabelecida num contrato de trabalho temporário, em que:
Legislação Laboral 81
balhador que depois vai prestar a sua actividade em diversas empresas do
grupo.
82 Legislação Laboral
Dever Principal
O empregador tem como dever principal – pagar a retribuição, e como deveres
acessórios o de assistência, de cooperação e de ocupação efectiva. (art. 120º CT)
Esta posição tanto pode ser ocupada por uma pessoa singular, como por uma
pessoa colectiva. Contudo, hoje em dia a posição de empregador é mais ocu-
pada por uma pessoa colectiva, sob a forma de empresa.
A lei que regula o regime das associações patronais (DL 215-C/75 de 30/04)
distingue a figura do empresário da do empregador, admitindo a título excep-
cional que o mero empresário possa fazer parte de uma associação patronal,
não lhe permitindo contudo que a sua actuação contribua para a formação da
vontade colectiva no que toca às relações de trabalho.
Esta lei é revogada pelo Código do Trabalho que vem regular tal matéria nos
artigos 506º e ss. sob a epígrafe “Associações de empregadores”.
Legislação Laboral 83
empresa e pode também ocorrer uma modificação da pessoa do empregador.
Nos termos deste artigo as disposições dos contratos de trabalho aplicáveis à
entidade patronal transmitem-se para o adquirente do estabelecimento.
quanto aos trabalhadores que o transmitente tiver transferido para outro esta-
belecimento ou parte da empresa, sem prejuízo do disposto no art. 315º, que
regula a mobilidade geográfica, que equivale à transferência para outro local
de trabalho.
84 Legislação Laboral
Poderes Patronais
Ao estabelecer que o contrato de trabalho subordinado é aquele pelo qual
alguém coloca à disponibilidade a sua força de trabalho, sob as ordens e orien-
tação de outrem, está-se a reconhecer ao empregador o poder de autoridade
consubstanciado no poder de direcção.
Poder de Direcção
Face a um infracção disciplinar, o empregador pode reagir por via punitiva, com
o objectivo de manter a conduta do trabalhador no sentido visado e pretendido
pelo empregador.
As sanções previstas no art. 366º do CT não são taxativas, porque no poder
disciplinar não vigora o princípio da tipicidade. Admite-se, além destas sanções
disciplinares aquelas que possam resultar de convenções colectivas – estas
estão contudo limitadas pelo art. 122º do CT, que respeita aos direitos e garan-
tias dos trabalhadores. Qualquer sanção que vá contra o estabelecido no art.
122º é tida como ilegal.
Por ex.:
uma despromoção viola o princípio da irreversibilidade de carreira;
Legislação Laboral 85
Em relação ao critério da graduação da sanção a aplicar, temos dois momen-
tos diferentes:
O exercício do poder disciplinar não está sujeito apenas aos limites materiais
supra referidos. Está também sujeito à observância dos limites temporais - arts.
372º n.ºs 1 e 2 CT e aos limites processuais - art. 371º CT. Tais limites visam
reduzir o carácter arbitrário que possa surgir no exercício do poder disciplinar.
86 Legislação Laboral
Limites processuais
Nos termos do art. 371º CT, o trabalhador poderá, no decorrer do processo dis-
ciplinar, reclamar contra a sanção que lhe foi aplicada.
O processo disciplinar, que está aqui consagrado tem vindo a tornar-se com-
plexo e, nos nossos dias, quando haja a intenção de proceder a um despedi-
mento por justa causa (motivo que torne impossível a subsistência da relação
laboral), utiliza-se o procedimento regulado nos arts. 411º e ss.
Legislação Laboral 87
Limites temporais
Surgem consagrados no art. 372º n.º 2 do CT, que estabelece um prazo de pre-
scrição de infracção disciplinar, e no art. 372º n.º 1 do CT que estabelece o
prazo de caducidade da acção disciplinar.
88 Legislação Laboral
Prazo de caducidade da acção disciplinar
Estabelece o art. 372º n.º1 CT que o procedimento disciplinar terá de ser exer-
cido nos 60 dias subsequentes àquele em que o empregador ou o superior
hierárquico do trabalhador tenha tomado conhecimento da prática da infracção.
A presunção do não exercício do poder disciplinar dentro do prazo de 60 dias
equivale a admitir a irrelevância da infracção praticada.
Legislação Laboral 89
Fundamento do poder disciplinar
a tese contratualista defende que o fundamento de tal poder reside no contrato
de trabalho; pretende encará-lo como uma cláusula penal prevista para a vio-
lação do contrato.
90 Legislação Laboral
Deveres acessórios do empregador
a)dever de assistência;
O dever de assistência está consagrado nos arts. 120º al. c) e 272º e ss. do CT.
Por força deste dever, recai sobre o empregador o dever de permitir ao trabal-
hador o gozo de determinados direitos (consagrados em convenções colectivas
ou noutros instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho), que apesar
de não terem uma reflexão directa com a prestação de trabalho, revelam
extremo interesse para uma correcta execução do contrato.
Legislação Laboral 91
ocupação efectiva;
art. 605º do CT - impede que os empregadores adoptem condutas no sentido
de impossibilitar a prestação de trabalho por parte dos seus funcionários. Esta
matéria surge regulada nos arts. 591º e ss. do CT.
art. 762º do CC – consagra o princípio da boa fé no cumprimento dos con-
tratos – implica necessariamente a obrigatoriedade de possibilitar o cumpri-
mento da prestação por parte do trabalhador – logo, o direito à ocupação efec-
tiva, sob pena de responsabilidade civil do empregador pelos danos que a inac-
tividade do trabalhador causou ao próprio.
92 Legislação Laboral
Unidadade Didáctica 5
A Relação Individual do Trabalho
Legislação Laboral 93
.
A Relação Individual do Trabalho
Qual a relação existente entre o contrato de trabalho e a relação de trabalho?
Legislação Laboral 95
Termo e Condição
De acordo com o art. 270º CC a condição é um facto futuro e incerto ao qual as
partes subordinam a eficácia do negócio ou a sua resolução. A condição pode
ser:
Já o Prof. Menezes Cordeiro considera que, uma vez que a lei admite a cele-
bração de contratos de trabalho a termo certo ou incerto e que algumas situ-
ações de termo incerto consubstanciam verdadeiras condições resolutivas –
não fará sentido não admitir a celebração de contratos de trabalho sujeitos a
tais condições.
Este tipo de contrato de trabalho reflecte uma vocação para durar, por isso o
legislador consagra também a existência de um período experimental. Sucede
porém que este tem aqui algumas especialidades:
pode ser afastado por vontade das partes (105º n.º 1 do CT)
96 Legislação Laboral
Contratos de trabalho a termo certo
Só podem ser celebrados nos casos taxativamente previstos no art. 129º do CT
- fora destes casos será nula a estipulação do termo, convertendo-se o contra-
to em contrato de trabalho por tempo indeterminado. No CT a exigência de
forma escrita consta do art. 103º n.º 1 al. c). As restantes formalidades do art.
131º.
prazo mínimo de duração do contrato – 6 meses (142º n.º 1 do CT), salvo nas
situações previstas nas alíneas a) a g) do n.º 2 do art. 129º do CT, caso em que
o prazo pode ser inferior.
nos casos previstos no art. 129º n.º 3 al. a) CT, não pode durar mais de 2 anos
(art. 139º n.º 3 do CT); caso dure, converte-se num contrato por tempo indeter-
minado (art. 141º do CT).
Se, findo o prazo pelo qual o contrato a termo foi celebrado, não tenha sido feita
uma comunicação por escrito ao trabalhador por parte do empregador, com
uma antecedência de oito dias sobre o termo do contrato, no sentido de não
renovar tal contrato, este considera-se renovado por período igual ao do con-
trato inicial – renovação automática.
No CT esta matéria surge regulada pelos arts. 387º al. a) e 388º - o prazo de
aviso prévio para o empregador é de 15 dias e é estabelecido um prazo de
aviso prévio de 8 dias, no caso de ser o trabalhador a pretender não renovar o
contrato.
A caducidade do contrato vai atribuir ao trabalhador o direito a uma indemniza-
ção nos termos do art. 388º n.º 2 do CT. Esta indemnização é uma compen-
sação de três ou dois dias (consoante o contrato tenha durado por um período
que, respectivamente não exceda ou seja superior a seis meses) de retribuição
base e diuturnidades por cada mês completo de duração.
A cessação de um contrato de trabalho a prazo que tenha durado mais de doze
meses, por motivo não imputável ao trabalhador, impede nova contratação a
termo, certo ou incerto, para o mesmo posto de trabalho “antes de decorrido um
período de tempo equivalente a uma terço da duração do contrato, incluindo as
suas renovações”. Esta regra visa dar alguma protecção suplementar ao trabal-
hador e surge regulada no art. 132º n.º 1 do CT.
Legislação Laboral 97
Contratos de trabalho a termo incerto
Só podem ser celebrados nos casos previstos no art. 143º CT.
No que concerne aos requisitos de forma obedecem aos estabelecidos no art. 131º.
98 Legislação Laboral
Cessação dos contratos a termo
Quando a cessação é declarada ilícita, o empregador será condenado:
rescisão com justa causa por iniciativa do trabalhador (443º CT) – este terá
direito a uma indemnização correspondente a um mês e meio de remuneração
base por cada ano de antiguidade ou fracção;
rescisão sem justa causa por iniciativa do trabalhador - (ou denúncia nos ter-
mos do CT – 447º n.º 3) – terá o dever de avisar previamente o empregador
nos seguintes termos:
Legislação Laboral 99
Tempo e local de trabalho
Ao direito do trabalho não interessa apenas a determinação qualitativa da
prestação de trabalho, mas também a sua determinação quantitativa. Esta é
feita por recurso à determinação da duração da prestação de trabalho.
Uma vez que compete ao empregador fixar o horário de trabalho, poderá este,
unilateralmente modificá-lo? Antes da entrada em vigor do Código do Trabalho
havia quem entendesse que sim, mas apenas quando este não constasse das
estipulações contratuais. Se constasse estaria em causa uma verdadeira alter-
ação contratual, violadora do princípio do pontual cumprimento dos contratos
porque feita unilateralmente e não resultante do acordo das partes.
O art. 173º n.º 1 do CT vem estabelecer expressamente que não podem ser
unilateralmente alterados os horários individualmente acordados.
Ainda que assim não fosse, não podemos pensar que está vedado ao empre-
gador exigir a prestação de trabalho para além do período normal de trabalho
– aqui passaremos a estar perante trabalho suplementar - art.197º e ss. do CT.
Para que funcione este princípio devem ser respeitados os limites materiais,
quantitativos e formais da exigência de trabalho suplementar.
A isenção de horário não prejudica o direito aos dias de descanso semanal, aos
feriados obrigatórios e aos dias e meios dias de descanso compensatório – art.
178º n.º 3 CT.
O empregador pode cessar a isenção por sua iniciativa unilateral.
De acordo com o art. 257º n.º 3 CT, este acréscimo remuneratório não se ver-
ifica:
justificadas;
injustificadas.
Para que uma falta seja justificada, não basta que exista um motivo justificado
dessa mesma falta, é necessário que esse motivo seja alegado e provado pelo
trabalhador quando lhe seja requerido.
Se as faltas forem dadas com base em alguma das causas justificativas previs-
tas na lei, os efeitos serão os previstos no art. 230º CT – não determinando a
perda de qualquer direito por parte do trabalhador. Mantém o direito à antigu-
idade e à retribuição, excepto nos casos previstos no art. 230º n.º 2 do CT.
Não sendo dadas com base nalgum dos motivos justificativos supra referidos,
terão os efeitos do art. 231º CT - perda da antiguidade e perda da retribuição;
No nosso sistema as faltas não têm qualquer influência sobre as férias, mas o
legislador admite que o trabalhador, em alternativa a perder a retribuição, possa
optar por perder dias de férias, desde que, pelo menos goze um período de 15
dias úteis – art. 232º n.º 2 CT. O CT exige contudo que o trabalhador goze pelo
menos 20 dias úteis de férias – art. 232º n.º 2.
A rescisão tácita do contrato de trabalho apenas pode ser invocada pelo empre-
gador após a sua comunicação por carta registada com aviso de recepção para
a última morada conhecida do trabalhador - art. 450º n.º 5 CT.
Existem os feriados obrigatórios, aqueles em que, por força da lei está impos-
ta ao empregador a cessação da laboração, e os facultativos, em que é conferi-
da ao empregador a faculdade de parar ou não a laboração.
O período anual de férias é de 22 dias úteis – art. 213º n.º 1 do CT. Caso este-
jamos perante trabalhadores contratados a termo ou sazonais, o período de
férias corresponde a 2 dias úteis por cada mês de trabalho - art. 214º n.º 3 do CT.
As férias devem ser gozadas no ano civil a que se reportam, não sendo permi-
tido acumular no mesmo ano férias de dois ou mais anos – art. 215º do CT.
Contudo há excepções:
quando o gozo de férias do ano civil a que se reportem cause graves prejuí-
zos à empresa ou ao trabalhador; aí este poderá gozar férias no ano civil
seguinte – art. 215º n.º 2 do CT.
O período de férias não terá de ser gozado continuamente – art. 217º n.º 6 do
CT – desde que sejam gozados seguidamente, pelo menos, 10 dias úteis, os
seguintes podem sê-lo interpoladamente.
1) ordenado base;
2) subsídio de alimentação
3) subsídio de transporte;
4) subsídio de férias
5) prémio de assiduidade, etc.
Arts. 249º e ss. do CT, donde se conclui que a retribuição é o conjunto de val-
ores pecuniários ou não, que o empregador está obrigado a pagar, regular e
periodicamente ao trabalhador como contrapartida da actividade por este
prestada.
valores (...) que o empregador está obrigado a pagar (...) regular e periodica-
mente – desde logo porque a retribuição se destina à satisfação de necessi-
dades do trabalhador que também são regulares e periódicas e deve ser paga
em períodos certos.
O art. 86º da LCT estabelecia a regra de que a remuneração pela prestação de
trabalho suplementar não integrava o conceito de retribuição, salvo quando:
Prestações suplementares:
Devem ser considerados como retribuição todos aqueles montantes que ao tra-
balhador sejam dados, desde que digam respeito a bens que possam ser sus-
ceptíveis de aquisição directa pelo trabalhador como sejam o subsídio de alo-
jamento, o subsídio de transporte e o subsídio de almoço. Também o subsídio
de turno, o subsídio de falhas, o subsídio de risco e o subsídio de isolamento
(ex.: faroleiro) estariam incluídos no conceito de retribuição.
nos termos do art. 268º n.º 1 do CT, estando em causa o pagamento emer-
gente da retribuição de um contrato de trabalho subordinado, e salvo acordo
em contrário, o lugar de pagamento será o local de trabalho ;
se as partes acordarem outro local, nos termos do art. 268º n.º 2 do CT, dev-
erá considerar-se como tempo de serviço o tempo despendido para a deslo-
cação ao local convencionado como de pagamento da retribuição.
o art. 92º n.º 3 da LCT impunha uma proibição – a retribuição nunca poderia
ser paga em estabelecimentos de jogo ou de venda de bebidas alcoólicas,
salvo para as pessoas que trabalhassem nesses locais. O CT não consagra
qualquer disposição neste sentido.
O regime destas garantias vem previsto no art. 737º n.º 1 al. d) CC, sendo ante-
riormente reforçado na Lei 17/86 de 14/06 (Lei dos Salários em atraso):
O n.º 2 deste art. dispõe que os créditos relativos à indemnização por falta de
trabalho extraordinário que tenham vencido há mais de 5 anos apenas podem
ser provados por documento escrito que inequivocamente prove a existência
do crédito.
facto respeitante ao trabalhador – apenas trata das situações cujo motivo não
se insere nos casos fortuitos ou de força maior.
Também o direito à antiguidade se mantém – art. 331º n.º 2 do CT, assim como
os direitos e deveres acessórios das partes – art. 331º n.º 1 do CT – durante a
fase da suspensão do contrato poderá haver uma cessação do vínculo por vio-
lação de deveres acessórios.
Não obstante o contrato estar suspenso, as partes podem pôr-lhe termo por
qualquer das formas permitidas por lei.
a)é necessário que esta situação seja temporária, pois caso contrário estare-
mos perante uma impossibilidade definitiva, caso em que o contrato caducava
nos termos do art. 387º al. b) CT; O impedimento só se converte em definitivo
quando se conclua que o vínculo, após a cessação desse impedimento não tem
qualquer utilidade.
b)esta impossibilidade deve prolongar-se por mais de um mês – art. 333º n.º 1 CT.
Dado que a não realização da prestação não se deve ao trabalhador, este tem
direito a auferir uma retribuição mensal – art. 341º n.º 1 al. a) CT. Além disso,
admite-se a possibilidade deste desenvolver uma outra actividade para outro
empregador durante a suspensão do seu contrato. Contudo, o que este auferir
nessa outra actividade será descontado na comparticipação que o empregador
lhe pagar.
Redução da Laboração
Em Portugal, o regime jurídico da cessação das relações laborais tem sido mar-
cado pela necessidade de encontrar equilíbrio entre duas ideias fundamentais:
O art. 382º do CT - CT) proíbe o despedimento sem justa causa; proíbe além
destes os despedimentos por motivos políticos ou ideológicos;
caducidade;
revogação
resolução e
denúncia.
Caducidade
art. 384º al. a) CT/ 387º e ss. CT.
Não é automática porque não basta a simples verificação dos factos do art.
387º para que o contrato cesse automaticamente. Pressupõe sempre a existên-
cia de um comportamento declarativo das partes nesse sentido.
O contrato a termo caduca quando atinge o seu termo – mas não basta o simples
decurso do prazo, sendo necessário que o empregador comunique por escrito ao
trabalhador que não pretende renovar o seu contrato – isto no prazo de 8 dias antes
do termo do contrato – art. 388º.
Face a um contrato de trabalho a termo incerto, este caduca logo que se dê a
cessação da causa justificativa que levou à celebração do contrato. Contudo,
se o empregador tacitamente permitir que o trabalhador continue ao seu
serviço após decorrido o prazo de pré-aviso ou decorridos 15 dias sobre a ces-
sação da mencionada causa justificativa, o contrato de termo incerto converte-
se em contrato por tempo indeterminado.
nos termos do art. 392º n.º 2 al. d) do CT, a caducidade não determina o paga-
mento de qualquer compensação ao trabalhador.
- o contrato de trabalho cessa nos termos do art. 113º n.º 2 CT - quando é reti-
rada a carteira profissional ao trabalhador;
- quando se dá a morte ou extinção da entidade empregadora – art. 390º CT
- excepto se houver a transmissão de estabelecimento.
Cessando o contrato por caducidade o trabalhador não tem direito a uma com-
pensação, excepto se a causa de caducidade for uma impossibilidade superve-
niente, absoluta e definitiva imputável ao empregador, sendo então indemniza-
do nos termos gerais.
O CT vem estabelecer no art. 395º que os efeitos deste acordo podem cessar
“até ao 7º dia seguinte à data da respectiva celebração, mediante comunicação
escrita.” No n.º 4 vem consagrar a excepção de acordos datados e cujas assi-
naturas tenham sido objecto de reconhecimento notarial.
Resolução
art. 384º al. c) / 396º a 440º CT.
Nos termos do art. 413º do CT - “o trabalhador dispõe de 10 dias úteis para con-
sultar o processo e responder à nota de culpa”.
Após conclusão das diligências probatórias, o processo é apresentado à comis-
são de trabalhadores, que dispõe de cinco dias para emitir um parecer funda-
mentado sobre o despedimento – art. 414º n.º 3 CT. Decorrido este prazo, o
empregador dispõe de trinta dias para proferir a sua decisão – art. 415º n.º 1
CT. Esta decisão tem de ser fundamentada, e comunicada ao trabalhador e à
comissão de trabalhadores.
incorre no dever de reintegrar o trabalhador, salvo se este optar por uma ind-
emnização correspondente a um mês de remuneração base por cada ano ou
fracção de antiguidade. Esta indemnização não pode, contudo, ser inferior a
três meses. (438º e 439º CT) No CT, cabe ao Tribunal fixar esta indemnização
“entre 15 e 45 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo
ou fracção de antiguidade (...)”.
É uma forma de cessação do contrato por extinção dos postos de trabalho, que
não está abrangida pelo despedimento colectivo. Possui elementos do desped-
imento por justa causa disciplinar – facto de ser impossível a subsistência da
relação laboral, neste caso por extinção do posto de trabalho – art. 403º n.º 3
CT, assim como elementos do despedimento colectivo – tipo de motivos que
estão na base da extinção do posto de trabalho – art. 402º CT.
Daqui resulta também o direito a um crédito de dois dias por semana para
procurar um novo trabalho, sem prejuízo do seu direito de retribuição.
Esta providência é decretada pelo Tribunal sempre que o processo não cumpra
as regras impostas em matéria de processo disciplinar, quando o processo seja
nulo, ou quando o juiz consiga formular uma convicção provisória suficiente-
mente forte no sentido da inexistência de justa causa objectiva.
via definitiva – requerendo a acção declarativa da ilicitude do despedi-
mento – aqui o trabalhador vai impugnar a legalidade do despedimento – art.
435º CT ? cujos efeitos são os do art. 436º CT.
Mas não basta a simples verificação de alguma destas causas. É necessário que
sejam observados cumulativamente os requisitos consagrados no art. 407º CT.
Para que se verifique este despedimento há que seguir os trâmites processuais
previstos nos art.s 426º a 428º CT.
Despedimento colectivo
– arts. 397º a 401º CT
Este inicia-se com a comunicação feita por escrito, pelo empregador, à comis-
são de trabalhadores ou à comissão sindical ou intersindical, no sentido de
apresentar a intenção de proceder ao despedimento.
Quinze dias após esta comunicação inicia-se um processo de informação e
consulta, entre o empregador e a estrutura representativa dos trabalhadores,
no sentido de obter um acordo sobre a dimensão e efeitos das medidas a tomar
– art. 420º CT. Neste processo também intervém o Ministério responsável pela
área laboral, com o objectivo de assegurar a regularidade da instrução sub-
stantiva e processual e de promover a conciliação dos interesses das partes –
art. 421º CT.
O trabalhador para cessar o contrato por sua livre iniciativa dispõe de duas vias:
O art. 441º CT não define o conceito de justa causa, apenas fornece um elen-
co taxativo de situações susceptíveis de configurarem a existência de justa
causa de rescisão do contrato pelo trabalhador. Traduz a existência de um com-
portamento culposo do empregador.
O 441º n.º 3 CT traduz também a existência de uma justa causa objectiva, pois
as situações aí previstas são totalmente alheias à existência de qualquer com-
portamento culposo.
Normas que são por um lado fórmulas de composição de interesses e por outro
lado normas de conduta para os membros dos grupos, que elaboram essas
mesmas normas.
Assim o interesse colectivo não pode ser visto como somatório dos diversos
interesses individuais dos vários elementos que compõem o grupo. A prosse-
cução desse interesse é a meta das relações colectivas de trabalho - relações
que se estabelecem entre empregadores (actuando isoladamente) ou associ-
ações patronais e os sindicatos, com vista à regulamentação das condições de
trabalho dos seus associados e à definição das regras de conduta para os
membros do grupo nas suas relações individuais.
Associações Sindicais
Pessoa colectiva – porque a Lei no artigo 476º al. a) CT lhe reconhece per-
sonalidade jurídica.
Isto deve-se ao facto do MT não poder rejeitar o registo dos estatutos; antes
regista e remete ao Delegado do Ministério Público da comarca da zona do
sindicato
Iniciada a actividade do sindicato este tem de reger-se pelos seus estatutos e
regulamentos - artigo 480º CT.
uma alteração do sindicato, significa uma alteração dos estatutos que só pode
ocorrer nos termos previstos dentro dos limites do artigo 484º CT.
Pelo artigo 491º CT, existem dois tipos de extinção, que são:
Extinção judicial, que ocorre quando se verifica o previsto no artigo 483º n.º 4
CT, situação do artigo 182º n.º 2 do CC. O Prof. Menezes Cordeiro, admite-a
quando se verifica o falecimento de todos os seus sócios ou quando exista uma
declaração de falência do sindicato.
Para além dos sindicatos, existem ainda três tipos de associações sindicais,
que são:
Com o registo dos estatutos dos sindicatos estas associações sindicais podem
adquirir personalidade e capacidade jurídica.
Relativamente aos estatutos dos sindicatos é relevante dizer que lhes é recon-
hecida possibilidade de agirem no interior da empresa através dos delegados
ou representantes sindicais.
Esta dupla dimensão da liberdade sindical traz consigo cinco projecções, que
são:
Esta é uma garantia muito pouco consistente. O nosso ordenamento foi muito
além destas ideias proibindo de modo claro e inequívoco no artigo 453º CT as
cláusulas de garantia sindical.
Não podem ser impostas quaisquer condições que, de algum modo, dificultem
ou impeçam a constituição livre dos sindicatos. Esta liberdade de constituição
dos sindicatos (forma de liberdade sindical) é uma liberdade individual, que
implica antes de mais que a decisão de criação de sindicatos assente num acto
livre e autónomo dos trabalhadores.
Quando a CRP diz: “no exercício da liberdade sindical, esta é reconhecida aos
trabalhadores sem qualquer discriminação (…)”, não se entende que todos os
trabalhadores subordinados possam constituir sindicatos. Esta não discrimi-
nação tem em vista: a raça, a cor, a religião, as ideias políticas, etc.
Esta implica que a decisão de aderir ou não a um sindicato, seja uma decisão
livre e autónoma de cada trabalhador. Logo, para garantir tal liberdade não
basta proibir a inscrição forçada, mas é necessário assegurar que não existem
mecanismos que podem, levar o trabalhador a filiar-se em sindicatos, condicio-
nando a sua vontade.
O regime jurídico das quotizações sindicais está consagrado no artigo 493º CT,
por força do qual, o não pagamento das quotas sindicais não constitui um
obstáculo à emissão de carteiras profissionais ou de quaisquer outros docu-
mentos, por parte do sindicato, que condicionem o exercício da actividade
sindical.
Ou seja, os sindicatos nunca podem recusar emitir tais documentos, pela falta
de pagamento das quotas sindicais, por parte do trabalhador. Com isto o trabal-
hador também não deixa de ser filiado num sindicato.
O CT trata a matéria referente à quotização sindical nos arts. 492º e ss.
Conclui-se daqui que, não é permitido ao Estado definir por qualquer modo ou
modelo organizatório do mesmo sindicato. A estrutura do sindicato resulta ape-
nas da vontade dos seus sócios fundadores que definem o modelo organiza-
tório desse mesmo sindicato – art. 55º n.º 2 al. c) da CRP e artigo 480º CT, que
diz que as associações sindicais se regem por estatutos e regulamentos por
elas celebrados, sendo elas que definem as regras que iram pautar a organiza-
ção e funcionamento interno dos sindicatos.
Associações de Empregadores
Vem definida no artigo 513º CT. Este processo de constituição é mais simples
que o das associações sindicais.
A única imposição que a lei faz é relativa à existência de uma assembleia con-
stituinte - artigo 513º n.º 2 CT.
Após aprovação dos estatutos da associação patronal, deverá ser solicitado ao
MT o registo dos estatutos dessa associação patronal .
1) Objecto de registo
2) Objecto de publicação
extinção – esta pode ser:
2) Liberdade de auto-organização
3) Liberdade de autogoverno
Comissões de Trabalhadores
A nossa lei não define um número mínimo de trabalhadores para que uma
empresa possa ter uma comissões de trabalhadores. Antes impõe, no artigo
464º CT, limites ao numero máximo de membros que uma comissão de trabal-
hadores pode ter.
Atribuições e Competências
É-lhes atribuído um crédito de horas para o exercício das suas funções, pelos
seus membros - artigo 467º CT.
Convenção Colectiva
Este conteúdo obrigacional, tem grande importância, porque é através dele que
a convenção colectiva assume a sua função de instrumento de paz social.
Daqui resulta o facto de, a proposta negocial colectiva não ser uma verdadeira
proposta em sentido técnico, não podendo o destinatário dessa mesma propos-
ta recusar a negociação pelo facto da proposta não ter tais requisitos.
O prazo de resposta à proposta, fixado neste artigo tem um duplo sentido, que
é:
1)impede que aquele que fez a proposta, a modifique quando quiser (o propo-
nente encontra-se, no decurso deste prazo, vinculado à proposta que fez);
2)impede que enquanto esse período não decorrer, o autor da proposta possa
exigir a conciliação ou desencadear o processo de arbitragem - artigo 584º n.º
1 al. b) CT;
Como a lei não impõe às partes um período de duração máxima para as nego-
ciações colectivas, podemos estar perante negociações colectivas infindáveis.
Esta recusa de depósito tem de ser fundamentada, dado que funciona como
uma condição de eficácia das convenções, pois se não forem depositadas lici-
tamente não podem ser publicadas, nem podem entrar em vigor.
Segundo o artigo 551º CT, enquanto o depósito definitivo não for realizado, as
partes podem deduzir alterações, ou modificações ao texto da convenção. Tais
alterações interrompem o prazo de depósito, que começará a correr no fim de
todas as modificações.
cláusulas que consagrem o dever da paz social. Este dever tem duas ver-
tentes:
Entre nós existem dois tipos de cláusulas que nunca poderão fazer parte do
conteúdo obrigacional das CCT - cláusulas de garantia sindical e cláusulas que
consagrem um dever de paz social absoluto. Também as cláusulas que con-
trariem princípios gerais de direito do trabalho que sejam consagrados na CRP
ou na lei ordinária estão excluídas.
Aqui falamos da convenção como instrumento que tem o estatuto jurídico das
relações de trabalho que se estabelecem entre os empregadores e os trabal-
hadores individualmente considerados, que carecem, no âmbito subjectivo, da
aplicação da CCT.
Este conteúdo pode incluir:
Existem certas limitações, previstas actualmente nos arts. 533º n.º 1 al. a), b) e
c) CT.
A redução operada pela nova CCT, não se pode nunca reportar a direitos que
tenham a sua fonte nas cláusulas do CIT, apenas se pode dirigir aos direitos
que tenham o seu suporte no instrumento de regulamentação anterior.
O mecanismo essencial, com vista à afectação e efectivação do conteúdo nor-
mativo das CCT, é o do princípio da inderrogabilidade do conteúdo da CCT, que
é acompanhado pela responsabilidade penal daqueles que infringem o conteú-
do normativo da CCT, sem prejuízo da responsabilidade civil com indemniza-
ção nos termos gerais, pelos danos sofridos.
A regra é a constante no artigo 552º n.º 1 CT, que consagra o princípio da fili-
ação, por força do qual uma convenção abrange as relações individuais de tra-
balho existentes ou que venham a existir entre trabalhadores e empregadores
filiados nas entidades outorgantes.
Esta regra aplica-se no artigo 552º n.º 2 CT, quando estamos perante uma con-
venção concluída, não por um sindicato, mas por uniões ou confederações ou
de associações patronais .
artigo 536º CT
Por força do âmbito pessoal das convenções, uma relação individual de trabal-
ho pode cair no âmbito da aplicação de duas ou mais convenções.
4º - Caso os trabalhadores, não façam esta escolha atribuída por lei, iremos
recorrer mecanismo consagrado no artigo 536º n.º 5 CT- na ausência de escol-
ha por parte dos sindicatos ou dos trabalhadores o instrumento aplicável é
aquele que foi publicado mais recentemente.
Por força do artigo 543º al. c) CT, as convenções têm que conter a indicação
da área e âmbito geográfico de aplicação.
Esta zona geográfica, pode ser nacional, regional, distrital ou conferida apenas
a uma empresa. O local de trabalho (espaço geográfico) determina o âmbito
pessoal de aplicação da convenção.
Este âmbito dá-nos a delimitação do tempo no qual se vai aplicar uma dada
convenção. Define a eficácia temporal de uma dada convenção – arts. 556º e
ss. CT.
A aplicação das convenções deve pautar-se também pelas regras que presi-
dem à aplicação da lei artigo 9º do C.C. Mas existe aqui uma especialidade que
resulta da existência, em Direito do Trabalho do princípio do tratamento mais
favorável ao trabalhador por força do qual o intérprete deve ter cuidado na qual-
ificação de uma norma em imperativa absoluta ou imperativa limitativa.
1)Ao nível dos aspectos jurídicos da convenção, uma vez que é constituída por
um conjunto de normas que se projecta sobre os contratos que caem no seu
âmbito de aplicação.
Estas teses admitem que nas convenções encontramos uma síntese de contra-
to e uma faceta regulamentar. Contudo têm o inconveniente de não darem uma
visão unitária acerca da natureza jurídica das convenções.
Acordos de Adesão
Realiza-se entre uma entidade outorgante e a parte que não outorgou, mas que
pretende ser abrangida por ele.
Por força deste acordo uma convenção cujo âmbito de aplicação está à partida
limitado pelo princípio da filiação e suas excepções, passará a abranger os tra-
balhadores que a ele pretendam aderir.
1)as partes devem ter capacidade negocial colectiva e devem ter a necessária
legitimidade assim como poderes de representação;
3)de tal acordo, não pode resultar qualquer modificação do conteúdo da con-
venção à qual se adere - artigo 563º n.º 3 CT. Isto, porque na celebração de tal
acordo, as partes têm liberdade de celebração e não liberdade de estipulação.
Regulamentos de Extensão
Decisões Arbitrais
1)os regulamentos de extensão - artigo 573º e ss. CT - que visam alargar uma
convenção ou decisão arbitral;
2)os regulamentos de condições mínimas - artigo 577º e ss. CT - que definem por
via administrativa a regulamentação laboral aplicável a um determinado sector ou
profissão.
Nestas a autonomia dos sujeitos laborais colectivos é posta de lado, daí o seu
carácter excepcional.
Numa noção ampla, os conflitos laborais colectivos têm por objecto todos os
temas relacionados com o trabalho. Numa noção restrita, estamos perante um
conflito laboral colectivo, quando este se relaciona com a preparação ou
revisão de uma convenção colectiva de trabalho.
Esta distinção tem sido objecto de muitas críticas, porque normalmente sob um
conflito jurídico esconde-se um conflito económico ou de interesses.
A Greve
A greve vem regulada no artigo 54º CRP e nos arts. 591º e ss. do CT.
A greve parte da ideia de abstenção colectiva concertada da prestação de tra-
balho levada a cabo, por um grupo de trabalhadores e que visa salvaguardar o
interesse colectivo.
1) perda de retribuição;
2) perda da antiguidade;
3) problema do procedimento disciplinar
Para que uma greve seja lícita e recondutível ao regime jurídico da greve deve-
se observar um requisito formal, que é o da greve ser declarada por quem tem
competência legal para o fazer - artigo 592º n.ºs 1, 2 e 3 CT.
Daí que o artigo 592º CT preveja que a representação dos trabalhadores gre-
vistas seja feita ou assegurada pelas associações sindicais que decidem a
greve, ou por uma comissão de trabalhadores, expressamente eleita para o
efeito.
Estes piquetes de greve vão alertar para as vantagens do recurso à greve, sem
com isso impedir, através da força, a realização da prestação de trabalho,
ameaçando no caso de não se verificar tal adesão à greve.
Teoricamente, a greve é um meio de pressão ou uma consequência
desagradável, que se impõe ao empregador, para se obter um determinado
interesse colectivo.
Para que greve seja lícita, compete aos trabalhadores, nos termos do artigo 57º
n.º 2 CRP, definir o âmbito de interesses a defender através da greve.
1) Greve Trombose
Se numa empresa com 300 trabalhadores, três deles com tarefas de fiscaliza-
ção dos outros aderem à greve (para aumentos salariais) os outros 297 trabal-
hadores que queiram realizar a sua prestação não o podem fazer.
2) Greve Intermitente
4) Greve Retroactiva
Seria então de deduzir que a retribuição dos meses anteriores, que foi paga
para ensaiar, seria descontada? A entidade empregadora não recebe qualquer
contrapartida em relação à contribuição que deu. Existe uma desconexão entre
o que a entidade empregadora sofreu e aquilo que os trabalhadores sofreram
em termos de perda de retribuição.
Tal situação abusiva do direito à greve não pode ser realizada, pois tais circun-
stâncias implicam:
Esta pressão é exercida com vista à obtenção de dois tipos de finalidades que
servem para qualificar o “lock out, em “:
Isto passa-se no nosso sistema jurídico - artigo 57º n.º 3 da CRP e artigo 605º
CT. Tal proibição poderá de modo precipitado, levar a pensar que sempre que
existe um encerramento de uma empresa há um “lock out”.
Quer isto dizer que, se houver encerramento sem motivação não existe “lock
out” mas o encerramento temporário da empresa que terá na sua base uma
suspensão do contrato, pelo que lhe será aplicável este regime.
Conciliação
– arts. 583º a 586º CT
negociação assistida por uma terceira entidade que irá ajudar as partes a
alcançar o acordo, que tanto poderá ser sobre a totalidade da matéria (concili-
ação total) como apenas alguns dos pontos objecto da negociação colectiva
(conciliação parcial).
Mediação
arts. 587º a 589º CT– exprime a tentativa de resolução de um conflito pela
via consensual a partir de uma proposta formulada por uma 3º entidade desig-
nada pelas partes. Na mediação o acordo resulta da vontade do mediador.
Esta deverá ser aceite pelas partes nos 10 dias subsequentes, excepto se, ao
abrigo do seu carácter supletivo, se decidir alargar ou reduzir o prazo. O silên-
cio das partes não pode ser entendido como aceitação tácita da proposta – art.
588º n.º 7 CT.
Arbitragem
- art. 590º CT – que remete para os arts. 564º a 572º
Estes conflitos também podem cessar pela via da intervenção do Estado.
judicial – quando estivermos perante uma luta laboral contrária á lei. A inter-
venção judicial poderá reduzir-se à possibilidade de decretar providências
cautelares.
O conteúdo deste direito pode ser enunciado como o poder, reconhecido e tute-
lado pela ordem jurídica, de que dispõe uma pessoa, para exigir a concessão
de prestações, pecuniárias ou em espécie, como resposta a qualquer uma das
situações em que se encontre, face à ocorrência das eventualidades legal-
mente previstas – ex. interrupção, redução ou cessação de rendimentos auferi-
dos no exercício da actividade profissional, ou de rendimentos equiparados.
Quanto à sua natureza, uns dizem respeito aos fins protectores do sistema,
enquanto outros são sobretudo relevantes no domínio dos meios organizativos
e gestionários. Quanto à sua amplitude, uns são comuns aos vários sistemas
ou subsistemas, ou seja, são verdadeiramente gerais, enquanto outros dizem
principalmente respeito a determinados sistemas ou subsistemas – são de apli-
cação sectorial.
Pela sua natureza, a incidência dos riscos sociais (doença, desemprego, etc.)
é extremamente diversificada, conforme a situação das pessoas, em função da
idade, do local e ambiente de trabalho.
No entanto, a diferenciação dos direitos e obrigações numa perspectiva de
equidade só pode ser estabelecida por grupos de situações, cuja delimitação
de âmbito funcional pode ser muito variável.
Ora, pela sua natureza, a garantia judiciária abrange todas as situações em que
está em causa a defesa de quaisquer direitos ou interesses legalmente tutela-
dos no âmbito do ordenamento jurídico da Segurança Social, tenham ou não
como objecto a atribuição de prestações.
Nos termos do art. 20º da CRP a garantia judiciária constitui o conjunto de pre-
vidências jurídicas que permitem ao titular de direitos ou interesses legítimos
tutelados pela lei, ter acesso aos tribunais para os fazer valer, face a qualquer
ameaça ou violação por outrem.
Pelo contrário, deveriam ser financiadas por transferência das receitas gerais
do Estado (fiscalidade), as prestações compensatórias de encargos como as
prestações familiares e os cuidados de saúde (função de compensação de
encargos), bem como as prestações de garantia de rendimentos mínimos
(função de garantia de rendimentos sociais).
Subsistema Previdencial
O Subsistema Previdencial, previsto nos arts. 27º a 49º LBSS, assenta num
princípio de solidariedade de base profissional, e tem como objectivo garantir
“prestações pecuniárias substitutivas de rendimentos do trabalho, perdido em
consequência da verificação das eventualidades legalmente definidas.”
Nos termos do art. 31º n.º 1, este sistema abrange o regime geral de Segurança
Social aplicável à generalidade dos trabalhadores por conta de outrem ou legal-
mente equiparados e aos trabalhadores independentes (art. 28º n.º 1), bem
como os regimes de inscrição facultativa (art. 28º n.º 2).
O n.º 2 do art. 29º LBSS admite que o elenco das eventualidades protegidas
possa ser alargado “em função da necessidade de dar cobertura a novos riscos
sociais”, ou reduzido “em função de determinadas situações e categorias de
Por seu turno, o art. 34º exige para a atribuição das prestações, não só a
inscrição no subsistema previdencial, mas também, “nas eventualidades que o
exijam”, “o decurso de um período mínimo de contribuição ou situação equiva-
lente.” Este período é usualmente denominado como “prazo de garantia”.
na velhice, 15 anos, com uma densidade contributiva de 120 dias por cada
ano ou grupo de anos (DL 329/93 de 25/09, arts. 15º e 21º).
A determinação dos montantes das prestações é feito nos termos do art. 35º.
O art. 45º LBSS define os sujeitos passivos da obrigação contributiva que, nos
termos do n.º 1 “são obrigados a contribuir para os regimes de Segurança
Social.” Estão em causa os beneficiários e, no caso de exercício de actividade
profissional subordinada, as respectivas entidades empregadoras.
Nos termos do art. 51º, este sistema abrange também a cobertura da eventu-
alidade de incapacidade absoluta e definitiva dos beneficiários do subsistema
previdencial, “na parte necessária para cobrir a insuficiência da carreira con-
tributiva dos mesmos em relação ao correspondente valor da pensão de
invalidez, calculada com base numa carreira contributiva completa”.
Refere o art. 52º o âmbito pessoal deste subsistema, que se aplica aos
cidadãos nacionais, podendo ser tornado extensivo a refugiados, apátridas e
estrangeiros com residência em Portugal.
O seu âmbito material vem previsto no art. 53º, segundo o qual abrange as
eventualidades de:
quotizações de trabalhadores,
contribuições de entidades empregadoras,
transferências do Estado e de outras entidades públicas,
receitas fiscais legalmente previstas.
Uma última nota para salientar o facto do art. 130º LBSS prever o prazo de 180
dias após a entrada em vigor da Lei de Bases, que ocorreu a 19 de Janeiro de
2003, para a aprovação das “normas necessárias à execução da presente lei”,
sendo que, até à presente data, ultrapassado que está o prazo estabelecido,
não foram aprovadas tais normas, o que dificulta a execução dos objectivos
enunciados na Lei de Bases.