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O PROCESSO, DE FRANZ KAFKA

Verônica França de Brito, Lou-Andreas Sampaio, Luciana Ava, 3ºc, matutino

“a lei deve ser acessível a todos e a qualquer hora, pensa ele;” (KAFKA)

O Processo foi uma obra produzida por Franz Kafka, mestre da literatura alemã, mas que recebia
influências tchecas, alemãs e judias. Kafka cria um “gênero”, o kafkaniano, de escrita. É o único
autor que conseguiu ser transformado em adjetivo em mais de cem línguas. Mas o que seria o
kafkaniano? É tudo aquilo em que a lógica é o absurdo; é o sombrio, a culpa e a burocracia. Dentro
do mundo de Kafka, tudo que nosso mundo seria absurdo, é normal; o normal, absurdo. Assim, o
homem, pra ele, é transformado em “coisa”, ele denuncia que “os homens são coisas que parecem
seres vivos”. (BELO) A obra de Kafka é adaptada para o cinema em 1962 por George Orson Welles
e gera uma revolução no mundo cinematográfico.

O livro de Kafka, transformado no filme O Processo denuncia a sociedade burocrática e hipócrita,


querendo, o autor, demonstrar as injustiças da época, as farsas dos regimes totalitários. A obra
retrata a “vida” de Joseph K. após acordar e descobrir que estava sendo preso sem nem mesmo
saber qual o crime que lhe estava sendo atribuído, sem direito a defesa. Assim como no livro,
Joseph K. está imerso no mundo da burocracia de um tribunal para tentar descobrir qual o crime que
cometeu. Entretanto ninguém respondia às suas perguntas com clareza, e nada fazia sentido na
busca. Falando da incomunicabilidade da justiça, das barreiras que são postas entre o cidadão
comum e a lei. No filme, a grande preocupação é com o culpado e não com a justificação ou não
com a causa. O advogado representado como o corrupto, aquele que torce pela dificuldade e
lentidão da justiça. A sátira do advogado deitado em sua cama, ou seja, em seu berço esplêndido e o
cliente aos seus pés submisso a ele, mostra que o direito é ciência exercida por aqueles que estudam
- como citaremos posteriormente- que impõe regras arbitrárias ao restante de que nada tem
conhecimento. É a idéia de subordinação durante todo o filme.

No texto de Bourdieu, há uma análise do campo jurídico e como seria o seu funcionamento normal.
As práticas e os discursos jurídicos são produtos do funcionamento de um campo cuja lógica
específica está determinada, por um lado, pelas relações de forças especificas e pela lógica interna
das obras jurídicas que determinam o universo de soluções propriamente jurídicas. K. começa a
trilhar o labirinto daquilo a que Bourdieu dá o nome de campo jurídico que “é o lugar de
concorrência pelo monopólio do direito de dizer o direito” (BOURDIEU). Nesse campo, só entram
aqueles que possuem a “legitimidade” para tanto, os detentores do capital jurídico. Esse campo é

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dotado de um hermetismo que impede a entrada de outros, como Joseph K., no seu interior.

Na realidade, a instituição de um <<espaço judicial>> implica a imposição de uma


fronteira entre os que estão preparados para entrar no jogo e os que, quando nele se
acham lançados, permanecem de factos deles excluídos, por não poderem operar a
conversão de todo o espaço mental – e, em particular, de toda a postura linguística
– que supõe a entrada nesse espaço social. (BOURDIEU)

Então, Joseph K. segue no processo. Sem saber quem o acusa, tendo o advogado como mero
coadjuvante, peça do sistema que apenas existe, mas não atua; suas tentativas de se defender são
frustradas e ridicularizadas. K. não é detentor do capital jurídico e social para ser peça ativa do
processo, porém é funcional. O crime - e, por conseguinte, os criminosos- tem sua utilidade por “se
liga às condições fundamentais de toda a vida social e, por isso mesmo, tem sua utilidade.”
(DURKHEIM apud BELO)

Há que se frisar, que a crítica de Kafka à modernidade não se limita a denunciar a opressão que
emana da autoridade legalmente constituída, ou seja, da autoridade legalmente constituída, ou seja,
da autoridade que se reveste de legitimidade jurídico institucional, mas também o absurdo embutido
na “autoridade” que emerge na instância de paralela de poder, às margens, portanto do ordenamento
jurídico-administrativo em vigor numa determinada sociedade.

É possível afirmar que a crítica “kafkaniana” da modernidade pode ser exposta até os dias atuais,
bem como as estruturas mostradas por Bourdieu. O Processo é sim uma crítica feroz ao que há de
mais “moderno” no Estado: seu caráter impessoal e anônimo, que o transforma em estrutura
tautológica (a mesma tratada por Bourdieu) cujos objetivos residem apenas em sua auto-
reprodução. Evidencia o caráter da máquina judiciária do Estado perante as supostas “vítimas”:
uma estrutura burocrática e hierarquizada, impessoal e anônima, imprevisível arrogante e
impiedosa. Pensamos que o sentido dessa organização dita por K. se movimenta no vácuo da
ausência da lei, a qual cria uma sensação de segurança, um mundo hipotético, que na verdade tal
segurança não é absoluta. A Lei é protegida do manuseio do todo, a poucos cabem a capacidade de
discutir e ter acesso à lei – apenas interpretada por aqueles que têm designo para essa finalidade. É a
relação homem do campo ‘versus’ porteiro, encontrado na sua obra – o guarda da lei na porta do
tribunal, que representa uma barreira para ser transposta, com o objetivo de proteção da própria lei,
da preservação da mesma.

A relação ontológica; a divisão do poder em classe vem com a intenção de criar uma sensação de
que tudo é acessível, inclusive a justiça. O Estado deveria tratar os indivíduos de forma igualitária,

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porém ele separa indivíduos que receberão a legitimidade para interpretar o corpo de normas e dar
pareceres e ordens que terão o poder simbólico de se impor perante os outros, obtendo pela
linguagem o que se obteria pela força física. Esse poder se impõe unilateralmente sobre aqueles que
estão “à porta da lei” que não têm “competência” para questioná-lo ou nega-lo. Havendo assim uma
postura “logocêntrica” dos operadores do Direito, pois só eles se acham capazes de discutirem o
Direito. Eles não o discutem com pessoas “comuns”.

O efeito de hermetismo que o próprio funcionamento do campo tende a exercer


manisfesta-se no facto de que as instituições judiciais tenderem a produzir
verdadeiras tradições específicas e, em particular, categorias de percepção e de
apreciação perfeitamente irredutíveis às do não-especialistas, gerando os seus
problemas e as suas soluções segundo uma lógica totalmente hermética e
inacessível aos profanos. (BOURDIEU)

Ou seja, os profanos habituam-se a não questionar decisões judiciais ou os processos legais para se
chegar a ela porque a aqueles que as proferem foi dado o poder de dizer o mundo. Aos que tentam,
como Joseph K., sobra o escárnio e a condenação, pois em Kafka à luz de Bourdier, a justiça não é
para ser procurada e sim discutida, e a pessoa que procura a justiça nunca vai até ela, porque a
mesma bate na porta da Justiça e é aquela declarada incapaz de discuti-la.

A destruição desse poder de imposição simbólico radicado no desconhecimento


supõe a tomada de consciência do arbitrário, quer dizer, a revelação da verdade
objetiva e o aniquilamento da crença, é na medida em que o discursos heterodoxo
destrói as falsas evidências da ortodoxia, restauração fictícia da doxa, e lhe
neutraliza o poder de desmobilização, que ele encerra o poder simbólico de
mobilização e de subversão, poder de tornar atual o poder potencial das classes
dominadas.(BOURDIEU)

A questão do poder simbólico dos profissionais do campo jurídico é circular, tautológico. Aqueles
que já estão inseridos no campo, não desejam perder os privilégios dados pelo discurso ortodoxo e
aquele que estão sendo inseridos no campo, pelas faculdades, pretendem alcançá-los. Assim, o
habitus acerca do direito, ou seja, aquelas estruturas duradouras criadas acerca do direito, bem como
o habitus jurídico, aquelas estruturas criadas dentro do campo jurídico, vão se permeando e se
tornando ainda mais rígidas.

Na mesa do tribunal (o qual é o local onde existe a moral, é a figura da Justiça),vimos Livros de
Direito empoeirados e com uma foto de uma “bunda” dentro ou seja, o descaso e o desvio da
atenção do juiz – o juiz nunca tem atenção só para lei, ele não atenta para o problema em si. E a lei,
afasta-se cada vez mais do ideal de igualdade e de justiça.

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Orson Welles exprimiu de forma esmagadora o espírito da obra de Kafka, transpondo-a para uma
decoração moderna, monstruosamente fria e impessoal. Não é, entretanto por acaso que o termo
“kafkaniano” entrou na linguagem corrente. Orson transmitiu ao espectador todo o clima sombrio,
claustrofóbico e angustiante, um estilo visualmente “pesado” e literalmente escuro, utilizando
locações nebulosas, como o salão coberto pilhas de processos arquivados iguais aos dele, e que
nunca serão resolvidos – dita como “justiça encostada”, é a negação da discussão. O clima de
pesadelo é presente durante todo o filme – a fantasia lógica do pesadelo. Seus personagens,
geralmente, angustiados e solitários, sempre com um clima de derrota, sentimento de culpa. Talvez
o sentido dessa organização citada por K. da movimentação no vácuo da ausência da lei, seja o de
provar que não há mais inocentes, que somos todos culpados. E é essencialmente essa
culpabilidade, que não possui local ou sujeito, que acaba sendo incorporada por K., sendo
considerada assim - a culpa - como o personagem verdadeiro de O Processo.

O final não traz a redenção de K. mas sua vergonhosa e inglória destruição, uma morte que acaba
não envolvendo a glória ou dignidade da morte heróica da vítima de uma grande injustiça, mas a
aniquilação fria sórdida e mesquinha de um cidadão anônimo, pois K. tem identidade própria, a
identidade é ligada ao cargo que ele exerce.

É fascinante notar a afinidade espiritual existente entre O Processo e toda uma corrente da
ficção contemporânea, a chamada literatura distópica, que consiste numa serie de utopias
negativas que projetam em sociedades futuristas as inquietações da modernidade. ( LESSA,
FELIPE)

Percebemos que a obra de Kafka não é, de modo algum, uma obra puramente especulativa. Em
Kafka o futuro já existe e está entre nós e há de ser mudado. Não há o recurso tranqüilizador a um
futuro remoto, mas a presença incômoda de um agora que nos assalta. A impressão que nos causou
é da produção de um despertar, pois um dia poderemos acordar na mesma situação de K.

O direito é a forma por excelência do discurso atuante, capaz, por sua própria força, de produzir
efeitos. Não é demais dizer que ele faz o mundo social, mas com a condição de se não esquecer que
ele é feito por este.

Enfim, o direito possui aspectos caracterizadores que norteiam suas ações. Há alguns procedimentos
que têm que ser seguidos sob pena de invalidar o processo. Ele tem suas exigências a exemplo da
qualificação das pessoas que o discutem. Entretanto nenhum desses aspectos deve permitir que o
direito se distancie dos seus usuários, que se torne um arma de dominação dos regimes totalitários,

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que seja cruel, injusto ou corrupto. O direito foi feito pela sociedade para servi-la buscando o bem
estar de todos e não vantagens para alguns indivíduos.

É muito triste o quadro pintado pelo filme, mas não se pode negar que tal realidade existiu e que
parcelas sombrias dela perduram até os dias de hoje. É papel fundamental dos novos operadores do
direito transformar essa realidade em algo mais próximo do ideal, do justo, do humano, como
contribuição para o direito que se quer alcançar.

“É provável que o poder de sugestão de Kafka, esse pintor de pesadelos vivos, consista
precisamente no sortilégio: depois do advento de sua obra, jamais voltaremos a estar
seguros outra vez.” (DROGO)

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BELO, Warley. Cidadão Joseph K.: observações críticas sobre o processo de Kafka e o processo
penal. Disponível em: < http://www.juristas.com.br/mod_espaco_aberto.asp?t=499&p=4 >.
Visitado em: 17 abr. 2008.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 3 ed. Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2000.

CORREIA, Heloisa Helena Siqueira; MARTINEZ, Vinicio C. O processo de Kafka: memória e


fantasmagoria do Estado de Direito. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?
id=5130>. Visitado em: 17 abr. de 2008.

KAFKA, Franz. Diante da lei, in:O processo. 6 ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. p. 230-232.

DROGO, Giovani. A DESUMANIZAÇÃO DO HOMEM SOB O ESTADO EM FRANZ


KAFKA. Disponível em: < http://worden.blogspot.com/2007/08/desumanizao-do-homem-sob-
oestado.html. > Visitado em: 29 abr. 2008

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