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Resumo: Este artigo apresenta uma visão conceitual sobre software livre bem como seu
surgimento e sua consolidação no mercado. A partir dessa plataforma torna-se possível a
construção de diversas expressões midiáticas (sites, podcasts, edição de áudio/vídeo). A
discussão também envolverá a utilização desses recursos no processo de construção do portal
Link Recôncavo ( Laboratório virtual da disciplina Jornalismo Online do curso de Jornalismo
da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), disponível em
www.ufrb.edu.br/linkreconcavo.
Palavras Chave: Software Livre; Link Recôncavo, Tecnologia da Informação e Comunicação.
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Alene Lins é docente da UFRB (cursos de Jornalismo, Cinema e Gestão de Cooperativas),
orientadora e moderadora do site Link Recôncavo (www.ufrb.edu.br/linkreconcavo) e coordenadora
da linha de pesquisa Audiovisual em Software Livre no Grupo de Estudos e Práticas Laboratoriais em
Software Livre e Multimeios.
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Hamurabi Dias é discente da UFRB, curso de Jornalismo, colaborador e editor do site Link
Recôncavo e integrante Grupo de Estudos e Práticas Laboratoriais em Software Livre e Multimeios.
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Rosivaldo Mercês é discente da UFRB, curso de Jornalismo, colaborador do site Link Recôncavo e
integrante Grupo de Estudos e Práticas Laboratoriais em Software Livre e Multimeios.
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INTRODUÇÃO
A produção coletiva de programas de computadores tem seu início na década de 1960,
quando programadores buscavam criar sistemas operacionais que rodassem em todas as
máquinas, com aperfeiçoamentos constantes (CASTELLS, 2003). Mas esse comportamento
coletivo sofre grande abalo em 1984, quando da decisão comercial da AT&T de reivindicar
direitos de propriedade sobre o sistema operacional UNIX, criado com a colaboração de
diversos programadores. A AT&T fechou o código fonte4 do UNIX e o sistema passou a ser
de propriedade dela. O que parecia uma ruptura no sistema livre de trabalho dos
programadores entusiastas, acabou desencadeando o movimento do software livre – um
movimento político tecnológico – criado por Richard Stallman, programador do Laboratório
de Inteligência Artificial do Instituto de Tecnologia de Massachussets _MIT, nos Estados
Unidos. Stallmam, junto com um grupo de programadores, começou então nesse momento o
desenvolvimento de um novo sistema operacional, baseado no UNIX, que foi nomeado de
GNU.
Simultaneamente ao desenvolvimento desse sistema, Stallmam cria a Free Software
Fundation (FSF) e elaborou um esboço jurídico que garante a abertura do código fonte, a
plena liberdade de uso, aperfeiçoamento e distribuição dessa tecnologia.
Apesar de ter sido criado as condições políticas favoráveis à manutenção e ao
desenvolvimento de softwares livres, um dos sistemas centrais do Projeto GNU, o Kernel 5
HURD, não funcionou como deveria. Em 1991, o estudante Linus Torvalds cria um novo
kernel para o projeto GNU, que ele chamou de Linux, hoje utilizado em milhões de
computadores, como sistema alternativo às plataformas operacionais de softwares
proprietários.
O software livre se caracteriza pelo desenvolvimento colaborativo e pelo livre acesso
ao código fonte, o que assegura aos seus usuários as quatro liberdades (Silveira, 2004): 1- A
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É o conjunto de palavras ou símbolos escritos de forma ordenada, contendo instruções
em uma das linguagens de programação existentes, de maneira lógica. Existem
linguagens que são compiladas e as que são interpretadas. As linguagens compiladas,
após ser compilado o código fonte, transformam-se em software, ou seja, programas
executáveis. Este conjunto de palavras que formam linhas de comandos deverá estar
dentro da padronização da linguagem escolhida, obedecendo a critérios de execução.
Atualmente, com a diversificação de linguagens, o código pode ser escrito de forma
totalmente modular, podendo um mesmo conjunto de códigos ser compartilhado por
diversos programas e, até mesmo, linguagens.
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O Kernel de um sistema operacional é entendido como o núcleo deste ou, numa tradução literal, cerne. Ele
representa a camada de software mais próxima do hardware, sendo responsável por gerenciar os recursos do
sistema computacional como um todo.
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liberdade de uso para qualquer finalidade; 2 - a liberdade de estudar o software
completamente; 3 - a liberdade de alterar e melhorar o software; 4 - a liberdade de redistribuir
as alterações feitas.
Dessa forma, segundo a Free Software Foundation, o software livre é conceituado
como qualquer programa de computador que pode ser usado, copiado, estudado e
redistribuído sem nenhuma restrição, exceto que as liberdades sejam mantidas. Na esteira
desse conceito surgem outras definições como software código-aberto e software proprietário.
O código-aberto permite que o usuário apenas tenha acesso ao código fonte, não podendo
alterá-lo e o proprietário, ou comercial, que permite o uso através da venda de licenças, na
qual o usuário utiliza o produto para certos propósitos e por determinado período de tempo. A
indústria dos softwares proprietário é regida pelas leis de direitos autorais dos países em que
são produzidos e comercializados. Sobre a questão do software proprietário Silveira (2004)
critica os princípios de seu desenvolvimento:
Quando falamos em software proprietário estamos falando de um modelo de
desenvolvimento e distribuição baseado em licenças restritivas de uso. Estamos
falando em autoria e propriedade do software. Em analogia, estamos falando que a
receita não é mais entregue junto com o bolo, pois as pessoas estariam impedidas de
modificar e redistribuir aquela receita. O modelo de software proprietário esconde os
algoritmos que o compõem. Apesar de ser composto por informações agrupadas e de
se basear em conhecimentos acumulados pela humanidade, a indústria de software
proprietário se direcionou para tentar bloquear e evitar que o caminho de seu
desenvolvimento fosse semelhante ao desenvolvimento do conhecimento científico.
A ciência cresce a partir do princípio de compartilhamento, e não a partir da idéia de
propriedade.
É nesse âmbito dos direitos autorais, ou em inglês copyright, que surge uma nova
forma de se pensar o direito de uso das propriedades intelectuais, o Copyleft, popularizado por
Stallmam ou associá-lo a GPL (que significa General Public License, ou Licença Publica
Geral), que rege o uso e distribuição de softwares livres. A linha geral da copyleft determina
que todo programa licenciado pela GPL, tenha esses direitos repassados aos outros usuários
no momento de sua distribuição, ou seja, essa licença requer que os direitos de quaisquer
modificações feitas no aplicativo sejam passadas adiante com a liberdade de modificá-los
novamente. A GPL não permite, portanto, que o usuário ao modificar o sistema se apodere
dessas mudanças para comercializá-lo.
Sobre esse debate Lessig (2005) nos trás a seguinte reflexão:
O mais importante para os nossos propósitos é que apoiar o software livre e o de
código aberto não significa ser contra copyrights. O software livre e o de código
aberto não são software em domínio público. De fato, como no caso do software da
Microsoft, os detentores dos copyrights de software livre e de código aberto insistem
fortemente que os termos das suas licenças de software devem ser respeitados por
aqueles que adotam tais softwares. Os termos de tais licenças são, sem sombra de
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dúvidas, diferentes dos termos de uma licença de software proprietário. Software
livre licenciado segundo os termos da General Public License (Licença Pública
Geral, também chamada de GNU Public License — Licença Pública GNU, GPL),
por exemplo exige que o código fonte do software seja disponibilizado para
qualquer um que queira modificar e redistribuir o software. Mas essa exigência é
efetiva apenas se o copyright governar software. Se o copyright não governar o
software, então o software livre não pode impor tais tipos de exigências daqueles
que o adotam. Portanto ela depende tanto da lei do copyright quanto a Microsoft
depende.
Total 83 2 1 15
Regiões do país
Sudeste 82 1 1 15
Nordeste 84 2 1 13
Sul 85 1 - 13
Norte 84 2 1 13
Centro-Oeste 78 2 - 19
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Base: 4.690 domicílios entrevistados em área urbana que possuem computador. Respostas estimuladas.
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No Brasil empresas como Varig, Embrapa, Pão de Açúcar e Casas Bahia também
utilizam softwares livres. O governo federal, bem como outras instâncias da esfera pública,
também já adotaram o software livre em seus terminais. À exemplo do Exército Brasileiro,
que em seu Plano de Migração Para Software Livre no Exército Brasileiro, publicado em
fevereiro de 2007, estabelece como objetivos:
A IBM está cada vez mais mudando seu foco para o sistema operacional
GNU/Linux, o mais famoso conjunto de software livre — e a IBM é uma entidade
enfaticamente comercial. Portanto, apoiar o software livre e o de código aberto não é
necessariamente o mesmo que ser contra entidades comerciais. É, de fato, apoiar um
modelo de desenvolvimento de software diferente do que é praticado, por exemplo,
pela Microsoft.
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Assim, inclusão digital é muito mais do que ter acesso às máquinas, é o exercício da
cidadania na interação com o mundo da informação e da comunicação. É sabido, portanto,
que as máquinas e a conexão são condições necessárias, claro, mas não são suficientes para
que se possa promover a verdadeira inclusão. (GUIMARÃES, VELOSO e SCHNEIDER,
2007).
O papel das universidades como vetor de disseminação de soluções ou produzindo
reflexões criticas é muito importante. Essas instituições, segundo Silveira (2004), podem
emprestar seus quadros para o amplo processo de formação dos segmentos mais carentes,
menos cultos e escolarizados. Ele ainda conclui:
Uma política pública não se resume ao papel desempenhado pelo Estado. Sem
duvida alguma, o Estado deve destinar a maior parte dos recursos, mas a
formulação, a execução e a avaliação necessariamente devem envolver as
comunidades locais, os movimentos sociais e as organizações não governamentais.
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Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Podcasting
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No processo comunicacional o podcast assume importância dentro do contexto
espaço-temporal devido a sua mobilidade e seu fácil acesso. Castro (2005) esclarece que o
podcasting pode ser entendido como um produto da nova fase da ciberculltura, marcada pela
mobilidade das tecnologias wireless. O aspecto comunicativo desse suporte também é fator
preponderante para o seu uso, além de congregar, como já dito, hipertexto e aspectos
multimídia no conteúdo noticioso. A instantaneidade dos fatos e a demanda por ferramentas
mais práticas são os motivos da disseminação do podcast. A pioneira nesse sentido foi a BBC,
apostando na viabilidade do podcasting comercial. Castro (2005) descreve o seguinte
panorama para a internet a inserção das ferramentas de áudio:
A Internet, que se consolidou como um meio eminentemente textual em seus
primeiros tempos, se torna um ambiente onde cada vez mais as funções de ver
(nesse caso, assistir) e ouvir vão substituindo as funções de ler e escrever. Para
capturar a sempre fugaz atenção dos internautas, conteúdos são oferecidos em
formatos atraentes, palatáveis e de forma cada vez mais amigável, sem importunar o
usuário ou exigir dele maiores esforços. [...] Os ritmos da leitura e o da escrita
diferem do imediatismo da escuta e da visão. Ininterruptos, estes últimos se dão
através de associações ouvido-cérebro ou olho-cérebro que funcionam através de
recortes perceptivos processados com extrema rapidez. Leitura e escrita utilizam
áreas e processos cerebrais diferentes, exigindo complexa integração entre diversas
estruturas corticais, motoras e sensoriais.
O Audacity é uma ferramenta para editar e mixar qualquer arquivo de áudio nos
formatos WAV, AIFF, MP3 e OGG. Então estes arquivos podem ser tanto gravados por meio
de microfone ou entrada de linha, quanto importados de algum lugar do computador.
No Link Recôncavo o recurso do podcast foi usado no sentido de tornar mais
perceptível, e, simultaneamente, mais atrativas as matérias produzidas para o portal. O uso de
software livre além de proporcionar aos estudantes experimentarem uma nova linguagem,
permitindo que os usuários tivessem acesso a um conteúdo até então inédito, trouxe também a
oportunidade de trabalhar com um aplicativo de forma simples e bem prática, realizando
assim suas edições nesse aplicativo que foi usado no tratamento dos podcasts contidos no
Link Recôncavo.
O domínio e aplicação de softwares livres em comunicação permite ainda que o
estudante de jornalismo, futuro profissional, domine ferramentas sem custo, capazes de torná-
lo mais independente e capacitado na era da informação. Com tais ferramentas ele pode
desenvolver blogs informativos, que integrem textos e audios, sem a necessidade de gastar
com os softwares proprietários usados nas grandes empresas de comunicação. Os blogs hoje
são veículos capazes de congregar múltiplas linguagens, gerar renda e dar visibilidade aos
profissionais do jornalismo.
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A estratégia metodológica do laboratório virtual Link Recôncavo, baseado em
plataforma de software livre, permitiu ao aluno ampliar o universo de possibilidades na gestão
do próprio conhecimento, agregando valor a uma disciplina, pois trabalhou noções de
informática, de edição de audio e radiojornalismo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização de software livre envolve uma discussão contra-hegemônica, sobre o
domínio do software proprietário atualmente. As quatro liberdades (uso, estudo, alteração e
distribuição) que permeiam a base filósofica para a sua definição, formatam também as
atividades pedagógicas em torno da promoção e do incentivo ao seu uso. A reflexão de
Aguiar (2009) traz uma relação sobre o contexto em que a sociedade está hoje inserida:
Assim cada vez mais a rede mundial de computadores se afirma como uma base
tecnológica para a construção de agrupamento e organizações sociais, que acabam
por impactar diretamente a dinâmica econômica, política e cultural no mundo
moderno. Esse contexto atual de relações entre tecnologia e produção social acaba
se tornando um campo fértil para estudos e pesquisas científicas.
A discussão sobre software livre envolve diversos temas, que por si só seriam objetos
de um estudo isolado. A questão do direito autoral já citado nesse artigo, a tentativa das
grandes corporações em barrar as discussões envolvendo o universo free/libre open source
software (FLOSS), bem como o crescimento do uso desses sistemas são elementos que
poderiam compor uma pesquisa mais completa sobre essa temática. Lessig (2005) alimenta o
debate sobre o direito autoral pregando o equilíbrio entre as correntes de pensamento opostas:
O que precisamos é de uma maneira de conseguirmos algo no meio termo — nem
“Todos os Direitos Reservados” nem “Nenhum Direito Reservado” mas sim
“Alguns Direitos Reservados” — e portanto uma forma de respeitar os copyright
mas que permita aos criadores liberarem conteúdo como eles acharem apropriado.
Em outras palavras, precisamos de uma forma de restaurar um conjunto de
liberdades que antes tínhamos como certas.
A heterogeneidade dos sistemas criados a partir de software livre seria também outro
tema para pesquisas. Segundo Machado (2009) existem mais de 1000 distribuições baseadas
na plataforma GNU/Linux em atividade no mundo.
Ao contrário do que alguns apregoam, o universo open source está longe de ser
homogêneo. Em torno de um objeto em comum – o software livre –, acham-se
diversos colaboradores que, considerando o grau de afinidade, ou determinado
ideário, dispõem-se em comunidades específicas.
Esse artigo se propôs a estudar alguns elementos conceituais sobre software livre,
assim como seu uso, para então mostrar como foi eficaz a adoção dessa ferramenta como
estratégia metodológica na prática da disciplina Jornalismo Online, e seu emprego no portal
Link Recôncavo. A defesa do software livre também faz parte dessa retórica, bem como a sua
implantação nos terminais da UFRB. A possibilidade para a migração além de viável
corrobora com o papel da universidade como centro gerador de conhecimento e sua aplicação
na sociedade.
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