UFMS – Campus de Aquidauana totalidade dos demais gêneros e a transforma em um Romance (= epopéia
Disciplina = Teoria da Literatura I burguesa moderna).
Prof. Msc. Nilza Lemos O Romance de Hegel pressupõe uma realidade e a partir de então LEITE, Lígia Chiappini Moraes. O foco narrativo. São Paulo: Ática, 1993. começa a ser visto com um gênero, constituído de outros anteriormente existentes. CAPÍTULO 01 – NARRAÇÃO, FICÇÃO E VALOR Kayser: narração e convenção Origens – Platão e Aristóteles: narrar e imitar • Kayser = narrador conta a um auditório alguma coisa que aconteceu, Histórias são narradas desde sempre e entre os fatos ocorridos ou externamente em relação aos acontecimentos narrados. presenciados, bem como a própria experiência humana e a transmissão de • Romance = narrador fala pessoalmente para um leitor também conselhos, existe a presença de um narrador. Com o decorrer da história da pessoal, individual em uma sociedade de classes (= fenômeno da humanidade, as histórias tornaram-se mais complexas e o narrador foi particularização em personagens). progressivamente ocultado. • Epopéia = narrador com visão de conjunto, colocado à distância do Platão e Aristóteles iniciaram no Ocidente uma reflexão sobre a mundo narrado. Atuava como mediador entre as “musas” e seus forma de narrar, o modo como se narra, a representação da realidade e os ouvintes. efeitos que uma narrativa exercem sobre os ouvintes e/ou leitores. • Platão = em um discurso longo, deve-se alterar imitação e narração. A teoria do foco narrativo: Henry James e Percy Lubbock A imitação só deve ser utilizada para ações, tipos e gestos nobres. • Henry James (final do Século XIX – início do Século XX) = defesa • Aristóteles = poesia é uma imitação da essência. Imitar é uma forma de um ponto de vista único, antipatia pelas interferências que de conhecer o que diferencia o homem dos demais seres vivos. comentam, julgam e desviam o leitor da história. Para James, o ideal é a presença discreta de um narrador, dê a impressão ao leitor que a Hegel e a Objetividade Épica história se conta para si próprio, alojado na mente de um Hegel caracteriza o gênero épico como objetivo, lírico como personagem. subjetivo e dramático como uma síntese dos outros dois. Ao estudar o • Percy Lubbock (1921) = preocupou-se em justificar o juízo crítico desenvolvimento histórico da Epopéia, Hegel tenta caracterizá-la como uma pela análise sistemática da arte. Para ele, a narração é uma questão fundamental na construção do romance. Quanto mais o narrador e da narrativa, tenta reler Jean Pouillon e reaproveitar as suas categorias da intervém na história, mais ele conta e menos ele mostra. visão. Segundo ele, a visão por trás seria típica do romance clássico, onde história e discurso estão equilibrados. A visão com é utilizada em A crítica a Lubbock: Wayne C. Booth e o “autor implícito” monólogos, com predominância da narração sobre a história em si. Para Booth existem inúmeras maneiras de contar uma história, Finalmente na visão de fora, ocorre o predomínio da história sobre a dependendo de uma necessidade de coerência para não romper a ilusão da narração. realidade. Mostra-se contra o desaparecimento do narrador, defendido por Lefebve salienta que todo narrador finge, mesmo quando se limita a Lubbock, pois segundo ele o autor não desaparece mas se “esconde” através expressar o que só as personagens veriam, perdendo assim as possibilidade de uma personagem ou de uma voz narrativa que o representa (Autor de prever o futuro ou conhecer o caráter, as motivações e os sentimentos da Implícito). personagem O autor implícito é uma imagem do autor real criada pela escrita; é quem comanda os movimentos do narrador, das personagens, dos A análise estrutural da narrativa: Roland Barthes e Tzvetan Todorov acontecimentos, do tempo cronológico, do espaço e da linguagem utilizada. Rolande Barthes faz uma distinção entre entre o nível das funções (onde se passa a história e onde os elementos que caracterizam as As "visões" de Jean Pouillon personagens se situam), o nível das ações (personagens enquanto agentes) e Para ele, existem 3 possibilidades na relação narrador-personagem: o nível da narração (integra os outros dois níveis, onde a simples pessoa a) Visão com = narrador limita-se ao saber da própria personagem verbal não é suficiente para esclarecer com quem está a palavra – narrativa sobre si mesma e sobre os acontecimentos. em 3ª ou 1ª pessoa). b) Visão por trás = narrador domina todo o saber sobre a vida da Tzvetan Todorov aprofunda a análise do narrador, explicando que a personagem e sobre o seu destino (narrador onisciente) imagem do narrador corresponde ao autor implícito de Booth, além de c) Visão de fora = narrador renuncia ao saber da personagem, definir a imagem do leitor. Se a imagem do narrador não deve ser limitando-se a descrever os acontecimentos. confundida com o autor real, a imagem do leitor também não deve ser confundida com o leitor real. Revisando as "visões": Maurice-Jean Lefebve Maurice-Jean Lefebve, no seu livro Estrutura do discurso da poesia CAPÍTULO 02 – A TIPOLOGIA DE NORMAN FRIEDMAN "Eu" como testemunha Para sistematizar as tipologias de narrador, Norman Friedman • Narrador em 1ª pessoa, vive os acontecimentos descritos, dando ao levanta algumas questões: leitor uma maior realidade ao fato narrado. a) Quem conta a história? • Ângulo de visão mais limitado, narrando da periferia dos b) Qual a posição ocupada pelo narrador em relação a história? acontecimentos, sendo incapaz de saber o que se passa na cabeça c) Quais são os canais de informação utilizados pelo narrador para dos outros. comunicar a história ao leitor? • Capacidade de levantar hipóteses. d) Qual a distância do narrador ao leitor? • Distância próxima com relação ao leitor, com os acontecimentos sendo apresentados em cenas. Autor onisciente intruso • Narrador possui liberdade para narrar à vontade, colocando-se acima Narrador-protagonista (por trás), com ponto de vista divino, além dos limites de tempo e • Narrador não tem acesso ao estado mental das demais personagens. espaço. • Narrativa ocorre de um centro fixo, limitado às suas percepções, • Narrador coloca-se acima, na periferia, ao centro dos pensamentos e sentimentos. acontecimentos. • Distância entre a história é o leitor pode ou não ser próxima. • Predomínio de palavras próprias, pensamentos e percepções. • Ponto de vista ambíguo • Intruso = seus comentários sobre a vida, os costumes, a moral podem ou não constar na história narrada. Onisciência seletiva múltipla Narrador onisciente neutro • Quem narra desaparece, não havendo um narrador propriamente • Narrador em 3ª pessoa, caracteriza as personagens dito. • Apresenta os mesmos ângulos, canais e distância do autor onisciente • História é proveniente da mente das personagens, das impressões intruso. deixadas por elas. • Ausência de instruções e comentários gerais, mesmo sobre o • Predomínio da cena comportamento das personagens • Ponto de vista variável, conforme as personagens. personagens, feito de maneira indireta por um narrador onisciente. Onisciência seletiva • Monólogo Interior = forma direta e clara de apresentação dos • Diferente da onisciência seletiva múltipla, trata de apenas uma pensamentos e sentimentos das personagens, com aprofundamento personagem. nos processos mentais. Essa radicalização da sondagem interna da • Limitação a um centro fixo, com um ângulo central. mente acaba deslanchando um fluxo ininterrupto de pensamentos • Canais de comunicação são os sentimentos, pensamentos e que se exprimem em uma linguagem frágil. percepções da personagem central. • Fluxo de consciência = expressão direta dos estados mentais, de forma desarticulada, onde se perde a sequência lógica dos fatos. Modo dramático • Eliminação do autor, do narrador, dos estados mentais • Limita-se a informações dadas pelas personagens, cabendo ao leitor deduzir as significações a partir dos movimentos e palavras das personagens. • Ângulo frontal, fixo • Distância pequena entre história e leitor, com texto realizado por sucessão de cenas.
Câmera • Exclusão total do autor • Narrativas transmitidas em flashes da realidade. • Ponto de vista onisciente, centrado em uma ou várias personagens
Análise mental, monólogo interior e fluxo de consciência
• Análise mental = aprofundamento dos processos mentais das