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Funcionalismo

Caracterização, consistência e fragilidades.

O funcionalismo, em filosofia da mente, e particularmente no problema mente-corpo pode


resumidamente ser definido como o conjunto de teses que defendem ser possível construir uma
teoria da mente que envolva e caracterize o fenómeno mental, a sua relação com a componente
física e consequente produção de comportamento, recorrendo exclusivamente à caracterização
dos eventos e fenómenos mentais através dos seus papéis funcionais. O funcionalismo é
fortemente influenciado por teorias psicológicas oriundas de diversas correntes behavioristas,
procurando, no entanto, colmatar as suas insuficiências e tendências excessivas de
eliminativismo, em relação à existência de um complexo sistema articulado de fenómenos
mentais, subjacentes ao comportamento de seres.
Considerando apenas as caracterizações funcionais dos estados mentais, numa estratégia de
“tópico-neutral”, o funcionalista insiste ser esta a única forma de caracterização do problema
mente-corpo, renegando completamente quaisquer contributos oriundos das ciências naturais
tais como a biologia, química ou mesmo a neurobiologia cognitiva, no estudo da constituição da
componente física, já que o princípio de funcionamento desta é completamente irrelevante para
a caracterização do trabalho resultante, sendo inclusivamente a investigação nessas áreas
fortemente sujeita a equívocos ou interpretações obscuras devido à grande complexidade do
objecto de estudo.
Por exemplo, um evento de dor é caracterizado em termos de um fenómeno com um papel
funcional bem definido e relacionado com um sistema de inputs e output, que estabelecem a
ligação com o meio. A configuração física ou a própria fenomenologia do evento são meros
aspectos contingentes do evento de dor. A dor, nestes termos, só é considerada quando
efectivamente apresenta o respectivo papel funcional.
Apresentando na globalidade uma posição neutral em relação a tendências materialistas ou
dualistas, uma das grandes vantagens gerais desta doutrina (embora pelo menos uma das
variantes do funcionalismo lhe seja mais hostil, como veremos mais adiante) é a de ser
consistente com o princípio da múltipla realizabilidade, ou seja o mesmo estado mental
caracterizado por um determinado papel funcional pode ser produzido por organismos com
fisiologias totalmente distintas. O fenómeno caracterizável funcionalmente comporta-se de certa

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forma de modo semelhante a um programa de software que pode correr sobre diversas
configurações de hardware, sem qualquer perda de propriedades.
Existem diversas correntes funcionalistas com abordagens próprias do problema, mas destas,
destacam-se três variantes que reúnem o essencial da globalidade da doutrina.

Funcionalismo computacional
Introduzida por Putnam e Fodor na década de 60, a teoria computacional da mente baseia-se
sobretudo nas teorias psicológicas behavioristas, mas apresenta igualmente influências oriundas
de teorias acerca da inteligência artificial que despontavam na época. O funcionalismo
computacional pretende definir o cérebro como uma máquina de tratamento de informação,
máquina essa que através de um programa (a mente) processa a informação que lhe chega
através de um input. Uma vez processada e convertida (no que quer que seja), esta é reenviada
para o meio através de um output. Os funcionalistas computacionais invocam o princípio da
Máquina de Turing1 para sustentar a ideia de que a mente pode ser concebida exactamente como
um programa, funcionando sobre um determinado suporte físico e que, fazendo uso de um
complexo sistema de instruções predefinidas, gera determinados resultados em função do
tratamento da informação ou estímulos recolhidos. Além da natureza dos dados recebidos
através do input, o resultado é ainda igualmente determinado pelo estado em que se encontra o
sistema no momento da introdução da informação. Não é de modo nenhum líquido que um
determinado input gerará inevitavelmente sempre o mesmo output.
É exactamente esta a vantagem desta concepção em relação ao behaviorismo, o facto de se
considerar fundamental o estado em que se encontra o sistema aquando do estímulo, e não
apenas as características e natureza deste último.
Por exemplo, ter frio, segundo o behaviorismo não passa de uma disposição em função de
determinado estímulo e que seria invariavelmente gerador de um determinado comportamento
(ir buscar um casaco), mas segundo esta versão de funcionalismo, ter frio é estar na disposição
de ir buscar um casaco se estivermos na disposição de não ter frio. Deste modo, é contornada a
principal objecção ao behaviorismo, como mero gerador de acção, ignorando o factor essencial
da disposição do agente.
Esta concepção, além de ser neutra em relação à sua eventual orientação dualista ou materialista
apresenta ainda como vantagem específica o facto de ser totalmente anti-chauvinista.
Efectivamente, os princípios do funcionalismo computacional resultam numa caracterização
“autónoma” da mente, no sentido em que esta é concebida como um “software” compatível com

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Experimento introduzido por Alan Turing em 1937 que, recorrendo a um hipotético sistema computacional
abstracto, pretendia estudar a exequibilidade e os eventuais limites da computacionalidade de informação, ou seja, do
tratamento de dados através de um programa com determinadas instruções predefinidas capazes de gerar determinado
resultado em função de determinado input. Em situação extrema, e apesar da relativa plausibilidade face à
complexidade de tal empreendimento, admite-se que tal concepção poderia efectivamente comportar-se de modo
quase indiscernível em relação ao comportamento da mente humana.

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diversas arquitecturas físicas de suporte. É contudo evidente que os tipos de estados mentais
considerados são exclusivamente oriundos da psicologia popular gerada pelo senso comum.
Estados psicológicos demasiado específicos ou híbridos tal como os resultantes da investigação
científica dificilmente serão acomodados por esta concepção, uma vez que estes estão
demasiado associados a uma determinada espécie de criatura, demasiado para garantir a partilha
de estados mentais essencial à tese do funcionalismo computacional, e por outro lado, são
dificilmente relacionáveis com a produção de comportamento.
As limitações e principais dificuldades específicas do funcionalismo computacional residem na
aceitação exclusiva de estados mentais oriundos do senso comum, e na excessiva
permissividade na partilha de estados mentais por diversos tipos de criaturas, padecendo assim
neste aspecto das mesmas fraquezas do behaviorismo, no sentido da possível atribuição errónea
de determinados estados mentais a uma criatura apenas em função da observação do seu
comportamento.

Psico-funcionalismo
Outra corrente funcionalista é o psico-funcionalismo. Esta variante apoia-se bastante nas teorias
da psicologia cognitiva, segundo as quais é possível explicar o comportamento humano através
do estudo dos fenómenos supostamente subjacentes, tais como disposições comportamentais,
atitudes proposicionais, pensamentos, sensações e outros fenómenos mentais. Para tal é contudo
necessário recorrer exclusivamente a métodos científicos sofisticados não sendo compatível, ao
contrário do funcionalismo computacional, com métodos de introspecção oriundos do senso
comum, na caracterização de estados mentais. Temos então que o psico-funcionalismo, em vez
de recorrer à psicologia popular, baseia-se na crença das propriedades dos papéis dos estados
mentais internos, oriundos da mais profunda investigação científica, gerarem disposição e
comportamento, algo que para o funcionalismo computacional era irrelevante, um estado mental
era facilmente e exclusivamente identificado através da ocorrência inequívoca de disposição
para algo.
A opção de privilegiar a psicologia cognitiva em detrimento da psicologia popular deve-se ao
facto desta última ser extremamente ineficaz na identificação de estados mentais complexos ou
híbridos de complexa caracterização, por estes apresentarem características imediatas
aparentemente semelhantes (caso da tristeza, melancolia ou depressão). Para o psico-
funcionalismo, o rol de estados mentais relacionados com o fenómeno funcional são então
apenas identificáveis através do uso da melhor ciência empírica.
Apesar das vantagens de rigor e fiabilidade próprias de um maior apuro científico, esta variante
do funcionalismo apresenta a fraqueza de ser excessivamente chauvinista, ou seja, devido à
natureza da investigação, os estados mentais considerados são demasiado específicos e não se
compadecem com o princípio da múltipla realizabilidade tão próxima da doutrina funcionalista,

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já que o tipo de estados considerados é extremamente dependente da configuração fisiológica da
criatura investigada. Apenas seres com uma constituição fisiológica muito semelhante ou
mesmo idêntica poderão partilhar os mesmos estados mentais. Do mesmo modo, existe ainda a
questão da grande divergência entre as conclusões da psicologia cognitiva e da psicologia
popular que levantam diversas interrogações quanto à sua viabilidade. Por vezes as descobertas
da psicologia parecem tão distantes das conclusões do senso comum que é legítimo questionar
como é que o nosso comportamento pode ser gerado por estados psicológicos tão furtivos e
pouco evidentes.

Funcionalismo analítico
Esta variante é bastante influenciada pelo behaviorismo lógico que pretende, através de uma
estratégia de “tópico-neutral”, descrever exaustivamente e unicamente através do seu carácter
funcional, a totalidade dos conceitos dos eventos mentais que constituem a mente. O
behaviorismo lógico defende que um conceito de um estado mental pode ser totalmente descrito
em termos comportamentais, isto apesar de existirem estados mentais sem quaisquer
correspondências comportamentais relevantes. A ocorrência e natureza de estados físicos é
irrelevante para definir se existe ou não um estado mental, sendo a disposição comportamental a
única referência válida.
O funcionalismo analítico tem por objectivo, baseando-se neste princípio de forte identidade
entre o evento e as suas propriedades comportamentais, demonstrar que um conceito,
dificilmente definível em termos químicos, biológicos ou psicológicos pode ser exaustivamente
definido em termos de descrições funcionais e/ou em termos de relações causais entre diversos
papéis funcionais.
Um estado mental que apresente a configuração própria de um evento de dor mas em que o seu
papel funcional característico não tenha sido desempenhado, não é de modo nenhum uma dor.
Do mesmo modo, qualquer fenómeno que apresente o papel funcional característico da dor e
suas respectivas ligações e articulações com um sistema de input/output, é efectivamente uma
dor. Não existem outras circunstâncias em que uma dor possa ser considerada dor sem se
verificarem estas condições. O funcionalismo analítico pretende desvincular incondicionalmente
um evento mental caracterizável funcionalmente, de qualquer necessidade de ocorrência de
determinada configuração física. Temos então que um estado mental não tem papel funcional, é
o próprio papel funcional.
O funcionalista analítico defende ainda que são os papéis funcionais que geram a mente ou o
fenómeno mental, sendo os estados fisiológicos totalmente contingentes à ocorrência de um
determinado evento caracterizável funcionalmente.
Mais do que a química ou biologia ou qualquer outra ciência empírica o possa garantir, o
significado dos conceitos de evento mental só pode ser apreendido através das suas

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caracterizações funcionais. Estas à priori, já que só deste modo se consegue captar a essência do
papel funcional do evento mental, sendo todas as outras características, consideradas à
posteriori, tais como configurações físicas, encaradas como contingentes
Esta postura permite alguma aproximação a tendências materialistas, já que se defende que uma
descrição funcionalista da actividade mental é uma caracterização exaustiva da mesma, e sendo
assim, a procura do papel funcional através de métodos introspectivos é mais eficaz do que o
recurso à própria ciência empírica na pesquisa das potencialidades das capacidades funcionais
de uma determinada criatura, permitindo descobrir os estados mentais realizáveis nessa criatura.
Deste modo, e em oposição ao psico-funcionalismo, o funcionalismo analítico defende que a
caracterização deve e só pode ser efectuada com informação recolhida à priori, recorrendo-se à
psicologia popular e abandonando os conceitos herméticos e complexos oriundos da
investigação científica.
É evidente que a fraqueza particular desta variante reside essencialmente na utilização da
informação disponibilizada à priori pelo senso comum, com todos os riscos inerentes a
eventuais deficiências de interpretação dos papéis funcionais, além de serem menosprezados
estados mentais que não tenham um papel funcional evidente. Do mesmo modo, o facto de não
haver vínculo entre um evento mental (descrito funcionalmente) e a respectiva configuração
física é outro ponto discutível da tese.

II

Objecções generalistas à globalidade dos princípios das teses funcionalistas


Existem à partida diversas objecções ao funcionalismo, algumas de carácter holista, outras
relacionadas com a questão dos qualia.
Da primeira categoria temos a seguinte; partindo do princípio que, segundo o funcionalismo, os
estados mentais são definíveis através da sua características funcionais, e se de acordo com
teorias psicológicas (populares ou científicas), é concebível existirem estados mentais
(identificados com determinado papel funcional) híbridos, ou seja, resultantes da conjugação ou
articulação de diversos eventos com papéis funcionais próprios, temos que um determinado
evento mental desse tipo só é admissível existir em criaturas que sejam capazes de produzir
individualmente e articular devidamente cada um dos eventos ou estados intervenientes. Se
determinadas criaturas não forem capazes de produzir estados mentais capazes de desempenhar
alguns desses papéis, logo essa criatura não é capaz de produzir um determinado evento mental
híbrido. Por exemplo, se uma dor resulta efectivamente de uma complexa articulação entre
fenómenos de crenças e desejos, e se uma determinada criatura não tiver essa capacidade de
produzir e articular de modo adequado crença e desejo, então é-lhe impossível sentir dor.

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A réplica funcionalista a esta objecção admite a dificuldade, mas sugere que tal não deve ser
seguido taxativamente, um determinado estado mental equivalente não necessita ser produzido e
articulado exactamente da mesma forma a partir dos mesmos estados secundários. Para o
funcionalista, estados podem exactamente ter o mesmo papel funcional, apesar de apresentarem
características e propriedades vagamente distintas. Esta réplica é extremamente fraca e evasiva
uma vez que os contornos de atribuição de evento mental a uma criatura podem não apresentar
critérios devidamente fundamentados.
Outra objecção tem a ver com atitudes proposicionais (crenças, desejos), na sua propriedade de
serem acerca de qualquer coisa. Esta réplica externalista admite que é concebível
caracterizarem-se funcionalmente a maioria dos eventos mentais, mas por outro lado, existe
sempre um determinado aspecto qualitativo nesses eventos que deve ser considerado. Este
argumento é bastante pertinente em relação a “crenças”, já que se trata de estados funcionais
geradores de comportamento, com uma forte e inequívoca componente externalista. O
experimento da terra gémea desenvolvido por Hilary Putnam realça exactamente este fenómeno,
demonstrando que um estado mental pode aparentemente parecer idêntico apesar de ser acerca
de coisas diferentes, sendo em última análise efectivamente distinto. Partindo do princípio de
que existe uma terra gémea, em tudo semelhante nossa, à excepção da constituição química ou
molecular da água (XYZ em vez de H2O), mas apresentando esta exactamente o mesmo aspecto
e propriedades do que a nossa água, temos que se um determinado agente apresentar uma
determinada crença acerca da água, apesar de ser um réplica molécula a molécula do outro
agente, e de estar fisicamente exactamente no mesmo estado em ambas as terras, o estado
mental apesar de aparentemente idêntico é acerca de coisas diferentes, existe pelo menos uma
propriedade do estado mental que difere nas duas situações consideradas. Essa propriedade é
induzida pelo meio em que se encontra o agente. Conclui-se portanto que existe um aspecto
essencial aos eventos mentais, e que a caracterização funcionalista de eventos mentais é incapaz
de abranger esse conteúdo externalista, o “acerca de” de qualquer atitude proposicional,
susceptível de gerar comportamento.
À intuição que suporta as teses externalistas em que estados mentais representam ou são acerca
de algo, o defensor funcionalista pode ripostar alegando que a componente externalista não tem
grande relevância na caracterização do estado mental, sendo que uma caracterização vaga
integrada numa descrição funcionalista perfeitamente suficiente para o efeito. No caso da terra
gémea, o funcionalista justifica a sua postura invocando que a constituição da água pouco ou
nada influencia a completa caracterização funcional e exaustiva do evento mental, bastando para
tal, uma vaga referência ao meio. Esta réplica é por sua vez frágil, dado que a vaga referência ao
meio que deve fazer parte de uma caracterização funcionalista parece ser uma cedência
estratégica mas evasiva de modo a contornar o argumento.

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Este tipo de objecções relacionadas com o aspecto qualitativo dos estados mentais é explorado,
pelos detractores do funcionalismo, de forma mais consistente e concebível através da questão
dos qualia. Este forte argumento consiste essencialmente na exploração da falha do
funcionalismo em captar, o carácter qualitativo de determinado evento mental, como atrás se
disse. Tal lacuna constitui uma fraqueza aproveitada de diversas formas destacando-se os
argumentos dos qualia invertido e da ausência de qualia. A objecção dos qualia invertidos,
introduzida por Ned Block, pode ser resumidamente descrita da seguinte forma; imagine-se a
existência de uma determinada deformidade do sistema visual de um ser, que lhe causa o
fenómeno de ver verde onde todos os outros seres da mesma espécie vêem vermelho, como
seria de esperar, todo o comportamento e estímulos resultantes de uma observação de vermelho
são exactamente idênticos ao do ser normal, com a excepção dos estados mentais. Apesar de
existir equivalência de outputs e eventalmente inputs em ambos os sistemas, os estados mentais
são distintos, a fenomenologia e propriedades do fenómeno tratado são diferentes.
Tentativa com a mesma intenção, mas menos fantasiosa é conhecida pelo “argumento do
conhecimento”. Esta é baseada no argumento de Thomas Nagel de que um evento mental
apresenta sempre um “what is it like to be/to have”2, um aspecto fenomenológico intrínseco e
característico da experiência. O funcionalismo não incorpora, de forma alguma, qualquer
referência a este aspecto fundamental nas suas descrições das propriedades de um evento
mental.
Os defensores das teses funcionalistas habitualmente ripostam argumentando que o “what is it
like to be/to have” de determinada experiência é apenas um conhecimento prático da mesma,
um mero mecanismo de fixação da experiência, exclusivo da primeira pessoa e intraduzível para
a terceira pessoa, e como tal desprezável. Uma vez que não é possível uma descrição conceptual
integral de um determinado evento mental, sendo definíveis apenas pelos papéis funcionais, os
aspectos qualitativos do fenómeno podem portanto ser reduzidos a estes. Os conceitos

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Em What is it like to be a bat (1974), Nagel insiste que o factor que torna o problema mente-corpo tão particular reside na questão
da subjectividade da fenomenologia particular subjacente à experiência, cujo acesso é exclusivo do organismo submetido à
experiência. A componente física pode ser facilmente e quase totalmente apreendida por um organismo exterior ao organismo que
sofreu a experiência, mas o mesmo não acontece com a fenomenologia subjectiva. Tal facto torna inviável qualquer utilização de
métodos reducionistas semelhantes aos utilizados nas ciências naturais. No final do ensaio é proposto o desenvolvimento de
conceitos alternativos que consigam apreender objectivamente conceitos subjectivos, ou seja, a fenomenologia objectiva. A
fenomenologia, devido às suas características particulares, não é apreensível por qualquer análise reducionista do mental, nem é
sustentável por quaisquer características funcionais ou causais. Existe no entanto um aspecto objectivo na fenomenologia, a
característica que pode ser transmitida da 1ª para a 3ª pessoa com perda reduzida do conteúdo fenomenológico experienciado pela
1ª pessoa. Essa perda é tanto mais reduzida quanto maior for a proximidade fisiológica da 1ª e 3ª pessoa. A própria actividade física
manifestada durante um evento mental denuncia a possibilidade de parte do fenómeno ser apreensível por outro ponto de vista, ou
seja por um organismo exterior.

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qualitativos podem ser perfeitamente redutíveis a conceitos funcionais perdendo-se apenas a
componente incaracterizável e pouco relevante do fenómeno.
Existe ainda outra forma mais radical de refutar esta réplica dos qualia ou do “argumento do
conhecimento” recorrendo a manobras eliminativistas extremas, defendendo que os qualia não
existem, sendo a intuição de que existem de facto, fruto de ilusão ou equívoco.

Luís M. G. Horta

Referências

Branquinho, João, Contra o Materialismo, 2002


Guttenplan, Samuel, A Companion to the Philosophy of Mind, Oxford Blackwell Publishers
1996
Levin, Janet, "Functionalism", The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Fall 2004 Edition),
Edward N. Zalta (ed.), URL = http://plato.stanford.edu/archives/fall2004/entries/functionalism/.
Lycan, William G., Mind and Cognition, Oxford, Basil Blackwell, 1990
Maslin, K.T., An Introduction to the Philosophy of Mind, Oxford, Blackwell Publishers, 2001,
pp. 318-325.
Nagel, Thomas 1974: “What is it like to be a bat?” in The Philosophical Review LXXXIII, 4
(October 1974), pp. 435-50.

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