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3 – INTRODUÇÃO À ERGONOMIA
3.0 – CONCEITO
O termo Ergonomia deriva das palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (leis, regras). Este
termo foi utilizado pela primeira vez em 1857 por um polaco, de nome Wojciech Jastrzebowski
que publicou uma obra intitulada “Ensaios de Ergonomia ou ciência do trabalho, baseada nas
leis objectivas da ciência sobre a natureza”. A Ergonomia é então definida como a ciência da
utilização das forças e das capacidades humanas.
O desenvolvimento da Ergonomia, como área do saber humano, aconteceu quase cem anos
mais tarde, quando, durante a II Guerra Mundial, pela primeira vez, houve uma conjugação
sistemática de esforços entre a tecnologia e as ciências humanas e biológicas. Fisiólogos, psi-
cólogos, antropólogos, médicos e engenheiros, trabalharam juntos para resolver os problemas
causados pela operação de equipamentos militares complexos. Os resultados desse esforço
interdisciplinar foram tão frutíferos, que foram aproveitados pela indústria, no pós-guerra (DUL
e WEERDMEESTER, 1995).
Em 1949, o engenheiro inglês Murrel, começa a dar um conteúdo mais preciso a este termo, e
faz o reconhecimento desta disciplina científica criando, na Universidade de Oxford, a primeira
associação nacional de Ergonomia, a ERS - Ergonomic Research Society, que reunia fisiologis-
tas, psicólogos e engenheiros que se interessavam pela adaptação do trabalho ao homem. E
foi a partir daí que a Ergonomia se desenvolveu em numerosos países industrializados e em
vias de desenvolvimento.
Em 1959 é fundada, em Oxford, a IEA – Iternational Ergonomics Association - Associação
Internacional de Ergonomia. Os seus estatutos foram aprovados na primeira assembleia-geral,
que se realizou em Estocolmo, em 1961.
A APERGO – Associação Portuguesa de Ergonomia – Foi fundada em 1992.
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Introdução à Ergonomia
"O estudo do relacionamento entre o ser humano o seu trabalho, equipamento e ambien-
te, e particularmente, a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicolo-
gia, na solução de problemas surgidos neste relacionamento".
"O estudo científico da relação entre o homem e seus meios, métodos e espaços de tra-
balho. Seu objectivo é elaborar, mediante a contribuição de diversas disciplinas científi-
cas que a compõem, um corpo de conhecimentos que, dentro de uma perspectiva de
aplicação, deve resultar em uma melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos e
dos ambientes de trabalho e de vida".
A Ergonomia (ou o estudo dos factores humanos) é a disciplina científica relacionada com a compreensão
das interacções entre os seres humanos e os outros elementos de um sistema, e a profissão que aplica
os princípios teóricos, dados e métodos pertinentes para conceber com vista a optimizar o bem-estar
humano e o desempenho global do sistema.
Dentro da disciplina, os domínios de especialização representam competências mais profundas em atribu-
tos específicos humanos ou características de interacção humana:
• Ergonomia Cognitiva diz respeito aos processos mentais, como a percepção, memória, raciocí-
nio, e resposta motora, que afectam as interacções entre humanos e outros elementos de um
sistema.
Os tópicos relevantes incluem a carga de trabalho mental, tomada de decisão, desempenho
especializado, interacção homem-computador, fiabilidade humana, stress do trabalho, e forma-
ção relacionadas com a concepção homem-sistema.
Como refere Ian Noy “as definições devem servir para comunicar a essência da Ergonomia, o seu con-
teúdo de conhecimento único e as suas diferenças das disciplinas relacionadas. Não existem dúvidas de
que as definições serão elaboradas no futuro à medida que a disciplina se continue a desenvolver”.
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Por que razão alguns assentos de automóvel deixam as nossas costas doridas após uma longa viagem?
Por que razão alguns postos de trabalho com computadores nos deixam com fadiga muscular e ardor nos
olhos? Estas irritações e inconvenientes humanos não são inevitáveis - a Ergonomia é uma forma de
focar as capacidades e necessidades dos humanos no design dos sistemas tecnológicos. O objectivo é
assegurar que os humanos e a tecnologia funcionem em completa harmonia, com o equipamento
e as tarefas adequadas às características humanas.
A Ergonomia pode ser aplicada em várias situações do dia-a-dia, para melhorar significativa-
mente a eficiência, produtividade, segurança e saúde nos postos de trabalho. Por exemplo:
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Introdução à Ergonomia
As medidas que se apresentam a seguir (Tabela 3.1) são fornecidas a titulo meramente indica-
tivo. Cada caso deve ser estudado em função dos respectivos utilizadores. Os esquemas das
figuras 3.1, 3.2 e 3.3 têm como objectivo uma melhor compreensão da tabela.
TABELA 3.1
DESCRIÇÃO OBS. HOMEM MULHER
1 - Altura em pé 1720 ± 124 mm 1600 ± 110 mm
2 - Distância olhos - solo * 1611 ± 120 mm 1500 ± 108 mm
3 - Distância entre cotovelos levantados 920 ± 74 mm 845 ± 72 mm
4 - Distância espádua - dedos 861 ± 86 mm 783 ± 78 mm
5 - Distância cotovelos - dedos 470 ± 42 mm 428 ± 38 mm
6 - Distância joelho - solo * 540 ± 50 mm 493 ± 46 mm
7 - Distância curva do joelho - solo V 425 ± 40 mm 390 ± 38 mm
8 - Distância anca - joelho V 599 ± 56 mm 573 ± 56 mm
9 - Distância anca - curva do joelho V 477 ± 54 mm 460 ± 54 mm
10 - Espessura da coxa, sentado 146 ± 28 mm 146 ± 28 mm
11 - Distância entre cotovelos 428 ± 72 mm 374 ± 82 mm
12 - Largura das espáduas 469 ± 50 mm 419 ± 56 mm
13 - Largura das ancas, sentado V 377 ± 50 mm 406 ± 54 mm
14 - Altura sentado 896 ± 66 mm 845 ± 58 mm
15 - Distância espádua - cotovelo V 371 ± 40 mm 355 ± 36 mm
16 - Distância cotovelo - assento 231 ± 52 mm 231 ± 46 mm
Espessura do calçado 20 ± 10 mm 30 ± 20 mm
Observações:
* - acrescentar a espessura do calçado
v - medidas tiradas a indivíduos vestidos
Adaptado de Maire, Ferdinand - Ergonomia , 1966
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Fig. 3.3
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Introdução à Ergonomia
Em sentido estrito, o RENDIMENTO pode ser entendida como o resultado obtido na sequência da
actividade. Este resultado é comparado com o objectivo da tarefa, ou seja, com o resultado
desejado, podendo ser expresso em termos de êxito, falha ou nível alcançado.
O rendimento pode, então, ser definido por:
Trabalho
Rendimento =
Tempo
Tempo Previsto
Rendimento =
Tempo Real
de uma forma geral, o RENDIMENTO do trabalho humano pode ser associado ao grau de EFI-
CIÊNCIA (Timme – 1967) e pode ser traduzido por:
Output Saídas
Rendimento = =
Input Entradas
Este rendimento não é constante. Varia de trabalhador para trabalhador e para o mesmo traba-
lhador varia ao longo do tempo (dia, semana, mês…)
+ = OFERTA DE RENDIMENTO
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RENDIMENTO EXIGIDO
RENDIMENTO OBTIDO
OFERTA DE RENDIMENTO
QUALIDAES E DISPOSIÇÃO
CAPACIDADES FISIOLÓGICA
PARA O
FUNDAMENTAIS
RENDIMENTO
CONHECIMENTOS DISPOSIÇÃO
E CAPACIDADES PSICOLÓGICA
ADQUIRIDAS PARA O
RENDIMENTO
AMBIENTE DE TRABALHO
PRIVACIDADE
POSIÇÃO EM RELAÇÃO AO
TRABALHO
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Introdução à Ergonomia
O comportamento do homem no trabalho não é sempre orientado somente pela tarefa que lhe
é apresentada, dependendo também de outras aspirações. Os motivos pessoais podem
influenciar favorável ou desfavoravelmente o desempenho.
Acontece porém que, muitas vezes, uma elevada disposição para o rendimento disfarça carên-
cias a nível da capacidade para o rendimento (principalmente a nível de actividade que exijam
esforços físicos predominantes). Por seu turno, uma elevada capacidade também pode disfar-
çar alguma falta de disposição para o rendimento (principalmente em actividade que exigem
mais habilidades e menos esforço físico).
Como já foi referido, o trabalho que é executado pelo homem depende da capacidade e das
oscilações periódicas da disposição para o trabalho.
A curva do ritmo diário (resultante das oscilações periódicas diárias) segue uma lei de base
biológica que depende do tempo para refeições, do turno e regime de pausas, das actividades
de tempo livre, etc., que depende, enfim, das horas do dia.
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+ 15
DISPOSIÇÃO PARA O
10
RENDIMENTO
-5
-10
--15
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
HORAS DO DIA
Esta curva (fig. 3.4), mostra um ponto mínimo cerca das 3:00 horas. A partir deste ponto o ritmo
começa a subir, atingindo o ponto máximo cerca das 9:00 horas. Verifica-se de novo uma des-
cida, embora menos acentuada, até cerca das 14:00 horas. Acontece de novo uma subida até
cerca das 19:00 horas, hora a que atinge um máximo relativo (inferior ao máximo absoluto das
9:00 horas). A partir das 19:00 horas, começa a descida até ao mínimo absoluto das 3:00 horas
da manhã
Esta curva não é igual para todas as pessoas. Estudos mostram que cerca de 30% das pes-
soas são do tipo nocturno, isto é, nas horas mais avançadas da noite podem estar em acção
sem apresentarem consideráveis níveis de cansaço.
Muitos acidentes e falhas acontecem na fase “baixa” do ritmo diário. Não podemos dizer que a
ocorrência de acidentes durante o dia se traduz por uma curva contrária à mostrada na fig. 3.4.
Se nas horas de reduzida disposição houver trabalho de intensivo e rápido, é nessas horas que
se verifica um acréscimo de falhas.
A organização do trabalho deve ter em conta o desenvolvimento do ritmo biológico diário. Além
da curva de disposição fisiológica para o rendimento, devem ser tidos em conta os campos do
Rendimento Automatizado, os do Rendimento acessível e não acessível à vontade (fig. 3.5)
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Reserva de emergência não acessível à vontade
25
CAPACIDADE PARA O RENDIMENTO
-15
-35
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
HORAS DO DIA
Carga de trabalho
Ao falarmos de carga surge-nos a ideia de um peso que é imposto a alguém. Se nos referirmos
à carga de trabalho, o conceito passa a envolver a carga que é imposta (exigências, solicita-
ções, constrangimentos), bem como todas as suas influências sobre o comportamento e as
funções do operador em actividade. O conceito de carga de trabalho pode ser utilizado de dois
modos:
referindo-se exclusivamente à tarefa
ou simultaneamente à tarefa e ao envolvimento físico e social, constituindo, assim, a
carga global de trabalho (Sanders, 1989).
Em estudo do trabalho utilizamos sempre ao segundo.
Chiles e Alluisi (1979), encarando a carga de trabalho como solicitação, consideram que “o
nível de carga é determinado pelo conjunto de exigências profissionais impostas ao ope-
rador, implicando necessariamente acções apropriadas por parte do operador”. Manifes-
tas ou não, físicas, sensoriais, perceptivo-motoras, cognitivas, verbais ou combinadas, estas
acções são indispensáveis ao cumprimento das suas tarefas. Sublinhando que, neste contexto,
o termo exigência significa obrigação de agir, estes autores limitam a avaliação da carga de
trabalho à das exigências profissionais e da performance. APERGO
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Encarada do ponto de vista fisiológico, a carga de trabalho é o custo do trabalho para o orga-
nismo humano (Brouha, 1957). Sob a mesma perspectiva, Strasser (1979) diz que a carga de
trabalho é determinada pelo custo fisiológico (esforço físico, necessidades de atenção, ambien-
te físico – luz, calor, humidade – etc.) e psicológico do trabalho (influências organizacionais,
relações com chefias, com colegas, etc.) .
Para Monod e Lille (1976), o conceito de carga de trabalho engloba, numa relação causa-
efeito, o conjunto das reacções do homem no posto de trabalho que resultam das situações
que condicionam o trabalhador no seu posto. Esta definição oferece a vantagem de estabele-
cer um vasto quadro conceptual que permite analisar os factores de carga e os seus efeitos
sobre o homem no trabalho.
Resumindo…
CARGA DE TRABALHO:
ESFORÇO:
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Introdução à Ergonomia
Segundo a REFA, caracteriza um rendimento máximo fornecido por uma pessoa saudável
durante um prolongado espaço de tempo sem necessidade de pausas adicionais para descan-
so. A curto prazo, as cargas elevadas equilibram-se com períodos de cargas reduzidas, ou
seja, com pausas de Descanso eficientes no processo de trabalho.
Conforme já foi referido, as influências do meio ambiente sobre o sistema de trabalho são uma
realidade. Estas influências, se positivas, isto é, se os seus efeitos forem ao encontro das
necessidades do Homem, traduzem-se em melhores níveis de rendimento, numa vida mais
saudável, num equilíbrio físico e emocional do qual tanto beneficia o empregado como o
empregador (mais motivação para o trabalho, maior qualidade no desempenho, etc.) Se nega-
tivas, isto é, se os seus efeitos se traduzirem num aumento da carga de trabalho, provocam
uma redução no rendimento do Homem e podem ser a causa de situações de instabilidade que
não beneficiam nem empregados nem empregadores (aumento das “baixas” por doença, maior
incidência de acidentes de trabalho, maiores níveis de absentismo, maior incidência de doen-
ças profissionais, etc.)
O ambiente físico
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Ao aliviar o esforço físico exigido ao homem, estamos a criar condições para o aumento da
produtividade. A energia (traduzida em atenção, esforço sensorial e esforço físico) que o
homem despende para fazer face a condições adversas de trabalho não é aplicada na tarefa.
Esta situação traduz-se, a curto prazo, em menores níveis de rendimento e menor qualidade do
trabalho e a médio/longo prazo no aumento dos níveis de absentismo e das baixas por doença,
num aumento das doenças profissionais, numa menor longevidade da vida activa dos trabalha-
dores (reformas antecipadas por motivos de saúde), isto é, numa menor qualidade de vida.
Criar as condições de conforto físico nem sempre é tão difícil como parece nem tão caro como
se pode pensar. É um investimento (embora haja quem o considere uma despesa com pouca
utilidade) facilmente rentabilizável.
Para criar o conforto físico no local de trabalho é necessário, essencialmente, manter no meio
ambiente:
uma humidade relativa entre 30% e 70%
uma temperatura do ar no Inverno entre 20 ºC e 22 ºC
no verão entre 22 ºC e 24 ºC
uma ventilação entre 4 m/min e 8 m/min.
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A aplicação dos conhecimentos da Ergonomia não é um “luxo”, ao qual uma empresa se pode
dar, quando a situação económica estiver muito boa. Uma colocação desse tipo indica que não
foi estabelecida uma estreita correlação entre a adaptação das pessoas e as correctas funções
técnicas dos Postos de Trabalho e processos de trabalho. A Conformação do Trabalho, orien-
tada para as pessoas, conduz pelo menos a longo prazo – na maioria dos casos – também a
uma elevada economia
(REFA – GfA, 1978)
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QUESTÕES DE REVISÃO
3.10 - A oferta de rendimento mantém-se sempre igual para todas as pessoas? Porquê?
3.12 - A uma mesma carga de trabalho corresponde sempre um mesmo esforço? Porquê?
3.17 - Quais as vantagens de se criarem condições para aliviar o esforço físico exigido ao
homem?
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