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IV COLOQUIO INTERNACIONAL

“TEORÍA CRÍTICA Y MARXISMO OCCIDENTAL”


EL PENSAMIENTO TARDÍO DE GYÖRGY LUKÁCS

O MATERIALISMO DE LUKÁCS E A CRITICA AO DETERMINISMO.

Nome: André Guimarães Augusto


Instituição: Universidade Federal Fluminense

Introdução

O marxismo tem sido muitas vezes identificado com teses deterministas, com o
determinismo tecnológico e outras variantes do economicismo. Tal determinismo se
justificaria como uma consequência do materialismo: as entidades naturais –
identificada com a matéria, exclusivamente física e organizada de forma mecanicista –
guardariam uma relação de antecedência necessária e exaustiva com as sociais. Assim, o
determinismo resultaria do materialismo reducionista/mecanicista.
A obra de Lukács nos oferece poderosos argumentos que conformam um
materialismo que, preservando o monismo ontológico, rejeita o determinismo. Por um
lado, na ontologia do ser social de Lukács pode ser identificados o caráter histórico de
toda realidade material, a interação de complexos, uma realidade material estruturada
em diferentes níveis de ser, e o fenômeno da emergência que compõe um materialismo
dialético incompatível com as teses reducionistas e mecanicistas do determinismo.
Além disso, Lukács destaca o caráter ontológico da casualidade que nega a relação
exaustiva entre dois estados do mundo, característica do determinismo, sem, no entanto
recair no irracionalismo do qual foi forte critico.
Nesse artigo pretendo desenvolver e apresentar as teses de Lukács sobre o
materialismo dialético como uma forma de rejeição da interpretação determinista do
marxismo. De início é definida a tese determinista, apresentada sua ligação com o
materialismo e são apresentados alguns autores que interpretam o marxismo de forma
determinista. Na segunda seção são apresentados os argumentos de Lukács contra o
determinismo, demonstrando que esse não é uma decorrência necessária do
materialismo e que, assim, o irracionalismo não é a única alternativa ao determinismo.
I. determinismo, materialismo e marxismo.

A primeira grande dificuldade do debate sobre o materialismo histórico e o


determinismo é a definição dos termos. Muitas vezes a caracterização do determinismo
está ausente no debate, ou é feita de forma vaga e imprecisa, com muitos significados. A
discussão filosófica sobre o determinismo foi caracterizada por Earman (1986) como
uma “torre de babel”; diante da imprecisão e amplitude da discussão sobre o tema o
melhor é iniciar por uma caracterização o mais precisa possível da tese do
determinismo.
Dependendo de como se defina o determinismo e as suas implicações, suas
origens são muito remotas e referem-se a um mundo governado pela vontade dos deuses
(Salmon, 1998). O moderno determinismo, no entanto, está fortemente associado a uma
interpretação da física clássica newtoniana, estabelecida por Laplace1. Nessa
interpretação as leis da mecânica determinam completamente o movimento das
partículas materiais; todos os fenômenos naturais podem ser completamente explicados
pelas leis da mecânica e nada é incapaz de explicação dessa forma. (Salmon, 1998,
p.29)
A definição clássica de determinismo é aquela oferecida por
Laplace:
“We ought to regard the present state of the universe as the
effect of its antecedent state and the cause of the state that is to
follow. An intelligence knowing all the forces acting in nature
at a given instatant, as well as the momentary positions of all
the things in the universe, would be able to comprehend in one
single formula the motions of the largest bodies as well as the
lightest atoms in the world, provided that its intellect were
sufficiently powerful to subject all to analysis; to it nothing
would be uncertain, the future as well as the past would be
present to its eyes.”[enfase adicionada](Laplace, apud Earman,
1986, p.7)
A definição de Laplace oferece uma primeira aproximação à tese determinista ao
mostrar a que ela se refere: o determinismo estabelece a existência de um vínculo entre
dois estados do mundo. Nesse sentido deve se assinalar, em primeiro lugar, que o
determinismo é uma tese ontológica, se refere à estrutura do mundo (Earman, 1986,

1
Earman (1986) argumenta que a física newtoniana não é determinista.
p.7), embora a definição de Laplace inclua um elemento de natureza epistemológica, a
respeito do conhecimento do mundo, que é a previsibilidade.
Laplace estabelece uma relação entre dois estados do mundo que é de causa e
efeito. Nesse sentido o determinismo poderia ser reduzido a uma afirmação sobre o
mundo, a de que tudo tem uma causa. Mas essa afirmação sobre o mundo pode ser
entendida como resultante da razão pura, uma afirmação a priori. Dessa forma o
determinismo seria uma tese lógica, definível a partir da razão e identificado com o
principio da razão suficiente – de que algo não pode acontecer sem que uma causa o
produza – enunciado por Leibniz ou da causação universal, – a de que tudo que
acontece se segue de algo de acordo com uma regra – enunciado por Kant (Salmon,
1998, p.34). Enunciado dessa forma, como verdade racional a priori, o determinismo se
identifica com a própria racionalidade e passa a ser tomado como condição absoluta
para o entendimento racional do mundo, para a ciência. Essa interpretação aparece, por
exemplo, em Nagel, (1960) segundo o qual, (…) to abandon the deterministic principle
itself, is to withdraw from the enterprise of science.”p.317
Mas a formula de Laplace é mais do que uma afirmação puramente lógica sobre
causa e efeito; ela fala de um futuro que pode ser exaustivamente conhecido. Já na
versão logicista do determinismo como causa, o sentido implícito de causa é o da causa
eficiente, excluindo, por exemplo, as causas finais. Isso significa que o moderno
determinismo se identifica com o determinismo mecânico e não com uma outra versão
possível deste, a do determinismo teleológico (Salmon, 1998, p.37) – diferença que será
novamente aludida mais adiante. Além do mais, conforme afirma Earmen (1986, p.6)
para nos aproximarmos do determinismo partindo da existência de causas no mundo, é
necessário acrescentar à formula de que tudo tem uma causa, a de que as mesmas
causas produzem sempre os mesmos efeitos. Assim uma definição meramente lógica
do determinismo como relação aprioristica de causa e efeito, só tem conteúdo e ganha
sentido a partir de afirmações sobre o mundo: a de que existem causas no mundo - o que
é insuficiente para definir o determinismo – a de que cada estado de mundo tem sempre
uma causa, e de que cada causa sempre e inevitavelmente leva ao mesmo efeito.
Se a noção de causalidade tout court não é suficiente para definir a tese
determinista que elementos seriam o suficiente para defini-la? A relação entre dois
estados do mundo que define o determinismo foi caracterizada por Nagel (1960; p.294)
como do estado antecedente como condição necessária e suficiente para ocorrência do
estado conseqüente. Já para James (1884), a relação é de que um estado que estabelece
e decreta de forma absoluta o outro; finalmente em Hoeffer, C. (2010) a relação entre
os dois estados do mundo é entendida como de fixação pelas leis naturais, o que
segundo ele significa que um estado acarreta logicamente o outro, definição está
presente também em Salmon (1998, p.33).
O que sobressai em todas essas definições é que o vinculo entre dois estados do
mundo proclamado pelo determinismo é, em primeiro lugar, necessário. A idéia de
relação necessária é explicita em Nagel e em James e está implícita na relação lógica
suposta por Hoeffer e Salmon; não há condição que intervenha entre um estado do
mundo e outro de forma que a ocorrência de um não leva a de algum outro.
Mas a existência de vinculo necessário entre estados do mundo não é suficiente
para proclamar a tese do determinismo. O determinismo estabelece que o vínculo entre
dois estados do mundo é tal que um “acarreta” ou é “condição” de outro, o que implica
em uma relação de antecedência. Ou seja, a ocorrência de um estado do mundo é
anterior a de outro – seja no sentido temporal ou no sentido meramente lógico. É
importante ressaltar a natureza dessa anterioridade como não sendo exclusivamente
temporal; o determinismo na física, por exemplo, pode prescindir da antecedência no
sentido temporal, uma vez que a própria apreensão do tempo depende da física,
podendo a tese determinista pode ser definida como relação entre mundos possíveis
(Earman, 1986). O que a antecedência em um sentido meramente lógico implica é que
um estado do mundo antecedente acarreta o conseqüente – mesmo que, em termos
temporais, ele paradoxalmente só ocorra depois do conseqüente.
Com isso têm-se os primeiros elementos para definir a tese determinista: essa
postula a existência de uma relação de antecedência necessária entre dois estados do
mundo: a ocorrência de um estado do mundo antecedente acarreta de forma necessária a
de algum estado conseqüente. A característica de relação de antecedência necessária
entre dois estados do mundo, porém, não é suficiente para caracterizar o determinismo.
A tese determinista sustenta que a relação entre dois estados do mundo deve ser única.
Isto é um estado do mundo está associado de forma necessária a somente um outro
estado do mundo. Repare-se aqui que a necessidade implica que um estado do mundo
está vinculado a algum outro; o quesito de unicidade, mais restritivo, implica que um
estado do mundo está vinculado a somente um outro.
Além de necessário e único, a relação entre os dois estados do mundo
proclamada pelo determinismo é exaustiva: um estado do mundo acarreta de forma
completa em outro estado do mundo; ou seja, nenhuma característica de um estado do
mundo conseqüente pode não estar vinculada a alguma característica do estado de
mundo antecedente.
Deste modo o determinismo é uma tese sobre a estrutura do mundo que afirma a
existência de um vínculo necessário, antecedente, único e exaustivo entre dois estados
do mundo, isto é, de que um único estado do mundo antecedente esta vinculado de
forma necessária a um único estado do mundo conseqüente, no que diz respeito a
todas as suas características. Esse vínculo entre estados do mundo pode ser postulado
como causalidade e ser formulado como leis naturais; mas em si a causalidade e as leis
não são idênticas ao determinismo.
O determinismo como tese ontológica acarreta a inevitabilidade da ocorrência de
determinados estados do mundo; se um estado do mundo antecedente está vinculado de
forma determinista - isso é de forma necessária, única e exaustiva - a outro conseqüente
a ocorrência deste é inevitável, isto é, não há nada que previna a sua ocorrência.
Conforme Earman (1986, p.18), “Laplacian determinism entails one kind of non-trivial
inevitability: given the way things are now, the future can’t be other than it will be
(…)”. Segundo Hoffer (2010) a inevitabilidade não significaria necessariamente o
fatalismo, na medida em que se desvincula a existência de vontade divina das leis
causal-naturais; isto é, a inevitabilidade significaria fatalismo se o vinculo determinista
entre dois estados do mundo incluísse uma finalidade, a intenção de uma consciência.
Se por um lado é verdade que a tese determinista não implica necessariamente a
existência dessa finalidade nos vínculos entre os estados do mundo, também não é com
ela incompatível; em outras palavras o determinismo não elimina a possibilidade da
existência de causas finais. Nesse sentido Salmon (1998, p.37) distingue o
determinismo mecanicista – onde os vínculos entre os diferentes estados do mundo são
entendidos como causa eficiente - do teleológico – onde esses vínculos são entendidos
como causa final.
Uma possível consequência de inevitabilidade – fatalista ou não – é que a ação
humana não pode modificar a ocorrência de determinados estados do mundo; em outras
palavras o determinismo seria incompatível com a livre escolha. Essa é uma questão
intensamente debatida na filosofia não sendo possível aqui esgotar todos os seus
aspectos; no entanto essa questão é inevitável e deve se dar uma primeira aproximação a
ela a partir da definição da tese do determinismo desenvolvida anteriormente. Se o
determinismo estabelece que o vínculo entre dois estados do mundo é exaustivo, e se as
ações do homem fazem parte de um estado do mundo, então as ações do homem estão
vinculados de forma necessária e única a um estado do mundo antecedente; em outras
palavras, dado determinado estado do mundo antecedente, os homens não poderiam ter
agido de outra forma. Nesse sentido o determinismo é incompatível com a escolha livre
dos homens – entendida, em uma primeira aproximação, como o fato dos homens
poderem agir de formas diferentes nas mesmas circunstancias. O determinismo – e a
conseqüente ausência de livre escolha - não significa, no entanto que as ações humanas
não tenham efeitos; conforme assinala Earman(1986, p.19): .”Fatalism can allow that
our actions have effects. It is rather that the hand of Fate- - as it acts here through the
laws of nature – shapes the course of events so that the effects of our actions bring about
the fated event.”
A tese do determinismo foi apresentada até aqui como uma tese ontológica, que
diz respeito à estrutura do mundo. Como consequência epistemológica, o determinismo
afirma que é possível realizar inferência sobre o futuro, dada a estrutura do mundo; no
entanto, o determinismo da forma como foi definido anteriormente não é suficiente para
implicar a previsibilidade acurada de todos os estados do mundo. À tese do
determinismo é preciso acrescentar como elemento que compõe o estado do mundo a
existência de “An inteligence knowing all the forces acting in nature at a given instatant,
as well as the momentary positions of all the things in the universe,”(Laplace , apud
Earman, 1986, p.7) para que a previsibilidade seja possível. Se tal inteligência - o
“demônio de Laplace” – não existe, isto é, se esta além da capacidade de qualquer
inteligência o poder computacional para prever de forma exaustiva o futuro, o
determinismo não implica necessariamente a previsibilidade em todas as circunstancias.
Da mesma forma que o determinismo não implica a previsibilidade, a ausência de
previsão completa não invalida a tese ontológica do determinismo; conforme afirma
Salmon (1998, p.33)“The fact that we are unable to make perfect predictions in all cases
is, to the determinist, the result of human ignorance and other limitations. It is not
because nature is lacking in precise determination.” .Assim, o determinismo só pode e
deve ser contestado nos seus termos, isto é, em termos ontológicos e não apenas
epistemológicos ou lógicos.
Mas contestar o determinismo em termos ontológicos significa a reformulação
de uma tese, também ontológica, que esteve associada ao moderno determinismo. Trata-
se aqui da associação entre materialismo e determinismo, decorrente de uma
generalização ontológica dos resultados das ciências modernas, especialmente da física
clássica. Ressalte-se mais uma vez que o determinismo não necessariamente está
vinculado ao materialismo; o já referido determinismo teleológico e o fatalismo estão
associados a uma imagem religiosa do mundo que supõe que os vínculos deterministas
entre os diferentes estados do mundo são resultados de uma consciência transcendental.
Ao contrário do determinismo religioso, o moderno determinismo prescinde da
existência de uma consciência transcendental; isto é, de uma substancia que não seja
material. Dessa forma o moderno determinismo está associado ao materialismo; o
materialismo é uma tese ontológica que afirma a existência de uma única substancia no
mundo – um monismo ontológico – identificada com a matéria. O materialismo é a tese
de que tudo que existe é material (Mouser, P. K. e Trout, J.D., 1995).
O ponto de partida do materialismo é uma compreensão das propriedades que
definem a substancia material, isto é, uma definição do que é a matéria. Em sua forma
clássica o materialismo compreende a matéria como identificada exclusivamente com
corpos – isto é, de acordo com a definição cartesiana, como algo que ocupa lugar no
espaço. A definição da substancia material pela espacialidade implica que esta é sólida –
ocupa um lugar – inerte – ocupa um lugar - impenetrável e se conserva, permanece
(Crane T e Mellor, D. H., 1995, p.69), sendo a única mudança possível da matéria seu
deslocamento no espaço; dessa forma o movimento é algo que acontece a matéria - pela
ação determinista da posição dos corpos uns sobre os outros - mas não a define. Assim a
matéria é identificada com a substancia, “excludente em face do devir”, dotada de uma
“persistência estática e abstrata” (Lukács, 1979a, p.78). Em uma palavra, a
materialidade é identificada com a coisalidade (Lukacs , G. 1979a, p.48)
A dificuldade para o materialismo que adota esse entendimento da substancia
material é de que nem tudo que existe é percebido como coisa que ocupa lugar no
espaço, como coisalidade. A dificuldade já se põe com a vida, uma vez que essa surge –
e desaparece - em alguns corpos e não em outros. Mas mais problemático ainda é o caso
dos atributos psicológicos; esses podem ser concebidos de forma totalmente
independente do espaço e dessa forma atribuídos a um substância não material – como
argumentou Descartes em favor do dualismo ontológico. Da mesma forma, a
identificação do material com a coisalidade, com uma substancia imutável que ocupa
lugar no espaço, não se encaixa nas relações e instituições sociais.
Em resumo, é possível postular entidades – físicas, biológicas, psicológicas e
sociais – que definem domínios teoricamente diferentes. Mas a postulação desses
domínios diferentes é possível a partir da forma que entendemos o mundo e a tese
materialista diz respeito a como se constitui o mundo. Assim, a tese do monismo
ontológico requer a compatibilidade da diversidade de entidades postuláveis com a
existência de uma única substancia, a matéria.
A solução clássica a esse problema está de certa forma dada, uma vez que a
matéria é identificada com um domínio: o das entidades físicas. O reducionismo é o
modo de vincular as diferentes entidades teoricamente postuláveis (Mouser, P. K. e
Trout, J.D., 1995, p.7). Essa redução pode ser concebida como meramente teórica, uma
operação exclusiva do pensamento – com a tradução de nomes de atributos biológicos,
psicológicos e sociais em atributos físicos, mesmo que por meio de uma longa cadeia
intermediária – significando assim que dessa forma cada entidade postulada pode ser
explicada por um nível cada vez mais fundamental. Essa é a solução do neopositivismo,
que postula o fisicalismo como uma redução linguística/epistemológica de entidades
meramente teóricas, cujo conteúdo ontológico é negado (Lukács, 1976, p.50)
Mas enquanto a solução neopositivista ao problema do monismo ontológico é
evadida por meio de sua negação – isto é, pela recusa de uma ontologia e a conseqüente
transformação do problema em um problema lingüístico/lógico – a solução
ontologicamente materialista, na sua versão clássica, supõe que o vinculo entre os
diferentes domínios das entidades deve refletir uma ligação real entre estas. Bem
entendido esteja: para a solução materialista clássica não se trata de vínculos entre
entidades diferentes, já que só existem entidades físicas; mas as propriedades
percebidas dessas entidades – propriedades que são reais - devem se resolver de forma
causal em propriedades dos entes físicos. É aqui que o materialismo clássico se encontra
com o determinismo: se não existem entidades que não sejam físicas, um determinado
estado dos organismos vivos, ou determinados estados psicológicos ou ainda sociais,
são acarretados por estados físicos antecedentes – lógica e causalmente, além de
historicamente - de forma necessária e, claramente, de forma única e exaustiva. O
reducionismo é uma variante do determinismo requerido pelo materialismo clássico.
O determinismo foi definido como uma tese sobre o vinculo entre diferentes
estados do mundo. Agora é possível especificar pelo menos um dos sentidos - já que é
possível que o determinismo seja definido como uma tese menos abrangente - a que se
refere esse estado do mundo. Apoiado em um materialismo reducionista, o
determinismo se refere a todo o conjunto de eventos, processos e coisas que existem no
mundo, sendo uma tese abrangente, isto é, que se refere ao mundo em seus aspectos
físico, biológico e social. Como uma tese abrangente, o determinismo significa que os
eventos, processos e coisas biológicos e sociais podem ser perfeitamente descritos, sem
qualquer perda, como eventos, processos e coisas físicos – uma tese epistemológica - e a
relação entre esses é determinista – a tese ontológica do materialismo reducionista;
acrescendo que a relação entre entidades físicas/materiais, compreendidas como
coisalidade, é também determinista – tese mecanicista. Assim, nos termos colocados por
Lukács, “ All’uniforme dominio teoretico di quest’ultima [necessidade] corrispone sul
piano ontológico una radicale omogeneizzazione di tutto l’essere; la quale in genere
compare nel quadro del materialismo mecanicistico(...)” (Lukács, 1976, p.6).
Já no final do século XIX a visão determinista moderna, associada ao
materialismo mecanicista reducionista, era predominante nas ciências: “By the close of
the nineteenth century, determinism seemed well on the way to being a scientifically
well grounded view of the entire universe in all of its aspects – physical, biological,
psychological, and even social” (Salmon, 1998,p.30). É nesse clima que o determinismo
penetra no marxismo. O determinismo no marxismo consiste na interpretação desse
como um economicismo e, mais precisamente, como um determinismo tecnológico.
Nessa interpretação as forças produtivas são reduzidas aos elementos materiais – isto é,
físicos – da produção e estas são colocadas como determinantes das relações de
produção; isto é, um determinado estado das forças produtivas antecede de forma
necessária, única e exaustiva um determinado estado das relações de produção – o
determinismo tecnológico. Por sua vez, a estrutura econômica – formada por essa
combinação de forças produtivas e relações de produção – guarda uma relação também
do tipo determinista com o resto da sociedade, com as formas de representação da
consciência – a superestrutura – configurando assim o economicismo. Assim, o
marxismo é entendido como uma ciência da história (materialismo histórico) no molde
das ciências naturais, entendidas de forma determinista e fundadas em um materialismo
reducionista.
Um exemplo clássico dessa interpretação determinista do marxismo esta
presente no “manual popular de sociologia” de Bukhárin (1925) que foi objeto de critica
por parte de Lukács (1989). De acordo com Bukhárin, as forças produtivas podem ser
reduzidas ao sistema técnico, isto é ao conjunto dos instrumentos de trabalho, das coisas
que são usadas para produzir outras coisas (Bukhárin, 1925, p.115). É o sistema
tecnológico que, de acordo com Bukharin, determina a forma da sociedade: “But the
historic mode of production, i.e., the form of society, is determined by the
development of the productive forces, i.e., the development of technology.[enfase
adicionada]” (Bukhárin, 1925,p.124). Embora Bukhárin rejeite uma redução dos
determinantes da sociedade a natureza, como no caso de Cunow que coloca as
condições naturais como determinantes da produção e, portanto da sociedade,
permanece em Bukhárin o fato de que o estado da sociedade – com todas as suas
relações e produtos da consciência - é determinado pelo estado de um conjunto de
coisas, sendo assim “uma versão apenas refinada” do naturalismo (Lukács, 1989, p46).
Implícito aí está o materialismo mecanicista e determinista como justificativa para essa
determinação da sociedade pelo estado da tecnologia entendida como conjunto de
coisas.
Essa versão do marxismo como determinismo tecnológico avança e se torna
dogma no oficialismo soviético. Conforme o manual de materialismo histórico da
academia de ciências da URSS, o estado dos instrumentos de produção é entendido
como antecedente – em termos inclusive históricos - em relação às capacidades
produtivas dos homens: “En consonancia con los cambios operados en los instrumentos
de producción cambia también la fuerza de trabajo y cambian los hombres llamados a
poner en acción aquellos instrumentos. (...) Primero, cambian los instrumentos de
producción; después, y a tono con ello, cambian los hombres, los trabajadores que los
ponen en movimiento “ (URSS, 1960 p.37-38) O vinculo entre forças produtivas e
relações de produção por sua vez é entendida de forma determinista: “Las fuerzas en
acción caracterizan el contenido del processo produtivo, y las relaciones de producción
constituyen la forma económica, social, de este proceso. Y el contenido es siempre y
dondequiera el factor determinante con respecto a la forma: lo primeiro que cambia
es el contenido, y a tono con él, cambia luego la forma.[enfase adicionada]” (URSS,
1960, p.37). A despeito da referencia ao conteúdo e forma que dão um colorido
pseudodialético - na verdade antidialético, da forma como é colocado - a essa
afirmação, o que transparece é que nela o material – as forças produtivas,cujo elemento
determinante são os instrumentos de trabalho – determina o social. Assim, o
determinismo aparece associado ao materialismo reducionista na interpretação soviética
do marxismo.
A interpretação determinista do marxismo, no entanto não é privilégio do
oficialismo soviético. De forma inusitada, a busca de reinterpretar o marxismo com base
nos métodos da filosofia analítica se associa ao determinismo em Cohen (1986).Mas é
preciso reconhecer algumas diferenças significativas entre essa interpretação do
marxismo e a interpretação soviética oficial. Em primeiro lugar, partindo da filosofia
analítica, Cohen põe a questão da determinação em termos puramente epistemológicos;
segundo ele as forças produtivas têm antecedência explanatória em relação às relações
de produção: “La naturaleza de las relaciones de producción de una sociedad se explica
por el nivel de desarrollo de sus fuerzas productivas (tesis de la primacia propiamente
dicha).” (Cohen, 1986,P.149). Mas a natureza da explicação avançada por Cohen é
funcional: “Es este efecto el que explica la naturaleza de las relaciones, por qué son
como son. Las fuerzas non se desarrolariam como lo hacen si las relaciones fueran
diferentes, pero es por esto por lo que las relaciones no son diferentes: porque las
relaciones de ese tipo se adecuan al desarrollo de las fuerzas productivas” (Cohen, 1978,
p.178)
A afirmação da antecedência necessária é em Cohen uma tese epistemológica,
mas carrega consequências ontológicas ao realizar implicitamente afirmações sobre a
existência das relações de produção. Em Cohen as forças produtivas antecedem as
relações de produção na medida em que estas só existem para gerar o desenvolvimento
das forças produtivas. Isso significa uma inversão temporal da relação de antecedência
necessária: o futuro – o desenvolvimento das forças produtivas – determina o passado –
a existência de determinadas relações de produção. A explicação funcional de Cohen se
resolve, assim em um determinismo teleológico o que torna a tese da primazia
dependente da tese do desenvolvimento das forças produtivas.
Diferente do marxismo soviético, Cohen não reduz as forças produtivas aos
instrumentos da produção, incluindo nela mesmo a ciência como seu elemento
fundamental. No entanto as forças produtivas são definidas por Cohen como conteúdo
material distinto da forma social (Cohen, 1986, p.98), da mesma forma que no
marxismo soviético; por sua vez o material é identificado com o natural (Cohen, 1986,
p.102, p.103). Assim as forças produtivas tem para Cohen um caráter natural e a
inclusão da ciência como força produtiva decorre de que esta é resultado de uma
capacidade natural: “La capacidad productiva se desarrola socialmente, pero su carácter
es natural. Incluso el conocimiento cientifico, pese a ser fomentado socialmente, es una
capacidad natural de la especie humana.” (Cohen, 1986, p.108).
Assim, mesmo partindo de uma concepção puramente epistemológica da relação
entre forças produtivas e relações de produção, Cohen interpreta o marxismo a partir da
mesma ontologia do materialismo reducionista e determinista adotada pelo marxismo
soviético. Isso fica ainda mais claro quando chegamos ao ponto central de sua
explicação funcional das relações de produção e do modo de produção: o
desenvolvimento das forças produtivas. O desenvolvimento das forças produtivas é
explicado por Cohen a partir da racionalidade dos homens em meio a uma natureza de
escassez e a racionalidade por sua vez é um traço da natureza humana e se a natureza
humana subsiste através da mudança isso é dado por seu elemento biológico: “Pero em
algún lugar alli donde pueda ser necessário um complejo cuadro de capas y estratos
habrá que reconocer la contribuición de la biologia.”(Cohen, 1986,p.168). Assim fecha-
se o circulo que nos leva do “marxismo analítico” de volta ao materialismo mecanicista
do iluminismo pré-marxiano.
Apesar de ter sido a doutrina oficial do marxismo soviético e ressurgir com a
roupagem do marxismo analítico o materialismo mecanicista, reducionista e
determinista foi combatido fortemente no interior do marxismo; já na critica de Lukács
ao manual de Bukharin, mas também na obra de Gramsci. Na seção seguinte serão
desenvolvidos os argumentos de Lukács - em especial na sua obra “A ontologia do Ser
Social” - no sentido de um materialismo realmente dialético, que generaliza em uma
ontologia os resultados mais avançados da ciência, e que se coloca como critica ao
determinismo.

II. Materialismo dialético e a critica de Lukács ao determinismo.

Conforme assinalado anteriormente o determinismo só pode ser refutado e uma


alternativa a ele só pode ser construída no seu próprio terreno, o ontológico. Isso
significa, com relação ao determinismo moderno, uma reformulação do materialismo ao
qual esteve associado e que serviu de suporte. O determinismo se associa ao
materialismo em duas frentes, conforme assinalado anteriormente: por um lado serve,
através do reducionismo de meio de afirmação do monismo ontológico; por outro, como
tese mecanicista sustenta a forma de relação entre as entidades físicas/materiais.
Reformular o materialismo de forma a que esse prescinda do determinismo
implica assim em, por um lado, renunciar a tese mecanicista e por outro, encontrar uma
forma não reducionista de afirmar o monismo ontológico. Tal reformulação só pode ter
como ponto de partida uma reformulação das características ontológicas da substancia
única, a matéria.
A identificação da matéria com o físico pode, a princípio, parecer um
impedimento para apreender a reformulação do materialismo em uma direção não
determinista a partir da obra de Lukács. Isso porque, de forma já explicita no título de
sua obra, seu objeto é delimitado a ontologia do ser social; desse modo
Lukács não formula uma ontologia da natureza ou da física. Apesar disso, a obra de
Lukács nos fornece indicações preciosas no sentido da reformulação das propriedades
ontológicas que definem o que é a matéria. Já na introdução da “Ontologia do Ser
Social” Lukács alerta para que é possível encontrar analogias entre a cognoscibilidade
na sociedade e na natureza – o que supõe uma identidade ontológica entre essas formas
de ser e, portanto que “L’ontologia dell’essere sociale presuppone quindi una ontologia
generale” (Lukács, 1976, p.4) Dessa forma as categorias pertencentes a todo ser estão
presentes – ainda que de forma modificada – no ser social; além disso essas categorias
mais gerais encontram “seu modo de manifestação mais puro, mais genuíno” nos “fatos
simples da natureza inorgânica”(Lukács, 1979b, p.47). Portanto a ontologia geral, que é
suposta por e está incluída na ontologia do ser social, é a ontologia da natureza
inorgânica como fundamento de todo ser: “L’ontologia generale o detto piú
concretamente, l’ontologia della natura como fondamento di ogni essente, dunque, è
generale perchè non può esserci nessun essente che non sua in qualche modo
ontologicamente fondato nella natura inorgânica”(Lukács, 1976, p.5)]. Assim, é dessas
categorias mais gerais do Ser que Lukács apresenta em sua ontologia do ser social que
se pode inferir as propriedades que definem o que é a matéria.
As características ontológicas da matéria que se podem inferir da ontologia de
Lukács estão fundadas cientificamente. Conforme afirma Lukács, confrontado a
ontologia religiosa, a ontologia deve ser elaborada filosoficamente partindo da
observação cientifica (Lukács, 1979b, p.100); assim uma imagem do mundo se funda
“(...) dalla totalità della scienzi, dalla loro interrelazioni, dal recíproco complemento dei
rispettivi risultatti, dalla generalizzacione filosófica dei metodi e acquisti scientifici (...)”
(Lukács, 1976, p.31).
As questões ontológicas são respondidas pelo avanço e interrelaçao da totalidade
das ciências; isto é válido para as categorias mais gerais do ser e, portanto, na definição
das propriedades da matéria: estas podem ser inferidas ontologicamente dos resultados,
métodos, aquisições e inter-relações entre as diversas ciências antes mesmo que os
resultados da física permitam chegar a elas de modo mais concreto. É assim que a
imagem de mundo vai mudando em direção à processualidade e historicidade a partir
das descobertas da química e da biologia no século XIX, antes que tais atributos
apareçam como resultado da pesquisa na física, conforme assinala Lukács (1976,, p.98).
Da mesma forma, Lukács assinala que a ontologia materialista do ser social de Marx
supõe uma ontologia da natureza “que compreenda em si a historicidade, a
processualidade, a contraditoriedade dialética, etc. (...)” (Lukács, 1979, p.20)
A possibilidade de inferir ontologicamente o que é a matéria a partir da
generalização de resultados e métodos de outras ciências não significa, no entanto que a
inferência ontológica prescinda necessariamente dos avanços especificamente nas
ciências que tratam dos fatos mais simples da natureza em quê as categorias mais gerais
se manifestam mais puramente, isto é na ciência que trata diretamente da questão do que
é a matéria, a física.
Não se trata de esclarecer aqui como essas características que definem o que é a
matéria podem ser inferidas da física do século XX; apenas deixemos claro que Lukács
indica essa possibilidade ao criticar o tratamento neopositivista da questão. Lukács
assinala que a moderna física parece dar fundamento a exclusão de categorias
ontológicas e, em primeiro lugar, a própria matéria (Lukács, 1976, p.27). No entanto,
assinala Lukács essa opção diante do avanço da ciência da física, se baseia em uma
confusão entre o modo de apreensão da coisa e a coisa em si; assim, se a moderna física
caminha no sentido de destruir a imagem de mundo do materialismo mecânico não se
infere daí a impossibilidade de qualquer imagem de mundo – e, pode se acrescentar da
resposta à questão do que é a matéria – mas sim a necessidade de corrigir a ontologia
antecedente (Lukács, 1976, p.88-89).
Quais serão então as propriedades que caracterizam a matéria? Seguindo a
observação de Marx nos “Manuscritos econômicos filosóficos”, Lukács assinala que “a
objetividade é uma propriedade primário-ontológica de todo ente” e a objetividade é
entendida no sentido marxiano como o fato de que todo ente tem um objeto em outro e
é ele mesmo objeto de outro, ou, nos termos colocados por Lukács ao criticar o conceito
hegeliano da negação como uma categoria geral do ser, na natureza inorgânica há
“somente uma cadeia de relações nas quais todo elemento tem ao mesmo tempo um ser-
outro e um ser-para-outro.” (Lukács, 1979b, p.47).
Se todo ser é objetivo no sentido acima, então “o ente originário é uma
totalidade”, (Lukács, 1979a, p.36), um complexo. Da mesma forma, para além da
coisalidade, se inclui na materialidade as relações e conexões (Lukács, 1979a, p.48-49).
Se for assim, a matéria é um conjunto de elementos que interagem em um complexo e
não um corpo isolado, sólido e impenetrável como pressuposto na ontologia
mecanicista.
Além da objetividade e da conseqüente complexidade, a matéria é caracterizada
pela processualidade. O movimento já não é algo que “ocorre” a um corpo inerte que
permanece, mas “matéria e movimento representam dois lados, dois momentos da
mesma relação de substancialidade” (Lukács, 1979a, p.78); e se a matéria está em
constante movimento, ela é caracterizada pela historicidade; “(...) a historicidade como
princípio do próprio ser.” (Lukács, 1979a, p.78). Essa característica fundamental da
substancia material se revela na afirmação de Marx – fundamentada no monismo
ontológico materialista – de que só há uma ciência, a ciência da história, e na
diferenciação que Engels estabelece do materialismo dialético com o velho
materialismo mecanicista que não reconhecia “the universe as a process - as matter
developing in na historical process.” (Engels, 1941, p.27).
Reconhecer a historicidade como característica de todo ser, e, portanto da
matéria significa reconhecer a mudança como princípio ontológico:
“(...)a historicidade implica não o simples movimento, mas
também e sempre uma determinada direção na mudança , uma direção
que se expressa em transformações qualitativas de determinados
complexos, tanto em-si como em relação com outros complexos.”
(Luckas, 1979a, p.79).

Se a matéria é caracterizada pela historicidade – pelo movimento e pela mudança - e


pela interação complexa, então ela tem propriedades evolutivas, é capaz de se organizar
em padrões de complexidade crescente; essa conclusão não se encontra explicitada na
ontologia lukácsiana, mas pode ser inferida das propriedades da matéria - apresentadas
nesta como característica do ser em geral - bem como tal conclusão é compatível com a
relação entre níveis de ser presente na ontologia lukácsiana. É essa definição das
propriedades da matéria que permite avançar em direção a um materialismo não
reducionista e não determinista.
Se as entidades físicas possuem propriedades evolucionárias, se modificam e
interagem em um processo histórico no qual vão se organizando de formas cada vez
mais complexas, surgem a partir desse movimento evolucionário das entidades físicas
novas entidades dotadas de propriedades que não podem ser inferidas ou previstas a
partir das propriedades das entidades físicas. O caráter evolucionário das entidades
físicas implica, portanto na criação de novas propriedades da matéria e o surgimento de
novas entidades materiais. Esse processo de surgimento de novas propriedades e
entidades materiais, não previsíveis e causalmente irredutíveis aos níveis anteriores que
Lukács denomina de “salto ontológico”.
O salto ontológico significa que existem diversos tipos de matéria, que emergem
a partir das entidades físicas, com graus diferentes de complexidade. Ou seja, a
realidade é uma realidade estruturada, composta de diferentes graus de ser, na qual os
modos de ser superiores emergem dos fundamentais. O materialismo entendido dessa
forma não implica que a única coisa que existe são as entidades físicas, embora
mantenha o monismo ontológico, pois afirma a existência de diferentes modos de ser de
uma mesma substância, a matéria. Dessa forma, do ser inorgânico, físico, surge o ser
orgânico e deste o ser social; “o principio ontológico da diferença qualitativa no interior
da unidade” substitui a “rígida unitariedade dogmática do materialismo mecanicista”
(Lukács, 1979b, p.14).
A relação entre os diferentes tipos de ser é de identidade de identidade e não-
identidade, conforme assina Lukács ao observar a universalidade da dialética (Lukács,
1976, p.81-82). Esses diferentes modos de ser são vinculados de uma forma dialética,
não reducionista. Examinemos alguns aspectos desse modo de relação dialético dos
diferentes níveis de ser.
Em primeiro lugar, é claro que o ser inorgânico é um modo de ser que serve de
fundamento de todos os outros. Se o social surge do natural – mais precisamente do
orgânico e este do inorgânico – ele pressupõe a existência deste e suas leis de
funcionamento. Isso significa em primeiro lugar que a existência do nível superior
supõe a existência do nível inferior; há uma relação de prioridade ontológica do natural
sobre o social, conforme afirma Lukács, “Quando atribuímos prioridade ontológica a
determinada categoria com relação à outra, entendemos simplesmente o seguinte: a
primeira pode existir sem a segunda, enquanto o inverso é ontologicamente impossível.”
(Lukács, 1979a, p.40).
A prioridade ontológica nos permite entender qual o tipo de vinculo de
antecedência que existe entre dois entes em uma ontologia materialista dialética: uma
antecedência existencial. Ao examinar o problema da relação entre o corpo e a
consciência Lukács assinala: “(...) existe aqui uma irrevocable unidad objetivo-
ontológica, una impossibilidad de que exista um ser de la conciencia sin que esté dado,
al mismo tiempo, un ser del cuerpo. Hay que decir, en términos ontológicos, que una
existência del cuerpo sin la conciencia es posible (...)” (Lukács, 2004, p.159).
É preciso assinalar, no entanto, que essa antecedência não significa que a
existência do corpo por si só – ou de forma geral de qualquer modo antecedente de ser -
acarrete de forma necessária o surgimento da consciência; a antecedência do corpo –
existencial e historicamente – é condição e implica na possibilidade da existência da
consciência, mas como veremos mais adiante, intervém aqui um fator de casualidade.
Mais adiante me voltarei mais detidamente ao papel da casualidade na ontologia
materialista de Lukács; por enquanto basta assinalar que Lukács critica o viés logicista
da ontologia hegeliana que “ transforma numa necessidade lógica a circunstancia
casual do surgimento da vida e da sociedade sobre a terra, com o que o vinculo legal-
causal adquire um inadmissível acento teleológico.” [ênfase adicionada] (Lukács,
1979b, P.55). Essa observação é suficiente para assinalar que a relação entre modos de
ser não é única: se o surgimento da vida a partir do ser inorgânico na terra é fruto de
uma casualidade, em outras regiões do universo este pode não ter dado origem a
nenhuma outra forma de ser.
Mas o vinculo entre os modos de ser da substancia material não apenas não é
único como também não é exaustivo. Existem características dos modos de ser mais
elevados que não guardam vínculos necessários com características do modo de ser
antecedente; cada modo de ser possui propriedades específicas, com poderes causais,
modos de funcionamento que são qualitativamente distintos dos níveis mais baixos do
qual surge. Lukács assinala que o surgimento do ser social a partir do natural se dá pelo
aparecimento de uma nova propriedade, o por teleológico no trabalho, sem analogia
com a natureza: “Esse desenvolvimento, porém, é um processo dialético, que começa
com um salto, com o por teleológico do trabalho, não podendo ter nenhuma analogia
com a natureza.” (Lukács, 1979a, p.17). Assim, no ser social surgem categorias
puramente sociais, como o valor; ao ressaltar a natureza puramente social do valor,
Marx assinala que “Até hoje nenhum químico descobriu valor de troca em pérolas ou
diamantes.” (Marx, 1987, p.92).
Entende-se assim que o vinculo entre os modos de ser não é o da modalidade
reducionista do determinismo. O “salto” significa exatamente o momento da ruptura na
continuidade do processo evolutivo da substancia material, o surgimento de
propriedades que só se referem a esse modo de ser e cujo surgimento não pode ser
previsto ou explicado pelo nível de ser anterior, a menos da custa de uma distorção
logicista das categorias reais dos diferentes modos de ser, conforme já assinalado na
citação anterior a respeito de Hegel. Claro está que o “salto” ressalta apenas o aspecto
conceitual da ruptura no interior da continuidade evolutiva, processual dos diferentes
modos de ser e não a definição histórica de um surgimento de novos modos de ser em
um momento único, sem vinculo com o processo evolutivo geral da matéria; o
surgimento de novas propriedades irredutíveis de novos modos de ser da matéria supõe
mudanças cumulativas no modo de ser anterior em um longo processo de transição. O
“salto” refere-se, portanto a um processo de emergência, termo que se origina da
biologia é utilizado contemporaneamente na ciência e na filosofia para designar uma
característica do processo evolutivo da matéria e a forma de relação entre modos de ser.
Interessa notar que, mesmo sem ter ainda o direcionamento à ontologia de sua
obra de maturidade, esse ponto é assinalado por Lukács já em sua critica de 1925 ao
“manual de sociologia popular” de Bukhárin ao assinalar que este se afasta do “caráter
especifico do marxismo: que todos os fenômenos econômicos ou “sociológicos”,
derivam das relações sociais ente os homens.” (Lukács, 1989, p.45).
Essa irredutibilidade de propriedades dos modos de ser superiores e o elemento
de casualidade em sua origem não significa que não há vínculos entre os diferentes
modos de ser. Já foi assinalado o vinculo existencial, de prioridade ontológica; além
disso, o modo de ser superior não pode violar as leis de funcionamento dos modos de
ser inferiores e se encontra constrangido por elas no seu modo de funcionamento e nesse
sentido constitui uma base ineliminável do modo de ser superior (Lukács, 1979a, p.19).
Assim a realização da propriedade especifica do ser social, a ação teleológica, só se
torna efetiva diante do reconhecimento dessa base: “Tão-só sobre a base de um
conhecimento pelo menos imediatamente correto das propriedades reais das coisas e
processos é que a posição teleológica do trabalho pode cumprir sua função
transformadora.” (Lukács, 1979a, p.19); do mesmo modo, a relação consciência e
corpo, o funcionamento da primeira requer o processo de reprodução biológica do
segundo:
”(...) el hombre, el miembro activo de la sociedad, el motor de
las transformaciones y avances de esta, sigue siendo ineludiblemente,
em um sentido biológico, um ser natural; em um sentido biológico, su
conciencia – a pesar de todos los câmbios de función ontologicamente
decisivos – sigue estando ligada indisolublemente al proceso de
reproduccion biológica de su cuerpo (...)”(Lukács, 2004, p.157)

Mas essa existência de uma base ineliminável não implica em que se possa falar
de uma antecedência causal dos modos de ser fundamentais sobre os superiores. Se por
um lado, os modos de ser fundamentais sejam inelimináveis como condições de
existência dos modos de ser superiores e suas leis não possam ser violadas pelo modo
de ser superior, este tem efeitos causais sobre o modo de ser fundamental. Isso é
explicado em parte, pelo caráter inclusivo dos diferentes modos de ser: a sociedade é
formada por homens que permanecem existindo como seres biológicos e físicos. Assim
ao se referir ao processo biológico de reprodução, Lukács afirma que este “contém as
leis físico e químicas enquanto dialeticamente superadas, isto é, subordinadas as leis
biológicas de reprodução” (Lukács, 1979b, p.48).Da mesma forma, ao se referir ao lento
processo de desenvolvimento da criança e sua remissão às exigências crescentes da
socialidade, Lukács afirma: “Mas, embora esse ser orgânico seja ineliminável, o ser
biológico do homem tem um caráter que, predominante e crescentemente, é
determinado pela sociedade.” (Lukács, 1979a, p.94).
Dessa forma, não há uma relação de antecedência necessária, única e exaustiva
entre as diversas formas de ser, uma relação reducionista entre as diversas formas de
ser. Isso não implica, porém em recair em alguma forma de dualismo ou rejeitar o
monismo ontológico materialista, uma vez que esses modos de ser são modos de ser de
uma mesma substância, a matéria dotada de propriedades evolutivas. Assim como
afirma Lukács,
“Infatti (...) solo se diviene possibile affermare che l’essere
inorganico è il fondamento di ogni altro essere, senza con ciò
distruggerre nel pensiero la specifica constituzione dell’essere nella
vita e nella società, solo se la diversità dei modi d’essere viene intesa
nel loro inscindibile collegamento e nelle loro differenze qualitative,
può sorgere uma scienza intimamente unitária” (Lukács, 1976, p.48)

Os argumentos de Lukács demonstram que o materialismo dialético rompe com


a associação entre o materialismo e o determinismo pela via reducionista. Mas isso só
refuta a tese do determinismo abrangente; é possível, mesmo afirmando a
irredutibilidade das formas de ser manter a tese determinista no interior de cada forma
de ser. Esse é o caso, por exemplo, da interpretação economicista do marxismo:
independente da redução dos elementos sociais aos naturais/físicos, o economicismo
estabelece uma relação de antecedência necessária, única e exaustiva entre a economia e
os outros elementos da sociedade. Trata-se aqui da variante mecanicista do
determinismo, a tese de que os estados do mundo – físicos, biológicos ou sociais – se
relacionam de forma determinística; assim, cada estado do mundo, mesmo que referido
de forma restrita a um modo de ser, é completamente determinado pelo antecedente.
Uma alternativa se impõe ao determinismo mecanicista. Como definido
anteriormente uma condição necessária, mas não suficiente, da tese determinista é a
existência de vínculos necessários entre dois estados do mundo. Uma forma de negar o
determinismo mecanicista é assim, negar a existência de qualquer conexão necessária
entre estados do mundo; trata-se aqui de uma imagem do mundo marcada por uma
acidentalidade pervasiva. Se no determinismo a conexão necessária é também única e
exaustiva, ela exclui a existência de qualquer casualidade e, entendida como verdade a
priori, de forma logicista, se identifica com a própria racionalidade. Assim, a negação
do determinismo por meio da postulação de uma casualidade absoluta e pervasiva
implica o irracioinalismo; de acordo com Lukács “En el segundo caso, se pone en
entredicho, con la duda sobre la determinación causal o con su negación, toda conexión
racional entre las cosas: las puertas del pensamiento quedan abiertas al irracionalismo.”
(Lukács, 1966, P.447)
Tal imagem irracionalista de mundo não é aceita por Lukács como uma
alternativa ontologicamente fundada ao determinismo mecanicista. Ao contrário Lukács
assinala, primeiramente, que essa imagem de mundo é um pólo na verdade
complementar ao determinismo mecanicista; tal proximidade se evidencia em
Wittgenstein no qual o logicismo exacerbado se justifica de forma “absurda”, com uma
imagem de mundo irracionalista (Lukács, 1976, p.58). Além do mais, a despeito de ser
possível chegar ao irracionalismo como resultado de uma extrapolação do fetichismo
empirista (Lukács, 1979a, p.112), sua base não é de forma alguma objetiva, mas se
encontra na projeção do sentimento subjetivo de espanto diante de uma questão
insolúvel para o sujeito (Lukács, 1979a, p.170).
Mas a rejeição veemente da ausência de qualquer conexão necessária no mundo
e do conseqüente irracionalismo não significa a rejeição determinista – oposta e
complementar – da existência de casualidades no mundo. Ao contrário conforme já
assinalado, Lukács ressalta, por exemplo, que o surgimento da vida e da sociedade na
terra é uma casualidade (Lukács, 1979b, p.55). Na biologia, Lukács assinala o
organismo como um “campo de ação de casualidades imprevisíveis.”
(Lukács,1979b,p.106). Mais evidente ainda é a presença da casualidade no trabalho; o
valor de uso de uma matéria natural é meramente casual com relação as propriedades
dessa matéria:
“(...) nenhum objeto natural contém em si , enquanto prosseguimento
de suas propriedades, de suas leis naturais, a propensão a ser utilizável
(ou não utilizável) por finalidades humanas enquanto meio de
trabalho, matéria prima, etc” (Lukács,1979a,p.101)

.Ademais a realidade da escolha, especifica do ser social e presente já no trabalho,


introduz uma casualidade ineliminável no ser social: “Deve-se ter presente, além do
mais, que a alternativa – característica de todo ato de trabalho – contém igualmente um
momento de casualidade.” (Lukács,1979a, p.102)
A casualidade, no entanto deve ser compreendida em seu devido estatuto
ontológico, de forma que não se caia na oposição logicista entre necessidade e acaso; é
apenas do ponto de vista lógico que o acaso se apresenta como oposição à necessidade.
(Lukács, 1979a, p.101). Do ponto de vista ontológico, no entanto, o acaso existe no
interior da necessidade; esta “no excluye el azar, sino que lo incorpora a su
reino”(Lukács, 1966, p.457), a necessidade se afirma em meio a casualidade. Essa
relação dialética entre necessidade e acaso se compreende a partir das características da
realidade que produzem a casualidade e das formas em que essa se determina
ontologicamente.
Já foi assinalado anteriormente que a complexidade é uma característica
primária da matéria e, portanto, de todo ser. Mas esse caráter de complexo da realidade
significa que a natureza dos diversos elementos que o compõe é diversa, que a realidade
é de caráter heterogêneo. É dessa heterogeneidade da realidade que se deriva o acaso:
“(...)a estrutura heterogênea da realidade, da qual deriva não apenas a ineliminabilidade
única do acaso nas inter-relações entre os momentos de um complexo e entre
complexos” (Lukács, 1979a, p.105.).
A heterogeneidade do real significa que cada estado do mundo, considerado
concretamente, é uma síntese de muitas determinações que se definem como universais,
particulares e singulares. A casualidade deve ser compreendida no interior da dialética
do singular, particular e universal. De acordo com Lênin, citado com aprovação por
Lukács (1970, p.100), “O universal só existe no singular, através do singular.”; a
universalidade – e também a particularidade - estão “em si contidas no dado
imediatamente sensível do singular.” Lukács (1970, p.98). Mas o universal é apenas
“partícula ou aspecto” (Lênin apud Lukács, 1970,p.100) do singular; a identidade do
universal no singular é uma identidade de identidade e não identidade pois a
singularidade “(...) non trapassa mai del tutto e senza residui nella particolarità o nella
universalità(...)” (Lukács, 1976, p.92).
A casualidade consiste no resíduo irredutível da singularidade. Mas a existência
desse resíduo como casualidade não significa que não há vinculo necessário entre
estados do mundo singulares - uma vez que estes são prenhes de determinações
universais - como requer o irracionalismo: este último anula a universalidade e se atém
a pura singularidade. Por outro lado, ao contrário do que requer o determinismo
mecanicista, esse vínculo necessário nunca é único e exaustivo; o determinismo
mecanicista colapsa a singularidade na universalidade e ao fazê-lo destrói a relação
objetiva entre a casualidade e a necessidade (Lukács, 1966, p.450).
Se existem vínculos necessários, embora não únicos e exaustivos, entre
diferentes estados do mundo a singularidade é determinável – ainda que sua ocorrência
não possa ser dedutível ou previsível a partir de estados do mundo prévios. A existência
de vinculo necessário significa que um estado do mundo é seguido por algum outro e
que, portanto esse é um outro possível – a dialética do necessário e do casual é também
uma dialética do necessário e do possível.
Assim, cada singularidade existe como caso típico ou excepcional ou ainda, em
termos quantitativos, como média ou desvio de uma distribuição probabilística (Lukács,
1976, p.92). Desta forma, ”todo azar esta causalmente condicionado”(Lukács, 1966,
p.447), pois devidamente compreendido no interior da dialética do universal e do
singular, todo “azar” é um caso provável, mesmo que seja de uma probabilidade
infinitamente pequena. Assim a singularidade é determinável – ao contrário do que
inferia o irracionalismo – ainda que não “in sensa “meccanicisticamente assoluto” al
modo di Laplace” (Lukács, 1976, p.92).
Essa forma de existência da necessidade em meio da casualidade e da
determinabilidade da singularidade aportam uma série de consequências para a forma de
conhecimento do mundo. As leis, para capturarem o modo de existência real das
conexões necessárias, são formuladas como leis estatísticas ou como tendencialidade
(Lukács, 1979a, p.96), como leis que se afirmam em meio a “infinitas acidentalidades”
(Lukács, 1979a, p.108-109). Da mesma forma, todo conhecimento é um conhecimento
aproximado em lugar da previsibilidade absoluta – que conforme foi assinalado
anteriormente é tida como possibilidade ontológica no determinismo mecanicista, ainda
que não identificada com este.
Mas, mais do que isso, esse modo de existência da necessidade significa que
existe uma racionalidade real – ao contrário do que supunha o irracionalismo – mas que
essa não é a do racionalismo absoluto do determinismo mecanicista. Existe a
possibilidade de se entender cientificamente um caso singular mesmo que este não
possa ser completamente deduzido da lei geral, uma vez que a necessidade ontológica
não é igual à derivação lógica (Lukács, 1979a, p.117). Dessa forma os eventos só
podem ser compreendidos racionalmente de modo post festum; só após a ocorrência
deste é que é possível lhes capturar o sentido como média, dispersão, caso típico ou
excepcional; só depois da sua afirmação em múltiplas formas em diferentes estados do
mundo concretos que é possível compreender racionalmente a necessidade (Lukács,
1979a, p.117).
Lukács aponta que esse é o método espontâneo da historiografia (Lukács, 1979a,
p.107), mas é possível tomar aqui um outro exemplo, que Lukács define como uma
“circunstância casual”, o surgimento da vida na terra. Basta que este evento tenha
ocorrido uma única vez - como pura casualidade, portanto - para que surja um novo
modo de ser da matéria, dotado de propriedades irredutíveis ao modo inorgânico do
qual evoluiu. Esse evento, no entanto, não se apresenta como absolutamente
incompreensível; é possível entendê-lo como um caso muito pouco provável que exigiu
a existência de inúmeros ambientes físicos até que o ambiente terreno em condições
determinadas tenha surgindo; assim o que é mera casualidade pode ser racionalmente
compreendido como ocorrência de um caso possível, ainda que pouco provável, de
acordo com a lei dos grandes números. A racionalidade desse evento é post festum: que
o caso do surgimento da vida – e ainda, extensível para a existência do homem como
ser consciente – é um caso provável é afirmável pela existência do homem na terra, o
argumento antrópico. Dessa forma, ao contrário do que afirmava Nagel (1960, p.317) é
possível abandonar o determinismo sem renunciar a ciência.

Considerações finais

A associação do marxismo ao determinismo deixou um rastro de criticas fora do


campo marxista e contra este, ficticiamente “libertárias” – como na “Sociedade aberta”
de Popper – e que, em última análise, renunciam ao conhecimento genuinamente
cientifico do mundo. Nesse trabalho procurou-se demonstrar que a ontologia
Lukácsiana oferece elementos de uma profunda reformulação do materialismo em um
sentido dialético, iniciada já na obra de Marx, rejeitando criticamente o reducionismo, o
mecanicismo e o irracionalismo. Tal reformulação traz sérias conseqüências para a
apreensão cientifica do mundo e, mais do que isso, para transformá-lo na direção de um
projeto de emancipação humana, conseqüências não exploradas nesse trabalho mas que
merecem atenção.
A exata dimensão do materialismo dialético de Marx, sistematizado na ontologia
lukácsiana, nos permite por um lado, retomar o projeto da ciência ontologicamente
orientada, produzindo uma explicação do mundo e guiada pelo valor da verdade. Mas o
materialismo dialético em sua rejeição ao determinismo na suas dimensões reducionista
e mecanicista, nos permite resgatar o materialismo marxiano do nefasto oficialismo
soviético e retomar nos termos marxianos – e de Lukács – um projeto socialista de
emancipação humana, fornecendo a verdadeira dimensão da exploração pela ação
humana das possibilidades inscritas na estrutura do mundo, em lugar do fatalismo
determinístico do sovietismo e do irracionalismo acientifico neoliberal – travestido de
racionalismo critico e de defesa da “sociedade aberta”.

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