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MARÇO 20XI

3 4e5 5
Nosso novo Saúde Curtas
8 9 e 10
panorama aumento do preço

LARANJA
jornal Pública Cítricas cultural das passagens

PARA ALÉM DO PRETO E BRANCO

Germinal
2e3

Em
cada voto
contrário, uma
mensagem: Resgate, é hora
de mudar. Nós concordamos.

George Orwell
e a gestão
10, XI Por um
mínimo de e
6
Fórum da
Esquerda e 12
POR MARCELO CHILVARQUER [181.23]
respeito 7
POR GUILHERME CARVALHO [182.14]
2 EDITORIAL Laranja Março 20XI

Germinal
P
erdemos. Perdemos no 1º tur- a Representatividade não se faz apenas maior. A reconstrução não é uma mera
no. Perdemos como há anos não por urnas no páteo e a Gestão Descami- revisão do partido, mas uma constante
acontecia. Perdemos. Em cada sada não se encerra com o não vestir de busca por respostas (nunca fáceis, nun-
voto contrário, um manifesto pelo novo, uma cor. Não. Estes são meios. E meios, ca prontas). Nesta busca, cada dúvida,
um pedido pela quebra de continuísmo, anseio ou inquietação franciscana consi-
um reflexo do desgaste acumulado du- A bagagem e as vitórias derada corriqueira, e por isso ignorada,
rante três anos de gestão. Em cada voto, históricas do grupo e a con- pode – e deve – ser gérmen de um mo-
uma mensagem da São Francisco: Res- fiança depositada por cen- vimento.
gate, é hora de mudar. Nós concordamos. tenas de franciscanos em Sim, gérmen. Gérmen porque prin-
Durante três anos de gestão, o dia nossa ideologia e experiên- cípio, causa. Germém porque elemen-
a dia exigente da Salinha, a pressão e o cia estão desde então sendo to inicial do desenvolvimento de algo
cansaço natural imprimiram no grupo combinadas com um inten- novo. Reside na São Francisco enorme
uma série de marcas, algumas transfor- so processo de formação. potencial, em cada indivíduo a crítica e
madas pelo tempo em vícios. É hora de as opiniões necessárias para a constru-
refletir sobre tais práticas, diagnostiscar apesar de importantes formas de expres- ção de uma real força de transformação
o porquê de seu aparecimento e eliminá- são e aplicação de nossos ideais, são progressista na sociedade. Esse poten-
-las. No entanto, o desafio é maior: a au- ferramentas para a consolidação de um cial não pode ser silenciado e restringido
tocrítica que se impõe ao grupo envolve objetivo, jamais um fim em si mesmo. a cada franciscano, muito menos perdido
mais do que alterações pontuais. Trata-se Faltou, nestes últimos tempos de pela implementação maciça de uma ide-
de um momento para repensar a aplica- gestão, a definição clara deste objetivo, ologia pronta. O Resgate acredita que ele
ção da ideologia laranja, de transformar de uma finalidade que orientasse todos deve crescer, germinar.
os tão falados (e por nós estimados) ide- os projetos e decisões de nosso grupo, A partir dos ideais do franciscano,
ais de Pluralismo, Representatividade e então Diretoria do XI. Nas muitas ações é possível criar um movimento crescen-
concretas do Resgate faltou unidade. te: coletivizar idéias em discussões, para
Em cada voto, uma men- Mais do que conquistas isoladas, estas então torná-las ação e, finalmente, trans-
sagem da São Francisco: vitórias deveriam significar avanços na formação.
Resgate, é hora de mu- consolidação de um projeto político.
dar. Nós concordamos. Hoje, o momento é outro. A saí-
da - nunca cabisbaixa, mas também
Gestão Descamisada em reais e efeti- não vitoriosa - da Sala dos Estudantes
vas ferramentas na consolidação de um representou para nós mais do que o en-
projeto para o XI, para a São Francisco cerramento de um ciclo, representou o
e para a sociedade. Mais do que sim- início de um processo de construção
plesmente mudar - palavra mágica que que visa justamente à definição deste
tanto encerra, mas que tão pouco diz, projeto. A bagagem e as vitórias histó-
facilmente propagandeada e amada pela ricas do grupo, assim como a confiança
esperançosa promessa do novo – o mo- depositada por centenas de francisca-
mento é de reconstruir. nos em nossa ideologia e experiência
Tal projeto não pode se contentar estão desde então sendo combinadas
com o estabelecimento de formas de com um intenso processo de formação.
ação. Apesar de a ausência destas pos- Trata-se de trazer as visões críti-
turas já ser sentida, o Pluralismo não se cas de cada membro, apoiador ou aluno
resume a eventos que apresentem posi- acerca da sociedade, da São Francisco
cionamentos divergentes, assim como e do Resgate e transformá-las em algo
Março 20XI Laranja EDITORIAL 3

Para tanto, é preciso que se crie um ção em debates de qualidade, não apenas
ambiente propício. É preciso que o alu- realizar eventos vazios no qual o aluno
O que é “O Germinal”?
no tenha a oportunidade de desenvolver é reduzido a espectador. A partir disto,
Germinal é referência ao livro ho-
seus posicionamentos através de análises torna-se possível o envolvimento na pro-
mônimo de 1885, escrito pelo francês
aprofundadas. É preciso que possa ter dução de resultados práticos, seja inter-
naturalista Émile Zola. O roman-
sua voz ouvida e que participe de fato do namente, seja no espaço público.
ce, considerado por muitos sua obra
debate público. É preciso que possa atu- Nosso objetivo é a construção des-
máxima, retrata de modo inovadora-
ar na concretização de uma tranforma- te ambiente de fermentação política que
mente realista a condição precária
ção substancial na realidade brasileira. leva à ação e à movimentação de pes-
e subumana da vida de um grupo de
soas unidas pela defesa de seus ideais
trabalhadores de uma mina de car-
A partir dos ideais do e interesses. Isto só poderá ser concre-
vão na França. Uma lenta tomada
franciscano, é possível tizado com qualidade por meio de uma
de consciência sobre suas realida-
criar um movimento cres- atuação plural, nunca neutra, mas crítica.
des seguida de um lento processo de
cente: coletivizar idéias Não, o Resgate não é neutro. O Resgate
pensar em meios de melhorarem suas
em discussões, que por não é apolítico. Tampouco uma direi-
vidas fazem germinar nos mineiros a
sua vez tornem-se ação e, ta enrustida. É, ao contrário, um grupo
semente de um movimento para rei-
finalmente, transformação. que quer mais. Mais qualidade, menos
vindicar seus direitos.
simplificação. Mais senso crítico, me-
A luta pela realização de tais neces- nos doutrinação. A verdadeira luta pela
sidades é a verdadeira função do Movi- transformação só é possível através de ser agentes, protagonistas na construção
mento Estudantil. O XI de Agosto, refe- um XI que não aceite respostas prontas. de um movimento – os ideais a serem
rência deste movimento , não faz sentido Mais do que isso, só faz sentido se partir defendidos não são os dos diretores do
se não for construído, de fato, por todos do envolvimento direto dos alunos nos XI, mas os construídos pelos estudantes.
os estudantes. Deve proporcionar o en- projetos e nas decisões do CA. Os alunos É este o real sentido de nossa ideo-
riquecimento das mencionadas opiniões não podem ser tratados como massa a ser logia. É para este fim que o Movimento
individuais, e fomentar a sua participa- convencida e instrumentalizada. Devem Resgate Arcadas se volta. L

Nosso novo jornal


E
ste é o Laranja. Ele vem para aprofundado e, por que não, por vezes, É nesse sentido que se insere o
deixar transparecer nossos po- cítrico. Nossa idéia é pensar formas efi- Laranja. Buscamos uma visão além do
sicionamentos, defender nosso cazes de maximizar tanto pautas da São preto-e-branco. Buscamos superar a rasa
ideal de movimento estudantil e repensá- Francisco como as grandes questões dicotomia de direita e esquerda. Bus-
-lo. Queremos nos comunicar com a Fa- camos profundidade! Aqui, tomaremos
culdade, fazer nossa reconstrução junto Buscamos uma visão além posições, mas sem nunca considerá-las
a ela e, para isso, convocamos todos e do preto-e-branco. Busca- como verdades absolutas.
todas para tomar parte no nosso projeto mos superar a rasa dicoto- Ser Resgate é respeitar o francisca-
e acompanhar o Laranja. Aqui traremos mia de direita e esquerda. no, é tratá-lo como igual, é não negligen-
um contraponto a qualquer maniqueísmo Buscamos profundidade! ciar seu ponto de vista. Sabemos que não
que subestime o potencial das Arcadas. somos superiores a ninguém e que não
É através do posicionamento crí- dos estudantes e do nosso país, sem se cabe a nós tomar a postura prepotente de
tico que podemos voltar a ganhar o vincular a partidos políticos externos doutrinadores da idéia certa: fugimos da
espaço há muito perdido pelo movi- e formas ultrapassadas de atuação que arrogância e do discurso fácil.
mento estudantil no cenário brasileiro. tirem o nosso crédito. Nosso modelo é Ideias simplificadas são mais fáceis
O Laranja vem em defesa de um mo- voltado aos estudantes que legitimam de vender. Mas dessa facilidade o La­
vimento inteligente, voltado aos alunos, seu movimento, e não o contrário. ranja quer distância. L
4 ABORTO Laranja Março 20XI

Saúde pública
POR TAMIRIS BRITZKI [182.13] E STÉPHANIE SAMAHA [182.23]

A
descriminalização do aborto permanência nos hospitais para reverter pode inviabilizar o aborto legal (previsto
é um tema que divide as opini- infecções com antibióticos. Além disso, pelo Código Penal), além de aumentar
ões da sociedade; foi, por sua cerca de 8% das mulheres do Brasil ur- as barreiras do acesso à saúde para trata-
vez, um assunto muito discutido durante bano foram internadas em razão do abor- mento das complicações decorrentes do
todo o ano de 2010. Pelo fato de ser um to realizado. aborto.
tema polêmico, que envolve questões Os dados revelam que um número Ainda em 2010, o 3º Plano Nacio-
éticas, morais e religiosas, deverá figurar grande de mulheres já praticou aborto nal dos Direitos Humanos (PNDH 3), em
como ordem do dia nos próximos anos. no país, além de comprovar todos os uma das ações estratégicas, dizia:“apoiar
Muito longe de chegarmos à conclusão riscos que ele causa à saúde feminina. A a aprovação de projeto de lei que descri-
de sermos favoráveis ou não à descrimi- questão é: diante disso, podemos fechar minaliza o aborto, considerando a auto-
nalização do aborto no Brasil, esse artigo os olhos para a realidade e continuar a nomia das mulheres para decidir sobre
buscará apresentar algumas das princi- consentir a falta de políticas públicas que os seus corpos”. No entanto, o decreto
pais idéias a respeito do tema, bem como tratem da questão, pelo menos para re- 7.177, de 12 de maio de 2010, modifica
dar enfoque à forma e aos meios como o duzir o número de internações e mortes pontos do programa, inclusive este. O
tema é tratado no país, ressaltando suas decorrentes de aborto? Ou ainda, cabe tema da descriminalização foi suprimido
principais incongruências no meio elei- uma atuação mais direta da sociedade na do PNDH 3 devido à pressão da Confe-
toral, na sociedade e na religião. defesa do tema, tendo em vista que prati- deração Nacional dos Bispos do Brasil
De acordo com os resultados da camente não é discutido a fundo? (CNBB), algo que gerou muita polêmi-
Pesquisa Nacional de Aborto (PNA), ca e desagradou o movimento feminis-
divulgados em maio de 2010, o aborto 5,3 milhões de mulheres já ta. Isso reforça o fato de que, apesar de
é uma questão essencial para a saúde efetuaram algum tipo de vivermos em um Estado laico, a Igreja
pública do País e, sob hipótese alguma, aborto no país. A média é ainda possui um papel decisivo nas dis-
deve ser deixada em segundo plano pelo de 1 em cada 7 mulheres cussões sobre o tema, exercendo verda-
poder público. De acordo os dados, 5,3 com idade até 40 anos e de deira pressão política.
milhões de mulheres já efetuaram algum 1 para cada 5 considera- Para deixar a questão ainda mais
tipo de aborto no país. A média é de 1 em das as de 35 aos 49 anos controversa, o processo eleitoral, espe-
cada 7 mulheres com idade até 40 anos. cialmente o segundo turno, fez com que
Se considerarmos apenas as mulheres de Em maio de 2010, a comissão de a questão do aborto fosse tratada com
35 a 49 anos, o número fica ainda mais Seguridade Social e Família da Câma- extremo conservadorismo, impedindo
alarmante, e a relação cai para 1 aborto ra dos Deputados aprovou o projeto de qualquer discussão qualificada sobre o
em cada 5 mulheres. A pesquisa revela lei 478/2007, que cria o “Estatuto do assunto. A presidente Dilma Rousseff
ainda que as mulheres negras morrem Nascituro”. A proposta caracteriza o mudou de opinião durante a campanha.
muito mais em consequência de abortos “nascituro” como um ser humano con- Dilma, que sempre defendeu a descrimi-
inseguros – aqueles que não atendem as cebido, mas ainda não nascido, inclusi- nalização do aborto por acreditar que se
diligências médicas desejáveis – quando ve os concebidos in vitro, “ou através trata de uma questão de saúde pública,
analisada a variável raça/cor. Em cinco de clonagem ou outro meio científica e ao ser pressionada pela Igreja, se disse
estados do país, a intervenção mais uti- eticamente aceito”. O projeto estende ao contra o aborto, alegando que os mé-
lizada para assistir mulheres que aborta- feto direitos da pessoa nascida e o prote- todos significam uma grave violência
ram é a Curetagem Pós-aborto – sucção ge contra o que chama de discriminação contra a mulher. José Serra, por sua vez,
de restos da placenta, do embrião ou do em razão de sexo, origem, etnia, idade, sempre se mostrou radicalmente contra
feto – procedimento mais caro e que deficiência física ou mental ou da proba- a descriminalização do aborto, já que a
oferece riscos que estão relacionados bilidade de sobrevida. Esse é um projeto legalização estimularia uma “verdadeira
a perfuração uterina e maior tempo de extremamente controverso, uma vez que carnificina”. O candidato buscou apoiar-
Março 20XI Laranja ABORTO 5

-se na crítica veementemente contrária pessoal diante do problema do aborto é É senso comum que o aborto, por
feita pela Igreja Católica e Evangélica, ditado pelos valores da fé. Porém, acre- si só, não é uma prática desejável. Sua
usando-a como último recurso para se dita que o Presidente da República pre- opção é, em suma, o último dos recur-
alavancar na campanha. Essa postura foi cisa levar em conta a dimensão social e sos. Sabemos que muitas mulheres que
muito prejudicial para a discussão de um política do problema e o caráter da so- já o enfrentaram lutaram contra, não só
tema que, além de primordial, deverá ser ciedade em que vive, sociedade na qual os ricos à saúde, mas também contra as
enfrentado e discutido a fundo pelos go- milhares de mulheres morrem ou sofrem questões morais, a culpa, a vergonha e o
vernantes, principalmente com relação a graves danos físicos e psicológicos em preconceito. Outras ainda, devido a suas
suas políticas de governo em pautas de razão de abortos clandestinos. Logo, crenças religiosas, optam todos os dias
acesso à saúde e direitos humanos. para ele, o aborto deve ser considerado por não abortar, a pensar dos problemas
Marina Silva teve uma postura mais uma questão de saúde pública, indepen- socioeconômicos envolvidos. Essa di-
coerente. A senadora, evangélica, afir- dentemente da sua fé. vergência de pensamento tem um ponto
mou desde o começo da pré-campanha Para que o tema esteja em voga, em comum: o livre arbítrio, a autonomia
ser contra a prática. Porém, apresentou é preciso que seja discutido juntamen- da vontade. Cada mulher deve ao menos
diversas vezes o plebiscito como melhor te com a Igreja, com as instituições de ter a oportunidade de escolher. É por
caminho para tratar o assunto, admitindo direitos humanos e com os grupos de isso que não podemos aceitar a omis-
que a questão não é puramente religio- defesa dos direitos da mulher, sem es- são, o descaso, e a indiferença do poder
sa, envolvendo aspectos de natureza fi- quecer, é claro, da necessidade do viés público em não enfrentar o problema de
losófica, ética e moral. Plínio de Arruda de orientação e conscientização da so- frente, olhando-o nos olhos e assumin-
Sampaio adotou uma posição semelhan- ciedade, para que isso garanta sua devi- do que esse é o momento de, finalmente,
te. Como cristão, seu posicionamento da representação. superá-lo. L

Curtas Fórum Plural


Passarinhos vermelhos tem fala-
Comemoração
Imparcial
Cítricas do pelas Arcadas que os eventos

da Calourada do XI estão sendo

plurais. De fato, eles trazem to-


Ao entrar na salinha do

vê-se um mural com fotos da


XI,

dos os pontos de vista dentro do comemoração da vitória do Fó-


restrito universo ideológico do rum da Esquerda na casa de um
Fórum. E, afinal, fora desse uni-
membro do partido vermelho.
oposição nos ares
verso não há nada que valha a
Diz o ditado popular que dois Na imagem, salta aos olhos o
pena ser ouvido.
bicudos não se beijam e a tuca- rosto feliz de alguém que se
nada do planalto tem se empe-
esforçou bastante pela vitória
nhado em provar isso. Com uma
sem nunca vestir a camisa ru-
“coerente”, mas bastante ir- Base estremecida
bra: Renato Ribeiro, ombuds-
responsável defesa do salário Após 30 anos de simbiose com os
mínimo, o partido viu novamen- sindicatos, o
PT abre uma fissura man do XI de Agosto, que deu

te sua "liderança" rachar en- na relação. Logo na primeira vo- o “furo” sobre o Fundo do XI
tre o grupo apoiado por Aécio tação importante do Congresso no dia das eleições. Provavel-
Neves (que queria R$ 560,00) da era Dilma, o partido discor- mente, sua presença deveria
e o por Serra (cuja proposta da de seu aliado sobre o valor
ser apenas como observador im-
era de R$ 600,00) - o mesmo do salário mínimo. Resta saber
parcial da nova gestão em seus
racha que aconteceu durante como a militância sindical vai se
momentos de lazer...
as eleições de 2010. portar daqui em diante.
6 SALÁRIO MÍNIMO Laranja Março 20XI

Por um mínimo
de respeito
A presidenta Dilma, cujo partido clama no nome pertencer aos trabalhadores, sobe o
salário mínimo em irrisórios 5 reais. A oposição, liderada por José Serra, contraria seu
histórico de defensora da responsabilidade financeira e lança impraticáveis propostas de
560 e 600 reais. As diferenças ideológicas entre os partidos começam a se esvair.
POR GUILHERME CARVALHO

E
ra a primeira votação impor- guntar o que isso significa. O que será atender a suas necessidades vitais bá-
tante do novo governo: o va- que realmente defendem os dois lados? sicas e às de sua família com moradia,
lor do salário mínimo. De um Quais as diferenças entre as posturas dos alimentação, educação, saúde, lazer, ves-
lado, os governistas, preocupados com o dois governos? Para entender um pouco tuário, higiene, transporte e previdência
impacto sobre o orçamento, propunham melhor esse problema, é necessário revi- social, com reajustes periódicos que lhe
um aumento quase simbólico; do outro, sitar a história. preservem o poder aquisitivo, sendo ve-
a oposição empurrava o valor para cima, O salário mínimo entrou em vigên- dada sua vinculação para qualquer fim”.
exigindo um aumento real. Em busca de cia no Brasil em maio de 1940, em meio Os recém-aprovados R$ 545 estão longe
apoio político para sua proposta, o Pla- a diversos benefícios trabalhistas ins- de atender a essas “necessidades vitais”.
nalto prometia cargos. Poucas semanas tituídos por Vargas. À época, o país foi Segundo o Departamento Intersindical
antes, os parlamentares haviam aprova- dividido em 22 regiões e 50 sub-regiões, de Estatística e Estudos Socioeconômi-
do aumento considerável de seus pró- cada qual com um piso independente. cos – DIEESE –, o valor ideal, também
prios salários, o que dificultava a posi- Com o passar do tempo, essas divisões chamado de salário mínimo necessário,
ção do governo. foram desaparecendo, até que em 1984 o estaria em torno de R$2230. Não obstan-
Não, não estamos falando de valor foi nacionalmente unificado. Após te, o abismo entre os dois valores vem
2011. O ano é 1995; o presidente, Fer- a LC nº 103/00, consolidou-se o entendi- diminuindo progressivamente desde
nando Henrique Cardoso; o salário mí- mento de que os Estados poderiam fixar 1995.
nimo vigente, R$70,00. Naquele ano, a salários mínimos regionais, desde que A partir da década de 60, o valor
proposta da oposição (R$100) foi apro- superiores ao nacional. Hoje, apenas cin- real do piso salarial sofreu lenta desvalo-
vada e, em seguida, vetada. Ainda assim, co Estados possuem pisos regionais: Rio rização tendo atingido seus valores mais
a semelhança com o que aconteceu no Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, baixos entre os anos de 1992 e 1995.
último mês, quando o governo fede- São Paulo e Rio de Janeiro. Com a estabilização da moeda, deu-se
ral elevou o salário mínimo em R$5, é A Constituição Federal de 1988, início a uma política de valorização do
desconcertante. A inversão dos papeis em seu art. 7º, IV, assegurou aos traba- salário mínimo. Em janeiro de 1995, o
(PSDB - PT) deu-se com tamanha preci- lhadores “um salário mínimo, fixado em salário mínimo necessário era estimado
são que não podemos deixar de nos per- lei, nacionalmente unificado, capaz de em R$723, e o nominal estava fixado
em R$70 (menos de 10%, portanto). Em
dezembro de 2010, o salário nominal já
A inversão dos papeis (PSDB - PT) deu-se com ta- correspondia a cerca de 20% do neces-
manha precisão que não podemos deixar de nos per- sário.
guntar o que isso significa. O que será que realmen- A maior parte desse considerável
te defendem os dois lados? Quais as diferenças entre aumento deu-se nos oito anos do gover-
as posturas dos dois governos [FHC e Lula]? no Lula. Segundo o ministério da fazen-
da, entre 1995 e 2002, o salário mínimo
Março 20XI Laranja SALÁRIO MÍNIMO 7

teve um aumento real de 44,7%. Já no cimento econômico negativo registrado


governo petista, o aumento foi de 57,3%. em 2009. Com efeito, o reajuste costuma
Embora substancial, a diferença não evi- ser calculado a partir da evolução do PIB
dencia per se uma postura distinta dos de dois anos antes. Na verdade, porém, o
dois governos. O governo FHC enfren- controle dos gastos compõe um quadro
tou cenários econômicos em geral mais maior.
turbulentos, o que poderia explicar a me- Durante a campanha eleitoral de
nor evolução do salário mínimo. 2010, o candidato tucano, José Serra,
O traço diferencial mais nítido entre defendeu a elevação do salário mínimo
os dois provavelmente é a manutenção, para R$ 600, valor que o governo passou
por parte do governo Lula, de uma polí- a chamar de irresponsável. O tamanho
tica de valorização constante do mínimo. da “irresponsabilidade”, no entanto, só
De fato, a era FHC alternou reajustes re- ficou claro em fevereiro deste ano, quan-
ais com reajustes meramente nominais; do o governo federal anunciou o “corte”
em oposição, entre 2003 e 2010, todos de R$50 bilhões no orçamento. Não que
os reajustes não apenas repuseram a in- a notícia tenha sido propriamente uma
flação, como garantiram o aumento do surpresa. Desde a campanha eleitoral, Configurou-se um estranho quadro.
poder de compra. Esse traço, no entanto, corria nos bastidores a notícia de que a O governo e sua base aliada, apoiados
ficou mais tênue recentemente. redução dos gastos seria inevitável (em pelas centrais sindicais, defendiam os
Em dezembro de 2010, o presiden- parte para compensar as despesas pró- R$ 545. A oposição, ao mesmo tempo
te Lula assinou uma medida provisória prias dos anos eleitorais). em que tecia duras críticas à situação fi-
fixando o salário mínimo para 2011 em Não se sabe ao certo, porém, se a no- nanceira do Estado, propunha os R$600
R$540. O reajuste representou um au- tícia chegou ao ninho tucano. Enquanto ou, subsidiariamente, o valor de R$ 560
mento de 5,88%, valor que não chegou a alguns a aproveitaram para criticar a ir- e chamava atenção para a controvertida
repor a inflação referente ao mesmo pe- responsabilidade financeira do governo, inconstitucionalidade da fixação do mí-
ríodo, calculada em 6,41%. Pela primei- outros continuaram a defender a viabili- nimo por decreto.
ra vez, portanto, desde que Lula assumiu dade da proposta de José Serra, como se A vitória esmagadora, ao contrá-
a presidência o salário mínimo não obte- um aumento de R$ 17 bilhões nos gastos rio do que aconteceu em 1995, foi do
ve aumento real. O ministro da Fazenda, fosse a medida que sanaria qualquer pro- governo. Mas, talvez, a única diferença
Guido Mantega, atribuiu o fato ao cres- blema fiscal do Estado. Enquanto isso, significativa entre ontem e hoje seja o
as centrais sindicais sustentavam o valor momento em que se deu o veto. FHC foi
de R$ 580, apresentado ao Congresso forçado a vetar o aumento após sua apro-
Nacional em novembro do ano passado. vação no Congresso. Dilma conseguiu
Depois de muita negociação, o governo uma espécie de “veto anterior”. Anali-
e os sindicatos concordaram nos R$ 545 sadas as posturas dos dois partidos prin-
e na fixação, desde já, de uma política cipais, difícil traçar grandes distinções.
de valorização para os próximos anos. Quem antes cobrava um aumento, hoje
O valor acordado continuava abaixo da fecha o bolso. Quem ontem bradava em
inflação do período. nome da responsabilidade financeira, le-
E assim, em meados de fevereiro vanta propostas irreais.
foi submetida à votação a proposta do Quem sabe um dia o governo fará
governo: salário mínimo fixado em R$ um planejamento adequado de seus gas-
545 para 2011; reajustes anuais com tos. Talvez um dia a oposição não se
base no crescimento do PIB de dois apegue tanto a propostas demagógicas.
anos antes; e a fixação do valor do mí- Enquanto isso não acontece, qualquer
nimo por decreto presidencial, observa- que seja o valor do salário mínimo, é o
das as regras do cálculo. trabalhador quem paga a conta. L
8 CULTURA Laranja Março 20XI

Diga espelho meu...


O paradoxo da cultura no Brasil
POR ANA CAPOZZI [183.22]

O
Brasil tem a tradição de uma Essa dualidade duvidosa de postura Barbosa, que sabidamente está ligada ao
cultura rica e diversificada que da entidade, de cujo funcionamento de- ECAD. Isso, novamente, significa um
garante sua fama e o coloca no pende a realização da legislação de Di- atraso ainda maior do inevitável debate
cenário internacional. Entretanto, dizer reito Autoral, tem como consequência o sobre novas formas de pensar patentes e
que esse reconhecimento se deve exclu- desestímulo da produção musical, basea- monopólio intelectual frente à dissemi-
sivamente ao trabalho realizado pelo Mi- da na desconfiança dos profissionais em nação gratuita incontrolável da produção
nistério da Cultura é ignorar os obstácu- relação ao recebimento justo de repasse. artística pela internet.
los enfrentados diariamente pela classe Outro desenrolar é o encarecimento das
artística, que lida tanto com uma legis- produções dramáticas, sem implicar ne- Isso [...] significa um atraso
lação descompassada com a sociedade cessariamente em benefício direto para ainda maior do inevitável
tecnológica, quanto com a ingerência de o compositor. debate sobre novas formas
órgãos vitais para a implantação das po- Com esse breve panorama de um de pensar patentes e mo-
líticas públicas adotadas para a área. sistema viciado e pouco eficiente na im- nopólio intelectual frente
Os músicos, embora teoricamen- plementação de políticas de cultura, não à disseminação gratuita
te protegidos por leis autorais rígidas, é de se espantar que a retirada súbita do incontrolável da produção
vêem-se desamparados frente ao órgão Creative Commons do site do MinC por artística pela internet.
responsável pelo repasse de seus direi- Ana de Hollanda gere debates na grande
tos, o ECAD, que se mostra burocrático, mídia. A atitude de não apoiar a alterna- Embora reste dúvidas acerca dos
pouco transparente e fechado para o di- tiva ao modelo Copyright de proteção de próximos passos do MinC, que virão a
álogo. Em contraponto, os profissionais propriedade intelectual de antemão vai público no centésimo dia de governo,
da área do teatro, televisão, cinema e en- contra a tendência externa de democrati- este atraso demonstra uma provável que-
tretenimento convivem com um ECAD zação do acesso à arte. Além disso, inibe bra de continuidade em relação às ges-
que raramente falha nas suas funções de o desenvolvimento da proposta importa- tões anteriores. Isso causa um estranha-
fiscalização das produções e arrecadação da por Gilberto Gil para dar maior auto- mento natural, já que, com a manutenção
de direitos. nomia para o autor em relação ao ECAD, do PT no poder, o esperado seria que se
buscando amenizar as suas falhas admi- mantivessem as diretrizes adotadas ante-
nistrativas. riormente.
Ainda que as mudanças propostas O setor cultural vive um grande
pelas últimas gestões tenham sido tími- paradoxo. Por ser referência mundial
das, uma vez que só influenciariam na e ao mesmo tempo contar com tantos
reprodução de música em eventos sem empecilhos na produção e tão pouco
fins lucrativos, assinalam a necessidade incentivo governamental que transcen-
urgente de reformas do sistema que põe da o papel. Nesse caso, a perseverança
em prática as decisões do Ministério. do artista e das produções de pequeno
Portanto, dão o passo inicial para um de- porte supera vários desafios para criar
bate qualificado, não realizado até hoje. o espelho da sociedade brasileira nos
No entanto, o momento agora é ou- palcos, a qual, por sua vez, só teria a
tro. A nova ministra confirma sua postu- ganhar se a nova ministra se espelhasse
ra retrógrada ao nomear, para a Direto- em novos modelos para fazer as políti-
ria de Direitos Autorais, Márcia Regina cas culturais do país. L
Março 20XI Laranja PREÇO DO ÔNIBUS 9

3 reais
Pagando mais por menos
POR GUILHERME GERMANO [183.22] E JOSÉ PAULO NAVES [183.22]

Q
ualquer um que pega ônibus França, no entanto, é aproximadamente investir mais dinheiro público na opera-
em São Paulo não tem dúvida, 550% maior do que o brasileiro. ção dos ônibus não se traduz em grandes
o serviço é precário. Carros lo- Ok, faz sentido que o preço das coi- melhorias no cotidiano dos passageiros.
tados, esperas intermináveis em pé, ou sas suba com o tempo, mas o fato é que a Isso se deve ao modelo de gasto da pre-
melhor, pendurados em disputadas bar- conta que a prefeitura de São Paulo vem feitura, que ao priorizar subsídios e isen-
ras de segurança, e um calor humano re- fazendo para justificar esse aumento é tar as concessionárias de qualquer res-
sultante de 120 pessoas se espremendo nada mais que uma fantasiosa distorção ponsabilidade relativa à infra-estrutura,
em um veículo pensado para, no máxi- da realidade sócio econômica de nosso drena os recursos que deveriam servir
mo, 75. Pois é, e agora esse sucateado município. Entre 2005 e 2011, o valor para tornar a vida do usuário menos di-
transporte está nos custando 3 reais. da tarifa passou de 1,70 para 3,00, tota- fícil. Nessa estrutura irracional, é difícil
Ora, não é possível para alguém que só lizando um aumento de 76%, mais que o não pensar que ser concessionário de
vê seu meio de locomoção decair cada dobro da inflação acumulada do período, transporte público em São Paulo é um
vez mais, conformar-se com um aumen- que ficou no patamar de 32,5%, segundo verdadeiro negócio da China. No entan-
to dessa magnitude. 3 reais por aquilo é o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) to, essa suposição pode ficar apenas no
simplesmente caro, muito caro. medido pela Fipe (Fundação Instituto de pensamento do cidadão, uma vez que es-
A população, revoltada com o au- Pesquisas Econômicas). ses contratos – supostamente públicos -
mento, vem protestando em diversas são mais bem escondidos do que muitos
oportunidades, o que levou a convoca- É de se perguntar então, segredos de Estado.
ção de uma audiência publica pela Câ- por que essa soma entre Nessa conta que não fecha, sobrou
mara dos Vereadores, porém sem produ- cobrar mais do usuário então para o combustível. Em planilha
zir alterações. No último dia dez, houve e investir mais dinheiro de gastos apresentada à Câmara, a ges-
manifestações inclusive na frente da re- público na operação dos tão municipal atribuiu grande parte do
sidência do prefeito Gilberto Kassab. ônibus não se traduz em aumento da tarifa ao preço do diesel e
Dentre as diversas correntes que grandes melhorias no à queda do rendimento dos veículos.
tomam parte neste processo, a que vem cotidiano dos passageiros. Entretanto, tal afirmação é muito ques-
obtendo maior destaque na luta contra tionável quando se tem acesso a alguns
o aumento é o Movimento Passe Livre. Essa escalada explosiva no preço da dados. Alegando inflação de 8,75% nas
Criado em 2003, em Salvador, visa a passagem não significou, contudo, eco- cotações do combustível, a Prefeitura
um transporte publico de qualidade e nomia no orçamento da prefeitura, uma declara pagar R$1,8543 por litro. O
gratuito, acabando assim com a concep- vez que os subsídios, valores repassados problema, contudo, é que para a ANP
ção mercadológica, como eles mesmos pela secretária dos transportes às com- (Agência Nacional de Petróleo), o que
definem, de transporte. Muito embora panhias que operam o sistema, aumen- ocorreu de fato foi uma leve deflação
essa meta de passagem sem custo possa taram de 660 milhoes para 740 milhoes. no preço, de acordo com eles, R$1,
parecer inviável, a atual política de pre- Ou seja, ao mesmo tempo em que o go- 700 o litro. Tal distorção nos valores
ço da prefeitura de São Paulo também verno despeja mais dinheiro público no declarados pela prefeitura aumenta os
é ultrajante. Apenas para que se tenha serviço, teoricamente visando o baratea- gastos em 21,4 %. Como se não bastas-
uma noção, em Paris, uma das cidades mento da passagem, ela é reajustada bem se, o diesel referido na planilha, subs-
mais caras do mundo, a passagem custa acima da inflação. tancialmente mais caro, é de uma ca-
R$3,91, ou 30% a mais do que seu aná- É de se perguntar então, por que tegoria utilizada por apenas 1.200 dos
logo paulistano. O salário mínimo da essa soma entre cobrar mais do usuário e quase 15 mil coletivos.
10 POLÍTICA ACADÊMICA Laranja Março 20XI

Isso revela uma determinação por responsável por manter os 9,6 milhões de trânsito comum. Manter estes automóveis
parte do poder público em justificar esse passageiros que dependem do ônibus dia- de grande capacidade em meio aos con-
aumento, custe o que custar. Seja distor- riamente, em condições indignas. gestionamentos intermináveis da capital
cendo dados técnicos, ou ignorando os Essa cara ineficiência do sistema de agrava os problemas do modelo estrutu-
patamares de inflação, o desespero da transportes públicos em São Paulo é re- rado hoje, deficiente, lento, superlotado e
prefeitura em subir a tarifa nada mais é sultado de erros históricos, combinando caro. De acordo com a SPTRANS, a ve-
do que uma maneira de manter tudo como problemas endêmicos da metrópole com locidade média de circulação dos ônibus
está. Ao invés de conduzir as reformas ne- falhas de planejamento das administra- é de 20 km/h, ou seja, realmente perde-se
cessárias para tornar o transporte público ções públicas, passadas e recentes. Por muito tempo parado. Existe, portanto, um
paulistano condizente com as reais neces- exemplo, a atual gestão da prefeitura já vicioso ciclo no qual, à medida que piora
sidades de uma metrópole congestionada, havia anunciado a criação de cinco corre- a qualidade do serviço, mais passageiros
prioriza-se a ineficácia e o desperdício de dores, mas nada saiu do papel. Esse desin- querem evitá-lo, contribuindo para mais
dinheiro, mantendo um regime predesti- teresse na infra-estrutura geral do sistema carros nas ruas, e por fim, mais trânsito.
nado a custar cada vez mais e funcionar contribui progressivamente para diluir Se continuar desse jeito, 3 reais vão ser
cada vez menos. Tal descaso, contudo, é sua capacidade, jogando os coletivos no só o começo. L

George Orwell
e a gestão
Fórum da Esquerda POR MARCELO CHILVARQUER [181.23]

G
ênio na artede desmascarar contrário do que o Fórum sempre fez vangloriando por coisas que não reali-
por meio de fábulas satíricas enquanto oposição às gestões2 de que zou. Em grande medida, me sinto como
e romances distópicos1 como participei, creio que é importante um em 1984 em que uma Novilingua3 circu-
governos totalitários se utilizavam da interregno para que a gestão se adapte la pelas Arcadas e que o Grande Irmão
propaganda oficial para disseminar as a “máquina” mesmo que seja do mesmo (Fórum da Esquerda) tudo sabe, tudo
“suas verdades” e (des)construir a cons- grupo gestor a seu predecessor. faz e tudo resolve, enquanto a história
ciência coletiva, a obra do inglês Eric oficial narrada pela teletela (informes
Arthur Blair (George Orwell era um Em grande medida, me eletrônicos e jornal da gestão e não dos
pseudônimo) me parece necessária para sinto como em 1984 [...] alunos) vai tomando o lugar da verdade
entender os primeiros atos da gestão factual.
Fórum da Esquerda a frente do Centro No entanto, o que me leva a escre- Aos calouros que me desculpem,
Acadêmico. ver esse texto é a atitude deslavada com mas para exemplificar o que digo é pre-
De inicio, gostaria de destacar que que a atual gestão vem reescrevendo a ciso uma breve digressão histórica so-
sou particularmente contrário a críticas história, transferindo responsabilidades bre o que o Fórum defendia enquanto
muito pesadas em inicio de gestão. Ao que lhe cabem a gestões anteriores e se oposição.

1
Distopia: gênero discursivo que promove, através da ficção, a representação da antítese da utopia ou uma “utopia negativa”.
2
Participei das gestões Resgate de 2009 e 2010.
Março 20XI Laranja POLÍTICA ACADÊMICA 11

fres da entidade. de ir contra o que previamente defendia


No entanto, qual não foi minha sur- apenas um ano antes e assinar o contrato
presa quando abri o informe eletrônico sem qualquer consulta aos alunos, por 25
extraordinário de 02 de fevereiro (perío- gestões e nas férias, foi recorrente duran-
do de férias) da atual gestão com expli- te toda a gestão 2010 e comunicadas em
cações sobre o novo contrato do Campo todos os conselhos de entidade, no Pla-
do XI que fora chancelado no “excluden- nejamento Financeiro Anual neste mes-
te” Conselho de Entidades. Ao melhor mo ano e até mesmo na exposição orga-
estilo “duas pernas bom, quatro pernas nizada pelo Clube das Arcadas sobre o
ruim” de Revolução dos Bichos, me vi Campo do XI em meados do ano passa-
diante da maior concentração de hipocri- do. Além da implementação da reforma
sia e incoerência por cm² quadrado vir- do Campo do XI através de Lei de In-
tual dos anos que participei da política centivo ao Esporte, a função da criação
acadêmica da São Francisco. do Clube das Arcadas com a assessoria
No referido informe a gestão se do Pinheiro Neto Advogados idealizada
autovangloriava (inclusive substituindo, pelas gestões Resgate procurava exa-
gradativamente, entre o início do infor- tamente isto: tornar a gestão do espaço
me e o seu final o termo “Clube das Ar- profissional e menos sujeita a pressões
“Duas pernas bom, quatro cadas” - união de XI de Agosto, Atlética de um locatário ou qualquer outro ator
pernas ruim”

N
e Associação dos Antigos Alunos - por que tivesse total capacidade de enfor-
o inicio da gestão 2010, a crí- “gestão Fórum da Esquerda”) de ter as- car financeiramente uma extremamente
tica mais contundente a gestão sinado um contrato como “nunca antes efêmera gestão em uma já politicamente
Resgate que era apresentada na história deste Centro Acadêmico” turbulenta entidade.
pelo Fórum da Esquerda era a suposta que seria uma dádiva diante da saída do
falta de transparência com que o contrato DETRAN ocorrida em 2009 (dois anos Ora, é quase delirante crer
do Porão vinha sendo encaminhado pela antes). Falado com todas as letras em que a pressão que o Fó-
diretoria4. A crítica, de forma oportunis- Conselho de Entidades e repetido taci- rum da Esquerda sofreu
ta, apontava que os contratos não pode- tamente no referido informe, a gestão em seu início de gestão
riam ser fechados durante as férias, pois vermelha exaltava a brava resistência era fruto de uma geração
seria causado um “prejuízo inestimável” que conseguiu suportar diante das pres- espontânea repentina.
a participação dos alunos nos rumos do sões do Palhinha acusando o Resgate de
Centro Acadêmico. Além disso, julgava ter “enrolado” o locatário por dois anos Isso tudo para dizer que a “enrola-
ilegítimo o mecanismo de decisão por enquanto ele, incauto, sofria em silêncio ção” de dois anos das gestões Resgate
meio de Conselho de Entidades (criado, seus prejuízos econômicos tendo desper- em que foram trocadas “dezenas de mi-
por sinal, pelo Resgate em 2008) por ser tado tão somente no dia em que a gestão nutas” foram, como se deve imaginar,
“elitista”, já que contemplava apenas as rubra tomara posse. uma complexa negociação, que já havia
diretorias das entidades da Faculdade (e Ora, é quase delirante crer que a garantido quase que a totalidade das be-
também aqueles que eram afetados pelos pressão que o Fórum da Esquerda sofreu nesses elencadas pelo contrato “nunca
constantes atrasos de aluguel dos locatá- em seu início de gestão era fruto de uma antes na história do Centro Acadêmico”
rios em seus repasses) e clamava (nota geração espontânea repentina. Esta situ- divulgada no informe da atual gestão
de rodapé) para que a assinatura fosse ação, inclusive com os referidos atrasos como se fosse uma obra de seu gênio ne-
protelada até as aulas, independente do de pagamento de aluguel como forma gocial. O fato de a assinatura ter se dado
prejuízo que isso pudesse causar aos co- de ameaça, que tornou-se a justificativa nas férias e sem qualquer comunicação

3
Novilingua - idioma fictício criado pelo governo hiperautoritário na obra literária 1984, de George Orwell. A novilíngua era desenvolvida não
pela criação de novas palavras, mas pela "condensação" e "remoção" delas ou de alguns de seus sentidos, com o objetivo de restringir o es-
copo do pensamento. Uma vez que as pessoas não pudessem se referir a algo, isso passa a não existir. Assim, por meio do controle sobre
a linguagem, o governo seria capaz de controlar o pensamento das pessoas, impedindo que ideias indesejáveis viessem a surgir. (Fonte: http://
pt.wikipedia.org/wiki/Novil%C3%ADngua)
12 POLÍTICA ACADÊMICA Laranja Março 20XI

aos alunos era, no mínimo, um absurdo com a esmagadora vitória (650 votos a dades do IMÓVEL, devendo o aumento
em termos de coerência política. O fato 250 votos) pela alteração do locatário, dos preços ser sempre justificado ao
de uma gestão assinar um contrato de o Fórum soltou um texto dizendo que LOCADOR.”. A gestão, portanto, ao in-
locação que garanta a saúde financeira plebiscitar não seria democratizar5 e vés de ficar falando mal de seu adversá-
da entidade não é, em minha opinião, batendo na forma, mesmo que, a época, rio político, deveria fazer uma pesquisa
equivocado. Porém, as razões elencadas de preços na região e, caso houvesse
para a ação não se sustentavam diante “O preço deverá ser com- abuso no aumento, resolver a questão,
da mesma defesa feita um ano antes em patível com o praticado até mesmo judicialmente. No entanto,
contrato análogo. Ora, ou o Fórum não por padarias e bares lo- o Fórum preferiu agir como oposição,
acreditava no que defendia ano passado calizados nas proximi- fugindo do ônus de gerir a entidade e
e apenas o fez para fustigar a gestão Res- dades do imóvel [...]” representar o interesse dos alunos para
gate independente do interesse do XI de
ganhar politicamente. No fim das con-
Agosto envolvido tornando-o um parti-
a escolha fosse sim binomial (ou uma tas os alunos ficam com o preço caro
do nada institucional, fato grave. Ou foi
proposta ou outra). da cerveja e o Fórum da Esquerda não
contra aquilo que defendia ideologica-
Ano novo, Fórum na gestão e au- precisa trabalhar.
mente quando na gestão, fato ainda mais
mento do preço da cerveja. Excluindo Para finalizar, uma passagem na
grave.
a discussão de que embora a São Fran- Calourada foi emblemática da gestão
cisco seja um lugar especial, a inflação que temos a frente do XI de Agosto.
A gestão que sonhava ser
também existe em nosso mundo, vieram Ao ser cancelado o primeiro evento da
oposição ou o “comigo não
morreu” com o aumento, as reclamações dos alu- semana por ausência dos convidados

A
questão da falta de institu- nos com a gestão, leia-se, membros do (ou de público), fato incomodo, mas

cionalidade ressurge em ou- Fórum. A resposta foi no maior estilo que pode ocorrer a qualquer gestão, um

tro assunto delicado: o bar do “comigo não morreu”: “é culpa do Res- diretor do XI disse, não obstante carta-

Porão. Grande ônus do inicio de gestão gate, sempre fomos contra essa mudan- zes do evento a sua volta, que o referi-

2010, o novo contrato garantiu 50% no ça do Porão”. do não existia de forma a tentar evitar

aumento de receitas as entidades, além Embora esse “não desejo” pela a responsabilidade por um evento mal

de, convenhamos no mínimo, um espa- mudança significasse manter-se com sucedido. São os novos tempos. E as

ço salubre para se comer. locatários inadimplentes, um porão sujo ovelhas vermelhas repetem “duas per-

O Fórum, embora criticasse a mu- em que o lixo ficava por dias perto da nas bom, quatro pernas ruim”... L

dança a época, não teve coragem de sol- comida e a cerveja faltava com bastante

tar um texto formal pelo qual pudesse assiduidade em qualquer festinha, po-

ser cobrado publicamente defendendo deria ser, forçando a barra, suportável

a manutenção dos locatários inadim- não fosse um detalhe: o Fórum era ges-

plentes em plebiscito realizado para tão e não oposição. E, como tal, deve-

selecionar o novo contrato. No entan- ria ler o contrato do bar que estipulava

to, “puxou” votos para esta proposta literalmente o seguinte “o preço deverá

e defendia para quem quisesse ouvir a ser compatível com o praticado por pa-

frente das urnas. Passada a apuração e darias e bares localizados nas proximi-

4
Em texto como oposição enviado em jan/2010 referente a assinatura de contrato nas férias o Fórum da Esquerda proclamava:
“O que propomos?
A decisão sobre a alteração dos locatários do espaço do Porão é de extrema importância não só pelos já citados motivos, mas também
por vincular outras gestões. Para uma efetiva participação de todos os alunos, em primeiro lugar, é preciso que todos estejam presente,
interados e informados sobre o processo. Para tanto, é fundamental que a gestão transfira a decisão sobre os rumos do porão nos
próximos anos para a volta do período letivo.  Não há nenhum prejuízo para a entidade que se adie em um mês decisão de tal importân-
cia. Não podem os alunos serem penalizados pela descaso da gestão com o tema antes do vencimento do contrato.”
5
Em texto como oposição enviado em abril/2010 referente a vitória esmagadora pelo novo locatário, posição divergente do Fórum naquele mo-
mento
“Para o Fórum da Esquerda, a política não se resume à escolha binária de valores. Muitas variáveis são ocultas quando se resume toda a com-
plexidade de escolhas políticas a opção um ou dois.”

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