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Retiro Quaresmal 2011

APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO


E HUMILDE DE CORAÇÃO Mt 11, 29
- discípulos de Jesus na escola de Mateus -

ÍNDICE:
Apresentação 5

Introdução 7

1. O que é o retiro quaresmal?


2. Como organizá-lo?
3. Roteiro para a oração diária.
4. Revisão da oração.
5. Oração de atenção amorosa.
6. Acompanhamento no retiro quaresmal.
7. Esquema do livreto.

Semana introdutória 13

1ª Semana: Busquem em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça 21

2ª Semana: Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus 30

3ª Semana: Convertam-se, pois está próximo o Reino dos céus 38

4ª Semana: Ele percorria a Galiléia, ensinando... pregando ... 46

5ª semana: Jesus percorria a Galiléia, curando... perdoando... salvando... 53

6ª semana: O Filho do Homem vai ser entregue para ser crucificado 59

Conclusão: 68
Vão e façam discípulos meus todos os povos: estarei sempre convosco!

Avaliação do retiro quaresmal 73

Capa e ilustrações retiradas da internet


Foto Contra-capa: Cecília Schmidt
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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
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APRESENTAÇÃO
Tenho a alegria de apresentar o Retiro Quaresmal – 2011, elaborado pela
Equipe do CEI-Itaici, pelo 7º ano consecutivo.

No ano 2009, ano litúrgico B, o Retiro “Estar com Ele e ser enviados” seguia o
evangelho de São Marcos. O ano passado, ano litúrgico C, o evangelho de São Lucas
nos ajudou a “Subir a Jerusalém”. No presente ano litúrgico A, pretendemos tornar-
nos “Discípulos de Jesus na escola de Mateus”, rezando o tema: “Aprendam de Mim
que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29).

O primeiro evangelho gozou sempre na Igreja de uma certa prioridade. Se o


evangelho de Marcos é o mais apropriado para a primeira evangelização, e o de Lucas
o evangelho mais missionário, o evangelho de Mateus é o mais indicado para a
catequese, para a formação da comunidade, para cultivar a dimensão eclesial de
nossa fé. Trata-se, com efeito, do “evangelho eclesial por excelência”.

Mais uma vez, o Retiro Quaresmal é fruto do trabalho de diversos


colaboradores: Ir. Maria Fátima Maldaner, SND (Semana preparatória), Pe. José
Marcos de Faria, SJ (1ª semana e coordenação geral), Pe. Christophe Six, SJ (2ª
semana); Pe. Edson Andretta, SJ (3ª semana), Pe. Manuel Eduardo Iglesias, SJ (4ª e 5ª
semana) e Pe. Álvaro Barreiro, SJ (6ª semana).

A principal fonte de inspiração deste Retiro Quaresmal, depois do próprio


evangelho de São Mateus, foi Um retiro de 8 dias inspirado no Evangelho de Mateus e
seguindo a metodologia dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, elaborado pelo Pe.
Jaldemir Vitório, SJ, Reitor da FAJE (Faculdade Jesuíta), de Belo Horizonte, MG.

A Equipe do CEI-Itaici dedica este modesto trabalho à memória do Pe.


Christophe Six, SJ, que, no momento em que escrevo esta apresentação, se encontra
em agonia, vítima de um câncer de pulmão. Pedimos ao Senhor que quantos façam
este Retiro Quaresmal saibam viver e morrer com a fé com que nosso querido
companheiro está entregando sua vida ao Pai.

Pe. Luís González-Quevedo, sj


Diretor interino do CEI-Itaici.

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Retiro Quaresmal 2011
“Aprendam de mim que sou manso e humilde de coração”
(Mt 11,29)
- discípulos de Jesus na escola de Mateus -

INTRODUÇÃO

1. O QUE É O RETIRO QUARESMAL?

Nos últimos sete anos, muitas pessoas conheceram o livreto: “Retiro Quaresmal”,
elaborado pelo CEI-Itaici. O roteiro oferece uma forma especial de fazer o retiro em
casa, no tempo da Quaresma, visando uma boa preparação para a Páscoa do Senhor.
Poderia também ser adaptado para outro tempo do Ano Litúrgico. Trata-se,
realmente, de fazer na própria casa um retiro que, normalmente, se faria em uma
casa de retiros. Tem alguma semelhança com os chamados Exercícios na Vida
Cotidiana - EVC - baseados nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola.

Fundamentalmente, o Retiro Quaresmal é um caminho de oração, feito no dia-a-dia,


por um determinado tempo, baseando-se em exercícios de oração, sugeridos e
elaborados neste livreto que ora apresentamos.
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Elementos básicos para fazer este Retiro Quaresmal são:
a. dedicar trinta (30) minutos à oração pessoal diária;
b. rever esta oração durante alguns minutos;
c. fazer, no final do dia, durante aproximadamente dez (10) minutos, a
Oração de Atenção Amorosa, como uma retrospectiva do dia que passou.

2. COMO ORGANIZAR-SE PARA O RETIRO QUARESMAL?

O “coração” do Retiro Quaresmal é a dedicação de, pelo menos, trinta (30) minutos
por dia, para os exercícios sugeridos. É importante encontrar um tempo propício para
estes exercícios diários de oração. Isto pede muita fidelidade. Aprendemos dos
mestres de oração como é importante dar um tempo certo para a oração pessoal
diária. Todos nós, hoje em dia, temos muito que fazer. Depende de nós organizarmo-
nos e convencermo-nos de que o tempo é a condição fundamental para a oração
acontecer. Assim escreve São Francisco de Sales: “É muito importante dar atenção a
Deus, durante meia hora diária; mas quando os afazeres são muitos, então é
necessário destinar uma hora inteira para a oração pessoal”.

O melhor tempo para a oração diária é aquele em que estou mais descansado, menos
disperso e agitado pelas preocupações do dia. Bom seria que fosse sempre à mesma
hora. Se isto não for possível, faço um plano semanal. Deveríamos mesmo agendar
este tempo.

Terminado o tempo da oração pessoal, sou convidado a usar mais algum tempo para
rever como foi a oração, perguntando-me a mim mesmo: Saí-me bem? Por quê? Tive
dificuldades, resistências? Recomenda-se ter uma espécie de diário espiritual onde
se anota aquilo que aconteceu de importante e significativo durante a oração.

3. ROTEIRO PARA A ORAÇÃO DIÁRIA

Esquema como possível ajuda para os trinta (30) minutos de oração diária.

a) Escolho a hora e o lugar mais apropriados para a oração.


b) Acolho a presença de Deus, sei que Ele me quer junto de si.
c) Peço a luz do Espírito Santo para que Ele me dirija e inspire.
d) No início de minha oração pessoal, rezo esta oração preparatória:

Aqui estou, meu Deus, diante de ti,


tal como sou agora.
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Estou tranqüilo e pacificado diante de ti, Senhor,
Como um discípulo atento a seu Mestre.
Estou na tua presença e deixo-me conduzir.
Abro-me à tua proximidade.
Dá-me um coração de discípulo,
para que, cada dia, possa ouvir a tua Palavra.
Tu és a fonte da vida, a força da vida que me penetra.
Tu és meu ar que me oxigena e dilata.
Deixa que a paz me habite.
Concede-me a graça de me deixar “limpar” por ti,
ser uma concha que se enche de ti, meu Deus.
Que todos os meus pensamentos e sentimentos,
minha vontade e liberdade sejam orientados para o teu
serviço e louvor, meu Deus, Mestre e Senhor. Assim seja!

e) Dois modos de orar os textos indicados:

1º - CONTEMPLAÇÃO EVANGÉLICA (se o texto for um fato bíblico ou um mistério da


vida de Cristo)
Como proceder?

Recordo a história e uso a imaginação para entrar na cena evangélica.


Procuro ver, contemplando cada pessoa da cena; dou um olhar demorado,
sobretudo, na pessoa de Jesus (se for o caso). Olho, sem querer explicar ou
entender.
Tento ouvir, prestando atenção às palavras ditas ou implícitas: o que
podem significar? E, se fossem dirigidas a mim...?
Observo o que fazem as pessoas da cena. Elas têm nome, história,
sofrimentos, buscas, alegrias. Como reagem? Percebo os gestos, os
sentimentos e atitudes, sobretudo, de Jesus?
Participo ativamente da cena, deixando-me envolver por ela. Além de ver
ouvir, tento apalpar e sentir o sabor das coisas que nela aparecem.
E, refletindo, tiro proveito de tudo o que ocorreu durante a oração.
Finalizo com uma despedida íntima de meu Deus, rezando um Pai-Nosso.

Saindo da oração, faço a minha revisão (cf. 4).

2º - LEITURA ORANTE (se for um texto de ensinamento da Escritura)


• Leio o texto inteiro de uma vez; releio, devagar, versículo por versículo.
Pergunto-me: O que diz o texto em si?
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Paro onde Deus me fala interiormente, não tenho pressa, aprendo a
saborear. Pergunto-me: O que o texto diz para mim?
Deus é Pai que nos ama muito mais do que poderíamos ser amados.
Pergunto-me: O que o texto me faz dizer a Deus? Podem ser louvores,
pedidos, ação de graças, adoração, silêncio...
Vou acolhendo o que vier à mente, o que tocar o meu coração: desejos, luzes,
apelos, lembranças, inspirações.
 Pergunto-me: O que o texto e tudo o que aconteceu nesta oração me fazem
saborear e viver?
 Finalizo a oração com. uma despedida amorosa. Rezo um Pai-Nosso e uma
Ave-Maria.
 Saindo da oração, faço a minha revisão (cf.4).

4. REVISÃO DA ORAÇÃO

Terminada a oração, revejo brevemente como me saí nela, perguntando-me:


― que Palavra de Deus mais me tocou?
― que sentimento predominou?
― senti algum apelo, desejo, inspiração?
― tive alguma dificuldade ou resistência?

Anoto o que me pareceu mais significativo na forma de uma breve oração de súplica
ou de agradecimento.

N.B.: Este roteiro pode ser utilizado para a partilha da oração em grupo.

5. ORAÇÃO DE ATENÇÃO AMOROSA

Agora vamos procurar entender outro aspecto importante do Retiro Quaresmal, ou


seja, a Oração de Atenção Amorosa, que é um elemento profundamente enraizado
na tradição espiritual da Igreja. Trata-se do exame espiritual de consciência. Inácio de
Loyola teve uma visão mais ampla deste exame, não apenas vendo as falhas, mas
lançando um olhar para todo o dia vivido, agradecendo, louvando e também pedindo
perdão pelas culpas e falhas acontecidas. Conclui-se confiantemente, colocando o
futuro nas mãos de Deus.

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Para a Oração de Atenção Amorosa são necessários 10 a 15 minutos. Durante meu
Retiro Quaresmal, posso unir a Oração de Atenção Amorosa à minha oração da noite.
Segue um esquema para este exercício no quadro abaixo:

Preparação (externa e interior): Começo minha oração conscientemente: faço o sinal


da cruz, acolhendo a presença de Deus. Peço ao Senhor a graça de perceber, com
atenção amorosa, o dia que termina, vendo-o à sua luz.

1. Agradecimento
Agradeço a Deus por tudo que vivi neste dia. E se não acho nenhum motivo para
agradecer, posso pelo menos dizer obrigado, pela vida que me foi concedida
gratuitamente.

2. Invocação ao Espírito Santo


Invoco o Espírito Santo, pedindo luz para discernir o uso que fiz de minha liberdade.

3. Um olhar sobre o dia que passou


Contemplo o dia que passou. Deixo passar diante de mim o dia todo ou coloco-me
diante de alguns acontecimentos. Não preciso avaliar ou julgar-me, porque a
percepção da realidade de um dia vivido antecede à avaliação. Encontro motivos
para agradecer? Para me queixar? Permiti que Deus atuasse em mim, sendo sinal de
sua presença e amor para com os outros?

4. Pedido de perdão
Reconhecendo-me frágil e pecador, peço perdão ao Senhor por minhas faltas ou pelo
bem que deixei de fazer, não me deixando conduzir por seu Espírito.

5. Oração de conclusão
Confio ao Senhor o meu amanhã, experimentando a alegria de nele depositar a
minha esperança. Concluo com um Pai-Nosso.

6. ACOMPANHAMENTO NO RETIRO QUARESMAL

Além das orientações dadas, seria desejável um acompanhamento mais direto. Há


duas possibilidades:

1. Recomenda-se às pessoas que desejam fazer o retiro, a formarem grupos por


proximidade geográfica ou afetiva, sejam grupos já existentes, sejam grupos a se
constituírem. O objetivo é reunir-se, semanalmente de preferência, para a partilha
das experiências.
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2. Tanto quanto possível, os grupos sejam acompanhados por um orientador
experiente nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, auxiliado por outros
acompanhantes idôneos que se disponham a prestar este serviço pastoral.

7. O ESQUEMA DO LIVRETO DO RETIRO QUARESMAL

Cada uma das seis semanas do Retiro Quaresmal contém cinco exercícios de oração.
O sexto dia da semana destina-se para a chamada repetição. Trata-se de escolher o
exercício da semana que mais me tocou ou que foi mais difícil para mim. A repetição
tem um papel muito importante nos Exercícios Espirituais. Não raras vezes acontece
que somente durante a repetição se consegue uma experiência de oração mais
profunda.
No que diz respeito ao conteúdo e método de oração, o presente itinerário procura
incluir os mais variados modos de orar: oração com a Sagrada Escritura, oração com
imagens, oração a partir de uma história ou fato, oração que parte da própria vida e
suas experiências, orações orientadas, oração com as próprias palavras ou mesmo
sem palavras.
O título do Livreto inspira-se em MT 11, 29: APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E
HUMILDE DE CORAÇÃO - discípulos de Jesus na escola de Mateus -. Este tema
também se inspira no Documento de Aparecida, cuja proposta se orienta no sentido
da formação do discípulo-missionário.
Tratando-se de Retiro Quaresmal, os exercícios começam na Quarta-feira de Cinzas,
com uma etapa introdutória. Ela tem como título: “APRENDAM DE MIM QUE SOU
MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO” e deseja convidá-lo a entrar conscientemente no
caminho de oração dos Exercícios na Vida Diária e a dispor-se a uma atitude orante.

Com o primeiro domingo da Quaresma, começa a 1ª semana do Retiro Quaresmal.


Seguem-se os títulos das seis semanas:

1ª semana: Busquem em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça.


2ª semana: Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
3ª semana: Convertam-se, pois está próximo o Reino dos céus.
4ª semana: Ele percorria a Galiléia, ensinando... pregando...
5ª semana: Ele percorria a Galiléia, curando... perdoando... salvando...
6ª semana: O Filho do Homem vai ser entregue para ser crucificado.

N.B.: Apesar de chamar-se Retiro Quaresmal, este texto poderá ser rezado em outro
tempo do Ano Litúrgico, com as devidas adaptações.
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SEMANA INTRODUTÓRIA
(da Quarta-feira de Cinzas ao Primeiro Domingo da Quaresma)

Aprendam de mim que sou manso e humilde de coração...

- discípulos de Jesus na escola de Mateus –

1. Estamos iniciando este Retiro Quaresmal (RQ), inspirados no Evangelho de São


Mateus e seguindo a metodologia dos Exercícios Espirituais (EE) de Santo Inácio, em
modalidade semelhante aos Exercícios na Vida Cotidiana (EVC).

Vamos, portanto, fazer EE e não um curso de Bíblia sobre o evangelho de Mateus, que
vai ser o texto a partir do qual vamos rezar, deixando Deus nos falar e nos interpelar.
Temos que trabalhar, fundamentalmente, mais com o coração do que com a razão.
Não vamos ter aula de exegese bíblica, nem usaremos o tempo a ser dedicado à
oração para fazer pesquisa sobre o texto bíblico. Nossa interpretação será sempre
existencial, tendo em vista aprofundar nossa fé no Senhor Jesus. Evidentemente não
teremos tempo de percorrer a totalidade do evangelho de Mateus, objeto de nossa
oração. Só nos serviremos de textos escolhidos. Nestes dias de Quaresma, porém, se
nos oferece uma oportunidade excelente de fazer uma leitura contínua deste
evangelho. Isto poderá ser feito nos tempos livres, em clima de oração,
pausadamente, acolhendo e interiorizando cada palavra do texto evangélico, como
um discípulo acolhe as palavras de um mestre e se esforça por praticá-las.

Para tanto, será preciso assumir a postura de discípulo que quer aprender com o
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Mestre Jesus. Daí o tema de nosso retiro: “Aprendam de mim, que sou manso e
humilde de coração” - discípulos de Jesus na escola com Mateus. Que tipo de
discípulo queremos ser? Qual o sentido do discipulado para nós (em vista da
missão)?
O evangelista Mateus foi apóstolo, teólogo e catequista, um verdadeiro pastor de sua
comunidade. Nestes dias vamos ser instruídos por ele, seguindo suas catequeses de
cristologia, eclesiologia e ética cristã. Então, vamos rever nossa condição de cristãos e
cristãs.
A grande graça que pedimos neste retiro é a de tornar-nos discípulos, para ser
missionários.
2. Para fazer bem o Retiro Quaresmal, seria bom que crescêssemos nas seguintes
disposições:

- Um desejo forte de ser verdadeiro discípulo de Jesus, buscando sintonizar-se com


Ele e com seu projeto o mais possível, em vista de radicalizar seu seguimento. Mateus
queria formar discípulos de Jesus.
- Participar da vida de uma comunidade com forte engajamento eclesial. O
evangelista escreveu para uma comunidade e estava preocupado com a vida desta
comunidade. Os discípulos eram considerados a partir desta perspectiva. Sem esta
visão eclesial, a mensagem de Mateus fica esvaziada.
- Uma clara disposição para viver - “pôr em prática”- o aprendido. O evangelista não
faz teorias, nem abstrações. Ele é o homem do agir, do fazer. Para ele a fé é prática e se
manifesta no modo de proceder (ética), expresso no amor aos mais pobres e
pequeninos.
- Uma abertura de coração para acolher o Reino revelado por Jesus, com todas as suas
exigências, cujo cume pode ser o martírio. Isto é, pôr-se no seguimento e na imitação
de Jesus.
- A postura a ser evitada é a dos “sábios e entendidos”, que pensam saber tudo e, por
isso, não se dispõem a serem discípulos. Agem como se fossem mestres do próprio
Deus, fazendo com que se lhes escondam “os mistérios do Reino”. A sabedoria do
Reino foge de suas mãos.

3. Com a 4ª feira de Cinzas iniciamos a etapa do ano litúrgico que se chama


Quaresma. Este tempo deve caracterizar-se em assumir o esforço de libertar-nos das
amarras que ainda nos prendem e impedem de viver como verdadeiros ressuscitados
em Cristo. Nossa atitude seja, pois, de combate espiritual e, sobretudo, tempo de
escuta da Palavra de Deus. O conteúdo do Retiro Quaresmal é, pois, privilegiar a
Palavra de Deus, dedicando-nos a sua leitura orante, que nos garante entrar no
caminho da conversão. A imposição das cinzas é um forte símbolo que nos convoca à
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oração, ao jejum medicinal e caritativo. O livro do profeta Joel (Jl v.2, 12-18) nos traz
exortações altamente motivadoras para entrar no espírito da Quaresma:

“... retornai a mim de todo o vosso coração com jejum, com lágrimas e com
lamentação (v.12). Rasgai os vossos corações e não vossas roupas, retornai
ao Senhor nosso Deus (v.13)”

Estes primeiros quatro dias nos ajudam a criar as disposições interiores e exteriores
para bem orar, a saber, o silêncio, a escuta atenta da Palavra, o recolhimento, a
concentração a fim de chegar a um diálogo íntimo com o Senhor nos exercícios de
oração pessoal que são propostos.

Oração:
Concedei-nos, ó Deus todo poderoso,
iniciar com a prática da oração, do jejum e da caridade
o tempo da Quaresma,
para que os exercícios espirituais nos fortaleçam
no combate contra o espírito do mal.
Por Cristo Nosso Senhor. Amém!

Quarta-feira de Cinzas
- aprendendo a escutar -

Iniciando minha preparação prévia, faço o sinal da cruz e acendo uma vela. Posso ter
uma imagem de Jesus diante de minha mesa e uma vela.

Procuro hoje estar atento à minha capacidade de escuta, de ouvir. Ponho a mão no
peito e escuto e sinto as batidas do meu coração e, colocando o dedo médio no pulso
faço a mesma experiência. Presto atenção aos sons, ruídos que vem de fora, posso
distingui-los, são fortes?... são fracos?... Posso diferenciar sua procedência: são de
carros passando, são os cantos dos pássaros, são vozes ruidosas ou harmoniosas. É
altamente preciosa a capacidade de ouvir. Podemos aceitar, talvez, a repreensão do
Senhor no (Sl 134(135), que nos exorta para não sermos como os que se apóiam em
deuses pagãos, ainda que de ouro e prata, que tem boca e não podem falar, tem olhos
e não podem ver, tem ouvidos e não podem ouvir. (cf v.14-17)

Pedido da graça:
Invocando o Espírito Santo, peço a graça de crescer na capacidade da
escuta para assim aprofundar melhor a Palavra de Deus.
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Texto Mt 6,1-6; 16-18

Leio atentamente a palavra de Deus proposta para hoje. Após a leitura pausada e
atenta de toda a passagem uma ou duas vezes, paro para entender o seu conteúdo.
Posso ir repetindo alguns versículos e refletir sobre seu significado para este tempo
quaresmal:
v.2 ...quando deres uma esmola, não te ponhas a trombetear em público
como fazem os hipócritas as sinagogas e nas ruas com o propósito de serem
elogiados pelos homens.

v.3: Antes, quando deres uma esmola, não saiba a tua mão esquerda o que
faz a tua direita para que a tua esmola fique em segredo.
v.8: Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora ao
teu Pai ocultamente e o Pai, que vê o que está oculto, te recompensará

v.17: Tu, quando jejuares unge a cabeça e lava o rosto para que os homens
não percebam que estás jejuando.

Deixo ressoar estes versículos em mim, em escuta silenciosa, para que o Senhor
possa falar em mim e eu perceba o que Ele quer de mim. Pergunto-me: Como posso
eu viver as três práticas principais da Quaresma, a saber, a oração, o jejum e a
caridade? Este livreto do Retiro Quaresmal vai me ajudar, sobretudo, a cultivar a
oração. Em relação aos pobres, a que fim caritativo quero destinar a minha
contribuição solidária, resultado de minhas pequenas privações?

Finalizo minha oração com intensa súplica, pedindo a graça de viver consciente e
piedosamente a presente Quaresma. Rezo um Pai-Nosso.

Quinta-feira depois das Cinzas


- aprendendo a silenciar -

Preparando-me, faço com grande recolhimento e devoção o sinal da cruz. Rezo a


seguinte oração:

Ó Deus, assisti com vossa bondade


a penitência que iniciamos,
para que vivamos interiormente
as práticas externas desta Quaresma.
Por Cristo nosso Senhor. Amém!
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Iniciando hoje meu momento de oração pessoal, acolho-me a mim mesmo tal como
me sinto: meus sentimentos, minhas preocupações, minhas alegrias, meus
dissabores. Nosso Deus de tudo sabe e como amigo quer ouvir-me e consolar-me.
Deixo o corpo participar deste momento de oração inicial Posso tomar uma posição
agradável, tórax ereto. Aspiro profundamente, expirando em seguida. Faço-o várias
vezes até entrar em paz, tudo entregando nas mãos de Deus.

Faço agora a leitura de Mt 17, 21-22:

Enquanto caminhava pela Galiléia, Jesus lhes disse: O Filho do homem deve
ser entregue às mãos dos homens. Matá-lo-ão, mas ao terceiro dia
ressuscitará. E eles ficaram profundamente aflitos.

Vou refletindo e orando A quaresma celebra o mistério da Paixão e Morte do Senhor,


e deixa claro que todo o cristão, no seguimento de Jesus, vai passar por este caminho.

Pedido da graça:
Peço a graça de compreender o valor e o significado da cruz, quando ela
me aparecer nos caminhos de minha vida e de aceitá-la, como discípulo
do Mestre.

Em confiante silêncio, pergunto-me: Onde está hoje minha cruz, aquela que sou
resistente em admiti-la e carregá-la? Ela pode vir de minhas próprias limitações, das
dificuldades de meus relacionamentos com os outros, de problemas de saúde, de
desemprego e outras.

Leio novamente a passagem do evangelho acima citada. Vou admirando o anúncio


claro que Jesus faz de sua Paixão e sua atitude de amor extremo. Vou orando,
refletindo, pedindo forças para a aceitação pronta e generosa de minha cruz diária.
Paro, rezo até ficar em paz, na fé e esperança no Senhor.

E assim, fortalecido, vou concluindo este momento de oração pessoal.

Ajoelho-me e rezo o Pai-Nosso.

Sexta-feira depois das Cinzas


- o corpo em oração -
Preparo meu santuário para a oração, acendo uma vela. Faço devotamente o sinal da
cruz. Rezo a seguinte oração: 17
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Ó Deus, assisti com vossa bondade
a penitência que iniciamos,
para que vivemos interiormente
as práticas externas da Quaresma.
Por Cristo Nosso Senhor. Amém!

Tomo consciência de que a oração pede um espaço de tempo predeterminado e uma


posição agradável ao corpo e ao espírito.

Convido, pois, meu corpo a participar deste momento de oração. Procuro um bom
lugar para sentar-me, coluna reta para poder respirar livremente. Sei que, em Cristo,
todos os meus sentidos ganham caráter sagrado: o tato, a visão, o paladar, a audição e
o olfato. Procuro acolher-me como corpo que eu sou, entrando em silêncio e
harmonia com os meus sentidos.

Respiro profundamente com meu olfato e expiro pela boca. Escuto os sons, sejam
melodias ou barulhos; posso fixar o olhar no tremular da chama da vela. E assim vou
me acolhendo em paz e recolhimento para, aos poucos, chegar à concentração.
Aceito ser corpo com toda a riqueza que ele representa.

Com fé faço a seguinte leitura do texto de Rubem Alves:

“Deus nos fez corpos. Deus fez-se corpo. Encarnou-se.


Corpo: nosso destino, destino de Deus.
Corpo, imagem de Deus.
Isto é bom!
Eterna divina solidariedade com a carne humana.
Nada mais digno.
O corpo não está destinado a elevar-se a espírito.
É o Espírito que escolhe fazer-se visível, no corpo.
Corpo, realização do espírito: suas mãos, seus olhos, suas palavras, seus
gestos de amor...
Corpo: ventre onde Deus se forma. Maria grávida, Jesus, feito feto silencioso
à espera, protegido no calor das entranhas de uma mulher.
Jesus, corpo de Deus entre nós, corpo que se dá aos homens,
corpo para os corpos, como carne e sangue, pão e vinho”

Faço minha reflexão e oração a partir do texto acima. Sinto o valor e dignidade do
meu corpo? Deus se encarnou, se faz corpo como o nosso, para nos ensinar a viver
como seres humanos. Os sentidos são meios para orar. São janelas pelos quais
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sentimos o mundo exterior como obra criadora. Posso ir exercitando cada sentido e
observando, fazer a experiência de admirar Deus: sua grandeza, sua bondade, sua
providência.

Finalizo, dando louvores ao Senhor pela dádiva do meu corpo, pessoa humana criada
à imagem e semelhança de Deus. Volto-me a Maria que gerou o corpo de Jesus e rezo
a Ave Maria.

Sábado após Cinzas


- eis que estou à porta e bato... -

Nos três dias anteriores fizemos exercícios breves. Tinham como objetivo dar-nos
orientações próprias para iniciar o Retiro Quaresmal. Hoje é o dia em que posso dar
ao Senhor o meu sim sincero à proposta que ele me fez, chamando-me a este retiro e
me fará durante as seis semanas da Quaresma. O Senhor Deus deseja fazer uma ceia
comigo.

Agora escuto o Senhor falar-me:


Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, eu entrarei na
sua casa e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo (Ap 3,20).

Vou imaginar o Senhor diante de mim, pedindo entrada para a ceia, ceia que vai
continuar por seis semanas. Deixo ressoar o versículo dentro de mim.

E presto atenção ao que o Senhor quiser revelar-me. Ele bate à minha porta, sou livre
em abri-la ou não. Paro, rezo longamente.

Neste dia posso anotar o que devo levar em conta para fazer uma boa oração pessoal:
o lugar a escolher e preparar, a melhor escolha da hora do dia para estar a sós com o
Senhor, o silêncio, a escuta, a concentração, a importância do corpo e seus sentidos.
Que prática penitencial vou assumir? Preparo um caderno especial para estas e as
demais anotações que farei no decorrer do retiro.

Tendo anotado a revisão de minha oração, peço a graça da fidelidade aos convites
que o Senhor me fez. Invoco a proteção de Maria e peço sua bênção, rezando: Ó
minha Senhora, ó minha mãe, eu me ofereço todo a vós, e em prova de minha
devoção para convosco eu vos consagro os meus olhos, os meus ouvidos, a minha
boca e inteiramente todo o meu ser. E porque assim sou vosso, ó incomparável Mãe,
guardai-me e defendei-me com o filho vosso. Amém!
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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
Seria bom me encontrar neste fim de semana com meu grupo do Retiro Quaresmal,
para marcar os dias de partilha e acompanhamento. E reler com atenção as
orientações da introdução deste livreto.

Primeiro Domingo da Quaresma


Hoje a celebração dominical, com suas leituras específicas, vai dar-me motivações a
mais para a vivência da Quaresma. Que tudo aconteça para a maior glória de Deus e
crescimento em santidade. Assim seja! Aguardo com desejo a segunda-feira, quando
começarei a minha primeira semana de retiro.

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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
PRIMEIRA SEMANA

BUSQUEM EM PRIMEIRO LUGAR O REINO DE DEUS E A SUA JUSTIÇA

Tema da semana: A vida do discípulo está toda centrada no Reino. Em geral, Mateus
usa a expressão Reino dos Céus, evitando falar Reino de Deus, por respeito aos
cristãos de sua comunidade, a maioria de origem judaica, cuja lei proibia tomar o
nome de Deus em vão (Ex 20, 7; Dt 5, 11).

A Palavra Reino evoca autoridade, poder, supremacia, senhorio ligados à pessoa do


Rei. Aplicada a Deus, ela se refere ao senhorio de Deus, ao exercício de seu poder
sobre todas as suas criaturas. O Reino de Deus acontece quando a Lei de Deus - seus
mandamentos - são a pauta de ação de quem aderiu a Ele. A Lei de Deus expressa a
vontade de Deus a respeito da humanidade. Ao ser posta em prática, Deus se torna o
Senhor. É Jesus quem nos diz qual é a vontade do Pai para a humanidade, ao
reinterpretar a Lei de Moisés: “Ouvistes o que foi dito aos antigos... Eu, porém, vos
digo” (Mt 5, 21-48).

O Reino exige que o discípulo torne-se excêntrico, ou seja, tenha o centro de sua vida
fora de si mesmo. O discípulo se recusa a ter uma autonomia absoluta, a criar a
própria lei, mas aceita a heteronomia, isto é, pauta-se por uma lei que tem origem em
Deus e não no ser humano.

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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
Acolher o Reino é um grande desafio para quem é filho da modernidade e da cultura
da autonomia daí resultante: “Só faço o que eu quero, o que me agrada, o que dá
prazer, o que me interessa...“. As crianças hoje já são educadas assim. A pedagogia
moderna orienta os pais a jamais dizerem “não” a seus filhos. As conseqüências já
podem ser percebidas.
O Reino supõe um ato de liberdade e só será humanizador quando acolhido
livremente. O discipulado do reino não acontece por imposição, nem é fruto do
temor. É preciso decidir-se livremente por ele.

Graça da Semana: Deus de amor, Pai bom e santo, em Ti estão as minhas


fontes, a minha origem. Dai-me a graça de Te colocar e o teu Reino como
ponto de referência de minha vida, rejeitando tudo quanto me possa
afastar de Ti e de teu Reino, especialmente, as seduções mundanas e as
insídias dos falsos profetas.

A preparação e o início do meu tempo de oração são iguais todos os dias. Tomo
consciência de que agora é este meu tempo. Dirijo-me ao meu lugar “sagrado” e
tomo uma posição corporal confortável que me ajude a entrar em oração. Dou-me
conta do que acontece ao meu redor e inspiro e expiro várias vezes, sentindo o ar que
passa pelas narinas. Quando sentir paz, tranqüilidade e concentração, faço o sinal da
cruz ou uma reverência para meu Deus. Leio o texto bíblico indicado para cada dia e o
seu comentário. Peço a graça da semana.

1º dia
Mestre, qual é o maior mandamento da Lei? (Mt 22, 34-40)

À noite leio e releio o texto que vou meditar ou contemplar no dia seguinte,
procurando me fixar em dois ou três pontos que me chamaram mais a atenção. Ao
me deitar e ao acordar no dia seguinte, procuro recordar (trazer ao coração) estes
pontos.

Hoje vou fazer uma contemplação de Mt 22, 34-40, percorrendo os seguintes passos:

Preparando-me... Coloco-me aos pés de Jesus, meu Mestre e Senhor, como um


discípulo. Respiro profundamente algumas vezes, sinto meu corpo e acolho suas
sensações, entregando-me cada vez mais ao Deus da Vida.

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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
Recordo a história lendo e relendo devagar o texto... Vejo Jesus em Jerusalém, a
Cidade Santa, lugar central da vida em Israel, centro religioso, social e político, onde
Ele esteve tantas vezes... Transporto-me ao Templo e O vejo em debate com os
fariseus... Peço a graça de aprender de Jesus a lição mais importante de sua vida:
amar como Ele amou.

Procuro ver as pessoas... Os fariseus que se reúnem para entrar em debate com Jesus
depois de saber que Ele havia calado os saduceus... Jesus, que está sempre disposto a
debater questões e responder perguntas.

Tento ouvir as palavras que dizem... Um dos fariseus, doutor da Lei, perguntou—lhe
para experimentá-lo: “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” Ele respondeu:
“Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo
o teu entendimento!' Esse é o maior e o primeiro mandamento. Ora, o segundo lhe é
semelhante: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo'. Toda Lei e os Profetas
dependem desses dois mandamentos”.

Observo o que fazem as pessoas da cena, suas ações... Elas tem nome, história,
alegrias e sofrimentos, buscas. Como reagem? Percebo os gestos, os sentimentos e
atitudes, sobretudo, os de Jesus. Participo ativamente da cena, deixando-me
envolver por ele.

E, refletindo, tiro algum proveito de tudo o que ocorreu durante a oração...

À pergunta do doutor da Lei, Jesus responde que o mandamento do amor resume


toda a Lei e os Profetas, ou seja, toda a Bíblia. No entanto, em última análise, este
mandamento consiste na libertação do coração do discípulo para o amor aos mais
pequeninos (Mt 25, 40). Esta é a prova definitiva de adesão ao Reino, por meio do
qual a salvação acontece na vida do discípulo: “Venham, benditos de meu Pai, para o
Reino que lhes foi preparado desde antes da criação do mundo” (Mt 25, 34).

Finalizo... com uma despedida íntima de Jesus, como um discípulo fala com seu
mestre, agradecendo suas palavras e pedindo a graça de aprender sua lição de amar
as pessoas como Ele nos amou. Rezo um Pai Nosso. Saindo da oração, faço a minha
revisão.

Lembro-me que à noite farei a Oração de Atenção Amorosa ou o Exame Espiritual de


Consciência.

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2º dia
Não podeis servir a dois senhores (Mt 6, 24)

Vou para o meu lugar de oração, preparado como o meu pequeno santuário
doméstico. Orar é estar na presença do bom Deus. Imagino-o com os olhos da fé.
Dou-me conta de meu estado de ânimo, das sensações corporais. Entrego ao Senhor
minha mente, meus problemas e tudo o que está me agitando. Faço silêncio interior.
Tento ouvir meu coração pulsar. Respiro lentamente para ouvir até os batimentos
cardíacos. A fim de ouvi-lo, afasto toda a ansiedade em que vivo. Coloco a mão sobre
o meu coração e sinto bem nitidamente as batidas.

Agora rezo a mesma oração preparatória de todos os dias e peço a graça indicada
para esta primeira semana.

Hoje me proponho considerar a seguinte história de um autor desconhecido:

Um homem vivia sozinho nas montanhas e dedicava-se ao trabalho e à oração. Todos


falavam dele e o tinham por um grande sábio. Certo dia, quando estava rezando junto
ao rio, apareceu um jovem que andava em busca de riqueza e pediu ao sábio que lhe
desse algo de muito valor.

O sábio respondeu-lhe que só possuía uma velha cabana e a roupa que vestia.
Contou-lhe que, todos os dias, trabalhava na pequena horta para poder comer.
Ofereceu-se, porém, para partilhar tudo com o jovem. Como este se mostrava
desiludido, o sábio lembrou-se da pedra preciosa que tinha enterrado, na
perspectiva de dá-la a alguém que dela precisasse. Com um sorriso, disse ao jovem
onde estava a pedra. Se ele quisesse, poderia levá-la
O jovem, muito feliz, seguiu o caminho indicado.

No dia seguinte, quando o sábio acordou, encontrou o jovem à porta de sua cabana.

- Vim devolver-lhe a pedra preciosa - exclamou o jovem.


- Mas eu a dei de presente, respondeu o sábio. Se a vender poderá ficar muito
rico!
- Prefiro que me dês um pouco da riqueza que você tem dentro de você -
disse-lhe o jovem - essa que lhe permitiu dar-me o único objeto precioso que você
possuía e manter o seu sorriso, a sua alegria e a sua paz interior.

Agora reflito sobre esta história para tirar algum proveito:


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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
O jovem descobriu que a maior riqueza do sábio não era o tesouro guardado, mas um
coração não dividido, livre de qualquer apego que o possa escravizar. Assim, o
verdadeiro discípulo acolhe o Reino com um coração indiviso. Não se pode servir a
dois senhores, não se pode servir a Deus e ao dinheiro (Mt 6, 24). Não existe meio
termo, não se pode dar um jeitinho, não se pode por limites ou pré-condições. É tudo
ou nada! Até família, profissão, propriedades e a própria vida ficam relativizadas por
causa do Reino. Santo Agostinho nos mostra o segredo desta entrega total ao dizer:
quando o Amor nos toca, tudo se relativiza.

Vou acolher algumas frases de Mateus que me ajudarão a perceber a radicalidade do


Reino de Deus:

- O Reino dos Céus é como um homem que, ao encontrar uma pérola


preciosa, vai, vende todos os seus bens e a compra (Mt 13, 45).
- Quem quer salvar sua vida, vai perdê-la... (Mt 16, 25).
- O jovem se foi triste, porque tinha muitos bens (Mt 19, 22).
- E nós, que deixamos tudo e te seguimos, que recompensa teremos?
(Mt 19, 27)

Termino este meu tempo de oração pessoal, saboreando esta poesia de Santa Teresa
de Jesus: Não te perturbes, nada te espante, quem com Deus anda nada carece. Não
te perturbes, nada te espante: Basta Deus, só Deus. Rezo um Pai-Nosso.

Revejo e anoto o que foi significativo neste encontro com o Senhor.

3º dia
O discípulo discerne caminhos para não se desviar do Reino (Mt 13, 18-23)

Encontro-me, novamente, no meu lugar de oração. Renovo meu ato de fé no


absoluto do amor de Deus que saboreei ontem: “Eu creio que Deus me ama”. Apesar
das mil contradições, conflitos e injustiças que existem no mundo e na minha vida,
Deus me ama a mim e a todas as pessoas. Existimos porque Ele quis.

É preciso, porém, permitir-me tempo e espaço para, no silêncio profundo, deixar


envolver-me pelo mistério de Deus, pelo mistério de sua comunicação com a criatura
amada que sou. O retiro quaresmal dá a todos esta oportunidade de orar diferente.

Hoje vou considerar a necessidade de o discípulo viver em contínuo discernimento,


para que seu coração não se desvie do projeto do Reino proposto por Jesus. Há dois
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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
tipos de desvios dos quais é preciso se precaver:

1. Existem falsos profetas que me querem conduzir pela estrada ampla e fazer-me
entrar pela porta espaçosa, rejeitando a porta estreita que leva à vida: Mt 7, 13-16.
Onde localizo as vozes falsas, os cantos de sereia que são doces aos ouvidos e
amargos ao coração? O que me traz a paz e o que me perturba? O que me dá alegria
verdadeira e o que me dá tristeza?

Deus me fala consolando, aumentando a fé, a esperança e a caridade. O egoísmo me


envolve em desconfianças, desânimos e desamor. É pelos frutos que conhecemos se
os profetas são falsos ou verdadeiros (Gl 5, 19-26). Como estou frutificando para o
Reino de Deus?

2. O segundo motivo de desvio são as seduções do mundo, das quais nenhum


discípulo está isento. Na explicação da parábola do semeador (Mt 13, 22), a Palavra é
sufocada pelos espinhos dos múltiplos compromissos e das demasiadas
preocupações. O acumular-se de preocupações exteriores é o mais grave perigo em
que posso cair, porque pode realmente e em qualquer momento sufocar e bloquear a
ação do espírito. Preso pelas angústias do momento presente, absorvido por um
contínuo suceder-se de acontecimentos, sou incapaz de acolher a Palavra e chegar ao
coração da realidade. Por quem bate mais forte o meu coração? Pela glória de Deus e
de seu Reino ou pela minha própria glória?

Agora deixo ressoar em meu coração tudo que hoje me foi proposto. Simplesmente,
deixo que palavras, pensamentos, idéias que surgiram me ensinem, me mostrem,
quem sabe, outro caminho, outra compreensão de minha fé e do mistério de Deus.
Ficar em silêncio, ouvir, dispor-me à sua vontade, deixar-me amar é oração. Falo com
Deus sobre tudo aquilo que cheguei a compreender neste momento.

Aos poucos, vou finalizando minha oração. O que ficou marcado como lição de vida?
Anoto-o. Rezo o Pai-Nosso e a Ave Maria.

4º dia
O Reino de Deus desarticula nossos valores (Mt 11, 25-30)

Agora é o meu tempo de oração. Estou presente a mim mesmo com meus
pensamentos e sentimentos. Tento parar em cada parte do corpo por alguns
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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
segundos: sinto o couro cabeludo, a testa, as sobrancelhas, o nariz, os lábios, o
pescoço, ombros, peito, tronco, braços, mãos, pernas e pés. Tomo agora consciência
do corpo como um todo. Sou obra das mãos do Criador e ele me sustenta no seu ato
criador.

Rezo a oração preparatória e peço a graça da semana. Hoje quero contemplar Jesus
que louva ao Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelou aos pequeninos o mistério
do Reino e o escondeu aos sábios e entendidos deste mundo. “Sim, Pai, porque assim
foi do teu agrado”. O Reino desarticula nossos valores. Nele “os primeiros são os
últimos e os últimos, primeiros” (Mt, 19, 30); grande é quem se faz servo (Mt 20,
26b); o maior é o que se faz pequeno (Mt 18, 4); os pequeninos são sábios e “os sábios
e entendidos”, ignorantes (Mt 11, 25).
Rezo agora tranquilamente, saboreando o salmo 131(130) e pedindo a graça de ter
um coração de criança para compreender os caminhos do Senhor:

Senhor, meu coração não é orgulhoso,


nem se eleva arrogante o meu olhar;
não ando à procura de grandezas,
nem tenho pretensões ambiciosas.

Fiz calar e sossegar a minha alma;


ela está em grande paz dentro de mim,
como a criança bem tranqüila, amamentada
no regaço acolhedor de sua mãe.

Confia no Senhor, ó Israel,


desde agora e por toda a eternidade!

Finalizo, dando glórias à Trindade, porque me revelo também a mim os mistérios do


Reino de Deus.

Faço a revisão da oração e anoto o que mais me tocou.

5º dia
O Reino é do Pai (Mt 6, 5-15)
Hoje me disponho a estar como um discípulo ou uma discípula diante de Jesus, para
ouvir o Sermão da Montanha. Depois das Bem-aventuranças e outros textos, Jesus
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me fala da oração e de como me relacionar com o Pai. Procuro me acalmar,
colocando-me na presença de Deus em profunda adoração. Leio o texto que vou
rezar, Mt 6, 5-15, uma ou duas vezes. Peço a graça da semana e, neste dia, a de
acolher em meu ser e agir o reino do Pai.

Uso a imaginação para entrar na cena do Evangelho. Coloco um olhar demorado


sobre Jesus, prestando atenção às suas palavras, gestos, sentimentos, atitudes, ao
seu modo de viver em relação ao Pai e aos discípulos. Procuro estar em sua presença,
sem querer explicar ou entender. Apenas me deixo contagiar por ela. Vivo ao lado do
Senhor, deixando que Ele penetre as profundezas do meu ser.

Começo, então, a leitura orante do texto, tendo presente que o reino é do Pai e, daí, a
centralidade do Pai no Evangelho de Mateus:

- O que evitar e o que cultivar quando rezar ao Pai: não rezar para se mostrar
em público, mas orar no segredo do quarto que o Pai vê; não orar com muitas
palavras, mas com sobriedade, porque o Pai sabe de nossas necessidades; não
desanimar, mas orar com perseverança neste retiro quaresmal; orar com filial
confiança, porque o Pai nos atenderá.

- Vocês, portanto, rezem assim (meditar em cada frase do Pai-Nosso):


- Pai nosso...
- Pai, santificado seja vosso nome...
- Pai, venha a nós o vosso Reino...
- Pai, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu...
- Pai, o pão nosso de cada dia nos dai hoje...
- Pai, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como perdoamos aos que
nos ofenderam...
- Pai, não nos deixeis cair em tentação...
- Pai, mas livrai-nos do mal...

Em seguida, reflito sobre mim mesmo para tirar algum proveito. Tomo consciência do
que a meditação provocou em mim, do que o encontro com o Senhor imprimiu no
meu coração e o aplico à minha vida concreta, ao meu cotidiano, às minhas relações
com as pessoas e as coisas.

Pergunto-me: Percebi que o segredo de Jesus é estar junto do Pai, na intimidade do


Pai, na vontade do Pai? Que diante do absoluto deste Amor, tudo o mais se relativiza,
mesmo as pessoas mais sagradas e as coisas mais preciosas?

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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
Vou concluindo a oração com um colóquio amoroso com o Senhor, conversando com
Ele como um amigo fala com seu amigo, louvando, agradecendo, pedindo e
silenciando para ouvir a resposta do Senhor. Como de costume, posso terminar a
oração com um Pai-Nosso.

Revejo minha oração e registro a experiência no meu diário espiritual.

6º dia
Oração de Repetição

A oração de cada sábado consiste no exercício chamado de repetição. Trata-se de


aprofundar aquilo que rezei durante a semana. Santo Inácio diz: “Não é o muito saber
que satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente” [EE 2]. Por isso
não é apresentada uma nova matéria de oração para este dia. Faço, pois, a oração a
partir do texto ou moção que mais me consolou ou que mais me desolou na semana
que passou. Faço-o como nos outros dias, iniciando com a oração preparatória e
pedindo a graça da semana. Depois sirvo-me do texto mais significativo da semana e
termino como nos demais dias.

Faço também uma avaliação da minha primeira semana de retiro quaresmal, e me


preparo para o que poderia ser minha conversa no grupo de partilha e, se for o caso,
com meu acompanhante espiritual.

Podemos iniciar o grupo de partilha, rezando Salmo 121(120):

Canção para as subidas


Levanto meus olhos para os montes, de onde virá o meu socorro?
O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.
Não deixará teu pé vacilar, teu guardião jamais dormirá!
Sim, não dorme nem cochila o guarda de Israel.
O Senhor é teu guarda, uma sombra protetora à tua direita.
Não vai ferir-te o sol durante o dia, nem a lua de noite.
O Senhor te guardará de todo o mal, ele mesmo vai cuidar da tua vida.
Deus te guarda na partida e na chegada, desde agora e para sempre.

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SEGUNDA SEMANA

BEM-AVENTURADOS OS PUROS DE CORAÇÃO,


PORQUE VERÃO A DEUS.

Tema da semana
Vamos dedicar esta semana a meditar sobre os empecilhos para conhecer e entrar no
Reino de Deus, ou seja, os pecados que espreitam e tentam os discípulos: a hipocrisia,
a falta de fé, o espírito de poder, o medo da cruz, e o desprezo dos pequenos.

No evangelho de Mateus, encontramos Jesus alertando os seus discípulos sobre os


obstáculos que estão impedindo a acolhida do Reino. Mateus transmite essas
advertências à comunidade cristã de origem judaica. Como poderemos ver a Deus e
seu Reino no meio de nós, se nosso coração se desvia por enganos, por medos e
desejos mal orientados? Como poderemos conhecer a vontade de Deus e perceber
Sua presença entre nós, se nossa intenção não é reta e vive na duplicidade de um
coração dividido por muitos senhores sedutores ou atemorizantes. O evangelho nos
alerta diante de cinco armadilhas: 1) o apego à própria imagem, e as atitudes que nos
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fazem agir em função do exterior, enxergando somente as aparências; 2) quando
estamos fechados diante das dificuldades e sofrimentos da vida, e ficamos fracos
para acreditar no que não se vê; 3) quando estamos motivados pela busca de poder
pelo poder; 4) quando estamos presos à honra e resistentes ao dom da própria vida;
5) quando somos prepotentes e pouco sensíveis aos pequenos e às novas gerações.

Nesta semana, o nosso empenho para aprender de Jesus a vontade de Deus vai se
concentrar na meditação da realidade desses obstáculos na nossa vida de hoje, tanto
na sociedade onde estamos como na Igreja, e na nossa vida pessoal. Propomo-nos
meditar o que nos impede de acolher o Reino, e perceber como a sua manifestação é
obscurecida no meio de nós por essas atitudes equívocas.

Isto só nos será possível pela graça de Deus que, na sua compaixão, vem ao nosso
encontro e dá sua vida pela nossa conversão. É diante do Cristo que cuida da
humanidade que podemos tomar consciência dos descaminhos que nos espreitam, e
lembrar-nos como temos participado do Reino, e o que devemos fazer hoje para
colaborar com o Cristo Redentor.

Santo Inácio nos recomenda nessa semana ter diante do olhar de nossa imaginação
Jesus ressuscitado na cruz, como nos crucifixos medievais, com Ele de olhos abertos,
e com suas chagas visíveis. É o Redentor, que entrega sua vida para nos salvar da
escuridão de nossa vida: “morreu por nossos pecados”. A vontade de Deus se
expressa na entrega de sua vida que passa pela morte-ressurreição (vencendo a
morte e o pecado), purifica nossos corações para poder enxergá-Lo e segui-Lo aqui e
agora.

Graça a ser pedida: Vamos nessa semana pedir a graça do


conhecimento interno dos pecados denunciados por Jesus no
evangelho de Mateus, e a graça de detestá-los. Também vamos pedir
sabedoria para nos emendar e nos defender de suas armadilhas e
engodos.

Procuraremos querer e desejar uma intensa rejeição desses enganos na nossa vida e
na vida da sociedade, e ser atentos aos chamados para uma mudança de vida,
escutando o que diz Jesus e aprendendo com o seu modo de proceder.

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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
1º dia
A hipocrisia é o grande pecado do ser humano: Mt 23,23-36
“Os homens vêem aquilo que salta à vista, mas o Senhor vê o
1
coração” (1Sm 16,7).

Depois de acalmar-me e me colocar na presença de Deus, rezo a oração preparatória


e peço a graça desta semana (acima). Depois leio o texto indicado e faço a seguinte
reflexão orante:

Há um fermento que leveda a massa e que nos impede de conhecer e entrar na


dinâmica do Reino de Deus: é o fermento da hipocrisia, o fermento dos fariseus, que é
capaz de corromper todos os nossos atos, inclusive os bons.
O pensador Pascal escreveu: ‘‘O homem tem duas vidas: uma é a vida verdadeira, a
outra é a imaginária que vive na opinião, ou sua ou das pessoas. Trabalhamos sem
descanso em adornar e conservar nosso ser imaginário e descuidamos o verdadeiro.
Se possuirmos alguma virtude ou mérito, apressamo-nos em fazê-lo saber, de um
modo ou de outro, para enriquecer com tal virtude ou mérito nosso ser imaginário.
Estamos dispostos a diminuir-nos a nós mesmos, para acrescentar-lhe alguma coisa,
até a ser covardes e, não obstante, parecer valentes, e a dar também a vida, contanto
que as pessoas falem disso’’.

A hipocrisia é uma atitude que pauta a existência na aparência, na imagem de si, na


representação elogiada de si. Os fariseus que eram tão religiosos que davam na vista
corriam o risco da tentação de fingir possuir os valores do espírito, da piedade e da
virtude. São Paulo, falando de certos ritos e prescrições exteriores, avisa que ‘‘tais
regras de piedade, humildade e severidade com o corpo têm ares de sabedoria, mas
na verdade não tem nenhum valor, a não ser a satisfação da carne’’ (Col 2,23). Nesse
caso, as pessoas mantém “aparência de piedade, mas negam a sua força interior” (cf.
2Tm3,5).

À hipocrisia lhes acresce também a falta de caridade com o próximo, porque tendem
a reduzir as pessoas a admiradores, vendo-as apenas em função da própria imagem,
e olhando para elas a partir de sua aparência.

Não se trata de julgar os hipócritas, mas sim de estar atento à influência dessa
dinâmica na nossa vida. Tenhamos presente o que diz Jesus: 'Homem de juízo
pervertido, tira primeiro a trave de teu olho, e então enxergarás direito para tirar o
cisco do olho do teu irmão' (Mt 7,5).
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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
Diz São João da Cruz: ‘‘Agrada mais a Deus uma ação, ainda que pequenina feita às
escondidas e sem o desejo de que seja conhecida, que mil outras realizadas com o
desejo de que sejam vistas pelos homens’’; ‘‘Uma ação feita inteira e puramente por
Deus, com o coração puro, cria todo um reino para quem a pratica’’.

Agora repito alguma palavra ou frase que me tocou o coração e converso com Jesus,
como um amigo fala com seu amigo, pedindo perdão de minhas hipocrisias e
confessando como o publicano no templo: Meu Deus, tem compaixão de mim, que
sou pecador! (Lc 18,13). Rezo um Pai Nosso.
Faço a revisão de minha oração e anoto o mais importante.

2º dia
A fé pequena é o pecado das lideranças: Mt 8, 23-27
“Por que tendes medo, homens de pouca fé?” (Mt 8,26)

Jesus nos faz essa pergunta... Nem sempre percebemos a presença de Jesus em nossa
vida. Está no meio de nós, como que dormindo. Está no barco, mas dormindo, e a
tempestade, as dificuldades, o alvoroço em torno de nós, nos desestabiliza. Para
onde está indo essa nossa sociedade, com suas mudanças e tantos problemas que
afetam a juventude e as nossas famílias? Jovens de todas as condições sociais
entrando na droga, famílias instáveis, desentendimentos entre os esposos que levam
a separações, aumento dos divórcios, vida sexual desregrada, adolescentes grávidas
sem estrutura para um crescimento sadio do nascituro, abortos, violência na rua,
crime organizado, corrupção em algumas instituições, dependência e falta de
garantia do emprego... Pode ser que o medo e a angústia estejam dominando nossa
vida, e nossa fé esteja enfraquecida diante dos sofrimentos e dificuldades da vida. A
dura realidade nos assusta, e nos impede de enfrentar os desafios com a confiança na
força de Cristo.
No evangelho de Mateus, Jesus alerta os apóstolos diante do medo que inibe a fé:
‘‘por que tendes medo?’’ O que te dá medo e te impede de confiar em Jesus no meio
da tempestade? As dificuldades desse mundo te trancam num mundo fechado,
cercado de muros e arames farpados, e te faz descuidar da tempestade ‘‘lá fora?’’
Olha para Jesus que acalma a tempestade e que conta contigo para a construção do
Reino. Mesmo na dificuldade, ele não te abandonará.
São Paulo nos diz: Quem nos separará do amor de Deus? A angústia, a perseguição, a
fome, a nudez... A falta de fé pode vir de uma falta de confiança na presença de Jesus,
da falta de identificação com seu Reino, do medo de sofrer como muitos outros. Pode
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vir também de uma falta de clareza e de engajamento na barca de Jesus, e quando a
coisa aperta, vem a tentação do desespero já que não dá para pular fora do barco. Um
coração duplo, na hora do aperto se revela e percebe sua escuridão. O que significa
ser um só com Deus, inclusive nos momentos de tempestade? Homens de pouca fé:
Jesus está conosco, e a Igreja lhe pertence.

Quando os discípulos acordam Jesus, o que esperam dele? Vão descobrir que Jesus
acalma a tempestade. Quem é este que até o vento lhe obedece? Acreditamos que
Jesus pode trazer a paz no meio dessa tempestade, aos corações atribulados, aos
problemas que mais nos assustam, aos que sofrem e fazem sofrer?...

“Como podereis crer, vós que vos gloriais uns aos outros e não procurais a glória que
vem de Deus somente” (Jo 5,44).

Para suprir a carência de fé, urge aprofundar o conhecimento de Jesus e radicar a


adesão a Ele, através de uma vida sempre mais calcada no amor; reconhecer Jesus
como Emanuel (Deus conosco) e perceber a sua presença, de modo especial, nas
situações mais desafiadoras; assumir, com total confiança e disponibilidade, os
ensinamentos do Mestre Jesus, confirmados com o testemunho de sua vida
consumada com a morte de cruz.

3º dia
Purificar-se das ambições humanas: Mt 20, 20-28
“O Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir
e para dar a vida como resgate em favor de muitos” (Mt 20,28)

A autoridade que vem do serviço contrasta com o autoritarismo que vem da


apropriação do poder para si, ou da imposição de sua opinião sobre os outros. Será
que as coisas que você deseja e luta por elas, tem que ser só do seu jeito, e só se você
tirar proveito para si... ou elas se orientam para o maior serviço e louvor de Deus e o
bem do próximo?

Diante da ambição de estar perto dos grandes, à sua esquerda ou direita, Jesus
lembra do cálice que há de beber: é o cálice da salvação. Estar com Jesus, exige o
caminho do dom. Será que o fermento que nos move, nos leva para servir e dar a vida
pelo resgate de muitos?
A ambição, o querer mais precisa purificar-se, para enxergar a Deus no que
empreendemos, e deixar-nos guiar por Ele, e não pela nossa sede de poder, de honra,
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de apreço, de estar por cima.

Gastamos muito tempo e energia para as coisas que queremos para nós: um
equipamento, uma coisa melhor, um tratamento de saúde... Dispomo-nos a dedicar
tanto esforço para o benefício de outra pessoa?

4º dia
O medo da cruz bloqueia o caminho para Deus: Mt 16, 21-26.
“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz
e me siga” (Mt 16,24)

Como poderemos conhecer o caminho de Jesus, se a nossa referência é o que está na


moda, o que o mundo pensa? Jesus, o Filho do Pai, esteve entre nós, numa vida
simples, viveu e procurou viver entre os pobres, os necessitados, os sofredores,
sensível à realidade das pessoas, compadecido. Viveu humilde e livre da lógica do
mundo que encontra sentido na busca de riquezas, na complacência pelas honras do
mundo, no refúgio em suas seguranças e idealizando a auto-suficiência.

Pedro repreende Jesus diante da perspectiva da cruz, diante da perseguição pelas


autoridades do poder, diante da morte possível por causa do Reino, diante do
desprezo pelo qual há de passar aos olhos do mundo.
Que cruz é essa que nos assusta e nos impede de ver a obra de redenção acontecer? A
cruz é a participação na obra de redenção. Seguir o Cristo é ser misericordioso,
perdoar, apostar na possibilidade de conversão de quem nos ofende, responder ao
mal com o bem. Seguir o Cristo é renunciar a tantas coisas boas para si, para ter em
conta maior o bem de quem nos aproximamos, em especial dos sofredores. Temos
medo de renunciar a algo para que o outro tenha vida? Temos medo de perdoar ou de
permitir que outros possam retomar uma caminhada e ter esperança de uma vida
renovada?

Podemos lembrar as experiências de misericórdia que vivemos: cuidados ou perdões


recebidos que nos resgataram; ou cuidados e perdões que demos e que resgataram
pessoas. Essas são experiências de cruz que nos fazem participar da alegria da
redenção, e nos abrem caminhos de esperança.

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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
Há algum apelo a viver melhor esse caminho de Jesus? Você tem algo que precisa
renunciar para que outro seja resgatado? Veja seu orgulho... seu apego a algum
bem... ou a alguma pessoa...

5º dia
Ser um tropeço para o caminho dos pequenos: Mt 18, 1-10.
“O Filho do Homem veio para salvar o que estava perdido”
(Mt 18,11)

Converter-se e tornar-se como criança: é condição para entrar no Reino de Deus! O


que Jesus quer dizer com isso? É um aviso que ele dá diante da preocupação dos
discípulos em saber quem será o maior no Reino de Deus. É diante do faro pelo poder,
pelas honras, que Jesus responde colocando uma criança no centro das atenções.
Jesus não responde à pergunta, mas aponta um caminho de conversão para quem se
move pela lógica do poder ou das honras.

As crianças são dependentes e sem poder e, no entanto, são a esperança de um


mundo novo, renovado. Elas são o caminho da transformação e ai de nós se formos
uma pedra de tropeço para que encontrem esse caminho. Tornar-se criança é aceitar
que temos que aprender, re-aprender tudo a partir do evangelho, sem a prepotência
de nossas aquisições, nossos saberes, diplomas, ou nossos projetos pessoais.

O melhor modo de não ser uma pedra de tropeço para as novas gerações, é estar
sempre abertos para aprender de Deus os caminhos. Um coração aberto e humilde,
não tem como ser uma pedra de tropeço, mas junto com as crianças e os jovens vai
descobrindo o caminho, partilhando e não impondo a experiência de fé e de vida.

Quando é que nos tornamos um obstáculo para a fé das novas gerações? Sabemos
ouvir seus anseios e desafios nesse mundo que está mudando? Somos portadores de
esperança, diante das dificuldades que tem de enfrentar? E vivemos, no entanto,
essa difícil situação em que os jovens e as novas gerações parecem não se interessar
pelo caminho da Igreja...

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6º dia
Oração de repetição

Estivemos à escuta dos avisos do evangelho de Mateus às comunidades cristãs que


vem da tradição judaica, e que nos levaram essa semana a meditar os obstáculos da
hipocrisia, da falta de fé, da busca de poder pelo poder, do medo da cruz, e do
desprezo dos pequenos. Todos esses pecados são obstáculos para a realização do
Reino entre nós, são impedimentos para perceber esse Reino e viver da esperança
profunda que pode nos habitar.

Nesse sexto dia, retome o conjunto da semana para aprofundar quais desses
obstáculos têm lhe chamado mais a atenção no sentido de ter despertado em você
uma consciência maior do que precisa mudar na sua vida. Importa estar atento aos
apelos de conversão que nos abrem para o Reino, e não tanto ao desprezo de si
mesmo por atingir nosso orgulho ou imagem.

Tenhamos sempre diante de nós o Cristo Redentor que dá sua vida por nós, e quer vir
em nosso auxílio. Terminemos a oração perguntando-lhe: o que devo fazer por ti meu
Senhor? Estejamos atentos aos apelos, aos desejos de fazer parte desse Caminho.

Notas:
1 ‘
Deus não vê como o homem, porque o homem olha as aparências, e o Senhor olha
o coração' (1Sm 16,7).
2
PASCAL, Blaise Pensée n. 147 (citado por Cantalamessa, Raniero 'Contemplando a
Trindade', Ed. Loyola, São Paulo, 2004, p. 55).
3
Da Cruz, João Máximas, n. 20 e 21 (citado por Cantalamessa, Raniero
'Contemplando a Trindade', Ed. Loyola, São Paulo, 2004, p. 60)

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TERCEIRA SEMANA

CONVERTAM-SE, POIS ESTÁ PRÓXIMO O REINO DOS CÉUS

Tema da semana: Jesus será o revelador de uma “Boa Notícia” para toda a
humanidade e, de modo particular, para os pobres e para todos aqueles que sofrem.
O Reino de Deus, manifestado por Jesus (Mt 4,17), irrompe na história através da sua
pessoa e da sua ação. Para entrar no Reino, que está próximo de nós, é necessário
deixar Jesus entrar na nossa vida e na vida do mundo, reinando plenamente como
Senhor da história.

Nesta semana somos convidados a contemplar o Emanuel, Deus-conosco, Aquele


que vai salvar o seu povo dos seus pecados (Mt 1,21). O Reino de Deus já se faz
presente. Deus se manifesta em Jesus como Alguém próximo, que se deixa encontrar
também por aqueles que não partilhavam a expectativa de um Messias, que não
eram do povo de Deus, Israel. A salvação chegou para todos! Mateus insiste que o
Reino de Deus sofre ameaças na pessoa de Jesus. Nem todos O acolhem. Ele somente
é “presente” para aqueles que se abrem ao dom, como João Batista, que batizará o
“Filho amado” do Pai (Mt 3,17). De Nazaré o Reino irrompe com força às margens do
Rio Jordão. Jesus é conduzido pelo Espírito de Deus. O Reino de Deus acontecerá em
meio ao discernimento da vontade do Pai. Também nossa oração, conduzida pelo
Espírito, é um espaço de discernimento para que rejeitemos, em nossa vida, toda
proposta de um caminho diferente do que foi traçado pelo Pai e vivido por Jesus.

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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
Graça da semana: Pai, dai-me um coração pobre para acolher o Reino de
Deus presente na história, manifestado nas palavras e nas ações de
Jesus, e para tornar-me um autêntico discípulo do Senhor.

1º dia
O Emanuel, Deus conosco, é a irrupção do Reino na história
(Mt 1,1-25)

Mateus apresenta a origem de Jesus servindo-se de uma genealogia (Mt 1,1-17). Os


títulos que se dão a Jesus neste relato - Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão -,
resumem a genealogia do Senhor. Mostra-se assim que Jesus é o Salvador, para o qual
converge toda a história do Povo escolhido. A genealogia professa um dado de fé da
comunidade: a salvação verdadeira deve ser acolhida livremente como dom de Deus.
Ela não pode ser produzida pelo ser humano. Que Jesus não seja produto do esforço
humano fica claramente definido quando diz “da qual nasceu Jesus” (Mt 1,16). Ao
falar de Maria, da mãe, e não do pai, como acontece nos versículos anteriores,
assume-se como um dado de fé a concepção virginal de Jesus.

No início da sua oração de hoje, tome o texto da genealogia. Leia-o com reverência. O
Emanuel, Deus conosco, vai se encarnando na história humana, geração após
geração. O Reino irrompe na história humana com a colaboração humana. José e
Maria são escolhidos para serem colaboradores de Deus. Reflita sobre esse mistério
de um Deus presente na história, sendo servido por nossas histórias para ser
Emanuel. Relembre um pouco sua própria genealogia, seus ascendentes, seus
familiares... Sinta Deus presente nas várias histórias das famílias que rodeiam a sua
vida. Depois, repita muitas vezes, em paz e tranquilamente, como um mantra:
Emanuel, Deus conosco!

Depois de rezar a origem de Jesus pela genealogia, continue rezando a origem de


Jesus servindo-se do relato do seu nascimento (Mt 1,18-25). O nascimento de Jesus é
obra do Espírito Santo. O Reino corresponde à nova criação, saída das mãos de Deus –
é verdadeira criação. Assim como no livro do Gênesis o Espírito pairava sobre as
águas, o nascimento de Jesus é presidido pelo Espírito Santo. Maria e José são
apresentados como discípulos que primam pela obediência às ordens do Senhor, à
inspiração divina. Procure fazer uma contemplação em três momentos:

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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
1º) Um olhar para Maria, prometida em casamento a José. Ela encontra-se grávida
pela ação do Espírito Santo.

2º) Um olhar para José, o esposo de Maria, o homem justo. Entre no sonho de José,
como o anjo do Senhor. Escute o que o anjo diz a José: “Não tenhas receio de receber
Maria... Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus”. Você também pode
dirigir-se a José, convidando-o a acolher Maria, animando-o a ser um “pai” para o
Filho de Deus.

3º) Um olhar para Maria e José. Imagine José acolhendo Maria, contando-lhe o
sonho, esperando com ela a chegada do Emanuel. Veja o nascimento do menino.
Escute José pronunciando o nome dele: Jesus.
Concluo com um colóquio amoroso com a Sagrada Família ou com um dos três,
deixando brotar os sentimentos que me vierem ao coração. Rezo uma Ave Maria ou
uma invocação a São José.

Revejo a minha oração e tomo nota do que foi mais significativo.

2º dia
A nova história é um novo êxodo (Mt 2,1-23)

Com o nascimento de Jesus, Deus estabelece um novo começo para a humanidade.


Em Jesus, Deus mesmo está conosco, em nosso meio. Ele quer estar conosco sempre,
eternamente. Na pessoa de Jesus, o Reino pode ser acolhido ou rejeitado. Depois de
contar a origem de Jesus através da sua genealogia e das circunstâncias do seu
nascimento, Mateus conta três histórias ligadas ao destino que aguardava o recém-
nascido: os Magos que representam a humanidade que acolhe o Reino; Herodes e
“toda Jerusalém com ele” que representam a humanidade que rejeita o Reino; a fuga
para o Egito e a morte das crianças inocentes de Belém que alertam para a violência
que o Reino haveria de sofrer.

Os magos são estrangeiros que vêm prestar homenagem ao Menino Jesus. Eles viram
uma estrela. Chegando a Jerusalém, perguntam: “Onde está o rei dos judeus que
acaba de nascer?” (Mt 2,2). Ao encontrar Jesus caem de joelhos diante do mistério e
o adoram. Oferecem ao rei recém-nascido ouro, incenso e mirra. Na sua oração, faça
um colóquio, oferecendo a Jesus o seu amor, os seus sonhos, as suas dores. Estenda a
sua mão e toque o Menino, encontrando nele a cura de suas feridas.

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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
Olhe também para Herodes. Diferente dos magos, ele é do mesmo povo de Jesus. Ele
tem as informações dos profetas sobre o nascimento do Messias. Ele está tão
próximo, mas não se dispõe a ir em busca de Jesus. O poderoso rei Herodes está com
medo da criança. Está assustado. Herodes se apega ao seu poder e o surgimento de
um rei é uma ameaça para ele. Pense nas situações da sua vida que o podem estar
impedindo de ir à procura de Jesus. A que me apego?

A perseguição desencadeada contra a Sagrada Família e sua fuga apressada para o


Egito, revelam a fragilidade da vida de Jesus e o risco de ser eliminada. A explosão de
ódio de Herodes ao se sentir enganado e a ordem de matar as crianças de Belém
reforçam o clima de insegurança criado em torno do Reino. Mateus desenvolve um
paralelismo entre o nascimento de Jesus e o de Moisés. Como Moisés precisou fugir
do faraó, Jesus também precisou fugir de Herodes até que Deus o chamasse de volta.
Jesus é o novo Moisés. Contemple a cena da fuga para o Egito, lugar onde Jesus se
refugia da ameaça de Herodes. Reze sobre seus “refúgios” diante das ameaças da
vida. Jesus assumiu a existência humana em todos os seus altos e baixos. No
colóquio, agradeça a ele por assumir também os altos e baixos da sua vida. Reze um
Pai Nosso, renovando sua confiança na divina Providência. O Pai cuida de nós!

Faço a revisão da oração e anoto o mais importante.

3º dia
João Batista prepara a vinda de Jesus Messias em Israel (Mt 3,1-12)

Com Jesus há o começo de uma nova história de salvação. Para fazer parte desta
história Jesus convidará, especialmente, os pecadores. Lembremos das palavras do
anjo ditas à José: “tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus
pecados” (Mt 1,21). Faz parte desta nova história de salvação um homem de
linguagem rude, um profeta que causará grande impacto em todo o povo. Seu nome
é João, mas as pessoas o chamam de “Batista”, porque às margens do rio Jordão ele
pratica um rito inusitado e surpreendente, batizando todos aqueles que “saíam a sua
procura”. É dele que fala o profeta Isaías: “Voz que clama no deserto: Preparai o
caminho do Senhor; endireitai as veredas para Ele” (Mt 3,3).

Do mesmo modo como o Reino de Deus será anunciado por Jesus, também João
Batista o proclama: “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3,2). Seu
anúncio prepara a irrupção do Messias Jesus na história de Israel. No entanto, esta

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frase na boca de João Batista tem um sentido bem diferente: ele anuncia um Messias
que vem para por um ponto final na história e não para começar uma nova história de
salvação. O apelo de João Batista é para a conversão, pois “o machado já está posto à
raiz das árvores... Produzi fruto que mostre vossa conversão” (Mt 3,10.8). João
Batista prepara a vinda de Jesus Messias em Israel.

Você pode hoje contemplar a figura do Batista. Ver esse homem rude, vestido de
pêlos de camelo, às margens do rio Jordão. Ver a multidão que se aproxima dele.
Escute essa “voz de quem clama no deserto”. Ouça sua mensagem de conversão.
Pergunte-se: que frutos na minha vida mostram que estou no caminho do Senhor? O
que na minha vida pode estar desviado do caminho, necessitando voltar para o
Senhor? Aproveite a oportunidade da presença de João Batista para preparar seu
coração para o Messias que virá.

João Batista dirá ainda: “Eu vos batizo com água, para a conversão. Mas aquele que
vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu não sou digno nem de levar suas
sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3,11). Quem é digno
de levar as sandálias do Jesus Messias? Professe na sua oração essa “fortaleza” de
Jesus, aquele que é mais forte do que eu. Como você sente essa fortaleza da presença
de Jesus na sua vida? Quais são as minhas fraquezas vencidas pela força do Senhor,
que batiza com o Espírito Santo e com fogo?

Conclua sua oração com um colóquio. Agradeça ao Senhor por todas as suas
fraquezas ou momentos de fraqueza na sua vida, onde você pode sentir a força de
Deus. Hoje, não peça força ao Senhor, mas peça a fraqueza. Aquela fraqueza que faz
você se sentir forte quando é fraca (2Cor 12,10).

Não se esqueça de fazer a revisão da oração e anotar o que mais o tocou.

4º dia
O batismo de Jesus inicia a dinâmica do Reino na história(Mt
(Mt 3,13-17)

Na oração de hoje, Jesus virá procurar João Batista para ser batizado. Jesus se dirigiu
para o rio Jordão, se pôs na fila, como um entre tantos. Jesus não tinha necessidade
de ser batizado para o perdão dos pecados, como acontecia com os demais
penitentes (Mt 3,6). Porém, num gesto de solidariedade, ele se coloca com os que

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seriam os destinatários privilegiados do seu ministério: os pobres e os pecadores.
Jesus não vem impondo-se, mas identificando-se com todos os que sofrem. A partir
do batismo, Jesus deixou de ser um desconhecido carpinteiro de Nazaré, e começou a
ser o profeta que Deus enviou ao seu povo. A cena do batismo chama a atenção para a
dinâmica do Reino na história humana.

Comece sua contemplação com Jesus em Nazaré, como sugere Santo Inácio,
despedindo-se de sua bendita mãe (EE 273). Certamente Jesus não saiu de casa
repentinamente. Depois de haver amadurecido por um longo tempo a decisão de
partir, e de haver se preparado pouco a pouco para esse momento, terá
compartilhado com sua mãe sua missão. Como terá sido a cena na qual Jesus se
despede de sua mãe? Quais os sentimentos e as expressões de amor, de tristeza, de
sofrimento que agitam o coração de uma mãe quando o filho sai de casa sem saber se
ou quando vai voltar? Como terá sido a última conversa entre os dois? Quais os
sentimentos do coração de Maria? Contemplemos cada um dos gestos do abraço
final entre os dois. Um abraço ao mesmo tempo sofrido e cheio de paz.

João Batista e Jesus se encontram nas águas do rio Jordão. Contemple esta cena.
Ouça o diálogo entre eles. João está desconcertado com a presença de Jesus: “Eu é
que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?” (Mt 4,14). Mas, para Jesus é
necessário e justo que aquele que vai chamar os pecadores à conversão e manifestar
a misericórdia de Deus, seja batizado por João. Jesus é desconcertante! Então, o
extraordinário precursor, João, batiza aquele que é mais forte do que ele.

Entre na contemplação com o coração cheio de esperança. João Batista acolhe Jesus.
O Pai acolhe seu Filho amado, seu pleno agrado. Jesus acolhe os pobres e pecadores.
Sinta-se também acolhido no mistério da revelação de Deus. Contemple o céu
aberto, sinal de uma nova história de salvação. Veja o Espírito de Deus descendo
sobre Jesus, pairando sobre as águas, como no início da criação. Ouça a voz do Pai:
“Tu és o meu Filho amado”. Pergunte-se: o que pode começar, a partir deste
momento, a ser novo na minha vida?

Termine sua oração com um colóquio, manifestando os sentimentos do seu coração.


Permaneça com Jesus, como Jesus, “Filho amado”. Reze um Glória ao Pai em louvor
da Santíssima Trindade.

Não se esqueça de fazer a revisão de sua oração, anotando os pontos mais


confortantes e os mais desconcertantes, que serão matéria da oração de repetição
no sexto dia.

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5º dia
A tomada de posição de Jesus e dos discípulos nas tentações
(Mt(Mt 4,1-11)

Jesus é aquele que salvará o seu povo de seus pecados (Mt 1,21) e que, para cumprir
toda a justiça, isto é, a vontade do Pai (Mt 3,15), se apresentou entre os pecadores
para ser batizado por João. Agora, cheio do Espírito Santo, Ele inicia sua peregrinação
ao deserto, onde permanecerá por quarenta dias e quarenta noites e estará sujeito à
provação.

A cena das tentações aponta para os conflitos a serem enfrentados por Jesus ao longo
do seu ministério. Jesus vence as tentações porque se deixa guiar pela palavra de
Deus. Ele não se deixa seduzir pela tentação de abusar de sua condição de Filho de
Deus em benefício próprio. Obediente ao Pai, Jesus se revela verdadeiramente como
Filho de Deus.

Contemple a primeira tentação, a de “transformar pedras em pães”, para matar a


própria fome. É a tentação de usar tudo para o próprio proveito. O tentador quer que
Jesus abuse de sua condição de Filho de Deus, para satisfazer todas as suas carências.
Mas ser filho de Deus significa mais do que saciar seus gostos e interesses pessoais.
Jesus lembra que o discípulo vive de toda palavra “que sai da boca de Deus” (Mt 4,4).
Nos Exercícios Espirituais, Santo Inácio lembrará que “cada um pense que tanto
aproveitará em todas as coisas espirituais quanto sair do seu próprio amor, querer e
interesse” (EE 189).

Contemple a segunda tentação, a de “jogar-se do ponto mais alto do Templo para ser
carregado pelos anjos”. É a tentação de grandeza, sucesso, glória e reconhecimento.
A tentação de abusar de Deus para ganhar a estima dos outros, colocando o próprio
ego no lugar de Deus. Para impressionar as pessoas com as minhas habilidades, me
coloco acima delas. Para Jesus, seria um messianismo sem sofrimento, fracasso ou
humilhação. Jesus não sucumbe a esta tentação, mas responde-lhe à altura, evitando
por o Senhor Deus à prova.

Contemple a terceira tentação, a de “prostrar-se diante do diabo e adorá-lo para


obter todos os bens deste mundo”. É a tentação do poder. A tentação de realizar
qualquer objetivo por caminhos contrários a Deus, nos quais os fins justificam os
meios. É a tentação de maior risco, onde o discípulo, comprometido com o tentador,
perde a sua liberdade e o seu amor. Jesus renuncia a todo poder e toda força,
depositando em Deus toda a sua confiança.
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As tentações que Jesus teve de enfrentar no começo de sua atividade pública serão
uma constante na vida do Mestre. Jesus será sempre tentado a ser um Messias que
escolhe o caminho mais fácil e agradável, evitando a “porta estreita”. Vencendo as
tentações, Jesus é para o discípulo o modelo de firmeza frente ao tentador. Encontre
também um modelo para sua vida na pessoa de Jesus.

No colóquio, refletindo para tirar proveito, identifique suas tentações e inspire-se nas
atitudes de Jesus para também vencê-las com a força do seu Espírito. Termine,
rezando devagar o Pai Nosso.

Depois da revisão de sua oração, anote o mais importante em seu caderno espiritual.

6º dia
Oração de repetição

Na oração de hoje tenha presente o caminho percorrido durante esta semana, onde
você era convidado a abrir-se para acolher o Reino de Deus revelado na pessoa e na
vida de Jesus. O Reino de Deus pede uma conversão de coração, uma adesão a uma
proposta nova de vida, vencendo toda tentação de auto-centramento. O Reino é
abertura a Deus e aos outros, principalmente aos pobres e pecadores. O Reino é
convite a construir fraternidade.

Prepare sua oração de repetição relendo as anotações da semana. Que pontos você
deseja aprofundar? Repetir, principalmente, aqueles pontos onde sentiu mais forte
algum apelo do Senhor, animando-o ou provocando resistência. Se desejar, também
pode repetir aquele dia da semana onde se sentiu mais tocado pela força da Palavra
de Deus.

Faça um colóquio com o Senhor sobre tudo que viveu durante esta semana. Converse
sobre seu coração, se ele está se fazendo pobre e acolhendo o Reino de Deus.
Converse sobre a presença de Jesus, o Emanuel, na sua vida e na sua história.
Converse sobre seu desejo de ser discípulo, um autêntico e coerente discípulo do
Senhor.

Termine agradecendo, com muito afeto, todo o caminho percorrido.

Participe da próxima reunião de seu grupo de Retiro Quaresmal, para partilhar as


orações da semana que passou e preparar-se para orar na próxima semana.
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QUARTA SEMANA

ELE PERCORRIA A GALILÉIA, ENSINANDO... PREGANDO...

Tema: Os discípulos de Jesus foram conhecendo o seu Mestre na convivência de três


anos juntos. Quantas experiências acumuladas! Jesus era imprevisível. Na realidade,
eles só “conheceram” Jesus em profundidade após a sua morte e ressurreição. O
último capítulo do evangelho de Mateus recolhe o pedido de Jesus às mulheres: Ide
anunciar a meus irmãos que vão para a Galiléia. Lá me verão (28,10). E os onze
discípulos voltaram à Galiléia, à montanha que Jesus lhes tinha indicado (28,16).

“Voltar” é mais significativo que apenas “ir”! Lá me verão! Ao voltar à Galiléia os


discípulos tem agora “olhos novos”, iluminados pelo mistério pascal. A paixão e
ressurreição de Jesus lhes fez experimentar até que extremo chegou o amor de Jesus.
A ressurreição lhes mostrou que o Pai confirmava a vida toda de Jesus como caminho
da verdadeira vida, para todos os que nele acreditarem. Voltar à Galiléia significa
fazer uma releitura da vida do Mestre à luz da ressurreição. Nós também estamos
convidados a “ver Jesus” na nossa “Galiléia dos pagãos”, termo depreciativo usado
pelos judeus para os galileus, considerado por eles israelitas de segunda classe, pelo
seu sincretismo e mistura com outros povos vizinhos.
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Os textos de Mt 4,23-25 e 9,35-38 apresentam, de forma resumida, o ministério de
Jesus:
• Jesus era um missionário ambulante, que instruía os discípulos nas suas
andanças.
• A sinagoga dos judeus era um lugar privilegiado da sua pregação.
• O conteúdo de sua pregação era a Boa-Nova do Reino.
• Ele atraia para si os oprimidos e carentes de libertação.
• Era seguido por multidões que vinham de todas as partes.
• A falta de liderança do povo causava-lhe profunda compaixão.

O messianismo de Jesus tem duas vertentes: ele é o Messias por palavras (5,7) e o
Messias por obras (8,9). Façamos uma leitura pausada de Mt 5-7, colocando-nos
diante de Jesus como discípulos que querem ser instruídos por Ele sobre o Reino.
Durante esta semana vamos acolher as palavras e ensinamentos de Jesus.

Graça da semana:
Que sejamos discípulos atentos aos ensinamentos de Jesus e
que vivamos o que dele aprendemos: o Reino de Deus!

1º dia
As bem-aventuranças, o projeto de vida do discípulo (Mt 5,1-12)

Vendo as multidões, Jesus subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos aproximaram-


se, e ele começou a ensinar: Felizes...(5,1-2). Podemos também, entrar no meio da
multidão, imaginar o lugar e contemplar as pessoas, especialmente a Jesus sentado e
ensinando na montanha. Ler e meditar com calma Mt 5,1-16.

O chamado sermão da montanha está iniciando e é considerado como o cerne do


evangelho, onde o evangelista concentra o essencial do projeto do Reino: o que o
discípulo deve fazer para que o senhorio de Deus aconteça na sua vida. Trata-se de
um ideal para o qual tenderá a ação do discípulo.

As bem-aventuranças (5,1-12) são a mensagem mais positiva que poderíamos


imaginar. Elas falam de felicidade e alegria: quem centra a sua vida no Pai, torna-se
bem-aventurado. Aos ouvidos do mundo voltado para si mesmo, esta mensagem
parece contraditória. Na realidade, a felicidade das bem-aventuranças só é
entendida na medida em que são experimentadas no concreto da vida. O pobre em

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espírito, que está vazio de si e confia no Pai, não só será feliz, mas transbordará a vida
que o Pai lhe dá com generosidade. O mundo precisa de discípulos que sejam sal e luz
em meio a tantas sombras e sensabores.

Agora, fecho o evangelho e os olhos levemente e contemplo Jesus, o bem-


aventurado em pessoa, o realmente feliz e vou repetindo em espírito: Jesus pobre e
humilde... Jesus compassivo... Jesus manso... Jesus justo... Jesus misericordioso...
Jesus puro de coração... Jesus promotor da paz... Jesus perseguido por causa da
justiça... fazei o meu coração semelhante ao vosso e tende piedade de nós!

Faço um colóquio com Maria, pedindo-lhe que me coloque com seu Filho e me ajude
a ser bem-aventurado e feliz como Ele. Rezo um Pai Nosso. Faço a revisão da oração.

2º dia
Jesus reinterpreta o Decálogo, como caminho de amor (Mt 5,17-48)

Vocês ouviram o que foi dito aos antigos. Eu, porém digo a vocês... Encontramos neste
texto nada menos que seis contrastes que mostram como Jesus encara a Lei e
reinterpreta o Decálogo. Ele se preocupa pelo “espírito da lei” que está escondido nas
entrelinhas da “letra da lei”. Jesus é mais radical na interpretação da lei de Moisés,
mesmo sem criar novas exigências, e sim relançando seu “espírito”. Este corresponde
ao caminho indicado pelo Pai para que a vida do discípulo se enraíze, cada vez mais
profundamente nele. É assim que o novo povo de Deus vive a sua fidelidade ao Pai.

Jesus não tira a Lei, mas a conduz a uma compreensão plena. Sua prática, que supera
a justiça dos escribas e fariseus, é condição para entrar no Reino dos céus. A partir das
palavras de Jesus, examino-me como vivo a nova lei do amor:

- Ouvistes o que foi dito aos antigos: não matarás!... Eu, porém, vos digo: não
ofenderás teu irmão com palavras e atos agressivos... vai reconciliar-te com ele, antes
de apresentar a tua oferenda!

- Ouvistes... : Não cometerás adultério!... Eu, porém, vos digo: quem olhar
uma mulher com más intenções, já cometeu adultério em seu coração!

- Ouvistes... : Quem despedir sua mulher, dê-lhe um atestado de divórcio!...


Eu, porém vos digo: quem se casar com mulher divorciada, cometerá adultério!

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- Ouvistes... : Não jurarás falso!... Eu, porém, vos digo: não jureis de modo
algum... Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não. O que passar disso vem do Maligno.

- Ouvistes... : Olho por olho e dente por dente!... Eu, porém, vos digo: não
ofereçais resistência ao malvado...

- Ouvistes... : Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!... Eu, porem vos
digo: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem...

No colóquio falo com Jesus como um amigo conversa com seu amigo e lhe peço
perdão por não viver a nova lei do amor como desejaria e a graça de ser mais coerente
com o evangelho.

Termino com um Pai Nosso.

Faço a revisão da oração e anoto os pontos mais consoladores e os mais difíceis.

3º dia
O discípulo evita o exibicionismo nas práticas de piedade
(Mt 6,1-24)

As práticas de piedade mais significativas para os judeus eram: a esmola, a oração e o


jejum. De fato, nelas se resume a relação do ser humano com Deus, com o próximo e
com as coisas. Jesus alerta seus discípulos que até nas coisas mais santas pode entrar
o espírito do mal e nos desviar de uma reta intenção. Lembramos que Jesus nos
impulsiona a sermos sal e luz do mundo e a que pelas boas obras todos vejam e
glorifiquem o Pai celeste (5,13-16).

O discípulo deve, porém, precaver-se de toda vanglória, evitando o exibicionismo.


Existe em nós a inclinação mais ou menos consciente a sermos estimados e
admirados, sendo que a vaidade espiritual é a mais sutil de todas. Normalmente não
praticamos obras piedosas para sermos visto e louvados. Pode, porém, germinar em
nós certa satisfação de sermos considerados “bons” passando a influenciar as nossas
motivações. Diante desta realidade não é raro sentir a tentação de deixar de praticar
tais atos de piedade, a fim de não sentirmos mais remorsos. Convém então discernir
se deixar de praticar o bem vai ajudar ou prejudicar o próximo. Eis uma oportunidade
para crescer em humildade e atribuir a Deus o que de bom podemos fazer.
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Agora, reflito para tirar proveito, em relação às práticas de piedade quaresmais. A
Campanha da Fraternidade é uma das expressões da esmola quaresmal, ou seja, da
caridade e solidariedade humanas. A Campanha da Fraternidade deste ano tem com
tema: Fraternidade e Vida no Planeta e, como lema: A criação geme em dores de
parto. Como estou participando dela em minha família e comunidade eclesial? Estou
orientando o meu jejum para ter um estilo de vida mais frugal e menos consumista?
Estou sendo fiel no meu relacionamento com Deus, através da oração diária do Retiro
Quaresmal?

Termino com um colóquio amoroso à Trindade, pedindo ao Pai que me dê seu


Espírito, para que possa conhecer profundamente, amar ardentemente e seguir
inteiramente a seu Filho Jesus. Rezo um Glória ao Pai.

Faço a revisão da oração e anoto o mais importante.

4º dia
Buscar o Reino de Deus, a escolha fundamental do discípulo
(Mt 6,25; 7,12)

Podemos ler Mt 6,25 a 7,12. Continuamos prestando atenção às “palavras” de Jesus


que são alimento para a vida do discípulo. Após a leitura do trecho para a oração de
hoje, vamos parar e meditar as palavras que nos falaram mais alto. Na relação com as
coisas deste mundo, o discípulo evita toda forma de apego e dependência,
conservando a sua liberdade para o serviço do Reino. O coração está centrado em
Deus, a quem serve com exclusividade, e sua preocupação fundamental é a mesma
de Jesus: buscar, em primeiro lugar, o Reino dos céus e a sua justiça (6,33). Tudo mais
é relativo e secundário.

Jesus confia nos cuidados do Pai que cuida dos pássaros do céu e dos lírios do campo,
tanto nos momentos de alegria como nas provações e tristezas.

Não julgueis e não sereis julgados. É freqüente o ser humano observar o “cisco” no
olho de outras pessoas e não reparar na “trave” no próprio olho.

Jesus nos incentiva a “pedir”, “procurar” e “bater na porta”, certos que o Pai nos dará
as coisas boas que estamos precisando.

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A regra de ouro da conduta do discípulo, no trato com o próximo, é formulada por
Jesus de um modo “positivo”: Tudo o que vocês querem que os outros lhes façam,
façam-no também a eles (7,12).

Como conclusão, rezo pausadamente a oração de entrega confiante de d. Luciano


Mendes de Almeida, SJ, em meio a tantas tribulações pelas quais passou:

Senhor Jesus,
não vos pedimos que nos livreis das provações,
mas que nos concedais a força do vosso Espírito
para superá-las em bem da Igreja.
A certeza do vosso amor nos renova cada dia.
A alegria de servir aos irmãos é nossa melhor recompensa.
Ensinai-nos, a exemplo de nossa Mãe,
a repetir sempre Sim no cumprimento da vontade do Pai.
Amém!

Faço a revisão da oração e anoto os sentimentos mais fortes e os apelos insistentes.

5º dia
Três opções pelas quais o discípulo do Reino é confrontado
(Mt 7,13-27)

O discípulo do Reino é confrontado com estas três opções:

1ª) Escolher entrar pela “porta estreita” do acolhimento e da fidelidade aos


ensinamentos de Jesus, ou pela “porta larga” do próprio comodismo, que o afastará
do Mestre.
2ª) Dar ouvidos aos “verdadeiros profetas”, que ajudam o discípulo a encontrar o
verdadeiro caminho do reino e a produzir os frutos queridos por Deus ou, pelo
contrário, deixar-se guiar pelos “falsos profetas” que, interpretando as palavras do
mestre segundo as conveniências dos ouvintes, levam-no à esterilidade e o
incapacitam para produzir gestos concretos de fidelidade ao Reino.
3ª) Colocar a palavra de Jesus em prática, pautando por ele a sua vida, -edificar a
casa sobre a rocha- ou não passar da audição à prática, limitando-se a ser meio
ouvinte da palavra -edificar a casa sobre areia- .

Deixemos ressoar estas palavras de Jesus na experiência da nossa própria vida.


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6º dia
Oração de repetição

Quando ele terminou essas palavras, as multidões ficaram admiradas com seu
ensinamento. De fato, ele as ensinava como quem tem autoridade, não como os
escribas (Mt 7,28-29).

Durante esta semana tivemos oportunidade de subir à montanha e escutar, no meio


da multidão, as palavras do sermão da montanha (Mt 5,1-2). Terminado o sermão de
Jesus, nos sentimos “admirados” do seu ensinamento sempre novo e atual. O povo
percebia uma grande diferença entre o modo dos escribas falarem e o modo de Jesus
falar. Ele tinha “autoridade”! Autoridade aqui não está ligada ao poder-dominação,
mas ao poder-serviço que dá espaço à liberdade do outro que passa a se tornar
“autor” responsável da sua própria vida.

O confronto com o sermão da montanha exige do discípulo um grande


despojamento para acolher, com generosidade, o projeto de vida apresentado pelo
mestre Jesus e para dispor-se realmente a pautar por ele todo o seu agir, mesmo as
ações mais simples. É na ação que o Reino perpassa toda a existência do discípulo e o
senhorio de Deus acontece na sua vida.

Procuremos “saborear” aquelas palavras de Jesus que mais tocaram o nosso coração
durante esta semana e procuremos “tirar algum proveito” para o nosso dia-a-dia.

Não me esquecerei de me preparar para a reunião do meu grupo de Retiro


Quaresmal, para a partilha da oração da semana que passou e para receber as
orientações da próxima semana.

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QUINTA SEMANA

JESUS PERCORRIA A GALILÉIA, CURANDO...


PERDOANDO... SALVANDO

Tema:
Voltando para a “Galiléia dos pagãos”, tão cheia de experiências vividas ao lado de
Jesus, os discípulos, após a ressurreição, puderam fazer uma “releitura” das palavras
e das obras do Mestre. Vamos nos deter neste capítulo nas obras do Messias. Ele
passava da palavra à ação, de forma a respaldar os seus ensinamentos. Façamos uma
leitura pausada de Mt 8-9, seguindo Jesus na sua peregrinação e contemplando cada
um dos seus gestos. Nossa leitura deverá ser afetiva, procurando recriar os
sentimentos de Jesus, em cada cena ou circunstância. Fazer-me discípulo que
aprende com o testemunho do Mestre. Muito ajuda entrar dentro da cena
contemplada e, com os sentidos da alma, observar os lugares, as pessoas e o
comportamento de Jesus que nos conduz ao seu interior. A humanidade de Jesus é o
caminho luminoso para conhecer e admirar o coração de Deus. O discípulo segue o
Senhor através dos espaços geográficos e o desenrolar dos séculos.

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Orar sem preocupação de esgotar os textos e parar onde nos sentirmos tocados.
Conversar com Jesus e pedir ao Espírito Santo para tirar algum proveito do que
contemplamos, a fim de mudar nossos gestos e comportamento concreto. A vontade
do Pai é que nos deixemos mover cada vez mais pelo Espírito do seu Filho.

Graça da semana:
Pedir a graça de reconhecer, na ação de Jesus, a presença do amor
misericordioso de Deus na história humana, e a graça de segui-lo na
prática da misericórdia para com todos, sem distinção.

1º dia
Jesus teve compaixão das multidões, ovelhas sem pastor
(Mt 9,35-38)

Caminhando com Jesus e percorrendo com Ele cidades e povoados, logo podemos
perceber como o rosto de Jesus se entristece diante de tantos doentes e sofredores.
Observamos como Ele acolhe e cura as pessoas com todo respeito e carinho. Ficamos
admirados ao vê-lo cheio de compaixão ao ver tantas pessoas cansadas e abatidas
como ovelhas que não tem pastor. Seguem alguns pontos para os quais devemos
estar atentos:

1º) Jesus se aproximava de todos sem discriminação: leprosos, pagãos, mulheres,


endemoninhados, pecadores, cegos, etc. Trata-se de pessoas marginalizadas,
oprimidas e vítimas de preconceito. Ele não se deixa contaminar pela mentalidade
segregacionista dos fariseus.

2º) Jesus sensibiliza-se com o sofrimento de cada pessoa. Sua presença solidária
manifesta-se em forma de libertação e recuperação da vida e da esperança. Este é o
sentido da cura dos doentes, do perdão dos pecadores e da acolhida dos
marginalizados.

3º) A ação de Jesus revela uma força poderosa, de origem divina, colocada a serviço
da humanidade sofredora. Ele não age como um milagreiro ambulante, fazendo
exibição de poder. Sua ação prima pela humildade e simplicidade. Tudo quanto faz
reporta-se, em última análise, ao Pai.

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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
A primeira lição que podemos aprender do Mestre, válida para os evangelizadores do
nosso tempo, é aproximar-se das pessoas! Jesus é a Palavra que se fez carne e veio
morar entre nós (Jo 1,14). Os discípulos podem dizer: Vimos a sua glória! Jesus nos
ensina a acolher, respeitar a dignidade dos excluídos e fazer com que estes se sintam
valorizados e amados. A Igreja precisa refletir o rosto misericordioso do seu Senhor.

No momento de conversa pessoal com o Senhor, pergunto-lhe: Por que aproximo


(me torno próximo) de algumas pessoas e por que me afasto de outras? Acredito no
poder de Deus que me dará força para superar simpatias e antipatias e me relacionar
por amor?
No colóquio, peço ao Senhor a graça de, como o Pai, amar primeiro meus irmãos e de
amá-los na gratuidade, sem esperar retribuição. Termino com um Pai Nosso.

2º dia
Vá para casa e seja feito como você acreditou (MT 8,5-13)

Quando Jesus entrou em Cafarnaum, um centurião aproximou-se dele. Hoje é um


militar romano quem se aproxima de Jesus. Pelo que o texto nos diz, ele era um
homem compassivo e preocupado pelo seu criado paralisado. Isso já nos mostra que
ele tinha algo em sintonia com Jesus.

Jesus era uma pessoa-sinal, isto é, alguém que aponta para “algo a mais” ou para
“Alguém maior”. Há pessoas que despertam a fé na vida e no próprio valor das
pessoas. Isto pode acontecer em um encontro ocasional como foi o caso da parábola
do bom samaritano, ou durante o relacionamento de meses ou anos. Quantas
pessoas encontraram Jesus e acharam o sentido para suas vidas!

A ação milagrosa de Jesus depende da fé de quem se beneficiava dele. Seus milagres


não eram ritos mágicos. O centurião provocou a admiração de Jesus pela sua fé,
mesmo antes do seu servo ser curado. Como seria bom se os cristãos fossem esses
sinais de luz que despertam, pela sua maneira de ser, a fé das pessoas na vida e na
sua própria vida, às vezes tão menosprezada.

Em conversa com Jesus, vou repetir a prece humilde e confiante do centurião:


Senhor, eu não sou digno que entreis em minha casa, mas dizei uma só palavra e meu
servo será salvo. No momento da comunhão eucarística posso rezar com a mesma fé
esta oração de um pagão.

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3º dia
Mateus venha comigo! (Mt 9,9-13)

Ao passar, Jesus viu um homem chamado Mateus. Estamos tão acostumados a ler o
evangelho que às vezes perdemos a capacidade de nos admirar com o modo de Jesus
se relacionar com as pessoas. Ele pautava-se pela misericórdia no cumprimento da
sua missão. Seu coração misericordioso levava-o a privar da convivência com os
pecadores e pessoas de má-vida, pois se sabia enviado não para chamar os justos,
mas os pecadores (9,13).

Jesus é aquela pessoa-sinal que despertava talentos ocultos nas pessoas e iluminava
novos horizontes. O “encontro” entre as pessoas proclama o milagre da amizade que
é um dom gratuito que traz felicidade. Mateus, pecador, se sentiu amado por Jesus e
o seguiu com uma alegria que quis compartilhar com seus amigos. Jesus lhes oferece
sua confiança e amizade, liberta-os da vergonha e da humilhação e acolhe-os como
amigos. Pouco a pouco desponta neles o sentido da própria dignidade: não merecem
nenhuma rejeição. Pela primeira vez sentem-se acolhidos por um homem de Deus e
doravante a suas vidas podem ser diferentes.

Por isso as refeições de Jesus são alegres e festivas. No íntimo do seu coração, Jesus
celebra com alegria o retorno dos “perdidos” à comunhão com o Pai. A alegria de
Jesus contagia a todos, menos aos fariseus presos a uma lei fria e rígida, muito
distante da compaixão.

Como reajo quando um irmão afastado tenta se aproximar novamente da família ou


da comunidade? Peço ao Pai um coração misericordioso como o do Bom Pastor e a
graça da iniciativa de procurar alguém que esteja perdido. Rezo um Pai Nosso.

Revejo a minha oração e tomo nota dos pontos que despertaram maior esperança ou
resistência.

4º dia
Reações desencontradas diante de Jesus (Mt 9,27-34)

Os milagres de Jesus provocaram reações desencontradas. Enquanto o povo ficava


maravilhado e reconhecia jamais ter visto nada igual, os fariseus atribuíam os
milagres a um conluio de Jesus com os príncipes dos demônios. Quem não aderia a
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Jesus de coração, buscando sintonizar-se com Ele e acolhê-lo como modelo de vida,
jamais conseguiria reconhecê-lo como messias.

Ninguém podia ficar indiferente diante de Jesus. Quem é este homem? Jesus era uma
pessoa-luz. Os filhos da luz, mesmo cegos, sintonizaram com ele. Já os filhos das
trevas, mesmo se achando os donos da verdade, fechavam-se para a luz do mundo. É
um paradoxo sempre atual!

Jesus nos ensinou a evangelizar. Ele se fez próximo das pessoas, especialmente os
pequenos, pobres e sofredores. Tocava e se deixava tocar por elas. As pessoas se
sentem amadas por Ele e descobrem que tem valor aos olhos do Senhor. O encontro
com Jesus abre os corações para os que livremente o acolhem: Faça-se conforme a
vossa fé (9,29). E os “cegos” saíram e espalharam sua fama por toda aquela região. A
fé em Jesus Cristo é uma alegria que precisa ser compartilhada. Ser cristão é ser
missionário!
No colóquio final da oração, renovo minha entrega ao Senhor, com a confissão de
fé,‘‘Creio, Senhor, mas aumentai a minha fé’’. (Mc 9,24).

5º dia
A vocês foi dado conhecer os mistérios do Reino (Mt 13)

As ações milagrosas de Jesus despertavam, no coração de muitas pessoas, o desejo


de segui-lo. Ele, porém, cuidou para que não acontecesse uma opção impensada, Daí
seu alerta para a pobreza e o despojamento que caracterizariam a vida dos discípulos
(8,20) e a exigência de ruptura com os laços familiares (8,22).

Durante estas duas semanas contemplamos Jesus, Mestre por palavras e também
por obras. Hoje podemos fazer uma leitura pausada do capítulo 13 de Mateus, que
reúne sete parábolas sobre o Reino de Deus. O Reino era tudo para Jesus! O sonho da
sua vida e a realização do sonho do seu Abba Pai para a humanidade. Não havia
palavras para explicar o Reino e como ele cresce no meio de nós. Talvez as parábolas
sejam o melhor meio para desvendar os mistérios do Reino.

Jesus falando em parábolas pretende pôr as pessoas em sintonia com a experiência


que os camponeses e pescadores que o escutam conhecem em sua própria vida e
que podem ajudá-los a abrir-se ao Reino de Deus. As parábolas comovem e fazem
pensar; tocam o coração e convidam a abrir-se para Deus; sacodem uma vida
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convencional e criam um novo horizonte. As pessoas as ouvem como uma “boa
notícia”, a melhor que podem ouvir da boca de um profeta. Quem a ouve como
espectador não capta nada; quem resiste fica fora. Pelo contrário, aquele que entra
na parábola e se deixa transformar pela sua força já está “entrando” no Reino de
Deus.

No momento conclusivo da oração, agradeço ao Senhor por me revelar os mistérios


do Reino e lhe peço a graça de esta sempre com Ele e de saber testemunhá-lo diante
das pessoas mais por obras que por palavras.
Pai-Nosso.

Em outra posição corporal, revejo a oração e tomo nota do mais importante.

6º dia
Oração de repetição

Os discípulos viveram uma experiência única ouvindo Jesus e contemplando seu


modo de viver. Voltando à Galiléia após a ressurreição de Jesus, as experiências
vividas antes adquiriram uma nova perspectiva, pois seus olhos estavam agora
iluminados pela experiência inigualável do mistério pascal.

À luz da ressurreição de Jesus estamos tendo a oportunidade de nos voltarmos com


olhos novos para a Galiléia das nossas vidas e nelas descobrir a presença e a ação de
Deus.
Você pode escolher o que mais lhe tocou nesta semana e saborear a Palavra viva que
é Jesus lhe falando do Reino e da sua vocação de discípulo.

Peça a Maria que você guarde no coração o amor de Deus revelado em Jesus Cristo
que o acompanha e convida a ser parte ativa no seu Povo e ser no mundo um
pequeno sinal e fermento do Reino.

Faça uma síntese do que rezou nesta semana, para partilhá-la na reunião de seu
grupo de Retiro Quaresmal.

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SEXTA SEMANA

“O FILHO DO HOMEM VAI SER ENTREGUE PARA SER


CRUCIFICADO”

Tema da semana: O tema da oração para a sexta semana do Retiro da Quaresma é a


Paixão e Ressurreição de Jesus Cristo. A Paixão nos revela que o amor com que Deus
nos amou foi “até o fim” (Jo 13,1), até “dar a vida por seus amigos” (Jo 15,13); a
Ressurreição nos revela que o amor com que Deus nos ama venceu o pecado e a
morte para sempre.

A contemplação da Paixão segundo Mateus, que agora consideramos, pode ser


proposta em duas perspectivas: a do Mestre e a dos discípulos. A dinâmica do Reino,
revelada nas parábolas, serve de chave de interpretação da Paixão, já que a morte de
Jesus já fora decidida em Mt 12, 14: ‘‘Os fariseus saíram dali e deliberaram sobre os
meios de matar Jesus’’.

Para que os textos sobre os quais vamos orar produzam frutos mais abundantes e
mais fecundos, devemos fazer no início do tempo reservado para a oração, como
recomenda Santo Inácio de Loyola, os rituais da entrada na oração, a oração
preparatória e os três preâmbulos.

O primeiro preâmbulo é a história a ser contemplada na oração, história que é


resumida no título de cada dia. O segundo preâmbulo é o cenário dessa história,
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história que é contada nos textos evangélicos indicados. O terceiro preâmbulo é a
petição, a graça a ser pedida.

Graça da semana: Pai bom, peço-lhe a graça de aprender do


testemunho de fidelidade ao Reino, da parte do Mestre Jesus, que
morre na cruz por insistir em ser Filho obediente ao Seu querer paterno.
E que também eu possa ser discípulo fiel, sejam quais forem as
circunstâncias, mesmo nos momentos de cruz e morte.

1º dia
A Paixão não é uma fatalidade na vida do Mestre Jesus
(Mt 16,21-23; 17,22-23; 20,17-19; 17,9-13)

Tema para a oração de hoje


O tema sobre o qual vamos fazer a oração de hoje é o que nos foi transmitido por
Mateus nos textos indicados no título do 1º dia: os três anúncios da Paixão e o diálogo
que Jesus teve com seus discípulos depois da transfiguração.

Passos para entrar na oração


Depois de fazer os rituais da entrada na oração e de rezar a oração preparatória, faço
os três preâmbulos da oração. Faço o primeiro recordando ou lendo os textos sobre
os quais vou fazer a oração, faço o segundo imaginando os cenários descritos nesses
textos e faço o terceiro pedindo a graça de aprofundar o conhecimento interno de
Jesus Cristo para amá-lo mais e para segui-lo carregando a Cruz.

Pontos para a oração


Os temas que propomos para a oração de hoje são os três anúncios da Paixão e as
palavras que Jesus disse aos discípulos depois da sua transfiguração. Os três anúncios
da Paixão nos mostram a consciência que Jesus tinha dos sofrimentos da Paixão, e
que os caminhos de Deus não são os nossos caminhos; prova disso é o
comportamento de Judas que traiu Jesus por trinta moedas de prata e a atitude de
Pedro, que o negou três vezes. O comportamento de Jesus na Paixão nos mostra o
“amor louco” com que Deus nos ama, um amor que faz loucuras pelas pessoas
amadas.

Primeiro ponto: No primeiro ponto contemplo como Jesus fez o primeiro anúncio da
Paixão, ouço as palavras que Jesus disse aos discípulos sobre os seus sofrimentos na

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| RETIRO QUARESMAL 2011 | APRENDAM DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO [MT 11,29] |
Paixão; ouço as palavras de Pedro, que não aceitava os sofrimentos de Jesus, e ouço
as palavras duras que Jesus disse a Pedro.

Segundo ponto: No segundo ponto ouço de novo as palavras que mais me tocaram
no primeiro ponto e, depois, ouço as palavras do segundo anúncio da Paixão. O
julgamento de Jesus pelo tribunal religioso e pelo tribunal civil foi pura encenação,
mas na Paixão de Jesus, houve discípulos e discípulas que permaneceram ao seu lado,
aos pés da cruz (Mt 27,55-56) e o acompanharam até que fosse sepultado (Mt 27,61).

Terceiro ponto: No terceiro ponto ouço as palavras que Jesus disse aos discípulos
depois da transfiguração saboreando-as no coração para que elas iluminem meus
caminhos e me fortaleçam na hora do sofrimento.

2º dia
A morte de Jesus nos mostra a frustração dos seus projetos
(Mt 27,46-56)

Tema da oração
O tema da oração de hoje é a experiência que Jesus fez na Paixão, de ver frustados os
seus projetos. Humanamente falando, pode ser comparado a um agricultor cuja
semeadura fracassou totalmente. Sentiu-se abandonado até mesmo pelo Pai, a
quem procurou ser incondicionalmente fiel (Mt 24,46). Pendente da cruz, morreria
como um criminoso amaldiçoado por Deus. Era o fracasso de seu projeto messiânico!
Como acreditar que sua vida estava abençoada por Deus, quando os fatos
aparentemente davam a enteder o contrário?

Passos para entrar na oração


Depois de fazer os rituais para o encontro com Deus na oração, rezo a oração
preparatória e faço os três preâmbulos lendo ou recordando os textos evangélicos
propostos para a oração de hoje, imaginando os cenários e pedindo a graça de
aprofundar o “conhecimento interno” de Jesus Cristo para mais amá-lo e, movido por
esse amor, segui-lo nos sofrimentos da sua Paixão.

Pontos para a oração

Primeiro ponto: Sinto com o coração de Mestre, ferido com a negação do discípulo
em que mais confiava (Mt 26,30-35.69-75). E também com a traição de Judas que O

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vendeu por trinta moedas de prata, preço de um escravo (Mt 26, 14-16). Não menos
chocante foi o suicídio do mesmo discípulo, arrependido e desesperado, que não
conta com a misericórdia de Deus e a possibilidade de perdão (Mt 27, 3-10).

Segundo ponto: Quando mais necessitava de apoio e da presença dos discípulos,


Jesus não pode contar com eles. Já no Horto das Oliveiras, num momento de agonia
do Mestre, foram vencidos pelo sono (Mt 26,36-46). Quando foi preso, ‘‘todos os
discípulos O abandonaram e fugiram’’ (Mt 26,56). Pedro foi desmascarado pelas
criadas do sumo-sacerdote e ‘‘começou a rogar pragas e a jurar’’ que não O conhecia
(Mt 26,74). Afinal, um mestre impotente que não pode contar com a fidelidade de
seus discípulos. Só um desconhecido, Simão de Cirene, ajudou Jesus a carregar a cruz
(Mt 27,32). Com quem me identifico neste cenário?

Terceiro ponto: Contemplo, no meio de tanta insanidade, a sensibilidade da mulher


que O unge, por antecipação, para a sepultura (Mt 26, 6-13); a clarividência da
mulher de Pilatos, que adverte o marido, afirmando que Jesus é justo (Mt 27,19). São
as mulheres, que haviam sido cativadas por Jesus, que permaneceram com Ele até a
cruz e O acompanharam no sepultamento. Depois de contemplar essa cena, devo me
perguntar como eu vivo o amor e a fidelidade a Jesus Cristo nas situações de injustiça.

Encerro a oração de hoje, como a oração dos dias anteriores, dialogando com Jesus,
que agora vive como o Senhor ressuscitado, e acompanhando a Mãe das Dores na
sua solidão, pedindo a graça de deixar-me afetar pelo amor de Jesus e pelo amor de
sua Mãe, que é também minha Mãe, contemplando os gestos que mais me tocaram
na oração de hoje.

3º dia
A Paixão é a prova de fogo dos discípulos (Mt 26,30-56; 69-75)

Tema da oração
Na oração de hoje vou contemplar a Paixão na perspectiva dos discípulos. No
Evangelho de Mateus, os acontecimentos da paixão do Senhor foram a sua prova de
fogo. Na realidade, os discípulos só se tornaram apóstolos depois de se confrontarem
com o Mestre crucificado e ressucitado. Só após terem feito a experiência do mistério
pascal em toda a sua extensão, estavam preparados para anunciar o Evangelho ao
mundo inteiro e para levar todos os povos a se tornarem discípulos de Jesus.

O discipulado é feito de altos e baixos. Gestos de generosidade misturam-se com

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sintomas de ambição. A coragem de seguir o Mestre e compartilhar a sua vida
convive com o medo e a insegurança. Algumas vezes, pareciam entender os
ensinamentos de Jesus, outras vezes, agiam como se tivessem a mente embotada.
Tanto eram elogiados como censurados por Jesus. Confissões de fidelidade são
seguidas de negação ao Mestre. Neste movimento de altos e baixos, a Paixão
representa o ponto mais baixo atingido pelos discípulos e o ponto culminante da
obediência filial de Jesus ao Pai.

Os discípulos não se dão conta do que está acontecendo com Jesus. Só muito depois é
que foram entender o sentido da Última Ceia; no Getsêmani são incapazes de
compreender a angustiosa situação do Mestre. Nenhum deles ficou do lado do
Mestre quando foi preso.
Ninguém foi capaz de fazer um gesto para defender Jesus, violentado injustamente.

Na oração vou ouvir as palavras que, depois da Última Ceia, Jesus disse aos discípulos
quando saíram para o Monte das Oliveiras, deixando que essas palavras ressoem no
meu coração; vou contemplar também a oração de Jesus no Getsêmani, a prisão de
Jesus e as três negações de Pedro.

Passos para entrar na oração


Depois de fazer os rituais para o encontro com Deus na oração, rezo a oração
preparatória e faço os três preâmbulos, lendo ou recordando os textos evangélicos
propostos para a oração de hoje, imaginando os cenários e pedindo a graça de
aprofundar o “conhecimento interno de Jesus Cristo para mais amá-lo e segui-lo” nos
sofrimentos da sua Paixão, na sua morte e na sua sepultura.

Pontos para a contemplação

Primeiro ponto: Vou contemplar as palavras que Jesus disse aos discípulos depois da
Última Ceia quando saíram para o Monte das Oliveiras, deixando que elas ressoem no
meu coração recordando-as ou lendo-as no texto evangélico.

Segundo ponto: Contemplo a oração de Jesus no Horto das Oliveiras e a sua prisão
depois que foi entregue por Judas com um beijo.

Terceiro ponto: Contemplo as atitudes dos discípulos em relação ao Mestre, indignas


de sua condição. Que pensar da mesquinhez de Judas, que traiu seu Amigo com um
beijo? E de seu gesto desesperado de suicídio ao tomar consciência da traição
cometida? E do comportamento de Pedro que, apesar de seu rompante de coragem,
mostrou-se medroso quando teve oportunidade de confessar sua condição de
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discípulo, negando-O energicamente? E da ausência deles no sepultamento de Jesus,
providenciado por José de Arimatéia, sem a ajuda de nenhum dos onzes? É como se o
Mestre tivesse concluído sua missão, desprovido de discípulos. Como a Pedro depois
das negações, peço ao Senhor que me olhe com aquele mesmo olhar de amor e
misericórdia, para que chore amargamente por meus pecados.

Encerro a oração, como dias anteriores, dialogando com Jesus, que agora vive como o
Senhor ressuscitado, e acompanhando a Mãe das Dores na sua solidão, pedindo a
graça de deixar-me afetar pelo amor de Jesus e pelo amor de sua Mãe, que é também
minha Mãe, contemplando os gestos que mais me tocaram nesta oração.

4º dia
“Vou celebrar a Páscoa junto com meus discípulos” (Mt 26,17-29)

Tema da oração de hoje


O tema da oração de hoje é a preparação e a celebração da Última Ceia de Jesus com
seus discípulos na noite antes de sofrer os tormentos da Paixão.

Passos para entrar na oração


Depois de fazer os rituais para o encontro com Deus na oração, rezo a oração
preparatória e faço os três preâmbulos, lendo ou recordando os textos evangélicos
propostos para a oração de hoje, imaginando os cenários e pedindo a graça de

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aprofundar o “conhecimento interno” de Jesus Cristo para mais amá-lo nos
sofrimentos da sua Paixão.

Pontos para a contemplação

Primeiro ponto: Ouço, no primeiro ponto, a pergunta que os discípulos fizeram a


Jesus: “Onde queres que façamos os preparativos para comeres a páscoa?”. Ouço a
resposta de Jesus, que nos foi transmitida em Mt 26,18, e contemplo como os
discípulos prepararam a ceia pascal.

Segundo ponto: Contemplo como Jesus se pôs à mesa com os Doze, ouço o que lhes
disse: “Em verdade vos digo, um de vós me vai entregar” (Mt 26,21); contemplo a
tristeza dos discípulos ao ouvirem essas palavras de Jesus.

Terceiro ponto: Ouço as palavras que Jesus Cristo disse e os gestos que fez na
instituição da Eucaristia, que é narrada em Mt 26,26-29. Ao orar o terceiro ponto,
peço a graça de celebrar a Eucaristia como memorial do amor com que Jesus Cristo
nos amou, um amor que foi “até o fim” (Jo 13,1), até “dar a vida pelos amigos” (Jo
15,13).
Encerro a oração de hoje dialogando com Jesus sobre as palavras que ele disse e
sobre os gestos que ele fez, saboreando essas palavras e esses gestos na memória do
meu coração.

5º dia
Jesus experimentou a máxima injustiça (Mt 26,57-68; 27,1-50)

Tema da oração
O tema da oração de hoje é a condenação de Jesus à morte pelas autoridades
religiosas dos judeus e pelo julgamento civil dos romanos, através do interrogatório
que Pônico Pilatos fez a Jesus, condenando-O à morte de cruz, Contemplo como o
Mestre inocente experimentou a injustiça na própria pele, como se todos se
voltassem furiosos contra Ele. Foi submetido a um processo ilegal. Sua sentença
condenatória havia sido previamente decretada. Foi-lhe negado, de fato, o direito de
defender-se. As sessões dos tribunais foram pura encenação. Some-se a isto, as
torturas físicas, os deboches, as injúrias, as humilhações e o desprezo a que foi
submetido. É a hora do anti-reino, é a hora do poder das trevas!

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Passos para entrar na oração
Como nos dias anteriores, dou os passos para o encontro amoroso com Deus. Faço os
rituais de entrada, a oração preparatória e os três preâmbulos propostos por Santo
Inácio, lendo ou recordando os textos evangélicos que contam como Jesus Cristo foi
condenado à morte na Cruz, imaginando os cenários da sua condenação e pedindo a
graça de conhecer, amar mais e seguir Jesus Cristo nos seus sofrimentos, como
verdadeiro discípulo.

Pontos para a contemplação

Primeiro ponto: Contemplo a condenação de Jesus à morte pelo sinédrio, ou seja,


pelo tribunal religioso dos judeus.

Segundo ponto: Contemplo o interrogatório que Pilatos fez a Jesus e sua condenação
à morte na cruz.

Terceiro ponto: Contemplo como foram a crucifixão e a morte de Jesus Cristo na cruz.

Termino a oração com um colóquio, dialogando com Jesus sobre os pontos da oração
que mais me tiverem tocado, saboreando no coração as palavras e os gestos de Jesus
e dos outros personagens que mais me comoveram. Rezo, com muito afeto, diante de
Jesus Crucificado, a oração Alma de Cristo.

6º dia
Jesus experimentou a solidariedade dos amigos (Mt 27,51-61)

Tema da oração de hoje


O tema da última contemplação do Retiro da Quaresma é a solidariedade para com
Jesus Cristo do centurião que confessou sua fé nele dizendo: “Este era
verdadeiramente o Filho de Deus!” (Mt 27,54); essa solidariedade foi também a das
mulheres que estavam junto à cruz, “observando de longe; elas haviam
acompanhado Jesus desde a Galiléia, prestando-lhe serviços” (Mt 27,55). Essa
solidariedade foi também praticada por José de Arimatéia, que “envolveu o corpo de
Jesus num lençol limpo e o colocou num túmulo novo, que mandara escavar na
rocha” (Mt 27,59-60).

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Passos para entrar na oração
Faço, no início da oração, os rituais para o encontro amoroso com Deus como nos
outros dias, conscientizando-me de que estou na presença de Jesus Cristo; a seguir,
faço os três preâmbulos recordando ou lendo o texto proposto para a oração de hoje,
imaginando os cenários e pedindo a graça de viver a solidariedade para com Jesus e
para com todos que precisarem de mim.

Pontos para a oração

Primeiro ponto: Contemplo a fé do centurião em Jesus Cristo, que professou com


estas palavras: ‘‘Este era verdadeiramente o Filho de Deus’’ (Mt 27,54). Cabe a um
pagão, um oficial romano, interpretar corretamente o que estava acontecendo. Ele
compreende o que fugia à compreensão dos discípulos. Afinal, nem tudo estava
perdido. É o Reino dando seus primeiros frutos!

Segundo ponto: Contemplo a solidariedade do comportamento das mulheres que


estavam junto à Cruz, observando Jesus de longe. ‘‘Lá estavam Maria Madalena e
Maria, mãe de Tiago e José, e a mãe dos filhos de Zebedeu’’ (Mt 27,58). Depois de
fechado o sepulcro, ‘‘Maria Madalena e a outra Maria’’ ficam sentadas em frente,
vigiando o corpo sepultado de Jesus, o amigo delas, que haviam acompanhado desde
Galiléia prestando-lhe serviços. Enquanto os discípulos fugiam, as discípulas ficaram
firmes. As mulheres deram um exemplo insuperável de amor pelo Mestre.

Terceiro ponto: Contemplo o comportamento de José de Arimatéia, que foi pedir a


Pilatos o corpo de Jesus para ser enterrado num sepulcro novo cavado na rocha.

Depois de contemplar estas cenas, reflito em mim mesmo, pedindo que a luz dessa
reflexão ilumine os caminhos da minha vida espiritual e do meu apostolado,
perguntando-me como eu vivo a comunhão com Jesus Cristo nos sofrimentos.

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Conclusão
“Ide e fazei discípulos meus todos os povos...
Eu estarei sempre convosco” (Mt 28,16-20)

Depois de fazer a experiência do encontro com Jesus Cristo durante os anos da sua
vida pública, de terem visto os sofrimentos da sua Paixão e de terem feito a
experiência do encontro com Jesus Cristo ressuscitado, os discípulos receberam a
missão de fazer discípulos dele todos os povos; essa missão também nos foi dada a
nós, e devemos vivê-la sabendo que nunca estamos sós, que Jesus Cristo está sempre
conosco. Jesus Cristo continua sendo Emmanuel, isto é, “Deus conosco”.

Para que a missão que Jesus Cristo nos deu produza frutos abundantes e fecundos,
podemos rezar com o Cardeal Martini, esta oração que resume a presença de Cristo
entre nós até o fim dos tempos:

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Não temas, estou contigo!

Nós te agradecemos, Senhor,


porque estás conosco e sempre estarás conosco.
Estás conosco hoje,
aqui reunidos neste comunidade para concluir nosso retiro quaresmal,
em que estamos protegidos dos ventos e das tempestades,
e de todo o que no mundo nos possa perturbar.

Nós te agradecemos, Senhor,


porque estiveste conosco em nossa oração e partilha fraterna,
em nosso esforço de nos apoiar mutuamente,
embora em clima de silêncio, de serviço discreto e de atenção de uns para com os
outros.

Nós te agradecemos, Senhor,


porque estarás conosco amanhã, depois de amanhã e sempre:
não haverá um só dia em que não estejas conosco!

Concede-nos, Senhor, ter esta certeza:


ainda que não nos tires totalmente nossos temores,
mudaste por dentro o nosso coração.

Nós te agradecemos, Senhor, Deus nosso Pai,


porque por meio da morte e ressurreição de Jesus Cristo
nos dás o Espírito Santo que põe em nosso coração esta certeza,
destinada a permanecer agora e para sempre.
Amém!

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Anotações

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Anotações

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Bibliografia:
Colocamos aqui o nome de alguns textos que nos ajudaram a elaborar este livreto:

- Jaldemir Vitório, SJ: “Aprendam de mim que sou mando e humilde de coração”
(Mt 11,29). Na escola de Jesus com Mateus, Apostila de um retiro de oito dias
inspirado no Evangelho de São Mateus.

- Jaldemir Vitório, SJ: Mateus, Col. A Bíblia passo a passo, Ed. Loyola, São Paulo/SP,
1996.

- Carlos M. Martini, SJ: Gli Esercizi Ignaziani Allá luce di S. Matteo, pag. 181,
Societa´ Poligrafica Sarda, Cagliari, Sardenha, Itália, 1977.

- Alvaro Barreiro, SJ: A Paixão de Jesus Cristo - Escândalo, loucura ou revelação do


amor de Deus? , Ed. Loyola, São Paulo, 2010.

- CNBB, CF-2011, Fraternidade e Vida no Planeta, Texto-base, Ed. Ipiranga Ltda, 2011.

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AVALIAÇÃO DO RETIRO
Amigos e Amigas participantes do Retiro:

Avaliar ou rever o Retiro é também uma forma de exercício espiritual, que nos ajudará a
melhorar este instrumento. Somos-lhes muito gratos, se puderem enviar uma síntese da
avaliação do retiro de sua paróquia ou comunidade para o CEI-ITAICI (endereço na contra-
capa).

1. Comunidade: _____________________________________ Diocese: ________________


2. Responsável do Retiro: _____________________________________________________
3. E-mail: _______________________________ Tel. ( ) _____________________________
Fax ( ) ____________________________ Cel.: ( ) __________________________________
4. Endereço: Rua (Av.) _______________________________________________ Nº ______
5. Bairro ______________ CEP _____________ Cidade ______________________________
6. Nº total de participantes do Retiro _____________________________________________
7. Nº de grupos que fizeram o retiro _____________________________________________
8. Nº de encontros do(s) grupo(s): _______________________________________________
9. Frequência nos grupos: ( ) alta ( ) regular ( ) baixa
10. Uso do livrinho: ( ) muito bom ( ) bom ( ) regular ( ) ruim
11. Avaliação do livrinho:
( ) muito bom ( ) bom ( ) regular ( ) ruim - Por quê?___________________________________
12. O que foi bom no Retiro? ___________________________________________________
__________________________________________________________________________
13. O que poderia ter sido melhor? ______________________________________________
__________________________________________________________________________
14. Sugestões para a continuidade: ______________________________________________
__________________________________________________________________________
15. Outras observações: ______________________________________________________

Local: ___________________________________________ Data: ______ / ______ / ______

Responsável pelo Retiro:______________________________________________________

NB: Se necessário, utilizar os espaços em branco para comentar as respostas, indicando o


número da questão.
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